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SEMANA 20

REVISÃO DE CONCEITOS
Neste material, estão explicados os principais conceitos que foram estudados nas propostas deste semestre. Os termos sublinhados são
palavras-chave referentes a cada um desses conceitos. Nas caixas de texto, estão citações que foram extraídas das coletâneas. São excertos que
poderão ser utilizados em redações sobre diferentes temáticas.

CONCEITO 1 CIDADANIA
Para definir cidadania, há duas palavras-chave: direitos e deveres.
Assim, os indivíduos que desconhecem seus direitos e, por isso, não os ANOTE A CITAÇÃO!
reivindicam, bem como aqueles que não cumprem seus deveres, podem ser
qualificados como cidadãos imperfeitos. 1) No tratado A Política, Aristóteles afirma: “Aos cidadãos é bom saber
Esses direitos são: a vida, a educação, a saúde, a militância em prol de igualmente mandar e obedecer”.
causas ou partidos, o trabalho livre e assalariado. Além disso, há toda uma 2) O cientista político brasileiro José Murilo de Carvalho apresenta o
variedade de direitos civis instituídos por cada país. As desigualdades sociais conceito de “estadania”, em contraposição com a noção de cidadania,
podem fazer com que apenas certos grupos tenham acesso aos direitos como forma de ressaltar que, no Brasil, o Estado constitui-se como
assegurados pela Constituição. instância de exercício de poder em vez de se mostrar como espaço de
Os deveres são: fomentar os direitos, ser responsável pela coletividade, representação social.
cumprir as normas, participar do governo (votando, participando de
movimentos sociais etc.).

“Uma república sem cidadãos de boa reputação não pode existir nem
ser bem governada”
Maquiavel (político e escritor italiano, 1469-1527)

CONCEITO 2 ESTADO
O Estado surge como força necessária para a constituição da sociedade
civil, retirando o homem do estado de natureza mediante o estabelecimento ANOTE A CITAÇÃO!
do contrato social, como escreveram os pensadores contratualistas, como os
filósofos ingleses Thomas Hobbes (1588-1679) e John Locke (1632-1704) e 1) Para Locke, “"a liberdade de um indivíduo na sociedade não deve
o filósofo francês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). estar subordinada a qualquer poder legislativo que não aquele
Instituída a sociedade civil, o contrato social requer que o Estado estabelecido pelo consentimento na comunidade".
garanta o exercício da cidadania, como Estado Democrático de Direito, cuja 2) Rousseau, ao falar sobre a divisão dos poderes, diz: “O princípio da
base é o respeito às liberdades civis, ou seja, o respeito aos direitos vida política está na autoridade do soberano: o poder legislativo é o
humanos e às garantias fundamentais, através do estabelecimento de uma coração do Estado, o poder executivo o cérebro que dá movimento a
proteção jurídica. todas as partes.”
Estado mínimo é um modelo de Estado proposto pelo liberalismo, em
que o Estado deve prover apenas o mínimo de garantias sociais, já que os 3) O cientista político Liz Carlos Bresser-Pereira, há uma distinção entre
indivíduos buscariam pelo maior bem-estar possível nos mercados, e isso o Estado democrático (se há legitimidade e eleições livres) e o regime
seria bastante para que seus direitos fossem garantidos. Estado máximo é político democrático (se a sociedade civil é igualitária). Além disso, diz
um modelo em que o Estado controlaria ao máximo a atuação dos mercados que a ação do Estado é “sempre o resultado da representação de
para, assim, promover o bem-estar social. Nessa tensão entre Estados e interesses em conflito”.
mercados, cada governo busca se posicionar de maneira diferente sobre
esse impasse através de políticas econômicas.

“Aprender a dominar é fácil, mas a governar é difícil.”


Goethe (escritor alemão, 1749-1832)
CONCEITO 3 CENTRO E PERIFERIA
A segregação urbana gera desigualdade e dominação social, e é
pensada principalmente em termos de centro vs periferia, que são ANOTE A CITAÇÃO!
denominações geopolíticas:
★ O centro não é apenas o centro geográfico, mas é também onde Carolina de Jesus, escritora negra da favela que foi catadora de papéis,
se encontram os aparelhos estatais e a concentração de poder e fala sobre a dicotomia centro-periferia em seu livro Quarto de Despejo:
de renda. “[...] em 1948, quando começaram a demolir as casas térreas para
★ A periferia, da mesma maneira, não é apenas geográfica, mas é construir os edifícios, nós, os pobres que residíamos nas habitações
onde os aparelhos estatais são escassos (como escolas, coletivas, fomos despejados e ficamos residindo debaixo das pontes. É
delegacias, instituições públicas) e a renda da população é mais por isso que eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma
baixa, se comparada ao centro. cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos.”

CONCEITO 4 LUGAR DE FALA


Lugar de fala é a posição de onde olho para o mundo, é o limite que
mostra que, por mais que se tenha consciência das opressões que não são ANOTE A CITAÇÃO!
minhas, as minhas experiências não são o suficiente para falar pelos outros.
Toda pessoa tem um lugar de fala, porque esse é o espaço de sustentação No livro A ordem do discurso, o filósofo francês Michel Foucault
da singularidade, o espaço de expressar a existência de um ser de diferença. apresenta o conceito de “interdição”, nome dado às barreiras que são
Como afirma a filósofa brasileira Márcia Tiburi: “Até mesmo Descartes ao importas aos discursos de oposição ao poder instituído. Segundo
escrever „penso, logo existo‟, fez uso de um lugar de fala. O lugar de fala é Foucault, existem três tipos de interdição:
fundamental para expressar a singularidade e o direito de existir. [...] Não é 1) tabu do objeto ou palavra proibida: há determinados assuntos dos
possível falar do lugar de fala sem pressupor o diálogo enquanto quais não podemos falar, que não podem entrar em nosso discurso.
reconhecimento do outro. [...] O lugar de fala é o lugar democrático em Entre esses assuntos, os dois principais são a sexualidade e a política.
relação ao qual precisamos de diálogo, sob pena de comprometer a luta.”
Respeitar o lugar de fala do outro implica um movimento de 2) ritual da circunstância: há determinados discursos que só podem ser
reconhecimento e empatia, ou seja, um movimento de identificação com o anunciados em determinadas ocasiões.
direito de existir daqueles com quem convivemos. Quando respeitamos o
3) direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala: há determinados
lugar de fala de nosso semelhante, facultamos que ele exerça efetivamente o
discursos que só podem ser proferidos por determinados sujeitos.
direito à fala segundo sua existência no mundo.
CONCEITO 5 SEXO, GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL
O sexo biológico define-se pela constituição da genitália, resultante da
combinação de cromossomos, em macho e fêmea. Os indivíduos com os ANOTE A CITAÇÃO!
dois órgãos genitais são caracterizados como intersexuais.
A ideia de identidade de gênero refere-se a como você se enxerga e se 1) Judith Butler, filósofa americana que fundamentou a Teoria Queer,
sente, ou seja, refere-se ao gênero com o qual se identifica. Numa visão diz, em Problemas de Gênero, que as identidades e categorias podem
binária, distinguem-se apenas dois gêneros: “homem” e “mulher”. Contudo, funcionar como “instrumentos de regimes reguladores, sejam como as
existem pessoas que se identificam com mais de um gênero, como as categorias normalizadoras de estruturas opressivas ou como pontos em
travestis, e pessoas que não se identificam com gênero nenhum. comum para uma contestação liberadora dessa mesma opressão.”
A expressão de gênero é como a pessoa manifesta publicamente sua 2) Para Axel Honneth, filósofo e sociólogo alemão, “o amor é a forma
identidade de gênero, seja por nome, roupas, corte de cabelo ou voz. Nem mais elementar de reconhecimento”.
sempre a expressão de gênero de cada pessoa corresponde a seu sexo
biológico.
A orientação sexual refere-se a por quem você sente atração. As pessoas que sentem atração pelo sexo “oposto” são heteroafetivas, as pessoas que
sentem atração pelo mesmo sexo são homoafetivas e as pessoas que sentem atração pelos dois (ou mais) sexos são biafetivas.

“O amor é a capacidade de se perceber o semelhante no


dessemelhante”
Theodor W. Adorno (filósofo alemão, 1903-1969)

CONCEITO 6 IDENTIDADE
Após a Revolução Industrial, a sociedade ocidental passou mudanças
socioculturais que fizeram com que as identidades vigentes, únicas e coesas, ANOTE A CITAÇÃO!
tão fáceis de lidar, fossem questionadas e começassem a ser descontruídas.
Para Stuart Hall, esse é o descentramento do sujeito no mundo atual. Há Na discussão sobre a identidade de homens e mulheres no mundo
várias perspectivas sobre isso: contemporâneo, é preciso considerar a noção de dominação masculina,
1) Marx: há condições sociais para que a identidade exista. que, para Pierre Bourdieu, é vista em seu aspecto simbólico, pautada:
2) Freud: a identidade está diretamente ligada ao inconsciente, sem controle 1) em uma dissimulação das relações de força que sustentam a própria
pelo indivíduo. força: por exemplo, ao se negar a dominação de uma ideologia
3) Foucault: há um poder para disciplinar e docilizar o corpo, para que seja masculina, rica, branca, cristã e heterossexual, considerando as
mais facilmente controlado. consequências desse domínio como fatos meramente naturais.
4) Feminismo: coloca em questão o que é público e o que é privado, e pensa
nos direitos das mulheres e outros grupos marginalizados. Assim, questiona 2) em um modo de pensar pautado pelas dicotomias e oposições: o
as identidades pré-estabelecidas, inclusive do que é ser homem e mulher. mesmo processo se opera em alto/baixo, rico/pobre, claro/escuro etc.
3) na crença de termos a liberdade de pensar alguma coisa:
esquecemos que nosso pensamento está marcado por ideias alheias.

“O sujeito, previamente vivido como tendo uma identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado; composto não de
uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não resolvidas.”
Stuart Hall (teórico cultural e sociólogo jamaicano, 1932-2014)
CONCEITO 7 AUTONOMIA E ALIENAÇÃO
O ser humano é um animal que trabalha, ou seja, altera o estado natural
das coisas. Esse trabalho é mediado por uma série de relações sociais e ANOTE A CITAÇÃO!
econômicas, que nos constituem como sujeitos e faz emergir os conceitos
de autonomia e alienação. Karl Marx, filósofo e economista alemão, conceitua a alienação em seus
Para Hannah Arendt, as atividades da vida ativa do ser humano são o Manuscritos econômicos e filosóficos:
labor, o trabalho e a ação: “O que constitui a alienação do trabalho? Primeiramente, ser o trabalho
1) Labor: atividade relacionada às necessidades básicas e vitais do homem externo ao trabalhador, não fazer parte de sua natureza, e, por
como animal laborans. conseguinte, ele não se realizar em seu trabalho, mas negar a si
2) Trabalho: atividade de produção artificial do homem como homo faber. mesmo, ter um sentimento de sofrimento em vez de bem-estar, não
3) Ação: atividade que faz o homem expressar-se como singular, como desenvolver livremente suas energias mentais e físicas mas ficar
artífice da pluralidade social. A ação é o que faz o homem ser “ele mesmo” fisicamente exausto e mentalmente deprimido. O trabalhador, portanto,
como sujeito. só se sente à vontade em seu tempo de folga, enquanto no trabalho se
O conceito de ação é muito próximo ao conceito de autonomia para sente contrafeito. Seu trabalho não é voluntário, é imposto, é trabalho
Kant, que é a “capacidade da vontade humana de se autodeterminar forçado. Ele não é a satisfação de uma necessidade, mas apenas um
segundo uma legislação moral por ela mesma estabelecida”. meio para satisfazer outras necessidades.”

"Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de


teu próprio entendimento, tal é o lema do
esclarecimento.”
Immanuel Kant (filósofo alemão, 1724-1804)

CONCEITO 8 LIBERDADE E CENSURA


Ao longo da história do Brasil, muitas obras de arte foram censuradas por
questionarem os regimes vigentes. Isso ocorreu na Colônia, no Império, na ANOTE A CITAÇÃO!
República, na Era Vargas e na Ditadura Militar. Heitor Martins, diretor do MASP, disse na Folha de São Paulo em
A atual Constituição Federal assegura a liberdade artística e de ocasião da abertura da exposição Histórias da Sexualidade:
expressão, mas não deixam de ocorrer boicotes e censuras a quadros, “Não existem verdades absolutas. As fronteiras do que é moralmente
performances e livros. aceitável deslocam-se a toda hora e no decorrer da história. Esculturas
Essas manifestações, contrárias ou a favor, também colocam em questão clássicas, hoje consideradas símbolos da arte europeia, não poucas
a noção de arte. Seria arte apenas o que já é consagrado como arte? O que vezes tiveram seus sexos tapados por folhas de parreira e outros
está no museu? Ou a arte teria também a capacidade de questionar a ordem subterfúgios. Também os costumes variam entre culturas e civilizações.
vigente? Essas perguntas devem ser respondidas a cada nova geração. [...] O único dado absoluto, do qual não podemos abrir mão, é o respeito
ao outro e o necessário diálogo.”

CONCEITO 9 SOCIEDADE DO CONSUMO E DO ESPETÁCULO


Para Guy Debord, sociedade do espetáculo é uma sociedade em que todas
as relações sociais são mediadas por imagens. Ela está muito associada ao ANOTE A CITAÇÃO!
capitalismo e ao marketing, mas também existia no feudalismo, com a diferença
de vestuário entre a nobreza e o campesinato. O filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017) fala sobre a noção
Esse tipo de sociedade implica em uma visão sobre a felicidade, muito atual de felicidade: “Definir o que significa ser feliz é muito complexo.
próxima do ideal do mercado, que sempre busca criar novas expectativas nos A própria ideia de felicidade parece conter em si o pressuposto da
consumidores. Nesse contexto, acontece o que sintetiza esta frase do escritor sua não existência no mundo. A felicidade deve ser conquistada,
inglês George Orwell (1903-1950), “a massa mantém a marca, a marca mantém mas, no nosso sistema de consumidores, vendem-se promessas de
a mídia e a mídia controla a massa.” algo que nos fará nos sentirmos melhor.”
| PAUSA PARA FRUIÇÃO |

A SÁTIRA DA SOCIEDADE
ATUAL
Por Gerhard Haderer
(cartunista e caricaturista austríaco)

| Hoje há mais mortes por selfie que por ataques de tubarão |

| Vamos nos encontrar? |


| Um dia na praia |
| Infância |

| Felicidade |

“Toda a vida das sociedades


em que dominam as
condições modernas de
produção aparece como uma
imensa acumulação de
espetáculos.“
Guy Debord (escritor, ensaísta e
cineasta francês, 1931-1994)

| Tempo em família |

CONCEITO 10 INDÚSTRIA CULTURAL


Indústria cultural foi um termo cunhado pela Escola de Frankfurt, tendo
como expoente os filósofos alemães Theodor Adorno e Max Horkheimer. ANOTE A CITAÇÃO!
Essa expressão fala da manipulação das consciências pelos meios de
comunicação, não apenas pelos conteúdos (o que é dito), mas pelas formas Noam Chomsky, filósofo e ativista americano, faz o seguinte
(como é dito). A técnica da indústria cultural inclui a produção em série e a questionamento em seu livro Mídia: propaganda política e manipulação:
padronização da vontade e da percepção. “Considerando o papel que a mídia ocupa na política contemporânea,
Esse conceito nos leva, também, para discussões sobre a liberdade de somos obrigados a perguntar: em que tipo de mundo e de sociedade
imprensa, assegurada pela Constituição Federal de 1988, e sobre a queremos viver e, sobretudo, em que espécie de democracia estamos
regulamentação da mídia, proposta por alguns setores da sociedade civil. pensando quando desejamos que essa sociedade seja democrática?”
“Cada manifestação particular da indústria cultural reproduz os homens como aquilo que foi já produzido
por toda a indústria cultural.”
Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973)

CONCEITO 11 SUJEITO E PERSONA


Foucault afirma que “"Há dois sentidos para a palavra 'sujeito': sujeito
submetido ao outro, através do controle e da dependência, e sujeito preso à ANOTE A CITAÇÃO!
sua própria identidade, através da consciência ou do conhecimento de si. Em
ambos os casos, essa palavra sugere uma forma de poder que subjuga e 1) Bauman, em uma entrevista, fala sobre as amizades em um
assujeita”. contexto de Facebook: “”Então, romper relações é sempre um evento
Valendo-se da submissão da subjetividade, as redes sociais criam uma muito traumático [...] É difícil, mas na internet é tão fácil, você só
união entre público e privado, fazendo com que a persona (conceito criado por pressiona um delete e pronto”.
Carl Jung para definir a personalidade que o indivíduo apresenta aos outros 2) Tom Zé, artista brasileiro, fez uma música sobre a facilidade de
como real) se misture com o sujeito. acusar outras pessoas nas redes sociais e cunhou o termo Tribunal do
Nesse contexto, uma possível consequência da difusão das redes sociais
Facebook.
seria o afastamento das pessoas das comunidades e dos laços humanos,
como proposto por Bauman. Outro efeito também seria a disseminação de
notícias falsas, já que os conceitos de popularidade e de verdade estão fundidos.

“Nenhuma sociedade que esquece a arte de questionar pode esperar encontrar respostas para os
problemas que a afligem.”
Zygmunt Bauman (filósofo polonês, 1925-2017)

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