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agia é um processo semiótico. O sig-

no mágico é um signo humano usa-

do com a intenção e a promessa de obter uma

influência imediata sobre o mundo dos objetos.

Enquanto na nossa vida cotidiana o signo atua

como um mediador entre os mundos mentais e

o mundo dos objetos, o mago pretende que os

seus signos tenham o poder de causar transfor-

mações e efeitos imediatos no mundo não-hu-

mano. O racionalismo da modernidade quis des-

mascarar a magia como uma falácia semiótica

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WINFRIED NÖTH

SEMIÓTICA
DA MAGIA

WINFRIED NÖTH
é professor de
Semiótica e
Lingüística e diretor
do Departamento de
Línguas Modernas da
Universidade de
Kassel, Alemanha.
É também professor
convidado
permanente do
Programa de
Pós-graduação em
Comunicação e
Semiótica da
PUC-SP. Entre os
seus vários livros e
inúmeros artigos
destacam-se
Handbook of
Semotics (trad. bras.
em preparação pela
Edusp), Origins of
Semiosis e Semiotics
of the Media.
Publicou no Brasil
Panorama da
Semiótica e A
Semiótica no Século
XX (AnnaBlume).

Este trabalho desenvolve


umas idéias previamente
publicadas em Nöth (1977a,
1977b, 1986, 1990a, pp. 188-
91, e 1990b). O autor agrade-
ce a Gerson Tenório dos San-
tos e Luci Mendes de Melo
Bonini pelas traduções dos
artigos de 1986, 1990a e
A criação do 1990b, que foram em parte
incorporadas neste trabalho.
mundo segundo Lucia Santaella fez milagres
para melhorar o português
xamãs mexicanos deste texto.

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ou até como um grande erro da civilização, na coleção dos antigos encantamentos ingle-
mas o pensamento mágico conseguiu resistir ses (Old English Charms) do século IX
à sua desconstrução analítica e até encontrou (Storms, 1948; Grattan e Singer, 1952). A
um novo reconhecimento na era pós-moder- magia pura é caracterizada pela confiança
na. Examinaremos, a seguir, as raízes imperturbável da comunidade, que pratica a
semióticas da magia, os mecanismos da magia, na eficiência real do ato mágico no
semiose mágica e umas manifestações do mundo. A Igreja medieval quis romper com
pensamento mágico desde os tempos arcai- a tradição dessa magia pura com proibições,
cos até a vida cotidiana da civilização pós- estigmatizando-a como pagã. As doutrinas
moderna (1). judaico-cristãs, porém, não estão livres de
elementos mágicos, ou, ao menos, das possi-
BREVE HISTÓRIA SEMIÓTICA bilidades de uma interpretação mágica. Se
DA MAGIA Deus, conforme o livro da Gênese 1, criou o
mundo com palavras, este ato criativo foi
AS ORIGENS DA SEMIÓTICA certamente um ato mágico. Na tradição cris-
NA MAGIA tã, a magia não se encontra só nos milagres
dos santos, mas também na doutrina da
As origens da semiótica estão intimamente transubstanciação eucarística. Se as palavras
relacionadas com a prática dos magos pré- do padre, Hoc est corpus, têm o poder de re-
históricos (2). Evidência dessa conexão ar- almente transformar o pão em corpo de Cris-
caica entre a semiótica e a magia aparece na to, não é de admirar que o povo medieval via
etimologia de várias palavras designando aí um ato mágico e que a fórmula sagrada
conceitos semióticos básicos. A palavra in- Hoc est corpus foi ironicamente corrompida
glesa spell ainda hoje significa tanto “sole- pela palavra nova hocuspocus, que significa
trar” quanto “fórmula de encantamento”. A nada menos do que “charlatanice”.
velha palavra germânica runa não designava
somente as letras do alfabeto rúnico, mas tam- O FIM DA MAGIA NO
bém “feitiço” ou “encantamento mágico”. O RACIONALISMO MODERNO
domínio das letras foi aparentemente associ-
ado ao domínio da magia. A palavra inglesa O fim da magia pura veio com a era mo-
glamour, que significava antigamente “bru- derna, que, no sentido amplo, começa com
xaria” e “palavra mágica”, era uma corrupção as descobertas científicas da Renascença. O
popular da palavra grammar (gramática): para pensamento mágico foi então considerado
o povo, o conhecimento da gramática era incompatível com o espírito científico. Max
evidentemente um saber mágico. Não só os Weber caracterizou o advento da idade mo-
sábios dos signos lingüísticos, mas também derna como um processo de “desencanta-
os produtores dos signos visuais eram consi- mento (Entzauberung) do mundo”: o mun-
derados aliados da magia. Evidência dessa do desencantado é o mundo que perdeu a
conexão arcaica entre a pintura e a magia (3) confiança no poder do mago. Na teologia, o
existe na etimologia da palavra alemã Bild último capítulo dessa história do desencan-
(“imagem”), cujo étimo germânico *bil- sig- tamento do mundo foi escrito por Rudolf
nifica “signo miraculoso”. Bultmann com a sua teoria da exegese me-
1 Sobre outros aspectos da tafórica da Bíblia.
semiótica da magia, ver
também Lange-Seidl (org.) A MAGIA ARCAICA E MEDIEVAL Na antropologia cultural, o crítico mais
(1988).
severo da magia nas sociedades chamadas de
2 Thorndike (1958) e Hansen
(1986) desenvolveram a A história semiótica da magia começa com “primitivas” foi Frazer. No seu julgamento, a
tese de que a magia é o pre-
cursor cultural das ciências
a magia pura das culturas arcaicas, que so- magia é um “sistema errôneo” ou mesmo uma
naturais. breviveu até hoje nas culturas que os antropó- “falácia grande e desastrosa” (Frazer, 1922,
3 Sobre as origens culturais logos eurocentristas do século XIX chama- p. 26): “O homem confundiu a ordem de suas
das artes visuais no contex-
to da magia, ver, por exem- vam de “primitivas”. Exemplos europeus idéias com a ordem da natureza e, portanto,
plo, Kris (1952, pp. 47-56)
ou Koch (1984). dessa magia pura se encontram, entre outros, imaginou que o controle que ele tem, ou pare-

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ce ter, sobre seus pensamentos permitiu-lhe Ambos querem o máximo de influência so-
exercitar um correspondente controle sobre as bre o público.
coisas” (citado por Freud, 1913, p. 83).
Nesse ambiente racionalista do mundo DO PENSAMENTO “PRIMITIVO”
“civilizado”, a magia pura não podia sobrevi- AO PAN-MÁGICO
ver senão em várias formas transformadas ou
degeneradas: o primeiro domínio de sobrevi- A história do estudo da magia mostra uma
vência restringe-se ao ambiente subcultural expansão progressiva do campo dos fenôme-
das práticas mânticas (cf. Guiraud, 1971, pp. nos considerados mágicos. Os primeiros es-
59-65), tal como na adivinhação do futuro tudos feitos por antropólogos referiram-se
pela leitura do depósito de café, pela observa- somente à magia em contextos culturais ou
ção da terra (geomancia; cf. Jaulin, 1970), rituais. Os antigos encantamentos ingleses são
pelas cartas (cartomancia; cf. Aphek e Tobin, exemplos desse setor do campo da magia.
1986) ou pelas linhas da mão (quiromancia). Uma primeira extensão significante na
Enquanto na magia pura o poder sobrenatural área da magia foi proposta no fundamento da
provém de um signo emitido pelo mago, o epistemologia genética de Piaget (1927). Para
signo mântico é emitido pelo acaso da natu- ele, o pensamento mágico é uma primeira fase
reza, que o médio mântico pretende somente do desenvolvimento da criança na qual reali-
interpretar. O segundo domínio da sobrevi- dade e pensamento estão ainda insuficiente-
vência da magia é a magia supersticiosa. A mente diferenciados.
prática dessa forma de magia no mundo civi- A extensão mais radical no domínio dos
lizado é ambígua com respeito às suas condi- fenômenos da magia foi proposta numa tradi-
ções pragmáticas de sinceridade: ninguém tem ção iniciada por Ogden e Richards (1923), no
que admitir realmente acreditar que, por exem- capítulo sobre “O Poder das Palavras” de seu
plo, “deixar o guarda-chuva aberto dentro de livro O Significado do Significado (ver tam-
casa traz desgraças”, mas as pessoas, de bém Ogden, 1934). Essa tradição continuou
qualquer modo, o fecham, sem ter que admi- com a crítica da linguagem dos semanticistas
tir que o fazem por superstição. Quando se- gerais (Korzybski, 1933) e suas advertências
guimos as regras do código supersticioso, sem contra a “tirania das palavras” (Chase, 1938)
crer nelas, a prática supersticiosa no mundo na língua cotidiana. Finalmente, essa tradi-
civilizado se torna uma forma de semiose ção culminou na assim chamada teoria
lúdica. Pretendemos segui-las somente “por conotativa da palavra mágica (Izutsu, 1956;
brincadeira”. Tambiah, 1968, p. 17) que se baseia na hipó-
O terceiro domínio em que o mundo mo- tese de que a linguagem e o pensamento estão
derno permite a sobrevivência da magia é na totalmente permeados pela magia. Apesar
ficção do conto popular, por exemplo, no dessa teoria pan-mágica do pensamento so-
conto de “Ali Babá e os Quarenta Ladrões”: frer de exageros e reducionismos, ela chama
o leitor desse exemplo de magia fictícia é a nossa atenção para o campo do uso cotidi-
confrontado com um mundo imaginário no ano do pensamento lógico e da comunicação
qual não tem que acreditar na realidade dos de massa.
acontecimentos. O quarto e último domínio
da magia no mundo civilizado é a magia A REABILITAÇÃO DA MAGIA NA
metafórica tal como é encontrada, por exem- ERA PÓS-MODERNA
plo, nas promessas da publicidade nas mídias
que descrevem os produtos com epítetos tais Na era pós-moderna encontramos uma
como “mágico” ou “sobrenatural”. Tais figu- reabilitação cultural da magia. Magia pura
ras retóricas não exigem nenhuma crença li- não só se torna novamente respeitada em
teral em efeitos realmente mágicos e não pres- ambientes subculturais, tal como no movi-
supõem uma mentalidade arcaica do lado do mento New Age, mas, sobretudo, a crítica
público, mas o alvo dessa retórica hiperbólica positivista da magia arcaica tem sido abando-
não se distingue muito da prática dos magos. nada por uma nova avaliação que reconhece

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o potencial psicoterapêutico do signo mági- segue tanto seletividade quanto sensitividade,
co. Magia, desse ponto de vista, já não é uma porque Clarion tem tudo isso. Isto é magia!”.
falácia semiótica, mas um potencial semiótico Enquanto esses exemplos fazem referências
para influenciar a mente de um participante explícitas à magia, a AT&T anuncia seus sis-
na semiose mágica. Um dos primeiros a dar temas de teleconferências aos leitores de
uma nova interpretação positiva à comunica- Business Week com slogans que implicita-
ção mágica foi Malinowski. Para ele, a ação mente pressupõem um fundamento mágico
mágica é uma atividade semiótica com a fun- do pensamento ao perguntar: “Como se fazer
ção de preencher lacunas na realização das notar sem estar presente lá?”. Será que esses
atividades práticas da vida (Malinowski, exemplos significam que a magia está de volta
1925, pp. 79, 90). A magia, portanto, começa com as novas tecnologias?
com o fim do conhecimento prático e teórico
do mundo. Essa visão da magia como uma A MAGIA, O SOBRENATURAL
válvula de escape e uma alternativa para os E O MIRACULOSO
impasses práticos da vida cotidiana
corresponde às interpretações psicote- O que é magia? Afinal, a propaganda faz
rapêuticas do fenômeno (cf. Schmidtbauer, muitas promessas com pouca ou nenhuma
1975; Hsu, 1983). Também nessa perspecti- credibilidade. Assim, no fim das contas, pode
va, o signo tem um efeito imediato, mas exer- não haver qualquer magia envolvida em nos-
ce uma influência mediata no mundo, pas- sos exemplos. Vamos, portanto, começar
sando primeiro pelo inconsciente do destina- nossa análise com um exemplo de magia fic-
tário, antes de desenvolver os seus efeitos no tícia representando o protótipo do uso de
mundo dos objetos, principalmente no pró- palavras mágicas.
prio corpo do destinatário da palavra mágica.
Além da magia pura, a magia fictícia de- O CASO DE ALI BABÁ
senvolve novas dimensões nos gêneros
subliterários contemporâneos, onde a encon- Na noite de número 852 de suas 1.001
tramos à maneira da science fiction à la noites, Sherazade nos conta como Ali Babá,
Stephen King num mundo futurista onde tudo escondido em uma árvore, observava os qua-
se torna possível por meio de tecnologias renta ladrões:
semióticas que transformam o mundo das
maneiras mais incríveis. “Os quarenta ladrões carregaram suas cargas
Até a magia metafórica na linguagem até o pé de uma grande rocha que ficava na
publicitária contemporânea parece transfor- base de uma pequena colina. Então deposita-
mar-se de mera figura retórica em sugestão ram os sacos, e o chefe gritou em direção à
de magia pura. Pelo menos é surpreendente pedra: ‘Abre-te, Sésamo!’. Imediatamente a
que a publicidade para produtos das novas superfície da rocha abriu-se. O líder esperou
tecnologias, que sempre pareceram estar o até que todos os seus seguidores tivessem
mais longe possível da magia, tenha desco- passado com suas cargas através da passa-
berto uma forte preferência pelo discurso gem e então adentrou com o seu saco. ‘Fecha-
mágico: “Por que comprar uma câmera de te, Sésamo!’, gritou, quando estava dentro, e
vídeo que apenas grava?”, pergunta, por a face da rocha fechou diante dele. Ali Babá
exemplo, um anúncio da Newsweek e conti- ficou surpreso com este acontecimento e dis-
nua: “Panasonic apresenta Omni Movie. Ela se: ‘Alá permita que os poderes deles não me
produz os seus movimentos mágicos”. E de encontrem nesta árvore!’ [...]
acordo com Sports Illustrated, o novo auto- Tão logo desceu ao chão, caminhou na ponta
rádio estéreo Clarion não foi apenas “feito dos pés, segurando a respiração, em direção
para a Magia da Música”, mas é ele próprio à misteriosa rocha [...]. Viu que a superfície
mágico devido às suas características técni- da pedra era inteiramente lisa e não tinha a
cas fora do comum: “O rádio 7513 inclui a menor ranhura, nem mesmo suficiente para
nova seção I. F. Com esta unidade, você con- se introduzir a ponta de uma agulha. ‘Mas eu

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vi os quarenta ladrões entrarem’, pensou. um exemplo de magia médica (Grattan e
‘Certamente o lugar deve estar guardado por Singer, 1952, p. 162):
estranhas palavras mágicas. Apesar de eu não
saber nada de palavras mágicas, com certeza “Contra tumores: Nove eram as irmãs do nó-
me lembro das palavras para abrir e fechar. dulo; então a nona tornou-se oitava; a oitava,
Não seria melhor tentar dizê-las para ver se sétima; a sétima, sexta; a sexta, quinta; a quin-
têm em minha boca os mesmos poderes que ta, quarta; a quarta, terceira; a terceira, segun-
têm nos lábios daquele terrível homem?’ da; a segunda, primeira e a primeira, nenhuma.
Ainda prisioneiro do destino e desprovido de Isto será para vós um remédio para tumor, para
seu costumeiro destemor, Ali Babá virou-se escrófula, para verminose e para todos os males.
para a pedra e disse: ‘Abre-te, Sésamo!’. Cante ‘Benedicte’ nove vezes”.
Apesar de ter pronunciado estas duas pala-
vras de maneira fraca e sem segurança, a pedra Supondo-se que o pronunciamento desse
abriu-se”. encantamento seja seguido de uma cura dos
tumores, então o observador esclarecido
A aventura de Ali Babá ilustra duas ca- moderno poderia concluir que esse efeito é
racterísticas principais da magia: um proces- sobrenatural, uma vez que a ciência natural
so de uso mágico do signo com a fórmula da medicina somática não reconhece essa cura.
“Abre-te, Sésamo” e o efeito sobrenatural Se o encantamento não tem sucesso na cura
resultante desta semiose. Vamos primeiro da doença, o critério poderia ainda ser man-
considerar o último aspecto da magia e per- tido com uma modificação. Poderíamos en-
guntar se a magia em todas as suas formas tão falar da pretensão de um efeito sobrena-
pressupõe um efeito sobrenatural. tural e assim definir magia independentemen-
te das conseqüências observadas.
O EFEITO SOBRENATURAL De acordo com o critério do efeito mági-
co pretendido, os folcloristas distinguem en-
A pedra que se abre é a causa da surpre- tre magia negra e magia branca. A magia negra
sa de Ali Babá. O evento se apresenta defi- objetiva efeitos negativos ou deseja evitar
nitivamente contra as leis da natureza. Não aqueles que são positivos. Na magia branca,
acreditando, ele testa a superfície da pedra o agente pede um evento positivo ou quer
e conclui que testemunhou um evento so- prevenir um negativo. Duas variedades da
brenatural. magia branca que sobreviveram até hoje são
Muitos estudiosos consideram a ocorrên- o tabu lingüístico e o eufemismo (cf. Bruneau,
cia de um efeito sobrenatural como uma ca- 1952; Todorov, 1973). Tabu é o evitar de
racterística distintiva da magia (por exemplo, certas palavras devido ao medo de seus efei-
Storms, 1948, p. 36). Nessa perspectiva da tos ao serem usadas, enquanto o eufemismo
magia não admira que Morris tenha concluí- é a substituição de uma palavra-tabu por uma
do que a ineficiência factual é uma caracterís- não-tabu.
tica específica da magia: “O que é
freqüentemente chamado de ‘magia’”, escre- AS EXPLICAÇÕES “NATURAIS”
ve ele, “é a persistência de técnicas, quando DO SOBRENATURAL
há evidência de que as práticas, de fato, não
influenciam a realização do objetivo, especi- Contudo, em contraposição a Ali Babá e
almente quando essas práticas são simbóli- à mente esclarecida moderna, nosso pacien-
cas por natureza” (Morris, 1946, p. 221). te medieval pode não ver absolutamente nada
No entanto, quando passamos de Ali Babá de sobrenatural na cura descrita. Ele pode
para a magia enquanto um fenômeno cultu- não ver a diferença entre seu encantamento
ral, esse critério torna-se difícil, senão im- mágico e um remédio herbal que poderia ser
possível, de aplicar. Por razões a serem ainda classificado como fisiologicamente eficien-
consideradas, o antigo encantamento inglês, te de acordo com os padrões médicos mo-
a seguir, contra tumores e outras doenças é dernos. Para os participantes das práticas

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mágicas, os efeitos naturais e sobrenaturais “mágicas”, ele quer descrever seu desempe-
podem pertencer à mesma ordem objetiva nho hiperbolicamente como sendo “sobre-
de um universo coerente (cf. Lévi-Strauss, natural”. Não há nenhum signo usado como
1962, p. 221). meio de obter esse efeito sonoro sobrenatu-
De acordo com Tylor, o mago “tenta des- ral. A palavra “magia” é então usada no sen-
cobrir, predizer e causar eventos” (1871, vol. tido de “miraculoso”. Uma metáfora menos
1, p. 104). Na magia genuína, esses efeitos ousada nesse contexto poderia ser a palavra
não devem ser o resultado do ato prático nem “incrível”, preferida em muitos slogans pro-
ser causados por um evento natural, que po- pagandísticos. Nesse sentido do
deria ocorrer independentemente da ação do “miraculoso” e, portanto, como uma metá-
mago. Esse pré-requisito levou muitos antro- fora de “o incrível”, a palavra “mágica” tam-
pólogos a postular uma oposição fundamental bém comparece no seguinte anúncio da ci-
entre ciência e magia. A magia, portanto, de- dade de Las Vegas na revista norte-america-
pende da crença de que o efeito pretendido não na Money (4):
pode ser obtido pela natureza e pela ciência.
Mesmo se reconhecermos que o sobre- “Las Vegas é mágica! Desde a vibrante
natural é apenas uma categoria da mente mo- Downtown até a sensacional Strip, ela pulsa
derna, esse critério é de determinação pro- com excitação. [...] Uma das razões para a
blemática. A fronteira entre o natural e o popularidade universal da cidade é a manei-
sobrenatural depende dos limites do cienti- ra mágica como ela estica os dólares de suas
ficamente possível, como destacou Todorov férias. [...] Nenhuma cidade faz melhor pelo
(1973, p. 41). Com a expansão de nosso seu dinheiro do que Las Vegas”.
conhecimento científico, o sobrenatural pode
se tornar natural. A magia, se definida em PRAGMÁTICA DA SEMIOSE
termos do sobrenatural, pode se tornar ciên- MÁGICA
cia. As descobertas da psicologia e da
psicoterapia têm mostrado que um encanta- Do “miraculoso” voltamos à magia ge-
mento, como o que foi discutido, pode ter nuína, que – como mostrou o exemplo de Ali
um efeito curativo somático. Além disso, as Babá – pressupõe uma forma particular de
práticas mágicas que acompanham as ativi- uso dos signos. Este aspecto da semiose má-
dades diárias, como caçar e trabalhar, podem gica é melhor ilustrado pela fórmula “Abre-
ter uma influência psicológica positiva sobre te, Sésamo!”. O próprio Ali Babá surpreen-
elas. Dessa forma, o sobrenatural torna-se de-se com o poder de suas palavras. Na
natural. A magia, se definida como categoria semiose normal, os signos são usados dife-
do sobrenatural, pode vir a ser ciência. rentemente e a comunicação constitui-se de
um processo diferente. Há duas característi-
A MAGIA E O MIRACULOSO cas principais que distinguem a magia da
semiose normal.
Finalmente, deve ser ressaltado que, mes-
mo não havendo dúvida a respeito do caráter SEMIOSE COM EFEITOS
sobrenatural de um certo evento, o PRÁTICOS IMEDIATOS
inexplicável sozinho não pode definir a ma-
gia. Deve ser traçada uma linha entre a ma- A primeira característica pragmática da
gia e o miraculoso. Sem o signo mágico, o magia é a de que os signos são usados tendo
evento sobrenatural e inexplicável é um em vista um efeito prático imediato no mun-
milagre, e não um acontecimento mágico. do dos objetos. No mundo fictício de Ali Babá,
No entanto, na linguagem diária, a pala- esse efeito podia ser observado e testado. Na
vra “magia” é comumente usada nesse sen- magia cultural, assim como no antigo encan-
tido de “milagre”. Quando nosso anunciante tamento inglês ou na dança da chuva mágica,
4 Sobre o miraculoso na pro-
descreve as características tecnológicas fora esse efeito pode apenas ser admitido com paganda e no consumo
cotidiano, cf. também
do comum de seu auto-rádio estéreo como graus variáveis de crença em sua realização. Baudrillard (1970, p. 25).

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Na semiose normal, os signos nunca têm to não é evidentemente o paciente como uma
um efeito imediato no mundo dos objetos. pessoa, mas seu corpo e a doença que há
Tal efeito é sempre mediato: o “mediador” nele. Não somente as orelhas, mas também
entre os signos e os efeitos é um destinatá- a boca do homem e o ferimento aparecem
rio. Em uma definição de Morris (1938, p. como receptores nessa cadeia comunicativa
4), a semiose mágica é descrita como um mágica.
“levar em consideração mediado”. Isso quer
dizer que um emissor deve primeiro dirigir SEMÂNTICA DA MAGIA
uma mensagem a um receptor e somente após
este ato comunicativo ter obtido sucesso é No sentido mais estreito, a dimensão se-
que pode seguir-se, como segundo passo, mântica da semiótica estuda a relação entre
uma ação prática e, com ela, um efeito ime- o signo e seu objeto. Na dimensão semântica
diato no mundo. Enquanto na semiose nor- da magia, a relação entre os signos que ex-
mal, somente um efeito prático mediato so- pressam um conteúdo mágico e o efeito práti-
bre o mundo é possível, na comunicação co que supostamente resulta da semiose má-
mágica, espera-se obter um efeito prático gica têm que ser analisados. São de particu-
imediato sobre o mundo dos objetos. O sig- lar interesse as formas de motivação através
no mágico, diz Maritain (1957, p. 96), “não das quais o signo é determinado por seu pre-
apenas faz os homens conhecerem, ele faz tendido efeito mágico.
as coisas serem; é uma causa eficiente em si Frazer (1922, p. 16) já fez uma distinção
mesma” (5). entre magia motivada pela similaridade (ma-
gia homeopática) e magia motivada por “con-
O DESTINATÁRIO MÁGICO tato” ou contigüidade (magia simpática). Em
termos semióticos, essa é a distinção entre
A segunda característica da semiose má- signos icônicos e indiciais. Mas a magia tam-
gica refere-se aos comunicadores. Enquan- bém pode se basear em signos arbitrários, e,
to a comunicação normal acontece tendo algumas vezes, mesmo em signos especial-
como base um código que deve ser conheci- mente codificados. Estes signos mágicos são
do pelo emissor e receptor, o mago direciona símbolos em sua relação com o objeto.
sua mensagem para estranhos receptores. Na
aventura de Ali Babá, o destinatário é um MAGIA ICÔNICA
objeto físico: a pedra. A forma da mensa-
gem é um imperativo e o conteúdo, um pe- O antigo encantamento inglês das nove
dido. Na semiose normal, as condições prag- irmãs, que gradualmente está desaparecen-
máticas da solicitação (cf. Searle, 1970, pp. do, forma um ícone que se relaciona por si-
57, 66) requerem um locutor que tenha au- milaridade com o pretendido desaparecimen-
toridade sobre o destinatário, e um ouvinte to da doença. Assim como as irmãs desapa-
que possa executar a ação solicitada. Trivi- recem, também desaparecem os sintomas da
almente, o destinatário deve ser capaz de doença, promete o mago.
ouvir ou ver a mensagem. Todas essas con- Um exemplo de magia icônica praticada
dições não podem ser preenchidas por um pelas crianças na Inglaterra é o costume de
objeto físico como uma pedra. confirmar uma aposta. De acordo com esse
No antigo encantamento inglês já discu- costume (Opie e Opie, 1959, p. 149), a apos-
tido, a forma precisa de endereçamento não ta só valerá “se dois garotos lamberem seus
nos foi passada no manuscrito, mas deve ter polegares e os colocarem juntos”. O não-
sido similar àquela reportada por outro en- verbalmente legalizado “colar dos polega-
cantamento para o qual dá-se a seguinte pres- res” é iconicamente motivado pela idéia de
5 Sobre as semelhanças e di-
crição: “E deixe-se que se cante na boca do uma similaridade com a durabilidade dese-
ferenças entre a magia e as homem, e em ambas as orelhas e dentro do jada da aposta.
ações práticas cotidianas,
ver também a discussão ferimento que enfeitiça...”. Finalmente, um exemplo publicitário
que Leach (1976, p. 32) faz
da “tecnomagia no lar”. O destinatário mágico nesse encantamen- para um signo mágico motivado iconi-

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camente é o nome de um produto chamado no corpo da pessoa que observa. Um segun-
de “Herb Magic” (“Erva Mágica”). O anun- do elemento indicial está no ato de “segurar
ciante na revista Health explica: “Herb a gola”. A gola está em contigüidade com a
Magic não é óleo. Só sabor [...]. Se você já garganta, que é a passagem do mundo exte-
tentou fazer um molho de salada sem óleo, rior para o interior, sendo, portanto, seu ín-
sabe o quanto é difícil criar um que seja dice. No mundo dos objetos uma gola dá
verdadeiramente delicioso. Herb Magic o proteção para a garganta e, portanto, para a
fez!”. A afirmação implícita nessa marca é: saúde da pessoa. No ato mágico, pensa-se
“Você pode usar não-óleo no lugar de óleo. que o signo indicial de tocar a gola cause
Porém, Herb Magic é mais do que um sim- proteção contra a ameaçadora infecção pro-
ples substituto do óleo. Usá-lo em vez de veniente da pessoa doente na ambulância.
óleo e ainda obter o mesmo resultado signi- Esse índice mágico é acompanhado por um
fica usar um signo mágico de óleo através do segundo ato mágico: a inibição da ação de
qual o efeito sobrenatural de um gosto ole- engolir. Esse ato não-verbal é um ícone para
oso será obtido”. Nessa propaganda, o nome se evitar a ingestão de uma doença.
comercial “Herb Magic” implica em um sig-
no icônico se sua motivação, admitidamente MAGIA SIMBÓLICA
vaga, é tomada como referindo-se ao ingre-
diente sem óleo, que pode ser usado no lugar Os símbolos são signos arbitrários e con-
do óleo com um efeito parecido vencionais. As fórmulas “Abre-te, Sésamo”
culinariamente com óleo. e “Fecha-te, Sésamo” de Ali Babá consis-
tem de símbolos retirados do código da lín-
MAGIA INDICIAL gua natural. Algumas vezes os símbolos são
inventados para propósitos mágicos. Por
Um antigo encantamento inglês “contra exemplo, um antigo encantamento inglês que
dor de cabeça”, que prescreve “queimar uma recomenda que se pronuncie a fórmula
cabeça de cachorro até virar cinzas, separar pseudolatina a seguir contra “erupções em
o pó, e aplicá-lo sobre a cabeça”, é tanto cavalo e homem”: “In domo mamosin
icônico quanto indicial em sua motivação. inchorna meoti”.
O ícone é a queima da cabeça do cachorro: Um exemplo de publicidade mágico-
assim como a cabeça do cachorro queima simbólica é uma propaganda para o licor
até virar cinzas, supõe-se que a dor de cabe- francês de nome Demi-Tasse em Time, que
ça desapareça. A colocação do remédio re- proclama que “algo maravilhoso acontece
mete-se ao signo mágico em contigüidade quando traduzimos licor de café para o fran-
com a cabeça do paciente. É, portanto, um cês. Surge Demi-Tasse. O licor de café im-
índice. portado com verdadeiro creme e refinado
Um exemplo de magia indicial no fol- espírito francês”.
clore infantil é o seguinte encantamento A afirmação é que um efeito prático ime-
autoprotetor, dito por crianças na Inglaterra diato resultou de um processo de semiose
ao avistarem uma ambulância passando na simbólica. O evento semiótico é o ato de
rua (Opie e Opie, 1959, p. 231): “Segure sua traduzir a palavra (signo simbólico) de “li-
gola/ Nunca engula/ Nunca morra de febre” cor de café” do inglês para o francês. O fato
(“Hold you collar/ Never swallow/ Never die de o resultado dessa tradução ter sido a
of fever”). O primeiro elemento indicial nes- marca registrada Demi-Tasse já é certamen-
se encantamento já está presente no pressu- te alguma coisa miraculosa. De acordo com
posto medo de encontrar uma ambulância: a os códigos das línguas inglesa e francesa,
ambulância é um índice da doença da pessoa poderíamos esperar traduções equivalentes
que ela carrega. O mero ato de ver esse índi- muito diferentes. Todavia, a tradução sozi-
ce é avaliado como um perigo pela criança. nha não pode ainda constituir magia, pois
Presume-se que esse índice tenha uma influ- essa só aparece na declaração do anúncio
ência potencial no mundo, principalmente de que o ato da tradução resultou não ape-

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nas na palavra francesa Demi-Tasse, mas existir em nossa assim chamada realidade.
teve também o resultado imediato prático O encontro de Ali Babá com a magia ocor-
de gerar uma bebida. O resultado da tradu- reu somente em um mundo fictício. Na pro-
ção é um “acontecimento”, um evento cuja paganda, a magia desse tipo pode somente
conseqüência é supostamente “licor de café ser entendida como uma metáfora. Na ma-
creme e refinado espírito francês”. gia cultural primitiva e parcialmente, tam-
bém, na superstição folclórica, a magia existe
CAUSALIDADE E SEMIOSE apenas como um modo de pensamento, como
uma pretensão ou uma crença em um efeito
Ícone, índice e símbolo são tipos de sig- prático imediato. No entanto, como sabe-
nos de tal generalidade que podem ser en- mos hoje, essa crença, embora se baseie em
contrados em qualquer lugar no reino dos uma falácia semiótica, pode assim mesmo
signos. Em contraposição à dimensão prag- resultar no desejado efeito prático. O en-
mática, a análise da dimensão semântica não cantamento dos mágicos pode ser tão efici-
tem mostrado até o presente nenhuma carac- ente quanto os esforços de um psicoterapeuta
terística distintiva da magia. moderno.
Porém, é precisamente na dimensão se- Vistas desse ponto de vista pragmático,
mântica que muitas teorias da magia têm lo- as falácias semióticas delineadas neste tra-
calizado a característica particular desse modo balho não são necessariamente as principais
arcaico de pensamento. Essas teorias susten- características distintivas da magia. O que
tam que na magia a relação entre signo e objeto permanece é a comunicação com um desti-
é tomada erroneamente como uma relação natário humano, com objetivo pragmático
entre causa e efeito. Semiose é confundida de influenciar o mundo. Nesse sentido bem
com causalidade. Nas palavras de Frazer geral, uma nova afinidade entre a magia e as
(1922, p. 26), “o homem confundiu a ordem estratégias persuasivas da propaganda e da
de suas idéias com a ordem da natureza, e comunicação de massa é evidente. Como a
assim imaginou que o controle que tem, ou magia, a propaganda também objetiva não
parece ter, sobre seus pensamentos permitiu- somente influenciar as mentes dos consu-
lhe exercitar um controle correspondente midores, mas também alcançar efeitos prá-
sobre as coisas”. De acordo com essa concep- ticos, principalmente o efeito de compra e
ção, a magia baseia-se numa falácia semânti- consumo de mercadorias. Enquanto nesse
ca (cf. também Maritain, 1957). Essa confu- sentido geral a magia, a propaganda e a re-
são entre causalidade e motivação semiótica tórica da persuasão são semelhantes, uma
pode ser descrita em termos das falácias que afinidade adicional, mais particular, entre
a antiga lógica distinguia. Se o signo mágico magia e propaganda repousa no efeito so-
for um índice, temos as falácias do post hoc, brenatural que é freqüentemente, apesar de
ergo propter hoc (após isto, portanto, devido não necessariamente, prometido pelos anun-
a isto), juxta hoc, ergo propter hoc (ao lado ciantes assim como pelos mágicos. Na pro-
disto, portanto, devido a isto) ou pars pro paganda, encontramos essa característica da
toto. No caso da motivação icônica, a falácia magia tanto nos rituais de compra quanto
pode ser resumida através do antigo sofisma nos de consumo. No primeiro, encontramos
similia similibus evocantur: a hipótese de que o mito dos incríveis preços baixos e a fan-
“o semelhante produz o semelhante, ou um tástica oportunidade de uma compra única.
efeito assemelha-se a sua causa” (Frazer, No último, temos o mito da mercadoria que
1922, p. 14). garante qualidade ilimitada e inacreditável,
bem como um prazer infindável de consu-
CONCLUSÃO mir. Com esse retorno às realidades, ou
melhor, irrealidades, econômicas da moder-
Gostaria de resumir os argumentos, na comunicação de massa e do consumo,
enfatizando que a semiose mágica com efei- gostaria de concluir estas reflexões sobre a
tos imediatos no mundo dos objetos não pode semiótica da magia.

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