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A construção da realeza de Afonso Henriques foi um longo processo, pautado por alguns

momentos particularmente significativos, tais como a Batalha de Ourique, o Tratado de


Zamora e a Bula Manifestis Probatum.

Partindo da frase, explique o processo de afirmação de Portugal como reino e de Afonso


Henriques como rei, centrando-se no período entre o início do governo do condado, em
1128 e a sua morte em 1185.

➢ De 1128 a 1139

Como se sabe, da Batalha de São Mamede, em 1128, resultou a substituição dos detentores do
poder político portucalense, tendo-se conjugado as forças sociais no sentido de proporcionar
esta alteração. Como sabemos também, a vitória nesta balha, que opôs as tropas de Afonso
Henriques às de Fernão Peres, culminou numa vitória, não exclusivamente do infante mas dos
barões portucalenses, que rejeitavam a autoridade dos Trava e esvcolheram Afonso
Henriques para seu chefe. Contudo, não podemos deixar de encarar o caráter simbólico
presente neste dia, que parecia premonitório no sentido de um nascimento de um novo reino,
destinado a ter um lugar preponderante na Cristandade.

Assim, podemos constatar que, deste ano de 1128 até 1139, Afonso Henriques começa a
tomar consciência da sua crescente autoridade, e utiliza o título de principe ou infante nos
documentos, não esquecendo e lembrando sempre aos outros a sua escendencia régia: era, de
fato, neto de imperador e, como tal, reivindicava o direito de eventualmente suceder a Afonso
VI nalgum dos estados governado por seu avô, além de, uma dignidade superior aos seus
pares, porém, continuando a professar vassalagem ao seu primo, Afonso VII (embora saibamos
também das suas tentativas de exandir o território e adquirir vassalos, junto às fronteiras
leonesa e aragonesa, como no caso de Límia e Toronho).

Observamos também que Afonso Henriques adota uma política de doações a mosteiros,
igrejas e ordens militares (ainda em 1129 confirma aos templários a doação que a sua mãe
tinha feito anteriormente), sendo que esras mesmas ordens terão uma importância crucial na
“cruzada penínsular”.

Mas o que marca definitivamente a independência de Afonso Henriques é o título de rei.


Embora a maior parte das fontes não expliquem de que forma se deu esta passagem, a
tradição portuguesa fala numa aclamação pelos guerreiros depois da Batalhe de Ourique, em
1139, à boa maneira germanica, o que explicaria pelo menos a ligação “quase mágica” de
Afonso Henriques com o seu escudo. Este, juntamente com a sua espada, seriam testemunhos
eloquentes de que Afonso Henriques devia o título de rei às suas ações guerreiras. Isto
também explicaria a resitência do Papa a considerar Afonso Henriques como rei até 1179, em
que a Bula Papal reconheceu o reinado de Afonso Henriques como fato consumado. Foi assim
que, a partir do ano de 1139, Portugal passara a ser um reino independente, não tardando a
ser reconhecido como tal pelos imperador (relembre-se que em 1135 Afonso VI tinha sido
reconhecido como Imperador, tendo os outros reis penínsulares prestado vassalagem ao
primo de Afonso Henriques) e logo a seguir pelos outros reis da península.

➢ De 1139 a 1190

Se as batalhas lhe permitiram a utilização do título de rei, foram também estas que
consolidaram a sua autoridade e lhe permitiram transmitir o título e independencia ao seu
filho Sancho. Foi ainda a guerra que lhe assegurou um território verdadeiramente amplo para
deixar de ser um condado e assumir definitivamente o caráter de reino. De fato, uma das
primeiras atitudes que nos mostram o caráter estratega de Afonso Henriques foi a sua ida para
Coimbra. Consequentemente, observamos o rei procurou estabelecer uma série de iniciativas
contra o inimigo mouro como o estabelecimento do Castelo de Leiria, construído em 1135,
seguido da ocupação de terras (presúria de “Fernão Cativo) e fossados. Deste modo,
assegurava a defesa de Coimbra através de uma série de operações coerentes e perfeitamente
articuladas, permitindo aos seus habitantes cultivarem os seus alimentos nas terras do termo
em segurança, abastecendo a cidade. Claro que os portugueses não faziam ações apenas com
caráter de proteção mas íam intensificando as operações de pilhagem num intensificar da
guerra entre cristãos e muçulmanos, de tal forma que deste ambiente resultou uma batalha
que iria ecoar na história de Portugal durante centenas de anos: a Batalha de Ourique,
ocorrida em 1139.

De fato, a importancia desta batalha não deixou de crescer, passando inclusivamente a


conferir-lhe um caráter simbólico, pretendendo-se liga-la à nacionalidade por se associar à
aclamação de Afonso Henriques como rei. O que terá acontecido na realidade terá resultado
de um fossado, em que Afonso Henriques, atacado por um exército considerável, terá
conseguido a vitória, a sua primeira grande vitória contra os mouros, o que foi encarado como
uma intervenção divina que teria vindo sublimar a atuação do nosso primeiro monarca,
conferindo-lhe um caráter de missão divina e aos portugueses de povo escolhido por Deus
com a missão de eliminar o Islão. Claro que, mesmo após esta vitória, as conflitualidades não
esmoreceram, tendo mesmo aumentado.

Após a Batalha de Ourique, apesar de Afonso Henriques continuar como vassalo de Afonso VI,
gozava de uma verdadeira autonomia interna que procurava legitiamar junto do poder papal.
Assim, coloca-se sob a dependencia direta do papa, como cavaleiro de S.Pedro, obrigando-se a
contribuir monetáriamente para a Santa Sé sob a condição de o papa defender a sua honra e a
dignidade da sua terra e afirmando não reconhecer nenhum outro poder a não ser o do Papa.
Assim, Afonso Henriques prestava vassalagem diretamente ao Papa, para se libertar da
sujeição a Afonso VII ao mesmo tempo que ia de encontro às necessidades do Papa que
precisava de auxílio monetário e apoio moral ao pontífice.

Sabe-se também que em 1143 ocorre o Tratado de Zamora que, não terá sido mais do que
uma reunião, promovida pelo delegado papal, o cardeal Guido de Vico) no sentido de
apaziguar as divergencias entre os dois primos. No entanto, a partir desta altura, era
incontestável que estavamos perante um reino independente e um rei independente, ainda
que certamente sob a grande influencia de D.João Peculiar, um dos fundadores de Santa Cruz
de Coimbra e incansável lutador pela causa de Afonso Henriques.

Nos anos seguintes, Afonso Henriques empreende uma série de incursões em território
muçulmano e, aproveitando o enfraquecimento do imperio almorávida, consegue conquistar
cidades de grande importancia como Santarem e Lisboa, marcando a fronteira na linha do Tejo
que teria fortes consequencias para o jovem reino de Portugal como a manutençao do
equilibrio demográfico e a ampliaçao do espaço dominado pela economia urbana e monetária,
sendo hoje visto como um elemento decisivo para a viabilidade da independencia e para o
desenvolvimento económico de Portugal.

Claro que, neste sentido, observa-se a necessidade de uma reorganização municipal através
da concessão de forais a municipios, criando uma manha concelhia que homogenaria o reino
que foi acompanhada pela criação de orgãos de administração central do mesmo.

Assim, após a morte de Afonso VII, a independencia de portugal estava já consolidada mas só
em 1179, o Papa Alexandre III reconhece a Afonso Henriques o titulo de rei com a Bula
Manifestis Probatum , curiosamente tres meses depois de este ter ditado o seu testamento.

Entretanto o rei já teria sofrido o desastre de Badajoz e também já teria associado ao seu
governo o infante Sancho que começa a tomar a liderança militar, na ausencia forçada de seu
pai, sendo que os assuntos politoco-administrativos estavam ainda sob a alçada de Afonso
Henriques.

À sua morte em 1185, Portugal afirmava-se portanto como um reino reconhecido tanto na
península como além fronteiras, segundo uma monarquia feudal em que se confundiam os
direitos públicos e privados e em que o rei dispunha de tudo como propriedade própria. Nesta
mesma linha, os senhores de terras governavam os seus senhorios à maneira feudal e os
concelhos de homens livres organizavam-se politicamente em torno da figura dos juizes dos
concelhos. Destacavam-se tres cargos principais na administração: o mordomo-mor, o alferes-
mor e o chanceler-mor e o tribunal, convocado pela corte, existia apenas para julgar casos de
crime entre nobres e senhores.

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