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As escolas jurisprudenciais que na Europa se debruçaram sobre o Direito Romano.

Conteúdo essencial e metodologia.


A primeira escola que começou a estudar novamente o direito romano nas universidades foi a
escola dos glosadores, fundada em Bolonha, por Irnério, nos fins do sec. XI ou inícios do sec.
XII, entendendo-se que a mesma finalizou com a morte de Acúrsio, considerado o maior
glosador desta escola. Os glosadores liam os textos do direito romano e como estes tinham
uma linguagem muito técnica, na tentativa de os perceber, apunham-lhe glosas, que eram
pequenas anotações normalmente colocadas nas margens (glosas marginais) ou entre as
linhas dos textos (glosas interlineares). A obra mais importante desta escola foi a Magna Glosa,
elaborada entre 1220 e 1234 por Acúrsio, sendo composta por mais de 96 000 glosas. Os
principais nomes desta escola foram, além de Irnério e Acúrsio, Hugo, Martim de Gosia,
Búlgaro e Azão.

A segunda escola é a dos pós-acursianos, surgida no fim do sec. XII, e teve como principais
estudiosos Odofredo, Alberto Gandino (fundador da ciência penal), Guilherme Durante (maior
processualista da idade média) e Alberico de Rosate. Só alguns autores é que dão importância
a esta escola, defendendo que a mesma surgiu na sequência duma obra superior,
nomeadamente a Magna Glosa, escrita por Acursio, um grande glosador que marcou uma
tendência evolutiva no que concerne ao tratamento dos textos. Esta escola limitou-se a fazer
um trabalho de compilação e sistematização das glosas. A terceira escola de direito prudencial
é a dos comentadores, a qual foi fundada por Cino de Pistóia na segunda metade do sec. XIII e
se desenvolveu ao longo do sec. XIV. Os comentadores faziam comentários nos textos de
direito romano. Os principais nomes desta escola foram Bártolo e o seu discípulo Baldo, sendo
o primeiro conhecido por a luz do direito, já que a sua influência se fez sentir até finais do sec.
XVIII. Esta escola beneficiou do trabalho dos glosadores e criou o Direito Nacional, isto é, o
trabalho dos comentadores foi o de porem em prática os textos justinianeus, partindo já do
trabalho de esclarecimento dos glosadores, adaptando as normas justinianeias à realidade dos
secs. XIII e XIV. Os comentadores partiam assim dum texto de direito romano, muitas vezes já
trabalhado pelos glosadores, e desenvolviam um tema de forma discursiva, destacando-se, por
vezes, do texto de origem, ultrapassando assim a mera interpretação do texto. os glosadores
olharam para os textos de Direito Romano numa perspectiva de adoração ao texto, fazendo
um trabalho excessivo de apego à letra da lei, isto é, uma interpretação literal de natureza
gramatical e especulativa, inserida numa abordagem teórica e muito académica, enquanto que
os comentadores desenvolveram um trabalho mais vocacionado para o espírito da lei,
adaptando o Direito Romano à realidade da época, fazendo, portanto, uma abordagem
prática. No trabalho de criação do direito, os prudentes utilizaram uma metodologia analítico-
problemática, nalítica porque, na época, o jurista procurava, para cada caso, um preceito legal
que lhe permitisse encontrar a solução ideal, não se preocupando tanto com a consideração
sistemática, isto é, com o enquadramento no sistema jurídico, procurando primeiramente na
norma a solução que mais lhe convinha, e só depois a considerava no ordenamento jurídico.
Problemática porque o jurista obtinha uma solução para o caso concreto, depois de discutir a
questão, recolher os argumentos pró e contra, ponderar as várias soluções possíveis, optando
normalmente pela solução que, para ele, lhe parecesse mais razoável. Com efeito, como o
código de justiniano não continha uma lógica sistemática, isto é, com uma harmonização de
leis, pelo que os prudentes medievais, conscientes desse facto, analisavam as leis nele contidas
isoladamente e ao pormenor (analítica) e abordavam-nas com um ponto de vista crítico,
criando Direito a partir desse ponto de vista.

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