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Patricia Roncatti Bomfim

Curso : Letras – Bacharelado Noturno


Disciplina : Teoria da Literartura

Conceitos da Teoria Literária segundo o livro Teoria Literária I, de Regina Zilberman

No âmbito da Teoria da Literatura , ambos os autores , René Wellek e Austin


Warren, teóricos do séc. XX , colocam a Literatura como obra de arte e o principal objeto
da Teoria Literária. Segundo eles, os estudiosos devem debruçar-se sobre a obra literária
de forma objetiva, segundo sua estrutura formal.

As duas principais vertentes vigentes na primeira metade do século XX foram a


vertente Estruturalista, com foco na construção da obra literária (Formalismo russo no
início do século XX e Estruturalismo Tcheco da década de 30 do mesmo século) e a
vertente mais socialista, que considerava o indivíduo um produto de seu meio sócio-
cultural e baseava-se principalmente nas idéias deterministas de Hippolyte Taine.

A partir da segunda metade do século XX, principalmente depois de 1970, a Teoria


da Literatura torna-se cada vez mais abrangente, incluindo a comunicação de massa, a
literatura de gênero, os fenômenos literários ligados a linguagens como a televisão, o
cinema, os quadrinhos e variadas expressões culturais.

Para Antônio Cândido, por exemplo, a constituição de uma obra literária é feita
tanto dos aspectos extraídos da realidade na qual se insere, quanto do contexto interno de
sua composição. Ele advoga que a obra literária é um todo, que contém dentro da obra em
si a expressão de seu entorno, sendo impossível dissocia-los.

O fator fundamental de aceitação para uma obra literária é sua verossimilhança,


que faz com que o leitor seja capaz de entender e penetrar o universo criativo do autor, por
mais fantástico que este seja. No entanto a noção de Literário foi modificando-se ao longo
do tempo. Até o século XVIII, a Poética, de Aristóteles, normatizou o que era literário,
impondo regras específicas aos autores. No século XIX, os românticos rompem com as
regras da Poética e priorizam sobretudo a subjetividade, o universo do autor. Em seguida o
Naturalismo expõe, na obra literária, os regionalismos e realidades sociais vigentes,
enquanto que o Modernismo vem romper com todos eles, exaltando as vanguardas e a
experimentação, quer o público as acolha ou não.

Nos fragmentos do pré-socrático Xenófanes e mais tarde em Platão e Aristóteles


encontramos o conceito de MÍmesis, que sustenta que um grupo tende a representar-se,
seja oralmente ( na Mitologia ) ou em suas obras literárias com as características que lhe
são próprias, incluindo aquelas físicas, que podem, inclusive, descrever as deidades desse
mesmo grupo.
No livro X de a República, Platão leva esse conceito além. Considerando que toda
arte era por si uma imitação, que representava a cópia de um objeto pré-existente em um
mundo ideal, a Poética seria a imitação da imitação ou uma imitação de segunda
categoria. Foi Aristóteles, mais tarde, quem resgatou a dignidade da Poesia, colocando-a
como Mímesis, no sentido de representação, criando os critérios de mímesis por meios
diferentes, objetos diferentes e maneiras diferentes. Os contemporâneos Roselyne Dupont-
Roc e Jean Lallot entendem esse conceito aristotélico de Poética como mímesis poética,
onde toda fala, ação e drama imitam a realidade humana.

O formalista russo V. Chvloski incorporou à Teoria da Literatura os conceitos de


procedimento e estranhamento, em que o autor utiliza técnicas e artifícios para tornar a
obra de arte um objeto independente, que criando uma entidade nova e original, causa um
estranhamento no leitor. Tanto ele, como os demais formalistas russos, recusavam a idéia
de que a arte mimetiza a realidade e defendiam que o público deveria encontrar na obra
um tipo de estranhamento como quando se vê algo pela primeira vez.

O estruturalista Jan Murakovski, por sua vez usou os conceitos de estrutura e


norma estética. Por estrutura entende-se os diferentes elementos que constituem uma
unidade orgânica, onde qualquer modificação em um dos elementos altera o todo e por
norma estética dá-se a noção de que a literatura é dominada por normas de todos os tipos
: sociais, religiosas e estéticas. Daí a sua inclusão, segundo seus elementos dominantes
em gêneros, como romance, prosa, conto, poesia, literatura, não literatura. Ambos,
formalistas e estruturalistas rejeitam a História da Literatura e a Literatura Comparada,
insistindo no conceito da construção dos textos artísticos e estudando a obra por si
mesma.

Enquanto estrutura, o obra literária constitui-se em dois eixos : o eixo


paradigmático e o eixo sintagmático. O primeiro caracteriza-se pelas repetições que podem
acontecer no nível fonológico, rítmico e gramatical ; seus componentes são as repetições
fônicas intencionais, as repetições rítmicas dadas pelo metro, a rima que dita o ritmo mas
também executa função semântica, etc. O segundo caracteriza-se por como se dão as
combinações dentro de um texto artístico. Seus componentes são o recorte da realidade
que delimita seu próprio universo, a configuração espacial, a trama, as personagens, o
ponto de vista que pode ser singular ou múltiplo ( do narrador, das personagens, etc. ).

Para o teórico Iuri Lotman as normas estéticas determinam o que é arte para
determinada época e sociedade. Tais normas se constroem ao longo do tempo, sempre
recorrendo a obras consagradas anteriormente e por isso podem ser consideradas
conservadoras. Assim, o texto artístico é considerado transgressivo na medida em que
rompe com a norma vigente, propondo algo criativo e inovador.

Roman Jacobson considera a Poética parte integrante da Linguística, já que ela


seria uma ciência voltada para a estrutura verbal e portanto, parte desta. Jacobson
formulou os elementos que constituem o processo de comunicação verbal. São eles o
remetente, a mensagem, o destinatário, o contexto, o contato e o código. Os três primeiros
relacionados aos três últimos. A esses elementos relacionam-se, respectivamente, as
funções de linguagem emotiva, poética, conativa, referencial, fática e metalinguística.

O enfoque da mensagem por ela própria é a principal característica da função


poética, que expõe as potencialidades de cada palavra no texto literário, sendo
considerada por Jacobson a função dominante da arte verbal.

O discurso literário não é objetivo e pragmático como o discurso cotidiano, nem


tem compromisso com a veracidade de fatos e personagens relatados, ainda que tenham
caráter histórico. Nele, todos os elementos são significativos, incluindo os elementos
fônicos que constituem os signos linguísticos.

Por fim, a Intertextualidade, termo definido por Julia Kristeva, define o cruzamento
dos textos literários, que se dá na interiorioridade de cada texto. Sob essa ótica, cada texto
literário faz parte de um conjunto de textos com o qual ele dialoga, inovando, negando ou
desconstruindo a tradição. Dessa forma o autor insere em sua obra a época e a sociedade
da qual participa.

Bibliografia : Zilberman, Regina. Teoria da Literatura I. Curitiba. 2012

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