Você está na página 1de 3

RESENHA – GEOGRAFIA

No episódio dois da série sobre as fronteiras brasileiras do programa “Caminhos da


Reportagem”, são abordadas problemáticas importantes e pouco faladas dentro do
cenário do nosso país, mas que afetam a vida de inúmeros pessoas, sejam
brasileiros, outros latinos americanos ou até mesmo estrangeiros.

Na cidade de Tabatinga, no estado do Amazonas, onde está localizada a tríplice


fronteira entre o Brasil, a Colômbia e o Peru, vemos a inatividade do governo
brasileiro, em diversas áreas. Em um local em que o transporte pelo rio é de suma
importância, a polícia se vê incapaz de cumprir com a sua ação e combater um dos
maiores problemas que é o tráfico de drogas (em especial a cocaína), pois não
possui transporte adequado, contando com apenas duas lanchas para se
locomoverem entre cidades que são a horas de distância

Dentro do trânsito de veículos a situação caótica continua. No ano do documentário,


havia somente uma pessoa na cidade responsável pela fiscalização no lado
brasileiro. Apesar do prefeito alegar que ouve uma melhoria no tráfego, qualquer
cidade precisa ainda de investimento na área e Tabatinga sofre com a falta de
semáforos, placas de trânsito e faixas de pedestre. Apesar da circulação de veículos
e pessoas entre as cidades ser livre e muitas vezes benéfica à população, na única
rua que liga o Brasil a Colômbia, é comum ver motoqueiros imprudentes, sem
habilitação, com motos desregulamentadas, sem placas e que ainda foram
compradas por terceiros na Colômbia. Isso de forma alguma caracteriza um trânsito
de boa qualidade e funcionalidade.

É possível ver também a desatenção a populações vulneráveis na cidade e região.


Estima- se que lá existem cerca de 800 imigrantes haitianos ilegais, que fugiram em
busca de refúgio e melhores condições de vida, depois que um terremoto assolou o
país. Em Tabatinga, vivem com subempregos e em locações insalubres e
superpopulosas, contando com pouquíssimas pessoas (e ironicamente que sequer
são brasileiros) para auxiliarem a obtenção de um visto que o Comitê Nacional para
os Refugiados (Conare) se recusa a dar. Somente por razões humanitárias o
Conselho Nacional de Imigração (CNIg) tem possibilitado a permanecia deles, o que
de forma alguma resolve o quadro.
A primeira população brasileira, os indígenas, similarmente experimentam o mesmo
abandono. No tempo mostrado, os cassiques das comunidades indígenas advertiam
sobre o problema crescente das drogas no território. Os ticunas, para lidarem com o
consumo de álcool na comunidade, criaram a sua própria força militar, a “policia
indígena”, já que a vigilância comum brasileira, ou como chamam — a polícia dos
“brancos” — não age na região, mesmo se devidamente chamada. A Polícia Federal
ao invés de se envergonhar de tal situação revoltante ou até mesmo auxiliar e
investir em treinamentos para esses colegas, condena o caso, classificando a
atuação dos indígenas como “inconstitucional”, apesar do artigo 57º do Estatuto do
Índio claramente permitir a ação e toda comunidade aprovar e querer maior
atividade desses voluntários.

A falta de assistência ocorre também em outras cidades espalhadas pelo Brasil. No


Rio Grande do Sul, em Chuí, região fronteiriça com Uruguai, famílias que tiveram
suas casas e locais de trabalho destruídos por uma tempestade e enchente
continuaram no extremo prejuízo. Já no Mato Grosso do Sul, na cidade de
Corumbá, famílias ribeirinhas que vivem somente através da pesca no pantanal,
precisam se contentar com um salário extremamente baixo e sem nenhum apoio
financeiro do governo.

Em Corumbá, que por sua vez, faz uma divisa seca de 300 km com a Bolívia,
questões de mesma natureza das citadas anteriormente preocupam. A fronteira, é
porta de estrada para muitos estrangeiros, da mesma forma que transita muitos
brasileiros nela, interessados em comprar mercadorias na Zona Franca da Bolívia,
ou trabalhar no outro país. Nesse aspecto, a fronteira se mostra com um lado muito
positivo, entretanto, ela esconde um lado sério e não divulgado o bastante.

Ela atua como uma das principais passagens de tráfico no Brasil e é não o
suficientemente protegida. O rio Paraguai é umas das maiores rotas de drogas e
todos tipos de armas, que em sua maioria tem como destino alimentar o crime no
nosso país. Pela porção terrestre, são contrabandeados principalmente drogas e
veículos roubados. Somente em 2010, a delegacia da Polícia Federal na cidade
apreendeu aproximadamente 600 quilos de cocaína.

O cenário é tão grave que até o inspetor da Receita Federal de Corumbá alega que
a pratica dos crimes é tão constante que é impossível mensurar a quantidade de
materiais apreendidos, nem os prejuízos causados ao Brasil. Motivo que por si só
deveria ser capaz de chamar uma maior atenção das nossas forças de defesa.

Tudo consegue ainda piorar quando se olha para a Bolívia, um dos principais
produtores de droga do mundo, e que luta contra a pobreza da sua estrutura policial,
que não consegue cobrir toda a extensão fronteiriça. O próprio governo boliviano
confessa não conseguir cuidar do tráfico sozinha, deixando a maior parte do trabalho
para os brasileiros. Mesmo que exista atuação das forças policiais e das GGIs
(Gabinetes de Gestão Integrada), a situação ainda clama por atenção e medidas
ativas de combate à criminalidade.

O cotidiano desordenado das cidades, no entretanto, apresentam também os seus


charmes. O intercâmbio cultural inerente as fronteiras, traz uma rica diversidade
para as terras vizinhas. O “Festival América do Sul” por exemplo, celebra a cultura
de 9 países da América Latina, apresentando os seus artesanatos, teatros, músicas,
literatura e gastronomia para inúmeras pessoas, e que de tão integrados, acabam
virando “tradição”, como o caso do salgado Saltenha no Brasil.

Países que apesar de tão diferente, são tão iguais, deveriam se unir mais vezes
para se apoiarem como aliados, em um mundo impiedoso e contra nações em
desenvolvimento. Da mesma forma, o Estado Brasileiro deveria olhar para a sua
vastidão de forma justa e igualitária, cumprindo o seu dever com as minorias e o
combate às ilegalidades tanto presentes na atualidade.

Você também pode gostar