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23/04/2019 Fujimori, Alberto — Enciclopédia Latinoamericana

Fujimori, Alberto
Lima (Peru), 1938
Heraclio Bonilla
Presidente do Peru entre 1990 e 2000, Alberto Ken’ya Fujimori é filho de imigrantes japoneses,
vindos de Kumamoto, Japão, em 1934. Antes de entrar na disputa eleitoral em 1989 com uma
ambígua coalizão de nome Cambio 90, Fujimori lecionou matemática na Universidade Agrária La
Molina desde 1962, foi decano da Faculdade de Ciências e reitor da Universidade entre 1984 e
1989, cargo que compartilhou com a presidência da Assembleia Geral de Reitores. Depois de
formar-se em engenharia agrônoma, pós-graduou-se em física pela Universidade de Estrasburgo,
na França, em 1967, e em matemática pela Universidade de Wisconsin, onde se tornou mestre
em 1969.
A condução do programa político Concertando nas telas da tevê confirmou suas habilidades de
manipulador e mediador adquiridas no terreno da política universitária. Nos derradeiros e
catastróficos anos do governo aprista de Alan García Pérez, a disputa eleitoral centrava-se na
maneira de enfrentar a crise. A candidatura de Mario Vargas Llosa e da Fredemo (Frente
Democrática) defendia a aplicação completa de uma profunda política de estabilização; a de
Fujimori enfatizava que essa não seria sua opção, embora nunca tenha detalhado o que faria. O
medo dos efeitos negativos da política da Fredemo sobre o vulnerável tecido social do Peru,
associado à arrogância de Mario Vargas Llosa, explica a vertiginosa ascensão de um
desconhecido como Fujimori na preferência dos eleitores, chegando a alcançar no primeiro turno
30,7% do total dos votos, resultado imprevisível mesmo para o próprio candidato. Diante do
desinteresse de continuar debatendo e do pressentimento de derrota de Mario Vargas Llosa,
Fujimori recrutou assessores que, da noite para o dia, montaram um improvisado programa de
governo.
Contrariamente às suas promessas eleitorais, nos primeiros dias de seu governo implementou o
“fujichoque” que aumentou o volume de pobres em 70% num só dia. Continuou com um
programa de estabilização traduzido no leilão de empresas públicas, na demissão de
trabalhadores, no congelamento dos salários e dos gastos com saúde e educação pública.
Aproveitando o descrédito do Congresso e do Poder Judiciário, assim como a corrupção, a
incompetência e a ignorância dos seus membros, produziu em 1992 um “autogolpe”, que
resultou no fechamento de ambos. Ante a tímida pressão internacional, reabriu-os com novos
integrantes, e a opinião pública constatou que eram iguais ou piores que os anteriores.
Com o desaparecimento dos partidos políticos e a fragmentação completa da sociedade civil,
Fujimori praticou uma “democracia” plebiscitária, que punha o líder em contato direto com as
massas, sem mediação alguma; para tanto, o uso e o abuso dos recursos do Estado foram
condição indispensável para garantir lealdade. Contando apenas com o apoio irrestrito das
Forças Armadas, do capital financeiro e industrial nativo, estabeleceu um regime prepotente e
arbitrário, sobre uma população isolada pela crise e deslumbrada com a derrota do Sendero
Luminoso e do Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA), e com o controle efetivo da
inflação. Esse contexto ainda explica, com a cumplicidade do sócio Vladimiro Montesinos e de
muita gente inescrupulosa, a transformação do roubo e da violação aos direitos humanos em
políticas de governo.
A crise e o ostracismo dos partidos políticos peruanos e latino-americanos nas duas últimas
décadas foram resultados da contradição entre sua prédica pública, em favor da democracia, e
de práticas partidárias autoritárias, e também do fracasso dos governos diante dos problemas da
população. Emergiram assim autênticos outsiders, que, com o pretexto de serem técnicos, não
comprometidos com a maquinaria partidária, buscaram a preferência e o apoio dos eleitores,
criando coalizões ad-hocna véspera da disputa que desapareciam no dia seguinte. O candidato-
presidente, por conseguinte, continuava livre de prestar contas das promessas feitas aos seus
eleitores e não contava com um partido que fiscalizasse seus atos.

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23/04/2019 Fujimori, Alberto — Enciclopédia Latinoamericana

No final de 2000, mediante o estouro de um escândalo de corrupção no país, Fujimori fugiu para
Tóquio, de onde enviou sua renúncia por fax. O congresso peruano não a aceitou e destituiu-o à
revelia. Sua dupla nacionalidade, a peruana e a japonesa, e a ausência de um tratado de
extradição entre os dois países fizeram-no escapar. Em novembro de 2005, durante viagem
ao Chile, foi detido em Santiago, onde permaneceu por seis meses, até ser extraditado e levado à
justiça no Peru. O julgamento começou em 2007, somou noventa audiências e terminou em abril
de 2009, quando o ex-presidente foi declarado culpado pelo Tribunal Criminal Especial da
Suprema Corte do país e sentenciado a 25 anos de prisão por diversos crimes, entre eles
corrupção, formação de quadrilha, sequestro e assassinato.
Em 2015, Fujimori cumpria sentença numa prisão em Lima e esperava pela resposta ao seu
pedido de perdão humanitário dirigido ao presidente Humala Ollanta. Apesar da condenação, o
ex-mandatário ainda conta com milhares de seguidores, que transformaram sua filha, Keiko
Fujimori, do partido Aliança para o Futuro, na parlamentar mais votada do país nas eleições de
2006. Keiko concorreu à presidência em 2011, foi ao segundo turno e perdeu por margem estreita
de votos. 

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