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APLICAÇÃO DA REUTILIZAÇÃO DA ÁGUA EM UM LAVA-JATO NO

MUNICIPIO DE CONTAGEM
Flávia Rodrigues de Oliveira
Flavinha_rodriguez@hotmail.com

Walcrislei Vercelli Luz

Rebeca Ferreira Gonzaga Silva
Engenharia Ambiental e Sanitária

RESUMO- Os lava-jatos são empreendimentos comuns nas potencialmente poluidora aos recursos naturais, uma vez que,
grandes cidades brasileiras. A lavagem de veículos consome
no efluente gerado a partir da lavagem podem conter
grandes quantidades de água potável, tornando-se assim uma
atividade potencialmente poluidora dos recursos hídricos surfactantes, graxa, gasolina e todo tipo de resíduo produzido
necessitando de regularização, gestão de resíduos, tratamento e pelos automotores.
reuso de água. Diante deste problema, desenvolveu-se um
projeto simples para reuso e tratamento de efluentes em um O Brasil encontra-se em meio a uma crise hídrica, e
lava-jato em Contagem. O projeto foi desenvolvido através de muitos especialistas acreditam que esta ainda será a causa de
análises laboratoriais para caracterização do efluente e execução
da estratégia de tratamento selecionada. Esta proposta tem se conflitos internacionais. Há diversos locais no mundo em que
mostrado eficiente no processo de tratamento e desinfecção do a carência de recursos hídricos é motivo da emigração da
efluente. O sistema de tratamento e reuso mostrado neste
trabalho possui equipamentos de fácil aquisição no mercado.
população e alvo de políticas públicas. Em termos gerais, a
água para consumo humano corre o risco de entrar em uma
Palavras-chaves: Reuso de água; Lava-Jato; Água potável; Efluente.
escassez profunda. A insuficiência de água afeta não só a
saúde da população, mas também o desenvolvimento sócio
I. INTRODUÇÃO
econômico da sociedade.
A escassez de água não é causada apenas por fatores
O consumo de água nos processos industriais é feito
climáticos e geográficos, mas, principalmente pelo uso
desde a incorporação do recurso nos produtos, até a lavagem
irracional dos recursos hídricos. Entre as causas do problema
dos materiais, além da utilização de sistemas de refrigeração
figuram: o fato de a água não ser tratada como um bem
e geração de vapor. Dependendo do ramo do
estratégico no País, a falta de integração entre a Política
empreendimento a água resultante de processos industriais,
Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e as demais políticas
pode conduzir metais pesados e restos de materiais em
públicas, os graves problemas na área de saneamento básico e
decomposição. De acordo com o Fundo das Nações Unidas
a forma como a água doce é compreendida, visto que muitos
para a Agricultura e Alimentação (FAO) a agropecuária no
a consideram um recurso infinito [2].
Brasil é o setor que mais consome e desperdiça água no país,
Para restabelecer o equilíbrio entre oferta e demanda
70% da água é utilizada, porém quase a metade dessa
de água, e garantir a sustentabilidade do desenvolvimento
quantidade é descartada [1]. Dentre as causas deste
econômico e social, é necessário que métodos e sistemas
desperdício estão as irrigações mal executadas e a falta de
alternativos modernos sejam convenientemente
controle do agricultor na quantidade usada nas lavouras e no
desenvolvidos e aplicados em função de características de
processamento de produtos. Em se tratando de lava-jatos,
sistemas e centros de produção específicos. Nesse sentido,
uma grande quantidade de água é utilizada na lavagem dos
ferramentas como reuso, reciclagem, gestão da demanda
veículos, além de ser considerada uma atividade
redução de perdas e minimização da geração de efluentes se
 2

complementam em associação às práticas conservacionistas, II. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

nas palavras-chave mais importantes em termos de gestão de
recursos hídricos e de redução da poluição ambiental [3]. A. Crescimento do setor automobilístico no Brasil
Quanto a isso, observa-se que os usuários, empresas O setor automotivo brasileiro aparece em posição de
e indústrias que utilizam grandes quantidades de água, estão destaque nos últimos anos, apresentando notável aumento na
usufruindo do reuso e da reciclagem, como novas produção de veículos, com crescimento de suas vendas
alternativas, para a reaproveitamento da água. Estes internas, e ainda, destacando-se pelas exportações realizadas
empreendimentos e principalmente os lava-jatos, estão para o resto do mundo. Diante disso, as condições favoráveis
empregando esta modalidade a partir de um determinado da economia permitiram que o país alcançasse recentemente,
processo, onde a água será reaproveitada em ocasiões que em 2007, a marca de 50 milhões de veículos produzidos em
não exijam um elevado grau de qualidade. pouco mais de 50 anos de indústria automobilística. Dotado
Uma das formas de reuso da água que vem de engenharia própria, além de tecnologia de ponta, o país já
ganhando destaque em muitos países são a destinada a ostenta posição de destaque mundial na produção de veículos
lavagem de veículos. Não se pode negar que milhares de [6].
litros de agua potável são desperdiçados nessa prática O ano de 2014 foi o terceiro melhor ano de
atualmente, um exemplo são os Estados Unidos, Japão e emplacamentos de carro no Brasil. Conforme a avaliação da
alguns países da Europa, onde já existe legislação própria Figura 1, que analisa os emplacamentos na região Sudeste do
para o assunto, regulamentando a instalação dos sistemas de País entre os anos de 2002 e início de 2015, é possível
lavagem de veículos, de pequeno ou grande porte, obrigando delimitar este aumento a diminuição de impostos sobre
o uso de dispositivos de tratamento de efluentes provenientes veículos, ou Imposto sobre Produtos Industrializados. Em
destes processos e solicitando a implantação de equipamentos contrapartida, deve-se salientar um aumento da recessão em
que promovam a recirculação da água utilizada [4]. 2014, onde a indústria obteve uma razoável queda de 7,4 %
A tecnologia de reuso pode ser entendida como uma em seus emplacamentos de carros de passeio e comerciais
forma de reaproveitamento da água servida, que abrange leves, o que significou o maior declínio desde 2002 [7].
desde a simples circulação de água de enxague da máquina 12.000.000
de lavar roupas, com ou sem tratamento, aos vasos sanitários,
até uma remoção em alto nível de poluentes para lavagens de 10.000.000
carro, regas de jardins ou outras aplicações mais específicas
8.000.000
[5].
Diante disso, o objetivo geral deste trabalho é propor 6.000.000
a implantação de um sistema para o reuso da água na
lavagem de veículos, tendo como objetivos específicos: 4.000.000
caracterização do efluente do lava-jato; proposição e
2.000.000
dimensionamento de um sistema de tratamento de efluente
para reuso. -
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
<2002

Espírito Santo Minas Gerais

Rio de Janeiro São Paulo
Figura 1 - Demanda de Carros Emplacados- Região Sudeste (2002
à 2015)
Fonte [8]

B. A oferta de lava-jatos no empreendedorismo brasileiro
versus a defasagem e a qualidade no consumo de água
Acompanhando o crescimento na aquisição de
automóveis, houve também o aumento na abertura e procura
de lava-jatos, pois, o volume de carros nos últimos tempos
aumentou significativamente, maximizando o uso de serviços
de manutenção, e claro, limpeza e conservação dos mesmos.
Sabe-se que lava-jatos exigem um grande consumo de água e,
posteriormente, seu descarte se dá em sistemas de esgoto
sanitário, poluindo os recursos hídricos e o meio ambiente.
Estudos realizados ao redor do mundo demonstram o
potencial poluidor das águas residuárias oriundas dos
serviços de lavagem de veículos, por conterem surfactantes,
óleos e graxas, alta concentração de matéria orgânica, metais
pesados, sólidos totais suspensos [9]. Estas substâncias são
tidas como recalcitrantes quando lançadas em corpos
hídricos, provocando danos para toda flora e fauna aquáticas,
por apresentarem elevado potencial de toxicidade, capacidade
de biodegradação muito lenta interferindo nas trocas gasosas
e transferência de energia, prejudicando assim, indiretamente,
a saúde humana [10].
A atividade de lavagem de veículos utiliza uma
grande quantidade de água que normalmente não é
reaproveitada, sendo simplesmente descartada na rede de
esgotos municipal. Nos últimos anos, aumentou
preocupação com esse fato que, além de representar um custo
elevado para algumas empresas, pode causar impacto no
ambiente aquático [11].
Destaca-se o elevado volume de água utilizado na
lavagem de veículos. Estimativas realizadas em países como
México, Japão, China, Kuwait indicam a utilização de 50 a
378 litros de água por veículo, dependendo do tipo de sistema
operacional utilizado [12]. Sendo assim, alguns desses países
já possuem legislação específica que regulamenta o descarte
da água utilizada, assim como, o tratamento das águas
residuárias, impulsionando investimentos em sistema de
recuperação da água dentro do próprio lava-jato. O uso de
água para lavagem de automóvel no Brasil está estimado em
300 litros por veículos, duas vezes mais que o consumo
diário humano.
3
Atualmente a população brasileira vem enfrentando
sua maior crise hídrica da história. Este fato tem sido tema de
diversas discussões dos especialistas da área, focando na sua
escassez, e buscando novas alternativas que minimizem o seu
impacto ambiental. Diversas causas contribuem para a falta
de água, não somente pelo uso industrial, mas a falta de
chuvas e a má utilização dos recursos na área urbana (como
uso inadequado, uso exagerado do recurso, etc.).
C. Qualidade da água para a lavagem de veículos
Os parâmetros de qualidade da água para diversas
finalidades devem ser baseados em legislações que
estabeleçam requisitos de acordo com o uso previsto para a
água. Conforme a intenção de uso, as características da
qualidade da água podem modificar, desta forma, é fixado um
padrão mínimo relativo à sua aplicação.
O consumo de água por atividade atinge três áreas: a
agricultura, seguida pela indústria e finalizando nas
atividades urbano-domesticas.
Consumo de água
70% Indústria
22%
8% Agricultura
Doméstico
a FIGURA 2 - Consumo de Água no Mundo
Fonte [1].
No Brasil não há parâmetros específicos para a água
utilizada na lavagem de veículos, porém, observa-se que a
grande maioria de lava-jatos utilizam a água potável neste
processo.
A Norma Brasileira (NBR) 13.969/97 [13]
estabelece padrões quanto à qualidade da água que pode ser
utilizada no processo de lavagem de veículos. Nota-se que a
água possui qualidade inferior à da água potável, porém os
parâmetros devem ser obedecidos, de forma a não danificar a
lataria do carro, a não gerar odores e não contaminar os
usuários e operadores de lavagem de carro, devido ao contato
primário com a água. Já a Companhia de Saneamento de
Minas Gerais (COPASA) através da Norma Técnica T. 187/5
estabelece parâmetros referente a qualidade do lançamento de
efluente não doméstico na rede coletora, caso o efluente

produzido a partir da lavagem do veículo seja descartado na
rede coletora de esgoto, deverá obedecer esta norma, sendo
necessário assim, um tratamento prévio antes de seu descarte.
D. Padronizações necessárias para o reuso do efluente
Como a lavagem de veículos é uma atividade
impactante ao meio ambiente, a sua instalação
funcionamento requerem o licenciamento ambiental, que
deve estar em concordância com os seguintes diplomas
legais: Constituição Federal, art. 225; Lei nº 6.938, de 31 de
agosto de 1981 (art. 9º. III); Resolução do Conselho Nacional
do Meio Ambiente (CONAMA) 237/1997; Resolução
CONAMA 273/2000 e a Resolução CONAMA 357/2005.
Segundo a Resolução CONAMA 273/2000 que
regulamenta a instalação e sistemas de armazenamento de
derivados de petróleo e outros combustíveis, como por
exemplo os postos revendedores e postos de abastecimento,
alguns princípios dessa resolução têm sido aplicados para as
empresas de lavagem de veículos, isso porque, anteriormente
essas atividades eram feitas apenas em postos
combustíveis. Dentre as determinações dessa resolução para a
implementação do estabelecimento, destaca-se o artigo 4º que
exige a licença prévia, a licença de instalação e a licença de
operação do empreendimento [14].
A racionalização do uso dos recursos hídricos passa
pela redução do consumo, a reutilização e a reciclagem. O
uso consciente diz respeito à simples economia de água, por
meio da eliminação de vazamentos e da diminuição do gasto
em atividades domiciliares, industriais e agrícolas, entre
outras. A reutilização pode ser definida como o uso de água
já utilizada para determinada função, mesmo que sua
qualidade tenha sido reduzida durante esse uso inicial. Neste
caso o reaproveitamento é feito antes que essa água atinja a
rede de esgoto. A reciclagem consiste no reaproveitamento da
água que já passou pela rede de esgoto e por uma estação de
tratamento [2].
Deve-se considerar a reutilização da água como uma
atividade que vai além do uso racional e eficiente, pois
compreende o controle do desperdício, a minimização dos
impactos da produção de efluentes e obviamente, acarreta em
seu consumo consciente.
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Conforme dito anteriormente, o reuso minimiza os
impactos sobre os mananciais de água fazendo a troca de
água potável por uma água de qualidade inferior. Portanto,
para a finalidade de uso urbano, que abrange principalmente
as lavagens de veículos, realizando um reuso planejado da
e água, ou seja, o uso consciente da atividade humana,
possuindo um sistema de tratamento de efluentes que atenda
aos padrões de qualidade requeridos para uma nova utilização
da água.
O tratamento do efluente se resume na busca eficaz
da remoção dos poluentes nele contido. Baseia-se em
parâmetros normativos e varia de acordo com o volume a ser
tratado, finalidade, nível de processamento, qualidades
originais e pretendidas e local de lançamento ou
reaproveitamento [5].
Uma das formas que contribuem para a conservação
e planejamento dos recursos hídricos é o reuso, este processo
vem se destacando na lavagem de veículos, em diversos
de países. Quanto a classificação do reuso da água, a Associação
Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – 1992
(ABES) [15], delimita duas categorias: potável e não potável.
Reuso potável:
 Reuso Potável Direto: quando o esgoto recuperado,
por meio de um tratamento avançado, é diretamente
reutilizado no sistema de água potável;
 Reuso Potável Indireto: caso em que o esgoto, após
tratamento, é disposto nas águas superficiais ou
subterrâneas para diluição, purificação natural e
subsequente captação, tratamento e finalmente utilizado
como água potável;
Reuso Não Potável:
Apresenta um potencial muito amplo e diversificado.
Por não exigir níveis elevados de tratamento, vem se
tornando um processo viável economicamente, e
consequentemente, com rápido desenvolvimento. O reuso
reduz a demanda sobre os mananciais de água devidos a
substituição da água por uma água de qualidade inferior. Tal
substituição é possível em função da qualidade para um uso
específico, de acordo com a tabela I [16].
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TABELA I- Tipos de Reuso da Água e Suas Aplicações TABELA. II- Classificação e Parâmetros Para o Reuso
Tipos de No Brasil Conforme NBR 13969/97
Reuso Aplicações Classe Parâmetros
Parques, cemitérios, campos de golfe, faixas  O efluente deve apresentar turbidez
Irrigação de domínio de auto-estradas, campi inferior a 5;
paisagística universitários, cinturões verdes, gramados Classe 1- lavagem  Coliforme fecal inferior a 200
residenciais de veículos e NMP/100 mL;
Usos Refrigeração, alimentação de caldeiras, outros usos que  Sólidos dissolvidos totais inferiores a
Industriais lavagem de gases, água de processamento. requerem o contato 200 mg/L;
Irrigação paisagística, combate ao fogo, direto do usuário  pH entre 6,0 e 8,0;
Usos descarga em vasos sanitários, sistemas de ar com a água  Cloro residual entre 0,5 mg/L e 1,5
urbanos não condicionado, lavagem de veículos, lavagem mg/L.
potáveis de ruas e pontos de ônibus, etc.  O efluente deve apresentar turbidez
Usos Aquicultura, fabricação de neve, construções, inferior a 5;
Diversos controle de poeira, dessedentação de animais. Classe 2- lavagem  Coliforme fecal inferiores a 500
Aumento de vazão em cursos de água, de pisos, calçadas e NMP/100mL;
Finalidades aplicação em pântanos, terras alagadas, irrigação de jardins  Cloro Residual superior a 0,5 mg/L;
Ambientais indústrias de pesca.
 O efluente deve apresentar turbidez
Plantio de forrageiras,
inferior a 5;
Irrigação de Plantas fibrosas e de grãos, plantas
Classe 3- reuso nas  Coliforme fecal inferiores a 500
campos para alimentícias, viveiros de plantas ornamentais,
descargas dos vãos NMP/100mL;
Cultivos proteção contra geadas.
sanitários  Cloro Residual superior a 0,5 mg/L;
Recargas Recarga de aquíferos potáveis, controle de
Fonte [13]
Aquíferos intrusão marinha, controle de recalques de
A partir desses parâmetros pode-se concluir que as
subsolo.
águas residuárias nas lavagens de veículos podem ser
Fonte [16]
utilizadas também para lavagem de passeios e descargas
E. Descarte e reuso da água residuária de acordo com a
sanitárias. Pois apresentam, qualidades semelhantes,
legislação
proporcionando uma diversidade maior de reuso nas
Conforme o CONAMA, em sua resolução 362/2005,
atividades cotidianas.
obriga que os usuários produtores de agentes poluentes,
F. Legislação nacional sobre o reuso e tratamento de
coletem os óleos lubrificantes contaminados ou usados;
efluentes em lava-jatos
arquem com todo o custeio de reuso e estipulem metas
A Política Nacional de Recursos Hídricos, lei
progressivas, intermediárias e finais no descarte destes
9.433/1997, já salienta a preocupação sobre o tratamento de
materiais, portanto: “Ficam proibidos quaisquer descartes de
efluentes e o reuso de água. A resolução nº 54 de novembro
óleos usados ou contaminados em solos, subsolos, nos corpos
de 2005 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos
da água e nos sistemas de esgoto ou evacuação de águas
(CNRH) estabeleceu formas, diretrizes e critérios gerais para
residuais. Neste contexto as atividades de lava-jatos são
reuso de água não potável no território brasileiro [18].
consideradas potenciais fontes de poluição”.
O processo de tratamento e reuso de águas
De acordo com os parâmetros de descarte de
residuárias é relativamente novo no Brasil, tendo relevância
efluente para o esgoto pode-se dizer que a NBR 13.969/97,
principalmente no Sudeste, onde esse método é muito usual.
estabelece padrões de qualidade de esgoto tratado, para que
Isto se deve principalmente às exigências de órgãos
possa ser reutilizado para o uso não potável [5] [13].
ambientais e a economia com os custos da água potável, uma
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vez que, as tarifas do abastecimento público geralmente são de veículos instalarem

mais caras em algumas localidades [19]. equipamentos de tratamento e

TABELA III- Legislações Brasileiras Sobre o Reuso reutilização da água usada na

Legislação Localidade Objetivo lavagem de veículos.

Dispõe sobre a obrigatoriedade Cria o Programa de reuso de

Lei estadual Distrito do reaproveitamento da água água em postos de serviços e

3.812/2006 Federal utilizada nos postos de lavagem Lei Municipal abastecimento de veículos e
São Paulo
de veículos. 16.160/15 lava-rápidos no Município de

Dispõe sobre a obrigatoriedade São Paulo, e dá outras

de instalação de equipamento providências.

para tratamento e reutilização Fonte: Autor

Lei estadual Goiás da água utilizada na lavagem de Seguindo as diretrizes da Lei Federal de Recursos
17.128/2010
veículos, e de equipamento para Hídricos, alguns municípios já estão implantando tratamento
reaproveitamento de água das e reuso de água em seus territórios, tornando essa uma prática
chuvas. em disseminação no país.
Obriga postos de combustíveis, G. Benefícios e problemas da reciclagem de efluentes na
lava-jatos, transportadoras,
lavagem de veículos
empresas de ônibus e locadoras
Lei Estadual Espirito O sistema de tratamento a ser implantado para
de veículos a instalar sistema de
9.439/10 Santo viabilizar a reutilização da água de lavagem de carros deve
tratamento e reutilização da
atender ás seguintes premissas [20]:
água.
Dispõe sobre a obrigatoriedade - Eliminar os riscos à saúde dos usuários e operadores;
dos postos de combustíveis, -Evitar danos aos veículos;
lava-rápidos, transportadoras e - Minimizar necessidade de diluição dos efluentes tratados;
empresas de ônibus urbanos - Minimizar, seu lançamento na rede de esgotos, em águas
Lei Estadual Rio de intermunicipais e interestaduais, superficiais ou em fossas.
6.034/11 Janeiro localizados no estado do Rio de
Logo, serão identificados os seguintes benefícios:
Janeiro, a instalarem
- Minimização da descarga nos corpos receptores;
equipamentos de tratamento e
- Diminuição da carga de poluentes tóxicos na rede de
reutilização da água usada na
esgotos;
lavagem de veículos.
Dispõe sobre a instalação e o - Economia de água.
funcionamento de lava-jatos, Os principais problemas a serem enfrentados no
que devem possuir caixas desenvolvimento de tecnologias para a reciclagem de água de
Lei Municipal separadoras de retenção e lavagem de veículos são [17]:
Salvador
8.295/12 tratamento de resíduos de areia, - Área Ocupada: sua concepção deve ser compacta, pois,
óleos e graxas, antes de serem
provavelmente, será instalado num local onde já funciona o
lançadas a rede pública em
sistema de lavagem, sem previsão de espaço para a inclusão
geral.
do equipamento;
Dispõe sobre a obrigatoriedade
- Geração de Odores: deve contemplar a necessidade de
dos postos de combustíveis,
Lei Municipal Ribeirão controle de odores gerados pela proliferação de
lava-jatos de concessionárias de
13.377/2014 Preto
veículos, transportadoras, microrganismos nas aguas armazenadas para a reciclagem;
empresas de ônibus e locadoras - Geração de Lodo: todos os sistemas de tratamento de

efluentes gera resíduos e estes deverão ter seu volume
minimizado e disposição final adequada.
- Custo de Implantação: deve ser o menor possível, de forma
que possa ser competitivo com o custo de agua, recuperando-
se o investimento em curto prazo;
- Operação e Manutenção: a simplicidade, neste aspecto é um
fator limitante na escolha da tecnologia. Sistemas mais
complexos tornam-se inviáveis tanto economicamente como
operacionalmente para os proprietários de postos de
combustíveis ou lava-jatos;
- Concentração de Sólidos Dissolvidos: à medida que a água
recircula pelo sistema de lavagem, alguns poluentes podem se
concentrar, por não serem totalmente removidos no
tratamento;
- Necessidade de Diluição: como há aumento
concentração de certos poluentes, a diluição torna-se
necessária para manter a qualidade necessária da água a ser
reciclada. Pode ser realizada com água potável ou água da
chuva.
H. Sistemas de tratamento e dimensionamento
O sistema de tratamento é uma série de operações
unitárias e procedimentos definidos que levam
consideração as características do líquido a ser tratado, os
objetivos pretendidos com o tratamento e a capacidade de
remoção de cada processo unitário [19].
A sucessão de procedimentos e operações pode na
verdade consistir em apenas uma operação, como por
exemplo a remoção de sólidos sedimentáveis
sedimentação, até um conjunto relativamente amplo que
inclui coagulação química, oxidação biológica, desinfecção,
entre outros.
Em se tratando do reuso de água em lava jatos, com
a variabilidade do efluente e o tipo de reuso pretendido, há
uma variedade de sistemas, ou procedimentos possíveis a
serem feitos.
Geralmente, os processos e operações unitárias são
acrescidos gradativamente, formando sistemas de tratamento
para que se obtenha uma eficiência cada vez maior,
proporcionando assim, melhor qualidade para o efluente.
7
I. Soluções ecológicas para o desperdício de água dentro dos
Lava-Jatos
Com o objetivo de diminuir o desperdício de água na
lavagem de veículos, técnicas práticas foram criadas para não
só diminuir os impactos sob o meio-ambiente, mas também
para minimizar o dispêndio financeiro. Com isso, abaixo são
apresentadas as referidas práticas:
- Captação de água da chuva: A água da chuva é captada por
calhas e direcionada para reservatórios, onde posteriormente
é utilizada para lavagem dos automóveis.
- Lavagem á Seco: Procedimento de lavagem rápida, onde a
limpeza é feita por produtos químicos (xampu ou cera),
diluídos em pequenas quantidades de água.
-Sistema de Tratamento de Efluente: Unidade operacional
na onde se utiliza métodos físicos, químicos e biológicos para o
tratamento do efluente visando sua reutilização.
III. METODOLOGIA
A. Caracterização empreendimento em estudo
Para a elaboração do projeto no lava-jato localizado
em em Contagem/MG, foram realizadas visitas técnicas ao
estabelecimento para coleta de dados essenciais no
dimensionamento do sistema de reuso. Analisou-se o volume
de água gasto para a lavagem dos veículos, a quantidade de
veículos lavados mensalmente e a área do lava-jato em
questão.
por A.I. Análise do efluente
A primeira etapa consistiu-se em análise laboratorial
para a caracterização do efluente. Foram analisados os
seguintes parâmetros: pH, óleos e graxas, cloro, coliformes
totais, ABS, sólidos suspensos totais, DBO, sólidos
dissolvidos e turbidez. Tais parâmetros foram escolhidos
conforme a NBR 13969, que estabelece padrões para a água
de reuso em lava jatos.
Levando em consideração o fluxo de carros que são
lavados no empreendimento, as amostras para análise foram
recolhidas em dois dias distintos, levando em consideração a
demanda por lavagem de veículos, na quarta feira, onde a
demanda de carros é menor, e no sábado devido à maior
 8

procura nas lavagens. Como o lava jato não possui - área B. Qualidade do efluente do lava-jato
específica para o descarte do efluente, toda água gerada a As tabelas 4 e 5 apresentam os parâmetros
partir da lavagem de cada veículo foi direcionada para um escolhidos e seus respectivos valores encontrados de acordo
tanque para ser acumulada e posteriormente ser colhida. No com cada coleta realizada.
final de cada dia a água foi homogeneizada antes de ser
TABELA IV- Avaliação da temperatura e pH das amostras
recolhida pelos coletores de amostragem. A verificação do
coletadas em 16/09/2015 e 19/09/2015
efluente foi feita pelo laboratório Acquaveras através do
NBR Temperatura Temperatura
método Standard Methods for the Examination of Dia 13.969/97- pH do efluente ambiente (°C)
Wastewater. entre 6,0 e 8,0 (°C)

Para as análises dos efluentes foram aplicadas as 16/09/2015 8,14 23,6 29,0
19/09/2015 6,02 25,0 29,0
Normas NBR 13.969/97 [13] que especifica a qualidade do
Fonte: Laboratório Acquaveras
efluente para reuso em lava-jato e a Norma Técnica T 187/5
[21] para lançamentos e efluentes não domésticos no sistema
TABELA V- Análise dos efluentes coletados em 16/09/2015 e
de esgoto sanitário da Companhia de Saneamento de Minas 19/09/2015 de acordo com as normas NBR13.969/97 e T187/5
Gerais (COPASA). Com base nos resultados obtidos, foi Norma
realizado uma estudo comparativo com a norma NBR e a Parâmetros NBR Técnica T Dia Resultados
13.969/97 187/5
Norma Técnica. A partir deste estudo identificou-se as
Cloro 16/09/15 0,52
características do efluente.
Residual 0,5 a 1,5 mg/L Não 19/09/15 0,57
A.II. Estudo para o dimensionamento do Sistema de Reuso da Livre consta
Água 16/09/15 Presente

A partir dos dados qualitativos do efluente, foi Coliformes <200 Não

19/09/15 Presente
totais NMP/100mL consta
definido o sistema de tratamento para adequar a qualidade
16/09/15 0,868
deste efluente a finalidade de reúso. Para o dimensionamento,
ABS Não consta 5,0 mg/L 19/09/15 0,768
considerou-se a área do lava-jato bem como o seu layout, a Sólidos 16/09/15 77,0
vazão diária, e a concentração dos poluentes a serem suspensos Não consta 300,0
19/09/15 780,0
totais mg/L
removidos.
Óleos e Não consta 150,0 16/09/15 18,82
Graxa mg/L 19/09/15 7,5
IV.RESULTADOS E DISCUSSÕES Não 16/09/15 75,04mg/
DBO Não consta consta L

A. Caracterização do Lava-Jato 19/09/15 49,08mg/

L
O estudo foi realizado em um lava-jato localizado no
Sólidos Não 16/09/15 70,0
bairro Riacho em Contagem-MG, que possui uma área de
Dissolvidos <200mg/L consta 19/09/15 75,0
180 m². Seu funcionamento é de segunda a sexta, das 8:00 às Não 16/09/15 109,0
18:00 horas. A capacidade média de lavagem é de 20 carros Turbidez <5,0 UT consta 19/09/15 78,7

por dia, sendo gasto aproximadamente 16.800 litros de água Fonte: Laboratório Acquaveras

potável, gerando um custo mensal em torno de R$ 130,00. Nota-se que os parâmetros estabelecidos pela norma
No anexo A possui um registro fotográfico do T187/5 diferem dos parâmetros estipulados pela norma NBR
empreendimento. 13.969, uma vez que, como já dito anteriormente uma é
destinada para o reuso e a outra refere-se ao descarte em
 9

redes coletoras de esgoto. Porém, ambas servem para
qualificar o efluente.
Analisando os resultados de acordo com a NBR
13.969/97 observou-se que alguns parâmetros
extrapolados, desta forma serão utilizadas
especificas para correção do pH e diminuição da turbidez
para que o fluente seja tratado e reutilizado. Os demais
parâmetros estão de acordo com os limites estabelecidos por
esta norma. Por outro lado, comparando os valores
encontrados com a norma T 187/5 nota-se que, será
necessário um tratamento antes do descarte prévio, uma vez
que, o valor encontrado para sólidos suspensos totais,
ultrapassa o limite permitido.
D. Dimensionamento e funcionamento do sistema de reuso
O processo de tratamento do efluente para a
reutilização será composto pelos seguintes itens:
 Um tanque de separação água e óleo;
 Registro hidráulico;
 Tubos de PVC interligando os tanques;
Os cálculos utilizados para o dimensionamento dos
tanques constam no Anexo B. Como forma de segurança
adotou-se nos cálculos o dobro da quantidade de água gasta
foram na lavagem de um veículo, devido ao fato de que, a
técnicas quantidade de carros lavados em um dia pode ser maior do
que o valor médio diário. No início do projeto o enchimento
do tanque de decantação levará um dia, porém este período
poderá ser diminuído caso haja um aumento na demanda de
lavagem de carros. Para o tanque de reuso optou-se por usar
uma caixa d’água de 1.000L, por ser economicamente viável
e mais simples.
As dosagens adequadas de sulfato de alumínio
situam-se na faixa de 200mg/L a 600mg/L [22]. Para a
obtenção da quantidade de sulfato de alumínio, hidróxido de
sódio e hipoclorito de sódio, utilizados na floculação,
correção do pH e desinfecção, propõe-se ensaios laboratoriais
após a conclusão deste projeto, dado que, não foi possível
realizar testes em tempo hábil para entrega do trabalho.
Para melhor entendimento do sistema proposto,

 Dois tanques de decantação; abaixo um esquema mostrando o funcionamento do método

 Um tanque de correção do pH e armazenamento da pretendido (Figura 3) e no anexo C a planta do projeto

água. adequado para o tratamento e reuso do efluente.

A figura 3 expõe cada componente do sistema de

reúso e suas respectivas funções.

TANQUE DE RETENÇÃO DE
OLEO - Objetiva separar por
CAPTAÇÃO DO EFLUENTE
meio da densidade o óleo do
efluente

TANQUE DE DECANTAÇÃO -
TANQUE DE REUSO -
Realiza a decantação dos
Responsável pelo processo
solidos dissolvidose
de desinfecção e
presentes no elfuente com
reservatorio da água tratada
adição de sulfato de alumínio

Figura 4 – Esquema do projeto de tratamento e reuso do efluente

Fonte: Autor

REUSO O procedimento de reutilização será da seguinte

maneira:
Tanque de retenção de óleo - Os efluentes gerados a
Figura 3- Componentes e suas funções no sistema de reuso partir das lavagens de veículos, serão conduzidos ao tanque
Fonte: Autor de separação de água e óleo, nesta etapa além da separação

do óleo da água acontece também a retenção de sólidos
grosseiros ficando retidos no tanque. O processo de separação
é simples, o óleo por ser menos denso e imiscível em água,
tende a flotar, permanecendo na superfície liquida, já os
sólidos são decantados, enquanto que a água é direcionada
para o outro tanque. De acordo com a NBR 10.004/2004 [23]
referente a classificação de resíduos sólidos, o óleo
proveniente desta desagregação é tido como resíduo perigoso
(Classe 1) por apresentar toxidade. Desta forma, o óleo será
coletado e encaminhado a empresas de produção ou venda de
óleo. Já o sólidos grosseiros que ficaram retidos, como foi
dito anteriormente, serão encaminhados para o leito de
secagem para posteriormente serem descartados
corretamente.
Tanque de decantação - Após a remoção do óleo, o
efluente é encaminhado para o tanque de decantação. Os
tanques serão colocados paralelamente e funcionarão em
regime de batelada, enquanto um tanque estiver realizando o
processo de decantação o outro estará em fase de enchimento.
Para a adição do floculante o tanque deve atingir antes o
volume de 500L. A adição e mistura do agente químico
(sulfato de alumínio - Al2(SO4)3) será manualmente. O
processo de separação dos sólidos contidos no efluente dá-se
por gravidade, os sólidos sedimentarão no fundo do
decantador e serão removidos como Argila, enquanto o
efluente clarificado irá para outro tanque. Ao final do dia a
argila estará no fundo do tanque (etapa da remoção da
turbidez) e a água será encaminhada para o tanque de reuso.
A argila proveniente da decantação também é tida como um
resíduo perigoso (Classe 1), conforme NBR 10.004, uma vez
que, os produtos utilizados na lavagem dos veículos podem
apresentar algum risco a saúde e o sulfato de alumínio
utilizado na floculação pode ser corrosivo e tem baixa
toxidade. Diante disso, a argila será encaminhada para o leito
de secagem, onde ocorra o processo de desidratação, sendo
posteriormente encaminhada a um aterro industrial.
Tanque de reuso -No reservatório de reuso, será feito
o processo de desinfecção, que tem como objetivo inativar os
microrganismos patogênicos. Este processo é de grande
relevância, devido ao fato de, o funcionário ter contato direto
10
com a água de reuso. Será realizado também a correção do
pH, uma vez que, o pH da água encontra-se ácido em razão
da adição do sulfato de alumínio no processo de decantação,
além disso a correção faz-se necessária para que o processo
de desinfecção seja eficiente. Na a correção do pH será
utilizado hidróxido de sódio (NaOH) e para desinfecção será
empregado o cloro líquido (NaClO). O método de
desinfecção deverá ser procedimentado para evitar riscos a
saúde do operador. Após esses procedimentos a água estará
tratada e poderá ser reutilizada.
V.CONCLUSÃO
A reutilização da água em lava-jato é uma estratégia
viável e importante para economia nos custos do
empreendimento, economia de água potável e para o uso
sustentável dos recursos hídricos.
A partir da análise laboratorial realizada para a
caracterização do efluente gerado no lava-jato, observou-se
que a qualidade do efluente ficou aquém de acordo a norma
estabelecida. Desta forma foi proposto um sistema composto
por três tanques, sendo eles, de retenção de óleo, de
decantação e de reuso para adequar os parâmetros pH,
turbidez e sólidos totais para o reuso
Observou-se os benefícios ambientais e econômicos
do sistema de tratamento e reuso mencionados neste trabalho,
uma vez que esta atividade se torna ecologicamente correta,
pois a grande quantidade de água potável pôde ser poupada,
visto que, a água utilizada para lavagem de veículos pode
apresentar uma qualidade inferior à da água potável, além de
diminuir o despejo de efluentes nos mananciais.
Outra vantagem, sendo subjetiva, é o aumento da
satisfação pessoal do empreendedor por estar ajudando na a
preservação dos recursos naturais e do meio ambiente para as
presentes e futuras gerações.
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