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A MUSCULAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO DA POTÊNCIA MUSCULAR

NOS ESPORTES COLETIVOS DE INVASÃO: UMA REVISÃO


BIBLIOGRÁFICA NA LITERATURA BRASILEIRA

THE MUSCULAR POWER DEVELOPMENT AND WORKING OUT IN COLLECTIVE


SPORTS OF INVASION: A BIBLIOGRAPHIC REVIEW ON
THE BRAZILIAN LITERATURE

Cristiano Rafael Pinno∗


**
Fernando Jaime González

RESUMO
A preparação física, dentro do treinamento desportivo, apresenta como principal finalidade o desenvolvimento
das capacidades físicas. Para os esportes coletivos de invasão, uma das principais capacidades é a força, que,
juntamente com a velocidade, determina a força explosiva/potência e/ou força rápida que se apresentam nas
principais ações destes esportes. Os principais métodos utilizados para o desenvolvimento das capacidades de
força são a musculação e a pliometria, esta última, aplicada exclusivamente à força explosiva. As pesquisas muito
evoluíram a respeito do treinamento de força, no entanto, ainda há caminhos a percorrer. O objetivo deste estudo
foi fazer uma revisão bibliográfica sobre a relação treinamento de força explosiva na musculação e treinamento
nos esportes coletivos de invasão através, principalmente, das publicações de pesquisas no Brasil e países do
Cone Sul.
Palavras-chave: Esportes coletivos de invasão. Potência muscular. Musculação. 1

INTRODUÇÃO de treino nestas distintas etapas com


finalidades diferenciadas” (MOREIRA;
A preparação física, nos esportes SOUZA, 2000, p. 75).
coletivos de invasão (ECI) 1 , muitas vezes foi O treinamento de força, por exemplo, foi
carregada de más interpretações e aplicações um dos últimos a ser desenvolvido e
das teorias. Houve períodos da história em pesquisado pelos cientistas da área. Durante
que apenas uma ou duas capacidades físicas algum tempo foi reconhecido,
era desenvolvida durante o ano. Apenas nas principalmente por treinadores, como um
últimas décadas os trabalhos começaram a freio para os atletas, ou seja, o atleta que
ser mais bem direcionados. Como exemplo, treinasse força ficava “travado”, perdia sua
podemos citar o basquetebol brasileiro, onde agilidade. A utilização da musculação para
“encontramos um número escasso de este tipo de treinamento foi um dos
material teórico que demonstre a evolução principais fatores que levaram os
da dinâmica de performance dos atletas preparadores físicos a essa má interpretação.
durante as diferentes etapas de treinamento, Quase não eram realizadas pesquisas, e o
e fundamentalmente, dos efeitos sucessivos treinamento, na maioria das vezes, era


Acadêmico do curso de Licenciatura e Bacharelado do curso de Educação Física da UNIJUÍ.
**
Mestre em Ciências do Movimento Humano pela UFSM/RS; Professor do curso de Licenciatura e Bacharelado em
Educação Física da UNIJUÍ.
1
Entende-se por esportes coletivos de invasão (ECI), todos os esportes que se caracterizem pela cooperação com
companheiros e interação direta com o adversário, onde o objetivo consiste na invasão do setor defendido pelo adversário
para atingir a meta e marcar pontos, e também, na defesa da própria zona defensiva, evitando que o adversário pontue.
Por exemplo: basquete, futebol, handebol, entre outros (GONZALEZ, 2004).

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incorreto, utilizando como princípio as (n=5), revistas eletrônicas sul-americanas (n=4)


técnicas do fisiculturismo e movimentos e, também, de outros meios, como trabalhos de
irregulares, cuja conseqüência principal era a conclusão de curso e dissertações de mestrado.
lesão muscular (CAPPA, 2001). Nos ECIs
pouco se aproveitou do treino de força com a
utilização de máquinas. Referenciando o A PREPARAÇÃO FÍSICA NOS ESPORTES
basquetebol, Moreira e Souza afirmam que, COLETIVOS DE INVASÃO

a adoção de metodologias inadequadas Os ECIs se inserem num contexto muito


e incorretas para o desporto, com a particular do treinamento esportivo. Esportes
utilização prioritária de métodos de como handebol, basquetebol, futsal e futebol
body building2, e a aplicação desta têm em comum nas suas características,
concepção metodológica em momentos principalmente, a grande variabilidade de ações
inoportunos, ajudam a reforçar a idéia motoras e intensidade de esforço durante uma
de uma situação desfavorável ao nível
partida.
de coordenação intra e intermuscular,
que prejudicaria a velocidade de
No basquetebol, por exemplo, podemos
movimento, precisão dos arremessos e considerar corridas lentas e rápidas,
outras ações específicas da modalidade deslocamentos laterais, para trás e saltos
(2000, p. 75). (HOFFMAN; MARESH, 2003). Além disso,
Hoffman e Maresh (2003, p. 719) citando o
O treinamento esportivo possui uma gama estudo de McInnes e cols. encontroram a
vasta de possibilidades que em determinados surpreendente marca de “997 ± 183 mudanças
momentos não são consideradas com sua devida de posição em um jogo de 48 minutos de
importância. O treinamento de força através dos duração”.
exercícios em aparelhos ou barras de Segundo Kirkendall (2003, p. 204), “no
musculação aparece como um dos métodos mais futebol, os atletas profissionais percorrem em
aplicados na área de condicionamento físico torno de 10 Km durante o jogo. [...] A
para a saúde. Também desponta como um intensidade foi descrita em 1976 por Reilly e
método bastante utilizado no treinamento em Thomas, divide-se em andar (25% da distância
nível profissional. total), trotar (37%), piques (11%), deslocar para
Historicamente, muitos mitos foram criados trás (6%) e corrida submáxima (20%)”. Ainda
a respeito do treinamento de musculação. É podemos acrescentar, os deslocamentos laterais
comum encontrarmos treinadores que se e os saltos, movimentos constantes neste
preocupam quando o assunto está relacionado ao esporte.
treinamento com pesos; no entanto, a evolução Como afirmam Hoffman e Maresh (2003, p.
científica revelou grandes qualidades deste 719), “a intensidade do jogo é intermitente”, ou
método, e um bom exemplo disso encontramos seja, apesar de possuírem uma duração que varia
nos clubes de futebol das competições mais de 60 a 120 minutos, os ECIs são constituídos de
poderosas da Europa, onde o treinamento com pequenas ações de alta intensidade, boa parte das
quais se caracteriza por movimentos explosivos,
sobrecargas é comum e produz ótimos
como o início da corrida em velocidade, os saltos
resultados (CAPPA, 2001).
no basquetebol, as finalizações no futebol, no
Dessa forma, o objetivo deste estudo é fazer
futsal e no handebol, entre outros.
uma revisão bibliográfica sobre a relação
Historicamente, foram utilizados para o
treinamento de força explosiva na musculação e
treinamento métodos originados de esportes
treinamento nos ECIs através, principalmente,
individuais, principalmente do atletismo
das publicações de pesquisas no Brasil e países
(treinamento de velocidade e resistência),
do Cone Sul. Essas pesquisas foram coletadas,
porém, também do halterofilismo (treinamento
em sua maioria, de revistas impressas brasileiras
de força) e da ginástica (treinamento de
2 flexibilidade e coordenação). Um exemplo
Body building = Culturismo/Fisiculturismo: refere à
competição de melhor musculatura – Cultura do Corpo. bastante claro é o fato de que, identificada a
distância total percorrida por um jogador

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durante uma partida de futebol, o preparador a força, principalmente na forma de força


físico, nos treinamentos, passa a orientar os explosiva ou potência muscular (força +
atletas no sentido de que percorram distâncias aceleração/velocidade).
semelhantes (SILVA; GOMES, 2002).
Outra questão a ressaltar no treinamento dos
esportes coletivos é a homogeneização das O TREINAMENTO DE FORÇA E POTÊNCIA
cargas de trabalho, que, segundo Gomes e Silva
(2002), é inadequada, pois, em primeiro lugar, O termo força é definido como “capacidade
devem-se levar em consideração as necessidades de superação da resistência externa e de ação
fisiológicas da função que o atleta desempenha, oposta a esta resistência, por meio dos esforços
ou seja, no mínimo, o treinamento deve ser musculares” (ZATSIORSKI, 1970; MATVEEV,
especializado para cada posição; em segundo 1991 apud ZAKHAROV; GOMES, 2003, p.
lugar, cada atleta possui um perfil fisiológico 112). No treinamento esportivo existem três
que se constitui por fatores hereditários tipos de força a serem desenvolvidos: a força
(genótipo) e por estímulos do seu meio social máxima; a força explosiva; e a resistência de
(fenótipo), como histórico de atividade física e força (ZAKHAROV; GOMES, 2003).
treinamento, hábitos alimentares, etc., que Geralmente se utiliza a resistência de força na
influem e devem ser considerados durante a prevenção de lesões, em que o músculo será
periodização do treinamento esportivo. Quanto a fortalecido para suportar o treinamento como um
isso, alguns trabalhos já estão sendo elaborados, todo e nos casos de reabilitação. A força
reportando a periodização e estruturação do máxima, utilizada muito em esportes mais
treino destes esportes, variabilidade da específicos/especializados como levantamento
intensidade, especialização dos exercícios e olímpico e por fisiculturistas, nos esportes
caracterização da carga de trabalho (GRANELL; coletivos é aproveitada, não de modo isolado,
CERVERA, 2003; ZAKHAROV; GOMES, mas integrando os métodos de desenvolvimento
2003; DANTAS, 1998). da força explosiva pela sua potencialidade em
Arruda et al. (1999) e Frade (2001) se recrutar unidades motoras. Isso é necessário,
referem à dinâmica de treinamento em longo pois, quanto maior o número de fibras
prazo, avaliando suas amostras durante uma musculares recrutadas, maior será a força
produzida (WILMORE; COSTILL, 2001).
temporada. Nestes casos, objetivaram identificar
Assim, mais fibras participarão dos exercícios
as variações nos índices de força ao longo do
de força rápida e potência muscular,
macrociclo. No estudo de Arruda et al. (1999),
potencializando o treinamento.
constatou-se a eficácia das cargas concentradas
As ações principais nos esportes coletivos
de força no início da preparação (juniores de
são constituídas, principalmente, pela potência
futebol masculino), mas essas foram
muscular, conhecida também como força
consideradas inadequadas para a manutenção da explosiva (força + velocidade). Gomes e Silva
força rápida no período competitivo. Já Frade (2002, p. 28) citando Gomelsky afirmam que
(2001) encontrou variações nas respostas “mais de 70% dos movimentos no futebol se
neuromotoras em ambos os grupos (pré-mirim e caracterizam pelos fatores força e velocidade”.
mirim de voleibol feminino). Segundo o autor, Por força explosiva, “entende-se aquela força
poder-se-ia hipotetizar um efeito do treinamento que vem expressa por uma ação de contração a
sobre a coordenação motora das atividades de mais rápida possível, como se fosse uma
salto. ‘explosão’, para transferir a sobrecarga a ser
Quanto a “o quê” treinar, Zakharov e Gomes vencida, a maior velocidade possível, partindo
(2003) definem como foco de pesquisa e de uma situação de imobilidade do segmento
aplicação da preparação física o propulsivo” (BARBANTI, 2002, p. 19).
desenvolvimento das capacidades físicas Para os ECIs, o treinamento de força
resistência, flexibilidade, velocidade, apresenta, basicamente, três objetivos, que,
coordenação e força, contemplando nos distintos segundo Silva e Gomes (2002), são o aumento
treinamentos os respectivos sistemas da potência muscular (força rápida/explosiva),
energéticos. Neste trabalho será discutida apenas prevenção de lesões e a reabilitação do atleta

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após lesão. Apesar de Reilly direcionar estes nos índices de força explosiva como salto
objetivos para o futebol, considerando as vertical, agilidade e velocidade, constituindo um
características gerais dos esportes, podemos bom meio para ser utilizado na preparação
contemplar estes objetivos, não esquecendo a física, tanto durante a temporada como em
sua especificidade e a individualidade dos períodos preparatórios.
atletas, em todos os ECIs. Outra questão Atualmente são poucas as pesquisas que
bastante evidente no mundo esportivo nos dias questionam a validade da musculação para o
atuais é o grande aumento muscular que os desenvolvimento da potência em atletas de
atletas vêm alcançando com o treinamento.
esportes de invasão. Algumas se referem ao
Segundo Bompa (2005), os aumentos ocorrem,
perfil fisiológico dos atletas (ARRUDA;
mas não oferecem risco nenhum em relação ao
rendimento do atleta, pois o aumento da massa RINALDI, 1999; GENTIL et al., 2001;
muscular vem acompanhado de um aumento JIMÉNEZ et al., 2002; MAGALHÃES et al.,
significativo de força, que, aliado aos 2001; TRICOLI, 1994), ou seja, apenas avaliam
treinamentos de velocidade e coordenação, o nível de explosão muscular, comparando os
torna o atleta rápido e ágil em seus resultados entre esportes diferentes ou
movimentos, além de oferecer uma segurança comparando atletas de diferentes posições. O
maior para as articulações. Esses efeitos se estudo de Arruda e Rinaldi (1999), por exemplo,
justificam pelo aumento no recrutamento das avaliou jogadores de futebol adultos jovens, com
unidades motoras e, conseqüentemente, das o intuito de comparar as distintas posições em
fibras musculares. campo. Concluíram os autores que a utilização
de força pelo jogador de futebol é específica
Métodos de treinamento de força e potência
para cada grupo de posição, o que indica que os
Para o desenvolvimento das capacidades de treinamentos devem ser elaborados de forma a
força são utilizados distintos métodos que atender a essa especificidade. Magalhães et al.
tendem a se aproximar da modalidade esportiva; (2001), avaliaram jogadores de voleibol e
portanto, consideram-se,as características do futebol de distintas idades, sexos e funções
esporte a se trabalhar. específicas, em três estudos distintos. Conforme
Na maioria dos casos, a potência muscular sua conclusão, o caráter específico da atividade
é desenvolvida através do treino pliométrico, o funcional nas modalidades esportivas estudadas,
qual corresponde ao ciclo de alongamento-
a idade e a função específica não se constituem
encurtamento (BOMPA, 2004). Porém,
também pode ser trabalhada indiretamente, por serem fatores indutores de desequilíbrio
através de um treino de força dinâmica seguido bilateral da força muscular de membros
de um treino de velocidade. Neste caso, haverá inferiores.
ganhos em níveis superiores em relação à Gentil et al. (2001) e Jiménez et al. (2002)
pliometria, no entanto, é um processo mais realizaram avaliação de equipes de basquetebol
lento (DANTAS, 1998, p. 171). com o intuito de verificar suas características
Para o desenvolvimento da resistência de físicas e fisiológicas. Os dois estudos se
força e da força máxima, utiliza-se bastante a caracterizaram pela utilização de vários testes
musculação, método que, segundo Dantas para avaliar as diversas capacidades físicas dos
(1998), é benéfico pelos rápidos resultados, pela atletas. O primeiro utilizou atletas do sexo
facilidade no controle do treinamento e por feminino, convocadas para o início da
atender melhor ao princípio da especificidade, o preparação para os Jogos Olímpicos (2000),
que, segundo o autor, “o coloca em lugar de concluindo, que os resultados obtidos, em
destaque no treinamento de atletas de nível grande parte iam ao encontro da literatura
competitivo alto” (p. 197). pesquisada. O segundo utilizou atletas
O treinamento de musculação possibilita o pertencentes a uma equipe militante da liga
treinamento dessa capacidade de uma forma EBA. Neste caso, concluiu que os jogadores
bastante segura e confiável. Com estas apresentaram altos valores nos parâmetros
características podem-se obter bons resultados avaliados.

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Jiménez et al. (2003), em outra pesquisa, A musculação, termo referente ao treino


verificaram a correlação entre dois testes de com resistência de máquinas e ou pesos livres,
potência anaeróbia de membros inferiores. Os durante muito tempo foi vinculada apenas às
pesquisadores concluíram que não existe modalidades esportivas culturismo e
correlação entre ambos os testes, devido, em levantamento olímpico, esportes cuja
parte, às diferenças metodológicas entre eles. característica depende, quase exclusivamente,
Além disso, verificam-se diferenças deste tipo de treinamento.
significativas entre homens e mulheres nos A evolução das pesquisas e dos
valores obtidos no teste de saltos repetidos, equipamentos nos permite aproximar cada vez
mais esse método de treinamento à
salvo na potência destes saltos; e diferenças
especificidade do esporte. Platonóv e Bulatova
significativas no teste de Wingate, à exceção dos
(2003) nos apresentam uma evolução referente
obtidos referentes aos índices de fadiga.
aos meios de preparação de força:
Também aparecem pesquisas quanto aos
• exercícios com halteres, nas barras fixas, nas
efeitos do treino pliométrico e ao destreino em
paralelas assimétricas, com resistência de
basquetebolistas (SANTO; JANEIRA; MAIA,
um companheiro, etc.;
1997)3. Neste caso, os resultados comprovaram
a eficácia do treino pliométrico para o primeiro • máquinas com cargas em forma de placas
estudo. Quanto ao destreino (treino reduzido e escalonáveis;
destreino específico), os dois métodos se • máquinas com resistência regulada pela
mostraram equivalentes para a manutenção dos compressão do ar ou de líquidos num
índices de força explosiva. sistema de êmbolo;
Não obstante, apenas dois estudos • aparelhos que trabalham em regime
comparam métodos de treinamento de força. isocinético;
Cappa, Berardi e De Cara (2000) utilizaram um • equipamentos com resistência variável com
treinamento de força tradicional e um com emprego de alavancas com discos e polias
exercícios derivados do levantamento de peso excêntricas.
(DLP), tendo concluído que o treinamento com Hoje, quase todos os esportes fazem uso do
DLP produziu melhores resultados em menor treinamento com pesos, seja para o
tempo. A pesquisa desenvolvida por Garrido aprimoramento das capacidades físicas seja para
(1995) é uma das poucas que comparam o treino prevenção ou reabilitação após lesão. No
pliométrico com a musculação, tendo concluído entanto, “esportes nos quais o suprimento de
que obteve o melhor rendimento o grupo que energia metabólica é o fator predominante como
treinou com musculação em apenas uma das seis na corrida de longa distância, não são
variáveis testadas. No entanto, o estudo foi beneficiados pelo treinamento com pesos, que
realizado com uma equipe de voleibol, esporte da mesma maneira não se mostra apropriado
que não se enquadra, segundo a classificação de para esportes como a ginástica rítmica”
(RITZDORF, 2000, p. 233).
Gonzalez (2004), como esporte de invasão, e
Dentro da periodização do treinamento, que
sim, como esporte de rede4.
geralmente é dividido em períodos preparatório
(fase geral e específica), competitivo e de
A MUSCULAÇÃO transição, a musculação teria sua função
principal na fase geral do período preparatório,
3
Na mesma pesquisa compararam, também, dois onde o treinamento físico objetiva o
métodos de destreino: treino reduzido e destreino desenvolvimento do potencial fisiológico e das
específico. habilidades motoras (BOMPA, 2002). Não
4
“Esportes de rede/quadra dividida ou muro: são os que obstante, o treinamento de força, é realizado
têm como objetivo colocar arremessar/lançar um móvel durante todo o período competitivo, o que deixa
em setores onde o(s) adversário(s) seja(m) incapaz(es) aberta a possibilidade de utilização da
de alcançá-lo ou forçá-lo(s) para que cometa/m um erro, musculação como forma específica de
servindo somente o tempo que o objeto está em
treinamento, e não apenas como forma
movimento” (GONZALEZ, 2004).

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complementar. Bompa (2002) distribui o trabalho de manutenção específico às


treinamento de força de modo que em um necessidades do esporte e, com o encerramento
primeiro momento se faça uma adaptação do da temporada, inicia-se a fase de compensação
atleta, trabalhando a resistência muscular ou transição.
localizada (RML), por exemplo. O segundo Hoffman e Maresh (2003, p. 726) propõem,
momento é destinado ao treinamento da força na tabela 1, uma “periodização do treinamento
máxima e, em seguida, ao treinamento de acordo de resistência muscular para jogadores de
com a necessidade do esporte, potência ou basquetebol antes da temporada”.
RML. Durante a fase competitiva se faz um

Tabela 1- Periodização do treinamento de força na pré-temporada


Fase 1 (7 semanas) Hipertrofia Fase 2 (7 semanas) Força Fase 3 (7 semanas) Força/Potência
Dias 1 e 3
Power Cleana ----- 1 x 10, 4 x 4-6 RM 1 x 10, 4 x 3-5 RM
Push Pressa ----- 1 x 10, 4 x 4-6 RM 1 x 10, 4 x 3-5 RM
Supino 1 x 10, 4 x 8-10 RM 1 x 10, 4 x 6-8 RM 1 x 10, 4 x 4-6 RM
Supino Inclinado 1 x 10, 3 x 8-10 RM 1 x 10, 3 x 6-8 RM 1 x 10, 3 x 4-6 RM
Crucifixo 3 x 8-10 RM ----- -----
Desenvolvimento Postural 1 x 10, 3 x 8-10 RM ----- -----
Remo vertical 1 x 10, 3 x 8-10 RM ----- -----
Elevação lateral 3 x 8-10 RM ----- -----
Pulley 3 x 8-10 RM 3 x 8-10 RM 3 x 6-8 RM
Tríceps Francês 3 x 8-10 RM 3 x 8-10 RM -----
Abdominal 3 séries 3 séries 3 séries
Dias 2 e 4
Agachamentoa 1 x 10, 4 x 8-10 RM 1 x 10, 4 x 6-8 RM 1 x 10, 4 x 6-8 RM
Cadeia extensora 3 x 8-10 RM 3 x 8-10 RM 3 x 6-8 RM
Mesa flexora 3 x 8-10 RM 3 x 8-10 RM 3 x 6-8 RM
Gêmeos em pé 3 x 8-10 RM 3 x 8-10 RM 3 x 6-8 RM
Pulley por trása 1 x 10, 3 x 8-10 RM 1 x 10, 3 x 6-8 RM 1 x 10, 3 x 6-8 RM
Remo sentado 1 x 10, 3 x 8-10 RM 1 x 10, 3 x 6-8 RM 1 x 10, 3 x 6-8 RM
Bíceps I 3 x 8-10 RM 3 x 8-10 RM 3 x 6-8 RM
Bíceps II 3 x 8-10 RM 3 x 8-10 RM -----
Abdominal 3 séries 3 séries 3 séries

Como se observa, a tabela apresenta uma Já, Cappa, Berardi e De Cara (2000)
periodização pré-temporada de 23 semanas, pois compararam dois métodos de treinamento da
uma semana de descanso deve ser respeitada potência muscular, de membros inferiores e
entre cada fase; no entanto, este período deve ser superiores, em homens e mulheres sem
adequado ao tempo disponível para o experiência em treinamento com sobrecargas. A
treinamento correspondente a essa fase. Como pesquisa consistiu no treinamento durante 8
exemplificaram os autores, se o período semanas, em que um grupo trabalhou com
disponível for de seis semanas, as fases exercícios de força tradicional (FT) como
corresponderão a duas semanas cada uma, neste supino, agachamento e remada, e o outro grupo
caso, sem intervalo de descanso entre as utilizou exercícios derivados do levantamento de
semanas. Outra observação pode ser feita com pesos (DLP). Os resultados apontaram, ao final
relação aos exercícios estabelecidos em cada das 8 semanas, um ganho considerável de
fase, pois, com a aproximação do período potência no grupo DLP; no entanto, também se
competitivo, o trabalho deve basear-se na obtiveram ganhos no grupo FT. A discussão
especialização dos exercícios, valorizando, com estabelecida pelos autores referiu-se ao tempo
isso, a especificidade da modalidade, sem de treinamento. Segundo eles, para resultados
esquecer os exercícios essenciais (a) que dão imediatos, os trabalhos com exercícios DLP
suporte para essa especificidade. seriam mais recomendados, mas em períodos
longos, exercícios tradicionais proporcionam

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A musculação e o desenvolvimento da potência muscular nos esportes coletivos de invasão 209

ganhos em resistência e força, o que auxilia no Quanto à musculação, apesar da


desenvolvimento da potência e também trás identificação das potencialidades deste método
benefícios, como prevenção de lesões, através com os ECIs, percebeu-se que neste trabalho
do fortalecimento de músculos, tendões e ossos. nenhuma destas modalidades foi discutida
Dessa forma este trabalho se opõe, em parte, através de estudos científicos, o que se deve ao
à periodização estabelecida por Hoffman e fato de, não ter sido encontrado material para tal
Maresh (2003), principalmente quanto à análise. Como já foi relatado, na maioria dos
especialização dos exercícios; porém não foi estudos descritos foi utilizado método descritivo
realizado com atletas, e sim, com indivíduos sem para identificar níveis de condicionamento de
experiência no treinamento com pesos. força, e desta forma não houve avanço quanto ao
entendimento de como produzir evolução física.
Como se pode verificar, a maioria dos
CONSIDERAÇÕES FINAIS estudos não tem preocupação quanto aos
métodos de treinamento, e sim, quanto aos
Ao revisar a literatura sobre o treinamento índices de força que o sujeito/atleta já possui.
de força nos ECIs, percebe-se uma carência Ou seja, muitos verificam as características dos
significativa quanto à utilização da musculação atletas, seu perfil fisiológico, mas poucos levam
para esse treinamento. Essa carência se deve, este entendimento ao nível dos métodos de
principalmente, ao não-interesse da musculação treinamento para se compreender como que
como método de aprimoramento da potência estes índices podem ser mais bem desenvolvidos
muscular, que geralmente é desenvolvida em durante os treinamentos do esporte.
treinamentos específicos. Pode-se entender que, Apesar do baixo número de pesquisas
no Brasil, o trabalho com musculação está encontrado, já se reconhece que “o emprego de
direcionado para apenas dois dos objetivos simuladores permite a ampliação significativa
propostos por Reilly (apud SILVA; GOMES, do volume dos meios de preparação física e,
2002), ou seja, prevenção e reabilitação de aumenta a incidência seletiva sobre distintos
lesões. sistemas funcionais [...]” (SHERER, 1971;
Se forem apontadas as modalidades de ECI PLATONOV, 1986 apud PLATONOV;
mais praticadas no Brasil, encontrar-se-ão as BULATOVA, 2003, p. 325). Tratando-se de
derivadas do futebol (futebol de campo, futsal e área de pesquisa pouco explorada, existe a
futebol de praia) em primeiro plano, seguidas de necessidade de que mais discussões sejam
longe pelo basquetebol e, ainda mais distante, realizadas a respeito desta problemática. A
pelo handebol. Destas três modalidades musculação ainda tem muito a revelar aos
principais (futebol, basquetebol e handebol) o pesquisadores, principalmente quando referida
ao treinamento dos ECIs. Os métodos de
futebol apresenta um maior atraso científico, que
aplicação dos treinamentos e a periodização do
não vem ao caso discutir neste momento; porém
treinamento de força e de potência são temas
basquetebol e handebol também não apresentam
que oferecem bom campo de pesquisa, pois
desenvolvimento representativo. Este fato
estão intimamente relacionados com os bons
significa que os métodos utilizados nos ECIs, resultados.
cuja prática consiste em uma interação constante Neste caso, existe um grande espaço para
entre as principais capacidades físicas, para o investigações, pois se identificam muitas
condicionamento físico, contrariando o principio questões que devem ser respondidas a fim de
da especificidade descrito por Dantas (1998), suprir as necessidades destes esportes. Desta
ainda são derivados dos esportes individuais, forma, pode-se afirmar que a importância da
nos quais, geralmente, a capacidade física pesquisa sobre a potência muscular nos ECIs
predominante é responsável direta pelo sucesso remete ao aprimoramento dos métodos de
ou insucesso do atleta (velocidade nos 100m treinamento, bem como ao desenvolvimento de
rasos do atletismo e força no levantamento novas possibilidades de aprimoramento desta
olímpico, por exemplo). capacidade física, principalmente quanto à
utilização da musculação.

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THE MUSCULAR POWER DEVELOPMENT AND WORKING OUT IN COLLECTIVE SPORTS OF INVASION:
A BIBLIOGRAPHIC REVIEW ON THE BRAZILIAN LITERATURE

ABSTRACT
The physical preparation concerning the sport training aims at developing the physical capacities. Power is one of the most
important capacities for the Collective Sports of Invasion, which, together with speed, determine the explosive
strength/power and/or fast power that are present in the main actions of these sports. The major methods used to develop
power capacities are work out and plyometrics, the latter applied exclusively to explosion power. The research considering
strength training have developed a lot, however, there is still a lot to be done. This work aimed at doing a bibliographic
revision about the relation explosive strength training in working out and training in invasion collective sports through
mainly the research publications in Brazil and in the Latin American South Market.
Key words: Collective sports of invasion. Muscular power. Working out..

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Endereço para correspondência: Cristiano Rafael Pinno. Rua Carlos Guilherme Erig, 1856, Bairro Pindorama, Ijuí-
RS. E-mail: crpinno@yahoo.com.br

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