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Morfologia, fisiologia e genética de procariotos

1. Introdução à microbiologia

1.1 Microrganismos como células


Célula:
- Unidade fundamental da vida.
- Contém variedade de compostos químicos e estruturas subcelulares.
- A membrana forma um compartimento necessário à manutenção das proporções
corretas de constituintes internos da célula e que a protege contra forças externas.
- Estrutura aberta e dinâmica.
- Macromoléculas: proteínas, ácidos nucléicos, lipídeos, de polissacarídeos – 95% do
peso seco de uma célula.
- Genoma e ribossomos são os responsáveis pelo crescimento e pela função celular.
- Maioria das células microbianas tem parece celular: confere rigidez estrutural e impede
o rompimento osmótico.
- Possuem função de usina – realizam transformações químicas com catalisadores
(enzimas) -, e de codificadora – armazenamento e processamento (transcrição e
tradução) do DNA, o qual é transmitido para as células descendentes (replicação).

Sistemas vivos:
1. Compartimentalização e metabolismo: as células captam os nutrientes a partir do
meio ambiente, realizam sua transformação e eliminam os produtos de excreção no
meio. Portanto, a célula é um sistema aberto.
2. Reprodução (crescimento): os compostos químicos captados do meio ambiente são
transformados em novas células sob o controle genético das células preexistentes.
3. Diferenciação: algumas células podem formar novas estruturas celulares, como um
esporo, normalmente como parte de um ciclo de vida celular.
4. Comunicação: as células comunicam-se ou interagem por meio de compostos
químicos que são liberados ou captados.
5. Movimentação: algumas células são capazes de realizar a autopropulsão.
6. Evolução: as células contem genes e evoluem de forma a apresentar novas
propriedades biológicas. As árvores filogenéticas revelam as relações evolutivas entre
as células.

1.2 Microrganismos e seus ambientes naturais

As células microbianas vivem associadas a outras células, formando populações.


Essas são grupos de células derivadas de uma única célula parental por sucessivas

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divisões celulares. O ambiente onde uma população microbiana vive é denominado
hábitat. As populações celulares vivem e interagem com outras populações, em
organizações denominadas comunidades microbianas. A diversidade e abundância de
microrganismos em uma comunidade são controladas pelos recursos (nutrientes) e
pelas condições (temperatura, pH, teor de oxigênio e assim por diante) existentes no
ambiente. As comunidades, juntamente com os constituintes físicos e químicos de seu
meio, formam ecossistemas, fortemente influenciados e controlados pelas atividades
microbianas.

1.3 A antiguidade e a extensão da vida microbiana

Todas as células são construídas de forma similar, sendo provável que tenham
descendido de uma célula ancestral comum, o ancestral universal de toda a vida. As
primeiras entidades autorreplicantes podem ter sido pequenas moléculas de RNA,
porém, ao final, a evolução selecionou a célula como a melhor solução estrutural para
sustentar as características fundamentais da vida. Uma vez que as primeiras células se
originaram a partir de matérias inanimadas, seu crescimento e sua divisão subsequentes
formaram populações de células, e estas começaram a interagir na forma de
comunidades microbianas.
Atmosfera anóxica (rica em CO2, N2 e alguns gases) => microrganismos
anaeróbios => células metanogênicas => evolução de organismos fototróficos, como
bactérias púrpuras (armazenam energia a partir da luz solar) => cianobactérias =>
processo longo e lento de oxigenação => evolução de formas de vida multicelulares.

1.4 Elementos da estrutura e organização celular

- Membrana plasmática: barreira permeável, que separa o conteúdo interno


(citoplasma) do meio externo. No citoplasma estão dissolvidos importantes
componentes, como macromoléculas e pequenas moléculas orgânicas e íons
inorgânicos.
- Ribossomo: sintetizam proteínas, interagindo com proteínas citoplasmáticas e RNAs
mensageiros e de transferência no processo de tradução.
- Parede celular: confere rigidez estrutural, sendo relativamente permeável e externa à
membrana.
As células procarióticas exibem uma estrutura interna mais simples que a de
eucariotos, desprovida de organelas envoltas por membrana. Estes acoplam a
transcrição e a tradução diretamente no citoplasma, pois seu DNA não se encontra no
interior de um núcleo. Além disso, a maioria dos procariotos utiliza sua membrana
citoplasmática para realizar reações de conservação de energia e apresentam genomas
pequenos e compactos, consistindo em DNA circular.
Em células procarióticas, o DNA está presente na forma de uma grande molécula
de fita dupla, denominada cromossomo. Este se condensa no interior da célula,

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formando uma massa denominada nucleoide (covalentemente fechado e circular na
maioria dos procariotos). A maioria dos procariotos possui apenas um único
cromossomo, por essa razão, eles normalmente contêm somente uma única cópia de
cada gene, sendo, portanto, geneticamente haplóides. Vários procariotos também
apresentam pequenas quantidades de DNA circular extracromossomal, denominados
plasmídeos – estes normalmente contêm propriedades especiais às células (tais como
capacidades metabólicas únicas). Eles diferem dos genes essenciais (housekeeping), os
quais são necessários às funções básicas de sobrevivência e estão localizados no
cromossomo.

2. Grupos microbianos - caracterização e classificação dos microrganismos

2.1 Os três domínios da vida

As macromoléculas que formam o ribossomo, particularmente RNAs ribossomais


(rRNA), correspondem a excelentes ferramentas para a determinação das relações
evolutivas, pelo fato de todas as células conterem ribossomos. A partir da análise
comparativa de sequências de rRNA, três domínios distintos, denominados Bacteria,
Archaea (ambos procariotos) e Eukarya. Acredita-se que os domínios divergiram a partir
de um organismo ancestral comum ou de uma comunidade de organismos, no início da
história da vida na Terra.
A árvore revela que: todos os procariotos não exibem estreita relação
filogenética e as Archaea estão mais estreitamente relacionadas a Eukarya do que a
Bacteria.

 Eukarya: os microrganismos eucariotos foram os ancestrais dos organismos


multicelulares; as células eucarióticas contêm genes oriundos de células de dois
domínios – além do genoma presente nos cromossomos nucleares, as mitocôndrias e os
cloroplastos contêm seus próprios genomas (DNA organizado de forma circular, como
nos procariotos) e ribossomos – o que indica que mitocôndrias e cloroplastos foram
anteriormente células bacterianas de vida livre, que adotaram uma existência
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intracelular em células de Eukarya em épocas passadas, processo conhecido por
endossimbiose.

2.2 Diversidade fisiológica dos microrganismos

ENERGIA
1. Quimiorganotróficos: obtêm energia a partir de compostos químicos
orgânicos. A energia é obtida a partir da oxidação do composto, sendo armazenada na
célula na forma do composto rico em energia adenosina trifosfato (ATP). Alguns
microrganismos podem obter energia a partir de compostos orgânicos somente na
presença de oxigênio, sendo denominados organismos aeróbios; outros extraem a
energia somente na ausência de oxigênio, sendo os anaeróbios.
2. Quimiolitotróficos: são capazes de utilizar a energia presente em compostos
inorgânicos. A quimiolitotrofia é um processo encontrado apenas em procariotos, sendo
amplamente distribuído entre as espécies de Bacteria e Archaea. Corresponde a boa
estratégia metabólica, visto que não tem competição com os quimiorganotróficos, e que
os compostos oxidados correspondem a produtos de excreção dos outros.
3. Fototróficos: os microrganismos fototróficos contêm pigmentos que os
permitem utilizar a luz como uma fonte de energia, portanto, suas células são coloridas.
Estes não necessitam de compostos químicos como uma fonte de energia; estes
sintetizam ATP as custas da energia solar. Tal propriedade é uma significativa vantagem
metabólica, uma vez que não há qualquer tipo de competição. Duas formas principais
de fototrofia são conhecidas em procariotos. Em uma forma, denominada fotossíntese
oxigênica, há produção de oxigênio (cianobactérias, algas e seus parentes filogenéticos).
A outa forma, a fotossíntese anoxigênica, é realizada por bactérias púrpuras e verdes e
não resulta na produção de O2. No entanto, ambos os grupos utilizam a luz para produzir
ATP.

FONTE DE CARBONO

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Heterotróficos e autotróficos: as células microbianas podem ser heterotróficas,
quando requerem um ou mais compostos orgânicos como sua fonte de carbono, ou
autotróficas, as quais utilizam CO2 como fonte de carbono. Por definição, os organismos
quimiorganotróficos são heterotróficos. Ao contrário, a maioria dos quimiolitotróficos
e, virtualmente, todos os fototróficos são autotróficos.

 Organismos extremófilos: abundantes em ambientes inóspitos, como fontes


hidrotermais ferventes, sobre ou no interior de lagos congelados, geleiras ou mares
polares, em corpos d’água extremamente salgados, e em solos e águas exibindo pH tão
baixo quanto 0, ou tão alto quanto 12. Não somente toleram como, na realidade,
requerem essas condições para crescimento.

2.3 Bacteria

Compreende uma enorme variedade de procariotos, onde todos os causadores


de doenças são incluídos, assim como milhares de espécies não patogênicas.

Proteobacteria, bactérias Gram-positivas e cianobactérias


As Proteobacteria constituem a maior divisão de Bacteria, incluindo bactérias
quimiorganotróficas (Escherichia coli), fototróficas e quimiolitotróficas. Muitos desses
organismos utilizam o H2S em seu metabolismo, produzindo enxofre elementar, o qual
é armazenado no interior ou fora da célula. O sulfeto e o enxofre são oxidados para
propiciar importantes funções metabólicas, como a fixação de CO2 (autotrofia) ou
geração de energia. Foi a partir de Proteobacteria que a mitocôndria surgiu por
endossimbiose.
As bactérias podem ser diferenciadas pelo método de coloração de Gram. O filo
Gram-positivo compreende vários organismos que são reunidos em virtude de sua
filogenia e estrutura da parede celular comuns. Gram-positivas: Bacillus, Clostridium,
Streptomyces, Streptococcus, Mycoplasma.
Ex: Pseudomonas (degradam compostos orgânicos); Azotobacter (fixação de
nitrogênio); Salmonella; Rickettsia; Neisseria e etc.
As cianobactérias correspondem a um grupo filogeneticamente associado às
bactérias Gram-positivas, sendo organismos fototróficos oxigênicos. As cianobactérias
foram os primeiros organismos fototróficos oxigênicos a surgir na Terra. A produção de
O2 na Terra originalmente anóxica abriu caminho para a evolução de procariotos
capazes de respirar oxigênio.

2.4 Archaea

A maioria das Archaea cultivadas são extremófilas, com espécies capazes de


crescer nas maiores temperaturas, salinidades, em extremos de pH, quando
comparadas a todos microrganismos conhecidos.

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Embora todas as Archaea sejam quimiotróficas, Halobacterium pode utilizar a luz
para sintetizar ATP, mas de uma forma bastante distinta dos organismos fototróficos.

Euryarchaeota
Contém três grupos de organismos com fisiologia distintas: metanogênicos,
halófilos extremos e os termoacidófilos. Os metanogênicos são anaeróbios estritos, e
seu metabolismo é único, visto que a energia é obtida durante a produção de metano
(gás natural). Os halófilos extremos normalmente requerem oxigênio, e são agrupados
pela necessidade de grandes quantidades de NaCl para seu metabolismo e reprodução.
Já alguns termoacidófilos, como Thermoplasma, apresenta membrana citoplasmática,
sendo desprovido de parede celular, exibindo maior crescimento em temperaturas
moderadamente elevadas e baixo pH.

Crenarchaeota
A grande maioria dos cultivados é hipertermófila. Estes organismos são
quimiolitotróficos ou quimiorganotróficos, e desenvolvem-se em ambientes de alta
temperatura, como fontes termais e fendas hidrotermais.

3. Estrutura e função celular

3.1 Forma e tamanho celular


1. Coco: forma esférica.
2. Bacilo: forma cilíndrica.
3. Espirilos: “bacilos torcidos”, assumindo formas espiraladas.
4. Espiroquetas: intensamente espiraladas.

As células de várias espécies procarióticas permanecem unidas em grupos ou


conjuntos após a divisão celular e, frequentemente, os arranjos são característicos de
determinados gêneros. É sugerida a existência de várias forças seletivas que definem a
morfologia de uma determinada espécie – como a otimização da captação de nutrientes
(células pequenas e aquelas com elevadas proporções entre superfície e volume),
mobilidade natatória em ambientes viscosos ou próximos a superfícies (bactérias
filamentosas), e assim por diante.

3.2 A membrana citoplasmática e o transporte


A estrutura geral das membranas biológicas corresponde a uma bicamada
fosfolipídica, contendo componentes hidrofóbicos (ácidos graxos) e hidrofílicos
(glicerol-fosfato), aonde os ácidos graxos direcionam-se para o interior, voltados uns
para os outros, e as porções hidrofílicas permanecem expostas ao ambiente externo e
ao citoplasma. A estrutura global é estabilizada por ligações de hidrogênio e interações

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hidrofóbicas, sendo que cálcio e magnésio auxiliam na estabilização, visto que formam
ligações iônicas com as cargas negativas dos fosfolipídeos.

As principais proteínas de membrana apresentam superfícies hidrofóbicas nas


regiões que atravessam a membrana e superfícies hidrofílicas nas regoes que
estabelecem contato com o ambiente e com o citoplasma. A superfície externa da
membrana interage com uma variedade de proteínas de ligação a substratos ou
proteínas que processam grandes moléculas, transportando-as para o interior da célula
(periplasmáticas). A face interna interage com proteínas envolvidas em reações de
produção de energia e outras funções. As proteínas que são embebidas na membrana
são chamadas integrais de membrana, e as que exibem apenas uma porção ancorada
são chamadas de periféricas (associam-se a superfície).
Os eucariotos apresentam esteróis em suas membranas, os quais são ausentes
em procariotos. No entanto, estes apresentam moléculas similares, denominadas
hopanóides, que possuem papel similar – resistência e estabilidade.

 Os lipídeos da membrana de Archaea se diferem, visto que, os ácidos graxos de


Bacteria e Eukarya são unidos ao glicerol por ligações éster, enquanto que os de Archaea
apresentam ligações éter entre o glicerol e suas cadeias laterais. Além disso, os lipídeos
de Archaea são desprovidos de ácido graxo, porém suas cadeias laterais são compostas
por unidades repetitivas do hidrocarboneto de 5 carbonos – isopreno (formam uma
monocamada), se são amplamente distribuídas entre Archaea hipertermófilas.

FUNÇÕES: barreira de permeabilidade, impedindo o extravasamento passivo de


substâncias; sítio de ancoragem para proteínas; sítio celular de conservação de energia
(carregada – força próton motiva).

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Embora algumas moléculas hidrofóbicas possam atravessar a membrana por
difusão, moléculas polares e carregadas não são capazes de atravessá-la, requerendo
transportadores. A água é capaz de penetrar livremente, visto que é suficientemente
pequena para passar entre os fosfolipídeos. Além disso, existem as proteínas
transportadoras chamadas aquaporinas. As proteínas transportadoras realizam mais
que o transporte de substancias, elas acumulam solutos contra um gradiente de
concentração. O sistema de transporte mediado por carreadores exibe várias
propriedades: efeito de saturação; alta especificidade; biossíntese de proteínas
transportadoras é regulada pela célula.

TRANSPORTE:

1. Simples: consiste em uma única proteína transportadora transmembrânica, sendo


promovido pela energia da força próton-motiva. Ex: Transporte de lactose em E. coli.
2. Translocação de grupo (sistema fosfotransferase): forma de transporte no qual a
substância transportada é quimicamente modificada durante sua captação através da
membrana. Ocorre diversas reações de fosforilação e desfosforilação em uma cascata
até que o real transportador (enzima IIc) fosforila o açúcar durante o transporte. A
proteína HPr, a enzima que a fosforila I, e a IIa, são proteínas citoplasmáticas, enquanto
a enzima IIb localiza-se na face interna da membrana, e a IIc é uma proteína integral de

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membrana. A energia é oriunda do fosfoenolpiruvato, e o sistema, de uma certa forma,
prepara a glicose para sua entrada imediata nessa principal via metabólica.

3. Sistema ABC: consiste em três componentes – uma proteína de ligação ao substrato,


um transportador integrado à membrana e uma proteína que hidrolisa ATP. Se
relacionam a proteínas periplasmáticas de Gram-negativas, as quais possuem afinidade
pelo substrato.

Todos os sistemas requerem alguma forma de energia, quer a partir da força


próton motiva (1), quer em forma de ATP (3). Os transportadores do tipo
fosfotransferases utilizam energia a partir do fosfoenolpiruvato. O transporte ainda
pode ser classificado dentro de 3 eventos: uniporte, simporte e antiporte.
Uniportadores são proteínas que transportam uma molécula de maneira unidirecional
pela membrana. Simportadores são proteínas que atuam como cotransportadores (uma
molécula em conjunto com uma substancia, normalmente um próton). Antiportadores
são proteínas que transportam uma molécula pela membrana, transportando
simultaneamente uma segunda molécula na direção oposta.

3.3 Paredes celulares

Funções – rigidez e resistência para suportar pressões, tais como as provocadas pelo
transporte, e evitar a lise celular.

As paredes celulares apresentam uma camada rígida, denominada


peptideoglicano. Tal molécula é um polissacarídeo composto por dois derivados de
açúcares – N-acetilglicosamina e ácido N-acetilmurâmico – além de alguns aminoácidos,
incluindo L-alanina, D-alanina, ácido D-glutâmico e lisina ou ácido diaminopidélico
(DAP). Tais componentes se associam, formando uma estrutura repetitiva, o
tetrapeptídeo glicano. As cadeias longas de peptideoglicano são biossintetizadas
adjacentes entre si, formando uma folha circundando a célula, de forma que são
interligadas por ligações cruzadas entre os aminoácidos. As ligações glicosídicas que
unem os açúcares das fitas de glicano são covalentes, porém essas conferem rigidez a
estrutura apenas em uma direção. Somente após as ligações cruzadas que o
peptideoglicano mostra-se rígido. Em bactérias Gram-negativas, a ligação cruzada do
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peptideoglicano ocorre pela formação de uma ligação peptídica entre o DAP de uma
cadeia de glicano e a D-alanina da cadeia adjacente. Em Gram-positivas, a ligação ocorre
por meio de uma ponte interpeptídica.
O peptideoglicano é encontrado apenas em Bacteria – o ácido N-acetilmurâmico
e o DAP nunca foram vistos em Archaea. Entretanto, nem todas as bactérias apresentam
DAP, sendo que este é encontrado em todas as Gram-negativas e em algumas Gram-
positivas; porém, a maioria dos cocos Gram-positivos apresentam lisina ao invés do DAP.

3.3.1 A parede Gram-positiva

- Cerca de 90% da parece corresponde a peptideoglicano;


- Embora algumas apresentem somente uma única camada, várias apresentam várias
camadas sobrepostas (até 25);
- Muitas apresentam substâncias ácidas, os ácidos teicoicos, embebidas na parede.
Referem-se a todos os polímeros de parede e membrana que contêm resíduos de
glicerol-fosfato ou ribitol fosfato. São conectados por ésteres fosfato e geralmente
apresentam outros açúcares e D-alanina associados. São ligados a resíduos de ácido
murâmico na parede, e por serem carregados negativamente, são parcialmente
responsáveis pela carga negativa da superfície celular. Quando ligados a lipídeos de
membrana, são denominados lipoteicoicos.

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LISOZIMA E PROTOBLASTOS
A lisozima é a enzima que cliva as ligações glicosídicas β (1-4) entre a N-
acetilglicosamina e o ácido N-acetilmurâmico do peptideoglicano, enfraquecendo a
parede. Em seguida ocorre a entrada de água na célula, que sofre um intumescimento,
podendo romper-se.
O protoblasto (bactéria que perdeu sua parede) é formado quando um soluto
incapaz de penetrar na célula, como a sacarose, é adicionado a uma suspensão contendo
lisozima de forma a equilibrar as concentrações interna e externa, e então a água não
penetra na célula e não ocorre lise, porém a lisozima digere o peptideoglicano,
removendo assim a parede celular. Embora a maioria dos procariotos seja incapaz de
sobreviver na natureza sem suas paredes, vários exibem essa capacidade – são os
micoplasmas, um grupo de bactérias patogênicas, e as Thermoplasma (Archaea).

3.3.2 Membrana externa de Bacteria Gram-negativas

- 10% da parede celular total consistem em peptideoglicano;


- A maior parte da parede é composta pela membrana externa – segunda bicamada
lipídica, porém não é composta somente por fosfolipídeos e proteínas, contendo
também polissacarídeos. O lipídeo e o polissacarídeo estão ligados na membrana
externa, formando um complexo – lipopolissacarídeo ou LPS.

LPS: a porção polissacarídica do LPS consiste em dois componentes, o polissacarídeo


cerne (cetodesoxioctonato (CDO), heptoses, glicose, galactose e N-acetilglicosamina) e
o polissacarídeo O (galactose, glicose, ramnose e manose e açúcares pouco usuais). A
porção lipídica é denominada lipídeo A, apresentando ácidos graxos unidos por meio de
grupos amino de um dissacarídeo composto por glicosamina fosfato. Este liga-se ao
cerne por meio do CDO. A lipoproteína atua como uma ancora entre a membrana
externa e o peptideoglicano, portanto, embora a membrana externa seja considerada
uma bicamada lipídica, sua estrutura é diferente daquela da membrana citoplasmática,
especialmente na metade externa em contato com o meio ambiente.

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Embora a principal função da membrana externa seja estrutural, uma
importante propriedade consiste em ser tóxica aos animais, como por exemplo,
Salmonella, Shigella e Escherichia. As propriedades tóxicas são associadas a camada LPS,
particularmente ao lipídeo A.
Contrariamente à membrana citoplasmática, a membrana externa é
relativamente permeável a moléculas pequenas, devido a presença de porinas, que
atuam como canais, permitindo a entrada e saída de substâncias hidrofílicas de baixa
massa molecular. Porém, ainda assim, não é permeável a enzimas ou outras moléculas
grandes. De fato, umas das funções da membrana externa consiste em impedir a difusão
de proteínas localizadas externamente à membrana citoplasmática – região
denominada periplasma. Essa região pode contar classes diferentes de proteínas, como
enzimas hidrolíticas, proteínas de ligação e quimiorreceptores.

3.3.3 Parede celular de Archaea


- Peptideoglicano e membrana externa ausentes;
- Ao invés disso, são encontrados compostos químicos, tais como polissacarídeos,
proteínas e glicoproteínas;
- Pseudomureína: polissacarídeo similar ao peptideoglicano, com esqueleto composto
por repetições de N-acetilglicosamina e ácido N-acetiltalosaminurônico. Também se
distingue pelo fato das ligações serem β (1-3), e os aminoácidos serem todos
estereoisômeros L.
- O tipo mais comum de parede celular corresponde a uma camada superficial
paracristalina, ou camada S, que consiste em proteínas ou glicoproteínas, exibindo um
aspecto ordenado.

3.4 Outras estruturas de superfície celular e inclusões


3.4.1 Cápsulas e camadas limosas
Vários procariotos secretam substâncias limosas ou viscosas em sua superfície
celular, normalmente constituídos de polissacarídeos ou proteínas. Eles não são
considerados parte da parede celular, visto que não conferem resistência estrutural.
Essas camadas são chamadas de cápsula e camada limosa.
As cápsulas e as camadas limosas podem ser espessas ou delgadas, rígidas ou
flexíveis, dependendo da composição química e do grau de hidratação.

Cápsula: composto organizado em matriz compacta, que exclui partículas pequenas;


fortemente ligada à parede celular.
Camada limosa: composto mais facilmente deformável, que não exclui partículas e de
visualização mais difícil; ligado frouxamente à parede celular.

FUNÇÕES: ligação dos microrganismos às superfícies sólidas; penetração de patógenos


no corpo do animal por vias específicas (ligação); ligação a superfícies solidas na
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natureza, podendo formar biofilmes; dificuldade no reconhecimento de patógenos pelo
sistema imune; resistência à dessecação (essas camadas ligam-se a uma quantidade
significativa de água).

3.4.2 Fímbrias e pili


São estruturas filamentosas compostas por proteínas que se projetam a partir da
superfície de uma célula, com diversas funções. As fímbrias conferem a capacidade de
adesão a superfície, incluindo tecidos animais no caso de bactérias patogênicas, ou de
formação de películas (camadas delgadas de células sobre uma superfície liquida) ou
biofilmes em superfícies (ex: Salmonella, Neisseria gonorrhoeae e Bordetella pertussis –
coqueluche). Os pili assemelham-se às fímbrias, porém são estruturas normalmente
mais longas, presentes na superfície celular em uma ou poucas cópias. Os pili podem ser
receptores de vírus e, apesar de serem capazes de ligar-se a superfícies, possuem outras
funções, como facilitar a troca genética entre células pela conjugação.
Ex: pili tipo IV - motilidade pulsante (deslizamento em superfícies sólidas); energia por
hidrólise de ATP; presentes em polos de células bacilares, sendo que são fatores de
colonizações em alguns patógenos de humanos (Vibrio cholerae, Neisseria
gonorrhoeae); acredita-se que atuem como mediadores na transferência genética por
transformação.

3.4.3 Inclusões celulares


Grânulos e outras inclusões são frequentemente presentes em procariotos,
atuando no armazenamento de energia ou como um reservatório de constituintes
estruturais básicos, como carbono. A vantagem do armazenamento em forma insolúvel
é a redução do estresse osmótico que existiria caso a mesma quantidade de substâncias
fosse armazenada em forma solúvel no citoplasma.

- Polímeros de armazenamento de carbono: ácido poli-β-hidroxibutírico (PHB), um


lipídeo agregado em grânulos, que são sintetizados quando há um excesso de carbono
e clivados para uso como esqueletos de carbono para a biossíntese ou produção de ATP.
Também armazena glicogênio (polímero de glicose), que também é um reservatório de
carbono e energia.

3.4.4 Vesículas de gás


Alguns procariotos são planctônicos, ou seja, flutuam na coluna de água de lagos
e oceanos, devido às vesículas de gás. São estruturas fusiformes, preenchidas por gás e
constituídas de proteínas (ocas, porém rígidas), com número variável, e que apresentam
uma membrana proteica impermeável à água e a solutos, porém permeável a gases.
Ex: cianobactérias que formam grandes acúmulos, denominados florescimentos,
em lagos ou outros corpos de água; bactérias fototróficas verdes e púrpuras; bactérias
não fototróficas encontradas em lagos e lagoas. Não são encontradas em eucariotos.

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3.4.5 Endósporos
São células altamente diferenciadas, resistentes ao calor, produtos químicos
fortes e radiação, atuando assim como estruturas de sobrevivência que permitem ao
organismo resistis a situações difíceis, incluindo temperaturas extremas, dessecamento
ou carência nutricional. São também estruturas para dispersão pelo vento, água, ou
através do trato gastrointestinal. As bactérias formadoras de endósporo são
encontradas no solo, sendo Bacillus e Clostridium as mais estudadas.
Durante a formação, uma célula vegetativa é convertida na estrutura resistente
que não exibe crescimento. As células não esporulam quando em crescimento ativo,
mas sim quando o crescimento cessa devido à exaustão de um nutriente essencial. O
processo da conversão em uma célula vegetativa ocorre em 3 etapas: ativação,
germinação e extrusão.
1. Ativação: aquecimento dos endósporos por alguns minutos em temperaturas
elevadas, mas não letais;
2. Germinação: nutrição específica, como aminoácidos (como alanina);
3. Extrusão: intumescimento decorrente da captação de água e síntese de novo RNA,
proteínas e DNA, iniciando seu crescimento.
O esporo apresenta estrutura distinta da célula vegetativa, visto que apresenta:
uma camada proteica, delgada e envoltória (exospório); camadas de proteínas
específicas (capas do esporo); córtex abaixo da capa, que consiste em peptideoglicano
exibindo ligações cruzadas frouxas; e o cerne no interior do córtex, o qual contém a
parede do cerne, membrana citoplasmática, citoplasma, nucleoide, ribossomos e outros
constituintes. Assim, ele difere principalmente em relação às estruturas externas. Uma
substância característica é o ácido dipicolínico (cerne), que, em conjunto com o cálcio,
atua reduzindo a disponibilidade água no interior, auxiliando assim na desidratação,
além de estabilizar o DNA contra a desnaturação térmica.

CERNE: contém somente 10-25% do teor de água da célula vegetativa, e esta


desidratação aumenta a termorresistência das macromoléculas presentes no interior do
esporo. Contém também altas concentrações de pequenas proteínas ácido-solúveis
(PPASs), que são sintetizadas e têm por funções a proteção do DNA contra possíveis
danos causados pela radiação, dessecamento e calor seco (liga-se fortemente ao DNA),
além de atuar como fontes de carbono e energia na extrusão de uma nova célula
vegetativa.

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3.5 Locomoção
3.5.1 Flagelos e motilidade
- Superfícies sólidas e semissólidas;
- Movimento natatório;
- Flagelos são apêndices longos e finos, com uma extremidade livre, podendo ligar-se às
células em diferentes padrões;
- Apresentam filamentos compostos por várias copias da proteína flagelina;
- A base apresenta uma região mais larga, denominada gancho, composto por um único
tipo de proteína e conecta o filamento à porção motora na base;
- Energia através da força próton motiva: movimento de prótons através da membrana
citoplasmática promove a rotação do flagelo.

3.5.2 Motilidade por deslizamento


- Superfícies sólidas;
- Movimento mais lento e suave, geralmente ocorrendo ao longo do eixo maior da
célula;
- Os procariotos deslizantes compreendem células filamentosas ou bacilares, e o
processo requer o contato das células com uma superfície;
- Mecanismos: a partir da secreção de um polissacarídeo limoso, o qual adere à
superfície e puxa gradativamente a célula (cianobactérias); extensão e retração
repetidas do pili tipo IV, o qual impulsiona a célula ao longo da superfície (Myxococcus);

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complexo proteico de adesão é formado em um dos polos, permanecendo em uma
posição fixa na superfície a medida que a célula desliza para frente (direção oposta da
célula) (Myxococcus); movimento das proteínas na superfície celular (Flavobacterium).
- Apresenta relevância ecológica, pois permite que a célula explore novos recursos de
interaja com outras células.

3.5.6 Movimentação celular como resposta comportamental: taxias


microbianas
- Gradientes de agentes físicos ou químicos = RESPOSTAS
- Ausência de gradiente: movimentação aleatória por corridas (célula nada para a frente)
e oscilações (célula para e permanece bamboleando). Durante o movimento para frente
em uma corrida, o motor flagelar gira em sentido anti-horário, e, quando giram em
sentido horário, o feixe de flagelos é separado, a movimentação para frente é
interrompida e a célula passa a oscilar.
- Quimiotaxia: influência de movimentos aleatórios, tais como corridas e oscilações, na
presença de um agente atrativo, e então ocorre a movimentação em direção a
concentrações maiores do agente; se for um agente repelente, o mesmo mecanismo é
acionado, porém, nesse caso, a diminuição da concentração do repelente é responsável
pelas corridas. A célula procariótica, enquanto se movimenta, monitora seu ambiente,
comparando seu estado químico ou físico àquele percebido poucos momentos antes,
ou seja, respondem a diferenças temporais em vez de espaciais, na concentração de um
composto, à medida que se deslocam – influência de uma cascata de proteínas que afeta
a direção de rotação do motor flagelar, e de percepção por quimiorreceptores.
- Fototaxia: tem como vantagem permitir que um organismo fototrófico oriente-se de
madeira mais adequada para receber luz; é análoga a quimiotaxia, porem o agente
atrativo é a luz; possui fotorreceptor, proteína capaz de perceber um gradiente de luz.
- Outras taxias: aerotaxia (oxigênio); hidrotaxia.

4. Nutrição

Crescimento = aumento populacional.


As reações metabólicas, aquelas relacionadas à organização de moléculas em
estruturas específicas, envolvem tanto a liberação de energia, sendo denominadas
reações catabólicas, quanto o consumo de energia, sendo denominadas reações
anabólicas. Além de água, as células consistem principalmente em macromoléculas, e
estas são polímeros compostos por unidades menores, denominadas monômeros. A
nutrição microbiana envolve o fornecimento de monômeros, ou seus precursores, que
são necessários para o crescimento da célula, e são denominados nutrientes. Alguns
nutrientes, chamados macronutrientes, são necessários em grandes quantidades,
enquanto outros, denominados micronutrientes, são requeridos em quantidades traço.
Todos os nutrientes microbianos são originados dos elementos químicos. Embora as

16
células consistam principalmente em H, O, C, N, P e S, pelo menos 50 elementos
químicos são metabolizados de alguma forma por microrganismos.

4.1 Carbono e nitrogênio


Todas as células requerem carbono, e a maioria dos procariotos necessita de
compostos orgânicos como sua fonte de carbono; uma célula normal é composta por
cerca de 50% de carbono. As bactérias são capazes de assimilar compostos orgânicos,
utilizando-os para a síntese de novo material celular. Aminoácidos, açúcares, ácidos
graxos, ácidos orgânicos, bases nitrogenadas, compostos aromáticos e outros podem
ser utilizados por uma ou outra bactéria. Ao contrário, alguns microrganismos são
autótrofos, sendo capazes de sintetizar todas as suas estruturas celulares partir do CO2.
O nitrogênio é o segundo elemento mais abundante, sendo que uma célula é composta
por cerca de 12% de N, um constituinte de proteínas e ácidos nucleicos. A maior parte
do N disponível encontra-se sob a forma de compostos inorgânicos, como amônia,
nitrato ou N2.

4.2 Outros macronutrientes: P, S, K, Mg, Ca, Na


O fósforo é encontrado na natureza sob a forma de fosfatos orgânicos e
inorgânicos, sendo requerido pelas células principalmente para a síntese de ácidos
nucleicos e fosfolipídeos. O enxofre é necessário devido ao seu papel estrutural nos
aminoácidos cisteína e metionina e também por estar presente em uma série de
vitaminas; na natureza, a maior parte do enxofre é originada a partir de fontes
inorgânicas, como sulfato (SO4-2) ou sulfeto (HS-). Várias enzimas, incluindo algumas
envolvidas na síntese proteica, requerem potássio para sua atividade. O magnésio atua
na estabilização de ribossomos, membranas e ácidos nucleicos, sendo também
necessário a atividade de muitas enzimas. O cálcio auxilia na estabilização das paredes
celulares de muitos microrganismos e desempenha papel essencial na
termoestabilidade de endósporos. O sódio é requerido por alguns, mas não por todos,
sendo normalmente um reflexo do habitat.

4.3 Ferro e metais traço


O ferro desempenha um papel na respiração celular, sendo um componente
essencial de citocromos e proteínas que têm ferro e enxofre, envolvidas nas reações de
transporte de elétrons. Em condições anóxicas é encontrado na forma ferrosa Fe2+,
sendo solúvel, e em condições óxicas, na forma férrica Fe3+, geralmente na forma de
minerais insolúveis. Para captar o ferro a partir desses minerais, as células produzem
agentes ligantes de ferros, denominados sideróforos. Algumas bactérias produzem
sideróforos fenólicos, denominados enterobactinas. Muitas bactérias marinhas
produzem sideróforos peptídicos, como a aquaquelina. Alguns organismos são capazes
de crescer na ausência de ferro, sendo que metais como Mn2+ o substitui.
4.4 Fatores de crescimento

17
São compostos orgânicos que compartilham com os metais traço o fato de
serem necessários somente em pequenas quantidades e apenas por alguns organismos.
Incluem vitaminas, aminoácidos, purinas e pirimidinas.

5. Metabolismo e energética

5.1 Catálise e enzimas


Em bioquímica, um catalisador corresponde a uma substância que diminui a
energia de ativação de uma reação, aumentando assim sua velocidade. Esses
catalisadores facilitam as reações, não sendo consumidos ou transformados por elas. As
enzimas, os catalisadores, são proteínas - em alguns casos RNAs - altamente especificas
que, ao ligar ao seu substrato, forma um complexo e, ao liberar seu produto, volta a seu
estado original. Geralmente as ligações são fracas, como ligações de hidrogênio, forças
de van der Waals e interações hidrofóbicas. A energia de ativação representa a
quantidade de energia necessária para conduzir todas as moléculas de uma reação
química a um estado reativo.

5.2 Oxidação-redução e compostos ricos em energia


A energia é conservada nas células a partir das reações de oxidação-redução, a
partir de compostos ricos em energia, como o ATP. Uma oxidação corresponde à
remoção de um ou mais elétrons de uma substância, e a redução corresponde à adição
de um ou mais elétrons a uma substância.
As reações ocorrem aos pares, por exemplo, o H2 pode liberar elétrons e
prótons, tornando-se oxidado (H2 2e- + 2H+). Entretanto, os elétrons não podem
ficar livres, e a reação citada é então chamada de meia reação, visto que para qualquer
substância ser oxidada, outra deve ser reduzida.
Substância oxidada: doador de elétrons.

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Substância reduzida: aceptor de elétrons.

5.3 NAD como um carreador de elétrons redox


Em células microbianas, as reações redox normalmente envolvem reações entre
um ou mais intermediários, denominados carreadores, os quais podem se difundir
livremente (coenzimas) e aqueles firmemente ligados às enzimas, na membrana
citoplasmática (grupos prostéticos). Os carreadores mais comuns que se difundem
incluem as coenzimas nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD +) e NAD-fosfato
(NADP+). Ambos são carreadores de elétrons mais prótons, transferindo 2 de cada,
simultaneamente.

Ciclo NAD/NADH: no caso de NAD+/NADH, por exemplo, os elétrons removidos de um


doador podem reduzir NAD+ a NADH, e esse ultimo pode ser novamente convertido em
NAD+ pela doação de elétrons ao aceptor.

5.4 Compostos ricos em energia e armazenamento de energia


A energia liberada das reações redox deve ser conservada pela célula, caso seja
utilizada para dirigir atividades celulares que demandem energia. Nos organismos vivos,
a energia química liberada pelas reações é conservada primariamente na forma de
compostos fosforilados ricos em energia. A energia livre liberada durante a hidrolise do
fosfato presente em compostos ricos em energia é significativamente maior do que
aquela de uma típica ligação covalente.

ATP (adenosina trifosfato)


- O mais importante composto rico em energia presente na célula;
- Principal moeda energética de todas as células;
19
- Energia liberada na hidrólise é de -32KJ.

Coenzima A
- Outro composto de alta energia;
-A energia liberada da sua hidrólise é conservada na síntese de ATP.

5.5 Fundamentos do catabolismo

5.5.1 Conservação de energia


Duas séries de reações estão associadas à conservação de energia em
quimiorganotróficos: fermentação e respiração, nas quais a síntese de ATP está
acoplada à liberação de energia em reações de oxidação-redução (ocorrem de formas
diferentes). Na fermentação, o processo redox ocorre na ausência de aceptores
exógenos de elétrons, enquanto que na respiração, o oxigênio molecular atua como
aceptor.

FOSFORILAÇÃO EM NÍVEL DE SUBSTRATO E FOSFORILAÇÃO OXIDATIVA


Na fermentação, o ATP é produzido por fosforilação em nível de substrato, onde
é sintetizado diretamente a partir de um intermediário rico em energia durante etapas
do catabolismo do composto fermentável. Na respiração, ao contrário, ocorre a
fosforilação oxidativa, na qual o ATP é produzido à custa da força próton-motiva. Um
terceiro mecanismo de síntese de ATP é a fotofosforilação, em organismos fototróficos,
a qual a força próton-motiva também está envolvida.

20
5.5.1.1 A glicólise como um exemplo de fermentação
A substância fermentada em uma fermentação atua tanto como doadora como
receptora de elétrons. Ácidos graxos, por exemplo, são muito reduzidos para serem
fermentáveis, enquanto outros compostos são fermentescíveis.
Uma via comum de fermentação da glicose é a glicólise, ou via de Embden-
Meyerhof. É um processo anaeróbio, e pode ser dividida em três estágios.
1. Reações preparatórias: não são reações redox e não liberam energia, mas levam a
produção de 2 moléculas de um intermediário, o gliceraldeído 3-fosfato. Ocorre a
fosforilação da glicose pelo ATP, originando glicose 6-fosfato, a qual é convertida em
frutose 6-fostato. Uma segunda fosforilação leva a produção de frutose 1,6-
bifosfato. A aldolase cliva a frutose 1,6-bifosfato em moléculas de 3 carbonos –
gliceraldeído 3-fosfato e di-hidroxiacetona fosfato. Nessa etapa as reações incluem
o consumo de ATP e ocorrem sem reações redox.
2. Produção de NAD, ATP e piruvato: oxidação do gliceraldeído 3-fosfato em ácido 1,3-
bifosfoglicérico; redução de NAD+ a NADH (gliceraldeído 3-fosfato desidrogenase.
Simultaneamente, cada molécula de gliceraldeído 3-fosfato é fosforilada pela adição
de uma molécula de Pi. Nessa etapa, 2 moléculas de ATP foram consumidas (estágio
1) e 4 foram sintetizadas.
3. Consumo de NAD e formação dos produtos: durante a formação das duas moléculas
de ácido 1,3-bifosfoglicérico, 2 moléculas de NAD+ são reduzidas a NADH, que é
novamente oxidado a NAD+, e ocorre então, a redução de piruvato a produtos de
fermentação.

21
5.5.1.2 Respiração e carreadores de elétrons associados à membrana
A fermentação ocorre anaerobicamente na ausência de aceptores externos de
elétrons, liberando somente uma quantidade relativamente pequena de energia. Por
outro lado, na presença de O2 ou de outro aceptor terminal de elétrons, a geração de
produtos de fermentação não é necessária e a glicose pode ser totalmente oxidada a
CO2.
Os sistemas de transporte de elétrons estão associados à membrana, e
desempenham duas funções: medeiam a transferência de elétrons do doador primário
ao aceptor terminal; conservam parte da energia liberada no processo, utilizando-a na
síntese de ATP. Ex de carreadores: NADH-desidrogenases, flavoproteinas, citocromos e
quinonas (não proteicas).

5.5.1.3 Respiração e força próton-motiva


A síntese de ATP por fosforilação oxidativa está associada a um estado
energizado da membrana, que é estabelecido pelas reações de transporte de elétrons,
envolvendo os carreadores citados.
Os carreadores de elétrons orientam-se na membrana de tal maneira que, à
medida que os elétrons são transportados, os prótons são separados dos elétrons. Dois
elétrons mais dois prótons, oriundos do NADH, entram na cadeia de transporte de
elétrons, iniciando o processo. Os carreadores são arranjados de acordo com seus
potenciais redutores positivos crescentes, com o carreador final da cadeia doando os
elétrons e prótons a um aceptor terminal, como o O2. Durante o processo, vários
prótons são liberados no meio, resultando em uma ligeira acidificação da superfície
externa da membrana. A extrusão de H+ para o meio resulta em um acumulo de OH- na
face interna da membrana. Dessa forma, o equilíbrio não pode ser restaurado
espontaneamente (H+ e OH- não se difundem através da membrana). O resultado do
transporte de elétrons consiste na geração de um gradiente de pH e de um potencial
eletroquímico através da membrana – a face interna torna-se eletricamente negativa e
alcalina, enquanto a face interna torna-se ácida e positiva. Esse gradiente energiza a
membrana, e parte dessa energia é conservada na formação de ATP.
O complexo que converte a força próton-motiva em ATP é denominado ATP-
sintase, ou ATPase. As ATPases consistem em dois componentes, um complexo
multiproteico extramembranoso, denominado F1, voltado para o citoplasma, e um canal
intramembranoso condutor de prótons, denominado F0. A ATPase catalisa uma reação
reversível entre ATP e ADP + Pi. A movimentação dos prótons através de F0 promove a
rotação das proteínas, e a energia transmitida a F1 promove alterações
conformacionais, sendo esse processo uma forma de energia potencial que pode ser
aproveitada na síntese de ATP.
A síntese de ATP catalisada pela ATPase é denominada fosforilação oxidativa
quando a força próton-motiva é originada por reações de respiração, e fotofosforilação,
quando esta é originada a partir da fotossíntese.

22
5.5.1.4 O fluxo do carbono na respiração: o ciclo do ácido cítrico
- A respiração de glicose
As etapas iniciais envolvem as mesmas etapas bioquímicas descritas na glicólise;
todas as etapas da glicose ao piruvato são as mesmas. No entanto, enquanto na
fermentação o piruvato é reduzido e convertido a produtos de fermentação que são
subsequentemente excretados, na respiração o piruvato é oxidado a CO2 – ciclo do ácido
cítrico. Inicialmente o piruvato é descarboxilado, levando à produção de CO2, NADH e a
substância de alta energia, acetil-Coa. O grupo acetil da acetil-Coa combina-se ao
composto de quatro carbonos, oxalacetato, formando ácido cítrico. Uma série de
reações de hidratação, descarboxilação e oxidação ocorrem em seguida, sendo
formadas duas moléculas adicionais de CO2, mais três de NADH, e uma de FADH.
Finalmente, o oxalacetato é regenerado, e retorna como um aceptor de acetil,
completando assim o ciclo.

23
- Liberação de CO2 e combustível para o transporte de elétrons
Para cada molécula de piruvato oxidada no ciclo do ácido cítrico, três moléculas
de CO2 são liberadas. Os elétrons liberados durante a oxidação enzimática dos
intermediários do ciclo são transferidos a NAD+, formando NADH. É nesse aspecto que
a fermentação e a respiração diferenciam-se. Em vez de serem utilizados para reduzir o
piruvato, como na fermentação, na respiração, os elétrons de NADH e FADH são
transferidos ao oxigênio por meio da cadeia de transporte de elétrons. Assim, a presença
de um aceptor de elétrons (O2) na respiração permite a oxidação total da glicose a CO2,
com uma produção de energia muito maior. Portanto, enquanto somente 2 ATP são
produzidos por glicose fermentada nas fermentações, 38 ATP podem ser produzidos
pela respiração da mesma molécula de glicose, levando a CO2.

6. Crescimento microbiano
6.1 Divisão da célula bacteriana
6.1.1 Crescimento celular e fissão binária
Crescimento é definido como aumento no número de células, e esse processo
depende de um grande número e de uma ampla variedade de tipos de reações químicas.

24
Em uma célula bacilar em crescimento, a elongação prossegue até a célula
dividir-se em duas novas células, processo denominado fissão binária. As células
elongam-se até atingirem aproximadamente o dobro do seu comprimento original,
quando então formam uma partição que separa a célula em duas células filhas (septo).
Tal repartição é resultante do crescimento da membrana e da parede para o interior da
célula, em direções opostas. Por definição, quando uma célula divide-se formando duas,
ocorreu uma geração. Durante este período, todos os constituintes celulares aumentam
proporcionalmente, visto que cada célula filha recebe um cromossomo e cópias
suficientes de ribossomos e de todos os outros complexos macromoleculares,
monômeros e íons inorgânicos, permitindo sua existência. A partição da molécula de
DNA replicada entre as duas células filhas depende da ligação do DNA à membrana
citoplasmática ser mantida durante a divisão, com a formação do septo levando à
separação dos cromossomos, um para cada célula filha.

6.1.2 Proteínas Fts (filamentous temperature sensitive) e divisão celular


Foram encontradas até mesmo em mitocôndrias e cloroplastos (enfatizando
ainda mais as ligações evolutivas das organelas). FtsZ está relacionada a tubulina,
importante proteína da divisão celular em eucariotos. Essas proteínas interagem,
formando um aparelho de divisão, denominado divisomo. Em células bacilares, a
formação do divisomo é iniciada pela ligação das moléculas de FtsZ, originando um anel
precisamente ao redor do centro da célula. Esse anel determina o que eventualmente
irá tornar-se o plano de divisão celular. ZipA é uma âncora que conecta o anel FtsZ à
membrana, promovendo sua estabilidade. FtsA, uma proteína relacionada à actina,
também auxilia na conexão do anel a membrana, e apresenta um papel no
recrutamento de outras proteínas. O divisomo forma-se bem depois da elongação de
uma célula recém-nascida, ou seja, antes de sua formação, a célula já se encontra em
elongação e o DNA encontra-se em replicação. O divisomo também contém proteínas
Fts necessárias à síntese de peptideoglicano, como FtsI; este ainda coordena a síntese
do novo material da membrana e da parede, denominado septo de divisão, no centro
de uma célula bacilar, até que ela atinja o dobro do seu comprimento. Após esse
processo, a célula elongada divide-se, originando duas células filhas.

25
O DNA é replicado antes do anel FtsZ, o qual é formado no espaço entre os
nucleoides duplicados, pois antes da segregação dos nucleoide, eles bloqueiam
efetivamente a formação do anel FtsZ. A localização correta do anel é faciltada pelas
proteínas Min (C, D e E). MinD é requerida para posicionar MinC, e ambas em conjunto
inibem a divisão celular, ao impedirem a formação do anel. MinE também oscila de um
polo para o outro, deslocando MinC e D durante sua movimentação. Pelo fato de MinC
e D permanecerem por mais tempo nos polos, normalmente o centro da célula exibe
menor concentração dessas proteínas, correspondendo ao sítio mais permissivo para a
montagem do anel, o qual define o plano de divisão. À medida que a elongação
prossegue e a iniciação do septo é iniciada, as duas cópias dos cromossomos são
separadas e encaminhadas. FtsK e várias outras atuam no processo. Simultaneamente à
constrição celular, o anel começa a sofrer despolimerização, promovendo a invaginação
dos componentes da parede para formar o septo e separar as duas células filhas.

6.1.3 MreB e determinantes da morfologia celular


O principal fator na determinação da morfologia em procarioto é a proteína
MreB, a qual forma um citoesqueleto simples, em forma de faixas espiraladas logo
abaixo a membrana citoplasmática. Provavelmente o citoesqueleto de MreB define a
forma celular ao recrutar outras proteínas que coordenam o crescimento da parede em
um padrão específico. A inativação do gene que codifica essa proteína em bactérias
bacilares torna as células cocóides. Curiosamente, as bactérias em forma de coco são
desprovidas desta proteína. O mecanismo utilizado pela proteína na forma da célula
ainda não é totalmente claro, porém experimentos têm fornecido importantes indícios:
26
as estruturas helicoidais formadas por MreB não são estáticas, podendo rodar no
interior da célula; o peptideoglicano recém-sintetizado associa-se às hélices de MreB em
pontos onde elas estabelecem contato com a membrana. É sugerido então que MreB
atue posicionando a síntese de novo peptideoglicano e outros componentes da parede
em locais específicos.

- Caulobacter crescentus: bactéria em forma de vibrião, sintetiza crescentina, além de MreB,


localizada na face côncava da célula curva.
6.1.4 Síntese de peptideoglicano e divisão celular
Em cocos, as paredes celulares crescem em direções opostas, externamente ao
anel FtsZ, enquanto que as paredes de células bacilares crescem em diferentes
localizações ao longo da célula. No entanto, em ambos os casos, o peptideoglicano
preexistente deve ser rompido para permitir a inserção de peptideoglicano recém-
sintetizado. Iniciando no anel FtsZ, pequenas aberturas são criadas na parede por
autolisinas, hidrolisando as ligações β-1,4 que conectam N-acetilglicosamina e o ácido
N-acetilmurâmico no esqueleto. O novo material é então adicionado ao longo das
aberturas. Na síntese do peptideoglicano, é essencial que os precursores da nova parede
sejam unidos ao peptideoglicano preexistente de forma coordenada, a fim de impedir
uma ruptura na integridade no ponto de união. A síntese envolve a clivagem controlada
por autolisinas, com a inserção simultânea dos precursores, aonde uma molécula
lipídica carreadora, a bactoprenol, desempenha importante papel.
O bactoprenol é um álcool hidrofóbico que se liga aos precursores de
peptideoglicano e os transporta através da membrana, tornando-os hidrofóbicos o
bastante para atravessarem o interior. Uma vez, no periplasma, o bactoprenol interage
com glicolases e inserem os precursores no ponto de crescimento na parede e catalisam
a formação da ligação glicosídica. A etapa final da síntese é a transpeptidação,
responsável por formar ligações cruzadas entre os resíduos de ácido murâmico de
cadeias adjacentes de glicano. Em bactérias Gram-negativas, as ligações são formadas
entre o ácido diaminopimélico e a D-alanina do peptídeo adjacente. Em bactérias Gram-
positivas, as ligações cruzadas ocorrem na ponte de glicina, entre uma L-lisina de um
peptídeo e uma D-alanina de outro.

27
Obs: penicilina inibe a transpeptidação.

6.2 Crescimento de populações bacterianas


6.2.1 Crescimento exponencial
Padrão de aumento populacional, em que o número de células é duplicado
durante um intervalo de tempo constante. Durante o crescimento, inicialmente o
aumento no número de células é relativamente lento, porém posteriormente torna-se
acelerado. Nos estágios finais, observa-se um aumento explosivo.

6.2.2 Ciclo de crescimento microbiano


A curva de crescimento descreve um ciclo de crescimento completo, incuindo a
fase lag, fase exponencial, fase estacionária e a fase de morte.
- Fase lag: quando uma população é inoculada em um novo meio e o crescimento é
iniciado apenas após um período de tempo. Ocorre porque as células encontram-se
depletadas de vários constituintes essenciais, requerendo tempo para sua biossíntese.
- Fase exponencial: cada célula divide-se formando duas células, cada qual também se
divide, e assim por diante, durante um período, dependendo dos recursos disponíveis.
Encontram-se em condições mais saudáveis, e suas taxas de crescimento são
influenciadas pelas condições ambientais.
- Fase estacionária: não se observa aumento ou diminuição líquidos no número de
células, portanto a taxa de crescimento corresponde a zero. Ocorre na cessão do
crescimento exponencial, seja pelo consumo de um nutriente ou pela inibição por um
produto de excreção.
- Fase de morte: se uma população que atingiu a fase estacionaria permanecer
incubada, as células poderão sobreviver, mas eventualmente morrerão.
28
6.3 Temperatura e crescimento microbiano
Quatro fatores essenciais controlam o crescimento de todos os microrganismos:
temperatura, pH, disponibilidade de água e oxigênio, apesar de que pressão e radiação
podem afetar o crescimento.
A temperatura mínima e máxima de crescimento variam amplamente dentre os
microrganismos, refletindo a variação térmica e a temperatura média de seus habitats.
À medida que a temperatura aumenta, as reações químicas e enzimáticas da célula
passam a ocorrer com maior velocidade e o crescimento é acelerado; entretanto, acima
de uma determinada temperatura, os componentes celulares podem sofrer danos
irreversíveis. Dessa forma, para cada microrganismo há uma temperatura mínima,
abaixo da qual o crescimento não é possível, uma temperatura ótima, onde o
crescimento ocorre rapidamente, e uma temperatura máxima, acima da qual o
crescimento torna-se impossível (temperaturas cardeais). A temperatura ótima situa-se
mais próxima da máxima do que da mínima.
A temperatura máxima de crescimento reflete aquela acima da qual ocorre a
desnaturação de um ou mais componentes essenciais, como uma enzima chave. Os
fatores que controlam a temperatura mínima não são claros, porém, foi discutido que a
membrana deve encontrar-se em um estado fluido para que o transporte e outras
funções importantes sejam realizados. A temperatura mínima pode ser determinada
pelo funcionamento da membrana.

CRESCIMENTO EM BAIXAS TEMPERATURAS


- Microrganismos psicrófilos: temperatura ótima de crescimento é de 15°C ou inferior;
temperatura máxima situada abaixo de 20°C; temperatura mínima de 0°C ou inferior.
- Microrganismos psicrotolerantes: capazes de crescer a 0°C, mas com ótimo entre 20 e
40°C.
- Possuem enzimas que atuam otimamente no frio, sendo facilmente desnaturadas ou
inativadas em temperaturas moderadas; apresentam maiores quantidades de
estruturas secundárias em α-hélice, e menores em folhas β-pregueadas, quando
comparadas a outras inativas no frio. Apesar de estruturas em folhas β-pregueadas
29
serem mais rígidas, a presença de maior quantidade de α-hélice provavelmente confere
maior flexibilidade. Também apresentam maior número de aminoácidos polares e
menor quantidade de ligações fracas.
- Membrana plasmática tendem a exibir maior quantidade de ácidos graxos insaturados
– manutenção do estado semifluido (membranas compostas por ácidos graxos
saturados apresentariam consistência similar à cera em baixas temperaturas).

CRESCIMENTO EM ALTAS TEMPERATURAS


- Termófilos: temperatura ótima de crescimento é superior a 45°C.
- Hipertermófilos: temperatura ótima de crescimento é superior a 80°C
- Enzimas apresentam forte termoestabilidade – pouquíssimas diferenças na sequência
de aminoácidos; maior número de ligações iônicas muito hidrofóbicas entre
aminoácidos básicos e ácidos (estes últimos resistem ao desdobramento); produção de
solutos que auxiliam na estabilização.
- Lipídeos ricos em ácidos graxos saturados – permite estabilidade e funcionamento
(ácidos graxos saturados criam um ambiente mais fortemente hidrofóbico).
Hipertermófilos, em sua maioria Archaea, não possuem ácidos graxos, possuindo
apenas hidrocarbonetos C40, além de possuírem uma monocamada lipídica na
membrana (resistência).

30
6.4 Outros fatores ambientais que afetam o crescimento

 pH
Cada microrganismo possui uma faixa de pH em que o crescimento é possível e
um pH ótimo bem definido. A maioria dos ambientes naturais apresenta valores de pH
entre 4 e 9, são os organismos cujo valores ótimos situam-se nessa faixa os mais comuns.
- Acidófilos: crescimento ótimo em pH baixo, normalmente abaixo de 6. Quando o pH é
levado à neutralidade, as membranas são destruídas, com as células sofrendo lise.
- Alcalifílicos: crescimento ótimo em pH 9, ou superior.
- O pH ótimo para o crescimento de qualquer organismo é uma medida do pH
extracelular, visto que o pH intracelular deve permanecer relativamente próximo à
neutralidade, a fim de evitar a destruição das macromoléculas.
- Tampões são adicionados a fim de manter o pH relativamente constante.

 Efeitos osmóticos
A disponibilidade de água não depende somente do conteúdo aquoso absoluto
do ambiente, isso é, quão úmido ou seco ele pode ser, mas é também em função da
concentração de solutos.
A disponibilidade de água é expressa em termos como a atividade de água (a w),
a qual é definida como a razão entre a pressão de vapor do ar em equilíbrio com a
solução, em relação ao vapor da água pura. A água difunde-se por osmose, e, como o
citoplasma apresenta concentração de solutos superior ao meio externo, a água tende
a difundir-se para o interior da célula. Nessas condições, diz-se que a água está em
equilíbrio aquoso positivo.
- Halófilos: organismos que apresentam crescimento ótimo na atividade de água do mar
(3% NaCl).
- Osmófilos: capazes de sobreviver em ambientes ricos em açúcares como soluto.
- Xerófilos: crescem em ambientes extremamente secos.

31
 Oxigênio
O oxigênio é pouco solúvel em água e, devido às atividades respiratórias
constantes em hábitats aquáticos ou úmidos, o O2 pode ser rapidamente exaurido.
Assim, hábitats anóxicos são comuns.
- Aeróbios: capazes de crescer em grandes tensões de O2 (ar – 21%), respirando oxigênio
em seu metabolismo. Muitos podem tolerar concentrações elevadas de O2. Os
facultativos podem crescer em ambientes tanto óxicos como anóxicos.
- Microaerófilos: são aeróbios capazes de utilizar O2 somente quando ele está presente
em níveis inferiores ao do ar.
- Anaeróbios: não são capazes de respirar oxigênio. Os aerotolerantes toleram e crescem
na presença de O2, porém sem utilizá-lo. Os anaeróbios obrigatórios são inibidos ou
mesmo mortos pelo O2 (incapacidade de detoxificar alguns dos produtos originados no
metabolismo de O2).
O oxigênio é um poderoso oxidante e o melhor aceptor de elétrons na
respiração. Contudo, pode ser tóxico para anaeróbios obrigatórios.

Formas tóxicas de O2: O2-, H2O2 e OH. Todos são formados na redução de O2 a H2O.

A enzima catalase ataca o H2O2, originando oxigênio e água. Outra enzima que
destrói tal composto é a peroxidase, que se difere por requerer um redutor para sua
atividade e por originar somente água como produto. O superóxido (O2-) é destruído
pela superóxido dismutase, produzindo H2O2 e oxigênio. Esta última atua em conjunto
com a catalase, promovendo a conversão de superóxido em oxigênio e água.

6.5 Biofilmes
As superfícies são importantes hábitats microbianos, pois mantém os nutrientes
adsorvidos, e desse modo, contém mais recursos do que as células planctônicas
(existência flutuante) e por permitir a aderência das bactérias.
Biofilmes são organizações de células bacterianas aderidas a uma superfície,
envoltas por uma matriz adesiva excretada pelas células. A matriz normalmente é uma
mistura de polissacarídeos, porém pode conter proteínas e até mesmo ácidos nucleicos.
Os biofilmes aprisionam os nutrientes necessários ao crescimento microbiano e ajudam
a impedir o destacamento das células de superfícies presentes. A adesão de uma célula
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a uma superfície é um sinal para a expressão de genes específicos do biofilme. Esses
genes codificam proteínas que sintetizam moléculas de sinalização intercelular,
iniciando a formação da matriz. Uma vez comprometida com a formação do biofilme,
uma célula previamente natatória perde seus flagelos, torando-se imóveis.
- Vantagens: mecanismo de autodefesa; faz com que as células permaneçam em um
nicho favorável; permitem que as células vivam em estreita associação; aumenta as
possibilidades de permuta genética.

6.6 Quorum sensing


É um mecanismo pelo qual as bactérias avaliam sua densidade populacional.
Cada espécie que realiza o quórum sensing sintetiza uma molécula sinalizadora
específica, denominada autoindutor, a qual difunde-se livremente através do envoltório
celular nas duas direções.

7. Diversidade metabólica
7.1 Fototrofia
É a utilização da luz como fonte de energia. O principal processo biológico na
Terra é a fotossíntese – a conversão da energia luminosa em energia química. A maioria

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dos organismos fototróficos é também autotrófica, capaz de crescer a partir da
utilização de CO2 como fonte de carbono.
- Fotoautotrofia: a energia obtida a partir da luz é utilizada na redução de CO 2 a
compostos orgânicos.
- Fotoheterotrofia: utilização de carbono orgânico como fonte de carbono.
A fotossíntese requer pigmentos sensíveis a luz, as clorofilas, responsáveis pela
absorção da energia luminosa e início da conversão fotossintética da energia, resultando
em ATP.
A fotoautotrofia requer dois conjuntos de reações: a produção de ATP e a
redução de CO2 a compostos celulares. Para o crescimento autotrófico, a energia é
fornecida pelo ATP, enquanto os elétrons necessários à redução de CO2 são oriundos do
NADH ou NADPH. Eles são produzidos pela redução de NAD + por elétrons originados a
partir de doadores. A oxidação de H2O produz O2 como subproduto – fotossíntese
oxigênica. No entanto muitas bactérias não oxidam água e não produzem O2, sendo o
processo denominado fotossíntese anoxigênica.

7.2 Autotrofia
É o processo pelo qual CO2 é assimilado como fonte de carbono.

CICLO DE CALVIN – mecanismo de fixação do CO2


Precisa de NAD(P)H, ATP e duas enzimas chave, a ribulose bifosfato carboxilase
e a fosforribuloquinase.
A RubisCO catalisa a primeira etapa do ciclo – a formação de duas moléculas de
ácido 3-fosfoglicérico (PGA) a partir de ribulose bifosfato e CO2. O PGA é então
fosforilado e reduzido a um intermediário chave da glicólise, o gliceraldeído 3-fosfato. A
partir dessa etapa, a glicose pode ser produzida a partir da reversão das etapas iniciais
da glicólise. Vários procariotos autotróficos que utilizam o ciclo produzem inclusões
celulares denominadas carboxissomos. Essas inclusões são envoltas por uma não
unidade de membrana delgada e consistem em um conjunto cristalino de moléculas de
RubisCO, permitindo a fixação mais rápida de CO2.

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7.3 Quimiolitotrofia
Grupo de organismos que obtêm energia a partir da oxidação de compostos
inorgânicos. A maioria das bactérias quimiolitotróficas é também capaz de obter seu
carbono a partir do CO2, sendo também autotrófica. A geração de ATP em
quimiolitotróficos é também similar àquela observada em quimiorganotróficos, exceto
pelo fato de o doador de elétrons ser inorgânico ao invés de orgânico. O poder redutor
é obtido de duas maneiras: diretamente do composto inorgânico, caso ele apresente
um potencial redutor baixo, ou por reações de transporte reverso de elétrons, se o
doador for mais eletropositivo que o NADH.

OXIDAÇÃO DE H2
- Geração de ATP por força próton motiva;
- Catalisada pela hidrogenase;

OXIDAÇÃO DO ENXOFRE

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- Compostos mais comuns: H2S, S0, S203-2;

OXIDAÇÃO DO FERRO

NITRIFICAÇÃO

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7.4 Fixação do nitrogênio gasoso
A capacidade de fixar N2 liberta o organismo da dependência de amônia ou
nitrato. Além disso, certas formas de fixação de nitrogênio são de enorme importância
agrícola, pois fornecem o nitrogênio necessário a culturas, como a soja.
Ex: Azotobacter, Agrobacterium, Pseudomonas.
No processo, o N2 é reduzido a amônia, sendo ela convertida a forma orgânica,
processo catalisado pelo complexo chamado nitrogenase.

7.5 Catabolismo de compostos orgânicos


Dois mecanismos envolvidos no catabolismo de compostos orgânicos são
fermentação e respiração, os quais se diferem em termos de considerações redox e
síntese de ATP. Na respiração, existem aceptores exógenos, enquanto que na
fermentação não ocorre.

7.5.1 Fermentações
Diversos ambientes são anóxicos, fazendo com que a decomposição da matéria
ocorra anaerobicamente. Se nesses hábitats não existirem fontes adequadas de
aceptores de elétrons, como SO4-2, Fe3+ e NO3-, os compostos são catabolizados por meio
da fermentação. Na fermentação, a síntese de ATP ocorre por meio de reações de
fosforilação em nível de substrato.

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FERMENTAÇÃO DO ÁCIDO LÁCTICO
- Bactérias Gram-positivas;
- Padrões: homofermentativo (um único produto – ácido láctico); heterofermentativo
(outros produtos além do ácido, como etanol e CO2).

FERMENTAÇÃO ACÉTICA

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FERMENTAÇÃO PROPIÔNICA

7.5.2 Respiração anaeróbia


REDUÇÃO DE NITRATO E DENITRIFICAÇÃO

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REDUÇÃO DE SULFATO E ENXOFRE

REDUÇÃO DE CO2

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CICLOS

8. Mecanismos de patogenicidade
Um hospedeiro é um organismo que alberga um parasita, outro organismo que
vive na superfície ou no interior do hospedeiro. Os parasitas microbianos são
denominados patógenos. A patogenicidade é a capacidade de um parasita provocar
danos. Um patógeno oportunista causa doença somente quando o hospedeiro não
apresenta resistência normal.
Infecção refere-se a qualquer situação em que um microrganismo se estabelece
e cresce no interior de um hospedeiro, quer este seja prejudicado ou não. Os

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hospedeiros animais oferecem ambientes favoráveis ao crescimento de vários
microrganismos, visto que são ricos em nutrientes orgânicos e fatores de crescimento
requeridos por quimiorganotróficos, fornecendo condições de pH, pressão osmótica e
temperatura controladas.

ADESÃO:
- Geralmente ocorre em rupturas ou ferimentos da pele ou das mucosas nos tratos
respiratório, digestório ou geniturinário;
- Camada limosa e cápsula podem ser importantes para adesão, além de proteger as
bactérias dos mecanismos de defesa, como a fagocitose.
- Fímbrias, pili e flagelos também podem atuar no processo;

8.1 Barreiras impostas

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9. Biologia molecular
9.1 Estrutura do DNA
Bases nucleicas encontradas: adenina, guanina, citosina e timina. O esqueleto da
cadeia consiste em repetições alternadas de fosfato e da pentose desoxirribose;
conectada a cada açúcar, há uma dessas bases de ácido nucleico. O grupo fosfato que
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conecta as duas moléculas de açúcar liga-se ao carbono 3’ de um açúcar e ao carbono
5’ do açúcar adjacente. Em uma das extremidades de cada fita o açúcar apresenta um
fosfato ligado à hidroxila 5’, enquanto, na outra, apresenta um OH livre, na posição 3’.
É encontrado sob a forma de fita dupla, com bases complementares, em um
padrão antiparalelo. As duas fitas são torcidas formando uma dupla hélice.
Embora as pontes de hidrogênio entre os pares de bases sejam individualmente
muito fracas, um grande número dessas pontes mantém as fitas unidas. Se a
temperatura for elevada, as ligações de hidrogênio irão romper-se, sem haver, no
entanto, a quebra das ligações covalentes que mantém uma cadeia unida, resultando
na separação das fitas – DESNATURAÇÃO. DNA contendo alta porcentagem de pares GC
sofre desnaturação em temperaturas mais elevadas que uma molécula de tamanho
similar, contendo mais pares AT.
O superenovelamento submete a molécula de DNA a um estado de torção,
similar à tensão imposta a um elástico quando é torcido. Este processo pode ser
introduzido ou removido por enzimas chamadas topoisomerases. As topoisomerases de
classe I clivam uma das fitas permitindo a rotação. Após esse processo, o corte é selado.
A DNA girasse introduz supernovelamentos negativos no DNA.

PLASMÍDEOS: são elementos genéticos que se replicam independentemente do


cromossomo. A maioria é constituída por DNA de fita dupla e, apesar da maioria exibir
configuração circular, alguns são lineares. Diferenciam-se dos vírus por não provocarem
dano celular e não exibirem forma extracelular.
Se diferenciam ainda do cromossomo pois, o cromossomo é um elemento genético que
contém genes cujos produtos são necessários às funções celulares essenciais (genes
housekeeping), e estes são frequentemente descartáveis e raramente contém genes
necessários ao crescimento.

9.2 Replicação do DNA


- Semiconservativa: as duas duplas hélices resultantes consistem em uma fita
recém-sintetizada e uma parental.
- A adição do nucleotídeo à fita em crescimento requer a presença de um grupo
hidroxil livre (extremidade 3’);
- Sentido: 5’-3’.
- DNA polimerases: catalisam a adição dos desoxinuleotídeos.
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- Primase: enzima que sintetiza um pequeno segmento de RNA complementar
ao DNA molde, o RNA iniciador.
- Antes da síntese, a dupla hélice deve ser desenovelada para expor a fita molde,
e tal região é referida como forquilha de replicação (DNA helicase) – energia proveniente
da hidrolise de ATP.

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9.3 Síntese de RNA: transcrição

9.4 Síntese proteica

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