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Geógrafa
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MIGRAÇÕES VENEZUELANAS
dinâmica migratória chamada sul-sul, onde tanto país receptor como país
expulsor pertencem ao sul global ou países periféricos do sistema-mundo.
O Brasil se insere dentro da dinâmica crescente de mobilidade
humana mundial e das migrações sul-sul notavelmente a partir de 2010
com o começo da chegada dos haitianos e senegaleses pela fronteira do
Peru com o Brasil especificamente por Assis Brasil e Brasileia no estado
do Acre, ou seja, já era um fluxo que implicava a região Amazônica. Mas
é entre o fim de 2016 e durante 2017 que se apresenta na fronteira mais
ao norte do país, no estado de Roraima com a Venezuela o início da
contingência mais delicada e sem precedentes (FROTA, 2017), devido a
permanência da crise política com repercussões econômicas e sociais da
Venezuela, o número de venezuelanos vindo para o Brasil se mantém em
aumento.
As migrações são uma realidade que tem repercussão no Brasil
como um todo, mas que nestes casos ocorre localmente na Amazônia e
seus estados, periféricos ao próprio país, e com dificuldade de conexão. A
migração venezuelana, da qual nos ocupamos aqui é, portanto, um tema
amazônico. Uma das faces do poliedro que faz aresta com a questão
indígena, e com a questão urbana, além de claro, com a questão da
pobreza nas cidades da Amazônia.
A Amazônia é relatada historicamente a partir de dinâmicas
migratórias (OLIVEIRA, 2016) o desafio agora é entender a Amazônia
também como região fronteiriça e alvo de migrações contemporâneas
transacionais presentes no mundo neste século, e de dinâmica sul-sul, que
leva a desafios logísticos e de infraestrutura, e mesmo de preparo
legislativo para afrontar essa situação. Porém é importante ter em mente
que mesmo que 87% das migrações mundiais aconteçam na chamada
dinâmica sul-sul (PEREZ, 2016). Isso pode passar uma falsa ideia de
reciprocidade enquanto as relações assimétricas continuam a ser
reproduzidas.
E isso vai ser especialmente visível na situação dos venezuelanos
ao encontrar que a fronteira amazônica não estava preparada nem
logística nem socialmente para o êxodo que foi se configurando ao longo
dos meses, o migrante tem o anseio de estar chegando ao Brasil, mas a
vivência é que ele chega à Amazônia brasileira, afastada real e
simbolicamente do país. Porém, é importante salientar também que a
migração ocorre na Amazônia porque é o caminho obrigado, o
venezuelano não tem muitas alternativas para sair do seu país de forma
terrestre (a economicamente viável): ou vão para a Colômbia, que de fato
recebe o maior fluxo, ou para a Guiana que parece não representar uma
atração tão grande, ou viajar até o Estado Bolívar, cidade de Santa Elena
do Uairén e ingressar ao Brasil por Pacaraima, em Roraima, município
entre terras indígenas demarcadas e a 240 km de Boa Vista, a capital
estadual.
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REFERÊNCIAS
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