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Universidade Estadual do Pará – UEPA


Centro de Ciências Sociais e Educação – CCSE
Curso de Licenciatura em Pedagogia

Educação nos Movimentos Sociais:


O Processo Educacional no MST – Assentamento Mártires de Abril

Belém – Pará
2012
1

Universidade Estadual do Pará


Centro de Ciências Sociais e Educação
Curso de Licenciatura em Pedagogia

Acadêmicos: Danielly Nascimento


Edivaldo Lobato
Gabriela Faval
Luana Gomes
Tamyris Cunha

Educação nos Movimentos Sociais:


O Processo Educacional no MST – Assentamento Mártires de Abril

Pesquisa realizada pela turma


7PG1N como critério para a 2ª
avaliação da disciplina Educação
em Instituições Não-Escolares e
Ambientes Populares, ministrada
pelo Prof. João Colares Neto.

Belém – Pará
2012
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Sumário

1. Os Movimentos Sociais: Processo Histórico ................................................. 03


a) Movimentos Sociais na América Latina ............................................... 03
b) Os Movimentos Sociais no Brasil ........................................................ 03
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto .......................................... 04
Fórum Social Mundial ...................................................................... 04
Movimento Feminista ...................................................................... 04
Movimento Estudantil ....................................................................... 04
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra ......................................... 04
Educação, uma bandeira histórica do MST ........................................ 05
Contra o Analfabetismo .................................................................... 05
História ............................................................................................. 05

2. Políticas Públicas e legislação para a Educação do Campo ......................... 06

3. O MST – Processo Histórico da luta pela terra no Brasil............................ 06

4. Processos Educacionais no MST................................................................... 07

5. O Assentamento Mártires de Abril – Mulheres do MST ............................. 09


Dona Ana ............................................................................................... 10
Viviane ................................................................................................... 11
Teófila .................................................................................................... 11

Bibliografia ........................................................................................................ 14

Anexos .............................................................................................................. 15
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1. Os Movimentos Sociais: Processo Histórico

Apesar do movimento social ser fruto de determinados contextos históricos


e sociais, duas definições conceituais clássicas podem ser encontradas no objetivo de
acrescer à questão. A primeira delas é a de controle de ação histórica de Alain Touraine,
ou seja, para ele, os movimentos sociais são a ação conflitante dos agentes das classes
sociais (luta de classes). Já para Manuel Castells, movimentos sociais são sistemas de
práticas sociais contraditórias de acordo com a ordem social urbana/rural, cuja natureza
é a de transformar a estrutura do sistema, seja através de ações revolucionárias ou não,
numa correlação classista e em última instância, o poder estatal. (Ekipedia)

Movimentos Sociais na América Latina

Os estudos sobre os movimentos sociais na América Latina são frutos de


uma conjuntura intelectual e política bastante específica. Desenvolvidos na década de
70, coincidem com o avanço do autoritarismo sobre vários de nossos países e sucedem
os temas típicos dos anos 60: a marginalidade e a dependência.
A grande novidade destes grupos é sua independência com relação aos
políticos profissionais e aos partidos, bem como sua capacidade de expressar os desejos
de base da sociedade. Associações de bairro, grupos de moradores, clube de mães,
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), ao se tornarem mais numerosos e atuantes, são
vistos como formas autênticas de participação popular, onde a democracia interna
garante, tanto a manifestação de uma vontade coletiva, quanto o confronto direto com as
políticas públicas autoritárias.
Revestida de um caráter moral, a participação tornou-se sinônimo de
convivência igualitária e de contestação. Desde os movimentos libertários dos anos 60
(feminismo, anti-racismo, pacifismo etc.) que este significado ganhava espaço. Mas, é
preciso não esquecer que a noção de participação se aplica ao conjunto de formas de
manifestação da sociedade frente ao Estado.
Desde os anos 60, os grupos contestatórios enfatizam as experiências
comuns impostas pela discriminação. Negros, mulheres, pacifistas ou homossexuais se
agrupam contra as injustiças de que são vítimas, na medida em que tomam consciência
delas. Os limites do grupo são dados por esta vivência comum, o que permite que se
percebam como uma "comunidade".

Os Movimentos Sociais no Brasil.

A análise dos movimentos sociais no Brasil


revelam forte enfoque teórico oriundo do marxismo, sejam
eles vinculados ao espaço urbano e/ou rural. Tais
movimentos, quando se referiam ao espaço urbano possuíam
um leque amplo de temáticas como por exemplo, as lutas por
creches, por escola pública, por moradia, transporte, saúde,
saneamento básico etc. Quanto ao espaço rural, a diversidade
de temáticas expressou-se nos movimentos de bóias-frias
(das regiões cafeeiras, citricultoras e canavieiras, principalmente), de posseiros, sem-
terra, arrendatários e pequenos proprietários.
No início do século XX, era muito mais comum a existência de movimentos
ligados ao rural, assim como movimentos que lutavam pela conquista do poder político.
Em meados de 1950, os movimentos nos espaços rural e urbano adquiriram visibilidade
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através da realização de manifestações em espaços públicos (rodovias, praças, etc.). Os


movimentos populares urbanos foram impulsionados pelas Sociedades Amigos de
Bairro - SABs - e pelas Comunidades Eclesiais de Base - CEBs. Nos anos 1960 e 1970,
mesmo diante de forte repressão policial, os movimentos não se calaram. Havia
reivindicações por educação, moradia e pelo voto direto. Em 1980 destacaram-se as
manifestações sociais conhecidas como "Diretas Já".

O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)

O MTST surgiu em 1997 da necessidade de


organizar a reforma urbana e garantir moradia e a todos os
cidadãos. Está organizado nos municípios do Rio de Janeiro,
Campinas e São Paulo. É um movimento de caráter social, político e sindical.

O Fórum Social Mundial (FSM)

É um evento altermundialista organizado por


movimentos sociais de diversos continentes, com objetivo de
elaborar alternativas para uma transformação social global. Seu
slogan é Um outro mundo é possível.

O Movimento Feminista

O feminismo é um discurso intelectual, filosófico e


político que tem como meta os direitos iguais e a proteção legal às
mulheres. Envolve diversos movimentos, teorias e filosofias, todas
preocupadas com as questões relacionadas às diferenças entre os
gêneros, e advogam a igualdade para homens e mulheres e a
campanha pelos direitos das mulheres e seus interesses.

O movimento estudantil,

Embora não seja considerado um movimento popular, dada


a origem dos sujeitos envolvidos, que, nos primórdios desse
movimento, pertenciam, em sua maioria, a chamada classe pequeno
burguesa, é um movimento de caráter social e de massa. Em 1967, no
Brasil, sob a conjuntura da ditadura militar, esse movimento inicia um
processo de reorganização, como a única força não institucionalizada
de oposição política.

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra,


também conhecido pela sigla MST, é um movimento social
brasileiro de inspiração marxista cujo objetivo é a implantação da
reforma agrária no Brasil. Teve origem na aglutinação de movimentos que faziam
oposição ou estavam desgostosos com o modelo de reforma agrária imposto pelo
regime militar, principalmente na década de 1970, o qual priorizava a colonização de
terras devolutas em regiões remotas, com objetivo de exportação de excedentes
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populacionais e integração estratégica. Contrariamente a este modelo, o MST declara


buscar a redistribuição das terras improdutivas.

Educação: Uma bandeira histórica do MST

Desde a 1984, além das ocupações de terra e marchas para pressionar pela
reforma agrária no país, o MST luta pelo acesso à educação pública, gratuita e de
qualidade em todos os níveis para a população do campo. Em toda a sua história, foram
conquistadas aproximadamente 2 mil escolas públicas nos acampamentos e
assentamentos em todo país, abrindo as portas do conhecimento para 160 mil crianças e
adolescentes Sem Terra.
Também foram formados mais de 4 mil professores. Nos últimos anos, foi
desencadeado um trabalho de alfabetização de jovens e adultos, que envolve a cada ano
2 mil educadores e mais de 28 mil educandos. Mais de 50 mil pessoas já aprenderam a
ler e escrever no MST, que defende que a escola esteja onde o povo está e,
consequentemente, os camponeses têm o direito e o dever de participar da construção do
seu projeto de escola.

Contra analfabetismo

O MST promove também projetos de alfabetização de jovens e adultos nas


áreas de acampamentos e assentamentos em parceria com entidades da reforma agrária,
organizações não-governamentais e órgãos estaduais e federais para combater o
analfabetismo e garantir que o domínio da leitura e da escrita seja possível para toda a
população do campo.
Os principais objetivos dos projetos de alfabetização é transformar os
acampamentos e assentamentos em territórios livres do analfabetismo e, para isso, a
EJA (Educação de Jovens e Adultos) trabalha com os Sem Terra conteúdos relacionados
à realidade rural.
Isso se constitui como o primeiro passo do processo educativo, que não
acontece apenas na escola, mas em todos os espaços do MST. O desafio é fazer com que
o ensino contribua para que os lavradores se apropriem do conhecimento para conseguir
aproveitar toda a sua potencialidade e ver o mundo de uma outra forma.
Durante os três anos do projeto Brasil Alfabetizado, realizado em parceria
entre entidades da reforma agrária e Ministério da Educação, foram alfabetizando 5500
educandos, além de capacitar 1.820 educadores em acampamentos e assentamentos do
MST. O projeto começou em 2003 e atualmente funciona em 23 estados.

História

A EJA teve início com a Campanha de Educação de Jovens, Adultos e


Idosos, realizada em 1991, no assentamento Conquista da Fronteira em Bagé, no Rio
Grande do Sul, com a presença de Paulo Freire (1921-1997), um dos principais
pensadores da educação no país e no mundo.
Após um período com experiências fragmentadas, foi firmada uma parceria
com a Universidade Federal de Sergipe (UFS), que possibilitou o trabalho de
alfabetização nas áreas de assentamentos e acampamentos do estado. Um convênio
entre Ministério da Educação e a Unesco (Organização das Nações Unidas para a
Educação a Ciência e a Cultura), em 1996, levou o projeto para 18 estados. Foram
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formadas 550 turmas e 8000 educandos. Depois o projeto continuou por meio de
parcerias entre secretarias de educação e universidades nos estados.
Em 1997, aconteceu o 1ª Encontro Nacional de Educadores e Educadoras da
Reforma Agrária, que reuniu educadores, especialistas e trabalhadores sem-terra para
formular um plano de alfabetização no campo. Após o encontro, foi firmado um
convênio com universidades, governo federal para a criação do Programa Nacional de
Educação na Reforma Agrária, que promoveu projetos de alfabetização nos
assentamentos e acampamentos.

2. Políticas Públicas e Legislação para a Educação do Campo

A Lei e Diretrizes de Base da Educação Nacional, nº 9394/96, em particular o Art. 28,


ao estabelecer que: “Na oferta da educação básica para a população rural, os sistemas de
ensino promoverão as adaptações necessárias à sua adequação, às peculiaridades da vida
rural e de cada região”.

A Resolução CNE/CEB nº 01, de 03 de Abril de 2002 que institui as Diretrizes


Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo a serem observadas nas
propostas das instituições que integram os diversos sistemas de ensino.

A Resolução CNE/CEB, nº 02 de 28 de Abril de 2008 que “Estabelece diretrizes


complementares, normas e princípios para o desenvolvimento de políticas públicas de
atendimento da Educação Básica do Campo”.

O Decreto 6.040/2007 da Presidência da República, que institui a Política Nacional de


Desenvolvimento dos Povos e Comunidades Tradicionais, em particular, o Art. 3°,
Inciso V, que se refere à garantia e valorização das formas tradicionais de educação dos
Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil.

O Decreto nº 5.051 de 19 de Abril de 2004 que reafirma a ratificação da Convenção nº


169 da Organização Internacional do Trabalho sobre Povos Indígenas e Tribais,
sobretudo a Parte VI e, seus artigos referentes à Educação.

O Decreto nº 7.352 de 04 de Novembro de 2010, publicado no dia 05 de Novembro de


2010 no Diário Oficial da União que Dispõe sobre a política de Educação do Campo e o
Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA.

3. O MST – Processo histórico da luta pela terra no Brasil

O MST não é algo novo na história do Brasil. É o prosseguimento das lutas


camponesas, em uma nova etapa. Durante a Colônia até por volta dos anos 1800, os
índios e negros eram os protagonistas essa luta protegendo territórios invadidos por
bandeirantes e colonizadores. Já no final do século XIX e início do XX surgiram vários
movimentos camponeses entre eles temos: Canudos comandado por Antônio
Conselheiro.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra teve sua origem das
lutas visíveis que os trabalhadores rurais foram dilatando de forma isolada,
principalmente na região sul no final da década de 70. Nesse momento o Brasil vivia a
abertura política, pós-regime militar. Com isso a concentração da terra, a expulsão dos
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pobres da área rural e a modernização da agricultura prosseguiam, enquanto o êxodo


para a cidade crescia e a política de colonização embarcava numa crise terrível.
Seguindo este contexto surge nessa fase varias lutas que se articulavam aso poucos.
Dessa articulação se determina e se compõe o movimento sem terra, tendo como matriz
o acampamento da Encruzilhada Natalino, em Ronda Alta- RS, e o movimento dos
Agricultores Sem Terra do Oeste do Paraná.
A luta do MST visa três coisas fundamentais, são elas: a terra, a reforma
agraria e uma sociedade mais justa. Eles almejam a expropriação das grandes áreas nas
mãos de multinacionais, o fim dos latifúndios improdutivos, definindo uma área
máxima de hectares para cada propriedade rural, reivindica uma política agrícola
voltada para o pequeno produtor.
O movimento sem terra defende a autonomia para as áreas indígenas e é
contra a revisão da terra desses povos, ameaçados pelos latifúndios. Esta organizado da
seguinte forma: se faz presente em 24 estados da federação, fato que ilustra sua
representatividade em termos nacionais, faltando somente os estados de Amapá,
Amazonas, Roraima e Acre.
Em toda a historia do MST, foram conquistadas aproximadamente 2 mil
escolas publicas nos acampamentos e assentamentos em todo o pais, abrindo as portas
do conhecimento para 160 mil crianças e adolescentes Sem Terra.
Além disso, foram formadas mais de 4 mil professores, nesses últimos anos
foi desencadeado um trabalho de alfabetização de jovens e adultos que submerge a cada
ano 2 mil educadores e mais de 28 mil educandos. Mais de 50 mil pessoas já
aprenderam a ler e a escrever no MST, onde acode a escola independente de onde o
povo estiver. Eles buscam uma participação mais efetiva na construção do projeto da
escola.
O movimento sem terra chegou conclusão que para melhorar o processo de
reforma agraria é preciso elevar a escolarização dos trabalhadores.

DADOS SOBRE A EDUCAÇÃO NO MST

- Nos assentamentos e acampamentos - em torno de 2 mil escolas públicas


(estimativa feita a partir dos dados da PNERA, 2004)
- Destas 2.000 escolas, apenas 250 vão até o Ensino Fundamental completo e são 50
até o Ensino Médio. As demais, são até a 4a série.
- Atuam nessas escolas 10.000 professoras(es)
- Estudantes no MST beiram 300.000 pessoas, incluindo da Educação Infantil até a
universidade, passando pela EJA, cursos profissionalizantes. OBS.: muitos estudam
fora dos assentamentos, em escolas da cidade, especialmente de 5a a 8a série e mais
ainda no Ensino Médio. Não há dados concretos sobre isso.
- Parcerias com pelo menos 50 Instituições de Ensino, entre Universidades, Escolas
Agrotécnicas. Somando aproximadamente 100 turmas de cursos formais, num total
de mais ou menos 4.000 estudantes jovens e adultos.

4. Processos Educacionais no MST

O movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra(MST) é baseado


na luta pela reforma agrária, no reconhecimento do seu povo e na educação
racionalizada que surge juntamente com o desenvolvimento do movimento
social.
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Este tem o seu surgimento no período compreendido entre o ano de


1979 a 1984, inicialmente reinvindicando a desigual distribuição de terras nas
mãos dos proprietários rurais ,mas, atualmente, luta por igualdade de direitos e
deveres do seu povo, incluindo um igualdade educacional.
Aos poucos, a questão escolar tornou-se importante no desenrolar do
movimento e, de acordo com a história, o MST já confirma a participação de
mais ou menos 100 mil crianças e adolescentes nos processos educacionais dos
assentamentos.
Para os integrantes mais antigos do movimento, os conhecimentos
não são dados apenas pela escola formal, mas sim ensinados durante toda a vida
nos espaços rurais.
Além de mais de 100 crianças e adolescentes, há a formação da
educação infantil, também denominada de ciranda infantil, a qual aos poucos se
insere no movimento como trasmissores dos ideais dos sem terra. Também há a
formação de técnicos e de pessoas com nível superior em diversas áreas,
principalmente aquelas ligadas à terra.
Quando se discute a questão da educação no campo, há uma palavra
primordial para a construção da aprendizagem, qual seja: enraizamento.
Enraizamento refere-se à coletividade em movimento, ou seja, a construção do
processo anda de mãos dadas com a história do movimento dos trabalhadores
rurais.
Na verdade, o sujeito se torna políticoe social, a partir do momento
em que se insere no convívio dos assentamentos e participam na luta de classes e
na reconstrução do projeto de humanidade.
De acordo com as idéias de Pedro Teixeira(poeta, 1995) “ Cada vez
que caem cercas a sociedade é obrigada a olhar-se e a discutir o tamanho das
desigualdades, o tamanho da opulência e da miséria, o tamanho da fartura e da
fome.”
Logo, corrobora-se a noção de que a classe dominante só começa a
se preocupar com os mais desamparados a partir do momento em que estes se
organizam como movimento conciso, que luta por suas causas próprias de
classe.
O sujeito que pertence ao Movimento Sem Terra se torna um sujeito
pedagógico a partir da intencionalidade de suas ações, mesmo que não sejam por
inteiro conscientes.
A pedagogia insere-se neste movimento , modifica e adiciona
diversas formas de metodologias de aprendizagem. O ensino está totalmente
interligado com o processo histórico do MST.
Surge, então, a noção de escola, uma escola que não cabe nela
mesma, pois através de um ensino democrático, cria um ambiente educativo
saudável e prazeroso, que é capaz de prosseguir com os ideais construídos pelo
Movimento dos Trabalhadores Rurais.
Contrariamente a esta visão, Caldart (2000, p.200) afirma que:
Os movimentos sociais não têm sido figuras muito presentes nas teorias
pedagógicas, nem como sujeitos educativos, nem como interlocultores da
reflexão sobre educação. E os sem-terra, que representam além deles
mesmos, o conjunto dos camponeses ou, mais amplamente dos trabalhadores,
se até já foram vistos, em certa tradição pedagógica, como sujeitos de
práticas sociais educativas, de modo geral não costumam ser identificados
como sujeitos da pedagogia ou da reflexão pedagógica.
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Logo, percebe-se que mesmo sendo um movimento importante


dos trabalhadores rurais, ainda não é reconhecido como um processo educativo.
A proposta pedagógica do MST não é baseada na trasmissão de
conhecimentos, pois para ele através da educação se fortalecem as práticas e
ideais do movimento.
É na escola que estas práticas serão mais bem desenvolvidas,
através da ocupação das escolas pelo movimento dos sem-terra, na busca por seu
reconhecimento como sujeito social.
Ratificando esta idéia, Caldart (2000, p.139-140) diz que:
Quando ocupa uma escola em busca de formação, o sem-terra precisa
aprender a apropriar-se dela sem desapropiar quem nela já é o dono do
patrimônio que procura. A relação pedagógica não é uma relação de
dasapropriação, mas de apropriação compartilhada [...] Um outro
aprendizado está na transformação desta vivência coletiva de que a escola
pode ter relação com a luta e com a terra na efetiva atribuição de novos
significados à escola concreta, aquela em que cada família busca colocar seus
filhos para que tenham um futuro melhor [...] O terceiro aprendizado [...]
trata-se da descoberta de que sua vida no Movimento tem sido, de fato, uma
grande escola, e que através da luta já aprendeu muito mais coisas do que
lembra ter aprendido no seu tempo de escola formal.

Logo, para o movimento MST, lutar por uma escola tem a mesma
importância do que lutar por terras, pois o movimento luta pela baixa taxa de
analfabetismo nos assentamentos rurais.
E, para que esta escola surgi-se houve a mobilização das famílias
pelo direito à uma escola digna como confirma Caldart (2000, p.145): “ As
primeiras a se mobilizar foram as mães e professoras, depois os pais e algumas
lideranças do Movimento. Aos poucos, as crianças vão tomando também lugar, e
algumas vezes à frente, nas ações necessárias para garantir sua própria escola.
Este é, de fato, o nascimento do trabalho com educação escolar no MST.
Aos poucos, estruturou-se o Setor de Educação em 1988, através
do 1º Encontro Nacional de Educação, no Espírito Santo.
Hoje em dia, segundo Morissawa (2001, p. 246-247), “ a educação
no MST é realizada em 23 estados e tem como frentes o ensino fundamental,
ensino médio, educação de jovens e adultos, formação de professores e ciranda
infantil.”
Este movimento está em constante evolução e busca cada vez mais uma
educação que associe teoria e prática, uma educação voltada para o trabalho e pelo
trabalho, conteúdos formativos socialmente úteis e uma realidade na produção do
conhecimento.

5. O Assentamento Mártires de Abril – Mulheres do MST

O Assentamento Mártires de Abril teve surgimento no dia 03 de maio com a


desapropriação de uma fazenda improdutiva, localizada na Baía do Sol, Município de
Mosqueiro, que foi repassada a 600 famílias de trabalhadores Sem Terra no ano de
1999. O espaço total do assentamento tem forma de “L” sendo uma parte de frente para
a estrada que leva à Baía do Sol, destinada à moradia e a outra parte beirando a estrada
da Fazenda Paraíso, destinada à agricultura de subsistência (ambas áreas de turismo
praiano). Atualmente, após 13 anos de existência, o Assentamento conta somente com
85 famílias cadastradas e aproximadamente 60 famílias residindo no local.
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Ao longo de aproximadamente um mês procuramos contato com dirigentes


ou líderes comunitários de um assentamento qualquer nas proximidades de Belém.
Nossos objetivos se concentravam inicialmente no município de Castanhal, onde
sabíamos existir um assentamento com escola interna em funcionamento, porém, o
contato que conseguimos veio através de docentes da Universidade que haviam
desenvolvido atividades pedagógicas na localidade de Mosqueiro e nos puseram em
contato com Teófila e Viviane, lideranças do Assentamento Mártires de Abril.

Dona Ana

No dia 02 de junho tomamos o ônibus, na praça do Carananduba, que nos


levaria pela estrada da Baía do Sol. Descemos em frente ao antigo Bar Asa Branca, em
frente à igreja (1ª lombada, conforme indicação de Viviane, nosso contato no
Assentamento). Fomos orientados a seguir até o final do caminho de terra à esquerda da
igreja e procurarmos por Dona Ana. A estrada tinha aproximadamente 500 metros de
chão batido bordeada pela mata. A uns duzentos metros do final do trajeto encontramos
a placa que nos informou onde estávamos. A partir Dalí adentrávamos ao Assentamento
Mártires de Abril.
Depois de uma hora e meia aguardando em frente à casa de Dona Ana, a
recebemos retornando da igreja. Uma mulher de 69 anos, de estatura baixa, espirituosa e
muito falante, chegada ao movimento proveniente do Município de Vigia mas nascida
em Icoaraci. No relato de sua história, o MST chegou à ela através de uma reportagem
da televisão. Ela teria, então, deixado tudo, inclusive a família, para unir-se ao
movimento em uma tentativa de resgate de suas origens de relacionamento com a terra,
tendo inicialmente permanecido acampada em praça pública por 16 dias, até ser
beneficiada com o seu lote em 99. Sua família foi, então, trazida para o assentamento
onde possuem lotes próximos ao dela e contruiram suas casas.
Além de ter o respeito de todos pelo seu tempo e conhecimento dentro do
assentamento, Dona Ana nos era importante por ter concluído, recentemente, seu ensino
fundamental através de um Projeto Federal de Educação intitulado “Sim, eu posso”.
Apesar de ter relutado em um princípio, ela aceitou participar do projeto, por insistência
de Viviane, para não ser enganada por dirigentes e governantes.
Dona Ana nos contou que ao receber o lote o coordenador do seu núcleo de
assentados (cada núcleo conta com aproximadamente 10 famílias e um coordenador) lhe
pedira para assinar uma procuração em seu nome. Sem saber de que se tratava, Dona
Ana só não assinou o documento por mera intuição, quando o coordenador lhe informou
que a finalidade do documento era dar a ele plenos poderes para administrar sua terra e
o que ela produzisse. Assim começava a relação de Dona Ana com a educação dentro
do MST.
No relato sobre o curso que concluíra, Dona Ana nos contou que o projeto
era bom porque ensinava a fazer várias coisas como crochê e culinária, que lhe
permitiriam ter recursos financeiros durante o período de entresafra, mas que seu sonho
era ver reativada a Escola Paulo Freire que a Prefeitura de Belém havia fechado e
considerado desnecessária. Com lástima visível nos mostrou a trilha que levava para a
antiga escola, agora já coberta pela mata e informou que além desse haviam mais dois
lugares possíveis para reativação. Quando lhe perguntamos com quem era preciso falar
para reativar a escola ela, em sua simplicidade de conceitos respondeu: “Com os
moradores do assentamento, quando vocês vem?”.
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Viviane

Saímos de lá em companhia de Viviane para encontrar com Teófila, outra


fundadora do Assentamento e dirigente do grupo. Viviane é uma moça magra, de
estatura mediana e altamente observadora com aproximadamente vinte e seis anos.
Trazia consigo uma bebê de colo de uns 2 anos. A história dela com o MST era um
pouco diferente da de Dona Ana e, no caminho de retorno à estrada ela foi relatando
juntamente com outros fatos relevantes ao nosso trabalho. Seu contato com aquele
grupo específico se dera através da Pastoral da Terra, que lhe proporcionava visitas
constantes ao acampamento. Sendo assim, tinha 8 anos de convívio direto com os
assentados, mas não recordava os anos indiretos de luta junto ao MST.
Foi conversando com Viviane que soubemos que a mata ao longo da estrada
eram terrenos destinados ao uso comunitário, seja para plantio, atividades coletivas ou
construção de espaços. Também nos informou que o nome do Assentamento era uma
homenagem aos 19 mortos da Curva do S e que cada rua do assentamento recebera o
nome de um dos 19 mártires, além de alguns líderes populares como Ché Guevara.
Perguntamos, então, porque tantos assentados haviam abandonado o assentamento e ela
disse que eram vários os fatores, mas que o principal era porque muitos acreditavam que
era só ter a terra e plantar, não faziam ideia do trabalho que exige o cuidado da terra, da
necessidade de preparação do solo por ser uma área arenosa (o uso de adubo orgânico
exige um trabalho à parte), da compostagem e do tempo que levaria ter retorno desse
trabalho, então preferiram abandonar tudo.
Quanto à questão educacional, ela contou que não era tão fácil reativar a
escola. Por determinação da atual gestão da Prefeitura de Belém, a desativação
gradativa se concretizou logo após a posse do prefeito e que muito dessa situação se
devia a meras questões políticas: o assentamento havia sido uma realização do prefeito
anterior. O processo iniciou com a exigência de que as docentes lotadas na escola
fossem concursadas e não mais oriundas do próprio assentamento, como ocorria. Assim,
as docentes lotadas passaram a ser causa de conflitos por deixarem claro que não
entendiam dos interesses da comunidade ou não gostavam de estar ali. Esse foi o motivo
que faltava para concretizar o fechamento. A Prefeitura ainda argumentou que o fato de
existirem escolas estaduais nas redondezas, era desnecessário manter o funcionamento
da escola. A reativação só se daria através da SEDUC e da SEMEC e, mediante
determinação da Prefeitura de Belém.
Seguimos o trajeto inverso ao percorrido pelo ônibus até a altura da estrada
para a Fazenda (praia) Paraíso, quando entramos para chegar ao outro ponto do
assentamento: os terrenos para produção, onde encontraríamos Teófila. Após caminhar
aproximadamente 20 minutos, passamos pela Escola Estadual onde estudam as crianças
maiores de 9 anos residentes no assentamento. Além de não ser assim tão próxima do
assentamento e dos perigos da estrada que não possui acostamento, o que impede o
trajeto a pé, o ônibus escolar enviado pela Prefeitura não abrange todas as crianças,
principalmente as menores, que seriam destinadas à educação Infantil.

Teófila

Pela estrada da Fazenda (praia) Paraíso caminhamos aproximadamente meia


hora até chegarmos a uma casa sítio onde fomos recebidos por Teófila. Percebemos
muitas mudas de plantas ornamentais dispostas sobre um balcão ao lado da casa, um
banner sobre o assentamento na parede, um mapa do Brasil e, ao fundo, em uma casinha
que servia de depósito, uma bandeira do MST. Alguns homens estavam reunidos aos
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fundos da casa. Havíamos sido informados por telefone, por Teófila, que era uma
reunião de planejamento e formação.
Teófila é uma mulher de baixa estatura, séria e direta, mas muito atenciosa.
Nos recebeu na área lateral da casa. Estava no Movimento desde 99, mas antes havia
sido funcionária pública em Ananindeua. Por roubos constantes ocorridos no terreno,
decidira se mudar em 2005, passando a residir no lote para plantio, onde cultivava
legumes, hortaliças e plantas ornamentais para venda. Também iniciara piscicultura e
criação de animais (galinhas e patos). Seu contato com o MST se deu ao hospedar em
sua casa integrantes do movimento, passando a se identificar e apoiar a causa.
Em seu relato, contou que anos atrás houve um incêndio que destruiu o seu
terreno e os terrenos próximos, quando então eram contemplados pelo CONAF. As 10
famílias que formavam o seu núcleo não receberam ajuda por parte da Prefeitura e
terminaram perdendo o projeto e os 12.000 reais que lhes eram destinados. Contou
ainda que a comunidade possuía um barco de pesca à disposição mas que era impossível
que todas lograssem usufruir dos resultados de sua utilização, sendo assim, após três
anos de recuperação do terreno arenoso e queimado, estavam conseguindo vender
excedentes (açaí, cupu, banana, acerola).
Na questão educacional, reforçou a importância de reativação da escola
como instrumento de manutenção da identidade do Movimento, mas também como
espaço de atuação dos profissionais de Pedagogia e Licenciaturas, formados fora da
comunidade e que retornavam para atuar internamente, igualmente aos agrônomos,
assistentes sociais, técnicos de saúde e de comunicação que se encontravam já em
exercício no assentamento. Reclamou da proximidade com a praia – particularidade
desse assentamento – que urbaniza os jovens da comunidade trazendo outros valores e
objetivos, desvinculados do Movimento.
Segundo ela, muitos ex-assentados, ao abandonarem seus terrenos devido à
dificuldade no trato com a terra, passaram a viver da venda de coisas diversas na praia,
fortalecendo a economia pontual do mês julho e deixando seus terrenos abandonados.
Ao ser indagada sobre como esses valores e ideais do Movimento estavam
sendo propagados diante da perda da escola, ela respondeu (citando Freire) que
ocorriam do convívio com os mais velhos, no momento do trabalho e do treinamento
para o preparo da terra e dos encontros de formação realizados anualmente, como era o
caso do Encontro dos Sem-Terrinha”, para crianças com mais de 12 anos, onde era
trabalhada a mediação de leitura e a contação de histórias relacionadas ao movimento.
Esclareceu que no início do assentamento a escola era itinerante, como
ocorre em todos os assentamentos do MST e que atendia de acordo com as prioridades
educacionais. Estava conveniada ao “Projeto Casulo”, com parcerias entre prefeitura
Municipal de Belém - PMB, INCRA e o MST. À Prefeitura cabia inicialmente a
desapropriação e o pagamento ao proprietário. Ao INCRA correspondia a instalação de
créditos (CONAF) para habitação e equipamentos. Posteriormente a prefeitura retomava
sua participação fornecendo infraestrutura e assistência técnica através da SECON.
Quando foi efetivada, estava funcionando com crianças de 3 e 4 anos, as educadoras e
merendeiras eram do assentamento e possuíam um agrônomo contratado, mas a
prefeitura alegou que haviam poucas crianças sendo atendidas e lotou professores que
desconheciam a realidade da comunidade. Por várias vezes haviam tentado falar com o
prefeito e negociar com a SEDUC, mas simplesmente não foram atendidos.
Para ela, o sonho educacional do assentamento vai além do atendimento às
crianças e adolescentes da comunidade, se concentra no fortalecimento da Educação de
Jovens e Adultos – EJA, erradicando o analfabetismo e dando aos mais antigos a
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possibilidade de conclusão de seus estudos paralisados e, desta forma, resgatando os


objetivos e lutas do MST.
A experiência obtida da visita ao Assentamento Mártires de Abril superou
nossas expectativas. Para quem espera encontrar apenas um exemplo do processo
educacional do Movimento Sem Terra, tivemos a grata experiência de deparar-nos com
um espaço onde a educação do cotidiano, dos ambientes não-escolares, precisou se
processar com muito mais intensidade para garantir a manutenção da identidade dos
sujeitos envolvidos. Diante da problemática política que lhes nega o respeito às
especificidades educacionais, a comunidade mantém suas ideologias firmadas em
encontros de formação de jovens e adultos, através das experiências transmitidas no
meio familiar e da graduação de seus integrantes, o que lhes garante o retorno
profissional comprometido com a causa e com a realidade local.
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Referências Bibliográficas

MST (site). Educação: Uma bandeira histórica do MST. Disponível em:


http://www.mst.org.br/node/1050 Acessado em: 10/06/12

CALDART, Roseli Salete. Pedagogia do Movimento Sem Terra: Escola é mais do que
escola. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

_____________________. (Org). Princípios da Educação no MST. Produção-setor de


educação do MST. Caderno 08,3ª ed. São Paulo, 1999.

Arroyo, Miguel Gonçalez e FERNANDES, Bernardo Mançano. A educação básica e o


movimento social do campo. Coleção: Por uma educação básica do campo - vol.02.
Brasília - DF: Articulação Nacional por uma Educação Básica do Campo, 1999.

CARDOSO, Ruth Corrêa Leite. Movimentos Sociais na América Latina. Disponível


em: http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_03/rbcs03_02.htm Acessado
em: 17/06/12

SILVA, Washington Luiz Alves da. Os Movimentos Sociais no Brasil. Disponível em:
http://www.geomundo.com.br/geografia-30197.htm Acessado em: 08/06/12

A Legislação, documentos e a trajetória da Educação do Campo. Disponível em:


http://www.nre.seed.pr.gov.br/paranagua/arquivos/File/legislacao_documentos_trajetori
a_educampo.pdf Acessado em: 19/06/12
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Anexos

Foto 01 Foto 02

Foto 03 Foto 04

Foto 05 Foto 06
Foto 07 16

Foto 08

Foto 09

Foto 10

Foto 11 Foto 12
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Foto 1 – Estrada de acesso ao Assentamento (Baía do Sol)


Foto 2 – Caminho de chegada e saída do assentamento
Foto 3 – Entrevista com Teófila e Viviane
Foto 4 – Reconhecimento do terreno de produção
Foto 5 – Área do terreno ainda não-trabalhada
Foto 6 – Placa de identificação do Assentamento
Foto 7 – Dona Ana (69 anos)
Foto 8 – Viveiro de plantas e hortaliças (produtos para venda e consumo)
Foto 9 – Banner do Assentamento (apresentação do Movimento em evento)
Foto 10 – Lago artificial para piscicultura
Foto 11 – Estrada de acesso aos terrenos de produção agrícola (Fazenda Paraíso)
Foto 12 – espaço de criação de animais.

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