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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Escola Politécnica
Departamento de Engenharia Elétrica
Transmissão de Energia
Professor: Robson Dias

1 Compensação Reativa de Linhas


A compensação reativa de linhas de transmissão tem como objetivo principal reduzir seu
comprimento elétrico, de forma que a linha compensada possa ter um comportamento elétrico
similar ao de uma linha curta. A compensação reativa pode ser feita de duas formas: em série
ou em derivação.
Um dos principais objetivos da compensação série é diminuir a impedância longitudinal
permitindo ajustar a potência ativa transferida, enquanto que o da compensação em derivação
é dar suporte de reativos para ajustar o perfil de tensão ao longo linha. A Figura 1 mostra a
variação dos parâmetros longitudinais e transversais do circuito π-equivalente de acordo com o
comprimento elétrico, Θ, para uma linha ideal, sem perdas.
5
Parâmetros do circuito Π-equivalente Hp.u.L


4
3
2
1
0
-1

-2
-3
-4
-5 Π Π
0 3Π Π 5Π 3Π 7Π 2Π

Comprimento elétrico equivalente, Q, HradL


4 2 4 4 2 4

Figura 1: Variação dos parâmetros do circuito π-equivalente em função de Θ.

Como pode se verificar a impedância longitudinal varia proporcionalmente ao seno do


comprimento elétrico, ao passo que admitância transversal possui uma variação proporcional
à tangente de Θ. No caso de uma linha cujo comprimento elétrico encontra-se próximo de π,
observa-se que a impedância longitudinal é igual, em módulo, a região próxima de zero (δ ≤ π4 ),
região onde se opera as linhas curtas. Enquanto que a admitância transversal possui valores
bem diferentes, o que leva a concluir que o comportamento elétrico de linhas muito longas é
bem diferente de uma simples extrapolação do comportamento elétrico de uma linha curta.
Supondo que uma linha ideal, de comprimento L, com compensação em série e em deri-
vação distribuı́das regularmente a uma distância relativamente pequena, muito menor que um
quarto de comprimento de onda1 , e definindo ξs e ξd como ı́ndices de compensação série e em
derivação, respectivamente, os quais representam a relação entre os parâmetros da linha com-
pensada e os parâmetros para a linha não compensada. Pode-se definir os parâmetro médios
por unidade de comprimento da linha compensada como sendo:

X = ξs X0 , (1)
Y = ξd Y0 , (2)

onde o subı́ndice “0 ” indica os valores para a linha não compensada. Assim, neste caso, os
ı́ndices de compensação são ξs = 1 e ξd = 1, respectivamente. O valor de compensação série é
dado por ηs = (1 ± ξs ) p.u., (−) para compensação capacitiva série e (+) para indutiva série.
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Em termos práticos, pode-se considerar essa distância igual ou inferior a 300 km.
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E, para compensação em derivação o valor é dado por ηd = (1 ± ξd ) p.u., (+) para compensação
capacitiva e (−) para indutiva em derivação.
Lembrando que o comprimento elétrico é definido por (??) e que a impedância caracte-
rı́stica por (??), pode-se verificar que esses parâmetros são modificados com a compensação da
seguinte forma:
p
Θ = ξs ξd Θ0 , (3)

s
ξs
Zc = Zc0 . (4)
ξd

Tomando como referência a tensão nominal da linha, U0 , pode-se definir a potência ca-
racterı́stica para a linha sem compensação, Pc0 , como sendo:

|U0 |2
Pc0 = . (5)
Zc0
No caso da linha compensada, a potência caracterı́stica fica:
s
ξd
Pc = Pc0 . (6)
ξs

Como exemplo numérico, pode-se citar o exemplo apresentado em Watanabe et. al. [1]
para uma linha de 600 km (Θ0 = 0.762), com 40% de compensação capacitiva série (ξs = 0.60)
e 65% de compensação indutiva em derivação (ξd = 0.35). Para esses valores tem-se que
Θ é reduzido para 0.349 (equivalente a 275 km, em 60 Hz), a impedância caracterı́stica é
multiplicada por um fator de 1.31 e a potência caracterı́stica por um fator de 0.76.
No caso de linhas de algumas centenas de quilômetros, a compensação reativa é usada para
reduzir o comprimento elétrico para valores muito menores do que um quarto de comprimento
de onda ( π2 , equivalente a 1250 km a 60 Hz), e para adaptar a potência caracterı́stica. Já para
linhas muito longas (2000 a 3000 km), a compensação reativa, com o objetivo de reduzir o
comprimento, pode representar elevados custos para transmissão de energia se o objetivo for
reduzir para valores muito menores do que um quarto de comprimento de onda.
A linha de meio comprimento de onda não é um conceito novo. Alguns estudos analisaram
o emprego deste tipo de linha em sistemas de potência [2], [3] e [4]. Em 1965, foi publicado um
estudo econômico comparativo [5] onde é mostrado que para comprimentos acima de 1450 km,
a transformação da linha em uma linha de meio comprimento de onda é mais econômica do que
se tentar reduzir seu comprimento para valores muito inferiores a um quarto de comprimento
de onda.
Deve ser ressaltado que esses estudos consideram a linha com comprimento elétrico exata-
mente igual ao meio comprimento de onda, diferente da proposta de Portela e Gomes Jr. em [6],
onde é proposto a operação da linha ligeiramente superior ao meio comprimento de onda, pois
o meio comprimento de onda trata-se de uma singularidade, o que torna a operação neste ponto
muito instável. A linha nessa região não necessita de quase nenhuma compensação reativa para
operar, ou quando necessita é apenas uma pequena parcela para ajustar o comprimento elétrico
da linha.
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Um outro ponto interessante da linha muito longa é sua sensibilidade quanto à com-
pensação reativa longitudinal (série), isto é verificado analisando a elasticidade da potência
transmitida em relação ao ı́ndice de compensação série ξs .
Como visto, o fluxo de potência para uma linha ideal é dado por (??). Substituindo (4),
(3) e (5) em (??), obtém-se:
s
P ξd sin (δ)
= √ . (7)
Pc0 ξs sin ξs ξd Θ0

E, derivando (7) em relação a ξs , tem-se:


   
∂ P 1 P 1 1p p
= − − ξs ξd Θ cot ξs ξd Θ . (8)
∂ξs Pc0 ξs Pc0 2 2

A elasticidade da potência transmitida em relação ao ı́ndice de compensação série é defi-


nida como sendo:
   
P P
E Pc0 ξs ∂ Pc0 1 1p p 
=  =− − ξs ξd Θ cot ξs ξd Θ . (9)
Eξs P ∂ξs 2 2
Pc0

A Figura 2 mostra a variação da elasticidade da potência transmitida de acordo com o


comprimento elétrico da linha. Pode-se notar que, na região de operação das linhas curtas, o
valor da elasticidade é em torno de −1, o que significa que cada 1% de compensação série causa
um aumento de aproximadamente 1% na potência transmitida. Para a região compreendida
entre 1.05 π ≤ Θ ≤ 1.10 π (189◦ ≤ Θ ≤ 198◦ ), a elasticidade varia desde −10.91 a −5.81, respec-
tivamente, significando que o aumento da potência transmitida pode chegar a aproximadamente
11% para cada 1% de compensação em série. Isto que dizer que o efeito da compensação em
série pode chegar a ser 11 vezes maior em linhas muito longas do que em linhas curtas, o que
representa um menor custo para compensação desse tipo de linha. Comportamento similar da
elasticidade pode ser observado em relação à compensação em derivação.
15

10

1.05 Π
5
EPEΞs Hp.u.L

1.10 Π
-1.0
0
-5.81
-5
-10.91
-10

-15 Π Π Π
0 2Π 5Π Π 7Π 4Π 3Π

Comprimento elétrico equivalente, Q, Hrad L


6 3 2 3 6 6 3 2

Figura 2: Elasticidade da potência transmitida vs. comprimento elétrico, Θ.


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Departamento de Engenharia Elétrica
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Professor: Robson Dias

Referências
[1] E. H. Watanabe, M. Aredes, and C. Portela, Energy and Environment – Technologial Chal-
lenges for the Future. Tokyo, Japan: Springer-Verlag, 2001, ch. Electric Energy and Envi-
ronment: Some Technological Challenges in Brazil, pp. 10–40.

[2] F. S. Prabhakara, K. Parthasarathy, and H. N. R. Rao, “Analysis of natural half-wave-length


power transmission lines,” vol. PAS-88, no. 12, pp. 1787 – 1794, 1969.

[3] ——, “Performance of tuned half-wave-length power transmission lines,” vol. PAS-88, no. 12,
pp. 1795 – 1802, 1969.

[4] F. Iliceto and E. Cinieri, “Analysis of half-wave length transmission lines with simulation
of corona losses,” IEEE Transactions on Power Delivery, vol. 3, no. 4, pp. 2081 – 2091,
1988. [Online]. Available: http://dx.doi.org/10.1109/61.194020

[5] J. F. Hubert and M. R. Center, “Half-wavelenght power transmission lines,” IEEE - Spec-
trum, pp. 87 – 92, Jan 1965.

[6] C. M. Portela and S. Gomes Jr., “Analysis and optimization of non-conventional trans-
mission trunks considering new technological possibilities,” VI SEPOPE – Symposium of
Specialists in Electrical Operational and Expansion Planning, 1998.

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