Você está na página 1de 7

Capítulo 1

COMBATA O BOM COMBATE

A vida é um grande ringue. Essa não é uma afirmação muito inspiradora para se começar um
capítulo, mas é a síntese de uma realidade inegável – todos estamos inseridos em um mundo
marcado por batalhas e enfrentamentos.

Se houve alguém que provou desse axioma na pele de uma maneira dura e desafiadora foi o
apóstolo Paulo.

Paulo foi um homem criado na tradição judaica. Ele cresceu aos pés de um famoso rabino de sua
época, Gamaliel. Instruído no rigor da lei de Moisés ele se tornou uma espécie de paladino da
Torah, um fariseu obcecado em seu zelo religioso. Quando soube que estava surgindo uma seita
seguidora de um homem de Nazaré, conhecida como “o caminho” logo empreendeu tentativas de
eliminar esse movimento perseguindo-os de maneira implacável.

O livro de Atos relata que Paulo ia de cidade em cidade perseguindo o povo do “caminho”. Essa
empreitada perversa foi interrompida por uma experiência inusitada na estrada de damasco. Uma
luz brilhou sobre ele e a voz de Jesus Cristo visitou aquele fariseu fanático de tal maneira que sua
vida não foi mais a mesma.

Em alguns anos Paulo trocou de papel na história que vinha escrevendo. De perseguidor ele passa
a ser o perseguido. Sua nova paixão - o compromisso de anunciar o evangelho de Jesus - se tornou
o motivo de muitas batalhas.

Escrevendo aos cristãos de Corinto ele relata uma sinopse de suas lutas:

Três vezes fui golpeado com varas, uma vez apedrejado, três vezes sofri
naufrágio, passei uma noite e um dia exposto à fúria do mar. Estive
continuamente viajando de uma parte a outra, enfrentei perigos nos rios,
perigos de assaltantes, perigos dos meus compatriotas, perigos dos gentios;
perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, e perigos dos falsos
Irmãos. Trabalhei arduamente; muitas vezes fiquei sem dormir, passei fome
e sede, e muitas vezes fiquei em jejum; suportei frio e nudez. Além disso,
enfrento diariamente uma pressão interior, a saber, a minha preocupação
com todas as igrejas.

(II Coríntios 11:25-28)

As palavras de Paulo deixam claro que ele foi alguém experimentado nos vales da vida. Ele resistiu
a “rounds” sobre humanos em lutas que não prometiam qualquer esperança de vitória.

No final de sua jornada terrena, Paulo esteve preso em uma masmorra romana. Diferente de outros
momentos em que esteve prisão, mas esperava a libertação, dessa vez Paulo sabia que a morte lhe
aguardava. É no frio de uma cela aguardando o fim de sua vida que o apóstolo escreveu sua
Capítulo 1

segunda epístola a Timóteo, um jovem pastor de Éfeso. O tom da epístola é de despedida e ao


mesmo tempo de “últimas lições” que precisavam ser transmitidas.

No final da epístola Paulo inspira Timóteo relatando a convicção que ele tinha de ter cumprido o
seu papel enquanto esteve no ringue da vida:

Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.

(II Timóteo 4:7)

Todos nós que nos vemos cercados por batalhas a serem vencidas em nossas vidas temos muito a
aprender com esse grande guerreiro chamado apóstolo Paulo. Podemos apreender a partir do
versículo citado três princípios poderosos para vencer as nossas batalhas. Ao longo do capítulo
exploraremos esse princípio.

ESCOLHA BEM A SUA LUTA!

“Combati o bom combate…”

O apóstolo Paulo afirma que o combate que ele combateu foi o “bom combate”, ou seja, ele não
entrou em um ringue qualquer. Ele foi seletivo quanto ao combate em que ele entrou. Ele decidiu
apenas lutar quando o combate fosse “bom”.

Acredito que a expectativa de muitos ao ler esse livro é descobrir chaves para obter vitórias nas
suas lutas, mas antes de discutir qualquer princípio que nos ensine sobre como combater,
precisamos refletir sobre em qual tipo de combate vale a pena entrar.

Um lutador iniciante é ávido por holofotes. Ele deseja a qualquer custo uma oportunidade de
mostrar talento no ringue. Facilmente ele é provocado e assim aceita qualquer desafio pela chance
de aparecer em uma luta. Por outro lado, um lutador experiente não entra em qualquer ringue. Ele
não precisa provar para ninguém seu poder de combatividade, a maturidade o ensina a guardar as
energias e reservar suas forças apenas para lutas relevantes.

E nós, quem somos? Lutadores iniciantes ou lutadores maduros? A resposta está nos combates que
aceitamos entrar.

Quantas de nossas batalhas não valem a pena serem mais lutadas. Insistir no que não vale a pena
não se chama perseverança e sim teimosia. Perseverança é uma virtude já teimosia é pecado.
Renunciar a vontade de desistir é uma qualidade que em muitos momentos precisaremos cultivar
mas aprender a desistir também faz parte da sabedoria de um bom lutador.

Você já parou para fazer essa reflexão: Será que o que hoje eu chamo de uma “luta’ na minha vida
é um “bom combate”? Antes de seguir com qualquer outra lição desse livro você precisará
aprender a primeira premissa da arte da guerra: Saiba escolher a sua luta.
Capítulo 1

A necessidade de sabermos escolher as nossas lutas está no fato de sermos humanos e, portanto,
limitados. Não temos condições em nós mesmos de lutarmos todas as guerras que nos são
propostas.

Essa é uma das diferenças fundamentais entre a natureza de Deus e a natureza humana.

Deus é ilimitado, isto é, ele não tem restrições de tempo, espaço ou recursos. Ele pode fazer tudo,
em todos os lugares, ao mesmo tempo e nada disso desgastaria nem sequer um pouco de sua força
ou poder. Nós humanos não somos assim. Somos limitados pelo tempo, pelo espaço e por nossos
recursos. Não conseguimos atender todas as pessoas simultaneamente, ao responder sim para um
desafio estamos nos privando de entrar em outros desafios e no final de um dia de batalhas sempre
estaremos fadigados pois nossa energia se esgota com o uso.

Uma boa comparação seria: Deus é o oceano, nós somos um copo de água. Beba o quanto quiser
do mar ele ainda estará inteiro e glorioso, já um copo de água...com alguns goles só resta o copo.

Essa característica limitada da nossa natureza explica por que se fala tanto hoje em dia em “gestão
do tempo”, “gestão da energia”, “gestão de recursos” e etc. O homem precisa gerir bem o que
possui porque tudo que ele possui é limitado e não inesgotável.

Todas as vezes que entramos em lutas que não valem a pena o maior mal que causamos a nós
mesmo é que haverá “menos de nós” para lutar as batalhas que verdadeiramente importam.

Nossas batalhas consomem nossos recursos emocionais, nossos relacionamentos, nosso tempo e
energia. Já que não somos infinitos como Deus a pergunta que precisamos nos fazer diante dos
combates é: “Essa batalha é digna de mim?”.

Enquanto não formos seletivos quanto aos ringues que estramos estaremos permitindo que lutas
irrelevantes nos consumam.

Será esse um retrato da sua vida? Você tem lutado muito por aquilo que vale pouco e deixado de
combater as lutas que valem tudo?

A segunda razão pela qual devemos escolher bem as nossas lutas é porque Deus não entra em
qualquer batalha. Geralmente gostamos de citar a Escritura “se Deus é por nós quem será contra
nós...” mas o que não pensamos é e se Deus não for conosco? Se Ele não achar adequado entrar
em um combate que desejamos avidamente lutar, será que ainda assim podemos contar com a sua
ajuda para obter vitória? A resposta é não! Na bíblia vemos Israel perdendo batalhas porque entrou
em lutas que Deus não era com eles. É uma loucura entrar em um ringue sem Deus e esperar
a ajuda divina para vencer.

Se você deseja escolher melhor as suas lutas provavelmente deve estar se perguntando “como
posso diferenciar o bom combate do mau combate?”. É exatamente para esse passo que seguiremos
agora.

Lembro-me que quando criança aprendi uma história chamada “as três peneiras”.
Capítulo 1

“Um rapaz procurou um sábio, e lhe disse que precisava contar algo sobre alguém. O sábio
perguntou:

- O que você vai me contar já passou pelas três peneiras?

- Três peneiras?

- Sim. A primeira peneira é a Verdade. O que você quer contar é um fato? Suponhamos, então,
que seja verdade.

Deve agora passar pela segunda peneira: a Bondade. O que você vai contar é coisa boa? Ajuda
a construir ou destruir o caminho, a reputação do próximo?

Se o que você vai contar é verdade, e coisa boa, deve passar ainda pela terceira peneira:
a Necessidade. Convém contar? Resolve alguma coisa? E arremata sábio:

- Se passar pelas três peneiras, conte! Tanto eu, como você e seu irmão iremos nos beneficiar.
Caso contrário, esqueça e enterre tudo”

A história deixa a lição de que há três “peneiras” que podemos aplicar para saber se devemos ou
não contar algo sobre alguém. Da mesma forma acredito que há algumas peneiras que podemos
usar como filtros para discernir se um combate vale ou não a pena ser lutado. São quatro peneiras
que revelam quatro valores que um cristão deve levar em consideração para qualquer decisão
relevante.

Apresentarei essas “peneiras” na forma de perguntas:

• Esse combate glorifica a Deus?


O resultado dessa luta trará honra para Deus? Posso olhar para esse combate e vê-lo como um
culto a Deus?

• Esse combate fortalece a família?


A minha família, casamento, filhos serão fortalecidos com o resultado dessa batalha? Ou esse
combate se resume a uma ambição pessoal?

• Esse combate abençoa pessoas?


Essa luta é apenas sobre você ou é sobre uma causa que abençoa outros?

• Esse combate alinha-se com o meu propósito?


Essa luta está ligada ao propósito de Deus para mim?

Ao fazer essas perguntas você aprenderá a identificar o “bom combate” quando ele aparecer.

Não seja um iniciante, aja como um lutador experiente e escolha bem as suas lutas.
Capítulo 1

FIQUE DE PÉ ATÉ O ÚLTIMO ROUND!

“Terminei a corrida…”

Quando identificamos o bom combate, isto é, aquele que vale a pena nosso suor e esforço então
precisamos atentar para a segunda frase dita pelo apóstolo Paulo no versículo base da nossa
discussão: “Terminei a corrida…”.

O apóstolo não apenas escolheu bem a sua luta como também foi até o fim.

Por vezes um lutador não conseguirá nocautear seu oponente, mas se ele deseja vencer com certeza
uma coisa precisa acontecer: ele deve ficar de pé até o último “round”.

Há batalhas em nossa vida que a vitória significa permanecer de pé até o fim. Na verdade, podemos
afirmar que em certas estações da nossa vida o maior ato de fé que podemos ter é permanecermos
plantados em Deus.

Existe uma constante na vida de todos os lutadores: em um momento ou em outro haverá razões
suficientes para desistir!

Boas razões, excelentes justificativas…

“Ele não merece que eu continue lutando por ele…”


“A minha família não merece que eu continue lutando por ela…”
“Já caí tantas vezes…não adianta continuar lutando pelo meu relacionamento com Deus”
“Já tentei de tudo por esse ministério...é hora de mudar de ares”

Razões para desistir tem nome: DESCULPAS! E desculpas são as maiores sabotadoras do nosso
destino.

Penso que o momento de maior tentação na vida de Jesus não foi no deserto quando ele foi tentado
pelo Diabo e sim no Jardim do Getsêmani. Ali Ele transpirou gotas de sangue e orou “Pai se
possível passa de mim esse cálice”. Jesus tinha todos os motivos para não terminar a sua corrida.
Ele poderia argumentar com o Pai: “O meu sacrifício não irá adiantar...veja como eles me tratam
com incredulidade...”. Por essa razão o Getsêmani foi um lugar de tentação. As justificativas para
não ir para o combate eram boas, e quanto melhor a justificativa maior a tentação de desistir.

Se você está em um ringue que Deus colocou você, se você está combatendo o bom combate então
que as suas convicções falem mais alto que as suas desculpas.

Todo homem que combateu o bom combate na bíblia precisou passar pelo teste da perseverança:

• Abraão recebe a promessa com 75 anos e Isaque nasce quando ele tinha 100 anos;
• Davi foi ungido pelo profeta Samuel, mas somente tornou-se Rei 22 anos depois;
• Na vida de José foram 13 anos do buraco ao Palácio.
Capítulo 1

"Por isso, não abram mão da confiança que vocês têm; ela será ricamente
recompensada. Vocês precisam perseverar, de modo que, quando tiverem
feito a vontade de Deus, recebam o que ele prometeu"

(Hebreus 10:36).

Minha mãe por muitos anos competiu em provas de triátlon e me lembro que as vezes presenciava
ela chegando em casa com uma medalha no peito mesmo quando ela não alcançava o pódio. Era
a medalha dada para aqueles que concluíam a prova não importa a posição que haviam alcançado.
Existe uma honra reservada para aqueles que terminam. Há algo nobre em cruzar a linha de
chegada.

GUARDE AS ÁREAS VITAIS!

“Guardei a fé...”

Um bom lutador sabe quando não abaixar a guarda e quando baixá-la.

A arte da luta envolve saber atacar mas tampem se proteger, guardar as áreas chaves contra os
ataques do oponente.

Guarde apenas aquilo que é importante!

O que você tem guardado com você?

Você nem sempre decide o que a vida lança contra você, mas é sua decisão o que você guarda!

Cuidado com aquilo que você acumula!

“A acumulação compulsiva ou disposofobia (fobia em dispor das coisas), consiste na aquisição ou


recolha ilimitada de objetos de pouca ou nenhuma utilidade, muitas vezes já deixados no lixo por
outras pessoas e a incapacidade para descartar coisas, geralmente sem utilidade.”

Infelizmente muitos não sofrem de um transtorno de acumular coisas mas acumulam experiências
e sentimentos na memória e na alma que já deveriam ter sido descartados a muito tempo.

Acumuladores acabam deixando de ter espaço para conviver com pessoas e gozar da vida…o
mesmo acontece conosco quando acumulamos.

Por acumular o inútil eles deixam de acolher o valioso!

Quantos mais acumulamos o nosso passado menos acolhemos o nosso futuro!

Esvazie e crie espaço para algo novo!


Capítulo 1

Ilustração: O lixo não se guarda!!

Faça da faxina da sua alma uma rotina do seu espírito.

O que devemos guardar então?

Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida.

(Provérbios 4:23)

Ilustração: Aqui guardar não é apenas acumular mas também “colocar um guarda” no sentido de
proteger!

Guarde a sua fé, guarde a sua esperança!!!

Conclusão:

Ilustração - A esperança é a âncora da alma.

PROTEJA A SUA ESPERANÇA!

É a sua esperança nas promessas de Deus que segurará você como uma âncora segura um navio e
não permite que ele seja levado pela maré.

“Temos esta esperança como âncora da alma, firme e segura, a qual adentra o santuário interior,
por trás do véu.” (Hebreus 6:19).

Ilustração: Amarrar a corda…

Você também pode gostar