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ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO UNIVERSAL

Uma doutrina de vida

Caminho,
Verdade e Luz
(Os ensinamentos de Cristo)

Volume I
“Assim, quando o corpo mortal se vestir com o que é imortal e quando o que
morre se vestir com o que não pode morrer, então acontecerá o que as
Escrituras Sagradas dizem: a morte está destruída; a vitória é total”

(Paulo – Carta aos Coríntios 1 – Capítulo 15 – versículo 54).

Este livro contém textos de palestras espirituais


realizadas por incorporação pelo amigo espiritual
JOAQUIM DE ARUANDA e organizados por
FIRMINO JOSÉ LEITE.e MÁRCIA LIZ CONTIERI
LEITE

Os ensinamentos deste livro seguem as bases da Doutrina Espiritualista


Ecumênica Universal.
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Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 3

Amem-se uns aos outros

Comecemos nosso estudo de hoje da Bíblia. Para conversamos,


selecionei um discurso que Cristo faz aos apóstolos depois que Judas retira-
se da ceia. Ou seja, é a última instrução que Cristo dá aos seus apóstolos
antes da crucificação. Ele está no Evangelho de João, evangelho esse que
é muitas vezes esquecido, mas que contém grandes ensinamentos.

Vamos, então, ver este texto...

Jesus disse:

- Eu sou a videira verdadeira... (Capítulo 15 – Versículo


01).

O mestre se declara como a videira, mas quem é Jesus Cristo?


Antes de entrarmos no estudo, isso precisa ficar muito bem definido...

Jesus Cristo não é um homem ou um espírito, mas sim uma


encarnação, uma vida humana, uma personalidade que vivenciou uma vida
humana. É assim que se deve tratar qualquer mestre: uma encarnação que
sirva de exemplo para aqueles que buscam aproximar-se de Deus.

Outro dia me perguntaram se Kardec tinha ego e eu respondi que


não. Disse isso porque Kardec é o ego com o qual um espírito viveu a vida
carnal.
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Se isso é verdade, Jesus Cristo também é o ego de um espírito. É
uma encarnação, uma vida carnal, nada mais do que isso...

Mas, veja bem: existe o espírito que você chama de Cristo? Existe...
Mas ele não se chama Cristo, não foi homem ou mulher, judeu ou romano e
nunca foi o messias. Ele é apenas um espírito igual a todos os outros:
gerado à imagem e semelhança de Deus e que realiza a sua progressão
espiritual no Universo.

Quando vamos estudar na Bíblia os ensinamentos de Jesus Cristo,


temos que ter isso em mente, pois senão pode se cair na idolatria, o que
nos afastará do Pai. Jesus Cristo é apenas uma encarnação de um espírito,
mas, é uma encarnação especial. Vamos entender isso...

Segundo João neste mesmo Evangelho, Jesus Cristo é o verbo


(Capítulo 01 – versículo 01). O verbo, gramaticalmente falando, é a ação de
uma frase. Sendo assim, podemos dizer que a encarnação verbo (Jesus
Cristo) é o exemplo de atividade para um espírito durante uma encarnação.

O fato de ela ser um exemplo a ser seguido fica muito claro com
outra palavra de Jesus Cristo: eu sou o caminho, a verdade e a luz e
ninguém chega a Deus a não ser através de mim.

Portanto, quando se estuda a Bíblia, ou seja, os ensinamentos que


fizeram parte daquela encarnação, nós temos que entender que aqueles
ensinamentos são o sentido de transformar a sua encarnação numa ação...

Mas, que ação foi praticada pela encarnação Jesus Cisto e que
deve ser copiada por você? O amar... A encarnação Jesus Cristo foi a ação
do amor universal, do amor sublime...

A partir de agora, portanto, devemos compreender que durante este


estudo não iremos conhecer Jesus Cristo ou seus ensinamentos, mas sim
compreender a ação amorosa, que se posta em prática durante a
encarnação, nos aproxima de Deus.
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Por exemplo, quando ele diz “eu sou a videira”, não devemos, em
nosso estudo, entender que o ser humano ou espiritual Jesus Cristo é a
videira, mas sim que a ação amorosa é a videira. A árvore da vida não é o
mestre, um ensinamento ou qualquer outra coisa, mas sim a ação amorosa,
a conjugação do verbo amar.

Esta é, então, a primeira compreensão deste estudo: iremos estudar


a questão da aplicação do amor durante a existência carnal para que ela
fundamente a sua opção que lhe leva a felicidade incondicional. É preciso
se estudar isso porque sem essa ação, você jamais optará pela felicidade
incondicional.

Isso porque a antítese do amar universal em ação é a encarnação


humana, ou seja, o amor individualista e egoísta em ação. O amor humano
não lhe deixa alcançar a felicidade incondicional porque he prende ao
dualismo do prazer e dor, já que fortalece as paixões e os desejo.

Portanto, para aqueles que pensaram que iríamos estudar Jesus


Cristo ou suas máximas, afirmo que, na verdade, iremos buscar
compreender como construir em nós esse amor universal. Para teremos que
entender como destruir em nós esse amor egoísta e individualista que só
pensa em si mesmo e o resto do mundo que se dane...

Agora podemos continuar nosso estudo...

... e o meu Pai é o lavrador. (Idem).

O que é uma videira? Uma árvore. Mas, na Bíblia a árvore não é um


vegetal...

Toda árvore citada na Bíblia deve ser compreendida como uma


fonte de conhecimento. Desde o livro Gênesis, quando Deus fala da árvore
do conhecimento que fica no centro do Jardim do Éden, este elemento
sempre simboliza uma fonte de conhecimentos.
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Se o mestre afirma que ele é a videira, isso, portanto, quer dizer que
ele é a fonte de conhecimentos para uma existência que leva a Deus. Se
entendermos Jesus Cristo como o verbo, como já dissemos, dizer que ele é
a fonte de conhecimento da ação do amor durante a vida. Por isso copiá-lo
nesta ação leva a Deus.

Sendo assim, é justo dizer que nenhuma outra encarnação pode


servir de espelho para você. Nenhuma encarnação pode servir de exemplo
porque elas não são o amor em ação.

Às vezes, quando as pessoas me perguntam como reagir a


determinadas circunstâncias, digo: tente imaginar como Cristo reagiria...
Falo assim porque este é o exercício que precisamos fazer transformar a
vida carnal numa progressão em direção ao Pai.

Devemos seguir a única coisa que pode ser exemplo: a ação do


amor. Qualquer outro exemplo que você me cite, mesmo que humanamente
seja considerado como sublime, não é a videira, não é a árvore da vida.

Mas, neste pedaço do Evangelho de João que citamos, Cristo fala


mais: ele diz que Deus é o lavrador, ou seja, que o Pai é que sustenta a
vida. Vamos ver esta afirmação, pois esta é uma questão impar para quem
quer colocar o amor em ação, ou seja, optar pela felicidade e o bem em
todos os momentos de sua existência carnal.

A vida não nasce ao acaso, ao léu. Ela não é fruto do encontro de


um espermatozóide com o óvulo nem do coco de um passarinho que tinha
uma semente. Ela é criada e cultivada por Deus...

Esta afirmação de Cristo vem de encontro àquela informação que já


estudamos em O Livro dos Espíritos que diz que Deus é Causa Primária de
todas as Coisas. Sim, Deus é a Causa Primária de todas as coisas porque é
Ele que cuida da vida de cada um.

Cristo é a vida... O amor em ação é a vida, mas ele só nasce


quando cultivada por Deus.
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Aí está o primeiro grande ensinamento de nosso estudo, isso
porque ninguém conseguirá optar pelo bem, se não sentir a sua vida como
obra de Deus.

Ontem estávamos conversando sobre outro tema e uma pessoa me


disse: eu realmente só entendendo o seu ensinamento se aplicarmos o
preceito que diz que Deus é a Causa Primária de todas as coisas. Se não
aplicá-lo, nada faz sentido...

Realmente, você só vai me entender, ou melhor, só conseguirá


optar por estar no bem, se ver no que está acontecendo o fruto de um
trabalho de Deus. Enquanto estiver aprisionado ao fruto do trabalho de
qualquer outro, não há como.

Isso porque não há como você conceber que outro ser humano,
espírito, ou seja, outra inteligência inferior igual a você aja sobre você,
controle os acontecimentos de sua existência. Ver a ação de uma
inteligência inferior sobre você lhe dirigindo não lhe dá confiança, não lhe
permite a entrega absoluta...

Portanto, Jesus Cristo é o amor em ação, a fonte do conhecimento


para a prática amorosa, mas quem cultiva, quem ara a terra, semeia, rega e
cuida da vida é Deus.

Não quero transformar este estudo num tratado religioso. Nosso


objetivo é conversar de forma prática, de forma aplicada à vivência de cada
um durante a existência carnal.

Como prática disso que acabamos de ver, digo o seguinte: ninguém


nos fala nada... Se Deus é o agricultor, ou seja, quem cria a árvore da vida e
toma conta dela, qualquer som que ouçamos terá sido semeado, cultivado e
germinado por ele...

Sendo assim, sentir-se ofendido, ou seja, viver o “mal” neste


momento, é não estar ligado ao amor, a Deus e ao próximo. Só vive o “mal”
quem coloca o próximo como o agricultor que cuida da sua viseira, da sua
vida.
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NOTA: As alusões a escolha entre “bem”, “bom” e “mal”,
estão ligadas ao ensinamento de O Livro do Espírito
(pergunta 390), onde o Espírito da Verdade afirma que o
livre arbítrio do espírito encarnado se consiste em
escolher entre o “bem” e o “mal” enquanto vivencia o
destino que resultou da sua opção por determinados
gêneros de provas.

Quando esta questão foi estudada, o amigo espiritual


ensinou que o “bem” é tudo que provém de Deus,
enquanto que o “mal”, que pode ser dividido em “bom” (o
bem que eu gosto) e novamente “mal” (o bem que eu
não gosto).

Portanto, optar pelo “bem” é viver tudo como oriundo de


Deus, enquanto que optar pelo “mal” é viver preso ao
dualismo dos conceitos individualistas.

Aí está a resposta para aqueles que me perguntaram como colocar


em prática esses ensinamentos: optando pelo bem... Isso porque optar pelo
bem é optar por ver que a vida é cultivada por Deus e não por outros
espíritos, encarnados ou não.

Participante: A gente até consegue fazer esta opção por


um tempo, mas às vezes tropeça...

Quando tropeçar uma vez, passe a viver o momento seguinte,


continuando a tentar optar...

Esqueça os tropeços. Este ainda não é um mundo de Regeneração,


mas sim de Provas e Expiações, ou seja, de provar que estar disposto a
buscar.

Mas, você tropeça uma vez e logo para de caminhar e fica chorando
porque machucou o dedão...
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Participante; Como aqueles que não tem Jesus como
guia vão seguí-lo?

Amando como Jesus amou... Amando sem buscar para si, sem
esperar resultados... Amar por amar... É assim que se segue o exemplo de
Jesus.

Veja. Todos os mestres amaram como Jesus, portanto, não importa


que exemplo siga, você sempre estará caminhando em direção a Deus
quando optar pelo bem...

Sabe... Eu não estou no oriente. Se estivesse falando para egos


daqueles povos, diria: siga Buda...

Para cada povo há um mestre, mas todos seguiram o mesmo


caminho: o amor incondicional, a libertação do eu para amar. Não importa
que mestre você cite, posso lhe provar que o ensinamento deles, mesmo
que não tenha estas palavras, se resume nisso.

Sendo assim, para você optar pelo “bem” deixe que Deus resolva
isso, ou seja, que Ele cultive como o espírito encarregado de ensinar o amor
em ação no oriente fale. Vamos nos firmar em Cristo, pois ele para nós, que
somos cristãos, é nosso mestre.

Ele corta todos os galhos que não dão uva, embora eles
estejam em mim. (idem, versículo 02).

Deus corta todos os galhos da videira que não dão uva, apesar
deles estarem no amor. Isso quer dizer que não basta conhecer o amor ou
ter o amor: é preciso que o amor gere frutos para que continuem vivo...

Este é um aspecto interessante da vida. Vocês acham que “bem”


viver é quando se alcança acúmulo de conhecimentos: quanto mais se vive,
mais se conhece e, por isso, mais se evolui.
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Acontece que o simples acúmulo de conhecimentos não é sinal de
evolução. Isso porque enquanto o ser humanizado apenas conhece, mas
não pratica o que aprende, torna-se um galho que não dá frutos e, segundo
Cristo, Deus cortará estes galhos da vida.

Nós vamos falar neste estudo muito sobre destruir o “mal” para
entrar no “bem”, mas a partir do momento que se falar sobre qualquer coisa,
é preciso que o ensinamento entre em prática.

Participante: Como amar na prática?

Como se faz alguma? Só tenho uma resposta para lhe dar sobre
isso: fazendo...

Não existe outra forma. Como se ama? Amando... Como se destrói


a opção pelo “mal”? Destruindo...

Esse é o caminho. Não há resposta diferente desta e ninguém pode


lhe responder de forma diferente disso, pois cada um ama da sua forma.
Saiba de uma coisa: a única coisa que um mestre pode dizer é onde se
deve chegar, mas cada um precisa encontrar o seu próprio caminho para
caminhar.

Portanto, para amar, é preciso amar...

Não estou falando de amar a partir de seus próprios conceitos, mas


estou dizendo que cada tem a sua própria opção pelo “bem”. Ou seja, tem a
sua própria forma de ver Deus como Causa Primária de todas as coisas. O
que quero dizer é que cada um opta pelo “bem” a partir de uma motivação
racional individual.

A forma como se destrói o “mal” ou se constrói o “bem” não


importa... O importante é sabermos que se tudo que conversarmos aqui for
exclusivamente letra fria, ou seja, virar conhecimento e no momento de
vivenciar um determinado acontecimento não se transformar em opção pelo
“bem”, saiba que você será um galho futuramente cortado por Deus da
videira.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 11
Participante: O que quer dizer quando cita que o Pai
cortará todo galho que não dá fruto?

Que este galho será tirado da vida...

Não falo que este ser humano será morto... Não estou dizendo que
uma encarnação será encerrada... O que digo é que o galho que não dá
fruto será tirado da glória de Deus.

Ou seja, este ser humanizado viverá como ser humano: preso aos
seus afazeres diários, às suas preocupações humanas, aos seus medos...
Isso é estar morto, porque quem vive assim está morto para Deus.

É isso que quero dizer.

Participante: Como amar se a pessoa que nós amamos


não quer ser amada?

Participante 2: Todos querem ser amados...

Desculpa, mas nem todos querem ser amados. Alguns querem ser
idolatrados, outros adorados e muitos querem ser paparicados. Agora
amados de uma forma incondicional, isso poucos querem...

Como amar quem não quer ser amado? Amando...

Eu falei no início que este amor é incondicional. Ou seja, ele se


existe mesmo que o outro você não queria ser amado por você.

Então ame, ame a todos, independente deles quererem ou não ser


amado por você. Ame mesmo que os outros não queiram ser amados e não
espere nem que eles aceitem ser amados ou que retribuam de alguma
forma o seu o amor...

Participante: Como Jesus sabia que só ele era o


caminho?
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Espiritualmente falando porque ele é a inteligência mais evoluída
deste do orbe terrestre. Racionalmente falando porque esta verdade estava
presente naquele ego.

Participante: Então podemos concluir que não é o Pai


que irá nos cortar da árvore, mas que é uma escolha de
cada um sair da árvore?

Quem corta da árvore é o Pai, mas ele faz isso apenas para quem
optou por não dar frutos.

Na árvore da vida cada galho tem vida própria no sentido de optar


em dar frutos ou não. Deus cuida da árvore, mas cada galho tem a
liberdade de amar ou não.

Quando você opta pelo “mal”, ou seja, por não amar, Deus corta o
galho.

Participante: Ninguém poderia aparecer hoje dizendo ser


o caminho?

Pode... Qualquer um pode aparecer afirmando ser o caminho,


desde Deus faça isso acontecer...

Mas isso não quer dizer que ele é o caminho, pois somente aquele
que colocar o amor incondicional em ação é o caminho... Respondo desta
forma porque o caminho não é Cristo, mas o amor em ação.

Participante: Mas este julgamento quem fará não será o


ego?

Não... Será Deus através do seu ego. Não o ego em si...

Então, se tiver que cair nessa, ou se tiver que não acreditar e for
realmente uma nova encarnação caminho, Deus lhe dará a compreensão ou
não...
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 13
Portanto, não se preocupe com isso...

Mas ele poda os galhos que dão uvas para que fiquem
limpos e dêem mais uvas ainda. (idem, versículo 02).

O que é podar? Cortar alguns galhos para que a planta cresça com
mais vigor. Ou seja, renovar...

Com isso, nossa compreensão sobre a vida, aumenta. Sabemos


que Deus cortar os galhos que não dão frutos e agora aprendemos que Ele
renova os galhos que dão frutos.

O que quer dizer isso? Quer dizer uma coisa que ainda
estudaremos: quanto mais se gastar desse amor, mais amor estará
disponível para gastar, para amar...

NOTA: Este assunto foi estudado no texto “Jesus e os


três empregados” que está disponível neste livro.

Tem gente, como a parábola dos talentos fala, que economiza no


amar. Ama apenas os pobres, os sem saúde, os velhos no asilo. Isso é
economia no amar.

Cristo disse que devemos amar a todos. Sendo assim devemos


amar as crianças abandonadas, mas também as que têm lar da mesma
forma. Temos que amar os com saúde e os sem com a mesma intensidade;
temos que amar os velhos que moram em asilos ou os que estão em casa
de uma forma equânime.

Amar a tudo e a todos, a cada momento: essa é a única garantia


que você terá de receber esse amor sempre...

Veja, vou dizer uma coisa que talvez você ainda não tenha se dado
conta: amor e conhecimentos são as únicas coisas que quando mais se
gasta, mais aumenta. Quanto mais ama, mais amor você tem; quanto mais
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busca conhecimento, tem, e quanto mais dá, recebe, pois ouve os
conhecimentos dos outros.

Então, Deus retira os que não ama, mas renova, fortalece o amor
daqueles que amam.

Vocês já estão limpos por meio do ensinamento que


lhes tenho dado. Continuem unidos comigo e eu
continuarei unido com vocês; pois só podem dar fruto
se ficarem unidos comigo, assim como o galho dá uvas
só quando está unido com a planta. (idem, versículos 03
e 04)

Olha que grande ensinamento: vocês já estão limpos pelos


ensinamentos que receberam ao longo de suas existências... Sim, já
estão...

Eu diria que a humanidade já tem hoje todos os conhecimentos


necessários para a evolução e por isso nenhum mestre mais precisa
encarnar. Agora, precisam continuar limpos, precisam continuar ligados ao
amor amando...

Foi o que falamos agora a pouco: saber sem prática não vale
nanada. É preciso praticar o que se recebe.

Ora, se você recebe a informação, que está na Bíblia, que diz que
não é vantagem cumprimentar apenas o seu amigo, é preciso, para
continuar puro, amar o inimigo. Se recebe o ensinamento que não deve
julgar os outros (que atire a primeira pedra quem não tem pecado), deve
abster-se de julgar...

De nada adianta saber que isso está escrito na Bíblia, se na hora do


acontecimento você não pratica... O galho só dá frutos quando está ligado
à árvore: você, como galho da vida universal que é, só dará frutos, ou seja,
só estará na árvore da vida, se continuar ligado à árvore.
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Então nunca pare de amar: ame a tudo e a todos...

Participante: Há algum espírito no nível de evolução de


Jesus que sirva de exemplo.

Não... Só Ele é o exemplo.

É isso que dissemos agora pouco: nenhuma outra encarnação pode


servir de exemplo para você

Eu sou a videira e vocês são os galhos. Quem está em


mim e eu nele, esse dá muito fruto porque sem mim
vocês não podem fazer nada. Quem não ficar unido
comigo será jogado fora e secará; será como os galhos
secos que são juntados e queimados. Se vocês ficarem
unidos comigo e as minhas palavras continuarem em
vocês, receberão tudo o que pedirem. A glória do meu
Pai é conhecida por meio dos frutos que vocês
produzem e assim vocês se tornam meus seguidores. O
meu amor por vocês é como o amor do Pai por mim;
portanto continuem no meu amor. Se obedecerem aos
meus mandamentos, vocês continuarão no meu amor,
assim como eu obedeço aos mandamentos do meu Pai
e continuo no seu amor.

Eu estou dizendo isso para que a minha alegria esteja


em vocês e a alegria de vocês seja completa. (idem,
versículos de 05 a 11).

Eu deixei a leitura correr porque já havíamos falado de tudo isso.


Mesmo agora, quando Cristo fala em ser feliz, já havíamos abordado este
tema.

A felicidade de Cristo, que não é a felicidade deste mundo, está com


você e em Cristo por causa de Deus. Portanto, você só será feliz de
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verdade quando encontrar Deus, ou seja, quando ver nos acontecimentos
da vida a ação de Deus tomando como lavrador da planta.

O meu mandamento é este: amem uns aos outros como


eu amo vocês. (idem, versículo 12).

Agora chegamos ao ponto principal desta conversa: amem uns aos


outros como eu amo vocês.

Como Cristo amou, ou como a encarnação Cristo transmitiu o


amor? De uma forma incondicional.

Cristo nos ama incondicionalmente e nós devemos amar ao próximo


incondicionalmente. Mas, o que é amar incondicionalmente? Não amar
porque, para que, como... É simplesmente amar...

Perguntaram-me como se pode amar a pessoa que não quer ser


amada por mim? Superando esta condição. Esse é o incondicional deste
amor...

Como atingir a incondicionalidade? Superando as condições para


amar... Ninguém consegue amar incondicionalmente sem antes superar as
condições que ele tem para amar.

Eu amo fulano por causa disso... Desculpe, não ama, porque o


amor verdadeiro é incondicional. Você gosta, é outra coisa. Enquanto não
superar a condição não estará no amor.

Eu não amo fulano por causa disso... Para amá-lo não é preciso
que ele se mude, mas que você supere a condição que você impõe para
amar.

Mas como superá-la? Para vocês este é o problema...


Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 17
É o que disse anteriormente: optando por não se submeter a esta
condição. Optando por não deixar esta condição influenciar os seu estado
de espírito lhe levando para o “mal”.

Aquela pessoa me fez isso... Esta é uma condição que precisa ser
suplantada para entrar no amor universal. Esta é uma condição que precisa
sr ultrapassada para se atingir o amor.

Então, aí está uma forma de fazer, uma forma de colocar este


ensinamento em prática. Agora, como disse anteriormente, cada um terá
uma forma para suplantar estas condições...

Apesar disso, este é o caminho: suplantar condições para amar.


Isso porque ninguém entra no amor universal sem suplantar condições. Só
quando você vence a condição entra na incondicionalidade.

Não se ama verdadeiramente sem superar as condições para amar


ou não... É a mesma história que ainda estudaremos sobre aquela frase de
Cristo: em verdade lhe digo que quem não nascer de novo não verá o reino
do céu.

Todos querem renascer do espírito e da água e entre no reino do


céu. Mas ninguém nasce sem antes morrer. Portanto, é preciso morrer
antes para depois poder nascer de novo. Só que ninguém quer morrer...

Isso é amar. Amar não é se entregar ou ter quaisquer posturas


racionais a favor de alguém... Amar é suplantar as condições que lhe leva a
amar em alguns momentos e em outros não.

O maior amor que alguém pode ter pelos seus amigos é


dar a vida por eles. Vocês são meus amigos se fazem o
que eu mando. (idem, versículo 13).

O que é dar a vida por eles? Quando é que você se sente vivo?
Quando está feliz, quando tem prazer...
Página 18 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Dar a vida por eles é exatamente isso: deixar o outro se considerar
o certo, o bom. Enfim, deixá-lo considerar-se o que ele quiser se
considerar...

O maior amor que alguém pode dar pelo outro é dar a ele o direito
de pensar sobre si ou sobre qualquer coisa o que quiser...

Amar não é ensinar nada, não é interferir no próximo. Amar é uma


atitude passiva no tocante à vida humana.

Amar é assistir ao outro vivendo com suas


verdades, com suas paixões, com suas posses, com
sua busca da fama, sem que você se sinta obrigado a
interferir nisso. Sem que você se sinta obrigado a
mudá-lo, sem que você veja nestas coisas um
condicionamento ao “bom” ou “mal”.
Sabe, tem gente que diz que amaria uma pessoa se ela fosse de
um determinado jeito. Mesmo que esta pessoa mudasse, ele não amaria o
outro, mas continuaria amando apenas a si mesmo. Amaria a ele mesmo
porque primeiro se preocupou consigo, com o que é importante para si.

O amor é doação, é caridade e a doação maior que alguém pode


fazer é doar a razão: você está certo...

Você acha que estou falando besteira, louvado seja Deus. Você
está certo: eu não tenho que lhe corrigir, que lhe mudar... Esta é uma
expressão do amor que nos auxilia a vencer as condições. Isto porque as
vence quem doa ao outro o direito de ter as suas próprias condições para
ser feliz.

Sabe de uma coisa: viver é um constante choque de opiniões, pois


ninguém nunca faz o que você quer nem acredita exatamente no que você
crê. Para que? Exatamente para isso: para que você exerça no grau
máximo o amor que é dar ao próximo o direito de ser, estar, fazer e acreditar
no que ele quiser...
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Vocês são meu amigos se fazem o que eu mando. Não


chamo vocês de escravos porque o escravo não sabe o
que o seu dono faz; mas chamo de amigos, pois tenho
dito a vocês tudo o que ouvi do meu Pai. Não foram
vocês que me escolheram; pelo contrário, fui que os
escolhi para que vão e dêem muito fruto e que esses
frutos não se estraguem. Assim o Pai lhes dará tudo o
que pedirem em meu nome. Portanto, isto é o que eu
mando: Amem uns aos outros. (idem, versículos 14 a
17).

Com isso encerramos nossa conversa de hoje...


Página 20 Caminho, Verdade e Luz – volume I

Pedra de Roseta

Participante: O senhor pode falar um pouco sobre as


bem-aventuranças?

Como já disse anteriormente, já passei a vocês tudo o que tinha a


ser passado. O que estamos fazendo agora é tirando dúvidas. Agora, tirar
dúvidas não é estudar tudo novamente. Não estou falando que não vou
estudar hoje as "bem-aventuranças", mas preciso hoje deixar algo bem
claro.

Daqui a pouco não mais estarei aqui para estudar com vocês
porque a minha missão terá terminado. Neste momento vocês irão precisar
"pensar" sozinhos". Por isso afirmo que o importante é vocês começarem a
conhecer o mecanismo da coisas, ou seja, como decodificar os
ensinamentos doas mestres.

Por isso, ao invés de fazer como sempre fiz, ou seja, estudar


diretamente o texto, eu quero ir um pouco além hoje. Gostaria de começar
esta conversa falando dos fundamentos de onde surgiram os textos que são
conhecidos como "bem-aventuranças".

O meu objetivo primordial hoje é tentar lhes ensinar a aprender a


entender não só este ensinamento, mas todos os ensinamentos de Cristo.
Isto porque, depois que aprenderem a compreender os ensinamentos em
essência ficará fácil compreender este e outros textos do Novo Testamento.
Portanto, vamos lá!

Quem ensinou as "bem-aventuranças"? Jesus, o Cristo.


Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 21
Não existe um Jesus Cristo. Naqueles tempos não existiam
sobrenomes. Jesus era conhecido como Jesus de Nazaré porque nasceu na
cidade deste nome ou ainda como Jesus, filho de José. Jesus Cristo,
portanto, não é um nome.

Mas, por que este adendo foi colocado ao nome de Jesus? Porque
ele foi reconhecido como o messias, o prometido. Portanto, Jesus Cristo
quer dizer "Jesus, o prometido".

Por que prometido? Porque no velho testamento os profetas,


falando em nome de Deus, prometem à humanidade que um dia viria o "filho
de Deus" que libertaria o povo do Senhor da opressão.

Quem é o filho do Senhor? O espírito que se reconhece como tal.


Como já disse anteriormente, todos somos filhos de Deus, mas não nos
reconhecemos como tal. Para que possamos fazer jus a este título é preciso
que nos reconheçamos como seres espirituais e não humanos. Para isso é
preciso que o espírito esteja de posse de sua consciência espiritual e não
ligado a egos humanizados.

Portanto, o espírito que foi prometido pelos profetas seria um que


estivesse ligado à sua consciência primária e não a um ego humano. Sendo
assim, Jesus não poderia ser este espírito, pois ele era um ego humano.

Por isso afirmo: Jesus era um espírito ligado a um ego humanizado


que em determinado momento ligou-se a um espírito puro (ligado à sua
consciência espiritual). Daí o nome: Jesus, o Cristo.

Resumindo, então, posso dizer que as bem-aventuranças, assim


como todos os ensinamentos do Novo Testamento, são transmissões
realizadas por um médium (Jesus) influenciado por um espírito superior (o
Cristo).

Esta é a origem dos ensinamentos. Tudo que está no Novo


Testamento foi passado à humanidade através de um médium guiado por
um espírito de posse da sua consciência espiritual. Por isso afirmo que todo
Página 22 Caminho, Verdade e Luz – volume I
ensinamento atribuído a Jesus Cristo tem origem em um espírito de posse
da sua consciência espiritual.

O que quer dizer um espírito de posse da sua consciência


espiritual? Já falamos disso também: são os espíritos que estão livres da
ação do individualismo que surgem pela formação da idéia do "eu".

Poderíamos dizer que os espíritos que existem a partir das


realidades formadas por sua consciência plena - ou primária como Krishna
fala - são os universalistas. Eles são individualidades do Universo, mas
vivem em perfeita comunhão com o Todo e por isso deixam de ser
individualistas.

Existindo a partir desta consciência eles estão livres do egoísmo


que se expressa através das posses, paixões e desejos. O espírito quando
existindo a partir das realidades formadas por uma consciência primária
está tão perfeitamente interligado ao Todo que nada mais possui nem
deseja.

Agora dá para entender aquilo que está no Novo Testamento e é


atribuído à Jesus, o Cristo: ensinamentos universalistas (não individualistas)
de um espírito superior transmitidos por um ego humano.

Participante: A partir do que foi exposto, como podemos


entender as mensagens trazidas por aqueles que são
chamados de mestres ascensionados?

O que é mensagem de um mestre chamado de mestre


ascensionado, eu não saberia lhe dizer, pois esta determinação a um
espírito é essencialmente humana.

Apesar disso, posso afirmar que o que devemos entender em tudo


na existência carnal é que se trata de uma emanação divina. Tudo que
existe origina-se em Deus (Causa Primária). Por isso, seja que rótulo se dê
a quem transmite uma mensagem, deve-se entender que ali está uma
emanação divina.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 23
Mas, também devemos entender que qualquer mensagem é uma
faca que corta dos dois lados. Ao mesmo tempo em que uma mensagem
transmite um ensinamento, ela cria uma prova. Isso porque toda mensagem
transmite um ensinamento e este é utilizado para criar um "certo" e um
"errado" do qual o espírito encarnado se apropriará e julgará o próximo.

Sendo assim, não importa a que mensagem você tenha tido acesso
- seja de um espírito considerado ascensionado ou de outro qualquer que
não seja reconhecido como tal - é uma orientação e ao mesmo tempo uma
provação.

Voltemos à conversa de hoje. Agora que já entendemos a origem


dos ensinamentos do Novo Testamento, pergunto: qual a essência que está
embutida em cada um deles? Para sabermos isso é preciso compreender
qual foi a missão de Cristo ao transmitir através de Jesus os ensinamentos
universalistas.

Esta missão foi deixada bem clara na Bíblia: transmitir a "boa nova
do Reino do Céu". O objetivo de Cristo durante aquela missão foi trazer à
humanidade a boa notícia do Reino do Céu.

Mas, qual é esta boa notícia? Cristo informou à humanidade que


aqueles que praticarem determinada coisa estarão sentados ao lado direito
de Deus. Esta visão é bem dogmática e, por isso, muitas vezes ininteligíveis
para os seres humanizados de diversas crenças. Por isso, vamos passar
esta informação para nossas palavras, para palavras do universalismo e do
espiritualismo.

A boa notícia que aquele espírito ligado à sua consciência primária


trouxe através de um ego humano foi que o fim das encarnações para
provas e expiações pode ser alcançado por quem seguir determinados
ensinamentos. Isso é, numa linguagem mais moderna, o mesmo que foi dito
ao povo de então quando foi afirmado que há um caminho para se estar
sentado ao lado direito de Deus.
Página 24 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Partindo dessa premissa, podemos afirmar que aqueles que estão
do lado esquerdo são os que ainda se encontram presos ao ciclo de
encarnações. Quem se alinha ao lado direito é aquele que passa a viver no
Reino do Céu, ou seja, não reencarna mais, pelo menos para provas e
expiações.

Essa é a boa notícia do Reino do Céu que um espírito de posse de


sua consciência espiritual revelou através de um ego humano. Ele ensinou
que qualquer espírito pode encerrar o ciclo de encarnações se cumprir
alguma coisa.

Mas, o que é preciso cumprir para estar ao lado direito de Deus?


Cristo deixou isso muito claro: amar a Deus acima de todas as coisas e ao
próximo como a si mesmo. Com isso a boa notícia estava então solidificada:
qualquer um que durante a sua encarnação amar a deus acima de qualquer
coisa e ao próximo como a si mesmo, no desencarne alcançará a
ressurreição, ou seja, a libertação da consciência humana.

Esta é a boa notícia do Reino do Céu. Todos que amarem a Deus


acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, não mais
encarnarão e libertar-se-ão da ligação à egos humanizados.

Ao dizer isso eu estou criando para vocês uma "pedra de roseta":


um código para que vocês possam decodificar todos os ensinamentos do
Novo Testamento. Não importa que palavras estejam na sua Bíblia, o que
está embutido nelas é um caminho para a libertação do ciclo de
encarnações para provas e expiações. Este caminho é composto pelo amor
a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Quando Cristo fala do cego espiritual, ele fala daquele que não ama
a Deus sobre todas as coisas e nem ao próximo como a si mesmo.

Quando ele fala que não se deve julgar, diz que não julgar é amar a
Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 25
Quando ele diz que você deve conviver com o seu inimigo, ele está
dizendo que viver assim é amar a Deus acima de todas as coisas e ao
próximo como a si mesmo.

Veja: sem entender isso, sem colocar esta essência que decodifica
o ensinamento, nós criaremos uma multiplicidade de intenções para os
ensinamentos de Cristo, enquanto ele não teve nenhuma outra intenção a
não ser trazer a boa notícia do Reino do Céu, a não ser dizer para cada um
o que é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Cristo não quer que você tenha visão espiritual, não julgue ou que
conviva com o seu inimigo. Não é isso que ele quer que você faça... Na
verdade ele fala estas coisas porque elas são expressões do amor a Deus
acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, que é o mote de
seus ensinamentos.

Participante: Como é amar a Deus? Pergunto isso


porque não se sabe como é Deus. Como amá-lo então?
Deus seria a vida? Se puder fale um pouco de Deus: sua
forma de agir e como Ele nos ama...

Vou começar a lhe responder pela última pergunta (fale um pouco


de Deus): impossível... O ego humanizado não tem condições de conhecer
a Deus. Falta a ele um sentido para isso.

NOTA: "Pergunta 0010: Pode o homem compreender a


natureza íntima de Deus? Não, falta-lhe para isso o
sentido".

Para o segundo questionamento seu (como é amar a Deus) a


resposta é simples: seguir os ensinamentos do Novo Testamento. Se a
essência da missão deste espírito ligado à sua consciência espiritual foi
ensinar a amar a Deus acima de todas as coisas, fazer isso é seguir aquilo
que ele ensinou.
Página 26 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Cristo ensina: por que vocês se preocupam com o que vão vestir ou
comer amanhã? A partir daí pergunto: o que é amar a Deus? Não se
preocupar com o que vai comer e vestir amanhã.

O mestre deixou um ensinamento que lhe orienta para que quando


alguém lhe peça a túnica você dê o manto também. A partir daí, o que é
amar a Deus? É dar além do que lhe pedem...

Ele diz: se um soldado estrangeiro (seu inimigo) lhe mandar


carregar um peso por um quilômetro, carregue por Deus. Lendo isso
podemos compreender que amar a Deus é fazer pelos nossos inimigos
além do que eles esperam...

Compreendeu? Para saber o que é amar a Deus é só você pegar o


ensinamento e entendê-lo. Por isso afirmei que estou passando a vocês
uma "pedra de roseta", um código para compreender o que é amar a Deus
sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, o que, em essência,
é o que está por trás de todos os ensinamentos do Novo Testamento.

Como ensinou o Espírito da Verdade (pergunta 14 de O Livro dos


Espíritos), não perca tempo criando sistemas que se transformarão em
labirintos dos quais você não conseguirá sair. Não importa que assunto
esteja sendo abordado em qualquer ensinamento da Bíblia: o que sempre
será mostrado é apenas um caminho que reflita o amor a Deus sobre todas
as coisas ao próximo como a si mesmo.

NOTA: "Pergunta 0014: Deus é um ser distinto, ou será,


como opinam alguns, a resultante de todas as forças e
de todas as inteligências do Universo reunidas? Se fosse
assim, Deus não existiria, porquanto seria efeito e não
causa. Ele não pode ser ao mesmo tempo uma e outra
coisa. Deus existe; disso não podeis duvidar e é o
essencial. Crede-me, não vades além. Não vos percais
num labirinto donde não lograreis sair. Isso não vos
tornaria melhores, antes um pouco mais orgulhosos, pois
que acreditaríeis saber, quando na realidade nada
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 27
saberíeis. Deixai, conseguintemente, de lado todos
esses sistemas; tendes bastantes coisas que vos tocam
mais de perto, a começar por vós mesmos. Estudai as
vossas próprias imperfeições, a fim de vos libertardes
delas, o que será mais útil do que pretenderdes penetrar
no que é impenetrável".

Participante: Será se entregar à vida?

É mais do que isso. À vida você não pode deixar de se entregar,


porque na verdade está totalmente entregue a ela. Você acha que domina a
vida, mas na verdade ela lhe leva, ou seja, acontece o que ela quer e não o
que você deseja. Portanto, você não tem consciência disso, mas já está
totalmente entregue a ela.

A partir desta simples constatação, eu diria que amar a Deus não é


entregar-se à vida, mas ter consciência de que você é um barquinho sem
leme e vela que o mar leva para onde quer. Esta é a primeira posição
daquele que ama a Deus sobre todas as coisas, mas existe outra: é preciso
não sofrer por causa deste não comando da existência.

Muitos até alcançam a idéia de que a vida é uma emanação divina,


mas sofrem com a consciência da perda do controle. Como podem, então,
dizer que amam a Deus, já que o amor para existir necessita da felicidade?

Participante: Se a evolução é individual, por que


precisamos buscar Deus? Por que precisamos ter
vontade de Deus?

Eu não falei em buscar a Deus ou ter vontade Dele... Eu falei em


amar a Deus. São coisas completamente diferentes.

A partir daí você poderia me perguntar então: por que precisa amar
a Deus? Eu respondo: não precisa.
Página 28 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Veja uma coisa... Cristo diz: eu sou o caminho e não a realização. O
amar a Deus, portanto, é o caminho para a evolução espiritual e não a
realização. Deixe-me tentar explicar...

Deus é o Universo, é tudo que existe. Quando você ama a Deus,


ama o universal, o Universo, o Todo. É isso que Cristo ensinou. Ele não
disse que se deve amar a Deus, mas amar-se a Tudo.

Mas, por que amar ao Universo, a Tudo, é um caminho para a


elevação espiritual? Porque acaba com o egoísmo, o individualismo. Quem
ama o Todo universal não ama a sai mesmo prioritariamente. Portanto, amar
a Deus é um caminho para destruir o egoísmo...

Seria muita prepotência de Deus dizer: só quando me amar


conseguirá elevar-se... Esta não é pode ser a postura de alguém que prega
a humildade. Além do mais, um amor fundamentado no ganhar alguma
coisa não é amor, mas bajulação.

Na verdade, o sentido do mandamento que constitui a boa nova não


é amar a Deus, um espírito, um ser, mas sim ame a o universal acima do
individual. Isso, todos os mestres falaram...

Vamos além? Por que você não pode ser individual no Universo?
Porque ele fere os outros. O egoísmo de cada um fere o próximo e com isso
não se realiza o segundo item da boa nova: amar ao próximo como a si
mesmo.

Então veja, a elevação não se consegue entregando-se a um deus


que seja uma individualidade, uma imagem ou uma idéia, mas
universalizando-se. Isso é elevação espiritual.

Portanto, a boa notícia do Reino do Céu é de que se pode por fim


ao ciclo de encarnações humanos. Mas, para que isso se torne realidade, é
preciso que o espírito preso a este ciclo caminhe paulatinamente para a
universalização, ou seja, para o amor ao Todo acima de suas próprias
posses, paixões e desejos. Este é um bom resumo para quem quer
entender os ensinamentos do Novo testamento.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 29
Participante: Universalizar-se é identificar-se com o
universal, cm o Universo, ao invés do individual, ego?

Não... Não é identificar-se: é integrar-se. Identificar-se é você se ver


dentro do Universo; integrar-se é você ser ele.

Tem uma figura que foi feita anteriormente que bem define isso. O
Universo é como um quebra cabeça, onde cada espírito é como se fosse
uma de suas peças.

Identificar-se, como você propôs como elevação espiritual, é saber


que é uma parte do quebra cabeça, saber que é uma peça que o compõe.
Mas, isso não lhe faz integrar-se a ele, ou seja, não lhe faz compreender
que sozinho você não vale nada. Universalizar-se é ter a plena consciência
de que você, peça que compõe o todo, sozinho nada vale e assumir o seu
posto fazendo com que o Todo valha alguma coisa.

Integrar-se é ter a consciência de ser uma peça, mas também é


saber que a peça sozinha nada forma. É preciso que cada peça perca seu
individualismo e assuma seu posto junto às outras para que a figura que
surja da fusão tenha sentido.

Identificar-se é saber apenas que é uma peça do todo, mas ainda


possuir individualismo. Integrar-se, é anular o individualismo para que o bem
coletivo sobreponha ao individual.

Participante: O senhor já falou hoje algumas vezes sobre


o Deus personificado. É muito difícil para mim se
desvencilhar do conceito de Deus personificado.
Racionalmente consigo, mas sentimentalmente é difícil.
Cada vez que ajo egoisticamente me sinto culpada por
estar desagradando a Deus, mas não podemos
desagradar a Ele, não é mesmo? Isso me causa muito
conflito...

Realmente no tocante a Deus, existem diferenças de culturas que


transformam a realidade. Para os ocidentais, Deus virou uma pessoa, uma
Página 30 Caminho, Verdade e Luz – volume I
individualidade. Você, como ocidental que é, foi criada com a idéia de um
Deus "homem", espírito, quando ele é mais do que isso: ele é tudo...

Por isso concordo com você: realmente para os ocidentais é difícil


desvencilhar-se dessa idéia. Mas, tem que ir tentando paulatinamente
libertando-se dessa idéia. No entanto, durante este processo de mudança
de cultura você não deve lastimar-se quando errar (não conseguir viver o
Deus Tudo). Quando não conseguir alterar sua visão sobre Deus, não deve
sofrer, porque, afinal de contas, se Deus é tudo, Ele é o próprio erro ou
aquilo que você chama de "errado".

Participante: Eu não sei mais o que pensar... Você diz


que nós não sabemos o que é amar e ao mesmo tempo
diz que temos que amar. Como fazer algo que não
conhecemos?

A sua pergunta é interessante: como fazer algo que não sabe? A


resposta é: deixando de fazer o que você sabe que está fazendo...

Por exemplo: você não vai aprender a amar, mas deve desaprender
de ter raiva, de achar que o carinho é amor, de que o sentimento de mãe
pelo filho é amor... Na verdade todo trabalho de elevação espiritual é de
destruição e não de construção.

Sendo assim, posso dizer que a elevação espiritual não se


caracteriza por aprender a amar, mas deixar de fazer algo que se conhece.
Quando isso for conseguido, o amor surgirá naturalmente.

Na verdade foi o que disse outro dia: o espírito já ama, pois o amor
é a única coisa real no Universo. No entanto, por estar preso ilusoriamente a
um ego humanizado ele acha que está abraçando, que está tendo raiva,
que está sofrendo. Tudo isso ele acha que está fazendo enquanto realmente
está amando...

Portanto, é preciso deixar de achar essas coisas para poder ver o


amar que já faz.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 31
Participante: Tenho alguns alunos japoneses que não
acreditam em Deus. Eles dizem que nunca pensam em
Deus. Isso é algo irreal para mim. Como alguém pode
viver sem pensar em Deus? Como fica a elevação deles
se nem pensam que Deus existe? Eles acham super
estranho como nós pensamos...

Vou lhe dizer algo interessante: eu também não acredito em Deus...


Eu nem penso em Deus... Deixe-me tentar lhe explicar isso...

Por favor, me responda: seu marido está em casa?

Participante: Sim...

Por que, então, você está pensando em deus lá no alto, se Ele está
aí do seu lado?

Veja: você quer pensar em Deus, mas no ser, na individualidade, no


Senhor do Universo, mas tudo é Deus. Portanto, se você pensar no seu
marido, estará pensando em Deus...

Essa é a filosofia de Buda. O budismo originalmente não trabalha


com a idéia de um Deus personificado, que está longe de você e ao qual
deve se dirigir. Para eles Deus está em volta de cada um através de tudo e
todos que existem...

Está vendo um computador em sua frente? Ele é Deus, e por isso


você já está com Ele... Está vendo este livro? Já está com Deus... Mas,
você não vê isso e fica querendo procurar um Deus que esteja lá em cima,
no céu..

.Essa questão passa por aquilo que acabamos de falar: a idéia do


ser ocidental do Deus espírito, homem, individualidade. Seja qual for a linha
doutrinária de um ser humanizado oriental, esta não trabalha com a idéia de
um Deus distante. Para os seguidores de qualquer doutrina oriental Deus
está em tudo que existe ao seu redor, por isso ele não precisa buscá-Lo...
Página 32 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Por isso, me desculpe, mas eu também não busco a Deus: eu
convivo com Ele quando estou com você e todos que me rodeiam; convivo
com Deus com a cadeira onde coloco o corpo que estou usando e com o
pito (cigarro) que utilizo para trabalhar. Por causa disso, lhe digo: não
acredito em Deus...

Eu não acredito neste Deus lá de cima que os egos ocidentais que


criou porque Ele está muito longe para nós O alcançarmos. Ele encontra-se
muito distante de nós que precisamos conviver com Ele...

Eu prefiro conviver com o Deus que está ao meu lado, não


importando o que ou quem esteja ali. Afinal de contas, como já vimos em
diversos estudos, sejam eles fundamentados em doutrinas orientais ou
ocidentais, tudo que existe é emanação do Pai e, portanto, Ele emanado...

Se eu me concentrar em endeusar a cadeira, vou viver com Deus,


convivendo com um elemento material. Este é o grande segredo da
elevação espiritual que o oriental conhece e o ocidental não: é preciso
endeusar (conviver com Deus) divinizando todas as coisas que estão ao seu
redor para promover a reforma íntima. Se você se prende em buscar o Deus
que, para você, está em algum lugar muito longe onde sua consciência não
consegue alcançar, se perde no caminho.

Este é o grande segredo da evolução espiritual que as doutrinas


ocidentais, as doutrinas fundamentadas no Deus individualidade, não
conseguiram passar. Mas, como sempre digo, isso não é erro, mas prova
para cada um.

Verifique as histórias daqueles que segundo estas doutrinas


conseguiram a santidade. Veja se eles não passaram em determinado
momento a divinizar tudo aquilo com o qual conviviam? Foi nestes
momentos que eles encontraram a Deus...

A doutrina era a mesma que você segue, mas eles se libertaram da


interpretação humana e forma mais além, ou seja, venceram a prova. Se
eles conseguiram, você também pode...
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 33
Perguntaram como tinha sido o meu dia. Eu respondi que, como
sempre, foi maravilhoso. Quiseram saber o que era maravilhoso para mim e
eu respondi que era porque eu estive com Deus o dia inteiro... Mas, isso só
aconteceu porque eu me preocupei em cada lapso de tempo em tornar
divinas as coisas que me cercam.

Se eu estou por acaso no meio de uma cena bárbara, divinizo o


quadro que está à minha frente, apesar da interpretação que o meu ego dê
àquela forma que está sendo percebida. Eu não sairei dali mentalmente
para procurar Deus nas alturas: eu conviverei com as idéias e formas
percebidas como emanações divinas, como o próprio Deus.

Recentemente ocorreu um acidente que chocou a população deste


país (queda do avião da TAM em Cumbica). Diante daquele quadro todos
foram procurar Deus lá em cima, no céu, e não encontraram nada, pois
estavam presos às imagens que o ego criou. Se, ao invés disso, tornassem
divino aquilo que estavam percebendo, vivendo, teriam encontrado Deus
nos corpos carbonizados e no monte de entulho...

Na verdade, este estudo de hoje tinha como fundamento falar-se


das bem-aventuranças. Eu, porém, tinha pedido para antes criar um sistema
decodificador para todos os ensinamentos do Novo Testamento. A pedra de
roseta, como disse, é o amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo, mas a única forma para colocar isso em prática é
aprendendo a conviver com as emanações divinas divinizando-as.

Mas, isso não serve apenas para o Novo Testamento, mas para
todo o trabalho da reforma íntima, independente de que doutrina se utilize.
Tem uma pessoa que sempre me pergunta sobre elevação espiritual e,
apesar de ter dado muitas respostas ao longo dos anos, agora posso, enfim,
dar a resposta final: elevação espiritual é a denominação que se dá ao
processo de conviver com a divindade em todas as coisas.

Ela jamais será conseguida simplesmente ficando de joelhos


rezando par um Deus que está lá longe. Preocupem-se em divinizar todos e
tudo que vocês convivem que com certeza encontrarão Deus. Agora, se
Página 34 Caminho, Verdade e Luz – volume I
quiserem encontrar o Deus ser, precisam aprender a construir foguetes e
utilizarem roupas especiais para irem para o céu físico (o Universo) onde
vocês imaginam que Deus está trancafiado...

Já me perguntaram até onde Deus está no Universo, como se o


Todo pudesse ser fragmentado...

Foi isso que Cristo ensinou. A prática do amor a Deus sobre todas
as coisas é alcançada exatamente quando se diviniza tudo aquilo que nos
cerca. Quando você diviniza tudo que lhe cerca, está amando a Deus acima
de todas as coisas.

Participante: Nós espíritos somos partes de Deus ou


criação Dele como filhos, ou é a mesma coisa?

Para lhe responder preciso voltar a um ensinamento que vimos no


estudo do Bhagavad Gita: o Deus ser, o Emanado e as Suas emanações.
Deus, o Espírito Supremo; as individualidades e elementos materiais que
são emanados por Ele; a movimentações destes deuses emanados que são
emanações do Senhor. Pegando estes três deuses que Krishna ensina que
existem como o próprio Senhor, vemos, então que tudo é Deus.

Respondendo-lhe agora, posso dizer que o espírito é emanado por


Deus, gerado pelo Pai, mas faz parte de Deus porque faz parte daquilo que
chamamos deuses emanados. Tudo o que este ser faz é criado
originalmente pelo Senhor, por isso são emanações de Deus.

Sendo assim, o espírito faz parte de Deus como um todo, mas é


uma individualidade diferente do Deus Ser. Trata-se de uma individualidade
gerada pelo Senhor, mas que faz parte daquilo que chamamos de Deus,
porque é um dos deuses emanados.

Aliás, Cristo ensinou: vós sois deuses... Era exatamente neste


aspecto tríplice de Deus que o mestre se baseou para dizer isso.

Por isso afirmo: sem entender perfeitamente a Realidade sobre


aquilo que é chamado de Deus, não há como entender os ensinamentos de
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 35
Cristo. Ele não fala de um deus preso no céu, mas de um Senhor que está
diuturnamente ao seu lado. Mais: em tudo que diz, o mestre nazareno
ensina como divinizar tudo o que está ao seu lado para poder encontrar
Deus.

Participante: Isso é fácil para o "bom" e o "belo", mas


para a violência, injustiça e iniqüidade fica mais difícil...

Claro que sim... Por que isso? Porque você é regido pelos seus
conceitos ao invés de divinizar o Universo do Senhor.

A violência é um conceito humano e não um ato violento, tanto


assim que existem graus de violência. Tem gente que considera algumas
coisas violentas que você não considera. Por isso ela não pode ser
universal...

Tudo o que é universal é eterna e globalmente considerado de uma


só forma. No Universo tudo que não é universal é individual. Portanto, a
violência não é um ato divino, mas uma individualização que alguns fazem
de uma emanação divina.

Então veja: é preciso ir além de você mesmo. Por isso eu disse que
a elevação espiritual consiste em universalizar-se Para isso é preciso que
vá além de você mesmo, além do seu individualismo, que nada mais é do
que uma individualização do que é universal.

Portanto, você considera bárbaro um determinado acontecimento,


mas é uma barbaridade divina e por isso é divino. Isso é amar a Deus acima
de todas as coisas, é viver harmonicamente com a Causa Primária de todas
as coisas...

O resultado prático do ensinamento da resposta número um do


Espírito da Verdade em O Livro dos Espíritos é a divindade de todas as
coisas. Por causa disso você precisa compreender que se quer viver com
Deus, não deve conviver com um ser, um espírito, mas sim com as
emanações deles, divinizando tudo que existe.
Página 36 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Este é o primeiro mandamento ensinado por Cristo (amar a Deus
sobre todas as coisas): aprender a viver com todas as coisas emanações de
Deus, como divindades. A partir disso, pergunto: como se consegue colocar
em prática o segundo mandamento?

Existe uma palavra hindu que é o sinônimo do amar o próximo como


a si mesmo. Esta palavra é "namaste'. Ela é um sinônimo para o
mandamento de Cristo porque quer dizer "o meu divino interior saúda o seu
divino interior".

Para que se possa amar o próximo como a si mesmo é necessário


conviver com cada um com o seu divino interior que está acima das idéias
que o ego cria para você mesmo. É, ainda, conviver com o divino interior
dele e não com as qualificações que o ego gera para aquele ser
humanizado.

Em resumo, amar o próximo como a si mesmo é conviver com o


outro como divino a partir de sua própria divindade. Quando falamos em
divino devemos entender sem máculas, sem qualquer idéia negativa que o
ego cria para qualificar a você e ao próximo.

Foi isso que Cristo disse: você é divino e outro também; por isso
você deve aprender a conviver com o próximo dentro destas características.
Este é o segundo mandamento ao qual o mestre nazareno disse que cada
um deve se esforçar de corpo, mente e alma para realizar.

Mas, para a perfeita compreensão deste tema, precisamos ainda


retirar conceitos humanos, como, por exemplo, os que determinam o que é
ser divino. Como disse acima, tornar-se divino e divinizar o próximo é não
conviver com as idéias negativas que o ego cria para as coisas. Mas,
apesar de dizer isso, não estamos aqui falando em ser "bonzinho", em
seguir os padrões "bom" da humanidade.

Ver-se como divino não tem nada a ver com os padrões humanos
de bondade. Por exemplo: quando você grita, xinga ou briga com o próximo,
estes atos são emanações de Deus. Portanto, são frutos do seu divino
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 37
interior. Quando você tem inveja dos outros é o seu divino interior que está
tendo inveja.

É por isso que Cristo pode referir-se aos seus apóstolos como
"vermes", pode pegar o chicote e sentar no lombo dos mercadores do
templo sem culpar-se. Para o mestre nazareno não existia diferença entre
estas atitudes e as de cura ou de ressurreição de mortos, pois ele sabia que
tudo era emanação de Deus e, portanto, oriundos do seu divino interior.

Tudo que você faz vem do seu divino interior, porque vem de Deus
e, por isso, precisa conviver com tudo o que faz como divino. Para isso é
preciso não se culpar, não se criticar. Mas, o divino interior do outro também
não tem nada a ver com bondade ou estar certo. Tudo o que o próximo
realizar também será oriundo da divindade interior dele e, portanto, também
divino.

Sendo assim, se você briga ou o próximo briga com você saiba que
são só emanações divinas e não atos "errados" ou "maldosos". Torne divino
o seu mau humor e o do próximo, pois aquele estado de espírito foi gerado
pelo Senhor do Universo e é, portanto, o próprio Deus.

Estes são os dois mandamentos que Cristo ensinou - e, acima de


tudo, vivenciou - como caminho para que o ser humanizado entre no Reino
do Céu, ou seja, liberte-se da roda de encarnações para provas e
expiações: tornar divina todas as coisas para poder conviver com o seu
divino interior com o divino interior dos outros.

Aí está o amor universal... Amar a Deus sobre todas as coisas é


tornar tudo divino e amar ao próximo como a si mesmo é aprender a
conviver com todos num plano de divindades que são.

A partir daqui não importa mais que palavras estejam no Novo


Testamento: é preciso divinizar tudo que existe e conviver com este tudo
dentro da propriedade divina que eles contêm. O resto - as letras, as
interpretações, as leis - são só figuras criadas pelo ego. É por isso que
Cristo disse que não veio derrubar a lei, mas dar a ela o real sentido.
Página 38 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Sabe como não matar pode ser um ato de elevação espiritual?
Quando ele for praticado pelo reconhecimento da divindade de cada um. Se
este ato deixar de ser executado apenas pela prisão à letra fria - "lá diz que
eu não posso matar por isso não mato, mas bem que aquele merecia
morrer" - ou para tirar benefício próprio - "se eu não matar vou para o Céu" -
de nada adiantou não ter matado. Melhor seria se houvesse praticado este
ato divinizando-o como Cristo fez ao matar a figueira...

Este é o ensinamento de Cristo, mas também de todos os mestres...


Alcançar esta postura é elevação espiritual. Para isso é preciso promover a
reforma íntima, ou seja, mudar a forma de tratar as coisas (pessoas, objetos
e acontecimentos) do mundo: ao invés de viver aprisionado aos valores
criados pelo ego, conviver dentro das características divinas que tudo
possui.

Participante: Qual a função do ateísmo nos dias de hoje?

Será que, frente a tudo o que falamos, existe ateísmo no mundo


terrestre? Eu acho que não... Vejamos...

O que é um avaro senão um ser que diviniza o dinheiro? Se ele vive


com este elemento como divino ele não é mais ateu... Vocês dizem que são
ateus aqueles que não acreditam no seu Deus, mas se Ele não é aquele ser
que está lá em cima, qualquer um que divinize qualquer coisa está
convivendo com Deus...

Olha, precisamos ser muito claro. Tem certos conceitos que os


seres humanizados não aceitam tocar. Um deles é Deus. Na verdade, Deus
é um conceito que está enraizado no ego de vocês e que não aceitam que
se toque nele.

Ao longo de todos estes anos de estudo muitas pessoas me


disseram que estava muito difícil conviver com a idéia do Deus Causa
Primária, com a idéia que tudo é divino quando se convive diariamente com
atrocidades e desgraças. Por que é difícil conviver com isso?
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 39
Por causa do conceito Deus bonzinho. Deus não é bonzinho: este é
um conceito que os egos ocidentais possuem, ou seja, um carma que
precisa ser vencido por um grupo de espíritos.

Deus é justo, é a própria justiça. Deus é amoroso, é o próprio amor,


mas amar não é satisfazer as necessidades e desejos humanos do ego. Por
isso afirmo: Deus não é bonzinho, mas justo e amoroso e para poder ver
estas coisas é ação é preciso se libertar dos conceitos existentes no ego
para defini-las, pois eles não são universais.

Não se vence uma ferida que está apostemando passando remédio


em cima. É preciso enfiar o dedo no buraco e tirar o carnegão que está lá
dentro. Não se trabalha elevação espiritual sem enfiar o dedo e retirar
completamente o carnegão que está atravancando-a.

Este carnegão, para os egos ocidentais. é o conceito sobre Deus


que eles carregam. O conceito de um deus homem, ser, que mora no Céu e
não se faz presente na Terra. O conceito de um deus que está no Céu, mas
que se submete aos padrões humanos de "certo" e "errado". O conceito de
um deus que só para satisfazer os desejos do ser humano.

Estas são características das doutrinas religiosas do mundo


ocidental. O judaísmo, o cristianismo em qualquer de suas vertentes, o
espiritismo e o próprio islamismo tem essa idéia de um Deus ser que vive no
Céu e está lá para realizar o que o ser humano quer.

Sem enfiar o dedo na ferida e retirar estes conceitos que são


fundamentados nos desejos humanos, não se vence elevação espiritual.
Para se alcançar a Deus é preciso se conviver com Ele. Mas, para isso,
você não deve apenas se prender aos momentos de oração aos céus, mas
conviver com as emanações do Senhor que estão ao seu redor.

A bagunça é divina, a dor e o sofrimento são divinos, a fome é


divina e a ganância também. Conviver com Deus em tudo e tudo com Deus:
sem isso não se consegue a elevação espiritual.
Página 40 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Não estou falando em conviver com o Deus ser, aquele espírito que
pensa, que realiza as coisas de caso pensado. Exata é a visão de vocês:
Deus é um ser que faz as coisas para maltratar, para machucar...

Não, esse Deus não existe. O que existe é o Universo e ele é Deus,
é divino. Pouquíssimos espíritos podem alcançar este ser que vocês que
querem alcançar, inclusive eu. Por isso tenho que conviver com aquilo que
Ele me dá, aplicando a elas as suas características divinas: Justiça e Amor...

É isso que está no poema "Pegadas na Areia". Deus está sempre


caminhando ao seu lado. Isso você consegue ver, como disse alguém hoje,
nos momentos onde seus desejos são realizados. Mas, Ele também está lá
quando isso não acontece: é você apenas que não vê as pegadas Dele.

Na verdade, o que você não vê são as suas pegadas, pois está no


colo. É Ele que está deixando rastros no chão e não você...

Acho que agora podemos ver as bem-aventuranças, não?

Felizes os que sabem que são espiritualmente pobres,


pois o Reino do céu é deles.

Dentro do que falei hoje, quem são os felizes? Quem são os


espiritualmente pobres? Aqueles que sabem que tudo é Deus. Aqueles que
divinizam tudo o que acontece. Ele é pobre espiritualmente porque tem a
consciência que tudo é muito mais potente que ele. Tudo é muito mais rico
em divindade. Esses não reencarnarão: continuarão vivendo no Reino do
Céu.

Felizes os que choram, pois Deus os consolará.

Felizes os que choram, ou seja, os que divinizam o choro. O choro é


parte da vida. Ele não é algo fora da vida, mas um elemento que faz parte
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 41
da vida e, portanto, é uma emanação de Deus e por isso é divino. Se eu
divinizo o meu choro, eu me sinto consolado por Deus. Eu choro, mas por
dentro estou em contato com a divindade.

Felizes os humildes, porque receberão o que deus tem


prometido.

Quem é humilde? É aquele que não possui as coisas. Por que ele
vive assim? Porque sabe que tudo é de Deus. Para isso ele precisa divinizar
tudo. Aquele que age assim receberá tudo o que deus tem para lhe dar, que
é a felicidade incondicional.

Felizes os que têm fome e sede de fazer a vontade de


Deus, pois ele os deixará completamente satisfeitos.

Felizes aqueles que tornam divinos tudo aquilo que ele vivencia,
pois Deus os deixará completamente satisfaz, não importando o que o ego
diz que está acontecendo. Infeliz é aquele que diviniza o que o ego afirma
que está acontecendo. Estes não receberão satisfação de Deus...

Sabe o que é divinizar aquilo que o ego diz que está acontecendo?
É acreditar como real e verdadeiro tudo o que o ego diz que sabe, que
conhece, que está "certo" ou "errado"...

Felizes os que têm misericórdia dos outros, pois deus


terá misericórdia deles também.

Felizes os que divinizam o que os outros fazem, pois Deus o


divinizará também...
Página 42 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Felizes os que têm coração puro, pois eles verão a
Deus.

Felizes os que só vivem um mundo de emanações de Deus, um


mundo divino, pois eles verão Deus. Não lá em cima, mas aqui, ao seu lado.

Quando você diviniza as coisas, passa a ver Deus nelas.

Felizes os que trabalham pela paz entre as pessoas,


pois Deus os tratará como seus filhos.

A paz é o desarmamento. As armas que cada um usa para acabar


com a paz são os conceitos humanos que determinam valores não divinos
para as coisas, pois eles são fruto do egoísmo, do individualismo, que é
característica primária dos egos humanos.

Portanto, felizes são os que trabalham para tornar tudo divino,


superando as suas próprias armas, libertando dos seus conceitos.

Felizes os que sofrem perseguição por fazerem a


vontade de Deus, pois o Reino do Céu é deles.

Felizes aqueles que, por viverem de uma forma divina com as


coisas, são caluniados, chamados de bobo, criticados, acusados. Isto
porque estes viverão um mundo à parte onde a glória de Deus estará
sempre presente.

Não foi isso que aconteceu com todos aqueles nos quais vocês
reconhecem santidade? Veja o Chico - Xavier ou de Assis - e me diga se
eles não viviam um mundo à parte, um mundo onde tudo era emanação
divina? Se isso é verdade, porque não seguem o exemplo deles?
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 43
Pronto: está aí o estudo das bem-aventuranças que me foi pedido
no início de nossa conversa de hoje. Mas, não fique por aqui...

Agora pegue qualquer outro ensinamento do Novo Testamento e


veja se não é este o ensinamento de Cristo. O mestre veio trazer a boa-
notícia do Reino do Céu e disse que o caminho para se retornar à pátria
espiritual é a prática do amor.

Este ensinamento até muitos já deveriam ter alcançado, mas nunca


entenderam o que é amar. Amar é isso: é divinizar tudo, todos e qualquer
coisa que aconteça.

Esta é a pedra de roseta que pode lhe levar a aprender a ser


cristão, ou seja, a seguir o caminho a luz e a vida que leva a Deus.
Página 44 Caminho, Verdade e Luz – volume I

Quem entra no Reino do Céu

Nem todo o que me chama ‘Senhor, Senhor’ entrará no


Reino do Céu, mas somente aquele que faz a vontade
do meu Pai que está no céu. Quando aquele dia chegar,
muitos vão me dizer: ‘Senhor, Senhor, em seu nome
anunciamos a mensagem de Deus e pelo seu nome
expulsamos muitos demônios e fizemos muitos
milagres!’ Então eu responderei: Nunca os conheci.
Afastem-se de mim, vocês só fazem o mal.

Neste trecho, Cristo designa aqueles que entrarão nos Reino dos
Céus, mas antes de começarmos a falar deste caminho ensinado pelo
mestre, busquemos compreender o significado do termo “Reino do Céu”.

Para os seres humanos ocidentais daquela época, havia,


espiritualmente falando, o céu, a Terra e o inferno. Só após Kardec e os
ensinamentos do Espírito da Verdade é que as subdivisões do mundo
espiritual ficaram conhecidas entre os seres humanos.

Portanto, o céu daquela época pode ser comparado ao que hoje é


conhecido como plano espiritual positivo, onde existem as chamadas
“cidades espirituais” e os espaços entre elas. Mas, não será neste sentido
que entenderemos o termo “Reino dos Céus”.

Para nós do Espiritualismo Ecumênico Universal que estamos


buscando alcançar o monismo (perfeita integração do Todo no Um), o termo
Reino do Céu refere-se ao próprio Universo. Ao local de habitação de
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 45
espíritos que não estão mais apegados aos Cinco Agregados que nos
ensinou Buda. Portanto, a prática do ensinamento de Cristo neste trecho –
assim como o de Buda, Krishna e outros mestres já foram vistos – serve
como orientação para o ser universal agora humanizado atingir a unidade
com Deus.

Voltando à palavra de Cristo, podemos afirmar que quem alcança a


unidade com Deus é aquele que faz a vontade do Pai. Ou seja, aquele que
tem Deus como causa primária das suas coisas.

Este é o ensinamento fundamental deste texto: só se atinge a


unidade com Deus através da prática da entrega das criações ao Criador,
abstendo-se, portanto, de imaginar-se como tal ou de ver outro criando
qualquer coisa.

Mas, não foi esta a primeira vez que Cristo falou do caminho para
se unir a Deus. Anteriormente ele já havia dito: eu sou o caminho, a verdade
e a vida – ninguém chega a Deus a não ser através de mim. Juntemos
agora os dois ensinamentos.

Chegar a Deus através de Cristo não é conseguido pela adoração a


ele. Em diversos momentos o mestre sempre afirmou que se tratava apenas
um enviado de Deus e que tinha como missão transmitir a Boa Nova e o
caminho para alcançá-la.

Cristo, no entanto, não somente ensinou o caminho para unir-se a


Deus, mas o vivenciou. A prova desta vivência é o resultado de sua
encarnação: a ressurreição, a união perfeita ao Pai.

Portanto, para se chegar a Deus não se deve idolatrar o mestre ou


seus seguidores, mas viver uma vida semelhante a que ele viveu. Não digo
em atos, pois os dias de hoje são diferentes neste aspecto, mas em
essência. O caminho para se chegar a Deus é viver os acontecimentos da
vida com a mesma essência com que Cristo vivenciou os seus.
Página 46 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Qual a essência da vida de Cristo? Como ele vivenciou os
acontecimentos de sua existência? Amando a Deus acima de todas as
coisas e ao próximo como a si mesmo.

Agora nossa resposta está completa: para se unir perfeitamente a


Deus é preciso amá-lo acima de todas as coisas e ao próximo como a si
mesmo. Aliás, o próprio mestre nazareno já tinha deixado isso muito bem
claro quando ensinou os dois mais importantes mandamentos para que um
ser humanizado possa aproveitar a sua encarnação e promover a reforma
íntima.

Sabedor da importância da prática destes ensinamentos é que ele


disse: estes são os dois maiores mandamentos, aos quais vocês devem se
entregar de corpo, mente e alma.

Voltando, então ao nosso texto de hoje, pergunto: como entrar no


Reino dos Céus? Fazendo a vontade de Deus com AMOR. Só isso. Foi isso
que Cristo ensinou nestas e em todas as palavras que proferiu.

Mas, neste texto ele fala mais: “nem todos aqueles que me
chamarem Senhor, Senhor, eu falarei por eles no reino de Deus”. O que quis
Cristo dizer com isso?

Quis dizer que não adianta o ser humanizado ir para igreja e rezar:
isso não o faz integra-se ao Todo. Não adianta fingir que gosta de Cristo (se
dizer cristão), não adianta praticar todos os rituais que a sua religião manda
– como acender vela, fazer oração, jejuar, guardar o sábado, etc. – sem
fazer a vontade do Pai com AMOR. Isso não levará a lugar algum...

Não adianta ser o primeiro a chegar e o último a sair em qualquer


templo porque Cristo não falará por você. Não adianta marcar presença em
todos os cultos: isto não lhe levará a promover a reforma íntima. De que
adianta se freqüentar um culto um ou duas vezes por semana e depois não
viver o resto da semana amando a Deus acima de todas as coisas e ao
próximo como a si mesmo?
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 47
Ainda falando de religião, há outro detalhe para aquele que
pretende aproximar-se do Pai. Cristo não tinha religião... Portanto, o
caminho que leva a Deus não passa por nenhuma religião, mas pela prática
constante do AMOR.

Para a realização do trabalho que leva à reforma íntima, não adianta


freqüentar uma religião, pois a elevação espiritual não se consegue com o
contato com os ensinamentos ou presença aos cultos de uma religião. Ela é
fruto da vivência dos acontecimentos com a consciência de estar vivendo a
vontade de Deus. Mas, mesmo esta consciência ainda não é a totalidade do
trabalho, pois o conhecimento sem ação é nulo. A ela precisa ser acrescida
o ‘amar’...

A compreensão de que apenas a freqüência a um determinado culto


ou o apego a uma doutrina não confere por si só o resultado esperado, está
bem claro neste texto de Cristo. Quando ele fala daqueles que o chamam
de Senhor e afirma que não falará por eles, está se referindo àqueles que o
idolatram.

Ele está falando daqueles que freqüentam ou têm igrejas, templos


ou casas espíritas, onde o amor universal não é a base do lugar. Fala
daqueles que se consideram “certos”, “puros” e que condenam e criticam os
outros, apropriando-se do próprio Cristo como seu.

Repare que para Cristo o amor incondicional supera tudo, mesmo


os chamados benefícios que um ritual religioso pode trazer. Para Cristo
amar universalmente é mais importante do que expulsar demônios ou fazer
milagres, ou seja, trazer benefícios para a vida do ser humanizado. Isto ele
deixa bem claro quando afirma que nem os que arrolarem estes benefícios
em seu currículo serão atendidos, se não houverem amado a Deus acima
de todas e ao próximo como a si mesmo.

Agora, quando o ser humanizado se conscientizar da ação da


Causa Primária em suas vidas e vivenciá-las com AMOR, Cristo falará por
eles, agirá em seu benefício. Mas, enquanto este ser não praticar isso, por
Página 48 Caminho, Verdade e Luz – volume I
mais que se dedique aos cultos ou que traga benefícios para os outros,
Cristo não falará por ele.

Portanto, foi isso que Cristo ensinou: para se chegar ao Reino do


Céu (atingir a unidade com o Pai) é necessário que se vivencie os
acontecimentos da existência compreendendo que tudo é fruto da Vontade
de Deus, que é o Amor em ação. É preciso sentir-se amado pelo Pai a cada
instante, independente da compreensão que tenha sobre o acontecimento,
mas ainda é preciso amar o amor de Deus.

Ou seja, para se alcançar a unidade é preciso estabelecer uma


ligação constante de amor entre você e Deus: amar e sentir-se amado....

Foi isso que Jesus quis dizer não só nesta passagem, mas em toda
a sua pregação. Vamos falar muito mais sobre esta conclusão nos demais
estudos deste livro, mas este é o ponto fundamental de tudo o que iremos
dizer ainda.

Por agora, aproveitando este ensinamento, falemos de um aspecto


que está bem nítido aqui: não é um religioso fervoroso que vai entrar no
Reino do Céu.

A partir do ensinamento do mestre, podemos afirmar que o acesso


ao Reino do Céu (conseguir a elevação espiritual) pode ser, inclusive,
franqueado para aquele que nem mesmo acredite em Deus: basta ter
AMOR no coração. Se o ser humanizado amar os acontecimentos de sua
existência carnal sem se apegar às suas paixões, desejos e posses, mesmo
que não saiba que eles são frutos da Vontade de Deus, alcançará, ao
acabar a encarnação, o Reino dos Céus, a unidade com o Pai.

Entretanto, para aqueles que, mesmo freqüentando regularmente os


cultos e praticando os ritos de sua doutrina, se achem muito sábios -
conhecem “certo e o errado” – e por isso imaginam que podem julgar os
outros, de nada adiantou a sua religiosidade. Para aqueles religiosos
fervorosos que ainda imaginam que os seus desejos, paixões e posses são
mais importantes do que a Vontade de Deus, o Reino dos Céus está longe...
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 49
Claro que estes ainda poderão reencarnar diversas vezes e assim
conseguirem realizar um dia o caminho que leva ao Reino dos Céus. Mas, a
espiritualidade como um todo vem avisando: um novo tempo está
nascendo...

Neste novo tempo não haverá lugar no orbe terrestre para aqueles
que ainda não aprenderam a amar a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como a si mesmo. Por isso, estas novas encarnações não se darão
mais neste planeta, mas este ser terá que reiniciar toda a sua caminha em
outro orbe, em outro mundo de provações.

Baseado nisso que estamos falando, fica aqui um recado para as


casas espíritas, para as igrejas e para os templos evangélicos ou orientais:
de nada adianta transmitir ensinamentos (doutrinas) que se fundamentem
em idolatria a mestres ou que criem o “certo e o errado”. É preciso ensinar
aos seres humanizados a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo em todos os acontecimentos da existência carnal. Isso
para que Cristo e os trabalhadores espirituais possam falar por vocês
quando disserem “Senhor, Senhor”.

Os que ensinam desta forma ou participam de doutrinas que


contenham esta propriedade, são como os “professores da lei” citados por
Cristo. A estes, deixo um recado: aprendam com Paulo. Ele foi o exemplo de
um professor da lei que aprendeu no mais alto céu, como ele mesmo cita,
que o AMOR de suplantar todo e qualquer código normativo.

Apesar disso ter ocorrido com Paulo há mais de dois mil anos e todo
o seu ensinamento está estampado na Bíblia Sagrada, ainda hoje muitas
casas de oração, independente de religião, ainda discutem a “posse” de
Deus. Estas casas não conseguem trazer o AMOR porque acham que o
mais importante é ensinar as leis de Deus (códigos normativos que criam
padrões certos de comportamento), fazer milagres, curar e expulsar
“demônios”.

Não importa o que cada religião faz (culto): o importante é ensinar a


amar...
Página 50 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Para isso o fundamental é levar o ser humanizado compreender,
como ensinou Cristo em diversas vezes, que Deus é a Causa Primária de
todas as Coisas. Sem essa compreensão o amor incondicional jamais será
alcançado, pois as posses, paixões e desejos não deixam o ser humanizado
amar universalmente.

Veja: não é necessário se ensinar a lei de Deus para quem conhece


a verdade da Causa Primária. Isto porque Deus não se baseia no “certo e
errado”, mas na Justiça e no AMOR. Além do mais, quem conhece o AMOR
de Deus em ação, já conhece toda a lei na essência.

NOTA: Esta afirmação prende-se a um ensinamento de


Cristo onde ele afirma que não veio mudar a lei, mas
ensinar o real sentido dela, que será objeto de estudo
mais tarde.

Para que fazer milagres para quem já alcançou a sintonia amorosa


com Deus? Aqueles que aprenderam a amar a Deus acima de todas as
coisas e ao próximo como a si mesmo, já calaram em si a voz das paixões,
posses e desejos e por isso não precisam, esperam ou querem milagre
algum...

Como expulsar “demônios” de seres que apenas amam? Quem


compreende e busca trilhar o caminho do Reino dos Céus não tem inimigo,
neste ou em outro mundo, pois ama a todos indistintamente...

Assim sendo, não há necessidade de tanto misticismo nem de


tantos ritos nas religiões. Quando elas incorporarem aos seus ensinamentos
o real caminho para o Reino dos Céus, o ser humanizado que é fiel a ela
viverá com Deus no coração e reagirá amorosamente a todos as
acontecimentos.

Quem chega a esta consciência não precisa de mais nada. Ele não
precisa de vela, de psicografia, de incorporação, de médium... Ele não
precisa de nada porque já tem tudo: Deus...
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 51
Este ensinamento do Novo Testamento, apesar de existir a tanto
tempo, nunca foi observado por este ângulo. As doutrinas religiosas sempre
ensinaram a necessidade de se fazer a vontade de Deus com amor, mas a
isso foi acrescido que esta forma de proceder só seria alcançada quando
houvesse a submissão aos códigos normativos da religião.

Para estas pessoas Cristo deixou o aviso neste texto (“Não são
todos que me chamarem Senhor, Senhor, que eu falarei por eles frente ao
Pai”), mas parecem que eles não leram...

Foi esta reflexão que Cristo deixou bem gravada neste texto: aquele
que entra no Reino do Céu é o que vivencia a vontade do Pai amando...

Este ensinamento não foi só para ontem, quando Cristo vivia


encarnado, mas também para a eternidade. Ontem o mestre falou
diretamente com os professores da lei e ensinou Saulo, mas parece que
eles não aprenderam, pois até hoje estão vivendo as mesmas hipocrisias
descritas na Bíblia.

NOTA: Refere-se ao capítulo bíblico Jesus e os


Hipócritas, que também será estudado neste livro.

Mas, nós não nos esquecemos e, por isso, voltamos ao tema hoje.
No entanto, assim como quando o mestre falou para os professores da lei
de então, nós também não estamos criticando ninguém. Amamos os
senhores dos templos modernos como irmãos espirituais que são, mas
precisamos ensinar o que Cristo disse.

Como já afirmamos, é preciso se viver cada acontecimento como


fruto da Vontade de Deus. Portanto, se os daquela época ou os de hoje
agiram assim, esta era a Vontade de Deus. Mas, se também estamos
conseguindo agir na forma como falamos hoje, esta também era a Vontade
de Deus.

Portanto, só nos resta amar aos professores da lei e a eles nos


amar, para que possamos todos entrar no Reino do Céu...
Página 52 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Por isso digo... Se você freqüenta uma religião, continue indo. Isso
não é “ruim” nem “errado”. Agora, saiba que é necessário viver vinte e
quatro horas por dia, independente de estar lá ou não, amando a Deus
acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

É preciso que se entenda isso. É preciso que se entenda que a vida


é uma só: espiritual. Que não existe a vida material e o “ser humano”: a
única coisa que é Real no Universo é DEUS e Sua ação, que comanda
todos os espíritos e que cria tudo que acontece.

Vamos mudar um pouco de assunto. Até agora nesta mensagem de


Cristo falamos dos professores da lei religiosos. No entanto, este mesmo
ensinamento pode ser aplicado na vida não religiosa. Senão vejamos...

Quem diz para você senhor, senhor, ou seja, lhe louva? Aqueles que
vivem lhe bajulando, que dizem amém ou têm um elogio para tudo o que
faz. Você acha que estes são os seus grandes amigos?

Quando Cristo ensina que não vai falar a Deus (engrandecer) pelas
pessoas que lhe bajulam, também está ensinado você a abrir os olhos com
relação a isso na sua vida material. Está lhe dizendo que os que lhe bajulam
não são na verdade seus amigos.

Seu amigo não é aquele que vem passar a mão na sua cabeça,
mas, na maioria das vezes, aquele que briga com você. É quem aponta os
seus erros e defeitos, da mesma forma que você age com os outros. Aquele
que grita o está avisando que um dia você gritou com outra pessoa...

A vida do ser humanizado é como se fosse uma peça de teatro:


Deus escreve um “script” onde outras pessoas entrarão em “cena” para lhe
apontar os erros.

NOTA: Para melhor entendimento deste texto ver o texto


“Função Espelho” que está no livro “Visão Universal -
Volume III – Palestras” também do Espiritualismo
Ecumênico Universal.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 53
As palavras que as pessoas falam, nada mais são do o enredo de
uma história criada por Deus. Mas, como o Pai é incapaz de outra coisa a
não ser amar, estas palavras não se tratam de ofensas ou acusações, mas
servem apenas para lhe mostrar os momentos onde não agiu com AMOR.

Enquanto você não perceber que “grita” com os outros, vai haver
sempre um que chegará à sua frente e “gritará” com você. Enquanto não
notar que aponta os erros dos outros, sempre haverá um que apontará os
seus erros.

Enquanto não verificar que ofende os outros, haverá alguém que o


ofenderá. Enquanto não perceber que não é justo, ou seja, protege um em
detrimento de outro, mesmo que este um seja você mesmo, sempre alguém
lhe desprotegerá para proteger outro. Esta proteção será sempre dada para
aquele que você acha que não tem o merecimento para ser protegido.

Isto é a ação de Deus. Esta é lei da ação e da reação. Isto é a


Justiça ocorrendo a cada segundo... É, também, a forma de Deus falar com
você e ensiná-lo de que está andando em desacordo com o caminho que
leva ao Reino do Céu.

Os mandamentos deixados por Cristo são muito claros: basta


apenas amar... Entretanto, a humanidade quer inventar leis, normas,
códigos de ética, de educação que regulamente a vida do outros... Isto não
é cristão, amoroso...

Baseado nestas leis, a humanidade julga-se no direito de apontar


erros dos outros. Só que não sabe que existem outros apontando os seus
próprios enganos ao proceder fundamentado nestas leis.

Não acredite que todos que lhe chamam de senhor, Senhor, que
dizem “amém” a tudo o que você faz. Não acredite que esses são seus
amigos, pois são os seus inimigos. Estes, na verdade, são os primeiros a
serem utilizados por Deus para fazer a fofoca sobre você, se isso for
preciso.

Neste trecho tão pequeno da Bíblia Cristo falou tanta coisa, não?
Página 54 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Mandou recado para a vida particular dos seres humanizados em
geral e para os religiosos especificamente. Disse maravilhas só neste trecho
e sobre ele poderíamos ficar falando horas, dias e nunca esgotaríamos este
assunto.

Apesar disso, pouco se ouve falar destes ensinamentos. Por que


isso? Porque algumas religiões acham que apenas “partes” da Bíblia estão
certas, outras não... Por que não estudar o Evangelho? Por que não ver o
que Deus fez? Por que não entender a lição que Cristo trouxe?

A maioria daqueles que não acreditam na Bíblia agem desta forma


porque estão preocupados em “aparecer” fazendo milagres, expulsando
“demônios” ou aprendendo a língua dos anjos (conhecimentos técnicos
espirituais). No entanto, são eles que mais precisavam ouvir isso, pois foi
para eles que Cristo disse: não adianta você se dizer muito religioso ou
sábio, porque o que realmente adianta é ser submisso a Deus e viver a vida
apenas amando.

É isso que todos os espíritos precisam alcançar para entrar em


comunhão com Deus. Como interpenetrar no todo quando ainda existe uma
individualidade ativa? Somos todos filhos do Pai e não Ele mesmo. Ninguém
é deus ou rei de nada. Todos somos filhos de Deus e moramos no mundo
Dele. Habitamos na casa Dele, comemos da comida que Ele nos dá...

Apesar de saber que é filho de Deus e que está vivo (encarnou)


apenas para realizar um trabalho de aproximação a Ele (interpenetrar no
Todo), os seres humanizados não estão preocupados com o que o Pai
espera deles: sua única preocupação é com o que quer para si mesmo.

Um ser humanizado pode até atingir, dentro da visão humana, uma


existência onde apenas vivencie atos que se digam “santos”, mas se
durante eles não estiver em perfeita sintonia amorosa com Deus, nada terá
conseguido. Neste caso, de nada adiantará todo senhor, senhor, com o qual
ele viveu, pois Cristo não falará por este ser universal...
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 55

Amor e paixão

Mas eu digo a vocês que estão me ouvindo: amem os


seus inimigos e façam o bem aos que odeiam vocês.
(Evangelho de Lucas – Capítulo 6 – versículo 27)

Hoje, vamos falar sobre a questão do amar... Não um amar


qualquer, mas o amar como Cristo ensinou: o amar universalmente.

Em outras vezes já me perguntaram muitas vezes sobre a questão


de amar. Por isso hoje vamos tentar deixar bem claro o que é o amor
universal, aquele que é absoluto, como já vimos, e que não é entendido por
vocês.

Já neste primeiro texto do estudo de hoje encontramos um


direcionamento para este amor quando Cristo diz: ame os seus inimigos e
faça o bem aos que odeiam vocês. Este é um parâmetro estabelecido pelo
mestre para que o amor exista... Mas, não é assim que os seres
humanizados, mesmo os religiosos, amam...

Quando o ser humanizado ama, o faz de uma forma relativa. Ou


seja, para o mundo carnal, o amor é compreendido como um sentimento
que se deve ter por algumas pessoas que, dentro do critério do ser
humanizado, são julgadas como merecedoras de recebê-lo.

O amor humano é relativo, porque dentro desta seleção que o ser


humanizado faz, ele descobre outros que não devem ser amados... Ou seja,
Página 56 Caminho, Verdade e Luz – volume I
o ser humano imagina que há pessoas que são merecedoras de receber o
amor e outras que não são...

Interessante isso... Interessante porque o julgamento que determina


quem merece ou não ser amado é feio pelo próprio ser humano, como se
ele tivesse a competência para julgar o próximo...

O amor que Cristo ensina, o amor universal, é um sentimento que


extrapola julgamentos ou motivos para existir. O amor crístico, do espírito, é
aquele que não vê quem está recebendo este sentimento; não se preocupa
se quem está recebendo merece ou não.

O amor universal ama indiscriminadamente... O amor universal ama


incondicionalmente...

Eis aí, portanto, um detalhe sobre o amar: ela é uma atividade sem
interlocutor, sem receptor específico. Quem quer amar universalmente não
pode amar a alguém específico e nem amar porque, como, quando ou onde.

O amor universal é aquele sentimento que o espírito dedica ao


Universo, ou seja, a todos os elementos existentes e o faz o tempo inteiro e
não apenas em momentos onde julgue que este sentimento deva existir.

Participante: Estava falando com uns amigos e eles


disseram que existiam diversos tipos de amor. Eu ouvi e
depois fui pegando as palestras anteriores e as li.
Posteriormente lhe fiz diversas perguntas e vi que existe
apenas um amor verdadeiro: o amor universal, o amor
de Cristo. Vi também que existe o pseudo-amor, aquele
que é baseado no ego, ou seja, a paixão. O que você
acha deste raciocínio?

Perfeito... Só, por favor, não acredite que existem diversos amores
ou diversos tipos de amor, nem que seja sobre o título de pseudo-amor.

Como já vimos, só uma coisa é Absoluta e, por isso, só ela pode ser
chamada de Real. Sendo assim, só existe um Amor que merece este título:
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 57
aquele ensinado por Cristo. O resto são paixões geradas pelo ego e que
são rotuladas por esse como amor.

Amor e paixão: esta é a diferença que eu quero colocar no que você


falou.

Só existe um amor: as paixões são ilusões, irreais. Como isso,


porém, não quero dizer que ter paixões é algo “errado”, já que elas são
inerentes ao ser humanizado, pois representam os carmas necessários para
a provação do espírito.

Ter paixões, então, não é “errado”. Agora chamá-las de amor e, com


isso, dizer que existem diversos tipos de amor é vivenciar o relativo como
absoluto. Isto não lhe leva a lugar nenhum no sentido da elevação espiritual.

Portanto, é exato o que você está falando. Aliás, foi por causa de
suas perguntas que escolhi para hoje o tema amor e paixões. Vamos
desmistificar a questão do amor.

Hoje vamos começar a compreender que existe um único amor que


não é nada do que os humanos chamam de amor. Aliás, por muitas vezes o
amor crístico fere as condições de amar que são criadas pelos seres
humanizados.

Quando Cristo diz que você deve amar o seu inimigo, por exemplo,
ele está dizendo: não tenha paixão pelo seu amigo, porque se tiver, ou seja,
for apaixonado por uma amizade, não conseguirá amar o inimigo... Mas, ser
amigo é uma das condições para amar que os humanos impõem, não é?

Este é o aspecto que a humanidade não entende sobre o amor.


Alguns seres humanizados querem amar o inimigo como Cristo ensinou,
mas querem fazê-lo mantendo separados os amigos dos inimigos, ou seja,
querem viver de forma igual paixões positivas e negativas.

Isso é impossível. Eles acabam amando a paixão positiva e não


desejando a paixão negativa.
Página 58 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Por isso é preciso acabar com algumas hipocrisias a respeito do
amor. Quem ama, ama a todos e o tempo inteiro. Quem ama apenas alguns
momentos e apenas alguns elementos, tem paixões e não amor...

Desejem o bem para aqueles que os amaldiçoam e


façam orações em favor daqueles que maltratam vocês.
Se alguém lhe der um tapa na cara, vire o outro lado
para ele bater também. Se alguém tomar a sua capa,
deixe que leve a túnica também. Dê sempre a qualquer
um que lhe pedir alguma coisa; e, quando alguém tirar o
que é seu, não peça de volta. (Idem – versículos 28 a
30).

O amor – preste bem atenção nisso – não cria propriedades


individuais...

O amor verdadeiro não gera propriedades para quem ama. Não o


faz sentir-se proprietário daquele ou daquilo que ama.

O amor Real, o Universal, o de Cristo, não gera posse... Isto porque


a posse em si já é um condicionamento da existência do amor. Com isso
encerrou-se o caráter universal deste sentimento que os humanizados
chamam de amor. O amor que contém expresso em si posses não é amor,
mas paixão.

Quem ama de verdade, de Realidade, não possui o objeto desse


amor. Mas, o que é possuir? É querer definir o destino e a ação do objeto ou
pessoa possuído...

A posse sob o objeto material se traduz por paixões como estas: é


minha casa, tem que estar arrumada do jeito que eu quero... É meu carro
tem que estar sempre funcionando e não pode bater... É minha televisão,
toda vez que apertar o botão tem que funcionar.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 59
A posse sobre os outros ocorre quando, a partir da paixão, o ser
humanizado espera do outro atitudes que ele quer receber... Ou seja,
espera que o seu amigo, marido, mulher, parentes, lhe seja fiel...

A posse leva o ser humanizado a esperar que as outras pessoas


concordem sempre com ele e estejam preocupadas em fazer aquilo que ele
gosta, quer ou acha “certo”. Isto não é amor e se você diz que ama essas
pessoas, isso é ilusão: você não ama, mas tem paixões.

O amor universal não cobra nada de ninguém. O amor universal


pelos objetos existe quando elas funcionam ou não, quando elas estão do
jeito que o ser humanizado queria que estivessem ou não. O amor universal
com as pessoas não exige comportamentos ou atitudes pré-estabelecidas e
esperadas para existir.

É isso que está, vamos dizer assim, por trás deste comentário de
Cristo...

Vocês estão cansados de ler o ensinamento que diz que tem que se
amar o inimigo, mas ainda não entenderam que o simples fato de terem
amigos prova que não amam ninguém, mas só a vocês mesmos.

Só amam a si mesmo porque condicionam o amor ao atendimento


que esta pessoa ou objeto faz às suas condições pra amar... Amam quem
lhes satisfaz e enquanto esta satisfação acontecer. Quando a pessoa ou
objeto não mais estiver realizando seus desejos positivos ou lhe ajudando a
escapar dos seus desejos negativos, você não vai mais querer saber dela,
não mais a amará...

Como disse, hoje queremos desmistificar esta questão de amor.


Para isso vou lhes dar um conselho: parem de dizer eu lhe amo... Isto é
falso.

Parem de achar e imaginar que são bonzinhos e amam os outros,


porque isso é falso. O amor que imaginam que dão é apenas uma sensação
criada pelo. É um amor racional, um amor fundamentado em paixões. Na
verdade, tais sensações existem para que o espírito possa provar a si
Página 60 Caminho, Verdade e Luz – volume I
mesmo que ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si
mesmo...

Esqueçam... Esqueçam que amam alguém para não viverem a


hipocrisia que Cristo falou dos professores da lei. Declarem expressamente
que não amam ninguém, porque, nesta hora, pode ser que comecem a
amar o Universo.

Façam aos outros a mesma coisa que querem que os


outros façam a vocês. (Idem – versículo 31).

Esta é a base do amor universal. Amar universalmente é dar o que


você espera receber...

Você quer receber carinho dos outros? Dê carinho a todos...

Você quer receber amizade dos outros? Dê amizade a todos...

Quer receber compreensão dos outros? Compreenda a todos...

Sabe por que? Ouça o que Cristo diz...

Se vocês amam aqueles que os ama, por que esperam


alguma recompensa divina? Até as pessoas de má fama
amam os que têm amor por elas. E se vocês fazem o
bem somente àqueles que lhes fazem o bem, por que
esperam alguma recompensa divina? Até as pessoas de
má fama fazem isso. E se vocês emprestam somente
para aqueles que vocês acham que vão lhes pagar, por
que esperam alguma recompensa divina? Até as
pessoas de má fama emprestam aos que tem má fama,
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 61
para receberem de volta o que emprestaram. Ao
contrário, amem os seus inimigos e façam o bem a eles.
Emprestem e não esperem receber de volta o que
emprestaram e assim vocês terão uma grande
recompensa divina e serão filhos do Altíssimo Deus.
(idem – versículos 32 a 35).

Sabe, se você só quer compreender quem quer, como espera que


Deus lhe compreenda? Se quer dar carinho apenas àqueles que quer, como
espera que Deus lhe dê carinho?

Saiba de uma coisa: dar carinho a quem se ama é mais fácil do que
fazer coco de cócoras. É simples, é um prazer. Não há nisso nenhuma
doação...

Por isso afirmo: o fundamento que gera a existência da


universalidade no amar é doação...

Para você entender o amor universal é preciso compreender isso.


Não se pode falar em amor universal sem doação de verdades, posses,
paixões e desejos...

Se você está apegado apenas àquele que retribui o seu apego, o


que espera? O que espera de Deus, do Universo, se você é individualista?
Quem escolhe a quem se apegar, o que espera do Universo, que é
universalista e não separa elementos “bons e maus”, “certos ou errados”?

Esse é o fundamento universal que precisa ser bem compreendido.


Tudo que existe na Realidade do Universo é universalista e, por isso, vive
em equanimidade com tudo e com todos...

Chamar paixão de amor, ou seja, chamar egoísmo – porque a


paixão é fundamentada no egoísmo – é hipocrisia. Saiba de uma coisa: o
egoísmo, ou seja, tudo que se baseia numa condição individual, é a antítese
do amor universal.
Página 62 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Amar a tudo e a todos de uma forma indiscriminada. Amar doando-
se sem esperar retribuições: isso é atividade de espírito. Já a atividade do
ser humano é amar apenas aquele que ele quer. Na verdade é apenas dizer
que ama, porque na realidade o que nutre pelo próximo é uma paixão...

O ser humanizado ama apenas aquele lhe puxa o saco, que


primeiro faz o carinho para depois receber, que primeiro lhe presta o
serviço. Já o espírito ama antes de qualquer coisa que o outro faça. Estas
são as diferenças básicas entre a paixão que vocês chamam de amor e o
Amor Crístico, o Universal.

Participante: O que você chama fazer a vontade do


próximo é o que acabou de ser lido?

Sim, é servir ao próximo. Fazer a vontade do próximo é estar


sempre à disposição do próximo.

Agora, volto a repetir uma coisa: eu não falo de atos.

Outro dia me perguntaram: e se o outro quiser que eu vá matar


alguém... Tenho que servi-lo? Eu respondi: com relação ao ato, Deus dirá o
que acontecerá. Agora internamente, sentimentalmente, você tem que estar
sempre à disposição do outro.

Participante: Me explique melhor a sua afirmação que


diz que o ato do meu inimigo é o amor de Deus em ação.
Como o meu inimigo é a presença de Deus?

Veja... Você não é um ser humano, não tem vida e, por isso, não
participa de atos. Você é um espírito que tem uma existência eterna. Aquilo
que você chama de atos humanos, na verdade, fazem parte desta
existência, mas não com os valores que representam agora para você, mas
como provações da sua caminha espiritual.

Ou seja, o ato do seu inimigo desta vida carnal é o seu carma, é


uma provação. Por que? Porque o ato do seu inimigo trabalha justamente
esta questão da paixão.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 63
O que é ser seu inimigo? É ser uma pessoa que não satisfaz as
suas vontades... O que é o ato que ele pratica? São atitudes que não
satisfazem os seus desejos...

Como já estudamos, o desejo, a vontade e a paixão são elementos


carmaticos, ou seja, são provas. Assim, quando o seu inimigo lhe faz
alguma coisa, está criando uma oportunidade para você vencer seus
desejos, paixões, posses e com isso vencer o seu egoísmo. Como resultado
disso, se alcança a elevação espiritual.

Costuma se dizer que a ação do seu inimigo é um presente de


Deus, fruto do amor do Pai, porque é a oportunidade para o espírito realizar
o objetivo da encarnação. Se não houvesse estas provas, não haveria
encarnação e nem elevação espiritual.

Então, o ato do inimigo é uma dádiva de Deus porque é a


oportunidade do trabalho. Mas, o ato do amigo também, pois ele mexe com
paixões, vontades e desejos igual ao ato do inimigo.

Na verdade, o que você precisa se libertar é da paixão – do amar


porque, do não amar porque – e alcançar o amor que Cristo ensinou, que é
incondicional e universal.

Repare que para mudar a sua compreensão do ato do seu inimigo


(de “mal” para fruto do amor de Deus) só alterei uma coisa: a sua forma de
ver. Não alterei em nada o acontecimento, ou seja, não mudei a ação. Ou
seja, utilizei a livre opção (livre arbítrio) que o Espírito da Verdade ensina.

NOTA: Na resposta à questão 851 de O Livro dos


Espíritos, o Espírito da Verdade afirma que os
acontecimentos da vida ocorrem de acordo com a
escolha feita pelo espírito antes de encarnar. Apesar
disso, afirma ainda o mentor de Allan Kardec, o ser
universal continua, no tocante às provas morais e
tentações, livre para escolher entre o bem e o mal.
Página 64 Caminho, Verdade e Luz – volume I
No nosso caso, o amigo espiritual não alterou a ação
porque ela é uma decorrência dos gêneros de provas
escolhidos pelo espírito, mas mudou a visão, ou seja, a
forma sentimental como encarar a situação.

Para o humano a felicidade está na satisfação material, prazer. Por


isso ele precisa adequar as ações às suas vontades e paixões para ser feliz.
Quando os acontecimentos não coincidem com o que o humano “acha”, o
ato do inimigo transforma-se em “ruim”, “mal”.

Já para o espírito, a realização está na boa execução de suas


provações. Por isso o ato do inimigo passa a ser bom, ótimo e perfeito para
quem quer se elevar.

Façam isso porque Ele também é bom para os ingratos


e maus. Sejam bons, assim como o Pai de vocês é bom.
(Idem – versículos 35 e 36).

No Evangelho de Mateus, tem um trecho interessante.

Vocês sabem o que foi dito: “Ame os seus amigos e


odeie os seus inimigos”. Mas eu lhes digo: amem os
seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês para
que vocês se tornem filhos do Pai que está no céu.
Porque ele faz o sol brilhar sobre os bons e os maus e
dá chuva tanto aos que fazem o bem como aos que
fazem o mal. Se vocês amam somente aqueles que os
amam, porque esperam alguma recompensa de Deus?
Até os cobradores de impostos amam aqueles que os
amam. Se vocês falam somente com os seus amigos, o
que é que fazem de mais? Até os pagãos fazem isso!
Portanto, sejam perfeitos em amor, assim como é
perfeito o Pai de vocês, que está no céu. (Evangelho de
Mateus – Capítulo 5 – versículos 43 a 48).
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 65
Ou seja, Cristo afirma que a dádiva de Deus necessária para a vida
está à disposição daqueles que você considera bons assim como os que
você considera maus... Já repararam nisso?

Com este ensinamento, Cristo está nos mostrando a característica


do amor de Deus: ser igual para todos... Deus ama a todos de uma forma
igual.

Juntando o que está em Mateus (“sejam perfeitos em amor, assim


como é perfeito o Pai de vocês”) tudo a respeito do amar fica compreendido.
Ou seja, compreende-se que não dá para amar ao próximo de uma forma
não universal. Por que? Porque Deus ama a todos de uma forma universal e
se o ser humanizado aspira entrar no Reino do Céu precisa praticar este
amor.

Esta é a palavra importante para se entender o amor: ser perfeito no


amar como Deus é perfeito em amar.

Amar não aceita imperfeições, porque quando o amor é imperfeito,


ele não existe. Transforma-se numa paixão, ou seja, num elemento de
provação, uma ilusão do qual precisa se libertar.

Então, mais um ensinamento interessante sobre o amor ensinado


por Cristo: ame como Deus ama a todos. Ame universalmente...

Encerrando esta questão, quero apenas dizer que, amar


universalmente, dentro da única compreensão que vocês podem ter, é não
amar como amam hoje...

Vocês são incapazes de gerar este amor universal, porque o ego


estará, como instrumento de provação que é, sempre criando condições.
Apesar disso afirmo uma coisa: vocês são capazes de reconhecer a
existência do condicionamento... Os seres humanizados podem não saber
amar universalmente, mas, são capazes de identificar as paixões, ou seja,
as razões para amar.
Página 66 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Por isso lhes digo: libertem-se destas paixões que vocês estarão
amando como Cristo disse que deve se amar...

.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 67

Pobre de espírito

Bem-aventurado os pobres de espírito, pois deles será


o Reino dos céus.

Hoje vamos falar da página mais bonita do Novo Testamento que


relata os ensinamentos que Cristo transmitiu de cima de um monte. Esta
passagem ficou conhecida como "Sermão do Monte" e inicia-se com frases
pequenas que sempre começam da mesma forma: "Bem-aventurado".

Vamos, então, hoje, falar das bem-aventuranças, que é um conjunto


de ensinamentos que foram trazidos por Cristo através do "Sermão do
Monte".

Para começar, pergunto: o que é bem-aventurança?

BEM AVENTURANÇA – Felicidade eterna que os santos


gozam no céu (Mini Dicionário AURÉLIO).

Bem-aventurança é viver a vida no céu, no plano espiritual superior.


Cristo, através destas frases, mostrou o caminho para se viver a vida de
Deus. A prática deste ensinamento leva o ser humanizado a alcançar a
bem-aventuranças e por isso, iremos tratá-las como "mapa do tesouro".

Iremos estudar estes ensinamentos com a mesma preocupação de


quem se defronta um mapa que dá à direção a um tesouro imenso. Para o
espírito, ser bem-aventurado é, realmente, adquirir um grande tesouro.
Página 68 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Isso porque, quem tem a bem-aventurança vive feliz como viviam os
santos. Não santo dentro do sentido que a humanidade usa para valorizar
esta palavra, mas santificado porque vive com e em Deus.

Aquele que é de Deus é santo; o que não é de Deus é morto. O


sentido da palavra vida em toda Bíblia é: "viver a glória de Deus".

Assim sendo, podemos afirmar que Cristo deixou informado através


deste início do Sermão do Monte como se alcança uma vida com e na glória
de Deus.

O texto que é conhecido como bem-aventuranças é aquilo que


você, independe de credo e raça, tem que fazer se quiser viver com Deus. É
o caminho é o mapa, que vai mostrar o maior tesouro que você pode
alcançar na vida: viver com Deus.

Este mapa vale muito, pois não existe tesouro maior para um
espírito do que viver na glória do Pai, viver com Deus, porque Deus é a
alegria e a felicidade eterna.

Os bem-aventurados vivem felizes e alegres incondicionalmente.


Em um bem-aventurado a tristeza não tem moradia, o sofrimento não
encontra abrigo e a raiva passa muito longe, porque esta forma de sentir
não é coisa de Deus: é coisa do homem, do espírito humanizado. É você e
todos os demais seres que vivem encarnados no orbe terrestre quem busca
estas coisas: Deus não.

O caminho para libertar-se deste desligamento de Deus Cristo


traçou no "Sermão do Monte". Através de algumas poucas frases ele
mostrou qual é a reta que o ser humanizado tem de tomar para encontrar no
fim de sua caminhada o ponto de chegada na glória de Deus.

Nas bem-aventuranças está a honra de ser como o filho pródigo


que, mesmo depois de abandonar o lar paterno e gastar todo dinheiro do
pai, este o recebe o filho perdido que retorna a casa com glórias. Seguir as
bem-aventuranças é caminho de retorno à casa do Pai, aquele que conduz
diretamente a Deus.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 69
Na íntegra são estas as bem-aventuranças:

Bem-aventurados os que sabem que são espiritualmente


pobres, pois o Reino do céu é deles.

Bem-aventurados os que choram, pois Deus os


consolará.

Bem-aventurados os humildes, pois receberão o que


Deus tem prometido.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de fazer a


vontade de Deus, pois Ele os deixará completamente
satisfeitos.

Bem aventurados os que têm misericórdia dos outros,


pois Deus terá misericórdia deles também.

Bem-aventurados os que têm coração puro, pois eles


verão a Deus.

Bem aventurados os que trabalham pela paz entre as


pessoas, pois Deus os tratará como seus filhos.

Bem-aventurados os que sofrem perseguição por


fazerem a vontade de Deus, pois o Reino do céu é
deles.

Bem-aventurados são vocês quando os insultam,


perseguem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por
serem meus seguidores. Fiquem alegres e contentes,
porque está guardada para vocês uma grande
recompensa no céu. Pois foi assim mesmo que
perseguiram os profetas que viveram antes de vocês.
Página 70 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Esta é a integra dos ensinamentos de Cristo a respeito das bem-
aventuranças. Infelizmente hoje só iremos ver a primeira delas: "Bem-
aventurado os pobres de espírito porque deles será o Reino dos Céus".

Agora que sabemos que bem-aventurança é a felicidade oriunda de


se viver na glória de Deus, pergunto: o que é ser pobre de espírito? Vamos
entender esta afirmação do mestre, mas vamos fazer por partes.

Primeiro vamos definir o vocábulo “pobre”. Pobre é aquele que


passa necessidades porque tem poucas posses.

Se a frase de Cristo é "bem-aventurado os pobres de espírito",


posso, com o conhecimento do significado do que é ser pobre, dizer que a
frase do mestre tem este significado: bem-aventurado os que têm pouca
posse de espírito.

Para podermos continuar buscando a compreensão, volto a


perguntar: qual a posse de um espírito, o que o ser universal possui? Os
seus sentimentos, a energia universal: esta é a única coisa que o espírito
possui, que é sua.

A única coisa que você possui, que realmente pode chamar de seu,
são os sentimentos que nutre. Todo o resto que imagina possuir, na verdade
um dia lhe serão tomados, mesmo as idéias, pensamentos e verdades que
nutre sobre as coisas, pois elas acabarão a partir daquilo que chamam de
morte.

A partir destas conclusões que tomamos, a frase de Cristo já passa


a ter outra redação: bem-aventurado os que têm pouca posse sentimental
porque deles será o Reino dos Céus.

A "pouca posse" de sentimento que um espírito pode ter para viver


no Reino dos Céus não é medida no volume de sentimentos que ele tenha,
mas na qualidade deles. O espírito, para ser pobre, ter poucas posses
espirituais, só deve possuir um único sentimento em toda a sua existência: o
AMOR.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 71
Este sentimento é formado pela junção de três outros: alegria,
compaixão e igualdade. Portanto, quem só tem três elementos sentimentais
é "pobre". Ele tem pouca posse, pois existem muitas outras posturas
sentimentais no Universo que o espírito poderia ter.

Você só deve ter o amor e não a raiva, a soberba, a desonestidade.


Para se ser pobre, é preciso apenas possuir o amor como base de sua
vivência dos acontecimentos da existência.

É do amor que nascem as posturas sentimentais consideradas


positivas: a honestidade, a humildade, o carinho, etc. Estes elementos, na
verdade, não são sentimentos, mas posturas sentimentais com relação a
determinados elementos do Universo que o espírito que só possui o amor
tem.

Não se tratam de sentimentos, mas de posturas sentimentais que o


ser humanizado toma com relação à outras pessoas, a objetos e
acontecimentos. No entanto, para que estas posturas sejam alcançadas, é
necessário que o ser universal seja pobre de espírito, ou seja, tenha apenas
o amor como posse.

A felicidade universal, por exemplo, é um sentimento, mas ela só é


alcançada por aquele que possui unicamente amor dentro de si. Portanto, a
sensação de ser feliz só existe para aquele que é pobre de espírito.

Depois de ver tudo isso, podemos, então, ouvir o que Cristo


realmente falou naquele dia sobre o monte:

"bem-aventurado aqueles que só têm o amor, porque


deles será o Reino dos Céus".

Agora o ensinamento está perfeito... Só o amor deve ser a posse do


espírito, se ele quiser entrar no Reino dos Céus, se quiser aproveitar a
encarnação e promover o trabalho de reforma íntima que o leva a alcançar a
elevação espiritual.
Página 72 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Apenas aqueles que têm exclusivamente o amor dentro de si podem
viver o Reino de Deus porque, se existir qualquer outro sentimento, vão
viver posturas sentimentais fundamentadas no egoísmo e com isso não
poderão viver onde Deus mora.

NOTA: Muitos dos conceitos aqui proferidos estão dentro


de uma linguagem diferente daquela que existem em
outros livros do ESPIRITUALISMO ECUMÊNICO
UNIVERSAL. Isso porque, esta foi uma palestra
realizada em 2001 e algumas das visões universais que
estão presentes em outros estudos, ainda não tinham
sido divulgadas até aqui. Mas esta questão não deve
invalidar o ensinamento.

No caso acima, quando o amigo espiritual cita que “não


poderão viver onde Deus mora”m aprendemos
posteriormente que existe apenas um Universo onde
tudo existe. Sendo assim, o espírito não pode morar em
outro lugar.

Na verdade são figuras de linguagem, formas de falar


que não devem ser levadas ao pé da letra, mas que
precisam se contextualizadas.

Vamos ver se esta conclusão está certa? Para isto vamos compará-
la às Leis de Deus transmitidas por Cristo.

É ensinado que não devemos ter raiva dos outros. Como alguém
pode deixar de ter raiva de uma pessoa que lhe machuca, que lhe ataca
com um tapa?

Como se pode deixar de ter raiva de alguém? Só com o amor,


somente a amando.

Mas, como encontrar em si esse amor? O que fazer para não ter
raiva do agressor? "Sentindo" o que está sendo feito realmente e não
"vendo" o que se imagina estar acontecendo no momento.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 73
Quando uma pessoa está agredindo outra no campo perceptível, o
ser humanizado não deve ver a agressão física, mas buscar "sentir" o que
está motivando a agressão. Se for fixar-se na visão (ver o tapa físico) como
realidade, não vai "sentir" o sentimento que gerou o ato.

Todo ato físico só acontece porque é "nutrido" por uma postura


sentimental. Atrás de qualquer ato de agressão existe uma sensação dita
como negativa; atrás de qualquer carinho existe um a sensação
considerada positiva.

NOTA: Sensação é o mesmo que anteriormente foi


chamado neste texto de postura sentimental.

Desta forma, se procurarmos "ver" o tapa não vamos sentir a


sensação que o motivou. Não entenderemos que há um sentimento sendo
emitido pelo agressor contra nós.

Sem ver isto, nós vibraremos dentro desta postura sentimental que
está sendo vivenciada pelo “agressor”. Com isso, ficaremos mais "ricos"
(com mais) de sentimentos, ou seja, espiritualmente.

Mas, como sentir o real sentimento que está motivando aquele


acontecimento? Como ”ver” a que sentimento nós, os espíritos, estamos
realmente expostos naquele momento?

NOTA: Em palestras posteriores o amigo espiritual


explicou a diferença entre sensação e sentimento.

Sentimento é a energia universal, aquilo que de real


existe no Universo. Este tipo de elemento não pode ser
percebido pela razão.

Sensações são os sentimentos racionais, aqueles que


tem compreensão racional do que está se sentindo.
Sempre que houver uma compreensão lógica racional
que crie motivações para o que se está “sentindo”, não
Página 74 Caminho, Verdade e Luz – volume I
se trata na verdade do elemento básico universal
(sentimento), mas de uma postura sentimental.

Como é que um ser humanizado pode ter condições de


compreender o que está se passando no mundo invisível quando uma
pessoa chega perto dele e consegue lhe dar um tapa? Compreendendo que
o outro só pode chegar perto e lhe dar um tapa se ele merecer...

Ninguém pode praticar o ato de dar um tapa em outro por livre e


espontânea vontade, pois com isso poderia cometer uma “injustiça”, que é
algo que não existe no mundo onde Deus, a Justiça Perfeita, é a Causa
Primária. Portanto, se uma pessoa agir desta forma, pode ter a certeza que
foi o Senhor quem mandou ela agir assim.

O outro só conseguirá lhe dar este tapa (praticar esta ação) porque
houve de sua parte um merecimento para tanto, ou seja, você, em algum
momento de sua existência eterna vivenciou um acontecimento aprisionado
a uma sensação como elemento real. Com isso se tornou rico de espírito.

Mas, para que exatamente aquele outro ser fosse o agente desta
ação, é sinal de que ele também mereceu tal participação no “teatro da vida”
pelo mesmo motivo. Ou seja, você e o outro estão participando de uma
ação como agente e receptor porque, um dia, abandonaram a simplicidade,
deixaram de ser pobre de espírito.

Para ser pobre de espírito o ser humanizado precisa entender que


todas as coisas que acontecem com ele é fruto de, em momentos
anteriores, ter vivenciado outro sentimento que não o amor. Tudo o que
acontece a um ser humanizado está programado desde o primeiro
momento, porque Deus, Senhor Onisciente conhece de antemão cada
sentimento que o seu filho usará para vivenciar um acontecimento.

Na hora que houver o merecimento, Ele faz outra pessoa usar


contra você a mesma energia que você usou contra outro. Mas, para que
Deus faz isso acontecer?
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 75
Para que você sinta o efeito daquele sentimento que usou contra
outro. Para que você sinta a dor que causou a outras pessoas.

É por isso que as pessoas chegam perto de você e fazem coisas,


para as quais você diz: está errado. As pessoas conseguem criar situações
onde você se sente ferido justamente para lhe mostrar que você já feriu
muitas pessoas.

Se desta vez não receber a ofensa com amor (alegria, igualdade e


compaixão), vai novamente vivenciar o acontecimento de uma forma não
simples (universal) e com isso precisará que outra pessoa venha feri-lo
novamente. Esta é a Justiça de Deus em ação.

Esta é a única explicação Real para todas as coisas que


acontecem. A motivação de qualquer acontecimento, por mais que o ser
imagine diferente é esta e, dentro da Realidade, não existe outro motivo que
determine acontecer tal ou qual coisa.

Todas as "histórias" que o ser humanizado monta para explicar os


acontecimentos são "ilusões". Por isso, pergunto: para que um ser
humanizado quer saber ou entender o que acontece, se o Pai é que faz tudo
se desenrolar de tal forma e age assim como reação a uma ação sua
anterior? Porque você "quer ser" Deus.

O ser humanizado precisa compreender a Realidade como aqui


descrita. Depois de compreender que está apenas vivendo uma decorrência
de algum momento anterior de sua existência eterna, não adianta nem
querer saber onde “errou”, onde não agiu amorosamente, pois Deus não
deixa o espírito encarnado conhecer a Realidade.

Para todos os espíritos humanizados aconselho: querendo “acertar”


daqui para frente, não se percam em elucubrações buscando compreender
o erro; ajam amorosamente a partir de agora em todas as situações de sua
existência. As "histórias" das suas vidas, mesmo aquelas que lhes dizem
onde acertou ou errou, são ilusões que Deus cria para ver se o ser universal
humanizado interpreta bem o seu "papel": agir com amor ou não.
Página 76 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Bem-aventurados são os "pobres" de espírito: aqueles que só
amam.

Se você está no passado procurando saber motivos para entender o


enredo da vida, está buscando justiça. Isso porque, todos aqueles que
querem compreender a vida, saber o que está acontecendo, querem
conhecer a justiça do momento. Mas, a função de promover a justiça é
exclusiva de Deus e, por isso, só Ele conhece os reais motivos do que está
se passando.

Na verdade, o ser humanizado que quer é entender o que Deus


está "fazendo". Ele quer adivinhar os desígnios de Deus. Para estes tenho
um recado: leia o livro bíblico "Jó" e veja o quanto ele sofreu procurando
entender porque Deus fez tudo aquilo acontecer na sua vida a que
conclusão chegou.

Pobre de espírito é aquele que ama sem buscar entender o porque


está amando. Para isso ele desiste de querer entender o que está
acontecendo.

Sem esta postura, o ser humanizado continuará chorando a "bala


perdida", xingando e maldizendo aquele que machuca ou fere a ele mesmo
ou ao eu filho. Age assim porque quer entender o porque de tudo aquilo ter
acontecido, mas não consegue, pois apenas Deus conhece a motivação
primária de tudo.

Na verdade, o que o ser humanizado precisava realmente


compreender é o que é viver: amar a tudo e a todos, aconteça o que
acontecer. Viver é passar cada segundo participando dos acontecimentos
com alegria, compaixão e igualdade.

Amar é o caminho, mas porque o ser humanizado não ama a tudo?


Porque quer entender a vida. Se não compreender perfeitamente os motivos
que levaram a acontecer o que está se passando – mesmo que estes
motivos sejam espirituais (carma) – ele perde o "domínio" da situação e por
isso sofre ao invés de amar.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 77
"Como isso aconteceu?" "Para que isso aconteceu?" "Porque isso
aconteceu?".

O que interessam estas respostas se os acontecimentos são coisas


que Deus faz e não você? As respostas a estas perguntas formam o seu
"destino", que é de autoria exclusiva de Deus. O que você poderia fazer já
fez (escolher os gêneros de provas) agora é competência apenas do Senhor
do Carma fazer a roda da vida girar.

O ser humanizado afirma que busca responder as perguntas sobre


os acontecimentos para construir o seu futuro, mas ele é de
responsabilidade exclusiva de Deus pertence. O ser humanizado não tem
qualquer controle sobre as coisas que irão acontecer, mas briga para poder
ter. Com isso, se esquece de que Deus é o único responsável por todas as
coisas que vão acontecer na sua vida.

Será que com isso estamos dizendo que o ser humanizado deve ser
omisso, estático? Não. O que estamos afirmando é que o espírito que está
ligado a um ego humano precisa agir, mas esta ação reside-se em apenas
uma coisa: receber tudo o que Deus lhe dá com amor.

O mundo espiritual é como uma grande família, cujo chefe (Pai) é


Deus.

Quem tem filho ou subordinado sabe que muitas vezes uma ordem,
quando questionada, precisa ser respondida com um simples "eu quero
assim". Isso porque você sabe que mesmo que tente explicar o porque é
necessária tal atividade, o outro não aceita seus argumentos.

O filho ou subordinado muitas vezes não compreende as razões do


seu superior porque desconhece alguns aspectos ou não concorda com
outros. Com isso ele não alcança o que precisa ser feito, mas você, o
superior, sabe que é necessário que determinada coisa aconteça para que o
êxito em determinada missão seja alcançado.

No mundo espiritual é a mesma coisa: se Deus tentasse explicar


porque os acontecimentos de sua existência carnal devem ser daquela
Página 78 Caminho, Verdade e Luz – volume I
forma, dificilmente você aceitaria. Isso porque você não conhece
completamente a Realidade: não se lembra de seu passado espiritual, não
compreende a interação universal...

Aliás, nem tem consciência do que existe além daquilo que


percebe... Mas, Deus sabe (onisciência) e reconhece perfeitamente
(Inteligência Suprema) a Realidade.

Portanto, a coletividade espiritual, encarnada ou não, deve aceitar


todas as coisas que o Pai dá com amor. Isso porque os espíritos sabem
que, além de soberanamente justo, Ele é amoroso. Como pode um ser
amoroso deixar de amar? Por causa da consciência de que Deus só ama é
que a coletividade espiritual esforça-se para retribuir este amor.

Os espíritos, libertos da ilusão de ser e estar têm consciência que


não vêem o que o Pai vê, que não conseguem compreender perfeitamente
a Realidade como Ele consegue. Mas os humanizados, aqueles que estão
iludidos por um ego que ilusoriamente cria a idéia de ser e estar, não
conseguem penetrar nesta consciência.

Na verdade, estes seres universais vivenciam a existência carnal


querendo ser "homo sapiens", ser humano. O espírito encarnado quer ser o
homem que raciocina, o ser dominador, aquele que se acha rei do Universo,
que sabe mais do que os outros, que coloca todas as outras coisas abaixo
de si e imagina que por isso pode controlá-las, dominá-las.

Não foi isso que Eva e Adão fizeram? Eles fizeram o que queriam,
sem se preocuparem com as recomendações que o Pai havia dado a eles.
Mas, o que a motivou a agir contrário à orientação de Deus?

A "cobra" disse que Deus não queria que eles comessem o fruto da
árvore proibida porque assim se transformariam em deuses. Adão e Eva
desobedeceram ao Senhor porque queriam ter o mesmo poder que ele
tinha. Mais: aceitaram o fruto oferecido porque raciocinaram e chegaram a
conclusão que seria bom ter "todo este conhecimento".
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 79
Na verdade, o que eles fizeram foi querer ser Deus, ou seja, ter o
poder de criar as coisas do Universo, ter o comando do destino de sua vida,
dominar as situações.

O puro, o simples, o pobre de espírito é aquele que vê as coisas


acontecendo e não pergunta para que, como, onde e porque: só retribui
com amor. Ele não quer nem pretende dominar nada, nem saber de coisa
alguma...

Quando um ser humanizado procura respostas que expliquem os


acontecimentos da vida, usa de sentimentos diversos como a curiosidade, a
cobiça, etc. Tudo isso não é amor, não é amar.

Este ser é rico, pois tem muitas posses. O pobre de espírito "ganha
salário mínimo” em matéria de sentimentos: ele só sente que recebe amor e
por isso não precisa de explicações.

O pobre de espírito não pode ser considerado sábio, pois ao não


procura respostas para as perguntas do mundo, deixa de saber.

Abraão procurou resposta para a intuição divina que o mandava


imolar seu filho único em louvor ao Senhor? Não. Ele levou o menino para o
altar do sacrifício, obedecendo a Deus. Quando a faca ia descer sobre o
ventre do garoto o Senhor disse que ele podia parar porque já tinha provado
o que devia provar: o amor pelo Pai acima de todas as coisas.

O que ele ganhou com isso? Tornou-se pai espiritual de uma pátria,
ou seja, aproximou-se de Deus através da elevação espiritual.

Se Abraão pode dar seu filho único, porque você não pode dar seu
filho único a Deus? Não, não estamos aqui propondo infanticídios... O filho
ao qual nos referimos é a personalidade humana que você, o espírito, está
vivenciando nesta encarnação e que, ilusoriamente, imagina ser.

Porque você não se doa a Deus? Porque não se desliga deste


sentimento que o leva a sentir-se superior aos outros e admite que existe
Página 80 Caminho, Verdade e Luz – volume I
um Ser superior no Universo? Porque continua procurando outros
sentimentos que não o amor para viver?

Porque quer dominar; quer ser "homem grande", adulto; quer ser
capaz de manda...

Mesmo o mais humilde dos seres acha que manda na sua própria
vida. Mesmo sendo materialmente pobre o ser humanizado ainda imagina
que tenha o poder de viver na casa de Deus (Universo) de uma forma
autônoma.

Por isso dizem que são pobres, porém livres. Na verdade apenas
imaginam-se livres porque são prisioneiros da vida, da pobreza que vive.
Onde se constata esta prisão? No desejo de entender o porque a sua vida é
assim e porque não conseguem serem iguais a quem tem.

Ser humilde é diferente de ser humilhado. Que adianta se dizer


pobre e livre se você ainda se sente humilhado por não ter? Viver sentindo-
se mal por ter carências e buscar entender porque isso acontece, não é
amar.

O humilhado sente-se incomodado com o que está acontecendo


com ele e, por isso, busca entender a situação. Já o verdadeiro humilde,
"humilha" os outros com amor.

O humilde retribui com amor uma ofensa que recebe e quando age
assim, a pessoa que o está ofendendo fica "sem jeito". Isto acontece porque
reagir com amor humilha quem está ofendendo.

Não existe arma mais poderosa do que o amor. A resposta amorosa


a uma agressão, amar o acontecimento sem buscar compreendê-los mexe
com os outros, pois se trata de uma forma não convencional de ação.

O ser humanizado está acostumado às múltiplas sensações do


planeta. Aquele que se diz capaz de conhecer e entender a vida sabe disso
e, portanto, espera esse tipo de reação. Por isso, quando recebe uma
resposta amorosa perturba-se.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 81
Quando o ser humanizado está perturbado perde
momentaneamente o controle da situação. Com isso, o amor que utilizado
para vivenciar tal situação encontra morada no seu coração.

Portanto, até para se praticar a verdadeira caridade ao próximo é


preciso amar. Não há como se ajudar o próximo a não ser mando-o
incondicionalmente.

Mas, como viver todos os acontecimentos da vida com amor sem


compreender que eles são causados por Deus? Só entendendo que os
acontecimentos da vida são obras de Deus o ser humanizado pode sentir
amor por elas. Isto porque, por causa de Sua grandeza, pelo Seu sentido de
justiça e bondade, só Ele é capaz de realmente amar o próximo acima de si
mesmo.

Apenas quando o ser humanizado, mesmo sem entender o porque,


vivencia os acontecimentos como Perfeitos (frutos da Perfeição), pode amar
a cada momento, a cada situação.

Não há como se compreender as histórias que compõem uma vida


para alguém que não seja a Inteligência Suprema do Universo, a Justiça
Perfeita ou o Amor Sublime e que, por isso, tenha a Compreensão Perfeita
das coisas. O ser humanizado se quiser ser bem aventurado, não deve
tentar entender a vida, pois lhe faltam atributos para tanto. Por isso
aconselho: apenas reaja com amor a qualquer coisa.

Você deve estar dizendo: é fácil colocar isto em prática quando os


efeitos dos acontecimentos são pequenos e passageiros. Mas, e se eles
trouxerem reflexos profundos e permanentes? Para tornar-se bem-
aventurado é preciso colocar em prática o amar sempre, quer sejam nos
acontecimentos coisas grandes ou pequenos, passageiros ou permanentes.

Se um filho seu ou você mesmo ficar cego, perder uma perna, o


amar a Causa Primária deve ser o mesmo que se daria a uma ofensa
pequena. Cristo estabeleceu: "Se o seu olho faz você pecar, arranque-o e
Página 82 Caminho, Verdade e Luz – volume I
jogue fora! Pois é melhor entrar na vida eterna com um olho só do que ficar
com os dois e ser jogado no fogo do inferno".

O mestre nazareno quando ensinou isso o fez de acordo com os


ensinamentos divinos. Podemos, então, afirmar que se um ser está pecador
e se a causa deste elemento que o afasta do Pai é o olho físico, Ele o
arrancará.

Deus está errado? Está sendo injusto? Não...

Repare: quantos ficaram cegos – nasceram “vendo” e só depois


perderam a visão da carne – e apenas a partir deste momento alcançaram
realmente a felicidade? Quantos homens que, enquanto possuíam suas
pernas, não descobriram a verdadeira felicidade que só encontram quando
as perderam?

Sei que você não acredita no que estou dizendo, mesmo que
conheça ou já tenha tido informações a esse respeito. Imagina, por possuir
pernas e gostar de utilizá-las, que ninguém possa ser realmente feliz sem
elas. Ledo engano...

Na verdade, quem não vivencia o problema sente pena de quem


está vivenciando-o. Por causa desse não amor sofre e imagina que o outro
está sofrendo...

Se você apenas amasse todos aqueles que possuem deficiências,


não veria sofrimento em tais acontecimentos. Se compreendesse a Causa
Primária como justa a amorosa pensaria "que maravilha que eles possuem
estas deficiências, pois Deus está lhes dando uma grande oportunidade de
ser feliz (amar) acima das condições materiais".

Não estou aqui dizendo que todos os que possuem deficiência são
felizes. Longe de mim afirmar isso... O que estou dizendo é que muitos
conseguem alcançar a felicidade somente após a “tragédia”, mas sei que
muitos – aqueles que buscam saber o porque das coisas – sofrem com os
acontecimentos de sua vida.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 83
Mas, será que ter pena de qualquer um resolve? Claro que não...

A pena é uma sensação não amorosa, pois está vinculada ao


sofrimento. Sentir pena de alguém não ajuda nunca, pois quando isso
acontece se emite esta sensação contra os outros e, com isso, se fortalece
o sofrimento em quem sofre e se abala a felicidade em quem é feliz.

Na verdade, quando o ser humanizado sente pena e racionalmente


afirma que o outro é um coitadinho, prejudica o próximo, quer tenha ele
alcançado a felicidade ou não depois do acontecimento.

O puro, o simples, o pobre de espírito é aquele que reage a todas


as coisas que acontecem no mundo com amor. Mesmo sem entender
porque, para que, como, ele sabe que os acontecimentos são justos e
amorosos por causa da sua Fonte.

Por isso o puro simplesmente vivencia amor em qualquer


acontecimento que ocorra. Com isso ele aproxima-se de Deus e, assim,
alcança o Reino do Céu, como Cristo prometeu neste texto.

O pobre de espírito, na verdade é rico, pois não existe outra riqueza


no Universo a não ser o amor. Qualquer outra riqueza fica aqui na Terra,
pois não é do espírito. Assim sendo, tudo mais que um ser possuir – mesmo
que seja as sensações – um dia perderá. Só o amor que sentir o
acompanhará quando do retorno ao mundo espiritual.

Toda pena, carinho, raiva ou nervosismo, por quem quer que seja,
se dissolverão quando o ser retornar ao mundo além das percepções.
Apenas o amor que sentiu durante os acontecimentos da vida o
acompanhará.

Foi isso que Cristo quis dizer quando mandou procurar a riqueza do
céu e não a riqueza da Terra. A única riqueza que existe no céu é o amor e,
por isso, apenas ele deve ser procurado.

Por isso volto a afirmar: o pobre de espírito é aquele que tem só


amor. Mas, ele não é pobre por causa disso, mas rico.
Página 84 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Ele é rico em felicidade, em paz, em harmonia com a vida. Ele não é
individualista porque não vivencia o "eu", mas o "todo".

Se você vive a partir do "eu" é porque acha que está certo. Quem
age assim julga e, se pratica esta postura, utiliza-se da soberba, porque só
quem tem este sentimento julga.

O pobre de espírito não consegue achar “certo” ou “errado” em


nada. Para ele tudo é motivo de alegria, de felicidade. "Que bom, eu morri",
"Que bom, o meu filho morreu".

Mas, para isso, antes de qualquer coisa é preciso entender-se como


espírito, como um ser do Universo (todo) e não humano (eu). Enquanto
achar que você e o seu filho são carnes, não conseguirá ser feliz, não
conseguirá amar incondicionalmente.

Quando você entender que todos os seres que agora estão


humanizados são seres universais, poderá, então, vivenciar a morte com
esta consciência: "que bom, a carne morreu".

Sei que você se preocupa com a carne que está usando, mas lhe
dou um conselho: deixe escrito no seu testamento que, quando a deixar,
que ela seja servida aos pobres em um churrasco. Assim, poderá ajudar a
matar a fome do mundo...

Por que não fazer isso? Ela é igual à carne do boi, da vaca e do
porco. Possui tantos elementos nutritivos quanto a carne de qualquer outro
animal.. Fazendo um churrasco dela, ao invés de alimentar os elementos
que estão sob o solo, pelo menos matará a fome de um outro ser humano...

Compreender o que Cristo ensinou é simples: só o amor pode


transformá-lo em pobre de espírito. Só vivenciando os acontecimentos da
vida com este sentimento você poderá ser bem-aventurado.

Só o amor pode garantir a sua entrada no Reino dos Céus. A


vivência da vida com qualquer outro sentimento o levará, após o
desencarne, a qualquer outro lugar, menos o Reino de Deus.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 85
Não estou falando de umbral ou inferno, nem estou aqui
condenando ninguém... A vivência dos acontecimentos com amor leva ao
Reino dos Céus, mas quando não é esta a realidade do ser humanizado,
após o desencarne ele se dirigirá a lugares no mundo espiritual onde a
presença de Deus não é sentida.

É isto que Cristo ensinou neste trecho do Sermão do Monte. É isso


que é ser pobre de espírito. Só não compreendeu isso quem não tem olhos
de ver e ouvidos de ouvir.

Isto porque Cristo resumiu todo trabalho da elevação espiritual a


apenas dois mandamentos: amar a Deus acima de todas as coisas e amar
ao próximo como você gostaria de ser amado. Estes dois mandamentos
resumem toda a lei da evolução espiritual.

Se juntarmos as duas informações pode-se dizer que pobre de


espírito (aquele que alcançou a elevação espiritual) é quem pratica a lei da
evolução, ou seja: o amor a Deus, ao próximo e a si mesmo. Sem esta
prática você será rico de bens espirituais e, por isso, não será bem-
aventurado e nem poderá entrar no Reino do Céu.

A riqueza, quer seja formada por elementos materiais como os


espirituais (sensações), como disse o sábio, é ilusão, pois ela só existe para
testar a sua capacidade de amar. Por isso, ela precisa ser trocada pela
simplicidade. Apesar de afirmar isso, não estamos aqui pregando a pobreza
material.

Você pode ter muitas posses materiais, ser rico e ao mesmo tempo
ser pobre de espírito. Tendo, pode até praticar pouca caridade material ou
não: isso não importa. O que realmente está em jogo durante a encarnação
é o teste da sua capacidade de amar incondicionalmente.

É preciso se amar o que se tem incondicionalmente e não com


poses ou soberba. Se você compra elementos materiais com alegria,
compaixão e com igualdade, acabou o seu pecado.
Página 86 Caminho, Verdade e Luz – volume I
A riqueza material seja o que for, é ilusão. O que vale é o
sentimento com o qual vivencia o relacionamento com o que tem.

Pobre de espírito é aquele que só tem um sentimento: o amor. Por


isso ama tudo o que tem e não deseja nada mais. No entanto, se mesmo
sem desejar um dia possui, passa amar este elemento sem, no entanto,
prendê-lo ou possuí-lo.

Aquele que ama não tem mais nenhuma pergunta na cabeça


porque o amor responde a todas elas. Por isso Kardec disse que o pobre de
espírito é o "simples": aquele que vivencia os acontecimentos que aparecem
na sua vida sem ficar se perguntando para quê, porque, como, onde ou sem
ficar desejando que nada aconteça.

Esse é o simples, o bem aventurado, mas você, o ser humano


orgulhoso de si mesmo, o chama de bobo. Isso porque imagina que esse
ser não tem sabedoria, pois vive tudo superficialmente. Este, no entanto,
dentro do ponto de vista espiritual, é o esperto, o sábio.

Os bobos são aqueles que se consideram reis, sábios... Aqueles


que imaginam que podem decifrar os enigmas da vida, que podem
comandar os acontecimentos de sua vida, de um grupo ou de toda uma
coletividade.

Esqueça os problemas da sua vida. Não queira saber como reagir a


qualquer acontecimento, não queira descobrir porque o destino está lhe
dando exatamente aquilo agora.

Ao que aparecer, não importa o que seja, reaja com amor. Ame o
que outro e lhe fizer e o que você fizer para ele. Se você fizer o mal para
alguém não sofra, mas peça desculpas a Deus e continue a sua caminhada:
doe amor para o que você faz.

Para se viver assim é necessário encontrar Deus. Esqueça a visão


que tem de que Deus só aparece na sua vida quando a situação é muito
complexa.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 87
Respirar é a coisa mais complexa e importante que se pode fazer
porque se você parar de respirar, morre. Se isso é tão importante, Deus tem
que estar presente na sua vida a cada respirada que der.

Reagir sempre com amor porque todas as coisas são geradas por
Deus. Se alguém foi lavar a mão e molhou o chão, foi Deus quem fez isso;
se alguém colocou um pé de meia de uma cor e o outro de cor diferente, foi
Deus quem fez ele fazer isso.

Mas, por que Deus faz você ver isso acontecer? Para ver como
você reage: com amor ou sem amor. Se você criticar dizendo que aquele
sujou o chão todo ou que está parecendo um palhaço, age com qualquer
outro sentimento, menos com amor. Assim procedendo, perdeu um ponto
junto com Deus, que será utilizado amanhã em um ato que você vai
vivenciar.

É isto que é a vida, só isto. Em tudo o que aconteça esteja alegre,


esteja consciente de que o que você vai fazer pode levar outra pessoa a
sofrer e se ela sofrer, amanhã você vai sofrer também.

É isso que é o amor e é assim que age um pobre de espírito.


Nenhum chefe ou comandante de qualquer coisa terrena dá uma ordem
sem que o Chefe Maior (Deus) dê a ordem para ele agir assim. Quando seu
chefe falar com você lembre-se que foi Deus quem fez ele agir daquela
forma, para ver com qual sentimento você vai reagir.

Enquanto você falar que uma pessoa é de tal modo, reparando no


jeito dela agir, sabe quem está sendo ofendido? Deus, que fez ela agir
daquela forma.

Se todos os atos de todo mundo é Deus quem faz ser feito, quando
dizemos que alguém está agindo errado, estamos dizendo que Deus está
agindo errado. Quando dizemos que alguém é prepotente, é burro, etc.,
estamos dizendo que Deus também o é, porque o ato que está sendo feito,
só ocorreu daquela forma porque Deus mandou fazer assim.
Página 88 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Se você se acha capaz de julgar os atos de Deus, desculpe, este
velho retira todas as palavras que já disse. Mas, se você sabe que diante de
Deus não tem poder, a única forma de agir é com amor, é entender tudo
como Deus tendo feito acontecer daquele jeito. Sem isto, você ofende a
Deus. Isto é ser pobre de espírito; agir assim transforma você em pobre de
espírito e o leva ao Reino dos Céus.

A dificuldade para alcançar esta visão está na forma como você se


vê. Se um braço do seu corpo físico se mexe, você diz que fez isso
acontecer porque é o seu corpo; se uma pessoa deixa de fazer uma coisa,
você a acusa dizendo que ela deixou de fazer aquilo. Aprenda, filho: todos
os atos que pratica, a começar pela respiração é Deus quem faz você fazer
e a outra pessoa só age de uma determinada forma porque Deus manda ela
fazer assim também.

Esta forma de ver, no entanto, não acaba com o seu livre arbítrio
como muitos querem insinuar... Ele está presente na decisão que você toma
quanto ao sentimento que vai usar para o ato.

Os acontecimentos da sua vida são regidos por um arbítrio que


você ainda não conhece, mas isso não quer dizer que você não tenha o
poder de fazer alguma coisa neste momento. Tem sim: o poder de escolher
o sentimento com o qual irá vivenciar aquele acontecimento.

Com este conhecimento, que está em O Livro dos Espíritos, posso


dizer que o seu "destino" está todo traçado desde o seu nascimento, pois
como disse Cristo, até os fios de cabelos da sua cabeça estão contados. No
entanto, o seu destino está traçado em dois sentidos: o positivo ou negativo.

Se você vivenciar um acontecimento com outro sentimento que não


o amor, sofrerá; se vivenciá-lo com amor, será feliz. Os atos vividos por
cada ser humanizado podem ser diferentes entre si, mas sempre existem
duas opções para vivê-los: feliz ou sofrendo...
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 89
Seu dia de hoje ou um determinado assunto, já estão totalmente
previstos: o enredo e a conclusão. Se você os vivenciar com amor, terá
realizado à contento o seu trabalho espiritual, mas sem for sem ele...

Você falar ou deixar de falar com alguém, não é decisão sua, é


Deus quem faz você fazer. A resposta da pessoa também não é decisão
dela, pois dirá o que Deus mandar ele dizer, que será sempre o que você
merece e precisa escutar.

Se você falou e ouviu a resposta com amor, recebe um crédito que


poderá levá-lo, amanhã para um destino melhor. Se não, receberá um
débito que certamente o encaminhará para outro destino.

Apesar de saber que o seu amor de hoje pode lhe dar um crédito,
não espere recebê-lo logo. Por exemplo: se você conversar com alguém o
amando, este fato não pode mudar a resposta que ele irá lhe dar, pois o que
ele dirá já estava previamente traçado

Portanto, se vivenciar uma situação com amor e receber uma


resposta que não lhe agrade (sem amor), não se sinta injustiçado. A visão
de que as coisas têm que ser recebidas de uma forma imediata leva o
espírito a pensar que houve injustiça.

O crédito e o débito das suas atitudes só repercutirão


posteriormente e nunca instantaneamente. Se uma pessoa hoje consegue
lhe magoar, ferir, desacatar, ofender, isto é resultado de um ato negativo
(sem amor) dela e também de um ato negativo seu de ontem e não
necessariamente do momento. O crédito de agora só será recompensado
futuramente.

A vivência de um ato considerado negativo (que você não gosta)


recebido é sempre justa e merecida. Mesmo que tenha amado neste
momento você ficou devendo no passado, em outras escolhas de
sentimentos para os atos que Deus gerou.

Qualquer outra visão da vida, que não seja esta, é dizer que Deus é
injusto. Se pensarmos que Ele deixa cada um praticar o ato que deseja,
Página 90 Caminho, Verdade e Luz – volume I
dando o direito de fazer o “certo e o errado”, Deus estará sendo injusto
sempre, já que a justiça humana depende da interpretação de cada um.

Por exemplo, o ato de matar, que você entende como fruto de um


“livre arbítrio". Dentro da visão atual do planeta as pessoas acham que
quem mata outro é porque utiliza o seu livre arbítrio, ou seja, toma ele
próprio a decisão de matar outra pessoa.

Este velho pergunta: onde fica o livre arbítrio de quem morreu?


Podem me explicar isto?

Este ângulo da questão não é levado em consideração: só se vê um


lado da moeda. Aquele que morre é chamado de "vítima", que não merecia
aquilo; o outro é chamado de assassino e diz-se que agiu assim porque
optou nesta vida fazer isso.

Se assim fosse, o espírito assassinado poderia clamar aos céus e


dizer: "Deus! Você é injusto, eu não merecia morrer, eu não queria morrer e
Você deixou que ele me matasse". Seria um espírito que poderia cobrar de
Deus reparações...

Aqueles que morrem assim, sem conhecer que foi Deus que fez ele
morrer e não uma pessoa que utilizou mal o livre arbítrio que possui,
transformam-se nos "obsessores" citados nas literaturas espíritas. São
aqueles que acham que não mereciam ter morrido, pois se imaginam “bons”
e, portanto, que Deus foi injusto com eles. Por este motivo eles voltam para
cobrar do encarnado.

Que Deus é este que só fica “lá de cima” assistindo as "batalhas" da


vida? Que Deus é este que fica lá em cima "à toa", "torcendo” para o ser
encarnado errar e aí então, acusá-lo?

É este Deus que quer para você? Este Deus não existe! Deus ama
e não dá penas; Deus dá a justiça e não o castigo. Este Deus é Verdadeiro.

Deus pré age. A justiça de Deus não é feita por penas, mas por não
deixar que uma injustiça aconteça.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 91
Não existe inocente, não existe vítima. Se você olhar o mundo com
os olhos do livre arbítrio do ato, estará criando um mundo de vítimas, sem
justiça, um verdadeiro "faroeste", onde a lei do mais forte imperará e não a
justiça de Deus. Estará criando um mundo onde poderá haver crianças que
recebem uma "bala perdida".

Onde entra neste seu mundo um Deus que deixa uma bala, uma
coisa material, sem inteligência, escolher onde ela vai entrar? Que Deus é
esse que é comandado por um pedaço de ferro? Não é esse o Deus do
Universo, não é esse o Deus da Bíblia, não é esse o Deus de Kardec: o
Deus de todas coisas só conhece a justiça!

Desta forma, tudo o que acontece tem que ser justo e por isso
afirmo: tem que acontecer daquela forma. O livre arbítrio não pode interferir
nos acontecimentos.

O problema é que a humanidade tem como visão de justiça àquela


praticada pelos tribunais e pelos códigos da Terra. Esta justiça só entra em
ação para punir. A justiça do homem é reparadora e não justa.

Se Deus entrasse em ação depois que as coisas acontecessem,


estaria punindo, mas seria o responsável por existir uma vítima, um
injustiçado. Este Deus não seria justo porque Ele deixou que acontecesse
uma coisa errada para uma "vítima".

Tudo o que acontece na sua vida é merecido. Não pelo que você fez
agora, mas porque acumulou débitos anteriores não amando durante a
execução de atos ordenados por Deus. Viver a vida com esta consciência
acaba com o conceito "tragédia", que na verdade é uma visão humana e
não espiritual.

Na bíblia está escrito: "Eu, o Deus Todo-Poderoso, vou fazer os


exércitos estrangeiros entrarem em Jerusalém e matar todos os habitantes".
Olha a "tragédia" sendo feita por Deus...

Quando o ser humanizado se depara com o resultado de uma


guerra, de uma tragédia ou de uma catástrofe, não pode fixar-se apenas no
Página 92 Caminho, Verdade e Luz – volume I
que acontece está acontecendo com a carne, pois, com essa visão,
encontra "vítimas". Num mundo onde Deus seja a Justiça, é impossível
haver vítimas...

Muitos morreram nas câmaras de gás da segunda guerra mundial,


mas milhares sofreram muitos anos nos campos de concentração e não
morreram. Quem escolheu quem devia passar pelo sofrimento e depois
morrer ou não? Deus.

Se achar que aqueles que morreram foram "vítimas" do preconceito


racial do nazismo, você estará chamando Deus de injusto para com eles. Só
passou pelo sofrimento e pela morte aqueles que mereceram uma coisa ou
as duas.

Quem aparentemente serviu como instrumento desta injustiça,


também foi escolhido por Deus com base nos seus merecimentos. Todas as
"escolhas" de Deus para o que cada um tem que passar durante a
encarnação baseia-se na utilização do amor ou não quando da vivência de
atos que Deus determinou anteriormente. .

Não existe para que, porque, como e onde: tudo deve ser
trabalhado com alegria. "Que felicidade! Aquele homem sofreu e morreu
porque merecia passar por isso para que a justiça de Deus acontecesse. O
que espero é que ele tenha recebido a sua pena com amor". Este é o
pensamento do pobre de espírito.

No oriente o povo faz festa quando há uma morte e eles estão


certos: a morte é uma festa. Coitado daquele que morre no ocidente, pois
fica preso às coisas da matéria porque os "vivos" ficam chorando ao invés
de festejar.

Na verdade, as pessoas queriam o "morto" na carne para poder


satisfazer as suas "vontades". Isto é falta de amor, é falta de compaixão.
Quem "morreu" está indo para um lugar melhor do que este que vocês
conhecem. Quando querem que ele fique aqui, não estão agindo com a
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consciência do sofrimento que ele teria que passar se continuasse na carne.
Mas isto também não é novo: a Bíblia fala isso o tempo inteiro.

Desta forma, amor, amor e amor: é só isso que você tem que fazer
para viver.

Não se trata de entender por que houve uma catástrofe e aquela


pessoa morreu. Não precisa saber que crimes ela cometeu para merecer
que este ato acontecesse na sua existência: sua posição é dar alegria,
igualdade e compaixão para ela.

Mas isto tem que acontecer não só na morte, mas em todos os atos
da vida. Você tem que reagir com amor à pessoa que lhe dá uma "fechada"
no trânsito, ao seu filho que não o respeita, ao seu amigo que faz uma coisa
que você não compreende e se ofende ou fica ferido.

Deve ser esta a forma como se vive quando o seu chefe grita com
você, com aqueles que ofendem a natureza sujando a rua: o amor é para
todos e a toda hora.

Vou falar uma coisa, se quiser acreditar, acredite: você pode ir a


qualquer doutor que, se Deus não quiser curá-lo, não vai ser a medicina
quem irá curá-lo. Isto porque a doença só acontece porque Deus a colocou:
você acha que um homem vai tirá-la?

Normalmente, quando você fica doente, a primeira reação é a do


medo da morte. Quando esse medo chega você busca alterar os seus
sentimentos para poder "morrer” em paz com Deus. Este mecanismo, então,
faz parte da consciência do ser humanizado para que ele busque a Deus e,
por isso, a saúde não pode ser alterada pela medicina.

Aquele que está doente deve, portanto, buscar alterar sua forma de
viver. Não os atos que pratica, porque isso é impossível, mas mudar a sua
postura sentimental com relação aos acontecimentos da vida. Mudar a
forma de ver o mundo é se despojar das coisas materiais, ou seja,
abandonar todos os sentimentos que não sejam o amor.
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Todos os sentimentos que não o amor são coisas da Terra, não de
Deus, e por isso são conhecidos como materiais. Cristo não disse que para
entrar no Reino dos Céus o ser humanizado tem que se despojar das coisas
materiais?

Na verdade Cristo não falou que você tem que despojar de um


abrigo, mas sim da casa; não do meio do transporte, mas sim do carro; não
de um trabalho, mas sim de uma obrigação. Quando você entender que as
coisas são todas ilusões, que a matéria não existe, mas sim o que ela vale,
vai encontrar o amor para viver os atos que Deus manda você fazer.

Se você é uma pessoa inteligente, dominadora, que se acha capaz


de decidir e praticar qualquer ato que queira, por que não consegue parar
de fumar, se sabe que este hábito só lhe traz prejuízos financeiros e físicos?
Você não quer morrer, mas fuma e se expõe a ter câncer? Sendo tão capaz,
por que não consegue afastar-se deste vício?

Apesar de ter usado este exemplo acima, não pense que estou
condenando o cigarro. Além do mais, como já disse, a doença não nasce de
elementos materiais, mas do destino de cada um dado por Deus. Desta
forma, posso dizer que o câncer não é efeito do uso do cigarro, mas
causado pela ausência do amor no passado.

Fumar é efeito de quem tem como opção de encarnação


desencarnar através da doença chamada câncer, mas não é por isso que
você pode julgar todos os fumantes como grandes pecadores. Muitas vezes
um ato é praticado como missão e não como resultado de débitos.

Assim, muitos fumantes utilizam o amor nos atos que Deus os


manda praticar, mas não podem afastar-se do vício. Não compete a
ninguém julgar o porquê de outra pessoa praticar atos: se não agir assim,
não estará tendo amor.

É isso que é ser "pobre de espírito": é compreender que você não


consegue dar um passo sem que Deus faça o passo ser dado. É entender
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 95
que o pensamento que se forma dentro de você através do raciocínio, é
colocado por Deus e não a conclusão a que você chegou.

Se pudesse formar uma conclusão, esta não seria verdadeira, pois


você não tem a capacidade de enxergar todas as coisas que existem e
acontecem no Universo. Só Deus, que a tudo vê e entende pode chegar a
conclusões. Por tanto, reaja com amor, sem usar pensamentos de poder
como "eu acho", "eu sei", "eu entendo".

Entenda que você não ouve uma palavra que não tenha sido dita
por Deus. Sua função nesta vida é receber esta palavra com um sentimento
escolhido livremente entre o amor e o desamor.

Para você ser um "pobre de espírito" e ganhar a glória de viver no


Reino dos Céus, sua escolha deve ser sempre ouvir tudo com amor. Quem
agir assim irá viver no mundo de Deus, pertinho de Cristo, que age assim.

Muitos espíritos estão aprisionados ao orbe terrestre há pelo menos


sete mil anos e ainda não conseguiram entender isso, apesar de todos os
avisos. Compreender que você não tem a capacidade de praticar nenhum
ato, de chegar a uma conclusão, é a chave para a elevação espiritual e do
fim do processo encarnatório para "provar e expiar".

Por que, depois de tanto tempo, apesar de todos os profetas, Cristo


e os apóstolos, além de outros iluminados terem avisado, você não
consegue enxergar isso ainda? Por que ainda não abdicou de você, ainda
quer ser alguma coisa, quer ser "gente"...

É a visão de si mesmo gerada pelo conceito "homo sapiens" (ser


inteligente, dominador, poderoso) que faz com que você cada mais se
enverede pelo caminho dos sentimentos negativos e precise estar
constantemente passando pelas provas e expiações na carne. Vai chegar à
hora em que entenderá que tudo o que pode ser já é: filho de Deus.

A única coisa que um espírito pode ser na sua existência é ser filho
de Deus e para isso ele não precisa fazer nada mais... Você não tem mais
nada para fazer durante a sua existência do que ser filho de Deus.
Página 96 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Na hora que esquecer que tem que ser bonito, que tem que ser
magro, que tem que andar vestido, que tem que se arrumar e saber que já é
isso tudo porque você é filho de Deus, neste momento conseguirá vivenciar
os acontecimentos com amor. Enquanto estiver preocupado se alguma
coisa é bonita ou feia, magra ou gorda, etc., está vestida ou não, haverá
sentimentos opostos se debatendo e você terá que escolher um deles.

Enquanto você achar que o verde e o amarelo junto não combinam,


estará escolhendo uma das duas cores em detrimento da outra. Tanto o
verde quanto o amarelo são cores criadas por Deus, que as ama igualmente
e por isso podem conviver pacificamente. Se você diz que é feia a união
destas cores, está criticando Deus.

É esta preocupação com o seu "eu", com o que você é, com o que
você faz, que o está prendendo no sistema encarnatório. Na hora que
abdicar de si mesmo, na hora que entender que já é tudo o que pode ser
sendo filho de Deus e que tudo mais que está no planeta é obra do Pai e,
portanto, perfeita, encerrará o seu período de provas e poderá partir para o
período de regeneração. Neste momento todos vão ficar felizes.

O que acontece é que você briga com tudo o que acontece – com
os atos que pratica e que são praticados por outros, com as coisas que
ocorrem com você ou com os outros – porque não entende o que está
acontecendo. Não entende o porque, para que, como e onde das coisas.

Quando briga contra estas coisas, está brigando com quem fez:
Deus. Neste momento está ofendendo não o agente do acontecimento, mas
sim ao Pai. Como você quer ser recebido por este Pai que ofende a toda
hora, em todos os momentos?

Quando o seu filho quer fazer uma coisa da forma que ele quer e diz
que o pai dele não sabe nada, você não fica triste? O seu Pai também se
sente assim.

Quando você diz que o outro não sabe nada, não sabe fazer as
coisas, está dizendo que Deus não sabe nada porque foi Ele que fez o outro
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 97
agir assim. Aquela pessoa não fez nada contra você, mas foi o seu Pai que
falou por intermédio dele. Não para ofendê-lo, mas para lhe dar uma
oportunidade para amar acima do “eu”.

Este é o conhecimento que transforma um ser humanizado em


pobre de espírito: não ter nada. Não ter vontade, não ter senso crítico, não
ter certo e nem errado. O pobre de espírito não tem nada disso porque em
tudo ele encontra alegria; em tudo que ele vê encontra igualdade e não um
mais baixo e um mais alto, um mais certo ou um mais errado.

Este velho não conhece outra forma de se viver. Tantas e tantas


coisas passei na vida e só depois fui entender os motivos pelo qual passei
por aquilo.

Uma vez fui escravo, tomei chibatadas de dia e de noite gritava:


"Pai, por que o meu lombo dói tanto? Por que fui eu o escolhido para estar
aqui, passar por este sofrimento?" Quantas e quantas vezes blasfemei
contra essa "injustiça", até que um dia um amigo me mostrou os motivos.

Quantas chibatadas eu já havia dado nos outros, quantos lombos


havia deixado doendo... Não com o chicote, mas com a minha língua.

Em existência anterior fui um crítico mordaz. Era aquele que


apontava os erros de todos: era um "juiz". Sabia e conhecia tudo, mas com
o meu conhecimento, com as minhas conclusões. Nunca procurei o
conhecimento do Pai dentro dos outros. Eu achava que era o dono da
verdade.

Voltei para o plano espiritual e apanhei muito, sofri muito. Muitos


passavam e cuspiam em mim até que descobri Deus. Mesmo assim tinha
que voltar e resgatar os meus erros.

Nesta vida que fui escravo levei chicotada e fui marcado como
gado, mas isso que a minha carne passou de nada adiantou porque toda
noite eu berrava e uivava contra Deus. Só então entendi que aqueles que
passavam por mim, que cuspiam em mim, estavam agora dando as
Página 98 Caminho, Verdade e Luz – volume I
chicotadas. Não porque eles as quisessem dar, mas porque Deus mandou
que eles assim agissem, porque eu merecia.

Nesse momento aprendi que não tenho o menor direito de dizer que
alguém está “certo” ou está “errado”, porque eles só fazem o que o Pai quer.

Durante o tempo que tenho trabalhado junto a vocês nunca me


viram dizer que alguém estava certo ou errado. Nunca me viram acusar
alguém pelo que fazem. Não faço isso porque não tenho este direito.

Se alguém está agindo de determinada forma é porque Deus está


fazendo-o agir assim e quem sou eu para dizer a Deus como Ele deve fazer
alguém agir? Que sabedoria tenho eu do Universo para poder dizer a
alguém "não faça isso"?

Como dizer "você está errado", "você agiu errado", "você é burro"?
Eu seria muito mais burro do que você porque estaria gritando, brigando e
apontando uma falha de Deus.

Vocês só me viram orientar para que procurasse o amor, a união,


para que entendesse que o planeta só existe por causa do amor. Por isso,
aqui só existe lugar no mundo para o amor e para mais nada.

Já se foram muitas encarnações deste velho e nestas conversas


vamos falar muito sobre as coisas que eu passei. No entanto, como já disse,
não quero falar de lei, não quero explicar a lei porque não sou doutor da lei.
O que quero trazer para você são as experiências deste velho que um dia,
com as graças de Deus, ouviu estas palavras que nós estamos
conversando agora e começou a mudar.

Depois que entendi essas palavras, vivi uma vida na carne onde
todos diziam que eu era bobo, onde todos faziam de mim o que queriam,
mas esta foi a vida que mais aprendi na minha existência espiritual. Foi
nessa vida que eu mais avancei. Quando todos pisavam em mim, não
sentia, porque sabia que Deus estava amortecendo o "pisão" que estava
levando.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 99
Perder? Perder dinheiro, compostura, respeito, o quê? Posso perder
tudo que isso não tem problema...

Posso ficar, como se diz, com "uma mão na frente e outra atrás",
mas enquanto eu tiver Deus do meu lado estarei alegre e feliz. A única
posse, a única bagagem que este velho tem quando arruma as malas é o
amor. O amor por Deus, o amor por ele mesmo e o amor pelos seus filhos
que, na verdade, são filhos de Deus.

Esta é a grande descoberta do mundo. É isto que vai mudar a figura


deste planeta porque, quando alguém começar a agir assim, os outros vão
começar a se sentir, como eu falei antes, desnorteados, constrangidos,
porque não vão conseguir feri-los ou magoá-los.

Este é o segredo do Universo. Isto é ser puro, ser simples, ser


pobre de espírito. Isto é entender que Deus e só Ele é a Causa Primária: é
quem faz acontecer tudo, quem dá o efeito de tudo. É preciso entender que
Deus e só Ele tem o direito de julgar alguém porque consegue ver todas as
repercussões das coisas que são feitas.

Deus e só Ele merece o amor sublime. Merece que eu aja a cada


ato com amor, com alegria e felicidade de viver. Merece que eu viva com a
consciência do sofrimento que possa estar causando aos outros e a mim
mesmo, mas que não sofra por isso.

Este é o segredo do Universo e foi isso que Cristo disse naquele


dia: "Glorifiquem-se, Eu vim trazer a Boa Nova".

Para que exista uma boa nova é necessário que aja uma boa velha.
Qual é ela? A boa velha já era conhecida dos judeus de então: a submissão
às vontades de Deus.

Já a boa nova, a notícia que Cristo veio trazer, está acima disso.
Trata-se de vivenciar os atos que Deus faz acontecer com amor. Esta é a
mensagem que Cristo trouxe ao planeta...
Página 100 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Desta forma, posso dizer que viver a vida carnal de uma forma
espiritual é aceitar Deus como Pai, como Guia, como o Ser maior do
Universo e, a partir desta consciência, reagir a tudo que Ele determinar com
amor.

Esta é a prova que o espírito vem fazer na carne e que já foi


comentado pelo mundo espiritual para Kardec: testar a utilização de
sentimentos, testar a subordinação do espírito aos desígnios de Deus com a
utilização do amor. A prova que os espíritos vêm fazer na carne, neste
planeta, há muitos anos e que tem reprovado a maioria, é aceitar submisso
à vontade Deus, reagindo com amor a tudo que acontece.

O homem não existe: a carne e o espírito se fundem para formar o


homem. A carne é ilusão e o espírito é o filho de Deus que vem a Terra para
dizer: "Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o Vosso nome, venha a
nós o Vosso reino e seja feita aqui a Vossa vontade".

É isso que você veio fazer na Terra. É isso que é a sua prova: viver
em um mundo de Deus dentro da vontade Dele e não da sua.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 101

Hipocrisia

Para falar sobre o tema de hoje estudaremos o Evangelho de


Mateus, Capítulo 23.

Então Jesus falou aos discípulos e a multidão. Ele


Disse:

- Os professores da Lei e os fariseus tem autoridade


para explicar a lei de Moisés. Por isso vocês devem
obedecer e seguir tudo o que eles dizem.

Vamos entender este pequeno trecho, pois ele é fundamental para


todo o trabalho que faremos hoje, pois “professor da lei” e “fariseu” serão
termos citados constantemente.

“Professor da lei” é aquele que conhece a lei profundamente e a


ensina aos outros. Não importa de que lei se fala. Pode ser a religiosa, a
dos homens, de uma sociedade, da cultura, da ética, qualquer uma: o
“professor da lei” será sempre aquele que a ensina ao próximo.

Dentro do nosso estudo de hoje a partir da mensagem do Cristo,


não nos apegaremos apenas ao “professor da lei” religiosa, mas também
aplicaremos este termo ao “ser humano” em geral. O espírito quando
humanizado possui verdades que se transformam em “leis”, pois para ele
existe a obrigatoriedade delas ocorrerem, uma vez que necessita que a sua
seja sempre a “verdadeira”.
Página 102 Caminho, Verdade e Luz – volume I
O conhecimento do ser humanizado são padrões, são normas, são
leis que ele segue. Cada ser humano, portanto, é um “professor da lei” que
pode ser atingido pelo ensinamento do Cristo: alguém que quer ensinar ao
outro o que é “certo” ou “errado” de ser feito.

O segundo termo que o mestre utilizou (fariseu) era dado aos


membros de um “partido” dos judeus. Naquele tempo, não havia política: a
religião era a política. O partido dos fariseus é, então, uma corrente
filosófica dentro da religião judaica.

Esse partido ou corrente tinha como característica o apego profundo


à letra fria da lei. Para os seguidores desse partido só valia o que estava
escrito na lei.

Se Moisés falou que tinha que apedrejar sob determinadas


circunstâncias, isso tinha que ser feito, sem desculpas. Se Moisés falou que
não podia tocar na mulher quando ela estava menstruada, não podia: era
lei.

Desta forma, “professor da lei” e fariseu são termos quase


sinônimos. São determinações dadas por Cristo a espíritos que acreditam
em uma lei cegamente e a querem impor aos outros.

Apesar de vê-los sob este prisma, Cristo afirma: os “professores da


lei” e os fariseus têm autoridade para ensinar a lei. Conhecendo a verdade
de que estas leis eram apenas interpretações individuais dos textos
sagrados, por que o mestre nos diria que devemos escutá-los?

Porque eles “conhecem” a lei. Eles conhecem o texto que compõe a


lei e por isso podem citá-las.

Podemos, pois, entender o ensinamento de Cristo neste trecho


quando nos fala sobre os “professores da lei” e nos fariseus como: “ouçam o
que o professor da lei cita, ouça o que o fariseu cita”.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 103
Porém não imitem as suas ações, pois eles não fazem o
que ensinam.

Como já comentamos anteriormente, neste estudo aplicaremos as


máximas de Cristo para o “professor da lei” religioso, aquele que se apega à
sua interpretação religiosa e afirma que ela é a “certa”, como também ao ser
humanizado, aquele que se apega a sua lei individual (suas verdades) e
quer ensiná-la aos outros. Portanto, para todos os ensinamentos
transmitidos pelo mestre falaremos do religioso e do ser humano.

Citaremos muitos religiosos considerados líderes (padres, bispos,


“donos” de centro espírita, pastores protestante), porque estes são os
“professores da lei”: eles “conhecem” e ensinam a lei da sua religião. No
entanto, não estaremos citando-os com acusações, mas com constatações
da diferença entre o que fazem e o que ensinam, o que é completamente
diferente de acusar.

A existência desta discrepância está explícita neste primeiro


ensinamento de Cristo: todo professor da lei tem autoridade, pelo
conhecimento, para ensinar a lei, mas perde esta autoridade no momento
em que não pratica a lei que ensina. Uma pessoa que tem a
responsabilidade de auxiliar o próximo na sua busca espiritual deve estar
sempre atenta em ensinar às pessoas a ter compaixão, por exemplo, mas
não vivenciar a transmissão deste ensinamento brigando, gritando,
xingando, acusando.

Os “professores da lei” da religião falam e ensinam o amor, mas


para isso acusam o próximo de ser pecador, por exemplo. Diminuem
aqueles que pretendem ajudar afirmando que são espíritos muito pequenos,
atrasados ou sem evolução.

Ensinam que todos somos filhos de Deus, mas se isso é verdade


porque qualquer um seria pequeno frente a qualquer outro ser? Sendo
todos filhos de Deus, somos todos iguais, pois o Pai não privilegia ninguém.
Página 104 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Estes são exemplos da divergência entre o que ensina o “professor
da lei” e como ele se comporta que é a tônica do ensinamento de Cristo. O
“professor da lei” precisa adaptar a sua realidade (modo de agir) ao seu
discurso, à sua lei. Ele gosta de falar, gosta de ensinar, mas não pratica.

Nesta primeira visão encontramos a forma como faremos o trabalho


de hoje: conversar sobre a ação do “professor da lei” mostrando que ela não
tem nada a ver com a lei que ele mesmo ensina.

Portanto, trataremos hoje do individualismo que o “professor da lei”


não abre mão para poder vivenciar a lei que ensina.

Amarram fardos pesados e põem nas costas dos


outros, mas eles mesmos não os ajudam, nem ao
menos com um dedo, a carregar esses fardos.

Todo “professor da lei” amarra fardos pesados nas costas dos


outros: o que Cristo quis dizer com isso? Colocam obrigações e
responsabilidades imensas sobre os outros.

O “professor da lei” está sempre gerando obrigações para os outros,


criando deveres para o próximo, os quais não ajudam na realização nem
com um dedo. Isso é o que Cristo ensina.

Todo professor da lei tem o direito de ensinar a lei, mas não tem o
direito de colocar obrigações nos outros. Por que? Por que cada um tem o
livre arbítrio que Deus lhe deu de fazer o que quiser.

O professor da lei que quer pôr obrigação nos outros, está querendo
roubar algo que Deus deu a cada um dos seus filhos.

Quando o professor da lei diz que para estar “certo” você tem que
fazer isso ou aquilo outro, é o momento de lhe perguntar: “por que eu tenho
que fazer o que você diz?”. Se Deus deu aos espíritos o livre arbítrio até de
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 105
“ficar parado” o tempo inteiro (omissão), como muitos ficam, de onde vem à
obrigação de agir que o “professor da lei” quer impor?

Quando a obrigação imposta não é cumprida pelo ser humanizado,


o “professor da lei” o critica, acusa: “você não presta, não vale nada, não faz
nada nessa vida”. Mas, por que a acusação se isso é um direito garantido
por Deus, que deu a liberdade de opção ao ser?

É sobre a ação do “professor da lei” (gerar obrigações, exigir o


cumprimento delas e acusar os “faltosos”) que Cristo fala quando afirma que
o “professor da lei” amarra obrigações nos outros. Analisemos agora este
ensinamento.

A humanidade acredita que existe a obrigação do espírito elevar-se,


mas o que é buscar a Deus? Você freqüenta um centro espírita e lá ouve
muitas obrigações que tem que cumprir para se elevar. Na igreja católica
ouve outras obrigações (ir à missa, comungar). Na igreja evangélica são
cobradas posturas como o tamanho da saia ou do cabelo para que se
alcance a Deus, mas através de que ensinamentos Cristo condicionou a
elevação a estas coisas?

Tudo isso são apenas posturas materiais e não sentimentais. Cristo


nos ensinou que os dois únicos mandamentos são amar: a Deus e ao
próximo. Acrescentar ao amor ensinado por Cristo posturas materiais é criar
leis individuais. O “professor da lei” religioso obriga fazer, mas que mestre
criou esta obrigação?

Além do mais, quem disse que você tem que se elevar, buscar a
Deus? Que mestre criou a obrigação do espírito elevar-se?

Eles mostraram a necessidade de se executar esta obra, mas não


obrigaram ninguém a realizá-la. Até esta busca é livre arbítrio: opção do ser.
Nem isso o “professor da lei” religioso pode obrigá-lo.

E o “professor da lei” ser humano, como se aplicaria este


ensinamento àqueles que vivem querendo ensinar as coisas ao próximo?
Página 106 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Neste aspecto fica mais fácil ainda compreender o ensinamento de
Cristo. Cada vez que você diz para alguém “tem que fazer isso”, que o
obriga a realizar uma determinada tarefa na forma e no momento que
deseja, transforma-se em um “professor da lei”.

O pior é que o “professor da lei” ainda afirma que impõe obrigações


aos outros por amor. Amor a quem? A ele mesmo. Amor a ele que depende
de que sua verdade seja contemplada para se sentir feliz. Isso não é
individualismo?

Até aqui analisamos a primeira parte do ensinamento do mestre


(amarram fardos pesados nas costas dos outros), mas o que Cristo teria nos
ensinado quando completou: “não ajuda a carregar nem com um dedo”?

O “professor da lei” ensina a lei, cria a obrigação e depois se


transforma em um juiz que julgará a ação do próximo verificando se a lei foi
cumprida. Em nenhum momento o “professor da lei” depois de criá-la (gerar
a obrigação) abraça o próximo e diz: “eu vou fazer com você, eu vou lhe
ajudar a executar”.

Ele cria a lei, gera a obrigação, e deixa o outro sozinho para fazer.
Só depois de algum tempo se aproxima para saber se está tudo “certo”, ou
seja, da forma que ele queria, no tempo que achava que deveria ser
executada a tarefa.

É esta a forma de agir do ser humanizado, daquele que possui leis


(verdades): obrigar a pessoa a fazer dentro dos seus padrões, mas para isto
não ajuda de forma alguma.

Não estou falando de ajudar fisicamente a realizar a tarefa, mas


sentimentalmente. “Olha você precisa fazer isso, mas, vamos lá nós dois,
juntos conseguimos”. Isto é não ser “professor da lei”.

Com esta predisposição sentimental o ser humanizado pode até ter


uma lei e ensiná-la, mas auxiliará as pessoas a quem pretende impor sua lei
individualista a cumprirem aquela lei e, assim, realiza o que ensina.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 107
Este você deve ouvir e seguir, mas aquele que simplesmente lhe diz
o que você tem que fazer e fica na posição de juiz para lhe cobrar
resultados, saia de perto. Se você sair, pode ter a certeza que ele arranjará
outra “cobaia” para o prazer dele, pois ele não está preocupado que a tarefa
seja feita ou não, mas que se cumpra o que determinou, a sua lei.

Na verdade o “professor da lei” seja religioso ou humano é um


senhor de escravo. Ele escraviza os outros dentro do seu individualismo
gerando obrigações para que os outros cumpram obrigatoriamente. Só
quando isto ocorre se sente feliz. “Viu como eu sou importante: eu disse
para fazer e está pronto”. É este o ensinamento de Cristo.

Tenho a certeza que neste momento você está lembrando de muita


gente que conhece e age desta forma. Lembre mesmo, mas não acuse,
porque senão você também se tornará “professor da lei”.

Compreenda que aquela pessoa é assim, age desta forma, mas


veja também que ele não precisa da sua crítica, mas do seu amor. É preciso
amá-lo para que se mude.

Não adianta criticar ninguém, mesmo os “professores da lei”, senão


nos transformamos em igual a eles. Ao lembrar-se agora de outros que
agem assim, não julgue estas pessoas. Constate que são “professores da
lei”, mas os ame do jeito que eles são.

Pergunta: Às vezes eu acho que não sabemos amar.


Será que ao tentarmos colocar em prática estes
ensinamentos não estamos apenas aceitando as
pessoas do jeito que são?

A aceitação é apenas o começo para que você aprender a amar. A


aceitação ainda não é o objetivo final, mas é o caminho para o amor.

Sim, vocês ainda não conseguem amar, ainda estão presos na


aceitação. Alguns, porque outros nem isso.
Página 108 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Pergunta: Acredito que nós fomos educados desde
criança a ser um “professor da lei”: dentro de casa, da
escola e do trabalho. É só julgamento de tudo o que
ocorre. Agora temos que mudar tudo?

Mas isto é o objetivo da vida. Você foi criado com todas estas leis
para poder promover a sua reforma íntima, ou seja, quebrar todas as leis
que lhe impuseram.

Fazem tudo para serem vistos. Vejam como são


grandes os trechos das Escrituras Sagradas que eles
copiam e amarram na testa e nos braços!

Os sacerdotes (“professores da Lei”) no tempo do Cristo, tinham por


hábito copiar pedaços dos textos sagrados em pergaminhos e prender nas
roupas. Com este gesto afirmavam que possuíam o conhecimento daquele
trecho. Isso é tradição até hoje: os judeus ainda enterram na porta da casa
um pedaço da Tora com a mesma finalidade.

Hoje não existe mais esse hábito entre os “professores da lei” das
diversas religiões, mas o ensinamento do Cristo tem que ser universal: valer
para todos os tempos. Portanto, vamos buscar a compreensão dele para os
tempos atuais.

Os “professores da lei” de hoje não mais amarram nas suas vestes


os textos bíblicos ou textos das leis, mas ainda mostram o quanto sabem
citando-os constantemente. Portanto, o ensinamento de Cristo ainda está
vivo, porque o “professor da lei” de hoje ainda quer mostrar o quanto sabe
citando a lei. O “professor da lei” de hoje é aquele que gosta de discursar
para mostrar o quanto ele sabe.

Ele age desta forma não para auxiliar o outro, mas para ser visto,
para ser reparado. O “professor da lei” cita os textos sagrados não para
transmitir ensinamentos, para conversar, para trocar idéias: esta não é a sua
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 109
postura. Age dessa forma para mostrar que ele sabe aquilo (é sábio) e, por
isto, os outros têm que ouvi-lo e aceitar a tudo o que ele diz como “verdade”.

É a questão da cultura: o professor da lei se imagina o culto, sabe


tudo. Ele é, em sentido figurado, uma estante: cheia de livros
(ensinamentos) na cabeça.

Cita todos eles de ponta a ponta, mas age desta forma para ganhar
a fama. Não faz isto com a intenção de ajudar, mas sim para demonstrar o
quanto ele é sábio, o quanto sabe.

Com este modo de proceder cria para si uma falsa ascensão moral
que tem como objetivo dar legitimidade nas obrigações que coloca nos
outros. Neste modo de proceder está o ensinamento de Cristo quando fala
que coloca tabuletas na sua roupa com os textos das Escrituras Sagradas,
seja de que religião for.

O “professor da lei” não cita o texto sagrado apenas para mostrar o


quanto é sábio, culto, mas serve-se desse expediente principalmente para
ter a legitimidade para mostrar o “erro” dos outros a respeito da lei que ele é
sábio. É alguém que deve ser ouvido, pois o texto das Escrituras Sagradas
é universal, mas não seguido no destino que dá ao seu conhecimento (não
praticá-lo).

É alguém que têm coisas que você precisa aprender, mas não se
transformar em discípulo, ou seja, aceitar a sua falsa ascensão. Se isso
acontecer, lhe amarrará um fardo pesado e não ajudará a carregá-lo nem
com um dedo.

E no caso do ser humanizado, quem podemos afirmar que é aquele


que amarra na sua roupa pedaços da lei? É todo aquele que diz: “eu sei a
verdade, você não sabe nada”.

Aquele que diz que sabe, por exemplo, o lugar do copo ou o que é
uma casa arrumada e que diz para o outro que ele não conhece as coisas, é
o “professor da lei” ser humano. Ao agir dentro desse padrão de realidade
automaticamente cria obrigações nos outros porque quer mostrar o quanto
Página 110 Caminho, Verdade e Luz – volume I
sabe, o quanto é importante. Se não for ele jamais a casa estará arrumada,
o copo não estará no lugar, ninguém estará “bem vestido”.

É isto que Cristo está nos ensinando e a partir da compreensão do


ensinamento, podemos verificar o que devemos fazer para chegar a Deus:
parar de dizer que sabemos o lugar “certo” das coisas, o que tem que ser
feito, como se guardam as coisas, etc.

Agindo assim o ser humanizado não se transformará em um


“professor da lei” e não gerará obrigações.

Pergunta: Quando o senhor manda, por exemplo, amar,


não está fazendo uma lei?

Eu não “mando” amar ou qualquer outra coisa. Nunca mandei


ninguém fazer nada.

O que eu ensino é o seguinte: se você quer alcançar a elevação


espiritual tem que amar. Agora, se você não quiser alcançar, eu não vou
obrigá-lo a atingi-la.

Aí está a diferença. Se você não quiser evoluir eu lhe dou o direito,


se você não quiser amar, também. Agora eu lhe amo independente de você
me amar.

Mas, poderiam me perguntar, como viver sem receber de volta por


aquilo que fazemos? Com a oração do São Francisco: “Pai, que eu console
mais do que seja consolado”.

Eu não obrigo. Nossa conversa nunca foi em tom de imposição,


mas sim de orientação.

Pergunta: Não é esta a colocação. A questão de que


devemos amar, de um modo geral, não é uma lei?
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 111
Não, é caminho. Lei é obrigação. Você não é obrigado a amar, mas
o caminho da evolução passa necessariamente pelo amor. Você pode ir por
qualquer caminho, mas apenas este leva a Deus.

Não é uma obrigação, mas um caminho que precisa ser trilhado por
aqueles que almejam aproximar-se de Deus.

E olhem os pingentes grandes nas suas capas.

O “professor da lei” adora se enfeitar, estar bonito. Sabe para quê?


Para causar boa impressão. Para que? Para mostrar o quanto é superior.
Para que? Para poder amarrar fardos nas costas dos outros. Este é o
ensinamento do Cristo.

Quando você vê uma pessoa excessivamente arrumada,


“engomada”, é um “professor da lei” querendo aparecer, mostrar o quanto
ele é importante. Age assim porque a humanidade acredita na aparência
estética.

Afinal de contas, ninguém “importante” anda de sandálias de


pescador e de bata, anda? Esqueci de Cristo ... ele andava assim... e era o
maior professor de qualquer lei, ou seja, aquele que mais conhecia as
verdades dentre todos que já viveram na carne. Mas, ele tinha uma
ascensão moral verdadeira porque praticava aquilo que ensinava e, por
isso, não se preocupava com honras e glórias.

Agora aquele que gosta de ditar lei para benefício próprio (ter
prazer), se arruma. Quer estar sempre impecável para poder aparecer e
com isto desfrutar de uma posição que não lhe aproxima de Deus, mas que
faz com que os outros o idolatre.

Vou repetir aqui um ensinamento que as pessoas que já ouviram,


mas para muitos pode ser novidade. Trilhar a evolução espiritual é como se
fosse o caminho de um barco navegando do porto da ignorância com
Página 112 Caminho, Verdade e Luz – volume I
destino ao da sabedoria. Cada ensinamento é um barco que poderá fazer
este transporte.

Só que nesse caminhar do porto da ignorância até o da sabedoria o


ser humano está preso por quatro âncoras, ou seja, quatro atitudes que, por
mais que se aprenda os “segredos” do universo, não deixam o espírito
evoluir.

Essas quatro âncoras são: a vontade de ter prazer e o medo do


desprazer; a vontade de estar “certo” e o medo de estar “errado”; a busca
da fama e o medo da infâmia, ou seja, de ser considerado “errado”; e a
busca do elogio e o medo da crítica.

Essas quatro atitudes não deixam o espírito alcançar o porto da


sabedoria, por mais que conheça os ensinamentos dos mestres.

Enquanto o ser humanizado lutar para ter prazer terá medo do


desprazer. Com isso não deixará jamais de lutar pelo prazer, pois tem o
medo do desprazer. Continuando neste ciclo vicioso ficará preso no meio do
“mar”, ou seja, jamais transformará a sua caminhada de “ignorância” em
sabedoria.

Enquanto quiser estar “certo”, terá medo de ser apontado como


“errado”; enquanto quiser ser famoso, terá medo da infâmia e vai fazer de
tudo para ser famoso, inclusive ostentando exteriormente o que não é por
dento.

Buscará sempre o elogio fácil e terá medo da crítica. Muitos dizem


que a crítica auxilia, mas quem afirma isto não quer ser criticado. Quando
age desta forma perde uma grande oportunidade de promover a sua
reforma acusando o outro.

Enquanto o ser em busca de Deus não se libertar destas quatro


âncoras, não as quebrar abandonado-as no mar (o caminho da evolução),
não chegará ao porto da sabedoria. O “professor da lei” citado por Cristo
neste ensinamento é ancorado nessas quatro âncoras.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 113

Preferem os melhores lugares nas festas ...

O “professor da lei” não aceita passar incógnito. Ele quer a posição


de destaque onde quer que esteja. Não aceita ser mais um, mas quer ser
sempre o “principal”. Este é o “professor da lei”.

É aquele que se vangloria de ser o responsável por tudo, ser o dono


de todas as coisas, aquele que sempre “sabe”. Este é o “professor da lei”.
Ele faz questão de sempre falar tudo o que sabe e quer estar sempre
rodeado de outros que lhe adorem.

Para ele a bajulação é o alimento, é o ar que respira: não consegue


viver sem. Imagina que terá isto por toda eternidade, mas mal sabe o que
lhe reserva o “destino” depois da saída da carne: o abandono completo. Não
como uma penalidade, mas para aprender a ser humilde.

Este é o “professor da lei” que o Cristo nos ensina.

Aquele que gosta de falar, que gosta de ensinar, que gosta de dizer
o quanto sabe. Aquele que gosta de estar aparentemente muito bem para
mostrar a todos o quanto é bom e que corre para sentar nos melhores
lugares, conseguir posição de destaque para que todos o observem.

Verifique se este modo de proceder não está ligado às quatro


âncoras que falamos? Em todas: no prazer, no estar certo, na fama e no
elogio.

Para os “professores da lei” Cristo deu mais um ensinamento. Ele


disse assim: se você for convidado a ir a uma festa, sente no fundo, pois se
alguém lhe chamar para frente será uma honra, você foi convidado para a
glória. Agora, se você quiser se sentar logo na frente, pode ser que alguém
lhe mande ir para trás e você será, então, desonrado.

Este é um grande ensinamento que precisamos aprender.


Precisamos parar de dizer que somos donos da verdade. Parar de imaginar
Página 114 Caminho, Verdade e Luz – volume I
que podemos mandar nos outros, achar que temos dinheiro e poder para
“comprar” o que quiser. Deixar de imaginar que somos grandes, os maiorais
e não precisamos de ninguém para nos mandar.

“Eu sei o que tem que ser feito e por isso eu digo o que deve
acontecer e não você”: este é o padrão que o “professor da lei” aplica às
coisas do mundo.

Precisamos deixar de ser “professores da lei” porque esta função na


vida não nos garante um destino muito bom depois do desencarne. Cristo
avisou: o menor no reino da Terra será o maior no “céu”; o maior no reino da
Terra será o menor no “céu”.

Pergunta: Qual o destino dos “professores da lei”?

O destino do “professor da lei” é o umbral onde será tratado como


mínimo para aprender o quanto ele fez com os outros durante a
encarnação.

e os lugares de honra nas casas de oração.

É o mesmo que comentamos acima. Tanto faz na vida mundana


quanto na vida religiosa, os “professores da lei” sempre querem o lugar de
destaque. Buscam sempre “aparecer”, se mostrar, estar sendo visto por
todos para poder ter o prazer.

Gostam de ser cumprimentados com respeito nas


praças e de ser chamados de “mestre”.

Por que o “professor da lei” gosta de ser cumprimentado com


respeito? Para ele, o respeito é a prova da fama. Os “professores da lei”
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 115
gostam que os outros digam o quanto ele sabe. Gostam que os outros
estejam sempre afirmando: “é um prazer e uma honra lhe cumprimentar”.

Por que alguém deveria ter essa deferência especial pelo “professor
da lei” já que ele é um ser humano igual a todos? Se ele vive a vida da
mesma forma que eu (baseado no individualismo), então porque é preciso
bajulá-lo? Na verdade, o professor da lei não quer ser respeitado, mas
bajulado. O que ele exige é o respeito pela sua superioridade.

Esta é uma característica do ser individualista, do “professor da lei”.


Sempre está querendo que os outros demonstrem o quanto ele é
importante. Necessita que os outros demonstrem o servilismo, porque isto é
alimento para o “professor da lei”: precisa disto para viver.

Quando alguém passa e não o reconhece, não lhe trata com


respeito, o “professor da lei” sofre: “Como, você não está olhando para mim,
você não está falando comigo, está conversando com outro? Mas eu sou o
“professor da lei”, sou eu que sei as coisas”. Este sofrimento é “morte” para
ele.

Esta característica Cristo não teve. Ele deixou os “professores da


lei” jantando e foi comer com as prostitutas. Este tipo de comportamento foi
um dos motivos alegados pelo Sinédio, os “professores da lei” hebreus, para
crucificar o Cristo. “Como ele não vem aqui no templo para ensinar e vai
para a casa de uma prostituta”?

Aquele que diz que o Cristo cumpriu as leis, nunca entendeu a


Bíblia. O mestre não cumpriu nenhuma lei: descumpriu todas que existiam.

Ele descumpriu todas as leis do Sinédio, a dos “professores da lei”,


e cumpriu as leis de Deus: amou a todos e a Deus acima de todas as
coisas. Esta é a única lei que existe, mas que também não é uma lei, como
já vimos, mas um caminho que cada um pode escolher.

Então, precisamos mudarmo-nos. Parar de cobrar dos outros a


adoração a si. Parar de cobrar dos outros que devem nos servir, que devem
Página 116 Caminho, Verdade e Luz – volume I
nos respeitar porque sabemos a “verdade”, o “certo”. Não é este o caminho
que leva a Deus.

Libertar-se desta forma de agir deve ser a busca de todos nós,


mesmo que ainda imaginemos que façamos isto por amor ao próximo. Você
faz por amor a si mesmo e não ao próximo. Não busca ajudar, mas a criar o
servilismo.

Pergunta: Então seria interessante eu colocar minhas


palavras incógnito?

Necessariamente não, até porque você jamais conseguiria colocar


palavras sem ser percebido, pois quando um som sair alguém ouvirá. Não
estará mais incógnito.

Fale, mas não busque a fama. Acabou de falar o que tinha que
dizer, não permaneça esperando para receber os elogios. Não fique
esperando todo mundo correr em volta de você para lhe elogiar, afirmar
quanto foi boa a sua palavra.

Pergunta: Como agirmos para colocar nossas palavras?

Ame e deixe as palavras saírem da sua boca. Liberte-se das quatro


âncoras e deixe a palavra sair da sua boca.

A palavra como coisa material não é criada por você, mas Deus
Causa Primária é que fará as palavras saírem de sua boca. Portanto, não
procure palavras: ligue-se a Deus e deixe sair. O que sair era para sair.

Vocês não devem ser chamados de “mestre”, pois


todos vocês são irmãos uns dos outros e têm somente
um Mestre.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 117
Que maravilha de ensinamento: todos somos irmãos, ou seja,
somos iguais. Você não pode ser um mestre, ou seja, “saber” das coisas
mais do que os outros, pois se assim fosse seria melhor que os outros.

Somos todos iguais, irmãos entre si. Se você tem o direito de achar
que “sabe” é preciso que dê ao outro o direito de achar que ele também
“sabe”. Se ele não faz como você fala, ensina, é porque fez do jeito que
achava que deveria fazer. Se ele não fez é porque achava que não tinha
que fazer.

E por que você não dá a ele o direito de não fazer ou de fazer na


forma que quiser? Porque você quer ser mestre. Mas, o Cristo ensinou:
temos somente um mestre. Todos nós temos um só mestre, aquele que
sabe perfeitamente as coisas e por isso pode ensiná-las.

Quem seria ele? Deus. Ele é o único que sabe a Verdade, é o único
em condições de ser um professor que ensina a lei, Aquele que pode
ensinar algo. Ele conhece a Verdade das coisas, é o dono da Verdade
Absoluta.

Quando você diz “eu sei como se faz isso”, está querendo ser Deus.
Está roubando do Senhor do Universo o Seu Poder.

Ilusoriamente, é claro, mas é isto que faz uma pessoa que garante
que sabe alguma coisa, seja em que termo for: até nos mínimos detalhes.
Você sabe a cor da peça de roupa que está usando agora? Você é um
“professor da lei”, um mestre, quer ser Deus. Se você “sabe”, quer ser
mestre, neste caso, o mestre das cores.

Não importa o que seja, declare a sua incompetência de saber. Abra


mão da sua maestria para poder entregar o comando a quem realmente
sabe: Deus.

E aqui na Terra não chamem ninguém de pai, porque


vocês têm somente um Pai, que está no céu.
Página 118 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Nós todos temos um só Pai: Deus. Mas, o que é ser “pai”? Qual a
função do pai para a humanidade? O pai é o amparo. Neste ensinamento,
portanto, Cristo diz: não se ampare em ninguém, pois você tem um só Pai,
um só amparo.

Quem tem filho para garantir a sua velhice normalmente acaba em


asilo. Quem obriga um filho formar-se para obter uma posição de destaque
no mundo material com a intenção de que no futuro tome conta dele,
normalmente acabará sozinho.

Nós temos que procurar amparo em Deus e em mais ninguém.


Quero passar um ensinamento agora muito importante, mas busque me
compreender com toda clareza, pois poderá parecer algo “errado”: não
confie em ninguém. Nenhum outro espírito é digno da confiança absoluta e
irrestrita a não ser Deus.

Isto é o que o Cristo nos ensina o tempo inteiro. Não adianta rezar
para “santo”, não adianta nem pedir a intervenção de Cristo para que
aconteça aquilo que você espera, pois poderá se desiludir. Não adianta
confiar em um médium ou em espíritos desencarnados: você pode se
desiludir. A entrega (confiança) é a Deus e a mais ninguém.

Quem confia em um “santo”, sabe o que faz? Idolatria. Transforma-


se em idólatra. Idolatra o “santo” ao invés do próprio Deus. Quem se
entrega a um médium, a um centro espírito, ao padre ou ao papa, é idólatra
porque não idolatra a Deus, mas outro espírito.

Salomão nos “Provérbios” ensina: aos responsáveis pelo trabalho


de Deus devemos respeito, mas amor só a Deus, só ao Pai. Respeitem
todos os espíritos tratando-os de igual para igual e idolatrem (amor
absoluto, entrega absoluta) só a Deus, a mais ninguém.

“Você precisa vir para nossa igreja e se entregar ao padre (ao papa,
ao pastor)”. Por que? É um espírito em evolução igual a mim. É um espírito
que está buscando elevação espiritual igual a mim. Como ele pode me
sustentar se ainda está querendo aprender a se sustentar?
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 119
É este o ensinamento do Cristo: só há um Pai, só há um aconchego,
só há um repouso para o espírito. É por isso que o mestre ensina assim: as
raposas e as aves têm o seu ninho para descansar, mas o ser humano não
tem onde encostar a sua cabeça.

Você confia no amigo, ele lhe trai; confia no “santo”, ele não faz o
que você quer; confia em um médium, descobre que ele é “professor da lei”,
quer fama para si. Deus, do Pai e no Pai é que devemos procurar o
repouso.

Por isso o Cristo jamais pediu idolatria a ele, mas ensinou a idolatria
a Deus, o repouso em Deus. E é por isso que o Krishna diz: repousa em
Mim (Deus) e assista sua vida.

Pergunta: A nossa ação não deve ser com intenção de


receber algo em troca. Devemos agir porque
acreditamos no que fazemos e assim, não esperar nada
e não terá desilusão.

Se você agir porque sabe que tem que agir de determinada forma já
demonstrou uma intenção e se transformou em um “professor da lei”. Agir
sem intenção não é apenas não esperar nada em troca, mas não saber
porque está agindo. Krishna ensina que a Yoga é a vida sem intenção.

Então, não é só isso que você falou, mas ainda mais. Temos que
viver sim, sem intenções (“Porque você falou isso? Não sei. Para que falou?
Não sei. O que vai resultar disso? Não sei”) além de nada esperar como
recompensa.

Enquanto você tiver verdades tem intenções: “eu falei isso porque
acho certo”.

Pergunta: Hoje o “médico” não está com pena de


“sangrar a ferida”: está pondo todo o “pus” para fora.
Página 120 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Na hora que vocês entenderem que enquanto não se extrair o
abscesso que está purgando não haverá cura. Continuarão “alisando a
cabeça” dos outros e a sua e não evoluirão.

É por isso que falo profundamente e não superficialmente.

Nem devem chamar ninguém de líder porque vocês têm


um líder, o Messias.

Só existe uma liderança: Cristo. Ele é o líder de toda espiritualidade


que vive no planeta Terra. Então, o papa, o dono do centro espírita, o pastor
evangélico, não são líderes, mas subordinados a Cristo. Agora, como
podemos compreender a subordinação do espírito a Cristo? Segui-lo
incondicionalmente.

“Eu sou o caminho, a verdade e a luz. Ninguém chega a Deus a não


ser através de mim”. Nesta máxima está retratada a liderança que o Cristo
exerce.

Mas, o que será ser o Cristo? O que será esse caminho “ser
Cristo”? É viver a vida Cristo, como ele viveu. Ser Cristo, seguir a liderança
do Cristo é viver como o mestre viveu.

É seguir as intenções com as quais o Cristo viveu; praticar os


ensinamentos como ele praticou. Que me desculpe o papa, mas ele não
pode ser subordinado de Cristo morando em um castelo.

O mestre ensinou “abandone todas as suas posses e me siga”.


Enquanto ele ou sua religião tiverem posses não estarão seguindo Cristo,
quaisquer que sejam os motivos alegados para elas existirem.

Que me desculpem os religiosos, mas enquanto eles não saírem


dos seus “castelos enfeitados”, sejam centros, templos e igrejas e irem para
rua, de esquina em esquina, não seguirão a liderança do Cristo. Como o
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 121
mestre ensinou, o templo de Deus está dentro de cada um e não em
recintos fechados.

É isto que o Cristo nos ensina neste trecho. Se quiser deixar de ser
“professor da lei” você tem que aceitar a liderança do Cristo, ou seja, tem
que colocar em prática, como ele colocou, todos os ensinamentos. Não é
colocar em prática apenas o que quer e gosta ou aquilo que acha que está
certo, arranjando justificativas para não fazer o que não quer.

Seguir a liderança do Cristo: este é o caminho que leva a Deus.


Mas, seguir a liderança do Cristo é agir desta forma e não apenas ficar
rezando para ele. É viver como ele viveu nos mínimos detalhes.

Para poder colocar este ensinamento na prática aconselho aos


seres humanizados a perguntar a si mesmo a cada segundo, a cada
acontecimento, o que será que Cristo faria nesse momento?

O que será que Cristo faria agora? Como reagiria neste momento?
Qual ensinamento pode ser aplicado agora na minha vida? Isso é seguir a
liderança do Cristo.

Entre vocês o mais importante é aquele que serve.


Quem se engrandece será humilhado e quem se
humilha será engrandecido.

Aqui mais uma vez espelha-se o grande ensinamento de Cristo.


Este é o grande caminho que precisa ser seguido por aquele que busca
seguir a liderança do Cristo: servir ao próximo, não importa onde, quando ou
como.

Para se seguir a liderança de Cristo é preciso “rasgar o peito” e tirar


de dentro de si todas as verdades, todos os desejos, todo individualismo. Só
assim o ser humanizado poderá estar pronto para servir o outro. Enquanto
houver algum resquício de individualismo, de vontade, de desejo, não
conseguirá servir o próximo.
Página 122 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Quando não servimos ao próximo só nos resta um caminho a
seguir: se servir do próximo, ou seja, se transformar em um “professor da
lei”. Não existem outras opções neste mundo: ou eu sirvo ao próximo ou,
simplesmente, me sirvo do próximo para ser feliz.

Servir ao próximo ir muito além do “eu”, ou seja, o que se quer.


Seguir a liderança de Cristo é fazer pelo próximo independente do que você
quer fazer, independente de querer servir, independente de se alcançar
satisfação por ter servido. É fazer o que se está fazendo apenas por fazer:
sem tirar nenhum lucro individual da situação.

“Você quer me bater, me bata; quer me xingar, me xingue; quer


deixar de fazer o que eu acho que é certo, deixe”. Eu estarei lhe servindo e
é para isso que nasci. Servir ao próximo é o objetivo máximo de uma
existência para aquele que busca a elevação espiritual.

Quem serve nesta vida será servido no “outro mundo”, que não é
depois da morte, mas agora mesmo, depois da transformação, da elevação
espiritual durante esta mesma vida carnal.

No entanto, não mais servido em paixão, em desejos, em fama ou


em glória, mas servido amorosamente. Aquele que aprender a servir terá
suas “feridas lambidas”, ou seja, terá suas dores (sofrimentos) apagadas.

Isto é servir ao próximo; este é o motivo de estarmos na carne. Por


isso aquele que serve a liderança de Cristo, que tem Deus como Mestre e
como Pai não abusa de ninguém.

Vocês falam muito em estupro, têm medo deste acontecimento, mas


quer ato de mais violência contra a individualidade do próximo do que a
ação de que qualquer “professor da lei” como a entendemos a partir desta
conversa? Ele estupra a vontade e a felicidade dos outros.

Esta forma de agir é um ato violento: “eu sei o que está certo, cala a
boca você”. Os religiosos se preocupam muito em não matar, mas o que o
“professor da lei” faz? Mata o outro. Mata a individualidade do próximo
quando quer transformá-lo em cópia de si mesmo.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 123
Não aceite outra liderança senão Cristo, pois qualquer outra irá
querer lhe transformar conforme o seu próprio desejo e para isso lhe dará
responsabilidades que não ajudará a carregar.

Ai de vocês, “professores da lei” e fariseus, hipócritas!

Já estudamos os termos “professor da lei” e “fariseus”, mas agora


Cristo coloca um novo elemento em nosso estudo: a hipocrisia. Vamos
tentar entendê-lo antes de continuar a ver os ensinamentos do mestre.

O que é hipocrisia? É mentir para si mesmo. O hipócrita vive


mentindo para sai mesmo, mas a maior mentira que conta para si mesmo é
que é autônomo do universo, que consegue praticar atos independentes de
uma coordenação universal que dá a cada um segundo as suas obras. Isto
é hipocrisia.

Hipócrita é o ser humano, que acha que é independente de Deus,


que acha que o Senhor Supremo do universo criou tudo e não pode agir
previamente em momento algum. Para os “professores da lei” Deus tem que
se submeter aos seus caprichos, às suas vontades. É isso mesmo: para a
humanidade Deus tem que se submeter aos caprichos dos seres humanos.

“Ah, eu tenho ganância, vou assaltar, vou matar quem quiser”.


Hipócrita.

Você acha que o filho de Deus não estará protegido pelo Pai que é
o Senhor Supremo de tudo? Você acha que Deus vai gerar um filho e
depois vai entregá-lo a você para fazer dele o que quiser?

“Qualquer um pode agir como quiser contra os meus filhos que Eu


não estou nem aí”. Esta seria a posição do Deus que imaginamos: Fonte
Sublime do Amor?

Hipócrita é você que quando não compreende que o seu desejo não
foi atendido, que a sua lei não foi cumprida por outro ser humano, mas por
Página 124 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Deus diretamente. E quando você briga e grita com o filho de Deus,
acusando-o de ter lhe ferido, magoado ou de não ter feito “certo”, está
acusando o próprio Deus, que afirma amar.

“Professores da lei”: Deus é tudo e tudo é Deus, não existem


exceções.

Sabe a minhoca que mora em baixo da Terra? É Deus: ela não pode
ser usada para o seu prazer de matar os peixes. Sabe o rio que corre? É
Deus, não pode ser usado simplesmente porque você quer morar em uma
cidade e precisa de um lugar para jogar o esgoto. Sabe o ar que você
respira quando está brigando com os outros? É Deus. Você está usando
Deus para brigar, difamar, matar, estuprar o filho de Deus.

Senhores “professores da lei”, a única coisa que o espírito deve


fazer é amar. Amar a todos, não a quem ele acha que está certo, aquele que
cumpre o que vocês querem. Amar a todos indistintamente: aqueles que
seguem a sua lei, ou aqueles que não seguem a sua lei.

Como disse Cristo, abraçar o amigo é fácil eu quero ver


cumprimentar o inimigo. Aquele que vivencia a situação que lhe contraria,
que não segue a sua lei, senhor “professor da lei”, é um instrumento de
Deus para lhe colocar em prova. Deus quer saber se o senhor vai colocar
em prática aquilo tudo que ensina e exige dos outros.

Aqueles que o senhor chama de pecadores, que não cumprem os


mandamentos da “vossa” lei, não são o diabo não, “professores da lei”. Eles
são os anjos do Senhor que estão na sua vida para lhe conduzir ao Pai, pois
lhes auxiliam a viver a vida Cristo.

Se Cristo não tivesse os inimigos que teve não teria vencido nada.
Foi justamente ao não acusar e não criticar aqueles que não o
compreenderam que o Cristo exemplificou o caminho a Deus.

Pergunta: “Mais vale um ateu do que um crente


hipócrita”. Frase do apóstolo Paulo.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 125
Se você amar a todos, não precisa nem acreditar em Deus. Quando
Cristo nos ensina a amar a Deus acima de todas as coisas não ensina
bajulação, mas ensina um caminho.

O amor a Deus acima de todas as coisas não é a bajulação a Deus,


mas o caminho para se alcançar a evolução espiritual.

Agora já compreendemos em profundidade o ensinamento de


Cristo nesse capítulo do Evangelho de Mateus. Vamos, então, conhecer
com apenas alguns comentários o restante do texto.

Ai de vocês, professores da lei, fariseus hipócritas!


Pois fecham a porta do reino do céu aos outros, mas
vocês mesmos não entram nem deixam entrar os que
estão querendo.

Ai de vocês, professores da lei, fariseus hipócritas! Pois


atravessam os mares e viajam por todas as terras para
procurarem converter uma pessoa à sua religião. E,
quando conseguem, tornam essa pessoa duas vezes
mais merecedora do inferno do que vocês mesmos.

Ai de vocês, guias cegos! Pois ensinam assim: Se


alguém jurar pelo Templo, não é obrigado a cumprir o
juramento. Mas, se alguém jurar pelo ouro do Templo,
então é obrigado a cumprir o que jurou!

Expliquemos o significado de alguns trechos do ensinamento para


alcançar a compreensão correta dele. Jurar pelo Templo é jurar por Deus,
pelo ouro do Templo é pela materialidade.

Tolos e cegos! Qual é mais importante: o ouro ou o


Templo que santifica o ouro?
Página 126 Caminho, Verdade e Luz – volume I
O que é mais importante para você: a vida material ou Deus, que
santifica a vida material? Tudo que acontece é “santo”, pois Deus “santifica”
a vida material através da Causa Primária.

Utilizando-se de tudo o que já vimos neste estudo, podemos


compreender que Cristo está perguntando aos “professores da lei” se eles
se apegarão mais ao que acreditam estar acontecendo (“erro”) ou na
santidade dada por Deus a todas as coisas?

Vocês também ensinam isto: se alguém jurar pelo altar,


não é obrigado a cumprir o juramento. Mas, se jurar
pela oferta que está no altar, então fica obrigado a
cumprir o que jurou.

Novamente a mesma figura: o altar simbolizando Deus e a oferta a


vida material.

Cegos!,Qual é mais importante: a oferta ou o altar que


santifica a oferta?

O que é mais importante: a sua oração (ato material) ou o Deus que


santifica a sua oração? Tem muita gente que reza, medita ou pratica
qualquer outro ato material sem buscar a Deus sentimentalmente, pois
acredita que apenas o ato de rezar o levará à evolução espiritual.

O trabalho material de qualquer forma seja ele “certo” ou “errado”,


não é santo, mas sim o Deus que santifica o ato causando-o, seja ele de
que natureza for.

Por isso, quando alguém jura pelo altar, está jurando


por ele e por todas as ofertas que estão em cima dele.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 127
Quando alguém jura pelo Templo, está jurando pelo
Templo e por Deus, que está ali. E, quando alguém jura
pelo céu está jurando pelo trono de Deus e pelo próprio
Deus, que está sentado nele.

Tudo o que você faz na vida vem de cima para baixo, pois Deus é a
Causa Primária de todas as coisas. Por isso tudo que alguém faça durante a
sua existência é santo, é santificado, até o que você considera como “banal”
ou “errado”.

A caridade é um ato santificado? Sim, mas roubar o outro também é


santo, pois é Deus que faz o ladrão roubar daquele que precisa vivenciar
este carma.

Quem vive com esta verdade (jurando pelo altar, pelo Templo ou
pelo céu) alcança a elevação espiritual, alcança Deus.

Ai de vocês, professores da lei e fariseus, hipócritas!


Pois, dão a Deus a décima parte até mesmo da hortelã,
da erva-doce e do cominho, mas deixam de obedecer
aos ensinamentos mais importantes da lei, como a
justiça, a bondade e a obediência a Deus.

A justiça com Deus: dar a Ele o Seu devido lugar. A bondade com
Deus: amar a todos acima de todas as coisas.

É isso que os seres humanizados deixam de fazer. Compram cestas


básicas para dar aos outros; vão aos templos fazer orações, mas não amam
a Deus como Causa Primária de todas as coisas e vivem julgando os
acontecimentos.

É isso que o nosso líder nos ensina.


Página 128 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Vocês deviam fazer estas coisas, sem desprezar
aquelas. Guias cegos! Coam um mosquito, mas
engolem um camelo.

Esta frase é bonita e profunda: coam um mosquito, mas engolem


um camelo.

Tudo o que os outros fazem é coado por você nos mínimos


detalhes, mas tudo o que faz é engolido, qualquer que seja o tamanho.
Nunca está errado, nunca se critica, a não ser que saiba que fez errado,
mas aí também está seguindo uma verdade, não?

Para o que os outros fazem, por menor que seja, há o ataque, a


crítica, mas para o que você faz há sempre a exigência do respeito, da
compaixão, da bondade para com você.

Ai de vocês, professores da lei e fariseus hipócritas!


Pois, lavam o copo e o prato por fora, mas por dentro
estes estão cheios de coisas que vocês conseguiram
pela violência e pela ganância. Fariseu cego! Lave
primeiro o copo por dentro e então a parte de fora ficará
limpa também!

Você não esquece de tomar banho todo dia, não é mesmo? Mas,
você se limpa do “mal” que fez ao próximo criticando-o. Você se limpa da
adulação que recebe quando impõe obrigações aos outros?

Escovar o dente não é tão importante assim. O que temos que


escovar mesmo é o nosso interior; temos que ensaboar e lavar a cada
momento nosso interior e não o nosso exterior.

Se você está sujo por fora, mas limpo por dentro, pode ter certeza
que está brilhando no céu. Agora, se está limpo por fora e sujo por dentro,
você é um “Lázaro” no céu, um “mendigo” que “emporcalha” tudo que toca.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 129
Esta frase, apesar de “pesada” é importante: “emporcalha tudo que
toca”. Só ouvindo-a você poderá compreender que não adianta apenas
lavar a mão depois das suas necessidades, pois como o Cristo ensinou, o
problema não é o que entra pela boca, mas o que sai pelo coração.
Enquanto você não lavar o seu coração estará cheio de vermes e micróbios
espirituais.

Amar é a única saída, a única ação higienizadora possível. Amar


incondicionalmente, ser feliz com tudo do jeito que acontece. Essa é a única
forma de chegar a Deus.

Ai de vocês, professores da lei e fariseus, hipócritas!


Pois são como túmulos caiados de branco, que por fora
parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos
de mortos e de podridão.

Que belo ensinamento, não? Aquele que tem verdades, que é o


“professor da lei” e que se orgulha justamente dessa lei que está dentro
dele, não vê que ela é a “podridão”.

Toda sua sabedoria, sua cultura é a “podridão” que você carrega.


Tudo que você utiliza para julgar o outro é a “podridão” que carrega dentro
de você.

Viver a vida sem verdades, sem julgamentos, sem motivos para


acusar ninguém de nada. Somente assim você estará por dentro com vida,
com Deus, não com “morte”, não com “podridão”.

Por fora vocês parecem boas pessoas, mas por dentro


estão cheios de mentiras e pecados.

Porque vivem para se servir e não para servir ao próximo. Os


“professores da lei”, aqueles que possuem verdades (leis) individuais,
Página 130 Caminho, Verdade e Luz – volume I
precisam aplicá-las e têm a necessidade de que elas sejam cumpridas para
ser feliz. Túmulo podre!

Pergunta: Se as pessoas não estivessem tentando


melhorar não se transformariam em espíritos de luz.
Nem tudo está perdido, estamos evoluindo e crescendo.

Realmente. Eu não estou dizendo ao contrário. À vezes vocês


imaginam que eu estou “brigando”, mas isso não é realidade. Estou apenas
alertando para os perigos dessa vida, para as tentações dessa vida.

Pergunta: Temos, então que soltar o leme e deixar a vida


nos levar?

Vou fazer uma comparação melhor. Somos uma gota d’água que
vem pelo rio e que precisa se incorporar ao oceano. Mas, o nosso
individualismo é tão grande que temos medo sumir no oceano.

Como não podemos deixar de nos juntar ao oceano, nos


transformamos em uma gota d’água que bóia no oceano dentro de um saco
plástico, para não misturar com o resto. Acaba evaporando.

Pergunta: Temos que aceitar todas as imposições impostas pelos


doutos da lei?

Não, temos que amar. Não só aceitar, mas amar. Ter a consciência
de que eles são “professores da lei”, mas que não é por isso que são “ruins”
ou “maus”. Se você está na frente dele, precisa amá-lo do jeito que ele está,
ou seja, querendo obrigar-lhe a fazer o que ele quer.

Não estou dizendo que você deve fazer o que ele manda, pois o
que fizer (ato) não é você que vai decidir, é Deus. O que eu quero dizer é
que não deve criticá-lo por quer mandar em você, não deve condená-lo
porque ele está condenando.

Pergunta: Mesmo os que nos fazem pequenos?


Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 131
Graças a Deus eu sou pequeno e só assim serei grande no “reino
do céu”. Quanto mais lhe apequenarem, mais os ame, pois mais eles estão
lhe ajudando a conquistar seu lugar no céu.

Se você quer ser grande, reconhecido, na Terra, não será


reconhecido no céu.
Página 132 Caminho, Verdade e Luz – volume I

Cegueira espiritual

Jesus soube que tinham expulsado o homem da casa


de oração. Quando o encontrou perguntou: - Você crê
no Filho do Homem?

Senhor, quem é o Filho do Homem para que eu creia


nele? - respondeu.

Você o está vendo! Sou eu, eu que estou falando com


você! - disse Jesus.

Senhor, eu creio! - disse o homem e se ajoelhou diante


dele.

Jesus então afirmou: - Eu vim a este mundo a fim de


julgar, para que os cegos vejam e para que os que vêem
se tornem cegos.

Alguns fariseus que estavam com ele ouviram isso e


perguntaram: - Isso quer dizer que nós também somos
cegos?

Se vocês fossem cegos, não seriam culpados! -


respondeu Jesus. Mas como dizem que podem ver,
então ainda são culpados.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 133
O que quis dizer Cristo quando afirma que “quem é cego vê e quem
vê é cego”? Este é o tema de hoje.

Como é que um ser humanizado vê? Com os olhos da carne. O que


ele vê? As coisas materiais. Então, como disse Cristo para os fariseus, o ser
humanizado é culpado, pois é cego e acha que pode ver.

Tudo o que os seres humanizados dizem ver, não existe. O ato


material, a carne, os elementos do mundo material não existem da maneira
como vocês as vêem.

Os atos que acontecem na sua vida (nascimento, casamento,


passeios, tristezas) não existem. As coisas materiais que o cerca, daqui a
pouco serão destruídas, acabarão. Por isso não são reais... Para existir de
verdade, qualquer elemento precisa ser eterno.

Por isso, como disse Cristo, você é cego, pois acredita nas coisas
que vê, nas coisas que não são reais, que deixarão de existir um dia.

Quem enxerga mesmo é aquele que não vê as coisas da matéria.


Não estamos aqui falando em perfurar os olhos para deixar de ver. Aquele
que alcança a visão espiritual e com isso deixa de ser cego, é aquele que
deixa de vivenciar as coisas (objetos, pessoas e acontecimentos) materiais
pelos valores humanos que são aplicados a elas.

Aquele que possui a visão espiritual é quem vivencia a essência


das coisas e não os valores materiais dela. A essência, no entanto, é
caracterizada não por elementos materiais, mas por um sentimento.

É ele que dá a visão (compreensão) das coisas para quem possui a


capacidade espiritual de enxergar. Portanto, esta capacidade é conferida a
quem, apesar de receber via olhos uma visão, não se apega a esta imagem,
mas vivencia a essência daquele acontecimento.

A essência é aquilo do que cada ato ou elemento é composto. É o


que gera tal ou qual acontecimento ou o que faz determinado objeto ou
pessoa ser de tal forma. Quem não vê o acontecimento material, mas sim a
Página 134 Caminho, Verdade e Luz – volume I
sua essência, não pode ser considerado como cego pelos irmãos
universais, pois enxerga apenas as coisas espirituais.

É isso que Cristo quis dizer: todos aqueles que são cegos, afirmam
enxergar, ou seja, afirmam que estão vendo um acontecimento. Já aqueles
que se libertam da visão do mundo de formas e penetram na essência do
acontecimento, estes podem ser considerados como aqueles que sabem
ver...

Por que Cristo afirma isso? Qual a forma que um cego material
(aquele que não possui a percepção da visão) enxerga? Pelo sentimento:
ele sente as coisas. Quando um cego material percebe as coisas, ele sente
o sentimento que está por trás das palavras que ouve, enquanto quem tem
a visão prende-se exclusivamente na forma e não consegue interpenetrar
na essência.

Aquele que enxerga observa apenas as coisas materiais envolvidas


no acontecimento. Acha que por estar percebendo as formas pode saber o
que está acontecendo, mas na verdade é cego, porque não vê a essência,
que é a Realidade do momento.

Aquele que se prende as percepções visuais não enxerga o que


realmente está acontecendo ali porque a verdade não tem nada a ver com a
movimentação das formas, mas sim com os sentimentos com os quais são
vivenciados os atos.

Nos sentimentos com que se convive durante as ações encontra-se


a realidade do mundo de vocês. Não importa se a mão se levante, mas sim
se isto está sendo vivenciado com amor ou não. A mão levantar-se por si só
não diz nada, mas sim o sentimento que é sentido durante a execução
desta ação.

Quer um exemplo? Existem muitas mãos que se levantam e até


promovem ações que parecem carinhosas, mas, quantas destas ações são
vividas com falsidades? Quantos destes carinhos querem realmente trair?
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 135
Lembram-se do beijo de Judas? O ato de beijar é o símbolo máximo
do amor para os humanos, mas naquele caso, esta ação nada teve de
amorosa, ou pelo menos é isso que os humanos pensam deste
acontecimento.

NOTA: A respeito do ato de Judas, o amigo espiritual já


tinha ensinado que tudo aquilo foi amor sim, pois foi
através daquela ação que o destino de Jesus Cristo
aconteceu. Na verdade tudo já estava pré-programado e
fazia parte de um grande ensinamento.

É isso que você tem que olhar: o sentimento com que vivencia os
acontecimentos que você ou outra pessoa pratica e não as formas do
mundo externo. Ou melhor: não olhar nada. A tudo que acontecer reaja
apenas com amor, entenda a partir do amor a Deus e a todos.

Para Cristo o cego é culpado: por que? Porque ao prender-se ao


mundo das formas, vivencia (enxerga) os acontecimentos com outro
sentimento que não o amor.

Para se alcançar a Perfeita visão dos acontecimentos, não basta


apenas libertar-se do mundo de formas. É preciso compreender que a
essência dos acontecimentos é dada por cada um através de sua escolha
sentimental.

Além de cego, o ser humanizado que acredita na percepção visual é


culpado, pois deixou de cumprir os dois mandamentos que o mestre
ensinou: amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si
mesmo.

Quer um exemplo? Aquele que vê maldade em tudo. Aquele que


afirma que “tem certeza” de tudo o que está acontecendo (conhece os
motivos pelos quais o ato foi praticado) e participa destes acontecimentos
aplicando a eles uma essência maldosa.
Página 136 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Este é um cego espiritual, pois se prende à percepção visual, mas
também é culpado, porque não amou. Ele acha que enxerga muito bem,,
mas acaba vendo coisas que não existem.

A maldade do outro jamais está nele, mas na essência com que


cada um cria a percepção do acontecimento. Mesmo que o outro vivencie
aquele acontecimento escolhendo a maldade, se quem o recebe alterar esta
essência e amar, a maldade se extinguirá.

São os seres humanizados que vivenciam os acontecimentos sem


amar que criam uma essência negativa para um acontecimento. Nada do
que ocorre no Universo pode ser considerado negativo, pois tudo é
emanação de Deus, que apenas ama.

Quem não vigia suas próprias percepções e a essência que é


aplicada a cada uma delas, além de cego é culpado. Isto porque não está
vivenciando a Realidade: está imaginando uma situação que não está
ocorrendo.

Esta imaginação, no entanto, não é errada. Trata-se de uma intuição


que o plano espiritual, obedecendo a Causa Primária, dá ao ser humanizado
como provação, ou seja, como instrumento da reforma íntima.

Quando um ser humanizado percebe determinada essência em um


acontecimento que não seja o amor universal e incondicional, trata-se de
algo que ele, antes da encarnação, alcançou a compreensão que não
deveria sentir. A partir desta compreensão, pediu, então, este gênero de
provas para provar que aprendeu a lição quando ainda na erraticidade.

A partir deste pedido de gênero de provas, Deus emana, durante a


encarnação deste ser, um acontecimento e determinado pensamento
(compreensão) naquele momento. Estes pensamentos, que se transformam
naquilo que é visto (compreendido) geram, então, a oportunidade da
reforma, ou seja, da mudança da essência.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 137
Aquilo que o ser humanizado vê, portanto, é o que deve deixar de
existir, ou melhor, deve ser substituído pelo amor. Por isso Cristo diz que o
ser humanizado que não faz isso é culpado.

O ser humanizado não é culpado pela ação que protagoniza ou pela


essência que aplica na compreensão da situação, mas sim por não ter
aproveitado a oportunidade para reformar-se, não ter aproveitado a situação
para deixar de ver maldade e amar incondicionalmente a tudo e a todos...

Justamente por não aproveitar esta oportunidade é que Deus


precisa novamente emanar esta compreensão, ou seja, conceder uma nova
compreensão. Isto acontecerá porque Deus é Justo, ou seja, dá sempre a
cada um o que ele precisa para a evolução espiritual.

Sendo assim, este ser continuará recebendo percepções


(acontecimentos e essência) dentro dos mesmos padrões, até que um dia
consiga promover a reforma íntima e ponha em prática o amor
incondicional. Se não conseguir, viverá a existência carnal inteira “vendo”
maldade nos outros e terá, futuramente, que reencarnar novamente para
fazer esta mesma provação.

O ser humanizado que é considerado um cego espiritual acredita


que tem o direito de julgar os outros e de apontar seus erros. Por este
motivo ele é intuído para cada vez mais apontar erros, afundando-se cada
vez mais em um mundo negativo, amargo, até chegar uma grande dor que o
fará buscar o amor para poder ser feliz.

Quando, pela dor, ele entender que apenas o amor a todos e a tudo
pode levar à felicidade, a sua “visão” sobre os elementos do mundo
(acontecimentos, objetos, pessoas) começará a mudar. Muitos passam por
momentos assim, mas, infelizmente, quando a dor vai embora, novamente
se esquecem dos momentos ruins e começam outra vez a julgar e a acusar
tudo e a todos.

Este é o cego que Cristo diz que é culpado: aquele que quer ver os
atos dos outros para julgá-los.
Página 138 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Não existe ato certo ou errado: todos estão certos e estão errados
ao mesmo tempo. Todos estão certos porque para quem os faz estão certos
e todos estão errados porque para os outros sempre estarão errados.

Para se alcançar à visão espiritual, então, é necessário não ver o


ato isto é, não julgá-lo. Ë preciso concordar com tudo que todos fazem, pois
para quem está fazendo está certo e para quem está vendo, não deve
existir certo ou errado.

Esta é a primeira coisa que cristo que nos fala neste trecho, mas ele
também afirmou: “Eu vim para dar a luz para aqueles que não enxergam as
coisas”. Vamos compreender isso agora...

Cristo é a luz, é o caminho para se alcançar as coisas do Pai e é o


amor. Desta forma só quando o ser humanizado “enxergar” amor em tudo,
sem prender-se às formas ou essências geradas por sua mente e que são
criadas por Deus de acordo com a provação de cada ser, alcançará a
verdadeira visão, a visão espiritual.

Mas, o ser humanizado acha que quem vive desta forma é “bobo” e
que será “pisado”, pois não terá o direito de apontar os erros dos outros.
Para esta observação eu pergunto: já tentou fazer? Não? Então como é que
sabe que vai acontecer desta forma? Lembre-se, o mundo não é o que você
compreende, mas a essência que aplica às coisas...

Se você viver com amor, Deus só colocará na sua frente pessoas


que irão agir amorosamente. No entanto, se Ele colocar outras que não
estejam amando, isso não será percebido por você, já que estará amando...

Os acontecimentos são aquilo que você percebe. Aplicando uma


essência amorosa a eles, o que os outros chamam de bobeira ou de ser
pisado, será compreendido por você como amor, será vivenciado como um
ato amoroso...

Aqueles que não amam podem sentir-se ofendidos ou prejudicados,


mas você não. Por isso, para você, estes acontecimentos não estarão
ocorrendo.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 139
Mesmo que aconteça de você “perder” algum elemento material
(objeto ou posição), lembre-se do que Cristo disse: os últimos serão os
primeiros. Se você acha que quem é feito de “bobo” fica para último, então,
serão os bobos os primeiros a entrar no Reino do Céu. Já aqueles que são
espertos, que ganham, serão os últimos, pois se imaginam os primeiros na
Terra...

Os que não se sentem “pisados” não reagem porque tem boa visão
espiritual. Mas, a humanidade pensa ao contrário destes...

Quando alguém aparentemente está perdendo, está sendo


“passado para trás”, é acusado de “estar cego”, de “não enxergar nada que
está acontecendo à sua volta”. Mas o cego não é ele e sim quem está
enxergando demais. Enxergar demais é cegueira.

Então, Cristo deixa bem claro neste texto as seguintes lições: não
podemos ficar olhando os atos, apontando erros dos outros, porque quanto
mais agirmos desta forma, mais Deus vai apontar nossos erros também.
Aliás, ele disse isso em outro ensinamento: pelo mesmo valor que julgar,
serás julgado...

O ser humanizado precisa compreender que se alguém fala mal


dele, é porque ele fala mal dos outros. Na hora em que deixar de falar mal
dos outros, a compreensão que se tem do que os outros falam mudará e
com isso, a visão perfeita será alcançada.

Na verdade, a pessoa que Cristo aponta neste texto como cego é


aquela que possui visão muito apurada das coisas. É aquela que gosta de
apontar o defeito em tudo que os outros fazem.

Se você acha que vai conseguir fazer uma coisa perfeita, que seja
considerada como certa por todos, esqueça, porque isso não existe.
Sempre existirão pessoas que apontarão defeitos no que você faz.

Isto acontece não por maldade ou por imperfeição dos outros, mas
para testar se você é cego ou se tem boa visão. Por isso o cego, ou seja, o
que enxerga espiritualmente, não vê nada errado em lugar algum.
Página 140 Caminho, Verdade e Luz – volume I
O cego, o que tem a visão espiritual, não vê sujeira, não vê coisa
velha, quebrada, não vê amarrotado ou passado, sujo ou limpo. Ele ama
tudo que lhe aparece na frente e por isso não se deixa contaminar pela
percepção visual e seus próprios conceitos de certo. Quem tem a visão
espiritual ama tudo conforme Deus coloca em sua frente e agradece ao Pai
por assim ter feito.

Quem tem apenas a visão material, enxerga tudo de todos, mas não
enxerga nada de si mesmo, pois nunca se considera errado. Não importa o
que faça, terá sempre desculpas e os outros é que sempre “estarão agindo
com sentimentos negativos (maldade, preguiça, etc.)”.

É preciso que o ser humanizado que os outros vão continuar agindo


assim até a hora em que cada um fizer a sua própria mudança e deixar de
esperar a mudança deles.

Aos que imaginam que são capazes de compreender o mundo,


pergunto: quando você vai mudar? Ou você é o único certo, o perfeito?
Pergunto isso porque cada um “nasceu” para realizar a sua reforma íntima e
não para reformar os outros ou o mundo. Por isso, não espere que os outros
façam as coisas iguais a você.

É preciso aprender a abrir mão das “verdades” (conceitos) que cada


um possui: esta é a reforma íntima que aproxima o ser do Senhor. Aquele
que enxerga só consegue ver (ter compreensão) porque possui verdades.
Estas verdades lhe fazem achar que sabe e que o que sabe está sempre
certo. Cego!

Cristo ensinou: os olhos são a luz do espírito. Ensinou mais: se o


seu olho lhe faz pecar, arranque-o, pois é preferível entrar no Reino do Céu
com um olho do que ir para o inferno com os dois. Estes mesmos
ensinamentos estão presentes neste texto onde Cristo falou do cego
espiritual.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 141
O que tem a visão espiritual, então, é aquele que não vê nada, não
sabe de nada. Este só enxerga Deus agindo na sua frente, só vivencia a
emanação do Pai. Por isso, só ama...

Tendo esta compreensão o ser universal sabe que a essência de


tudo o que lhe acontece é o Amor de Deus em ação. É o seu Pai lhe dando
uma oportunidade de reformar-se (mudar de visão das coisas) e assim,
aproximar-se Dele.

Isso é o que Cristo, aquele que amou Deus porque amou todos os
acontecimentos de sua encarnação, mesmo os que são considerados como
sofrimentos pela humanidade, ensinou nesta história.
Página 142 Caminho, Verdade e Luz – volume I

Jesus e os três empregados

Este texto é muito importante porque traduz o real sentido da prova


que o espírito faz quando encarna nesta matéria densa no planeta Terra.

Os espíritos que estão no processo de encarnação no orbe do


planeta Terra encontram-se realizando esta prova há muito tempo, mas não
conhecem o seu real sentido. Agora que a prova final aproxima-se, é
importante deixar bem claro que provação é esta que o espírito tem que
realizar.

Há sete mil anos os espíritos encarnam para provar alguma coisa.


Este texto é sobre esta prova. Ele explica o que o espírito vem fazer na
carne.

Jesus continuou:

O Reino do céu será como um homem que ia fazer uma


viagem. Chamou os seus empregados e os pôs para
tomarem conta da sua propriedade. E lhes deu dinheiro
de acordo com a capacidade de cada um: ao primeiro
deu cinco mil moedas de prata, ao outro duas mil; e, ao
terceiro, mil. Então foi viajar. O empregado que tinha
recebido cinco mil moedas saiu logo, fez negócios com
o seu dinheiro e conseguiu outras cinco mil. Do mesmo
modo, o que havia recebido duas mil moedas
conseguiu outras duas mil. Mas o que tinha recebido
mil, saiu, fez um buraco na terra e escondeu o dinheiro.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 143
Depois de muito tempo, o patrão voltou e acertou as
contas com eles. O empregado que tinha recebido cinco
mil moedas chegou e entregou mais cinco mil, dizendo:
“O senhor me deu cinco mil moedas. Olhe, aqui estão
outras cinco mil que consegui ganhar”.

“Muito bem, empregado bom e fiel”, disse o patrão.


“Você foi fiel e negociante com pouco dinheiro, por isso
vou por você para negociar com muito. Venha festejar
comigo!”

Então o empregado que havia recebido duas mil


moedas chegou e disse: “O senhor me deu duas mil
moedas. Olhe, aqui estão mais duas mil que consegui
ganhar”.

“Muito bem, empregado bom e fiel”, disse o patrão.


Você foi fiel negociando com pouco dinheiro, por isso
vou por você para negociar com muito. Venha festejar
comigo!”

Aí o empregado que havia recebido mil moedas chegou


e disse: “Eu sei que o senhor é um homem duro: colhe
onde não plantou e junta onde não semeou. Fiquei com
medo e por isso escondi o seu dinheiro na terra. Veja,
aqui está o seu dinheiro”.

“Empregado mau e preguiçoso!”, disse o patrão. “Você


sabia que colho onde não plantei e junto onde não
semeei. Por isso você devia ter depositado o meu
dinheiro no banco e, quando eu voltasse, o receberia
com juros”.

Depois virou-se para os outros empregados e disse:


“Tirem o dinheiro dele e dêem ao que tem dez mil
moedas. Porque aquele que tem muito receberá mais e
Página 144 Caminho, Verdade e Luz – volume I
assim terá ainda mais; mas quem não tem, até o pouco
que tem tirarão dele. E joguem fora, na escuridão, o
empregado inútil. Ali ele vai chorar e ranger os dentes”.

Esta história é muito conhecida como a “parábola dos talentos”.


Ficou conhecida assim porque em algumas traduções da Bíblia a moeda é
citada pelo seu nome da época: talento.

Cristo conta na história que um senhor foi viajar e deu a três


empregados algumas posses. Na sua ausência, dois deles multiplicaram
estas posses, enquanto que o terceiro escondeu o que recebeu, com medo
do patrão e assim não conseguiu ter mais do que tinha antes.

A interpretação conhecida deste texto é a de que devemos valorizar


as coisas que Deus nos deu, para voltarmos ao mundo espiritual com mais
posse do que viemos. Isto está correto, mas o que Deus nos deu antes da
encarnação? O que precisamos devolver multiplicado? Vamos buscar
entender este aspecto...

Tudo que Cristo ensinou quando encarnado faz parte da “Boa Nova”
que ele veio trazer ao planeta. Mas, o que é esta “Boa Nova”? O AMOR!

No fundo de tudo o que Cristo fala está o amor. Portanto, o tesouro


que o mestre cita nesta história não poderia ser outro a não ser o amor.

Deus deu a cada um de nós, seus filhos (espíritos), um pouco de


Seu amor, para que tomemos conta deste bem espiritual, enquanto Ele está
“viajando”. Ele espera que coloquemos este amor para “render juros” e não
que o guardemos enterrado para entregá-lo na mesma proporção que
recebemos...

É isto que Cristo explica nesta parábola e esta é a prova que os


espíritos fazem quando vem à matéria carnal no planeta Terra: colocar o
amor para render. Mas, como é que um sentimento pode gerar “lucros”?
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 145
Quando um espírito sente (“gasta”) um sentimento, recebe mais do
Universo dele mesmo. Portanto, quando o espírito coloca o amor em
prática, ele o faz render, o multiplica.

Quando você “gasta” o amor que Deus lhe deu, aumenta a


quantidade de amor que tem dentro de você. Esta é a prova que o espírito
veio fazer na carne: “gastar” o amor (amar) para poder ter mais amor
dentro de si na hora de voltar ao Pai.

Mas, o que acontece diariamente com os espíritos na carne?


Gastam este amor que Deus lhes deu ou economizam para não ficar sem
ele?

Na verdade, os seres humanizados pegam o amor que receberam


do Pai antes da encarnação e o enterra, gastando o sentimento do
julgamento, da ofensa, da briga, da crítica aos outros... Agindo desta
maneira, não gastam o amor e, por isso, não obtém lucros para o patrão.

Aliás, amar verdadeiramente é a última coisa que os espíritos


humanizados pensam em fazer, porque acham que serão considerados
“bobos”, que só irão sai perdendo se amarem a tudo e a todos.

Estes quando chegam no mundo espiritual menos denso – que


nesta parábola é configurada pela volta do “senhor” – afirmam: “Olha, eu fui
bom. Todo amor que o Senhor me deu está aqui de volta: não gastei nada”.
Acontece que Deus não quer o amor que colocou sob sua guarda de volta
no justo valor, mas o quer aumentado.

Para aquele que não gastar o amor que recebe do Senhor,


acontecerá como descrito na história: será “atirado no escuro, onde existe o
ranger de dentes”. O que será que Cristo quis dizer? O que é “ranger de
dentes”?

O ser universal range os dentes quando está em sofrimento. Neste


texto, então, através de uma de suas comparações, Cristo afirmou: aquele
que não aumentar pela utilização o amor que Deus colocou sob sua guarda
será enviado para um lugar onde existe sofrimento.
Página 146 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Em que lugar, densidade, existe no Universo o sofrimento? Por
causa da característica negativa do sofrer, posso afirmar que ele só existe
na densidade da matéria carnal, ou seja, só existe para o espírito enquanto
ele se imaginar como a identidade humana que vive.

Não estamos falando de dimensões de habitação de espírito, mas


sim de auto visão. O sofrimento existe não no planeta Terra ou em qualquer
plano espiritual específico, mas somente para aqueles que se vêm
separados de Deus.

Os espíritos que saem da carne e vão para a densidade conhecida


como “umbral” – lugar que para os seres humanizados é o de sofrimentos –
ainda se imaginam como “vivos”, ou seja, dentro das personalidades que
viveram quando na carne. É por isso continuam a sofrer e não por estarem
no umbral.

O sofrimento, portanto, é decorrência de uma visão humana que o


espírito tem de si mesmo e não determinado por um lugar específico onde
vive.

A partir desta compreensão, podemos começar a entender as


palavras de Cristo: aquele que não multiplicar o amor que Deus coloca sob
a sua guarda vai viver na carne, ou seja, continuará no processo de
encarnação, no processo de vivenciar personalidades humanas.

Sei que não é esta a compreensão que muitos têm deste texto, mas
sempre foi esta a lição que Cristo. As demais interpretações que foram
feitas dele não atingiram esta verdade porque não levaram em conta o
fundamento da “Boa Nova”: o amor.

Já falaram que o talento era a doação e muitos saíram correndo e


compraram as coisas para dar aos outros com o sentimento de auto
proteção, ou seja, reservar seu espaço no coração de Deus... Entretanto,
esqueceram-se do amor na hora de doar!

Já traduziram o talento como os trabalhos mediúnicos e muitos


espíritos colocaram-se à disposição da espiritualidade para realizar este
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 147
trabalho, não por amor, mas para que o Senhor ficasse satisfeito com eles...
Mas Deus não quer as coisas feitas por interesse, mas em tudo quer o
amor.

Chegaram a estas conclusões porque não compreenderam que


Cristo ensinou que o único talento que um espírito deve possuir é o amor,
pois só ele fará com que todas as vivências da encarnação sejam realizadas
dentro da “Boa Nova”.

Deus quer que os espíritos gastem o talento que Ele lhes entrega
ajudando o seu semelhante, porque somente o amor pode ajudar o outro a
obter a alegria de viver. Não adianta dar um cobertor sem o amor, porque o
cobertor pode aquecer o corpo, mas o “frio” da alma continuará. Não será o
cobertor que irá acabar com a tristeza (frio) que está no coração de quem o
recebe.

É isto que Cristo quis dizer e é isto que precisa ser colocado em
movimento no planeta: o amor. Entretanto, este amor deve ser o universal,
de Deus e não o que a humanidade classifica como amor.

O amor de Deus é fundamentado na felicidade. Portanto, o primeiro


trabalho de um espírito na carne é levar a alegria para todos aqueles que
sofrem, pois quando fizer isso, estará multiplicando o amor.

Este, quando voltar ao Pai, poderá dizer: “O Senhor me deu cinco


mil, mas eu negociei e trouxe dez mil”. Aí Deus responderá: “Empregado
bom, você trabalhou bem com pouco amor e trouxe lucro. Por isso vou
colocá-lo agora para trabalhar com muito, com muito amor”.

Vocês falam muito que para ter amor é preciso ter paz, mas Cristo
não disse que trouxe a espada e não a paz? Podemos então concluir que
Cristo não trouxe o amor? Claro que sim...

Portanto, para amar não é indispensável à presença da paz. Aliás, a


expressão máxima do amar é alcançada justamente quando não há paz.
Por isso Cristo ensinou: se você só ama o seu amigo, que vantagem acha
que tem? Até os pagãos fazem isso...
Página 148 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Amar não é só “passar a mão na cabeça de todos”, relevar. Amar é
mostrar o sentimento negativo que a pessoa está usando, sem gritos, sem
brigas, sem ofensas, aceitando se o outro não concordar.

Isto é amar: manter a alegria sempre. Para se viver neste estado


feliz a primeira coisa a se fazer é jogar fora a tristeza. Aquele que cultivar a
tristeza será levado para o “lugar escuro onde há ranger de dentes”, pois ele
gosta disso e não porque o Pai o condenou a isso.

Não será Deus que irá castigá-lo: o Senhor apenas fará o que o
espírito gosta. Você não gosta de tristeza? Então será colocado onde e com
quem gosta: com os tristes.

Outro elemento do amor divino: a compaixão, ou seja, a


consciência do sofrimento que pode se causar ao outro. Não o sofrimento
que pode ser causado pelo que se fala, mas, na maioria das vezes, quando
se cala.

Ter compaixão pelos outros não é calar-se e fingir que tudo está
certo, mas falar. Falar mostrando o não amar que o irmão está utilizando
para vivenciar os atos e não apontando os atos errados.

Mas, o que é não amar? São todos aqueles sentimentos que


machucam alguém, que fazem os outros se sentirem melhores ou piores.
Sendo assim, apontar erros não é amar, mas omitir-se e não falar também
não é. Trabalhar demais não é ter amor, mas ficar parado no ócio também
não é.

A compaixão exige o equilíbrio entre os sentimentos, exige a


equanimidade. Exige que você trabalhe, mas que guarde o sétimo dia para
Deus, que você tenha um dia para Ele.

Não... Não estou falando do rito de algumas igrejas evangélicas,


mas sim do que Cristo ensinou.

NOTA: Para ver este ensinamento de Cristo, leia o texto


Jesus e o sábado que está neste livro.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 149
O que o mestre ensinou é que o sétimo dia não deve ser um dia
para viver dentro da igreja ou em casa em frente à televisão. Deve ser um
dia para Deus, ou seja, um dia para o amor. Melhor ainda: um dia para a
felicidade.

Quem tem compaixão de si e dos outros vive pelo menos um dia na


semana onde luta para não criticar ou julgar os outros, para não elogiar ou
rebaixar alguém. Com isso está guardando o sétimo dia ao Senhor, pois
está vivendo-o dentro da essência espiritual.

É esta a compaixão que será necessária alcançar: a consciência de


fazer todas as coisas dentro de sua exata medida, gerando felicidade e não
criando obrigações, seja para si ou para os outros.

Quanto ao não amor dos outros, o ser humanizado deve apontar a


sua utilização (“neste momento você não amou”), mas não criar
desentendimentos: “viu como você não presta, como não faz nada certo...”

Para que a verdadeira compaixão exista é preciso que o ser


humanizado mostre o não amor com amor, ou seja, não aponte erros. Para
isso é necessário não julgar, ou seja, não utilizar leis que criem o certo e o
errado...

Não se deve mostrar aos outros as suas infrações às leis de Deus,


mas, sim praticá-las! Quando você briga com alguém (vivencia o
acontecimento com o sentimento de raiva) porque ele não cumpriu a lei de
Deus, também está quebrando essa mesma lei, pois não amou o outro.

Como cobrar o que não é praticado? Que exemplo nós podemos


dar com este tipo de sentir para os outros se espelharem?

O amar passa necessariamente pela doação da razão a quem não


está amando...

Doar a razão é aceitar que o outro tenha uma verdade diferente da


sua. É ter a consciência de que ele está certo, pois vivencia os
acontecimentos com base em seus próprios parâmetros de verdades.
Página 150 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Por isso afirmo que ter compaixão não é acabar com o sofrimento
da pessoa, mas ter a consciência de que ela está sofrendo. Não é corrigir o
outro, mas compreender que ele não está amando universalmente, ou seja,
dando a cada um o direito de ser e pensar diferente...

Até hoje, quando se fala em “ter compaixão”, a idéia é de que


deviam ser adotadas duas posturas: a primeira de omissão – “calo-me sobre
o fato para não aumentar a dor dele” – ou ainda – “calo-me porque esta
pessoa me é querida e não quero feri-la”. As pessoas que agem desta forma
tornam-se cúmplices no erro dos outros, pois passam a aceitar o que está
sendo feito como “certo”.

Isto não é amor, mas desamor. Nesta forma de proceder leva-se em


conta apenas o sofrimento que se poderia causar neste momento com a
“chamada de atenção”, mas esquece-se do sofrimento maior que este ser
terá futuramente.

Saiba de uma coisa: você foi colocado na frente dela para alertá-la e
proporcionar-lhe uma chance de ter sentimentos mais adequados à lei de
Deus. Se você coloca este alerta com amor, sem críticas ou brigas e a
pessoa não aceita, posteriormente Deus colocará no caminho dela outra
pessoa que não a avisará com amor, mas com o mesmo sentimento
negativo no qual ela está se banhando...

“Quem com ferro fere, com ferro será ferido...” Isto é verdade, mas
antes que aconteça, Deus sempre dá uma primeira chance.

Sei que estou falando bastante sobre o tema, mas o que deve ficar
bem claro é o seguinte: deve-se alertar sobre o sentimento e não sobre o
ato.

Não adianta você dizer que o outro é agressivo, pois ele se


defenderá dizendo que está apenas “reagindo ao mundo”, à agressão que
imagina ter sofrido. O que pode ajudar não é alertá-lo que ele é um
agressor, mas mostrar que a raiva que está sendo vivenciada no momento
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 151
da agressão é um não amor, pois não possui em si a compaixão e a
felicidade.

A segunda postura que o termo “compaixão” desperta é que


devemos sofrer o sofrimento dos outros junto com eles. Muitas pessoas
acham que para demonstrar compaixão é necessário ser solidário na dor:
isto é uma mentira.

Se o sentimento é uma coisa que se transmite aos outros, quando


uma pessoa está sofrendo não se pode levar para ela mais sofrimento e sim
alegria. Transmitir sofrimento para quem está sofrendo não é compaixão,
mas aumentar este sofrimento.

Portanto, para amar e assim colocar o bem que Deus depositou em


sua confiança para render juros, o espírito deve viver com felicidade e
compaixão. Mas, para que estas posturas sejam alcançadas, é necessário
haver a igualdade, ou seja, o espírito não deve sentir-se pequeno ou
agigantado perto de outro.

O espírito deve tratar a todos como seus iguais, não importando


onde esteja ou quem seja. Para isso ele deve ser humilhar sem se humilhar.

Para os seres humanizados existe muita confusão entre humilhação


e humildade. Por isso muitos se humilham dizendo que com isso estão
sendo humildes.

Mas, Deus não quer que o espírito se humilhe a nenhum outro e


nem a Ele mesmo. O Pai quer que o filho tenha a humildade de não se
achar melhor que os outros, ou seja, a humildade de doar a razão.

Aliás, depois de tantos ensinamentos trazidos pela coletividade


espiritual, acho que já está na hora dos seres humanizados não mais se
acharem melhores do que qualquer um, não?

Saiba: não existe nada que você possa comprar com dinheiro que
salve o seu futuro espiritual. Se comprar um foguete e for viver fora da Terra
para ver se escapa do desencarne, Deus o achará e o destino inexorável
Página 152 Caminho, Verdade e Luz – volume I
acontecerá... Se construir um buraco profundo no chão para se esconder, ali
também chegarão os efeitos do que tem que acontecer...

Nada que seja comprado com dinheiro pode evitar o encontro do


empregado mau e preguiçoso (aquele que não põe o amor para render
juros) como seu Senhor. Este encontro sempre acontecerá e este
empregado sempre encontrará os efeitos do ato de não ter colocado o bem
deixado pelo Senhor com ele...

Estes efeitos só não vão encontrar aqueles que tiverem o AMOR,


aqueles que estiverem ALEGRES, que souberem usar a COMPAIXÃO e
que viverem a IGUALDADE, ou seja, não se humilharem nem se ufanarem.

Este é um alerta importante nos dias de hoje, porque a volta do


Senhor está próxima. O orbe terrestre vive hoje dias de espera do retorno
do Senhor, como está profetizado no Novo Testamento bíblico. Ou seja, está
próximo a hora de prestarmos contas daquilo que nos foi confiado...

Sei que muitos não acreditam nestas profecias, mas não foi só
Cristo que falou das coisas que acontecerão na transformação deste
planeta, mas todos os enviados de Deus falaram na mudança dos tempos. A
transformação do planeta está descrita na bíblia, tanto pelos profetas como
pelos apóstolos, mas também faz parte dos ensinamentos de Buda, Kardec
e Krishna. Portanto, é uma informação universal.

Para poder continuar existindo nesta nova era que nascerá, é


preciso que o espírito aprenda a viver. Para isso é preciso que compreenda
que viver não é estar habitando uma carne, mas sim existir no reino de
Deus.

Para que um espírito se considere vivo é preciso que ele entenda


que, estando aprisionado em uma massa mais densa (corpo humano) ou
menos densa (perispírito), deve existir no Reino do céu. Para isso é preciso
que ele apenas ame...

Por isso afirmo: existem muitos “mortos” que estão vivos e muitos
“vivos” que estão mortos.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 153
Para se viver no reino de Deus é necessário que se aprenda a viver
o AMOR UNIVERSAL em toda a sua amplitude: felicidade, compaixão e
igualdade. Para isso é fundamental que se entenda todas as lições de Cristo
à partir da essência da “Boa Nova”.

Voltando ao texto, podemos então entendê-lo melhor, com o código


certo para decifrá-lo. Nesta parábola está se falando do retorno do espírito à
frente do Senhor, ou seja, do tão comentado “julgamento” que se processa
quando o ser universal desliga-se da personalidade humana que vivenciou
durante certo tempo. Esse julgamento é que irá determinar se o espírito irá
“viver” (continuar no Reino do céu) ou “morrer” (voltar ao ciclo de
encarnações, para o lugar escuro onde existe ranger de dentes).

Quando sair da carne Deus irá perguntar a cada um: “Dei a você
amor. Quanto você tem de amor? A mesma quantia? Então irá para o lugar
de ranger de dentes”.

Para se fugir deste destino é necessário que se multiplique o


“capital” dado por Deus e isto só acontecerá quando você usar muito, muito
mesmo, o AMOR.

Foi isto que Cristo ensinou nesta história.


Página 154 Caminho, Verdade e Luz – volume I

A ovelha perdida

A ovelha perdida

Certa ocasião, muitos cobradores de impostos e outras


pessoas de má fama chegaram perto de Jesus para o
ouvirem. Os fariseus e os professores da Lei o
criticavam, dizendo:

- Este homem se mistura com gente de má fama e come


com eles.

Então Jesus fez esta comparação:

- Se algum de vocês tem cem ovelhas e perde uma, por


acaso não vai procurá-la? Assim deixa no campo as
outras noventa e nove e vai procurar a ovelha perdida
até achá-la. Quando a encontra, fica muito contente e
volta com ela nos ombros. Chegando à sua casa, chama
os amigos e vizinhos e diz: “Alegrem-se comigo porque
achei a minha ovelha perdida”.

- Pois digo que, do mesmo jeito, vai haver mais alegria


no céu por uma pessoa de má fama que se arrepende
do que por noventa e nove de boa fama que não
precisam se arrepender. (Evangelho de Lucas – capítulo
15 – versículos de 01 a 07).

Vocês costumam – e isso é um processo do ego – classificar as


pessoas de acordo com suas próprias convicções. Mas mais egoísta do que
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 155
isso, a partir do momento que as classifica como “ruim” ou “má”, as
abandonam.

Cristo, no entanto, fala exatamente o contrário. Ele diz: se você tem


uma ovelha perdida no seu rebanho, largue as demais e vá buscar a
perdida. E se Cristo diz assim, o verdadeiro cristão deve viver assim...

O que Cristo ensina e que o verdadeiro cristão deveria seguir, é que


não se deve classificar as pessoas e, de acordo com esta classificação,
expulsar do seu rebanho, do seu nível de convivência aquelas que recebem
o adjetivo de “más”. Aliás, em Mateus, nesta mesma história, Cristo fala
mais: ele diz que quando se acha a ovelha perdida deve-se amá-la mais do
que as outras.

É preciso procurar as ovelhas perdidas (aquelas que são


classificadas individualmente pelos seres humanizados como “ruins”,
“más”), achá-las e amá-las mais do que as outras: este é o ensinamento de
Cristo.

Sem seguir este ensinamento não há elevação espiritual, pois é


mais fácil um camelo passar por um buraco da agulha do que um rico entrar
no reino do céu. Ou seja, é mais fácil alguém que você considera perdido
alcançar a elevação espiritual do que você, que vai a todos os lugares
religiosos e vive rezando.

Por quê? Porque aquele que se arrepende de verdade, ainda hoje


estará no Reino do Céu com Cristo, como o mestre prometeu ao bandido
que lhe era vizinho de cruz. Este arrependimento que Cristo fala é a
convicção do que está “errado” na sua vida, ou seja, do caminho que não
leva a Deus.

Por isso, não importa se uma pessoa foi a vida inteira egoísta,
compreendendo sinceramente, nem que seja no último minuto de vida, a
ação do egoísmo e se conscientizando de que o caminho para Deus é
outro, chegará na frente, por que venceu a si mesmo.

Pensem nisso...
Página 156 Caminho, Verdade e Luz – volume I

O eco do Universo

Não julguem os outros e Deus não julgará vocês. Não


condenem os outros e Deus não condenará vocês.
Perdoem os outros e Deus perdoará vocês. Dêem aos
outros e Deus dará a vocês. E assim vocês receberão
muito, muito mesmo. Tudo o que puderem carregar ele
vai pôr nas mãos de vocês. A mesma medida que
usarem para os outros Deus usará com vocês.
(Evangelho de Lucas – Capítulo 6 – Versículos 37 e 38).

Já falamos neste livro que existe o amor e a paixão, que os


humanos chama de amor. Que o amor é universal e eterno enquanto a
paixão é condicionada. Mas, de onde surge esta condição? Del um
julgamento, ou seja, de algo que você avalia para poder amar
materialmente.

Agora vem Cristo e diz: não julguem para não serem julgados por
Deus. Ou seja, não amem condicionalmente, para não serem amados
condicionalmente por Deus.

Sabe, o Universo é uma grande montanha que faz eco. Já disseram


que tudo que pedir ao universo receberá. O problema é que vocês não
sabem como pedir, pois o pedido que fazem está sempre fundamentado em
uma intenção individualista, egoísta...

Se você ama condicionalmente, o Universo ecoará este amor


condicional a você. Se você ama universalmente, ele ecoará o amor
universal para você.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 157
Pedir não é dizer eu quero ganhar, mas expor uma intenção
individualista, egoísta. Se você ao pedir, se preocupa com você, o Universo
se preocupará com ele mesmo e lhe devolverá esta preocupação, ou seja,
não vai ligar para a sua preocupação com você.

É isso que Cristo está nos ensinando. Devemos aprender que toda
a intencionalidade com a qual participamos das ações serão revertidas
“contra” – e utilizo esta palavra por falta de outra, porque o Universo e Deus
não agem contra ninguém – nós mesmos.

Mas, este ensinamento não está só na Bíblia. Ele existe, por


exemplo, na doutrina espírita, sobre o nome de “gerar carmas”,vicissitudes.
Ou seja, ter a necessidade uma provação.

Trocando em miúdos é isso o eco do Universo.

Não um eco por maldade, por soberba, por estar querendo


defender-se, mas gerado e causado pela lei da causa e efeito. Gerado e
causado pela necessidade da expurgação do individualismo.
Página 158 Caminho, Verdade e Luz – volume I

A humanidade odeia Cristo

Durante o transcorrer da nossa conversa de hoje, gostaria que


vocês tivessem a máxima atenção, para que não houvesse mal-entendidos.
Digo isso porque, aparentemente, pode parecer que com o que vou falar
estarei acusando ou brigando com alguém. Mas isso é ilusão.

Aqueles que me conhecem sabem que não brigo com ninguém.


Apesar disso, o que não posso deixar de fazer é mostrar a hipocrisia que é
a vida humana vivida de modo humano, principalmente para aqueles que se
dizem religiosos ou que estão buscando a Deus.

Sim, a vida humana daqueles que se dizem religiosos, se


vivenciada pelos valores humanos, é uma hipocrisia. Isso porque quem diz
que busca a Deus deveria ter uma postura completamente diferente face
aos acontecimentos da vida daquele que não busca, mas não tem. Estes
seres humanos deveriam ouvir Cristo: se você só faz o que os pagãos
fazem, que vantagem leva...

Cristo, portanto, ensinou: aqueles que estão buscando a Deus


precisam fazer mais do que o normal, mais do que fazem os simples
pagãos. Mas, não fazem, apesar de dizerem-se cristãos, seguidores do
mestre nazareno.

Portanto, o que vou fazer hoje é mostrar que a maioria da


humanidade afirma que está caminhando numa direção, mas em verdade
caminha em outra.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 159
Jesus continuou:

Se o mundo odeia vocês, lembrem-se que me odiou


primeiro. (Evangelho de João, capítulo 15, versículo 18).

Alguém já ouviu esta frase – se o mundo odeia vocês, lembrem-se


que me odiou primeiro – como ensinamento de Cristo. Acho que não, pois
ela muitas vezes é esquecida por aqueles que ensinam o que o mestre
disse. Mas, nem por isso deixa de ser verdade.

Atentado-nos aos acontecimentos da encarnação Jesus Cristo, no


entanto, veremos que ela é uma verdade líquida e cristalina. Ele foi odiado
pelos romanos, pelos senhores do Cinéreo e pelo próprio povo judeu, que o
preferiu a Barrabás.

Mas, isso foi no passado. Será que no presente a humanidade


odeia Cristo? Respondendo, eu diria que ela afirma que ama o mestre, mas
odeia os “Jesus Cristo”, ou seja, aqueles que vivenciam os ensinamentos do
mestre.

É neste sentido que estou falarei a respeito da hipocrisia que vive os


religiosos que se comportam frente aos acontecimentos do mundo como
seres humanos comuns. Esta hipocrisia se reflete exatamente na frase que
disse acima: a humanidade diz que ama Cristo, mas odeia os “Jesus
Cristos”.

Sabe por que isso? Porque a humanidade afirma que ama Cristo,
mas odeia aqueles que quebram as leis. A humanidade diz que ama Cristo,
mas são os primeiros a acusarem, julgarem e condenarem aqueles que são
pegos em flagrantes delitos. Mas, Cristo não fez isso...

Quando a mulher adultera lhe foi apresentada, Cristo disse: quem


não tem pecado que atire a primeira pedra. Quando ninguém mais ficou ele
disse: se ninguém lhe condena, não sou eu que vou lhe condenar...

Portanto, para se portar como Cristo, os seres humanos deveriam


eximir-se de julgar qualquer um, mesmo aqueles que forem pegos em
Página 160 Caminho, Verdade e Luz – volume I
flagrante delito. Mas, o mundo detesta os “Jesus Cristos” e por isso chama
de fraco, inconseqüente e outros adjetivos pejorativos aqueles que não
cumprem a “obrigação” de julgar, acusar e condenar os outros.

A humanidade diz que ama Cristo, mas odeia aqueles que, como o
mestre, não seguem rigorosamente a lei humana. Acontece que aqueles
que se eximem de culpar os outros (os “Jesus Cristo” ou aqueles que
buscam o caminho que leva a Deus) praticam o perdão, o que, aliás, foi
ensinamento do mestre e serve como caminho para Deus: Pai perdoa, eles
não sabem o que fazem...

Apesar do mestre ter ensinado assim e a humanidade dizer que


quer seguí-lo, ela não quer perdoar. Diz que ama Cristo, que o aceita como
legítimo guia e pastor, mas não quer praticar o perdão que ele ensinou.
Prefere julgar, condenar e acusar a todos... Pior... Quem não segue estas
premissas é chamado de bobo, de otário.

Mas, se a humanidade diz que busca a Cristo, deveria, não digo


nem aclamar aqueles que buscam viver como Cristo, mas pelo menos não
odiá-los. Deveria, pelo menos, não taxá-los com palavras que demonstrem
menosprezo.

A humanidade diz que ama Cristo, mas o ser humano, mesmo os


que se dizem cristãos, estão preocupados com o que vão comer e vestir
hoje. Cristo nunca teve esta preocupação...

Cristo dizia: se Deus dá o alimento aos bichos e dá roupa às flores,


porque eu vou me preocupar com isso. Apesar deste ensinamento, a
humanidade ainda se preocupa e, para aqueles que vivem do jeito que
deveria ser o ideal de todos os que dizem que buscam seguir a Cristo,
existe a acusação de serem alienados. São menosprezados, considerados
bobos.

A humanidade diz que ama Cristo, mas se preocupa não só com o


que vestir, mas como se vestir. A humanidade preza muito mais a aparência
física do que o interior. Preza ver se está arrumado, limpo ou cheiroso.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 161
Esquecem-se do que Cristo afirmou: ai de vocês que lavam o copo
e o prato por fora, mas por dentro estão cheios de coisas que vocês
conseguiram pela violência e pela ganância. Para descrever aqueles que se
preocupam com o exterior Cristo fez a seguinte comparação: são como
túmulos caiados de branco, que por fora parecem bonitos, mas por dentro
estão cheios de ossos mortos e de podridão...

Se estes chegassem perto de Cristo não iam se sentir confortáveis,


pois o mestre não era de se preocupar muito com estas coisas... Sabe,
aquela imagem do manto sempre branco é apenas uma figura. Isso porque
Cristo andava no meio do deserto. Sendo assim, no mínimo o seu manto
era coberto de pó...

A humanidade diz que ama Cristo, mas aqueles que não cumprem
os rituais religiosos, são colocados na cruz. São acusados de hereges, de
pagãos... Mas, Cristo nunca cumpriu um ritual religioso de sua época... Pior,
quebrou todos...

Cristo se alimentou e fez cura nos sábados... Expulsou os


vendedores do templo, o que era aceito pela doutrina religiosa de então...
Foi contra as bases doutrinárias dos professores da lei, falando em amor e
perdão...

Sabe, hoje é muito fácil para vocês não cumprirem as leis religiosas,
pois elas foram adaptadas para servir à humanidade. Mas, naquele tempo
não... Era tão complicado não se seguir a religião oficial dentro de todos os
parâmetros que ela continha, que Cristo foi crucificado justamente por isso...

A humanidade diz que ama Cristo, mas tem como objetivo principal
na sua vida realizar-se materialmente. Está preocupado em estudar, em se
formar numa boa faculdade para poder arrumar um emprego melhor para
ganhar mais dinheiro e ter mais ascensão.

Cristo nunca teve esta preocupação... E se ele é o caminho a


verdade e a vida e só através dele se chega a Deus, aquele que ama o
Página 162 Caminho, Verdade e Luz – volume I
mestre não deveria ter estas preocupações, não deveria ter estes objetivos
como primários na sua vida...

É isso que Cristo afirma quando diz que a humanidade o odiou. Só


que ela não o odiou apenas naquele tempo, mas continua odiando-o até
hoje através daqueles que seguem os seus ensinamentos.

Continuam criticando, acusando, chamando os seguidores de Cristo


de não evoluídos. Isso porque a humanidade continua presa a um padrão
de evolução que não foi a que o Cristo ensinou. Eles ainda continuam
querendo exercer o poder de ser, estar e fazer, enquanto Cristo dizia:
Senhor honra seu nome através de mim...

Aí está o problema: a humanidade diz que ama Cristo, mas não


quer mudar a forma humana de viver... A humanidade, para poder se dizer
seguidora de Cristo, precisa alterar os valores da sua vida. Aliás, o próprio
mestre deixou isso bem claro: eu não vim trazer a paz, mas a espada.
Enquanto você não abandonar suas paixões humanas, pegar a sua cruz e
me seguir, não serve para mim...

Não adianta se dizer seguidor de Cristo e querer levar uma vida


humana igual a dos outros, porque não se chega, espiritualmente falando, a
lugar algum. Só se chega à elevação espiritual através do exemplo deixado
por ele, pois “eu sou o caminho a verdade e a luz; ninguém chega a Deus a
não ser através de mim”.

Esta sentença proferida pelo mestre quer dizer que ninguém chega
a Deus a não ser vivendo a vida como ele viveu. Por isso a vida daqueles
que querem se dizer seguidor de Cristo tem que ter como objetivo primário a
mesma intenção que o mestre teve: vivenciar a cada momento a glória do
Pai sem se preocupar com os acontecimentos materiais...

Mas, a humanidade odeia Cristo, odeia os “Jesus Cristos”: odeia


aqueles que não se preocupam com os elementos materiais de sua vida.
Aliás, a vida “Jesus Cristo”, ou seja, aquilo que deveria ser o objetivo
primário de ser vivido por um espírito encarnado, é a antítese de tudo o que
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 163
a humanidade sonha para si. Isso porque o fundamento da vida humana é
alcançar a glória material (estar “certo” dentro dos padrões humanos), a
fama (ser reconhecido como um ser humano adaptado às realidades
humanas) e a felicidade material.

Participante: Porque a sociedade hoje é tão individualista


se a Terra está mudando para o Mundo de
Regeneração. Não era para ter uma evolução com
relação ao universalismo?

Não... Era para piorar mesmo, porque a quem muito foi dado, muito
será cobrado...

Repare: se a prova de um espírito é vencer o individualismo, quanto


mais ele se aproxima da prova final, mais individualismo tem que vivenciar...
O individualismo precisa hoje lhe chamar mais fortemente, precisa lhe tentar
mais fortemente, para que você esteja sempre fazendo provas dentro do
seu nível de elevação...

Se vocês pertencessem ao mundo, o mundo os amaria


por vocês serem dele. (idem, versículo 19).

Um rápido comentário...

Quando você segue os padrões da humanidade, o mundo lhe ama.


Ele age assim porque você é humano, porque vive humanamente a vida:
porque você se preocupa em arrumar-se, em trabalhar; porque sonha em
crescer materialmente; porque sonha com a submissão dos outros aos seus
padrões de “certo”; porque quer ter o poder ao seu lado.

Agora, quando para você nada disso tem valor, o mundo lhe odeia.
Tem este sentimento porque você não é mais humano, porque não se
preocupa com a humanidade, mas sim em pertencer a Cristo, a quem nada
disso faz sentido. É como Paulo diz: para mim o mundo está morto porque
eu pertenço a Cristo...
Página 164 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Esta é uma coisa que precisávamos entender para continuar
ouvindo o que Cristo falou...

Mas, eu os escolhi entre a gente do mundo e vocês não


pertencem mais a ele. Por isso o mundo os odeia.
(idem, versículo 19).

Por estarem ligados a Cristo, ou seja, por tudo que é humano não
fazer mais sentido para vocês, o mundo lhes odeia. O mundo não vê em
você alguém que pode ser seguido, que mereça ser ouvido. Isso porque o
mundo ama apenas quem fala o que ele quer ouvir...

A humanidade ama aqueles que servem ao humanismo do ser e


não aqueles que servem a Cristo. Mas, este tipo de proceder não leva o
espírito a se aproximar do Pai. Para entender bem isso, temos que nos
lembrar de outra frase de Paulo: o ser humano é inimigo de Deus...

Sim, o ser humano é inimigo de Deus porque ele só é amigo dele


mesmo. O ser humano não é amigo de mais ninguém...

Mesmo quando considera alguém como amigo, a consideração está


subordinada ao “bem” que este amigo lhe traz. Se este “bem” deixar de
existir, o amigo se transforma logo em inimigo... Sendo assim eu afirmo: ele
só está preocupado consigo mesmo e não com o outro.

Você acha que estou exagerando? Ouça este ensinamento que o


Espírito da Verdade fala em O Livro dos Espíritos.

Pergunta 913: Dentre os vícios, qual o que se pode


considerar radical? Temo-lo dito muitas vezes: o
egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai os vícios e vereis
que no fundo de todos há egoísmo. Por mais que lhes
deis combate, não chegareis a extirpá-los, enquanto não
atacardes o mal pela raiz, enquanto não lhe houverdes
destruído a causa. Tendam, pois, todos os esforços para
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 165
esse efeito. Quem quiser, desde esta vida, ir
aproximando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu
coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o
egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a
caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades.

Aí está a base da humanização a qual o espírito se expõe: todo ser


humano é egoísta, já que este sentimento é a base dos egos formados no
planeta Terra.

Quem é egoísta ama a si acima de Deus e dos outros. Por isso


Paulo nos diz que o ser humano é o inimigo de Deus, já que ele quer para
si, enquanto que o Pai quer para todos...

Esta é uma conclusão que precisa ser tirada por aqueles que
querem seguir Cristo, pois no mestre não residia o egoísmo: ele vivia para
servir os outros. Já o ser humano vive para se servir e para isso serve-se
dos outros.

Afirmo isso porque o ser humano é incapaz de ser, por exemplo,


caridoso de uma forma universal. Mesmo quando ele quer ajudar o próximo,
estipula condições que são aceitas por ele mesmo para auxiliar.

Esta é a base que todos aqueles que dizem que estão buscando a
elevação espiritual precisam compreender: a humanidade, os valores ditos
humanos são forjados no egoísmo. Por isso, enquanto o ser for humano não
conseguirá amar a Cristo de verdade. Por conseguinte, odiará Cristo, pois
ele não foi humano.

A existência de “Jesus Cristo”, que iniciou-se depois do batismo foi


uma existência espiritualizada e universalista. No momento em que João
Batista batiza Jesus, acaba-se a humanidade desta personalidade. Ela
passa a funcionar como um espírito na carne e não mais como humano.

O espírito na carne é aquele que não é egoísta, que vive no


universalismo e no espiritualismo pleno. Ou seja, aquela personalidade
onde o amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si
Página 166 Caminho, Verdade e Luz – volume I
mesmo está presente. É por isso que esta personalidade afirma: a
humanidade me odeia.

Sabe quem são os humanos cristãos de hoje? Os mesmos


professores da lei do tempo de Cristo.

Não estou falando em reencarnação, afirmando que são os mesmos


espíritos. O que estou dizendo é que os elementos humanos de hoje, como
os de então, ainda se avocam em ter a verdade e usá-la para julgar o
próximo. São os mesmos para os quais Jesus Cristo falou: ai de vocês,
professores da lei, que põem fardo nas costas dos outros e não ajudam a
carregar nem com nenhum um dedo. Por isso continuam julgando e
criticando os “Jesus Cristos”, como fizeram com o mestre...

A partir desta constatação, deve surgir para vocês que estão


querendo seguir o exemplo de Cristo, uma verdade: não esperem que a
humanidade vá aplaudir os seus esforços de elevação espiritual. Todo
mundo acha que se entrar nesta revolução espiritual será considerado
bonzinho ou santinho. Isso é ilusão.

A humanidade vai lutar contra vocês... Vai querer lhes ridicularizar,


vai querer, como instrumento do carma, lhes colocar a todas as provas para
lhes testarem no sentido de ver se vocês permanecem no amor em Cristo...

É preciso atentar para este detalhe. É preciso estar atento a este


detalhe: ninguém chega a Deus através de Cristo, ou seja, ninguém chega a
Deus a não ser sendo um “Jesus Cristo”.

Depois de compreender isso, é preciso, ainda, compreender outra


coisa: quem quiser chegar a Deus sendo um “Jesus Cristo” não pode querer
ser humano e nem esperar que a humanidade lhe apóie neste intento.

Participante: O mundo gosta de quem faz o que ele quer.


Concordo com isso. Agora, se formos seguir Cristo,
vamos nos tornar individualistas e egoístas também, pois
não poderemos contar com ninguém, já que o mundo
não apoiará quem seguir Cristo.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 167
Concordo com você. Só que seguindo Cristo, você não será
individualista, mas individual.

Falo assim, porque individualista é aquele que quer para isso


enquanto que o individual é aquele que se reconhece como individualidade,
mas que não quer para si prioritariamente.

Sim, para seguir Cristo você precisa ser uma individualidade sem
individualismo, sem egoísmo. Mas, isso é impossível para quem segue os
padrões humanos de vida, porque a humanidade lhe cobra que seja
egoísta, ou seja, que se imponha individualmente a cada momento.

Vamos continuar...

Vocês poderiam dizer: você está sendo radical. Eu diria: estou... E


complementaria: sem radicalismo não há elevação espiritual. Sem você
radicalizar espiritualmente a vida, não há elevação espiritual. Querem ver
um exemplo...

Há entre os espíritas uma frase muito interessante. Quando se fala


nas influências dos espíritos sobre a vida nos meios espíritas eles dizem:
ah, nem tudo que acontece em nossa vida são os espíritos que fazem...

Os que respondem desta forma são humanos, ou seja, vivem


apenas a partir das suas percepções. Mais, são professores da lei porque
citam O Livro dos Espíritos, mas não vivem o que ele diz...

Segundo esta obra do Pentateuco Espírita, a influência dos espíritos


na vida humana é muito maior do que o ser humano possa imaginar.
Portanto, para ser espírita verdadeiro, os seguidores desta religião deveriam
radicalizar (ter isto como Verdade Absoluta).

Mas, para não serem egoístas, deveriam radicalizar não porque se


acham certos, mas porque esse é o ensinamento do mestre que seguem.
Se não radicalizam e atacam os que dizem isso, posso afirmar que os
espíritas odeiam os “Espíritos das Verdades” também...
Página 168 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Participante: Por favor, fale deste ensinamento...

Ele começa na pergunta 459:

Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em


nossos atos? Muito mais do que imaginais. Influem a tal
ponto que, de ordinário, são eles que vos dirigem.

Esta é a lei da doutrina espírita. Tanto isso é verdade que o seu


próprio fundador, comentando a influência dos espíritos nos acontecimentos
da vida diz:

Assim é que, provocando, por exemplo, o encontro de


duas pessoas, que suporão encontrar-se por acaso;
inspirando a alguém a idéia de passar por determinado
lugar; chamando-lhe a atenção para certo ponto, se
disso resulta o que tenham em vista, eles obraram de tal
maneira que o homem crente de que obedece a um
impulso próprio, conserva sempre o seu livre arbítrio.
(Comentários de Kardec à pergunta 525).

Isso, por si só já diria tudo. Mas tem mais... À frente (pergunta 527)
o Espírito da Verdade diz que se alguém tem que morrer por causa da ação
de um raio que caia do céu (determinismo de destino) nenhum ser
desencarnado alterará a rota do elemento da natureza, mas fará com que o
homem se dirija para o lugar onde ele sabe que o raio cairá...

Ou seja, a vida é completamente dominada pelos espíritos. Todas


as suas ações são comandadas de fora para dentro e você, como diz
Kardec, achando que mantém o livre arbítrio, faz o que precisa ser feito.

Portanto, para se dizer seguidor do Espírito da Verdade é preciso


que os espíritas radicalizem e vivam com esta realidade: tudo na vida é
intervenção dos espíritos.

Mas os espíritos não agem à toa. A pergunta 525a traz uma


informação importante:
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 169
Exercem essa influência por outra forma que não apenas
pelos pensamentos que sugerem, isto é, têm ação direta
sobre o cumprimento das coisas? Sim, mas nunca
atuam fora das leis da Natureza.

Reparem que a letra “n” está escrita de forma maiúscula. Isso quer
dizer que o Espírito da Verdade se refere a Deus. Ou seja, os espíritos
agem sobre o cumprimento das coisas, mas esta ação segue a ordenação
do Senhor.

Agora o radicalismo está completo: o espírita, para poder se dizer


seguidor do Espírito da Verdade tem que aceitar que tudo que acontece
durante a sua existência tem a direção do mundo espiritual menos denso,
mas que eles agem sobre o comando de Deus. Para eles nada mais pode
ser real...

Quem não radicalizar nesta questão não pode dizer-se espírita.


Aliás, será como os cristãos que estamos comentando: dirão que amam o
espiritismo, mas que odeiam os “Espíritos da Verdade”.

Mas, este conhecimento não deveria pertencer apenas aos


espíritas. Os próprios cristãos não espíritas, que dizem não acreditar na
existência do mundo espiritual ativo, para poderem demonstrar o seu amor
por Cristo, deveriam acreditar nisso.

Falo assim porque o mestre conhecia esta Verdade. Cristo sabia


que tudo o que vai acontecer está predeterminado (até os fios de vossas
cabeças estão contados) e participava dos acontecimentos com esta
consciência. Isto ele deixou bem claro quando respondeu aos apóstolos que
lhe avisaram sobre a morte do seu amigo Lázaro: vamos lá, pois ele não
morreu. Só está daquele jeito para que a glória de Deus seja alcançada...

Sei que muitos cristãos não espíritas acreditam nesta verdade (que
suas existências são dirigidas pelos espíritos), mas há uma diferença na
forma como Cristo acreditava e na que os humanos cristãos acreditam.
Enquanto que humanos estão eternamente querendo investigar o porque e
Página 170 Caminho, Verdade e Luz – volume I
o para que das coisas, Cristo deixava Deus fluir através dele, ou seja, tinha
consciência de que era Deus agindo sempre e por isso não precisava se
preocupar com os porquês e os para quês...

Essa é mais uma razão pela qual eu afirmo a humanidade não ama
Cristo: aqueles que se entregam a Deus deixando o Senhor fluir por eles
sem seguirem normas e padrões humanos, são considerados doidos. Isso
no mínimo, para não dizer idiota...

Anti Cristo não é aquele que se contrapõe aos ensinamentos das


doutrinas cristãs não espíritas, mas sim aqueles que não levam em
consideração esta informação do Espírito da Verdade por não estar de
acordo com suas próprias crenças, apesar de declaradamente estar
presente na consciência “Jesus Cristo”...

Mas, existem outros aspectos que me levam a afirmar que a


humanidade odeia Cristo... Um deles é a aceitação do destino.

A humanidade luta para criar um destino melhor para ela mesma. É


raro o humano que aceita que os acontecimentos de sua existência estão
perfeitos da forma que estão.

Para Cristo, tudo era fruto do amor de seu Pai, mesmo aquilo que a
humanidade chama de “errado” ou “ruim”... O mestre, por exemplo, sabia
volitar, era capaz de proezas como andar em cima das águas, mas não
fugiu do seu destino...

Ele poderia muito bem ter volitado e desaparecido da cena da


crucificação e continuado a sua vida. Por que não fez isso? Para entender é
preciso ouvir a resposta que ele deu a Pilatos quando este lhe perguntou
por que não se salvava: se o Pai quisesse que eu não passasse por isso,
mandaria pelo menos vinte legiões de anjos para me salvar...

Aí está uma grande verdade que a humanidade odeia ouvir: Cristo


não foi crucificado pelos romanos, nem pelos judeus. Ele foi crucificado por
determinação de Deus...
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 171
É a humanidade odeia ouvir isso, porque ela quer preservar a vida
material. O ser humano quer continuar vivo, materialmente falando, porque
quer continuar humanizado, quer continuar ganhando migalhas (as poucas
vezes em que o desejo é realizado) aqui e ali...

Cristo morreu na cruz sem aflição, sem medo, sem acusações.


Entregou-se a este momento porque sabia que aquilo era apenas uma
história pré-montada para lhe dar aos seus seguidores o seguinte
ensinamento: se você estiver sendo levado ao cadafalso, vá em paz,
amando e perdoando seus algozes. Não queira fugir do seu destino...

Mas, os humanos cristãos não querem ouvir este ensinamento que


já tem dois mil anos e continuam lutando para ganhar sempre...

Sabe, é até compreensível que ao ir para o seu cadafalso você fique


perturbado e reja como Cristo, que se perturbou com a aproximação de sua
hora segundo relato de João: Sinto agora uma grande aflição... Mas, para
poder se dizer cristão, continue a frase como ele continuou, ainda segundo
relato de João: mas, o que vou dizer agora? Pai afasta de mim este cálice...
Mas eu nasci para isso... Pai glorifica o seu nome em mim.

Quanto aqueles que vivem que não reagem aos acontecimentos do


mundo, que se entregam passivamente às suas cruzes mantendo intacta a
sua relação amorosa com Deus, estes são criticados pela humanidade.
Criticam porque os humanos egoístas não querem ser crucificados, ou seja,
não querem ver os seus supostos direitos serem afetados.

Esta é a realidade... Por favor, não digam que estou radicalizando...


Estou simplesmente pegando ensinamentos que existem em O livro dos
Espíritos e na Bíblia para mostrar que o ensinamento é um e a prática é
outra...

Agora, quanto à afirmação de Cristo que o mundo o odeia, também


não a inventei: está há quase dois mil anos no Evangelho de João... Cabe a
Página 172 Caminho, Verdade e Luz – volume I
nós não discuti-la, mas entendê-a, compreendê-la, que é isso que estamos
falando neste trabalho.

Como disse, ao estudar os ensinamentos do Novo Testamento


gostaria de falar da prática da vida e é exatamente isso que estou fazendo
hoje: mostrando que a prática da vida daqueles que se dizem seguidores de
Cristo é hipócrita, porque amam a Cristo, mas não querem viver como o
mestre viveu.

Não querem doar-se como o mestre doou-se. Preferem manter a


sua humanidade intacta a se entregar ao espiritualismo, mesmo sabendo
que com isso não alcançam a evolução espiritual, ou seja, não caminham o
caminho que leva a Deus...

Lembrem-se do que eu disse: o empregado não é mais


importante do que o patrão. Se me perseguiram,
também perseguirão vocês; se obedeceram aos meus
ensinamentos, também obedeceram aos ensinamentos
de vocês.

Por causa de mim, vão lhes fazer tudo isso porque não
conhecem aquele que me enviou. Eles não teriam
nenhum pecado se eu não tivesse vindo e falado a eles.
Mas agora não têm desculpa para o seu pecado. (Idem,
versículos 20 a 22).

Neste ensinamento a fonte da célebre frase: a quem muito foi dado,


muito será cobrado.

O pecado – pecado como transgressão ao espiritual – não nasce do


ato que se pratica durante a vida, mas sim da transgressão ao
conhecimento que cada um possui.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 173
Veja... O católico tem um ensinamento, o protestante outro e o
espírita outro ainda. Mas, todos estes conjuntos doutrinários contêm
ensinamentos fundamentados no que Cristo ensinou...

Acontece que apesar disso, o humano considera os ensinamentos


de sua seita mais importantes do que realmente está descrito como
ensinamento do mestre. Mas, isso não é verdade... Toda doutrina que se
diga cristã precisa ensinar o que Cristo ensinou...

Para isso é preciso se deixar de lado as diferenças... Que importa


se só há esta vida ou outras (reencarnação)? O importante é fazer o que
Cristo ensinou: amar a tudo e a todos... Por isso, quando o ser humanizado
recebe os ensinamentos de quaisquer de uma destas seitas, ele se torna
responsável por colocar em prática o que o mestre nazareno ensinou...

Se Cristo diz que você deve amar o inimigo, não importa o que o
padre diz: você tem que amar o inimigo. Se ele afirma que não deve julgar,
não importa o que o médium diga na palestra do centro: você precisa abrir
mão disso.

Se Cristo diz que deve perdoar a todos, deixe o pastor condenar


aqueles que participam de outras doutrinas, mas você perdoe todo mundo.
Se Cristo diz ao bandido que ainda hoje ele estará no reino do céu por
arrepender-se, não importa o que o código moral de sua religião fale a
respeito do crime: você precisa compreender que o bandido que se
arrepender de seus pecados irá para o reino do céu.

Aí está a hipocrisia que eu tenho falado: não adianta se dizer


católico, espírita ou evangélico e não seguir Cristo, mas sim ao que ouve na
sua religião... O problema é que todos querem ser religiosos, mas não
abrem mão do seu humanismo que se caracteriza em ser e acreditar no que
quiser.

Na verdade, este é o tema da palestra de hoje: ser cristão...

Para ser cristão de verdade é preciso lembrar-se do que Cristo


disse: em verdade vos digo: quem não nascer de novo não verá o reino do
Página 174 Caminho, Verdade e Luz – volume I
céu. Por causa desta afirmação, saiba que enquanto não renascer do
espírito e da água não conseguirá a elevação espiritual, por mais que
decore os ensinamentos, por mais que se diga cristão. E, para renascer do
espírito e da água é preciso ser como Cristo foi...

Mas, para ser igual a ele, é preciso que você se lembre de algo
importante que ele disse: não se serve a dois senhores ao mesmo tempo.
Não se serve à materialidade, à humanidade e a Deus ao mesmo tempo...

Não há se manter humano e ser ao mesmo tempo cristão. Isto


porque a humanidade lhe cobra o seu humanismo enquanto que Cristo lhe
cobra a sua espiritualização, a sua ligação com Deus: o seu viver em Deus,
com Deus e para Deus...

Se nós não compreendermos isso, ficaremos batendo cabeça


contra parede. Ficaremos querendo ser humano sem conseguir e querendo
ser espírito e não conseguindo também...

Este é o assunto que precisa ser rapidamente conscientizado por


todos os que se dizem buscadores. A compreensão deste tema precisa
servir como instrumento para espiritualizar verdades. Sem isso, o espírito
encarnado ficará empacado no tocante a elevação espiritual, como está há
milhares de encarnações lutando entre servir ao mundo ou a Deus.

Isso é o que precisamos pensar... Mas, esta é uma decisão difícil,


pois a partir do momento que você decidir seguir a Cristo, tem que passar a
ser um “Jesus Cristo” e amar os “Jesus Cristos”.

Mas, se por outro lado não decidir por isso, você tem todo direito de
viver a sua humanidade. No entanto, compreenda que este caminho não lhe
leva a Deus. Além disso, para não ser hipócrita, é preciso você pare de
bater nos peitos e dizer que é cristão.

Esta é a bifurcação, a encruzilhada, onde estão todos os espíritos


encarnados hoje: de um lado o chamamento de Deus, da espiritualidade; do
outro o da humanidade para viver uma vida de forma humana. Isto precisa
ficar bem claro para os que se dizem buscadores de Deus...
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 175
Além do mais, é preciso ficar bem claro que a partir do momento
que você opte por Deus não deve esperar da humanidade respeito, amor e
atenção porque ela lhe cobrará mudanças, pois deixou de ser um humano.

Participante: Você já falou por diversas vezes que é


preciso amar a todos, mas acho que eu não sei bem o
que é o amar universal. Poderia nos dizer o que é este
amar e citar alguns exemplos na vida prática?

Posso, é fácil fazer isso...

O que é amar universalmente? É não amar egoisticamente.

Como na prática se sabe que está mando universalmente? Quando


você não distinguir “certo” nem “errado”, “limpo” ou “sujo”, “arrumado” e
“desarrumado”, “bonito” e “feio”...

Quando você, por exemplo, vê na atitude de outro uma arrumação e


gosta, você elogia, mas isso não se traduz em amar universalmente. Isso
porque você só elogia o que lhe convém elogiar... Quando vê um “errado”
na atitude de outro é porque você não acha aquilo certo. Em qualquer dos
dois casos não amou universalmente porque seu estado de espírito
amoroso existiu a partir de seus próprios conceitos. Ou seja, amou
egoisticamente...

Amar é viver a vida sem aplicar adjetivos a nada e a ninguém. Amar


é simplesmente amar e quem ama não vê “feio” ou “bonito”, “certo ou
errado”. Quem ama, só ama...

Então, amar universalmente é isso: participar da vida sem colocar


adjetivos nela. Isto porque qualquer adjetivo que se coloque é
fundamentado no egoísmo, ou seja, é fundamentado no que você acha
daquilo...

Participante: Mas, como eu vou amar uma pessoa que


pratica o “mal”? Eu não ia estar apoiando esta pessoa...
Página 176 Caminho, Verdade e Luz – volume I
Mas eu acabei de dizer que não se dá adjetivos. O “mal” é um
adjetivo que você coloca a algo que é perfeito que vem de Deus...

Quanto ao apoiar, eu não falei que deve apoiar qualquer pessoa,


mas que deve amar a todos. O ato de apoiar só ocorre quando há um
“certo” presumido, mas eu não estou falando em “certo”, mas em perfeito.
Eu, como Cristo, estou afirmando que o “bem” e o “mal” são frutos do amor
de Deus que são adjetivados a partir dos conceitos humanos e pela ação
egoísta como tal...

Para poder viver isso, eu não julgo ou acuso, mas também não
elogio. Vivencio tudo na neutralidade, ou equanimidade como Krishna
chama este estado de espírito.

Foi assim Que Cristo viveu ou você acha que ele morreu com raiva
de quem enfiou a lança nele ou dos doutores do Cinéreo que o acusou?
Claro que não...

Mas ao não ter raiva deles, o mestre não compactuou com as ações
por eles praticadas. Ele compactou com Deus que estava fazendo aquilo
acontecer...

Participante: Isso é difícil demais...

Sim, para o ser humano é difícil demais amar, mas para o espírito
ou para aqueles que, como Cristo, se abstém de ganhar e levar vantagem
nos acontecimentos da vida, não.
Caminho, Verdade e Luz – volume I Página 177

Índice

Amem-se uns aos outros............................................................................................3

Pedra de Roseta........................................................................................................20

Quem entra no Reino do Céu...................................................................................44

Amor e paixão............................................................................................................55

Pobre de espírito.......................................................................................................67

Hipocrisia.................................................................................................................102

Cegueira espiritual..................................................................................................133

Jesus e os três empregados..................................................................................143

A ovelha perdida......................................................................................................155

O eco do Universo...................................................................................................157

A humanidade odeia Cristo.......................................................................................159

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