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Seminário Bíblico RENOVO

Pr. Odilon Andrade

A Doutrina da Salvação
SALVAÇÃO É PALAVRA DE PROFUNDO SIGNIFICADO E DE INFINITO ALCANCE.
Muitos têm uma concepção muito pobre da inefável salvação consumada por Jesus, o
que às vezes reflete uma vida espiritual descuidada e negligente, onde falta aquele
amor ardente e total por Jesus, e a busca constante de sua comunhão.

Em Efésios 6, quando o apóstolo discorre sobre a armadura de combate do soldado


cristão, fala do capacete da salvação (v17). O capacete cobria totalmente a cabeça,
protegendo-a. Isso fala da plenitude do conhecimento e da experiência da salvação.

Salvação não significa apenas livramento da condenação do Inferno. Ela abarca todos
os atos e processos redentores e transformadores da parte de Deus para com o homem
e o mundo através de Jesus, o Redentor, nesta vida e na outra.

Salvação é o resultado da redenção efetuada por Jesus. Redenção foi o meio que Deus
proveu para livrar o homem de seus pecados. Salvação é o usufruto desse livramento.
No sentido comum e limitado, Salvação significa a obra que Deus realiza
instantaneamente no pecador que a Ele se entrega, perdoando-o e regenerando-o.
Porém, a Salvação tem sentido e alcance muito mais vasto. Assim considerada,
significa o pleno livramento da presença do pecado e suas consequências, o que
somente ocorrerá na glória celestial. Nesse sentido, a Salvação alcança também outras
esferas além da humana (Cl 1.20).

A SALVAÇÃO FOI PLANEJADA POR DEUS PAI (AP 13.8 E 1PD 1.18-20). DEUS
FILHO CONSUMOU-A (JO 19.30 E HB 5.9). O ESPÍRITO SANTO APLICA-A AO
PECADOR (JO 3.5; TT 3.5 E RM 8.2). TUDO POR GRAÇA (EF 2.8).

Milhares de filhos de Deus são hoje salvos por Jesus, mas ainda não examinaram
detalhadamente a sublimidade desta Salvação em seus dois sentidos: objetivo e
subjetivo. A Salvação que Jesus efetuou no Calvário é tão rica, profunda e grandiosa
que somente na outra vida é que começaremos a entender de fato o seu infinito
alcance. Quando as eras futuras começarem o seu curso na glória celestial,
começaremos a compreender as riquezas infinitas desta Salvação em Jesus Cristo (Ef
2.7; 3.8).

Vejamos a Salvação em si, do ponto de vista objetivo, considerando Deus como doador
e o homem como o receptor. Nesse sentido, ela tem três aspectos, todos simultâneos:
justificação, regeneração e santificação. Uma pessoa verdadeiramente justificada é
também regenerada e santificada.

JUSTIFICAÇÃO é um termo judicial. Fala de quebra da Lei (1Jo 3.4). Ele é o ato de
transformação ou mudança de estado do pecador, perante Deus, operada por Ele
mesmo. A justificação tem caráter exterior. Deus é o juiz, Cristo é o advogado e o
homem, o réu. A transgressão da Lei de Deus é o pecado cometido.

O resultado da justificação na vida do novo crente é a mudança de posição perante


Deus. De condenado que era, o homem passa a justificado. Na justificação, o homem
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entra em boas relações com Deus quanto às suas leis, pois Ele é justo (Rm 5.1;
8.1-4). A justificação é um ato divino fora do indivíduo, enquanto a regeneração ocorre
no interior da criatura.

É muito maravilhoso o modo como Deus providenciou e efetua a nossa justificação. A


justiça de Cristo é creditada à nossa conta espiritual (Rm 3.24-28). Romanos trata
desse assunto de modo completo e majestoso.

Para a nossa justificação: a) Deus, em sua graça, colocou seu Filho em meu lugar, e,
na cruz, transferiu minhas culpas e crimes para Ele; b) Jesus morreu voluntariamente
por mim; c) Eu preciso aceitar, por fé, este único método divino de justificação do ímpio
(Rm 4.5), confessando a Jesus como meu Salvador (Rm 10.9).

Assim, sem ultrajar sua perfeita justiça, Deus justifica o ímpio (aparentemente um
absurdo), substituindo o culpado pelo inocente (Cristo), transferindo minhas culpas para
Ele. Deste modo, Deus proveu a justificação para mim e para ti, mediante substituição
e transferência, tudo por Cristo. Legalmente, não deveria haver misericórdia para com
o culpado. Deveria ele ser punido. Porém, em virtude do sacrifício de Cristo, Deus, o
Justo Juiz, faz justiça, perdoando o penitente que a Ele vem com fé. Assim, essa
justificação por Jesus só é efetivada na vida do pecador que o aceitar como seu
Salvador. Somente aceitando Jesus o pecador entra no plano divino para sua Salvação.

Vê-se, assim, que, no sentido bíblico, justificar é mais do que perdoar. O perdão remove
a condenação do pecado, e a justi¬ficação nos declara justos. Um juiz terreno ou chefe
de Estado pode perdoar um criminoso, mas não pode colocá-lo nunca em posição igual
à daquele que nunca transgrediu a lei. Mas o nosso Deus pode e faz isso. Deus tanto
perdoa o pecador, como justifica-o. Isto é, trata-o como se nunca tivesse pecado!
Aleluia ao Trino Deus! E tal fato ocorre no momento em que o pecador arrependido
aceita Jesus como seu Salvador pessoal. Aqui no mun¬do, um criminoso nunca mais
receberá a consideração de justo por parte de seus semelhantes, mas Deus declara
justo o pecador que Ele justificar. Sim! "Justificado!” – é o veredito divino. Quem pode
agora nos condenar se é Deus quem nos justifica? (Rm 8.33-34). Aleluia!

Como é possível um Deus justo justificar um ímpio? (Rm 4.5). Já tentamos explicar:
substituindo o culpado pelo inocente, o pecador pelo justo, e transferindo a culpa de um
para o outro. Foi o que aconteceu no Calvário. Não foram os soldados romanos que
levaram Jesus ao Calvário e ocasionaram sua morte, mas os meus e os teus pecados.
Sua vida não foi tomada. Ele a deu como sacrifício para nos redimir.

É evidente que justificar é mais do que perdoar. Pela justificação o crente é declarado
justo. A origem da justificação é a graça de Deus (Rm 3.24 e Tt 3.7). A base da
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justificação é o sangue de Jesus (Rm 5.9). O meio da justificação é a fé que vem por
Jesus (Rm 3.28; 5.1).

REGENERAÇÃO
Regeneração é um termo relacionado à família. Tem a ver com a nossa inclusão na
família divina. É o ato interior operado na alma, pelo Espírito Santo. É a nova vida em
Cristo, o novo nascimento. Sendo regenerado pelo Espírito Santo, o crente é filho de
Deus. O lado externo da regeneração é a conversão, isto é, aquilo que o mundo vê ou
percebe. Conversão é a mudança externa da pessoa, seu procedimento resultante da
regeneração, a qual é a mudança interna na alma. A regeneração é a causa, a
conversão é o efeito. Há um sentido em que a conversão não é total (Mt 18.3; Lc 22.32
e Tg 5.19).

O que ocasiona a regeneração não é a justificação, mas a comunicação da vida de


Cristo. A justificação é imputada; a regeneração é comunicada. Justificação tem a ver
com o pecado; regeneração, com a natureza. Justificação é algo feito a nosso favor;
regeneração é algo operado em nós.

O resultado da regeneração é a mudança de condição – de servo do pecado e do Diabo


para filho de Deus (Jo 1.12,13; 3.3 e Tt 3.5). Pela regeneração o crente é declarado
filho de Deus.

SANTIFICAÇÃO É UM ATO DIVINO QUE TAMBÉM OCORRE DENTRO DO HOMEM,


refletindo logo em seu exterior. Daí a diferença entre santidade – um estado – e justiça
– santidade prática, de vida (Lc 1.75). Na operação divina da conversão, a santidade
de Cristo passa a ser a nossa santidade (Cl 2.10; 1Co 2.30; Hb 10.10,14 e Rm 8.2).
Seus méritos são creditados à nossa conta. Estamos tratando da santificação
posicional em Cristo, não da santificação progressiva, no viver diário do crente, como
mostrada em 2 Coríntios 7.1 e Apocalipse 22.1.

O RESULTADO DA SANTIFICAÇÃO, OPERADA NA CONVERSÃO, É A MUDANÇA


DE VIDA.
A salvação considerada sob estes três aspectos simultâneos é perfeita. É a salvação
no sentido objetivo. Estamos em Cristo (2Co 5.17 e Jo 15.4). Nunca seremos mais
salvos do que somos agora. Cristo não fará mais nada para salvar-nos além do que já
fez. Ele já fez tudo o que era preciso e possível. Aí está o perigo do pecador rejeitar a
Cristo, pois não haverá outro plano divino de Salvação. O atual é eterno (2Tm 1.9 e Ef
3.11). Nem mais outro sacrifício expiatório terá lugar, pois o de Jesus foi perfeito e
completo (Hb 9.26; 10.10,12).
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Pela santificação em Cristo, o crente é declarado santo. Por ela, o crente entra em boas
relações com Deus quanto à sua natureza, pois Ele é santo (1Pe 1.16 e 2Tm 2.21).

Estas três bênçãos – justificação, regeneração e santificação – são simultâneas, no


sentido objetivo. As três constituem a plena Salvação em Cristo (2Co 5.17).
A SALVAÇÃO NA EXPERIÊNCIA HUMANA
Quando falamos de salvação na experiência humana, estamos falando de salvação no
sentido subjetivo. O homem como receptor e Deus como o doador. É salvação vista na
experiência humana. Considerada a salvação sob este aspecto, ela tem três tempos:
no passado, justificação; no presente, santificação; no futuro, glorificação.

A) NO PASSADO – JUSTIFICAÇÃO: É a salvação da condenação do pecado. O


crente foi salvo da condenação do pecado. A Bíblia descreve este fato como ato
passado (Rm 5.1 e 1Co 6.11). Justificação é o que Deus fez por nós. O crente foi
justificado uma só vez. Daí em diante o que ocorrerá é a purificação (1Jo 1.9 e Jo
13.10).

B) NO PRESENTE – SANTIFICAÇÃO: É a salvação do domínio e influência do pecado.


Santificação bíblica significa basicamente separação para uso e posse de Deus. Uma
boa definição é a de Paulo em Atos 27.23: “...do Senhor, de quem sou e a quem sirvo”.
Santificação não é apenas a pessoa pertencer a Deus, mas também servi-lo. Se o leitor
é um santo de Deus, certamente está servindo a Deus. Há muita santificação por aí
que pode ser tudo, menos bíblica.

A santificação posicional, deve tornar-se experimental no viver diário do crente.


A santificação é primeiramente interna, isto é, pureza interior, purificação do pecado,
refletindo isso em nosso exterior, traduzido em separação do pecado e dedicação a
Deus. É um termo ligado ao culto a Deus e consagração ao seu serviço, conforme se
vê no livro de Levítico, através de pessoas e coisas, sacerdotes, templo, objetos etc.
Quem pensa ser santo deve ser separado do mal e dedicado a Deus para seu uso (2Tm
2.21). A santificação, como acabamos de ver, tem um lado posicional e outro prático:
um santo viver.
A justiça é comparada a um vestido (Jó 29.14 e Is 59.17). Mas o corpo, que recebe
esse vestido, como deve estar? É razoável um vestido limpo em corpo sujo?
A santificação é o que Deus faz em nós. Nesse sentido, a salvação é progressiva. Uma
criança nova é perfeita, mas não é adulta. Uma frutinha é também perfeita ao formar-
se, mas não é madura (Ef 4.13). Tendo sido justificado, o crente progride e prossegue
para a perfeição, de que em seguida nos ocuparemos. Portanto, ao estudarmos a
santificação precisamos vê-la quanto à posição do crente em Jesus Cristo, e quanto ao
estado do crente em si mesmo.
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C) NO FUTURO – GLORIFICAÇÃO: Será a salvação da presença do pecado em nossa


vida. A glorificação é a inteira conformação com Jesus Cristo (Rm 8.23 e 1Jo 3.2). É a
perfeição do crente. Na glorificação, a salvação envolverá o corpo físico, então
glorificado. Estaremos ressuscitados. Estaremos no Céu (Rm 13.11; 2Co 5.2,4; Fp 2.12
e Hb 9.2). Será redenção do corpo (Rm 8.23).
A glorificação será o que Deus fará conosco.

A salvação é uma obra inteiramente independente de nossas obras, esforços e méritos.


Contudo, o homem tem certas condições a cumprir. Essas condições são a fé, o
arrependimento e a confissão.

Fé é a confiança em Deus. Ela se ocupa com Deus, assim como o arrependimento


ocupa-se com o pecado e o remorso. A fé divisa a misericórdia divina, quando toma-se
a mão para receber a salvação (Ef 2.8).

O arrependimento honra a Lei de Deus. Mas, tanto a fé como o arrependimento vêm


graciosamente de Deus, para que o homem não tenha de que gloriar-se (At 5.31; Rm
2.4; 12.3; 10.17; At 11.18; Fp 2.13; 2Tm 2.25; Ez 36.27 e Jr 31.3). Bem disse o profeta
Isaías que Jeová é a nossa salvação (Is 12.2).

A fé e o arrependimento devem acompanhar o crente em toda sua vida. O primeiro


é indispensável ao recebimento das bênçãos; o segundo fá-lo zeloso para pureza. O
crente que sabe arrepender-se e humilhar-se aos pés do Senhor é um grande
vencedor. Quanto à fé, notemos uma coisa: ela somente opera através do amor
(Gl 5.6; Ef 6.23; 2Tm 1.13 e 1Tm 5.8). Há por aí os que se dizem cheios de fé, porém
sem qualquer dose de amor divino. É uma anomalia, uma decepção, uma negação da
verdade (1Co 13.2).

No tocante à salvação, confissão significa confessar publicamente a Cristo como


Salvador. Após crer com o coração (Rm 10.10a), é preciso confessar ou declarar que
agora é crente (Rm 10.9-10). Crer Nele sem confessá-lo é flagrante covardia; confessá-
lo sem nEle crer é hipocrisia.

Expliquemos: a salvação é uma dádiva ou presente de Deus para nós (Ef 2.8; Tt 3.3 e
Rm 6.23). Suponhamos que alguém te ofereça um grande e rico presente, porém suas
mãos estão ocupadas com uma porção de objetos inúteis e sem valor, e não queres
largar essas coisas para receber esse presente, recusando-o assim. O mesmo
acontece em relação a Deus e à Sua salvação. Mas, suponhamos que tu largues tudo
e aceites o presente. Nada mereces pelo fato de estenderdes a mão para receber o
presente, mas, ao fazer assim, satisfazes a condição para receber essa dádiva. O
mesmo se dá em relação à salvação.

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