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Lynne Graham
1995
Tradução: ILNETE
Resumo:
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Lynne Graham Desejo sem amor
Capítulo 1
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Arnold tratou de consolar sua esposa, mas esta o rejeitou. Susan subiu
as escadas do mesmo modo que Tim o tinha feito uns minutos antes. Ouviu-se
outra portada.
—Não suporta que alguém a veja chorar —declarou Arnold, suspirando e
levando Ashley para a sala. —Será melhor deixá-la só até que se acalme.
Uma sensação de vertigem se apoderou de Ashley. Pálida, cambaleou-se
e teve que se apoiar com as duas mãos no respaldo do sofá. Disse a si mesmo
que era impossível, que não podia ser verdade. Tim nem sequer sabia com quem
ela tinha saído quando ia à universidade. Susan estava equivocada.
Arnold comentou enquanto se servia uma bebida:
—Ninguém tem culpa. O jovem está fora de controle, mas estava muito
antes de vir morar conosco.
—Não é possível que Tim tenha pegado... o carro de Vito —apontou
Ashley.
Arnold bebeu um gole de uísque; esqueceu de oferecer uma bebida a
Ashley. Isso indicava seu estado de ânimo.
—Sinto muito, querida. Ainda não sabe, não é verdade? Seria mais
prudente que seguisse assim.
—Arnold! Ashley desejava gritar e sacudi-lo pelos ombros. —Preciso
saber o que aconteceu!
Seu cunhado aspirou profundamente.
—Tim vai para a mesma escola que... Pietro, o sobrinho do Cavalieri.
—Não me disse isso! —estalou Ashley. Até recentemente Tim não tinha a
menor idéia de que tivesse havido alguma relação entre nossa família e o clã
Cavalieri.
—Acredite ou não, os dois jovens se converteram em grandes amigos. Foi
Pietro quem começou o problema no bar, mas como sua família tem mais
influência que nós, o pobre Tim pagou o pato...
—Que problema?
—Compareceu ante um juiz por conduta escandalosa, danos e prejuízos,
depois de ter participado de uma briga.
Ashley fechou os olhos.
—Por que ninguém me disse nada?
—Em honra à verdade, travou amizade com as pessoas equivocadas. E
depois disso, deu-se conta de que o tinham escolhido como bode expiatório. O
proprietário do bar não tinha nenhuma intenção de denunciar um Cavalieri.
—Então este não é o primeiro delito de Tim —comentou Ashley,
horrorizada.
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—Sua amizade com Pietro esfriou depois disso, mas no mês passado Tim
foi a uma festa na casa de seu amigo. Alguém que estava ali o identificou como
seu irmão. Os dois jovens já tinham se rivalizado por uma jovem. Pietro seguiu
a corrente, fez alguns comentários ofensivos a respeito de... de sua relação
anterior com seu tio... e se produziu uma briga.
Ashley sentiu que lhe dobravam as pernas.
—Tim deu uma surra no canalha, foi assim que o jogaram de lá —
continuou Arnold. — Mas por desgraça, Pietro e seus amigos, depois de
descobrir o ponto vulnerável do Tim, seguiram perseguindo-o na escola. No mês
passado, quatro deles o espancaram.
Ashley recordou que Tim não tinha querido falar desse incidente, apesar
de sua insistência.
—Continua —ordenou ao Arnold.
—Susan e eu nos preocupamos muito quando ele se negou a nos contar
qual foi o motivo desse ataque. Pensamos nos aproximar da escola, mas nos
pareceu que a Tim isso resultaria humilhante.
—Mas por que ele não me contou o que acontecia?
—Nunca me pareceu boa a decisão de seu pai de te excluir do círculo
familiar. Isso causou uma grande tensão a todos, sobre tudo a sua mãe e ao
Tim... Ele é muito unido a você. Não confia em nós para nos contar o que
acontecia. E, embora ame a minha esposa acredito que é absurdo que, depois de
doze anos de casamento, Susan ainda esteja tão desesperada por conseguir a
aprovação de seu pai, e tão disposta a desprezar a sua única irmã, só porque ele
pediu.
Susan também conservava cicatrizes da infância, pensou Ashley.
—Sinto muito —disse em voz baixa.
—Não tem por que pedir desculpas. Tim tinha uma conta pendente —
afirmou Arnold. — Se meteu na casa dos Cavalieri, ligou o carro, não pôde
controlá-lo e deixou uma esteira de destruição atrás dele. Fugiu antes que o
apanhassem, mas alguém o viu.
Ashley se sentiu fisicamente doente. Seu passado se intrometeu no
presente do Tim.
—Denunciaram-no?
—É obvio. Os Cavalieri são donos de um dos maiores bancos da Europa.
Tim não conseguirá sair disto. Mas ele procurou isso.
—Como pode dizer isso? —Ashley ficou em pé. — Ele me defendeu e
agora está pagando por isso! —exclamou, chorosa.
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—Destruir a propriedade de alguém não tem nada que ver com a valorosa
defesa da irmã.
—De que outro modo ele pôde devolver os golpes? Sei que se comportou
como criança, mas a família de Vito é tão rica e poderosa que não pôde ter se
desforrado de nenhuma outra maneira!
—Conseguiremos-lhe o melhor advogado que pudermos —assinalou ele,
franzindo o cenho.
—Subirei para vê-lo.
Tim estava sentado na borda da cama, com as mãos entrelaçadas entre
as pernas e a cabeça inclinada. Não levantou a vista.
—Não me dei conta de que estava aqui, até que ouvi sua voz, lá embaixo.
—Arnold me contou tudo —assinalou ela, apoiando-se na porta. — Por
que, Tim? Por que? Vito nunca te fez nada...
Ele elevou a cabeça imediatamente.
—Ah, não? E o que fez a você? —perguntou com amargura. — Destroçou
sua vida. Teve que abandonar a universidade. Proibiram-lhe de entrar em sua
própria casa e tem um trabalho asqueroso por culpa dele!
A amargura de seu irmão penetrou nela, como se fosse uma adaga.
—Além disso, esse desgraçado do Pietro zomba de você como se seu tio
tivesse feito algo de que devesse estar orgulhoso!
—Você não sabe o que aconteceu entre Vito e eu —declarou ela,
vacilante.
—Você tinha dezenove anos e ele vinte e oito —repôs Tim, furioso. —
Isso é tudo o que preciso saber.
—Nossa relação simplesmente não resultou, Tim.
—Desfez-se de você quando se inteirou de que estava grávida e se casou
com outra.
—Não foi assim, Tim —expressou ela em voz baixa. —Ele não sabia que
eu estava grávida. Na realidade, quando nos separamos, tampouco eu sabia, e
nunca o disse. Uma vez que se casou, não valia a pena.
Seu irmão a olhou com incredulidade.
—Não minta! Já não sou mais criança.
—Mas foi assim que aconteceu.
—Não acredito. Abandonou-te. Aproveitou-se de ti! Sem dúvida se
inteirou do bebê! Sem dúvida...
—Pietro sabe?
—Bem, não, mas...
—Vito não sabia —assegurou ela, apertando os punhos.
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Sabia que já era muito tarde para contar tudo ao Tim. Mas, o que podia
fazer para que ele entendesse? Pensou que algumas coisas eram muito difíceis
de explicar a um adolescente, que estava decidido a ver sua irmã como uma
vítima inocente, seduzida e abandonada. Mas o que impulsionou Tim a atuar foi
a situação dela, não dele.
—Trata de não se preocupar muito —lhe aconselhou Ashley. —
Provavelmente tudo saia bem.
—Não sou criança, Ash. Cometi um erro. Tudo me dava voltas na cabeça.
Pensava no que lhe fizeram. No que me fizeram. Não podia suportar mais. Pus-
me furioso.
A jovem pensou que, quanto ao temperamento, Tim e ela se pareciam
muito. Tinham o mesmo caráter que seu pai, o qual era uma maldição. Uma
maldição que a ela aborrecia muito.
Arnold a estava esperando lá em baixo.
—Levarei-te para casa.
—Não... não é necessário.
Ajudou-a a vestir a jaqueta.
—Vamos. Preciso tomar um pouco o ar.
Além de que Arnold lhe perguntou como ia com os cursos da universidade
à distância, não conversaram muito. Os dois estiveram ensimesmados em seus
pensamentos. Mas a Ashley parecia que ela tinha certa vantagem.
Depois de tudo, sabia o que devia fazer. Precisava ver Vito. Pelo menos,
ele devia escutá-la. E embora tivesse que se arrastar, obrigaria-o a isso. Por
isso se referia à liberdade e tranqüilidade de espírito de sua mãe, nenhum
sacrifício seria muito grande.
Quando, cansada, meteu-se na cama, pensou nas revelações dessa noite.
Por que teve que acontecer isso? Quantas vezes ela deveria pagar por um
erro? perguntava-se. Um erro que podia ter evitado se não tivesse se
apaixonado pela pessoa errada.
Depois de tudo, sua mãe tinha cometido o mesmo equívoco. Entretanto,
Sylvia Forrester não tinha uma personalidade forte. Depois de ter suportado
durante trinta anos a tirania de seu marido, era uma mulher pacata, muito
fraca para contrariar um homem orgulhoso de sua dominação.
Aos dezoito anos, Ashley havia se sentido muito segura de sua habilidade
para dominar suas próprias emoções. Tinha planejado toda sua vida: iria a
universidade e alcançaria um posto destacado no mundo dos negócios. Em vez
disso, no primeiro ano de carreira fracassou estrepitosamente.
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qualquer mulher recordaria sempre. Vito tinha uns olhos lindos, dourados à luz
do sol e tão negros como o ébano.
Ainda irradiava uma sexualidade selvagem. Todas as mulheres, entre os
quinze e os cinqüenta anos, elevavam o rosto e ficavam sem fôlego quando Vito
passava perto. E ela não era a exceção à regra.
Vito pendurou o telefone e se desculpou pela interrupção.
—Quer que me ponha de joelhos e te suplique, não é verdade? —depois
de pronunciar essas palavras, Ashley sentiu desejo de morder a língua por ter
perdido o controle.
Vito se tornou para trás na cadeira giratória, pouco surpreso.
—A que veio exatamente? —perguntou.
—Falar do Tim e dos motivos que teve para fazer o que fez.
Provavelmente não saiba, mas seu sobrinho...
Vito a olhou com os olhos entrecerrados.
—Insultou seu irmão? Foi um incidente lamentável. —comentou com tom
irônico.
Ashley ficou rígida.
—Lamentável?
—Pietro perdeu dois dentes. O assunto da lealdade familiar ficou
resolvido com os punhos. Pietro levou a pior parte e foi sincero comigo. Não
vejo nenhuma relação entre esse episódio e a indesculpável invasão de minha
casa por seu irmão.
—Então o primeiro ato já terminou. O que me diz do segundo? Tim foi
esquecido na porta da escola e espancado por quatro jovens, um dos quais era
seu sobrinho.
—Quando isso aconteceu?
Ashley teve que se deter para recordar por uns segundos antes de lhe
dar a data.
—Nesse dia Pietro estava assistindo ao casamento de seu primo em Roma
—repôs ele. —Não pôde ter estado presente.
—Se não esteve ali, ele organizou tudo.
—Está entrando agora no terreno da fantasia. Pietro não é capaz de
meter-se em um ato tão covarde. A menos que tenha provas em que fundar
esses argumentos, aconselharia-te que deixasse isto —a olhou com frieza. —
Se continuar, te resultará pouco produtivo.
Ashley estava furiosa por não ter os detalhes exatos do incidente.
Quatro jovens tinham atacado o Tim; isso era tudo o que sabia. Apertou os
dentes.
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sua decisão de não se casar nunca nem ter filhos, assim que todo mundo supôs
que tinha optado pelo aborto. Definitivamente não podia contar a Vito, ao que,
por outro lado, adorava as crianças. Vito, com quem Ashley tinha tido
acalorados debates sobre o direito das mulheres a escolher ter filhos,
tampouco acreditaria e, se pensava que ela tinha escolhido essa possibilidade,
desprezaria-a ainda mais.
—Tim só tem dezoito anos —começou a dizer ela. —E parte de tudo isto
é minha culpa. Nunca lhe disse... quero dizer, ele não sabe nada do que
aconteceu entre nós. Tirou algumas conclusões errôneas, mas eu não sabia o
que pensava, até que aconteceu...
O silêncio se prolongou. Vito podia usar o silêncio como uma arma.
Permanecia sentado, cômodo, indiferente, tranqüilo. Isso a intimidava.
—Olhe, não estou tratando de desculpá-lo... declarou ela.
—Mas precisamente disso é culpado.
A palavra «culpado» a assustou.
—Se Tim for à prisão, toda sua vida ficará destruída. Por um momento
perdeu o julgamento, Vito. Ele lamenta muito o que fez.
—Onde ele está?
—Não sabe que estou aqui. E não sei por que me pergunta isso. É injusto.
Montou um escândalo tão grande com a polícia, que talvez o detenham se se
aproximar deste edifício!
—É ardilosa —repôs Vito em voz baixa. —Tinha esquecido quão ardilosa
podia ser. Mas me diga: se eu ou algum membro de minha família atravessasse
no caminho do carro, acha que seu irmãozinho teria pisado no freio?
—Por que quer piorar o que já aconteceu? voltou-se louco com o carro,
mas não tentou matar ninguém! Estava sob a influência do álcool. Não era
consciente do que fazia até que já era muito tarde!
—Trata de abrandar meu coração? Quem viola a lei deve ser castigado.
Desculpar seu irmão das conseqüências de sua própria conduta não será bom
para ele.
—Só agarrou seu maldito carro, Vito! —exclamou ela, furiosa. — Não
pensava destroçá-lo. Há castigos e castigos. Enviar um adolescente à prisão por
destroçar um carro e uma estúpida fonte, é o que eu chamo de um exagero.
Isso acabará com o Tim!
—É pouco provável que vá a prisão se se tratar de seu primeiro delito.
—Mas não é o primeiro... —de repente se deteve, horrorizada.
—Então terei a consciência tranqüila. Muito a propósito tratou de me
enganar ao afirmar que ele não estava acostumado a comportar-se assim. Mas
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—Quer que diga que sinto profundamente não ter me casado com você.
—De verdade?
—Devo ser sincera para que possamos superar o acontecido há quatro
anos —repôs ela com valentia.
—OH, seja sincera, por favor, cara —a animou com tom indolente.
—Deve saber que, de fato, ainda estou orgulhosa por ter me negado a me
converter em tua propriedade. Uma vida de vigilância e submissão teria me
afogado. Nunca teria resultado.
—Deu resultado na cama... e que resultado!
Nervosa e incômoda depois do comentário de Vito, Ashley não disse
nada. Ele a observou com frieza.
—Teria sido um sacrifício tão grande ser minha esposa, se vestir de seda
e exibir colares de diamantes?
—Desde o começo sabia o que pensava do casamento. Não pode dizer que
não lhe adverti isso. O casamento é uma instituição patriarcal que beneficia aos
homens e oprime as mulheres.
—Um sermão feminista. Nunca tinha ouvido tantas tolices!
Ashley se encolheu de ombros.
—Certamente, tem direito a expressar sua opinião... como eu tenho
direito a expressar a minha. Em todo caso, não vim ressuscitar um passado que
nós dois preferimos esquecer. Faz-me dizer coisas que não quero dizer.
—Com que diplomacia pede desculpas...
Fazia muito tempo que Ashley tinha expressado suas crenças.
Entretanto, por alguma razão inexplicável, não tinha a mesma convicção que
tinha tido antes. Mas isso não importava nesse momento.
Recordou que, durante uns cinco meses após o rompimento, esteve
brigando ao menos duas vezes por dia. Perto do final, para ela tinha sido como
viver a beira de um precipício e ter um forte medo às alturas. Sentiu vontade
de chorar. Ela era a única pessoa que podia interceder pelo Tim diante Vito, e,
entretanto, também era o pior defensor que este podia ter tido.
O tempo não tinha diminuído a antipatia que Vito sentia por ela. Olhou-o
furtivamente e observou a crueldade de suas feições. Não, nunca poderiam ter
se separados em bons termos. Vito procedia de uma família orgulhosa e muito
rica. Tudo o que desejava ele obtinha.
—Retire a queixa contra Tim —lhe rogou ela.
—Por que tenho que fazer isso? De um ponto de vista meramente
mercantil, estaria fechando um trato muito desigual. Liberar seu irmão do
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castigo que merece não fará que me sinta benevolente. Sua liberdade não vale
nada para mim. Quanto vale para você?
—Qualquer coisa... tudo —respondeu Ashley em voz baixa, estremecendo
enquanto pensava no Tim e na frágil estabilidade mental de sua mãe, assim
como em que só ela seria culpada se não convencesse Vito de que mudasse de
opinião.
—Vale o mesmo que a sua liberdade?
—Não compreendo.
—Qualquer coisa... tudo? Curioso —murmurou ele. —Se retornasse a
minha cama, provavelmente me convencesse para que retirasse a queixa.
—Isto não é engraçado, Vito —comentou ela, apertando as mãos.
—Não supunha que fosse — ele se sentou na borda de sua mesa. —Se
aceitar as minhas condições... todas as minhas condições — afirmou ele — seu
irmão ficará livre.
—Isso é indecente! —exclamou Ashley sem fôlego.
—Antes compartilhava minha cama sem amor. Também poderia fazê-lo
com ódio —indicou ele com tom cansado.
Ashley de novo apertou as mãos.
—Sua linguagem corporal resulta muito expressiva —comentou Vito. —
Leve uma parte desse fogo à cama e provavelmente me convença de comprar ao
seu irmão delinqüente uma Ferrari.
Ashley estremeceu de raiva. Como ele se atrevia a zombar assim dela?
Queria humilhá-la. Mas esse era o lado escuro de Vito, seu aspecto cruel,
vingativo.
Ele jogou a cabeça para trás e riu.
—Vamos querida. Uma vez me disse: «Se desejar muito algo, o
conseguirá». Assim agora mesmo o estou conseguindo.
—Mas não é possível que fale a sério...
—Precisaríamos nos casar...
—Por que demônios quer se casar comigo agora?
Ele sorriu com ironia.
—Você já sabe a resposta a essa pergunta, cara —repôs com ar
contemporizador. — Me disse o motivo, há quatro anos. Quero uma criada que
mantenha limpa minha casa, uma escrava que me dê massagens e uma mulher da
qual possa presumir. Além disso, quero ter sexo... sexo ilimitado, sempre que
desejar. Só o casamento poderia me proporcionar todos esses elementos
essenciais.
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Ashley ficou sem fôlego. Fazia muito tempo que tinha esquecido essas
amargas palavras. Mas, ao que parecia, Vito não o tinha feito.
—Além disso, continuou ele — debaixo dessa roupa há um corpo perfeito
e uma mulher muito linda. Ainda quero possuir essa mulher. E por que não teria
que fazê-lo se tenho os meios ao meu alcance?
—Está louco! Completamente louco!
—Estou? —Vito a olhou com uma certa satisfação, que a fez estremecer-
se. —Está me dizendo que poderia ter você de outra maneira? Desejo-te,
Ashley. Tudo depende de você.
—Preferiria estar morta antes de me casar com você!
—É sua resposta definitiva?
Ashley se dirigiu até a porta. Uma vez ali, voltou-se para exclamar:
—Maldito porco vingativo! Espero que queime no inferno pelo que me
disse hoje!
—Eu te diria que «quando dois fogos incontroláveis se encontram,
consomem aquilo que alimenta sua fúria». Não leu “A fera domada”, Ashley?
Em sua pressa e desespero por ir embora, tropeçou com sua secretária.
—Como pode trabalhar para um porco machista que odeia às mulheres?
—perguntou à outra mulher.
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Ela desejava lhe gritar que na época tinha dezenove anos. Desgostava-
lhe a idéia mesma da gravidez, depois de ver como declinava a saúde de sua
mãe, ao cabo de uma longa série de abortos, em sua tentativa por ter o filho
varão que seu marido tanto desejava.
—Mas ainda pode se casar dentro de vários anos.
—E talvez nunca conheça a mulher com a qual deseje me casar. Além
dessa possibilidade —replicou ele — não tenho desejo de ser um pai com idade
avançada. O meu tinha quase cinqüenta anos quando eu nasci e já morreu.
Nunca fomos muito unidos.
Vito nunca tinha contado a Ashley esse detalhe a respeito da idade de
seu pai. Sem dúvida Elena di Cavalieri era ao menos trinta anos mais nova que
seu marido. «Se Vito soubesse que tinha estado tão perto de converter-se em
pai...», pensou a jovem, alarmada. Mas imediatamente se disse que isso não
tinha ocorrido, ao recordar o pouco que durou sua gravidez.
—Nunca pensei que me considerasse digna da honra de te dar um
herdeiro —assinalou ela, aterrada de perder o domínio de si mesmo, — depois
de conhecer a opinião que segue tendo de mim.
Vito apertou os lábios.
—É muito atraente, inteligente e valorosa.
—Quer dizer que como mãe em potencial sou perfeita, mas não como
mulher!
—Parece-me que não disse isso.
—Mas é o que deu a entender! Acha que para uma verdadeira mulher,
um homem é o mais importante, inclusive mais que ela mesma!
—Em seu caso, tudo o que sei é que eu não era o homem capaz de te
convencer de que fizesse o menor sacrifício por mim.
—O menor sacrifício? Pedia-me que partíssemos para a Itália, que
deixasse meus estudos e toda esperança de ter um trabalho próprio, que me
casasse com você contra meus instintos e princípios mais básicos, e que te
proporcionasse filhos com a eficiência de um coelho! Durante todos esses
meses acreditava entender como me sentia...
—Mostrei-me bastante paciente e discreto.
—Foi retorcido e pouco íntegro!
—Estava comprometendo minhas próprias convicções em uma tentativa
para salvar nossa relação. Houve ocasiões em que cheguei a desejar utilizar a
força física para te obrigar a que me escutasse!
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dito então. «Não o amo, não o necessito». Assim ela se defendeu. E tinha se
comportado de acordo com isso.
Certamente, não tinha se comportado dessa forma sem alguma
justificação. Mas Vito se comportou como se fosse dono dela, pois pensava que
a liberação não tinha nada que ver com o sexo feminino. Ao vê-lo nesse
momento tão tranqüilo, para Ashley resultava difícil recordar a violência de
suas discussões, assim como o ciúme e a atitude possessiva que demonstrou
quando ela se atreveu a lhe dizer que não tinha direito a ordenar cada um de
seus movimentos.
—«Se desejar muito algo, conseguirá» —repôs Vito, desafiante. — Não
pode me dizer que não têm vontade de fazer amor, porque sei que não é
verdade.
—Pare de repetir todas as tolices que digo! —exclamou ela, mas voltou a
render-se quando Vito deslizou um dedo por seu seio.
—Então admite que diz algumas tolices. Ou será que admitiria algo, antes
que compartilhar a cama comigo?
Desesperada, Ashley se perguntou se compartilhar sua cama era o
método que Vito utilizava para selar o trato ou se simplesmente queria
humilhá-la. Se a liberdade de seu irmão ia depender disso, o que devia fazer?
—Nunca fui promíscua —declarou ela.
E, sem nenhuma advertência, quarenta e oito horas de preocupação,
vigília e falta de apetite, de repente surtiram seu efeito. Ashley explodiu em
soluços. Desejava estar sozinha, mas Vito a segurou antes que ela pudesse
levantar-se da cama.
—Me solte! —exclamou ela, soluçando.
—Como posso fazê-lo? —a tomou em seus braços.
—Já não suporto mais! Não sou nenhuma vadia.
—Não, tem muita atitude e muita classe —lhe assegurou Vito
imediatamente, enquanto lhe afastava o cabelo da testa com gesto consolador.
—Não... não posso estar com você neste momento e você sabe! —
exclamou ela. —Nunca choro! Desprezo às mulheres que choram!
Ele murmurou algumas palavras tranqüilizadoras em italiano e ela chorou
ainda mais porque, no fundo, adorava que ele a consolasse. Seu aroma
masculino, tão conhecido, envolveu-a. Não podia recordar quando foi a última
vez que alguém a tinha abraçado... talvez tinha sido mesmo o Vito...
Ele deslizou um dedo por uma de suas úmidas bochechas, e Ashley não se
moveu. Estava cômoda, e quando Vito a pôs sobre o sofá, ao pé da cama, de
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—De verdade quer que acredite que me agradece por tê-los reunido de
novo? —perguntou-Tim a Ashley.
Igual a ela, Tim era perspicaz. E diferente de Susan, não tinha
acreditado no que lhe contou. A garota também tinha tido que insistir muito
para convencer seu irmão de que não fora ver Vito para lhe expressar suas
desculpas e seu agradecimento. Tinha-o convencido de que lhe escrevesse uma
carta.
—Acha que desta vez poderia terminar se casando com ele? —perguntou-
lhe Tim.
—É muito cedo para saber.
Tim sacudiu a cabeça.
—Mas deve estar muito apaixonado por você para ter me perdoado...
Ashley sorriu ao pensar que essa era a maneira adequada de tratar o
Tim. Não queria que seu irmão se preocupasse com ela. Seus pais tinham
retornado da Nova Zelândia e não tinham a menor idéia de que poderiam ter
tido uma volta muito mais traumática.
—Quando voltar para casa vou vender meu carro e enviarei o dinheiro a
Vito.
—Não pode fazer isso. Papai vai querer saber por que!
—Não posso pagar o Vito integralmente, mas devo fazer o que puder.
—O seguro não lhe pagará?
—Isso não tem nada que ver. Não posso esquecer o que fiz a seu carro.
Não posso me comportar como se não fosse responsabilidade minha só porque
você me tirou do apuro.
—Vai contar a verdade a papai —supôs ela, segura de que terminariam
lhe jogando a culpa.
Pouco depois, Ashley se dirigiu ao apartamento de Vito. Embora ainda
não se instalou ali, tinha levado suas coisas essa mesma manhã, antes de passar
o dia com o Tim. Pensou que, se fosse inteligente, provavelmente o casamento
não aconteceria. O primeiro passo consistia em instalar-se no apartamento e
não provocar outra briga com Vito. E o seguinte passo? Quando ela terminasse
de lhe dizer que era pouco provável que lhe desse um filho em um tempo
razoável, talvez ele mudaria de opinião quanto a sua proposta.
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—Então por fim encontrou uma boneca de carne e osso a qual vestir —
assinalou. — Mas lembre-se que a mulher de fantasia que criou só será pura
aparência. No fundo seguirei sendo eu.
—Quero que desenvolva suas possibilidades.
«Como um bom investimento», pensou ela enquanto abria distraidamente
uma gaveta. Roupa nunca tinha importado a Ashley. Ele nunca tinha gostado da
maneira em que ela se vestia. Entretanto, sentia-se muito doída.
—Diga-me: a perspectiva de usar seda e renda em minha cama a
incomoda tanto?
Ashley sabia que Vito estava tratando de salvar as aparências; era
consciente de que a tinha ferido.
—Não me incomoda tanto —respondeu.
Entretanto, sim a incomodava. Pensou que era como se ela mesma
estivesse confabulando com Vito, animando-o a tratá-la como um objeto sexual,
cuja única meta na vida fosse agradar a seu dono e senhor.
—O resto de suas coisas está ali —declarou ele, assinalando uma caixa
que estava em um canto. Estava cheia de álbuns de fotografias, jornais, suas
coisas verdadeiramente pessoais.
—Quem o fez?
—Eu.
A confissão não a incomodou tanto como tinha suposto. Vito nunca
bisbilhotava; sempre tinha respeitado sua intimidade. E Ashley sempre tinha
acreditado em que ele não a defraudaria.
Por isso se sentiu tão ferida quando ele se casou com Carina. Vito lhe
havia dito que a amava e que sempre o faria; que fizesse o que fizesse, esse
amor sempre estaria ali. E Ashley começou a acreditar. Mas só eram palavras.
Ela não sabia quando Vito partiu; pensava que voltaria uma vez que se
acalmasse. Mas em vez disso, casou-se com outra mulher. Depois dessa traição,
Ashley acreditava que não voltaria a ter valor para amar alguém.
—Se formos jantar antes da ópera, será melhor que troque de roupa.
—Por que não escolhe algo para mim? —perguntou ela com tom mordaz. —
Isso é o que se faz com uma boneca.
Indiferente a seu comentário, Vito jogou um vestido de noite, negro,
sobre a cama. Era um modelo esplêndido. A jovem pensou que certamente lhe
havia custado uma fortuna.
—Há algo que deveria saber antes de se casar comigo —disse ela de
repente.
—A semana passada chegamos a um acordo.
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—Por que não me convidou para dançar? —repôs ela, entre dentes.
—Não vou competir com uma multidão —a envolveu com o olhar. A carga
de sexualidade que continha foi tão forte que ela se sentiu enjoada.
—E se eu não tivesse subido aqui...?
—Teria ido lhe buscar —lhe respondeu em voz baixa ao mesmo tempo em
que lhe beijava a mão. Ashley começou a derreter-se.
Na única ocasião em que viu a Giulia, a irmã adolescente de Vito, esta
quis saber como se conheceram. Ashley lhe contou a verdade e Giulia se negou
a acreditar.
—Deve estar brincando —insistiu a outra jovem. — Vito é o tipo mais
aborrecido e convencional que existe. Nunca se separa do trabalho e de sua
devoção ao banco. É incrivelmente antiquado... por isso Carina lhe convém, e
quando se casar com ela...
Giulia ruborizou e rapidamente trocou de assunto. Essa foi a primeira
vez que ouviu o nome de Carina, mas não a última. Carina era virtualmente um
membro da família de Vito, filha de uns amigos íntimos.
Rindo, um dia Vito confessou a Ashley que seus pais tinham a esperança
de que se casasse com Carina.
Ashley se perguntou por que não fugiu nesse momento, quatro anos
atrás. Disse-lhe que trabalhava como secretária e acrescentou quatro anos a
sua idade. Nunca tinha tido problemas para manter a seus namorados sob
controle. No geral, era ela quem tinha o caráter mais forte.
Mas desde o primeiro momento foi Vito quem teve o comando durante
sua primeira conversa. Era um desafio para ela. Admitia que se mostrou
bastante provocadora uma ou duas vezes. Além disso, tinha bebido muito
champanhe.
Ele beijou-a enquanto dançavam; esse beijo a fez arder por completo.
Saiu na noite, e de repente se encontrou no interior de uma limusine com
chofer e de novo nos braços de Vito, vítima de um doloroso desejo de
constante contato físico. Deixou os sapatos de Phoebe no elevador, quando
subiam ao apartamento de Vito. E perdeu o vestido na entrada.
—Toda minha vida estive sonhando encontrar uma mulher como você —
declarou ele ao mesmo tempo em que lhe tirava uma meia, depois de entrar no
quarto. — E agora que ao fim te encontrei, nunca te deixarei partir. Quanta
paixão... quanta espontaneidade...
Mas essa paixão e espontaneidade resultaram incômodas à manhã
seguinte. Vito ficou paralisado quando viu as manchas de sangue sobre o lençol.
Comportou-se mais como um juiz que como um amante. Como pôde ter deixado
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que a tratasse assim? Não se dava conta de quão preciosa era a virgindade?
Tinha-lhe perguntado Vito. Além disso, que idade tinha? À luz do dia não
parecia ter vinte e três anos.
Ao descobrir que era pouco mais que uma adolescente, Vito ficou pálido.
Nu, ficou a passear pela habitação, dizendo blasfêmia em italiano, mas
utilizando o inglês suficiente para assegurar-se de que ela entendesse o motivo
de sua fúria. E o essencial da mensagem consistiu em que ela era muito
estúpida para cuidar de si mesmo. Com arrogância, disse-lhe que tinha tido
muita sorte ao conhecer alguém como ele.
Estremecendo de vergonha e raiva, Ashley se envolveu em um lençol e
começou a recolher sua roupa.
—O que está fazendo? —perguntou-lhe Vito.
—Vou para casa.
—Mas precisamos conversar —ele pareceu assombrado ante sua atitude.
—É o habitual depois de uma aventura de uma noite? —perguntou ela com
amargura.
—Não é isso! —exclamou Vito. — Nunca em minha vida tive aventuras de
uma noite. Deus, que tipo de homem acha que sou? Ontem à noite houve algo
mais que sexo.
—Sim?
—Como esperava que reagisse hoje? Mentiu-me. Se soubesse que era
virgem, nunca teria me deitado com você. Devia está louco. Nem sequer tomei
precauções quando fizemos amor. Nunca fui tão irresponsável. Poderia ter
ficado grávida...
—OH, acredito que não. Estou tomando pílula.
—Mas...
Viu que os traços de Vito se endureciam quando chegou à conclusão que
ela esperava: que tinha se preparado para qualquer amante e que simplesmente
tinha escolhido a ele. Na realidade estava tomando anticoncepcional para
corrigir irregularidades em seu ciclo menstrual.
Ao voltar para a realidade, pensou com tristeza que foi nesse momento
que começou a fingir. No dia que se conheceram, negou-se a deixar que Vito
descobrisse sua confusão e vulnerabilidade. Só queria escapar. Ficou furiosa
consigo mesma e com ele, mas também sabia que o acontecido na noite anterior
tinha sido mútuo, um pouco incrivelmente poderoso e especial. Mas esses
sentimentos a assustaram.
Quando estavam no carro, ela assinalou:
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Capítulo 5
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pelo que seu pai faria se descobrisse o acontecido. Steve marcou uma consulta
para ela na clínica. Disse-lhe que Vito a tinha abandonado, que ela estava
sozinha e que, além disso, nunca quis ter filhos. Não dispunha de dinheiro para
manter a criança. Como ela ia viver? Que tipo de vida ia dar a seu filho? O
aborto segundo ele era a única solução.
Sentia-se doente, débil e desesperadamente sozinha, apesar dos
esforços do Steve.
Tinha ido sozinha à clínica, mas uma vez ali, deu-se conta de que não
podia fazê-lo. Encontrava-se em tal estado emocional que os empregados da
clínica insistiram em que chamasse alguém para que fosse buscá-la. Ashley lhes
deu o número telefônico da Susan, pois Steve tinha um exame esse dia.
Disse a sua irmã que, por mais difícil que fosse, queria ter o bebê. Foi
essa atitude o que quase levou seu pai à violência. Quando perdeu o bebê,
pensou que era um castigo divino por não ter querido seu filho desde o começo.
—Vito...
—O assunto está encerrado.
—Então por que o tirou agora? —perguntou-lhe Ashley, aturdida.
—Eu não gosto de segredos.
—Abortei contra minha vontade...
—Não ofenda minha inteligência.
—Nunca em minha vida me deitei com o Steve! —embora se dizia que
devia calar-se, precisava defender-se.
—Em sentido figurado provavelmente diga a verdade. Tampouco se
«deitava» em minha cama.
—Hoje estive com o Tim —insistiu ela. —E este machucado foi quando me
inclinei sobre uma mala esta manhã e me golpeei com a fechadura. Além disso,
não tenho nenhum amante.
—A palavra amor não figura em seu vocabulário. Só quer sexo.
Vito a levou a ópera. Não podia acreditar que pudesse ser tão cruel, mas
era. E Ashley, a quem a ópera sempre tinha encantado, só escutou uma
cacofonia ensurdecedora de vozes. Ele não quis escutá-la; não fez nenhum caso
de seus protestos. Não lhe acreditou. As lágrimas escorregaram por suas
bochechas.
Levou-a ao apartamento antes do intervalo. O silêncio se abatia entre
eles como um grande muro. Sem dizer nada, Ashley se meteu em seu quarto e
tirou a elegante roupa que ele tinha escolhido. Nunca ninguém a tinha ferido
tanto. Meteu-se nua na cama, como um animal ferido em busca de refúgio.
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—Não me parece justo que me faça isto. Não quero conhecer sua família.
Não quero ter nada que ver com eles, e não acredito que eles queiram ter nada
que haver comigo! —explodiu Ashley, desafogando a tensão que sentia.
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—Não seja ridícula —declarou Vito com impaciência. —É obvio que lhes
gostaria de ver-te antes do casamento.
Ashley não queria converter-se em uma surpresa desagradável para
Elena di Cavalieri, que certamente não tinha deixado de chorar desde que seu
filho lhe comunicou a notícia de seus planos matrimoniais. E certamente, não
desejava que lhe oferecesse outro cheque.
—A festa foi idéia de minha mãe. Por que está contra que ela queira te
receber na família e te apresentar a alguns de nossos amigos? Asseguro-te que
não foi fácil organizar uma festa tão grande em tão pouco tempo.
Então por que ela tinha se incomodado? perguntou-se Ashley enquanto
pensava naquela mulher, cuja aparente fragilidade ocultava um forte
temperamento.
—Não quero que se desgoste —repôs Vito.
Ashley engoliu em seco. Não pôde menos que se fixar no brilho do anel
de diamantes que luzia no dedo. Vito o tinha dado durante o jantar, à noite
anterior.
—Não é muito tarde para convidar sua família ao casamento —indicou
ele.
Ashley estremeceu.
—Não, obrigada.
—Acaso sua irmã...?
—Não somos muito unidas.
—E esteve unida a alguém?
Pensou que tinha estado unida a Vito como com ninguém mais, mas não
lhe satisfazia o que ela estava disposta a dar. Com ele, era tudo ou nada.
Ele tinha feito caso omisso de suas necessidades. A idéia de que Ashley
desejasse ser independente era como um insulto a sua masculinidade.
Entretanto, Vito acreditava que estava lhe oferecendo um paraíso.
Na semana anterior tinha transcorrido em meio de uma dolorosa tensão.
Vito a levou três vezes para jantar, e uma vez a um bar, onde nem sequer a
convidou para dançar. Todas as noites a levava ao apartamento e a deixava ali
só e trancada. Não a havia tocado, mas Ashley não sabia se o fazia para
castigar a ela ou para castigar a si mesmo.
O brilho das luzes da enorme casa era cegador. Disse a si mesmo que
essa seria sua casa quando estivessem em Londres, mas não por muito tempo.
Seu casamento não duraria mais de um ano. Quando lhe demonstrasse que era
estéril, graças às pílulas anticoncepcionais que estava tomando em segredo,
Vito não teria nenhuma razão para continuar com a farsa.
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posso mudar o que sinto, mas posso aprender a esquecer esse sentimento. É
algo que deveria ter feito há muito tempo.
Com uma dolorosa e amarga frustração, Ashley se levantou. Vito a
julgava e reprovava seu comportamento. Os olhos se alagaram de lágrimas.
—Por que não esquece esses sentimentos e trata de se concentrar no
que deveria sentir?
—A que se refere?
—Onde demônio estava quando precisei de você? Onde estava, Vito? Eu
tinha dezenove anos e não tinha nenhum lugar aonde ir! Deixou-me grávida.
Abandonou-me. Casou com outra mulher. E diz que me amava? Bem, a única
pergunta que agora tenho para você é... onde você estava? E onde estava esse
amor quando precisei dele?
Ele ficou paralisado pela surpresa. Ashley aspirou profundamente e
estremeceu.
—Não vive na realidade, Vito. Tem uma família carinhosa que te apóia, e
muito dinheiro. Não sabe nada a respeito da vida dos outros! Nunca se
perguntou onde será sua próxima refeição, nem como vai sobreviver... e é então
quando os ideais se vêem comprometidos!
Vito ruborizou. Levantou uma mão, com gesto vacilante, e enxugou as
lágrimas que escorregavam pelo rosto da jovem. De repente, Ashley sentiu
desejos de deitar-se em seus braços. O teria feito se Vito não tivesse retirado
a mão.
Nesse momento chamaram fracamente à porta e Elena entrou.
—Espero não ter incomodado, mas há uma festa da qual faltam os dois
principais convidados –disse ela.
—Ashley se reunirá conosco dentro de um momento —assegurou Vito,
conduzindo sua mãe para fora da habitação.
No silêncio que seguiu, Ashley fez um esforço para acalmar-se. Em
alguma parte, um relógio indicou que já era meia-noite. Ashley estremeceu ao
tomar consciência de que em menos de trinta e seis horas seria a esposa de
Vito.
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cegado. De repente, teve consciência de que tudo o que Vito desejava era que
lhe desse um filho e saísse o quanto antes de sua vida.
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Capítulo 7
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si. Ela já não ofereceu resistência alguma. Entrou nela com força e
profundidade, até que Ashley não soube onde começava ela e onde terminava
ele.
Passou um longo momento antes que ele se retirasse.
Ashley não queria que se movesse. Desejava que ficasse para sempre
onde estava.
Vito se afastou e permaneceu deitado durante vários minutos em
silêncio, satisfeito. Incauta, ela apoiou o queixo sobre uma mão e o olhou. Deu-
se conta de que sua atitude relaxada era muito enganosa. Havia tensão em seus
traços. De repente, ele se levantou da cama, pegou seu roupão e o pôs
rapidamente.
Ashley não podia acreditar que ele fosse sair da habitação, depois do
que acabavam de compartilhar. Só o deixou chegar até a porta.
—Sinto muito, senhor. Decepcionei-o?
—Isto não é nada divertido — repôs ele, ao voltar-se.
—Não se supunha que o fosse. Mas, não deveria dizer a um homem de sua
experiência que há certas maneiras para estas ocasiões...
—E você sabe tudo a respeito, não é verdade? Com quantos homens
esteve?
Ela ficou pálida e se arrependeu de tê-lo desafiado, mas seu orgulho a
obrigava a negar-se a ser tratada dessa maneira.
—Diga-me. —Pediu ele. —Quero saber.
—Parece-me que agora não seria o momento mais propício —assinalou ela,
contendo as lágrimas de humilhação que apareciam em seus olhos.
—Estou me deixando levar pela imaginação. Prefiro a verdade.
—Não reconheceria a verdade embora a tivesse diante do seu nariz. Não
permitirei que me trate assim. Disse... disse que o passado era o passado...
—Como pode ser possível se cada vez que eu te tocar, vem tudo de novo?
Acha que eu gosto de me humilhar e te fazer essas perguntas tão
vergonhosas?
—O que quer? Uma lista de nomes, lugares e horas?
Vito ficou tenso.
—Provavelmente você gostaria que sublinhasse os nomes dessa lista —
replicou ela, gaguejando. — O que foi que disse a respeito de que confiasse em
você? Nem sequer há quatro anos confiava em mim —se obrigou a olhá-lo
diretamente nos olhos. —E sabe por que? Porque cometi o colossal erro de me
deitar com você na mesma noite em que nos conhecemos. Está tão absorto em
seu código medieval do que constitui uma mulher decente, que não pode
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perdoar isso. Não importa o fato de que tenha sido meu primeiro amante.
Durante todo o tempo em que estivemos juntos só esperava que voltasse a
fazê-lo com outro homem. E não pense que eu não sabia!
Depois de dizer isso, levantou-se rapidamente da cama, refugiou-se no
banheiro e passou a chave.
—Ashley... saia daí.
Ashley sacudiu a cabeça enquanto as lágrimas escorregavam por suas
bochechas. Dessa vez Vito tinha chegado muito longe. Tinha-lhe permitido que
chegasse muito longe. Mas a nenhum preço estava disposta a viver, embora
fosse brevemente, com um maldito hipócrita. «Acha que estou orgulhoso de
que não possa deixar de te tocar?», recordou que ele lhe havia dito isso em
Londres. «Certamente não está», Ashley disse a si mesmo ao reviver o
rapidamente que se afastou de sua presença contaminadora, depois de
satisfazer seu desejo.
—Ashley...
Abriu o grifo da ducha. Muito depois, saiu sem nenhum plano na cabeça,
exceto a firme decisão de escapar. Vestiu-se a toda pressa. Depois de colocar
algumas coisas em uma bolsa, saiu na ponta dos pés da habitação e foi ao andar
térreo. A casa estava às escuras. A porta da entrada nem sequer estava
fechada com chave.
Quando descia os degraus do pórtico, uma figura vestida de branco
surgiu das sombras.
—Vai sair senhora? Deseja um carro?
—Sim —respondeu ela, encantada de quão fácil ia resultar-lhe tudo. —
Quero ir ao Colón.
—Chamarei o Bandu. Levará um tempo.
—Você não pode me levar? —apressou-se a lhe perguntar Ashley.
—Eu? Kumar? —inquiriu o homem e sorriu. —Sim, eu levarei a senhora.
Kumar é muito bom condutor.
Não parecia que Kumar fosse tão bom condutor, a julgar pela maneira em
que arrancou o veículo dando tombos, mas Ashley não disse nada. O homem
pisou fundo no acelerador.
—Poderia conduzir mais devagar? —ela não demorou em lhe perguntar,
sem fôlego.
—Muito devagar, Kumar conduz muito devagar.
Desceram a rua a toda velocidade.
—Devagar! —exclamou ela dez minutos depois, aterrorizada, ao recordar
o pronunciado desfiladeiro pela qual tinham descido.
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A contra gosto, deixou que a levasse a casa. Vito a convidou para jantar
essa noite e Ashley lhe disse que estava ocupada. Propôs-lhe que saíssem à
tarde seguinte, mas lhe respondeu que estaria ocupada durante o resto de sua
vida.
Vito sorriu, mas não disse nada. E essa mesma noite apareceu com um
enorme buquê de rosas. Suas companheiras de apartamento ficaram
assombradas. Ela pensou que não seria correto rechaçá-lo diante de suas
companheiras, assim que foi jantar com ele.
—Não precisa fazer isso —repetia Ashley quando se encontravam no
restaurante cinco estrelas, pois não queria que Vito gastasse seu dinheiro com
ela. — Não me deve nada.
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Capítulo 8
VITO bebeu de um gole uma taça de arrack que lhe serviu o dono da
pensão antes de voltar a falar. O ardente líquido pareceu reanimá-lo.
—Priya despertou para me dizer que um carro que levava uma mulher
européia tinha sofrido um acidente ontem à noite. Logo me informou que tinha
sumido...
—Sinto muito —expressou Ashley, pálida.
—Quando vi o carro, compreendi que ninguém poderia ter saído vivo dali.
Vim aqui para perguntar se sabiam aonde... aonde a tinham levado...
—Kumar e eu saímos antes que o carro saísse do caminho. Ele esqueceu
de puxar o freio de mão. Mas o acidente não foi culpa dele.
—É obvio que sim! —exclamou Vito. — Não tem carteira de motorista.
Podia ter morrido!
—Não sabe dirigir? Não me ocorreu pensar que não soubesse. Eu insisti
muito em que me levasse. Não pode culpá-lo. Ele só tratava de me agradar.
Vito pareceu pouco convencido e interessado ao mesmo tempo.
—Deixarei que Priya se faça acusação dele. É seu sobrinho. Ela é terrível
quando se zanga.
—Não perderá seu emprego? —insistiu ela.
—Está viva. Estou disposto a perdoar.
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homem em busca de consolo? Depois Vito lhe havia dito que albergava muitas
dúvidas a respeito dela. Talvez isso simplesmente tinha sido um pretexto para
tirá-la de sua vida.
A segunda semana de sua estadia transcorreu preguiçosamente. Ashley
estava acostumado a vadiar pelas tardes, junto à piscina, e dormia a sesta sob
a sombra de uma enorme sombrinha. Vito passava mais e mais tempo no
escritório. A tensão crescia por momentos. Ashley pensou que provavelmente a
falta de sexo estivesse afetando-o. Aquela lua-de-mel era muito estranha.
Aborrecida, Ashley entrou na casa em busca de outra revista. Priya
estava colocando umas flores no vestíbulo. Junto a ela se encontrava um
menino pequeno que não deixava de queixar-se.
Sorridente, Ashley se inclinou para ele.
—Quem é?
—Nuwan, meu neto mais novo —confessou Priya, suspirando com cansaço.
—Meu genro está no hospital e minha filha o acompanha.
—Nada grave, não é verdade?
—O apêndice. A operação será hoje.
—Me deixe levar o menino ao jardim. Faz um belo dia.
Priya protestou, mas o pequeno pareceu entusiasmado. A mulher também
se deu conta de que a esposa de seu patrão estava desejosa de fazer algo.
Duas horas depois, o único que se ouvia no jardim era a risada do Nuwan
enquanto Ashley brincava com ele. Meia hora mais tarde, o menino ficou
adormecido, enroscado em seus braços. Priya se aproximou com um copo de
suco de lima, em uma bandeja de prata, e advertiu o cansada que se encontrava
Ashley.
—Deveria descansar, madame —indicou com inquietação a mulher mais
velha. —Não é bom para a criança que se canse tanto.
Ashley ficou paralisada; Priya não se referia a seu neto.
—Acha que não sei? comentou a mulher. —Tenho onze filhos e vinte
netos. Ele se pergunta por que está cansada todo o dia. Diga-lhe logo, faça-o
feliz.
Priya retornou a casa. «Não é possível», Ashley disse a si mesmo, mas
sim, sim o era. Aconteceu naquela noite em Londres, quando essa paixão
desesperada se apoderou deles. Não havia tornado a pensar no risco que correu
aquela noite.
E nesse instante, de repente, parecia-lhe evidente. Não tinha
reconhecido as provas do que tinha diante: as náuseas, o enjôo, o cansaço...
—Vi você com o neto de Priya.
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Capítulo 9
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onde, nem sequer com toda sua riqueza e influência, os Cavalieri pudessem
encontrá-la.
Desceu um pouco antes da hora do almoço. Estava muito bonita, com um
vestido de cor esmeralda combinado com seus olhos. Ao vê-la, Vito titubeou
enquanto falava por telefone. Segurou sua mão, deu-lhe um beijo na palma e,
com evidente dificuldade, continuou conversando pelo telefone.
—Cada dia está mais bonita —declarou ele.
Ashley parecia um gato contemplando uma grande e saborosa tigela de
leite, enquanto observava Vito. Não podia afastar os olhos dele. Havia uma
forte carga elétrica no ambiente.
—Deus! Vai me matar —expressou ele em voz baixa, hipnotizado por seu
sorriso sensual.
Ashley saboreou com delícia uma uva, consciente do efeito que exercia
sobre ele. Amava-o e se conformava levando a pior parte.
—Quero comer —assinalou ela.
—E este é nosso último dia —lhe recordou ele com evidente
desinteresse. — Me disse que você gostaria de ver outra vez os elefantes.
A visita à reserva de elefantes da Pinawella a tinha encantado, na
semana anterior. Ele era um companheiro e amante perfeito, atento e
inteligente. Entretanto, recordou-se que esse mesmo homem a tinha
abandonado, tinha pensado o pior dela e se casou com outra mulher, a quem
nunca mencionou, apesar de que Ashley lhe tinha dado várias oportunidades
para fazê-lo.
—Em lugar de ir, poderia ver as fotos que fiz —repôs ela.
—E provavelmente poderíamos permanecer fora da cama o tempo
suficiente para conversar. Devo te dizer algumas coisas.
Parecia sério. E quando isso acontecia, ela ficava nervosa. Perdeu o
apetite e colocou o prato de lado.
—Por que conversar sempre te resulta tão intimidante?
—Porque discutimos.
—Não devemos discutir.
—Para que se preocupar? dentro de alguns meses terei ido embora...
não?
Ele ficou tenso.
—Sim, é obvio, mas isso não impede que estabeleçamos uma melhor
comunicação entre nós, não é verdade?
—Será que alguma vez está satisfeito? Trato de te dar o que deseja,
mas é insuficiente! Sei que o que temos agora só é uma ilusão, eu...
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—É?
—É obvio que sim —respondeu ela, ruborizando-se. Orgulhosa, levantou
o rosto. — Está pagando um bom preço!
Vito ficou pálido. Levantou-se da mesa com um olhar de desprezo.
—Quando necessitar de uma prostituta buscarei-a, mas certamente você
merece uma bonificação por seu entusiasmo! com um gesto zombador, arrojou
uma pequena bolsa de pele sobre a mesa. — Pelos favores feitos, muito além da
chamada do dever.
Vito saiu rapidamente, subiu em seu carro e partiu. Tremendo, Ashley
abriu a bolsa. Dentro encontrou um anel de safira. Ashley sabia que era uma
gema da mais alta qualidade, que valia milhares e milhares de libras, o qual a
fez sentir-se pior. Não pôde evitar explodir em pranto.
Eram mais de nove horas quando ele retornou. Ashley estava esperando-
o no salão. Quando Vito apareceu na porta, ela se levantou de um salto.
—Não falava a sério. Sinto muito! exclamou ela. Não queria parecer tão
suplicante, mas, ao olhá-lo à cara e descobriu que não sorria, sentiu medo.
—Esqueça. —repôs ele com frieza. —Se tem aquilo pelo qual se paga. E
como eu paguei por você, não posso pôr reparos em sua sinceridade.
—Onde esteve durante todo o dia?
—Parece uma verdadeira esposa.
«Vito, amo-te, por favor, não me faça isto», esteve a ponto de declarar
em voz alta. Não estava preparada para isso. Pensou que provavelmente nunca o
estaria, pois assim que saía da casa, ela ficava a tremer.
Vito se serviu uma bebida e ofereceu outra a Ashley, mas quando esta
respondeu que não, lhe sugeriu:
—Por que não vai se deitar? Sairemos amanhã cedo.
—Não falava a sério.
—Relaxe, pois seu irmãozinho saiu do apuro faz semanas.
—Não é por isso pelo que trato de discutir com você.
—Não? Bom, só existe outra possibilidade, não é verdade? A ameaça de
uma noite sem orgia sexual te horroriza? diga-me lhe exigiu. —Segundo sua
ampla experiência com os de meu sexo, sou tão bom que está disposta a se
arrastar e suplicar?
Ashley ficou muito pálida.
—Não... não sei realmente. Nunca estive com outro homem.
—Há quatro anos eu te vi nos braços desse maldito, na rua. Vi com meus
próprios olhos. Se tivesse descido de meu carro, teria te matado!
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—Há qua... quatro anos? —gaguejou ela. — Me viu com o Steve... na rua?
M... mas isso significa que sem dúvida...
—Voltei depois de que você recusou meu pedido? Fiz isso. Era um
verdadeiro estúpido. Mas já não sou.
Ela estava tremendo.
—Mas não pôde ter visto nada entre o Steve e eu!
—Estava em seus braços e dormia em seu apartamento.
De repente, ela compreendeu quando deve tê-la visto Vito: foi no dia em
que descobriu que estava grávida. Ashley tinha começado a chorar no bar da
associação de estudantes, de modo que Steve teve que levá-la a seu
apartamento. Durante o trajeto, lhe contou o que acontecia então ele a
abraçou.
—Por Deus! Tudo o que ele fez foi me abraçar... tratava de me consolar,
mas eu estava preocupada com o bebê e com você!
—Nessa ordem. Horrorizava-te o bebê, depois a mim.
Algo se rompeu dentro de Ashley; foi a gota d`água. Atravessou a
habitação e agarrou o Vito das lapelas da jaqueta. De repente, as emoções se
apoderaram dela.
—Foi no dia em que descobri que estava grávida! —explodiu. —E ainda se
atreve a me dizer que estava por ali perto, em um carro, deixando-o fazer o
que você deveria ter feito? Como se atreve a me dizer isso agora? Deveria se
sentir envergonhado de admitir que se aproximou, mas não fez nada! Não me
amava, Vito. Não confiava em mim. Importava-se mais o seu amor próprio!
—Isso...
—E logo, para arredondar tudo, casou-se com outra mulher quando ainda
me pertencia! Acha que vou esquecer ou perdoar isso? Tem uma dívida comigo,
Vito...
Ashley afastou bruscamente as mãos dele. Sua frustração e dor eram
tão grandes, que realmente não confiava em si mesmo para não golpear Vito,
uma vez que sabia o que lhe tinha ocultado quatro anos antes. Tinha sido uma
interpretação errônea dos sucessos que, entretanto, destroçaram sua vida,
assim como suas esperanças de ser feliz. Mas Vito ainda tinha sido o bastante
sereno para prejudicar sua própria vida. Isso era o que tanto doía a ela.
—Eu não a amava —lhe confessou Vito a contra gosto, com voz grave.
Ashley disse que Vito tinha amado a ela, e, entretanto ao final se casou
com Carina. A ira voltou a invadi-la. Tinha sofrido tanto por tão pouco.
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cedeu, mas isso lhe havia doído muito. Ele procedia de uma família encantadora.
Provavelmente até esse momento tinha sido um filho leal e obediente, que
nunca tinha causado nenhuma preocupação. Nesse momento entendia os
motivos que tinha tido Elena di Cavalieri para intrometer-se. Seu marido estava
morrendo e ela tinha acreditado que ela não poderia fazer feliz ao seu filho.
Esses foram os motivos que a levaram a tentar separá-los.
—O que poderia importar a você? Diz que me amava, mas deve saber
quão impossível teria sido para nós tratar de manter uma relação estando tão
separados...
—Provavelmente teria gostado dessa possibilidade!
—Talvez tivesse lhe dado essa opção, se não tivesse feito que
resultasse tão insultantemente óbvio, que pensasse que nossa relação não
duraria. Sempre me dizia: «se conhecesse outro homem... se você conhecesse
outra mulher...»
Ashley levantou o rosto.
—Acreditava que era muito jovem para fazer promessas. Não queria me
sentir amarrada...
—Em vez disso, fez com que eu me sentisse como se tivesse desfrutado
de uma aventura de uma noite!
—Acreditava que isso só eu o fazia!
—Tinha medo de que um melhor cliente pudesse estar esperando à volta
da esquina —assinalou Vito, lhe dirigindo um sorriso ofensivo. — Ao que parece
não era assim.
—Os homens não figuravam em minha lista de prioridades, e agora que te
ouvi sei exatamente por que! Ofereci uma relação aberta, adulta, mas não pôde
mantê-la!
—E como você a teria mantido, se uma noite eu tivesse me reunido com
você e te dissesse com toda naturalidade que tinha conhecido outra mulher?
Não tinha a mínima idéia do que significava ser adulto. Desejava-me, mas não
queria estabelecer um compromisso comigo. Tudo o que me deu foi sexo,
discussões estúpidas e confusões!
—Mu... muito obrigada! —exclamou ela com voz trêmula e os olhos
desmesuradamente abertos. — É um tipo agressivo e autoritário que nunca
pensa nos meus sentimentos! —e saiu a toda pressa da habitação.
Vito saiu ao vestíbulo.
—Por certo, não haverá trancas nas portas dos banheiros de nossa casa,
em Londres. O que vai fazer? —perguntou ele com tom zombador. —Acha que
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Capítulo 10
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Logo que o disse, Ashley se arrependeu. Não conhecia Vito nesse estado
de ânimo; encontrava-se submetido a uma grande tensão. Entretanto, seguia
conservando o controle. Envergonhava-se da conduta de seu sobrinho. Apesar
de tudo, não estava disposto a deixá-la livre, e muito menos quando sabia que
estava grávida.
—É verdade que minha mãe lhe deu dinheiro?
Ashley o olhou nos olhos e se deu conta de que Vito desejava ouvir que
Pietro tinha mentido.
—Ela veio ver-me um dia antes de você me propor casamento...
Ele apertou os dentes.
—E lhe ofereceu dinheiro para que saísse de minha vida? —perguntou.
Ashley assentiu com a cabeça.
—Não, não foi assim tão grosseira. Pôs o cheque sobre a mesa ao partir.
Isso foi tudo.
—Se não me contar tudo, terei que tirar isso dela —afirmou ele com
frieza. — Quero saber exatamente o que ela te disse.
—Não adivinha? —perguntou ela em voz baixa. — Me disse que nunca
poderia me adaptar, que o colocaria em apuros; em poucas palavras, que
destroçaria sua vida.
Vito estava de costas a ela. Sem nenhuma advertência, golpeou a parede
com um punho.
—Estava equivocada —indicou ele. —Não era necessário que você
destroçasse minha vida. Então, e também agora, era perfeitamente capaz de
fazê-lo por mim mesmo.
—Ela o fez com a melhor intenção. Não me conhecia. Devia estar muito
preocupada com seu pai...
—Nunca a perdoarei —disse Vito com violência. — Eu não era nenhum
adolescente incapaz de valer-se por si mesmo, que necessitasse de seu amparo!
—Os filhos seguem sendo filhos sem importar a idade que tenham.
—Está defendendo-a? —olhou-a com total incredulidade. —Por que?
Ashley suspirou.
—Acredito que nos salvou de cometer um grave erro.
Resultou evidente que Vito mal conseguiu controlar suas emoções.
—Que pena que agora não tenha podido se salvar. Ao que parece, nos
teria feito um grande favor.
Ashley ficou pálida. Era tanto o rechaço de Vito, que inclinou a cabeça e
fechou os olhos, esforçando-se para suportar a dor.
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«Sim, e com razão», pensou ela. Ashley tinha sido um alvo vulnerável,
uma vítima disposta.
—Esperar que, depois de tudo o que tinha feito a você, voltasse a
preocupar-se por mim... —comentou ele em voz baixa... — foi imperdoável.
Ela assentiu com a cabeça.
—Mostrei-me frio e calculador —sussurrou desesperado. — Não posso
evitar ser assim...
Ashley sabia o que ele queria. Desejava que lhe gritasse e o acusasse;
isso faria que se sentisse melhor. Mas pela primeira vez em sua relação com
Vito, ela não tinha nada que dizer. Sentia muita dor para enfurecer-se.
—Não suporto seu silêncio —admitiu ele com voz rouca.
Acidentalmente, Ashley elevou a vista e seu olhar se encontrou com o de
Vito. Ele parecia ter os nervos destroçados. Nunca antes o tinha visto assim:
vulnerável e inseguro.
—Provavelmente prefira que falemos amanhã, quando estivermos mais
tranqüilos... —indicou ele.
Ashley não queria voltar a falar com Vito de novo, mas assentiu com a
cabeça. Depois daquilo não poderia dormir. Tiraria-lhe os bebês? Não tinha
assinado nada. Não imaginava o que Vito poderia alegar em um tribunal. Perto
do amanhecer conseguiu dormir.
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Vito alargou um braço e tratou de tomar sua mão, mas ela fechou o
punho.
—Me importa o que possa te acontecer — confessou ele.
—Se disser algo mais asqueroso, vomitarei!
Vito se tornou para trás em seu assento. O silêncio se alongou.
—Não posso mudar o que aconteceu entre nós há quatro anos! —
exclamou ele de repente. — Não foi aprovada nos exames. Sua família lhe
voltou às costas. Eu me casei com outra mulher e perdeu o bebê. Eu não estava
ali, mas devia ter estado. Sinto-me muito culpado...
—Isso não durará —comentou ela, ocultando sua angústia.
—Não custa nada me deixar falar —respondeu Vito com aspereza. —Eu
te abandonei. Reconheço. Estou muito envergonhado de minha própria conduta.
Tomei a saída mais fácil, feriu-me e fui embora.
—Não esqueça do talonário de cheques.
Logo que o disse, Ashley se arrependeu. Tinha sido um golpe baixo. Fazer
todas essas confissões resultava muito difícil a Vito. Era muito orgulhoso. Pela
primeira vez em sua vida, via-se obrigado a reconhecer abertamente seus
erros. Mas seguia sem amá-la.
—Até então eu não sabia que podia te machucar. Não a compreendia.
Tinha medo de te perder. Quanta mais liberdade exigia, mais furioso eu ficava.
Às vezes... às vezes eu te odiava tanto quanto te amava...
De maneira acidental, seus olhares se encontraram. Produziu-se uma
mútua compreensão. Mas Ashley afastou a vista imediatamente.
—Fez que me sentisse inseguro, e ninguém tinha me feito isso antes...
Ashley estava surpreendida, de maneira que o olhou contra sua vontade.
—Era muito jovem para mim —repôs Vito.
—Sim. Não entendia o que fazia. Tratava de me proteger; não queria
resultar ferida. Não queria te amar, te dar nenhuma vantagem.
—Eu não tinha nenhuma —confessou ele, em voz baixa e tom sarcástico.
Mas, segundo Ashley, isso não era verdade: sim levava vantagem. Sua
vida era mais importante que a dela.
—Eu liguei para você... liguei na Itália —se apressou a dizer Ashley. —Ia
contar sobre o bebê...
—Não recebi nenhum telefonema —comentou ele, franzindo o cenho.
—Giulia atendeu ao telefone. Respondeu-me que estavam celebrando sua
festa de noivado... eu não lhe disse mais nada —confessou Ashley.
Ele disse algo em italiano, mas não se defendeu. Tenso, evitou olhá-la nos
olhos. Voltou a ligar o carro.
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Capítulo 11
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—Devia tê-lo feito há anos... mas não tinha guelra —confessou Sylvia,
estendendo uma trêmula mão para Ashley. — Mas quando não pude assistir ao
casamento de minha filha... dava-me conta do terrivelmente fraco que era.
Sinto muito todo o acontecido.
—Será bem-vinda em nossa casa, senhora Forrester —indicou Vito com
amabilidade.
—Um momento... —gritou o pai de Ashley.
—Me chame de Sylvia —respondeu timidamente a senhora. — É muito
amável...
—Ele golpeou-me! —exclamou Hunt.
—Você mereceu —apoiando-se no braço de Ashley, Sylvia acrescentou:
— vou dizer-lhe por que a trata assim. Tem direito de saber.
—Não! —gritou Hunt.
—Vamos lá dentro —sugeriu Vito.
Desconcertada, Ashley olhou seu pai. A cabeça lhe dava voltas. Ainda não
acreditava que fosse possível que sua mãe tivesse adotado essa postura contra
ele.
—Susan, parece-me que você e Arnold deveriam ir para casa —sugeriu a
mulher maior, suspirando. —Lhes chamarei mais tarde.
Quando, a contra gosto, Susan e seu marido partiram, o pai de Ashley
apareceu na porta.
—Não diga, por favor —pediu a sua mulher. — Não é assunto dele.
—Você conseguiu que fosse assunto de Ashley —assegurou Sylvia, com a
cabeça bem alta. — Todos sofreram por meu erro. Deveria ter se divorciado de
mim. Em lugar disso, desforraste-se com todos nós durante mais de vinte anos.
—Sylvia... —pediu-lhe Hunt.
—Tive... tive uma aventura —confessou Sylvia, sem olhar a ninguém nos
olhos. — E seu pai se inteirou. Quando descobri que estava grávida, eu... eu...
não sabia se era de seu pai...
—OH, Deus...! —Ashley se deixou cair na cadeira mais próxima.
Sua mãe estava chorando.
—Seu pai soube... e quando nasceu, ruiva, tão diferente de Susan... nós
dois supusemos que não podia ser filha dele. Eu estava tão envergonhada... e
agradecida de que seu pai estivesse disposto a te criar como sua filha...
«Mas não pôde cumprir sua promessa», pensou Ashley, afligida. Estava
assombrada pelo que sua mãe lhe estava revelando.
—Acredito que Ashley não compreendeu —murmurou Vito. —Não pode
dizer que não é filha de seu pai. Tim e Ashley poderiam se passar por gêmeos.
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—Não, não é. Se ela sabia que não a amava, sem dúvida era consciente de
que haveria problemas...
—Mas quem pode assumir uma atitude tão prática? Há quatro anos
estava tão apaixonado por você, que teria me casado com você na semana em
que nos conhecemos. Isso tampouco era prático, não? Por isso vou embora. Não
quero que tenha pena de mim.
—Por que teria pena de você? —perguntou Ashley com amargura. —
Estava decidido a se vingar.
—Nunca quis me vingar. Desejava-te... necessitava-te. Em questão de
dias me dava conta de que ainda seguia apaixonado por você! Mas não teria me
dado uma segunda oportunidade se lhe tivesse pedido isso. Odeia-me.
Acreditava que poderia fazer com que me amasse...
Ashley recordou que Vito lhe havia dito exatamente o mesmo, dois dias
antes, em seu quarto, só que ela não entendeu. Havia-lhe dito que ainda a amava
e lhe tinha pedido que o perdoasse pelo que tinha feito... mas não lhe
respondeu. «Não suporto seu silêncio», tinha comentado ele.
—Mas disse que desejava um filho! —exclamou ela.
—Não queria que suspeitasse o muito que te necessitava. E se houvesse
um filho, queria me valer dele para te conservar.
—Quando se deu conta de que não te mentia, ao te dizer que tive um
aborto natural?
—Importa isso agora? —perguntou ele, olhando-a com impaciência.
—Sim —insistiu ela. Devia sabê-lo.
—Depois de que teve o acidente no Sri Lanka. Acreditei que tinha te
perdido. Dava-me conta de que te amava e que isso era o único que importava.
Minha própria obstinação era a maior barreira que existia entre nós. Nunca
tinha me mentido, assim. Por que teria que fazê-lo respeito desse assunto?
—Será melhor que desfaça as malas de novo. Não quero que vá.
—Mas não posso viver com você assim! Sei o que pensa de mim. Acha que
sou um homem como seu pai...
—Nunca —afirmou ela, decidida. — Meu pai fez com que tivesse medo de
me apaixonar, do casamento, de ser como minha mãe. A idéia de lhe amar me
aterrava há quatro anos! Não podia entendê-lo. Mas agora sim. Não se dá
conta? Não te odeio, Vito... amo-te.
Vito a abraçou e a beijou.
—Deus! passou tanto tempo —exclamou ele. — Daria dez anos de minha
vida para fazer amor com você agora!
—Não se requer tanto sacrifício.
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FIM
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