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PAGANI

O túnel de vento cria linhas do fluxo de ar, que contornam o carro, e as torna visíveis por meio de sofisticados
recursos ópticos.
A resistência do ar ou da água é o principal limita- fluxo. A configuração dessas linhas — forma, continui-
dor da velocidade de qualquer veículo que atravesse dade, linearidade, separação e paralelismo — permite
esses fluidos. aos engenheiros uma avaliação imediata da intensidade
Em princípio, se não houvesse a resistência do ar, da resistência do ar para cada velocidade.
qualquer carro, mesmo com motor de baixa potência, A aerodinâmica e o túnel de vento talvez sejam a
poderia atingir qualquer velocidade — bastaria manter a face mais moderna do estudo da Hidrodinâmica (veja o
sua aceleração constante durante tempo suficiente. Mas boxe Gramática da Física: Hidrodinâmica ou Fluido-
isso não ocorre porque a intensidade da resistência do ar dinâmica), mas a sua origem vem desde a pré-história
aumenta com a velocidade do carro. Assim, seja qual for (veja o boxe História da Hidrodinâmica).
a potência do motor de um carro, ele sempre vai atingir
uma velocidade-limite quando a força exercida pelo
motor se igualar à intensidade da resistência do ar — é GRAMÁTICA DA FÍSICA:
essencial, portanto, reduzir ao máximo essa resistência. A HIDRODINÂMICA OU
vantagem dessa redução não está apenas em aumentar a FLUIDODINÂMICA
velocidade máxima do carro, mas também em reduzir a
Assim como para hidrostática, palavra de ori-
força necessária para manter as velocidades habituais e,
gem grega que significa água em equilíbrio, mas o
assim, diminuir o consumo de combustível.
Essa é a finalidade do túnel de vento, extraordinário seu estudo se aplica a outros fluidos em equilíbrio,
dispositivo tecnológico que permite ver direta ou indire- hidrodinâmica significa água em movimento e o
tamente as linhas de fluxo resultantes do movimento seu estudo também se destina a todos os fluidos
relativo de um carro através do ar. A intensidade da em movimento. No entanto, ao contrário da
resistência do ar é calculada multiplicando a velocidade hidrostática, em que essa é a denominação predo-
do ar ao quadrado por uma constante, que depende da minante, na hidrodinâmica é cada vez mais nítida a
forma do carro: quanto menor a constante, menor a preferência pelo termo fluidodinâmica.
resistência e melhor a aerodinâmica do carro. Como são É bem provável que a razão para essa prefe-
muitos os fatores que intervêm no valor dessa constante, rência venha da aerodinâmica, um dos seus obje-
é quase impossível calculá-la, mesmo com os mais tos de estudo cuja importância tecnológica é cada
modernos computadores. Além disso, qualquer mudan- vez maior — embora a aerodinâmica possa ser
ça no design do carro, até da posição ou da forma de um aplicada também ao movimento de veículos na
espelho retrovisor externo, pode alterar essa constante, o água, o estudo dos veículos que se movem no ar é
que obrigaria os engenheiros a refazer o cálculo exausti- muito mais relevante.
vamente; daí a vantagem da visualização das linhas de
1
HISTÓRIA DA culação sanguínea. Merecem destaque ainda o ita-
HIDRODINÂMICA liano Giovanni Battista Venturi (1746-1822), o ale-
mão Gotthilf Ludwig Hagen (1797-1884) e o inglês
Poços de grande profundidade, canais de irri- George Gabriel Stokes (1819-1903).
gação, aquedutos e sistemas de distribuição de As bases da moderna mecânica dos fluidos
água existem há milênios e mostram quanto é an- foram estabelecidas pelo engenheiro mecânico
tiga a preocupação do ser humano em dominar a alemão Ludwig Prandtl (1875-1953), que, com
tecnologia da obtenção e distribuição de água. alguns dos seus muitos alunos, formulou os princí-
A formulação de uma ciência da mecânica da pios básicos dos aerofólios e da propulsão a jato.
água iniciou-se com os filósofos gregos —
Arquimedes (287-212 a.C.) formulou seu primeiro
Iniciamos este assunto com a apresentação das bases
conceito básico: o empuxo —, mas só muitos sécu-
para a compreensão da primeira e mais importante pro-
los depois ela começou a ser de fato construída. No
priedade dos fluidos: as suas formas de escoamento.
fim do século XV, o gênio italiano Leonardo da
Vinci (1452-1519) realizou um extraordinário estu-
do sobre hidráulica e a ele se atribui a primeira for- 1. Escoamento de um fluido
mulação do Princípio da Continuidade. Mas seu A complexidade do estudo dos fluidos em movi-
trabalho, difícil de ler (Leonardo escrevia com mento e os recursos matemáticos de que dispomos no
caracteres invertidos, para serem lidos vistos pelo nível do ensino médio exigem algumas limitações ini-
espelho), não chegou a ser conhecido na época e é ciais: não levar em conta variações de temperatura e
pouco conhecido até hoje. considerar os fluidos incompressíveis, de densidade
Quase um século depois, em 1586, o enge- constante, são as duas primeiras. Mas a limitação essen-
nheiro hidráulico alemão Simon Stevin (1548-1620) cial está relacionada às duas formas principais de escoa-
mostrou que o peso exercido por um líquido no mento de um fluido: laminar ou lamelar e turbulenta.
fundo de um vaso depende apenas da sua profun- Veja a imagem a seguir.
didade. No século XVII, Evangelista Torricelli (1608-
www.usfamily.net

-1647), discípulo de Galileu Galilei (1564-1642) e


célebre pela medida da pressão atmosférica com
um tubo de mercúrio, obteve a expressão da velo-
cidade de escoamento de um líquido de um vaso
em função da profundidade do furo de saída, tendo fluxo laminar
como fundamentação teórica o estudo dos projé-
teis elaborado por seu mestre. Ainda naquele sécu-
fluxo turbulento
lo o sábio francês Blaise Pascal (1623-1662) apro-
fundou os estudos de Torricelli e completou a teo-
ria da Hidrostática.
No século XVIII dois amigos e extraordinários
matemáticos, o holandês Daniel Bernoulli (1700- A foto mostra as linhas de fluxo do ar atravessando o perfil da asa de um avião
-1782) e o suíço Leonhard Euler (1707-1783), cons- — a fumaça injetada em um compartimento fechado, semelhante a um túnel de
vento, torna-as visíveis.
truíram praticamente toda a fundamentação teóri-
ca da Hidrodinâmica, apresentada no tratado
Hydrodynamica, publicado em 1738 por Bernoulli. Observe que a maior parte das partículas do ar
A autoria da obra fez com que fosse atribuída a descreve trajetórias praticamente invariáveis — as linhas
Bernoulli a equação mais importante da Hidrodi- de fluxo mantêm-se contínuas e separadas; esse é o
nâmica, deduzida, na verdade, por Euler. escoamento laminar. Na parte traseira da asa essa regu-
Desde então a Hidrodinâmica foi se aprimo- laridade deixa de existir — as partículas do fluido des-
rando, graças principalmente ao trabalho de cien- crevem trajetórias irregulares e imprevisíveis; esse é o
tistas franceses, como os físicos barão Augustin escoamento turbulento.
Louis de Cauchy (1789-1857) e Simeon Denis Com frequência, um fluido passa de um tipo de
Poisson (1781-1840) e o médico Jean Louis Poi- escoamento para outro e muitas vezes assume uma con-
seuille (1799-1869), interessado na dinâmica da cir- figuração que não se caracteriza nem como laminar
nem como turbulenta. Veja as fotos a seguir.
2
PETER WIENERROITHER

FLUIDOS IDEAIS
Fluidos incompressíveis têm também densi-
dade constante — acrescida a condição de viscosi-
dade nula (o estudo da viscosidade está no tópico
4), eles são chamados de ideais.
De início, a fumaça tem um escoamento
laminar, que se estreita e, depois, se Os gases têm baixa viscosidade, mas alta com-
torna turbulento. Enquanto o escoamen- pressibilidade e, por isso, densidade variável.
to é laminar, as partículas da fumaça Nos líquidos a viscosidade é um pouco maior,
mantêm-se em trajetória ascendente. mas a sua compressibilidade é baixíssima (veja a
Quando passa a turbulento, a fumaça
espalha-se, e suas partículas passam a figura a seguir). Por isso a sua densidade é pratica-
descrever trajetórias caóticas — muitas mente constante. Assim, ao considerar um líquido
descem, em vez de continuarem a subir. fluido ideal, estamos mais próximos da realidade, o
que não acontece com os gases.
http://serve.me.nus.edu.sg

100 kg

Uma pequena rotação na fonte que gera


o fluido (a fumaça) ou no obstáculo pelo
qual ele passa pode originar uma série de O efeito da carga de 100 kg (1 000 N) no abaixamento do êmbolo no cilindro
vórtices. é quase imperceptível: ela comprime a água em apenas 0,75 mm!

O escoamento turbulento não é passível de estudo,


2. Equação de Continuidade
tal a sua irregularidade e imprevisibilidade. O escoa-
A trajetória de uma partícula de um fluido em es-
mento em vórtices já dispõe de uma teoria bem estabe-
coamento laminar constitui uma linha de corrente. Essas
lecida com aplicações à meteorologia e simulações ex-
linhas nunca se cruzam, por isso um feixe delas forma
perimentais controladas, como a rua de vórtices, mos-
um tubo de corrente. Seções normais às linhas do tubo de
trada na foto a seguir, cuja beleza só é superada pela
corrente são figuras planas. Veja a figura a seguir.
complexidade do seu tratamento matemático.
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S1
S2

Duas seções normais ao tubo de corrente de áreas S1 e S2.

Vamos supor que todas as partículas do fluido atra-


vessem a seção de área S1 com velocidade de módulo v1
e a seção de área S2 com velocidade de módulo v2. Veja a
figura abaixo.
Rua de vórtices (do inglês, vortex street), nome dado a essa configuração criada
experimentalmente pelo movimento relativo de um fluido através do obstáculo
cilíndrico girante (à esquerda). v=1
v=2
S1
Por essas razões, o estudo da Hidrodinâmica no S2

nível médio só é possível para fluidos incompressíveis


em escoamento laminar (veja o boxe Fluidos ideais).
3
Nessas condições, podemos demonstrar que é váli-
da a igualdade: 2 Com base na Equação de Continuidade, um cole-
ga seu pensa em fazer a experiência descrita na
v1S1 = v2S2 (veja a primeira dedução na página 20) figura a seguir. Ele argumenta que basta apertar a
Essa expressão é conhecida como Equação de boca da mangueira o suficiente para que isso
Continuidade. ocorra. Você acha que vai dar certo? Justifique.
Se em um tubo de corrente considerarmos seções Observação: Por enquanto você pode argumen-
normais S1, S2, S3, ..., Sn, atravessadas por velocidades de tar apenas se baseando no Princípio da Conser-
módulos v1, v2, v3, ..., vn, respectivamente, podemos vação da Energia. Mais adiante terá condições para
escrever: dar uma resposta mais detalhada (nesse momen-
v1S1 = v2S2 = v3S3 = ... = vnSn = constante to esta questão será reapresentada).
esguicho
Por definição, essa constante é a vazão (⌽) desse de água
fluido, que pode ser expressa na forma:
⌽ = vS
garrafa PET
O produto da unidade de velocidade (m/s) pela de boca da
área (m2) dá a unidade da vazão no SI — m3/s — e torna mangueirinha
espremida
claro o seu significado físico e a forma mais frequente
de defini-la:

Vazão (⌽) de um fluido em um tubo de cor-


rente é a razão entre o volume (V) desse fluido que
atravessa uma seção normal do tubo e o corres- mangueirinha
pondente intervalo de tempo (t):
V A água que sai da garrafa sobe e cai novamente dentro da garrafa — o sis-
⌽= tema vai funcionar continua e eternamente...
⌬t

Exercício resolvido
A Equação de Continuidade implica vazão cons- 1 Uma mangueira tem uma extremidade fixada à boca de
tante. Assim, em um tubo de corrente, onde a área da uma torneira de 2,0 cm de diâmetro e a outra fixada a uma
seção normal é maior, a velocidade é menor, e vice-ver- ponta de esguicho de 0,40 cm de diâmetro. Sabe-se que essa
sa. Por isso apertar a extremidade de uma mangueira, torneira enche um balde de 10 L em 40 s com vazão constan-
diminuindo a área de saída da água, faz a velocidade do te. Nessas condições, determine:
esguicho aumentar. a) a vazão da torneira;
b) a velocidade da água na boca da torneira;
c) a velocidade da água na boca do esguicho da mangueira.
Para você pensar
1 Enquanto o escoamento da água de uma tor- Solução
neira é laminar, observa-se que o filete de água a) Podemos calcular a vazão da torneira (ΦT) pelo tempo
gasto para encher o balde. Sendo V = 10 L e Δt = 40 s:
afina ao cair (veja a foto a seguir). Por quê?
V 10
ΦT = ⇒ ΦT = ⇒ ΦT = 0,25 L/s ⇒
EDUARDO SANTALIESTRA

⌬t 40

ΦT = 2,5  10–4 m3/s

b) Sendo rT = 1,0 cm = 1,0  10–2 m o raio da boca da tornei-


ra, a sua área é:

ST = πr T2 ⇒ ST = 3,1(1,0  10–2)2 ⇒ ST = 3,1  10–4 m2


Da definição de vazão, obtemos o módulo da velocidade vT=
na saída da água da boca da torneira:
ΦT = vTST ⇒ 2,5  10–4 = vT  3,1  10–4 ⇒ vT = 0,81 m/s

4
c) Sendo rE = 0,20 cm = 2,0 ⴢ 10–3 m o raio da abertura da e Δx2 com velocidade v2= ao nível h2, no mesmo interva-
ponta do esguicho, a sua área (SE) é: lo de tempo Δt. Podemos demonstrar que é válida a
SE = πrE2 ⇒ SE = 3,1(2,0 ⴢ 10–3)2 ⇒ SE = 1,2 ⴢ 10–5 m2 equação:
Da Equação de Continuidade obtemos o módulo da velo- p1 – p2 = 1 ⴢ d(v22 – v12) + dg(h2 – h1)
2
cidade vE= na saída da água da boca do esguicho:
v1S1 = v2S2 ⇒ vTST = vESE ⇒ (veja a segunda dedução na página 20)
0,81 ⴢ 3,1 ⴢ 10–4 = vE ⴢ 1,2 ⴢ 10–5 ⇒ vE = 21 m/s Pela análise dessa expressão podemos explicitar o
Observações: seu significado físico:
I. Utilizamos para π o valor 3,1 porque trabalhamos com • Lembrando a expressão da energia cinética —
Ec = 1 ⴢ mv2 —, podemos dizer que o termo
dois algarismos significativos.
II. A resposta ao item c pode ser obtida diretamente por con- 2
siderações de proporcionalidade. Assim, da Equação de 1 ⴢ d(v 2 – v 2) é uma espécie de variação da energia
Continuidade conclui-se que a velocidade da água é inver- 2 1
2
samente proporcional à área da seção de vazão. Como a
área de um círculo é diretamente proporcional ao quadra-
cinética do fluido em que a sua densidade (d) substi-
do do raio, a velocidade da água será inversamente propor- tui a massa (m);
cional ao quadrado do raio. Logo, se o raio da boca do • Se o fluido estiver em repouso, v1 = v2 = 0, essa
esguicho é 5 vezes menor que o raio da boca da torneira, a expressão assume a forma:
velocidade da água que o atravessa será 25 (52) vezes maior.
Então, podemos escrever: p1 – p2 = dg(h2 – h1) ⇒ Δp = dgΔh
vE = 52vT ⇒ vE = 25 ⴢ 0,81 ⇒ vE = 20 m/s que é a Lei de Stevin, da Hidrostática. Se, nessa
A diferença entre os valores obtidos deve-se às aproxima- expressão, substituirmos a densidade (d) do fluido
ções decorrentes do uso de dois algarismos significativos. pela massa (m), obtemos a expressão da variação da
energia potencial gravitacional entre esses dois níveis.
Para você resolver Assim, podemos dizer que a diferença de pressões
1 O bico do esguicho de uma mangueira de jar- entre dois níveis de um fluido em movimento é res-
dim tem 1,0 cm de diâmetro, e com ela é possí- ponsável pela variação da sua energia cinética, repre-
vel encher um regador de 12 L em 1,0 min. sentada pelo termo 1 ⴢ d(v22 – v12), e da sua energia
2
Supondo que o fluxo seja ideal e a vazão cons-
tante, determine: potencial gravitacional, representada pelo termo
a) a vazão da água; dg(h2 – h1).
b) a velocidade da água na boca do esguicho da Os termos da equação acima podem ser rearranjados
mangueira; assim:
c) a velocidade da água na saída da torneira, on- p1 + 1 ⴢ dv12 + dgh1 = p2 + 1 ⴢ dv22 + dgh2 (I)
de se engata a mangueira, sabendo que o diâ- 2 2
metro dessa torneira é de 2,5 cm. ou, como os níveis 1 e 2 podem ser quaisquer, na forma:
p + 1 ⴢ dv2 + dgh = constante (II)
2
3. Equação de Bernoulli As equações I e II são as duas formas em que se
Suponha que, em um lugar onde o módulo da ace- costuma apresentar a Equação de Bernoulli (quando
leração da gravidade é g, um fluido ideal de densidade nos referimos a essa equação, estamos nos referindo a
d se desloca por uma tubulação com vazão constante Φ, qualquer uma delas).
como mostra a figura a seguir.
S2 ⌬x2 v=2
Para você pensar
p2 3 Suponha que um fluido atravesse os tubos da
figura abaixo em condições ideais:
S1 ⌬x1
h2 I II

p1 v=1
h1
h2
h1 h1 = h2 h2
h1
Em decorrência da diferença entre as pressões p1 e
p2, o fluido desloca-se Δx1 com velocidade v1= ao nível h1
5
to da água através do estrangulamento do tubo — se não
Em I, o fluido sofre um estreitamento, mas não é houvesse o estrangulamento, as velocidades v1= e v2= seriam
elevado. Em II, ele é elevado, mas não sofre es- iguais, e essa parcela seria nula; b) a parcela 1,8  104 Pa
treitamento. possibilita a elevação do fluido — se não houvesse esse
a) Como se expressa a Equação de Bernoulli em desnível, essa parcela seria nula.
cada caso? II. Podemos supor que a saída S2 está aberta à pressão atmos-
b) Interprete fisicamente cada termo dessa equa- férica (p0). Nesse caso, p2 = p0. Sendo p0 = 1,0  105 Pa
ção em cada situação. (pressão atmosférica normal), a pressão em 1 é:
p1 = p0 + Δp ⇒ p1 = 1,0  105 + 4,9  104 ⇒ p1 = 1,5  105 Pa
4 Muitos físicos fazem questão de lembrar que a
Não considerando o fato de o fluido não ser ideal e que o
Equação de Bernoulli não traz nada de novo à
escoamento nem sempre é laminar, a figura a seguir mos-
física, que se trata apenas de uma aplicação do tra como esse caso pode ocorrer em uma situação real (o
Princípio da Conservação da Energia. Como você trecho dentro do retângulo tracejado corresponde ao caso
justifica essa afirmação? proposto no exercício).

Exercício resolvido
2 Suponha que a tubulação representada na figura a seguir é
atravessada por água com vazão constante. No nível 2, à altu-
h = 3,2 m
ra h2 = 1,8 m, a área da seção normal é S2 = 1,2  10–3 m2 e o
módulo da velocidade da água é v2 = 8,0 m/s. Em 1 (h1 = 0), a h2 = 1,8 m
área da seção normal é S1 = 6,0  10–3 m2.
h1 = 0
S2 2 v=2

p2

Para você resolver


S1 1
h2
2 A tubulação mostrada na figura a seguir é atra-
vessada por água à vazão constante Φ = 5,0 L/s.
p1 v=1 h1 = 0
Em 1 (h1 = 0), a área da seção normal do tubo é
S1 = 1,2  10–2 m2; em 2, na altura h2 = 3,0 m, a
Supondo o escoamento ideal, determine: boca do tubo, aberta à atmosfera, tem área
a) a vazão da água nesse tubo; S2 = 2,0  10–3 m2.
b) o módulo (v1) da velocidade da água em 1; S2 2 v=2
c) a diferença de pressões (Δp = p1 – p2) necessária para man-
ter esse escoamento constante. p2
Dados: densidade da água: d = 1,0  103 kg/m3; g = 10 m/s2.
S1 1
h2

Solução
a) Sendo v2 = 8,0 m/s, da definição de vazão: h1 = 0
p1 v=1
Φ = vS ⇒ Φ = v2S2 ⇒ Φ = 8,0  1,2  10–3 ⇒
Φ = 9,6  10–3 m3/s Dadas a pressão atmosférica local, p0 = 1,0  105 Pa,
b) Se o escoamento é ideal, a vazão é constante. Então: e a densidade da água, d = 1,0  103 kg/m3, e ado-
tando g = 10 m/s2, determine:
Φ = v1S1 ⇒ 9,6  10–3 = v1  6,0  10–3 ⇒ v1 = 1,6 m/s
a) o módulo das velocidades v1= e v2= da água em 1
c) Da Equação de Bernoulli:
e 2;
1
p1 – p2 =  d(v 22 – v21) + dg(h2 – h1) ⇒ b) a pressão p1 da água ao nível do chão.
2
1
Δp =  1,0  103(8,02 – 1,62) + 1,0  103  10(1,8 – 0) ⇒
2 Aplicações da Equação de Bernoulli
Δp = 3,1  104 + 1,8  104 ⇒ Δp = 4,9  104 Pa
v0 = 0
Equação de Torricelli
Observações: Suponha que um líquido escoe pe-
I. As duas parcelas antes da soma final mostram as duas in- h
lo orifício de um tanque a uma profun-
terpretações físicas das consequências da diferença de
pressão Δp: a) a parcela 3,1  104 Pa possibilita o movimen- didade h, como mostra a figura ao lado.
v=

6
Se a área S do orifício é muito menor que a área S0 Determine:
da superfície do tanque, a velocidade da água na saída a) os módulos vA, vB e vC da velocidade de saída da água em cada
do orifício inferior é dada pela expressão: orifício;
b) a que distância do recipiente o jato de água atinge o nível
 (veja a terceira dedução na página 20)
v = √2gh da sua base de apoio.
Despreze a resistência do ar e adote g = 10 m/s2.
Essa expressão é conhecida como Equação de Tor-
ricelli. Note que nela não se considera a forma, a aber- Solução
tura, nem a posição do orifício. Assim, se dois orifícios a) Nas condições dadas, é válida a Equação de Torricelli
estiverem voltados para cima, podemos concluir da Ci- (v = √2gh), em que h é a profundidade de cada furo:
nemática que, em condições ideais, o repuxo vai atingir • para o furo A, à profundidade hA = 0,050 m:
a altura h igual à profundidade do orifício. Veja a figu- vA = √ 
2g hA ⇒ vA = √2
 10  0,050 ⇒ vA = 1,0 m/s
• para o furo B, à profundidade hB = 0,10 m:
ra a seguir. vB = √2ghB ⇒ vB = √ 2 
10  0,10 ⇒ vB = 1,4 m/s
• para o furo C, à profundidade hC = 0,15 m:
vC = √ 2g
hC ⇒ vC = √ 2 
10  0,15 ⇒ vC = 1,7 m/s
b) Um jato de água é um agregado de gotas que, neste caso, se
comportam como pequeninos projéteis lançados horizon-
talmente das alturas yA = 0,15 m, yB = 0,10 m e yC = 0,050 m.
Para um referencial em que a origem das alturas está fixa-
da no nível da base de apoio do recipiente (figura a seguir),
Como essas condições não existem — sempre há temos:
resistência viscosa no líquido dentro do recipiente e na y (m)
saída do orifício, além da resistência do ar fora do reci-
piente —, na prática os esguichos nunca vão atingir o 0,20

mesmo nível da superfície.


A 0,15

Para você pensar B 0,10

5 Agora você pode aprofundar a sua resposta ao C 0,050


Para você pensar 2 e convencer o seu colega de
x (m)
que a ideia dele é inviável. O que mais você
0 0,050 0,10 0,15 0,20
pode dizer para reforçar a sua argumentação
anterior? O tempo de queda das gotas que saem de A, obtido da fun-
ção da posição y (altura) em relação ao tempo t da queda
livre, é:
Exercício resolvido
3 A figura a seguir representa um recipiente com água vazan- y = y0 + v0yt + 1  gt2 ⇒ 0 = yA + 0  tA + 1 (–g)t A2 ⇒
2 2
do por três furos: A, B e C. Os furos são suficientemente 0 = 0,15 – 5,0t A2 ⇒ tA = 0,17 s
pequenos para que a velocidade de abaixamento do nível da Para as gotas que saem de B:
superfície possa ser considerada desprezível.
y = y0 + v0yt + 1  gt2 ⇒ 0 = yB + 0  tB + 1 (–g)tB2 ⇒
2 2
0 = 0,10 – 5,0tB2 ⇒ tB = 0,14 s
E para as gotas que saem de C:
5,0 cm y = y0 + v0yt + 1  gt2 ⇒ 0 = yC + 0  tC + 1 (–g)tC2 ⇒
2 2
A
0 = 0,050 – 5,0tC2 ⇒ tC = 0,10 s
5,0 cm
Sendo desprezível a resistência do ar, o movimento de cada
B gota na direção do eixo x é retilíneo uniforme. Assim, para
5,0 cm as gotas saídas de A:
C
x = x0 + vt ⇒ xA = x0 + vAtA ⇒ xA = 0 + 1,0  0,17 ⇒ xA = 0,17 m
Para as gotas saídas de B:
5,0 cm
x = x0 + vt ⇒ xB = x0 + vBtB ⇒ xB = 0 + 1,4  0,14 ⇒ xB = 0,20 m
E para as gotas saídas de C:
x = x0 + vt ⇒ xC = x0 + vCtC ⇒ xC = 0 + 1,7  0,10 ⇒ xC = 0,17 m

7
Observações: Se em uma canalização houver um estrangulamen-
I. Ao contrário do que se costuma afirmar, embora saia com to, nele a área da seção normal é menor. Da Equação de
velocidade maior, o jato do orifício mais baixo nem sempre Continuidade (v1S1 = v2S2), obtemos:
tem o maior alcance, pois o seu tempo de queda é sempre
menor que o dos jatos dos orifícios superiores. Para que S2 ⬍ S1 ⇒ v2 ⬎ v1 (II)
tenha alcance maior, é preciso que ele caia abaixo da base
do recipiente. Veja a figura a seguir. De I e II concluímos que:
S2 ⬍ S1 ⇒ p2 ⬍ p1

8,0 cm
Portanto, para um fluido ideal em escoamento
A laminar, a pressão é menor onde a área da seção normal
8,0 cm
B
também é menor, e maior onde a área da seção normal
8,0 cm é maior — é o Efeito Venturi, assim chamado em
C decorrência dos trabalhos realizados em 1791 pelo físi-
8,0 cm
co italiano Giovanni Battista Venturi. Tubos com um ou
mais estrangulamentos, como os das figuras a seguir,
são conhecidos como tubos de Venturi.

www.phys.vt.edu

Dispositivo de demonstração
do Efeito Venturi: pela man-
gueirinha amarela injeta-se
um fluxo de ar no tubo hori-
zontal com seção normal va-
riável. Observa-se que o nível
II. Agora pode ser entendida a razão do desnível de 3,2 m e da água (coluna líquido lilás)
das dimensões tão grandes da caixa-d’água da figura dada sobe mais no tubo vertical
no fim do exercício resolvido 2 (página 6). A largura da ligado à região do tubo hori-
caixa-d’água é necessária para que a velocidade de abaixa- zontal em que a área de seção
mento de sua superfície seja desprezível, e, nessas condi- normal é menor, mostrando
que a pressão do ar nessa
ções, esse desnível corresponde à velocidade v2 = 8,0 m/s.
região também é menor.

Para você resolver v=1 v=2

3 Na figura acima, determine o alcance dos jatos


p2
de água que saem dos orifícios A, B e C sabendo p1
que o banquinho tem 0,72 m de altura e que a
profundidade correspondente a cada furo em ⌬h
relação à superfície é: hA = 0,080 m; hB = 0,16 m;
hC = 0,24 m. Despreze a resistência do ar e adote
g = 10 m/s2.

Esquema de um tubo de Venturi utilizado para medir a vazão (Φ) de um fluido


Tubo de Venturi por meio da diferença de pressões em uma tubulação.
Uma consequência imediata da Equação de Ber-
noulli é a relação inversa entre velocidade e pressão no Assim, conhecendo as áreas das seções normais S1
interior de um fluido em escoamento laminar. Se h não e S2 do tubo onde se medem as pressões p1 e p2, pode-
varia, a Equação de Bernoulli assume a forma: mos demonstrar que:

2(p1 – p
p1 + 1  dv 21 = p2 + 1  dv 22
2 2
Φ = S1S2
2)
d(S21 – S22)

e podemos concluir que a velocidade é maior onde a (veja a quarta dedução na página 21)
pressão é menor: Com essa expressão é possível calcular a vazão em
v2 ⬎ v1 ⇒ p2 ⬍ p1 (I) um tubo de Venturi pela diferença de pressões em duas
8
b) Para S1 = 2,0  10–2 m2:
regiões das quais se conhece as áreas das seções nor-
mais. O uso do tubo em U para fazer a medida dessa di- Φ = vS ⇒ Φ = v1S1 ⇒ 2,8  10–2 = v1  2,0  10–2 ⇒ v1 = 1,4 m/s
ferença, da forma como está representado na figura an- Para S2 = 5,00  10–3 m2:
terior, só é possível em tubos com gás. Com líquidos, Φ = vS ⇒ Φ = v2S2 ⇒ 2,8  10–2 = v2  5,0  10–3 ⇒ v2 = 5,6 m/s
utilizam-se manômetros, instrumentos de medida dire-
ta da pressão que não são afetados pela passagem do Observação: O tubo de Ven- A

líquido. Podem-se usar manômetros localizados em di- turi é muito usado como va-
porizador. Veja a figura ao la- B
ferentes setores da tubulação (figura a seguir) ou manô-
do: a velocidade do ar sopra-
metros para medir a diferença de pressão entre dois pon-
do no tubo horizontal torna a
tos nos quais as áreas das seções normais são conhecidas pressão na extremidade supe-
(foto abaixo). rior do tubo vertical menor
x do que a pressão atmosférica,
y por isso o líquido contido no
recipiente sobe e, atingido pelo fluxo de ar, fragmenta-se em
gotículas.
Daí esse dispositivo ser chamado também de atomizador.
Muitos frascos de perfume, como o mostrado na foto a seguir,
funcionam dessa maneira.

www.french-home.com
EDUARDO SANTALIESTRA

EDUARDO SANTALIESTRA
Um atomizador bá-
sico se compõe ape-
nas de dois tubos em
ângulo reto e assim
Exercício resolvido
pode ser encontrado
4 Suponha que o manômetro do tubo de Venturi mostrado na em lojas de produtos
foto anterior, instalado em uma canalização de água, meça a para artistas. Veja as
diferença de pressão Δp = 1,5  104 Pa. As áreas das seções nor- imagens.
mais desse tubo, correspondentes às pressões p1 (ramo
esquerdo do manômetro) e p2 (ramo direito do manômetro),
Atomizador básico.
são, respectivamente, S1 = 2,0  10–2 m2 e S2 = 5,0  10–3 m2.
Sendo dágua = 1,0  103 kg/m3 e adotando g = 10 m/s2, determine:
EDUARDO SANTALIESTRA

a) a vazão (Φ) da água;


b) os módulos v1 e v2 da velocidade do fluido ao passar por
S1 e S2.

Solução
a) Sendo Δp = p1 – p2 = 1,5  104 Pa, da expressão do tubo de
Venturi:


Φ = S1S2 2(p1 – p2) ⇒
d(S21 – S22)

2 ⋅1,5 ⋅104
Φ = 2,0 ⋅10−2 ⋅ 5,0 ⋅10−3 ⇒
1,0 ⋅103[(2,0 ⋅10−2 )2− (5,0 ⋅10−3 )2 ] A artista imerge o tubo maior do atomizador na tinta e sopra no bocal
do tubo horizontal para aspergi-la na tela. Podemos controlar a quan-
Φ = 1,0  10  2,8  10 ⇒ Φ = 2,8  10 m /s ⇒ Φ = 28 L/s
–4 2 –2 3
tidade de tinta variando a vazão e a velocidade do ar soprado.

9
EDUARDO SANTALIESTRA

EDUARDO SANTALIESTRA
Para você resolver
4 Suponha que um tubo de Venturi, semelhante
ao da foto mostrada na página anterior, está ins-
talado em uma canalização de água cuja vazão é
de 20 L/s em fluxo laminar. As áreas correspon-
dentes às pressões p1 e p2 são S1 = 2,5  10–2 m2
e S2 = 1,0  10–2 m2, respectivamente. Determine
a diferença de pressão medida pelo manômetro.
(Dados: densidade da água dágua = 1,0  103 kg/m3;
g = 10 m/s2.)
Observação: De início, convém isolar a diferença
de pressões (p1 – p2) da expressão do tubo de O mel adere à superfície do vidro e a si próprio.
Venturi e trabalhar com a expressão assim obtida.
Essas características são explicadas pela existência
de forças de adesão de origem eletromagnética (veja o
A Equação de Continuidade e a Equação de Ber-
boxe Aprofundamento: A natureza elétrica da matéria).
noulli costumam ser a fundamentação teórica para a
Nos exemplos desta página, essas forças aparecem entre
explicação de outros fenômenos, como a sustentação da
as moléculas do líquido — óleo e mel — e entre elas e
asa de um avião ou a flutuação de uma bola em um jato
uma superfície rígida — o mel e o vidro (veja o boxe
de ar. No entanto, ultimamente, essa fundamentação
Gramática da física: Rígido ou sólido?).
tem sido contestada e substituída por outra relativa-
Nesta etapa do curso não há como aprofundar essa
mente mais recente, que tem se mostrado mais adequa-
explicação. Podemos dizer que essas forças são as mes-
da e correta. Para apresentá-la e torná-la fisicamente
mas que originam a tensão superficial e a capilaridade,
compreensível, o estudo da viscosidade é pré-requisito.
já apresentadas no estudo da Hidrostática.

4. Viscosidade
APROFUNDAMENTO:
As fotos e as ilustrações a seguir mostram algumas
A NATUREZA ELÉTRICA
características dos líquidos:
DA MATÉRIA
RUBENS CHAVES

Embora as moléculas dos líquidos e dos gases


sejam eletricamente neutras por causa da soma
das cargas de suas partículas, elas podem apresen-
tar uma espécie de “ação elétrica” decorrente da
assimetria na distribuição dessas partículas elétri-
cas nessas moléculas, o que implica + H
uma assimetria na distribuição das –
O
cargas elétricas. O exemplo mais –
notável dessa assimetria é a molé- + H
cula de água. Veja a figura ao lado.
Embora eletricamente neutra, a molécula de
O mel escorre água tem regiões positivas e negativas separadas,
sem formar gotas.
o que a torna eletricamente ativa — os físicos
dizem que essa distribuição torna essa molécula
eletricamente polarizada: ela é um dipolo elétrico.
A polarização elétrica faz as gotas de água
grudarem nos vidros das janelas e dos parabrisas
dos carros. Embora a estrutura molecular do mel
seja muito mais complexa, ele também adere às
placas de vidro por causa dessa atração elétrica.
Óleos diferentes fragmentam-se em gotas de tamanhos diferentes.

10
v=
GRAMÁTICA DA FÍSICA:
F=
RÍGIDO OU SÓLIDO? S

Preferimos falar em superfície rígida em vez


de sólida porque o vidro, a rigor, não é sólido: al-
guns o consideram um líquido cujo coeficiente de y
viscosidade tende ao infinito; outros, um sólido
amorfo por não ter a estrutura cristalina caracterís-
tica dos sólidos.

Suponha que o fluido representado na figura este-


O fenômeno resultante da adesão elétrica entre as
ja entre duas placas paralelas separadas pela distância y.
partículas interiores de um fluido (líquido ou gás) e
Quando a placa superior de área S é puxada para a
entre elas e uma superfície rígida origina a viscosidade.
direita com a força F=, ela (e a película fluida a ela aderi-
Como as imagens da abertura deste item ilustram, po-
da) adquire a velocidade v = constante (veja o boxe Apro-
demos dizer que essa propriedade torna os fluidos resis-
fundamento: A velocidade de um fluido em um tubo).
tentes à fragmentação e ao movimento. A resistência ao
Nessas condições, define-se o coeficiente de viscosida-
movimento se dá apenas entre partículas do próprio
de ␩ (letra grega “eta”) desse fluido pela expressão:
fluido, embora, em geral, tenha como causa a interação
entre ele e a superfície rígida. ␩ = Fy
Sv
A viscosidade é uma propriedade exclusiva dos
fluidos. Um fluido não pode “raspar” em uma superfí- A unidade do coeficiente de viscosidade no SI é
cie rígida, mas ambos — superfície e fluido — se inter- Pa  s (veja o boxe Unidade de viscosidade). A tabela a
penetram e formam uma película solidária, uma espé- seguir apresenta os valores do coeficiente de viscosida-
cie de revestimento temporário (pode ser também de de para alguns fluidos.
longo prazo; nesse caso, o fluido torna-se uma tinta).
Coeficiente de Coeficiente de
Por isso não faz sentido considerar o atrito entre uma Líquidos viscosidade Gases viscosidade
superfície rígida e um líquido ou gás. É impossível obter (Pa  s)* (Pa  s)*
coeficientes de atrito entre o vidro e a água ou entre o acetona 0,00032 ar 0,000018
vidro e o ar, por exemplo. Mas é possível definir um coe- água 0,0010 argônio 0,000021
ficiente de viscosidade relacionado exclusivamente ao dióxido de
álcool etílico 0,0012 0,00015
fluido (veja o boxe Gramática da física: Viscosidade ou carbono
coeficiente de viscosidade). gasolina 0,00060 hidrogênio 0,0000089
glicerina anidra 1,4 hélio 0,000019
GRAMÁTICA DA FÍSICA: mercúrio 0,0016 metano 0,000020
VISCOSIDADE OU óleo fino 0,11
monóxido
0,00017
COEFICIENTE DE de carbono

VISCOSIDADE óleo grosso 0,66 nitrogênio 0,000018


plasma sanguíneo 0,0015 oxigênio 0,000020
É muito raro encontrar tabelas com o título vapor de
sangue 0,0040 0,000013
água
“Coeficientes de viscosidade de fluidos”. Em geral,
elas se intitulam apenas “Viscosidade de fluidos”, o * Os coeficientes foram medidos a 20 °C, exceto o do sangue e o do plasma san-
guíneo, medidos a 37 °C, e o do vapor de água, medido a 100 °C.
que, a rigor, não é adequado.
Viscosidade é característica física, não uma
grandeza ou constante que possa ser medida e APROFUNDAMENTO:
tabelada. Por isso, assim como no estudo do atrito A VELOCIDADE DE UM
distinguimos o fenômeno (atrito) dos seus coefi- FLUIDO EM UM TUBO
cientes, aqui também vamos nos referir sempre a
coeficiente de viscosidade, em vez de viscosidade. Se os fluidos aderem às superfícies rígidas,
junto às suas paredes todos os fluidos têm veloci-
dade nula. Assim, conclui-se que a velocidade dos
Veja a figura a seguir.
11
fluidos tem de variar no interior dos tubos, o que, Uma antiga reivindicação francesa pretende
em escoamentos laminares, ocorre como a figura dar ao Pa  s o nome poiseuille, com o símbolo Pl,
abaixo mostra. para homenagear Jean Poiseuille. No entanto, até
hoje ela não foi acolhida.

Atrito e viscosidade são fenômenos análogos e de


velocidade velocidade
nula máxima
mesma origem, mas com características diferentes, que
podem ser delimitadas com clareza pela análise de ca-
racterísticas que diferenciam seus coeficientes.
O coeficiente de atrito é um número puro (adi-
Variação da velocidade no interior de um fluido laminar em um mensional), depende do par de materiais em contato,
tubo: a curva em azul é o lugar geométrico da extremidade dos não caracteriza nenhuma substância e varia pouco com
vetores velocidade. a temperatura. O coeficiente de viscosidade tem unida-
de, caracteriza determinado fluido e varia drasticamen-
Por isso, quando nos referimos à velocidade te com a temperatura. Veja o gráfico a seguir.
v = de um fluido no interior de um tubo, estamos
considerando como tal o vetor cujo módulo é a
média dos módulos das velocidades no interior ␩ ( 10–3Pa  s)
do fluido. 1,0
O módulo v da velocidade em um ponto P de 0,90
um fluido em escoamento laminar pode ser obtido
0,80
aproximadamente pela expressão a seguir, em que
0,70
r é o raio do tubo, d a distância do ponto ao eixo
0,60
desse tubo e C uma constante que depende do
tubo: 0,50

2
v = C(r – d ) 2 0,40
0,30
Essa expressão é conhecida como Lei de
0,20
Poiseuille, pois foi estabelecida por Jean Poiseuille.
0,10
t (°C)
0 20 40 60 80 100

UNIDADE DE VISCOSIDADE Gráfico coeficiente de viscosidade da água versus temperatura.


A unidade de viscosidade do SI pode ser obti- Se um fluido é arrastado por uma lâmina rígida,
da da sua definição. Se o módulo da força (F) é como na figura a seguir, podemos concluir que a lâmi-
medido em newtons (N), a distância (y) em metros na e a película fluida nela aderida exercem sobre o res-
(m), a área (S) em metros quadrados (m2), a veloci-
tante do fluido uma força resultante F=. Pelo Princípio
dade (v) em metros por segundo (m/s) e a pressão
N da Ação e Reação aparece na placa uma força de resis-
em pascal [Pa = m2 ], temos: tência viscosa –F= aplicada pelo restante do fluido à placa
em movimento.
Fy [N  m]
η= ⇒η= 2 m ⇒ v=
Sv 5m  6
s
Ns –F = F=
η = 5 m2 6 ⇒ η = [Pa  s]

Há uma antiga unidade prática ainda em uso,


denominada poise, cujos símbolos podem ser P, Ps Da definição do coeficiente de viscosidade pode-
ou Po. A relação entre ela e Pa  s é: mos expressar o módulo de F= assim:
1 poise = 0,1 Pa  s ␩S
F= y v

12
␩S
Sendo o fator y constante, essa expressão pode Para você pensar
6 No estudo do atrito definimos dois coeficientes:
ser generalizada na forma:
um para o atrito estático; outro para o atrito
F = cv dinâmico. Por que isso não foi feito para o coefi-
em que c é uma constante que depende do fluido e da ciente de viscosidade? (Observação: Note que a
geometria do corpo que arrasta ou atravessa esse fluido. expressão do coeficiente de viscosidade depen-
Essa expressão só é válida se o fluido não sofrer turbulên- de da velocidade da placa em relação ao fluido.)
cia, o que implica velocidades de valores pequenos,
determinados experimentalmente: para esferas em movi-
mento, esse valor é de até 2 m/s no ar e 0,03 m/s na água. Exercícios resolvidos
Se uma esfera de raio r atravessa um fluido de vis- 5 A figura a seguir representa uma placa metálica plana de
cosidade ␩, a constante c vale 6π␩r e a expressão da área 0,020 m2, que desliza sobre um plano horizontal rígido,
força viscosa fica assim: apoiada em uma película de óleo de espessura contínua e uni-
F = 6π␩rv forme de 0,25 mm, com velocidade constante de 0,010 m/s. O
Essa expressão é conhecida como Lei de Stokes, bloco B, de massa mB = 40 g, traciona a placa por meio de um
em homenagem a George Stokes, que a formulou pela fio inextensível. O atrito na roldana e a massa do fio e a da rol-
primeira vez. dana são desprezíveis. Determine a viscosidade do óleo. Adote
Embora todas as gotas em movimento retilíneo uni- g = 10 m/s2.
forme tenham forma praticamente esférica (veja o boxe
Discussão: A forma de uma gota), só as gotas de dimen-
sões microscópicas têm velocidades pequenas, e o estudo
do seu movimento pode ser feito com a Lei de Stokes. Em
líquidos de alta viscosidade, como a glicerina ou óleos
B
automotivos, ela pode ser aplicada a esferas de dimensões
um pouco maiores (veja o exercício resolvido 7).

DISCUSSÃO: A FORMA Solução


DE UMA GOTA Como a velocidade é constante, a aceleração é nula, e o módu-
lo da tração T= exercida pelo fio sobre a placa é igual ao módu-
A forma como uma gota de água lo PB do peso do bloco B, pendurado. Então, sendo mB = 0,040 kg:
costuma ser desenhada, sobretudo T = PB ⇒ T = mBg ⇒ T = 0,040  10 ⇒ T = 0,40 N
informalmente (figura ao lado), só é cor- Esse é também o módulo F da força viscosa que atua sobre a
reta quando ela está prestes a despren- placa. Veja a figura a seguir.
der-se do restante do líquido — o alon-
F= T=
gamento vertical e o bico superior, Representação
característicos nessas figuras, desapare- usual de uma
cem logo em seguida. gota.
Assim que adquire velocidade constante, o
que ocorre muito rapidamente, a gota torna-se
praticamente esférica, pois a resultante das forças
que atuam sobre ela é nula (sequência de fotos PB=

abaixo). E, como comentamos no estudo da Hi- A espessura da película de óleo equivale à distância y entre as pla-
drostática, se a resultante das forças externas sobre cas (reveja a figura da página 11): y = 0,25 mm = 2,5  10–4 m. Da
um líquido é nula, ele assume a forma esférica. definição de viscosidade:
0,40  2,5  10–4
DEUTSCHE PHYSIKALISCHE
GESELLSCHAFT/INSTITUTE
OF PHYSICS

Fy
η= ⇒ η = 0,020  0,010 ⇒ η = 0,50 Pa  s
Sv

Observações:
I. Em uma situação real, no início a placa acelera até atingir a
Foto múltipla da formação de uma gota da mistura água e glicerina. Logo velocidade em que a força viscosa e a tração no fio se equi-
depois de desprender-se, a gota torna-se praticamente esférica. libram. Nesse início, a massa da placa deve ser considerada,
o que não foi necessário aqui, pois já consideramos o con-

13
4
junto em movimento retilíneo uniforme. Não levamos em Sendo Vesfera =  πr3, r = 1,0 mm = 1,0  10–3 m, uti-
3
conta o trecho inicial porque nele a aceleração é variável e
no nível deste estudo não temos recursos de cálculo para lizando π = 3,1, temos:
4
examinar essa situação. Além disso, a definição de viscosi- Vesfera =  3,1(1,0  10–3)3 ⇒ Vesfera = 4,1  10–9 m3
3
dade e a expressão da força viscosa só podem ser aplicadas
Substituindo o valor de Vesfera em IV, obtemos o módulo F
em movimentos retilíneos com velocidade constante.
da força de resistência viscosa:
II. Note que não nos referimos ao atrito entre a placa e o líqui- F = (7 800 – 800)4,1  10–9  10 ⇒ F = 2,9  10–4 N (V)
do, pois não existe atrito entre uma superfície rígida e um Para determinar o coeficiente de viscosidade do óleo apli-
fluido. A tração é exercida na placa rígida, mas a força de cando a Lei de Stokes, precisamos saber qual é a velocida-
reação viscosa do fluido é exercida na placa por intermé- de de queda da esfera. Como ela é constante, Δx = 30 cm
dio da película de fluido que a reveste e com ela se move = 0,30 m e Δt = 10 s:
solidariamente.
Δx 0,30
v= ⇒v= ⇒ v = 0,030 m/s
III. Essa é uma situação experimental muito difícil de realizar, Δt 10
principalmente pela impossibilidade de manter uniforme Então:
a espessura da película de óleo. Por isso, apesar de seu for- F = 6πηrv ⇒ 2,9  10–4 = 6  3,1η  1,0  10–3  0,030 ⇒
mato, este é um exercício teórico. Uma situação experi- η = 0,52 Pa  s
mental de fácil realização é apresentada no exercício Observações:
resolvido a seguir. I. Este exercício descreve uma atividade experimental relati-
vamente simples para determinar a viscosidade de um
6 Uma esfera maciça de aço de 1,0 mm de raio cai verticalmen-
líquido. A validade dessa determinação pode ser verifica-
te com velocidade constante dentro de um tubo largo com óleo.
da comparando o resultado obtido com valores tabelados
Verifica-se que ela desce 30 cm em 10 s. Dadas a densidade do
(veja a tabela da página 11). Para analisar corretamente os
aço, daço = 7 800 kg/m3, e a do óleo, dóleo = 800 kg/m3, determi-
resultados, três fatores devem ser considerados: a) os es-
ne o coeficiente de viscosidade do óleo. Admita g = 10 m/s2.
treitos limites de validade da Lei de Stokes; por isso devem
Solução ser utilizados líquidos de alto coeficiente de viscosidade
Na figura a seguir estão representadas as forças que atuam para que a queda da esfera ocorra a baixa velocidade (não
sobre a esfera: o peso P=, o empuxo E= exercido pelo óleo sobre encontramos esses dados em relação à velocidade-limite
a esfera e a força F= de resistência viscosa do óleo: no óleo; estamos admitindo que o valor obtido aqui é viá-
vel por analogia ao da água); b) a largura do tubo deve ser
bem maior que o diâmetro da esfera; se o tubo for estrei-
to, as suas paredes vão interferir na resistência viscosa do
E=
líquido, o que pode causar turbilhonamento e invalidar os
F= resultados; c) a temperatura do líquido deve ser anotada,
pois, como mostra o gráfico da página 12, o coeficiente de
viscosidade de um líquido varia significativamente com a
temperatura.
II. Quando a velocidade é nula, a força de resistência viscosa
também é nula; por isso o movimento de queda é acelera-
P= do no início e, à medida que a velocidade aumenta, a força
de resistência viscosa também aumenta, até que a resultan-
te das forças sobre a esfera se anule e o movimento passe a
ser retilíneo uniforme — essa é a velocidade-limite. Por essa
Como a velocidade é constante, da Segunda Lei de Newton razão, as medidas das distâncias e dos tempos correspon-
em módulo, podemos escrever: dentes para a obtenção da velocidade da esfera só devem
F + E = P ⇒ F = P – E (I) ser feitas depois que ela já caiu por alguns segundos.
m
Da definição de densidade [d = V ], m = dV. Sendo P = mg, III. Assim como se pode determinar a viscosidade de um flui-
do conhecendo a velocidade-limite do corpo que o atraves-
o peso da esfera de aço pode ser expresso por: sa, é possível determinar a velocidade-limite de um corpo
P = daçoVesfera g (II) movendo-se através de um fluido conhecendo o coeficien-
Da expressão do empuxo (E = dfluidoVfluido deslocadog), da te de viscosidade desse fluido. Foi a partir daí que o físico
Hidrostática, podemos escrever: experimental norte-americano Robert Millikan (1868-
E = dóleoVesfera g (III) -1953) pôde, em 1909, determinar a carga elétrica elemen-
Substituindo III e II em I: tar e ganhar o prêmio Nobel de Física de 1923. O exercício
F = daçoVesferag – dóleoVesferag ⇒ F = (daço – dóleo)Vesferag (IV) resolvido a seguir mostra uma etapa dessa experiência.

14
7 Uma gota microscópica de óleo, de raio rgota = 4,0 μm, é aban- Um orifício de entrada para a câmara seleciona as gotas de
donada no interior de uma câmara onde o ar está em repouso. raio compatível com os limites da Lei de Stokes. Eletri-
Sabendo que esse óleo tem densidade dóleo = 800 kg/m3 e que o zadas por uma fonte externa ou na travessia do orifício, as
coeficiente de viscosidade do ar é ηar = 1,8  10–5 Pa  s, deter- gotas são observadas por meio da ocular de um microscó-
mine a velocidade-limite atingida por essa gota. Despreze o pio. Escolhe-se uma gota de cada vez para análise. Por
empuxo do ar e admita g = 10 m/s2. recursos teóricos relativamente simples, mas ainda não
Solução completamente estudados, determina-se a carga adquiri-
Se o ar está em repouso e o empuxo por ele exerci- F= da por essa gota. A experiência é repetida dezenas ou cen-
do sobre a gota é desprezível, podemos afirmar que tenas de vezes para outras tantas gotas. Obtêm-se, então,
sobre ela atuam duas forças: o seu peso P= e a força dezenas ou centenas de valores da carga elétrica, mas
de resistência viscosa F= exercida pelo ar. todos os valores obtidos são múltiplos de um mesmo va-
Quando a velocidade-limite é atingida, essas duas lor. Millikan concluiu que esse é o valor da carga elétrica
forças se equilibram, e a gota passa a cair com mo- elementar — a carga do elétron —, menor carga elétrica
vimento retilíneo uniforme. Então, da Segunda Lei existente na natureza.
de Newton em módulo, podemos escrever:
P= Para você resolver
P – F = 0 ⇒ F = P (I)
Se a gota é esférica e não há turbulência, podemos aplicar a Lei 5 A placa metálica plana representada na figura a
de Stokes: seguir tem área de 0,040 m2 e desliza sobre um
F = 6πηarrgotav (II) plano horizontal rígido apoiada em uma pelícu-
De I e II:
la de óleo de viscosidade η = 0,75 Pa  s. Supõe-
P = 6πηarrgotav ⇒ mgotag = 6πηarrgotav (III) -se que essa película seja contínua e uniforme e
m
Da definição de densidade [d = V ] e da expressão do tenha espessura y = 0,30 mm. O fio, inextensível
4 e de massa desprezível, é tracionado pelo bloco
volume da esfera [V =  πr3], a massa da gota pode ser ex- B, de massa 60 g, e o atrito na roldana e a sua
3
pressa na forma: massa são desprezíveis. Observa-se que o siste-
4 ma, ao ser posto em movimento, atinge rapida-
mgota = dóleoVgota ⇒ mgota = dóleo   πr3gota (IV)
3 mente uma velocidade-limite. Qual é essa velo-
Substituindo IV em III:
cidade? (Observação: Ao atingir a velocidade-
4 4
dóleo   πr3gota g = 6πηarrgotav ⇒ dóleo   r2gota g = 6ηarv -limite, o sistema passa a se mover com veloci-
3 3
dade constante.) Adote g = 10 m/s2.
Sendo rgota = 4,0 μm = 4,0  10–6 m e substituindo os demais
dados na expressão acima:
4
800  (4,0  10–6)210 = 6  1,8  10–5v ⇒ v = 1,5  10–2 m/s
3
Observações: B
I. O valor obtido está dentro do limite para o movimento de
uma esfera sem turbulência no ar: v = 2 m/s. Se o resultado 6 Uma esfera maciça de alumínio, de 2,0 mm de
ultrapassa esse valor, há turbulência e não podemos aplicar raio, cai verticalmente em um tubo com gliceri-
a Lei de Stokes. Seria o caso de uma gota de óleo de 1,0 mm na. Depois de atingir velocidade constante, veri-
de raio; obteríamos v = 100 m/s, valor que extrapola em fica-se que ela desce 18 cm em 20 s. Dadas a
muito o limite de validade da Lei de Stokes para o ar.
densidade do alumínio, dAl = 2 700 kg/m3, e a da
II. Na experiência de Millikan borrifa-se óleo com um vapo- glicerina, dglicerina = 1 300 kg/m3, e admitindo
rizador em uma câmara limitada por duas placas eletriza-
g = 10 m/s2, determine:
das e onde o ar está em repouso. Veja a figura a seguir.
a) a força de resistência viscosa exercida pela
borrifo de pequenas
gotas de óleo glicerina;
orifício
b) o coeficiente de viscosidade da glicerina.
raios X para
(+) produzir carga
7 Sabendo que a velocidade-limite para a aplicação
na gota de óleo da Lei de Stokes no ar é 2,0 m/s, qual deve ser o
placas valor limite do raio de uma gota de óleo para que
ocular
eletrizadas ela possa cair sem turbulência no ar em repouso?
(–)
gota de óleo (Dados: dóleo = 800 kg/m3; ηar = 1,8  10–5 Pa  s;
carregada g = 10 m/s2; considere o empuxo do ar desprezível.)
sob análise

15
A natureza do escoamento determina a velocida- toda sua parede lateral —, a sua importância só foi expli-
de-limite de um corpo atravessando um fluido. Se o es- citada em 1932 pelo engenheiro aeronáutico romeno
coamento é laminar, a velocidade-limite do corpo é Henri-Marie Coanda (1885-1972). Desde então, esse
maior, condição do estudo feito até aqui. Quando o es- fenômeno passou a denominar-se Efeito Coanda e na úl-
coamento é turbulento, essa velocidade se reduz, e a tima década do século XX adquiriu maior importância
teoria aqui apresentada deixa de ter validade. Veja a quando passou a “substituir” a Equação de Bernoulli na
figura a seguir: maior parte das explicações de fenômenos de sustentação
de corpos em movimento através de fluidos, provocando
uma pequena revolução no estudo da aerodinâmica.

5. Efeito Coanda
v=1 Veja as fotos a seguir:

EDUARDO SANTALIESTRA

EDUARDO SANTALIESTRA
v=2

Para o mesmo chute (impulso inicial), a velocidade v 1= da bola de cima será sem-
pre maior que a velocidade v 2= da segunda bola, pois o escoamento é laminar na
primeira e turbulento na segunda.
Ao encostar a face convexa da colher no filete de
O mesmo corpo na mesma travessia pode provocar água, observa-se que ele adere à colher e tem o seu
um escoamento laminar e turbulento (veja a foto a seguir). curso desviado, e a colher é puxada para ele.
Esse fenômeno simples descreve o Efeito Coanda,
www.sfondideldesktop.com

cuja causa é a mesma da viscosidade: a interação eletro-


magnética entre as moléculas do fluido (a água) e os
átomos ou as moléculas da superfície rígida (o material
escoamento de que é feita a colher). Assim, podemos dizer que a su-
turbulento
perfície da colher atrai a água do filete e faz com que ele
acompanhe a sua curvatura, e, pelo Princípio da Ação e
Reação, a água atrai a colher, que avança para o interior
escoamento do filete. Veja a figura a seguir.
laminar
Na região frontal do submarino, o escoamento é laminar. Logo
atrás, torna-se turbulento.

Como ocorre a adesão do fluido à superfície rígi-


da de um corpo quando eles (fluido e corpo) se atraves- F= (ação da –F=
sam é muito complexo e pode ter consequências ex- água sobre (reação da colher
a colher) sobre a água)
traordinárias.
Embora a adesão dos fluidos aos corpos rígidos es-
teja muito presente em nossa vida cotidiana — a água
que transborda de um copo não cai sem antes percorrer

16
Um corpo só pode realizar uma trajetória curva

EDUARDO SANTALIESTRA
se estiver sob a ação de uma força resultante centrípe-
ta, o que nos permite aprofundar um pouco mais esta
explicação.
Considere um pequeno cubo imaginário de água
do filete movendo-se em trajetória curva junto da su-
perfície convexa da colher. Veja a figura abaixo.

EDUARDO SANTALIESTRA
superfície
da colher

F=cp O

=
–Fcp

filete
de água

O cubo descreve essa trajetória curva porque sobre Uma tira de papel é dobrada e modelada
como o perfil da asa de um avião. O sopro por
ele atua a força resultante centrípeta, F=cp, de origem ele-
cima faz com que a asa suba.
tromagnética. Em consequência, aparece na colher a
força de reação –F=cp, que empurra a colher para o filete
Para compreender o que ocorre é preciso perceber
de água.
que, em ambos os casos, o papel só se eleva quando o
Uma situação análoga é ilustrada na foto a seguir:
fluxo de ar atinge a sua superfície, ou seja, o papel é ele-
enquanto gira a esfera, a arremessadora exerce sobre ela
vado pela ação direta e viscosa do ar sobre a sua superfí-
a força de tração centrípeta T= através da corrente. Da
cie. Essa força resultante para cima atua também no
mesma forma, a esfera exerce sobre a atleta a força –T=
perfil curvo da asa do avião, da mesma forma que a
— a atleta só não se desloca se os seus pés estiverem
água atua sobre a superfície da colher na descrição ante-
bem presos ao chão, por atrito.
rior. Veja as figuras a seguir.
KAZUHIRO NOGI/AFP/GETTY IMAGES

fluxo
de ar

tira de
papel

O Efeito Coanda vale para qualquer fluido e, no


caso do ar, permite entender a origem de uma das for- Como o fluxo de ar não atinge a tira de papel, nada acontece.
ças responsáveis pela sustentação da asa do avião. Veja
as fotos a seguir. fluxo
de ar
EDUARDO SANTALIESTRA

tira de
papel

A moça faz a tira de papel subir soprando aci- Ao atingir o ponto mais alto da curvatura do papel, o fluxo de
ma dela, horizontalmente. ar arrasta a tira para cima, como prevê o Efeito Coanda.

17
Mas há ainda um efeito adicional. Suponha que o
fluxo de ar acompanhe a tira de papel, que, em seguida, DISCUSSÃO: A NOVA
é forçada a curvar-se e a adquirir o formato aproxima- EXPLICAÇÃO DO EFEITO
do da asa de um avião. Veja as figuras a seguir. DA ASA DE UM AVIÃO
A história da ciência apresenta momentos mar-
cantes em que a interpretação de alguns fenôme-
fluxo tira de
de ar nos se modifica em razão da mudança de uma fun-
papel
damentação teórica — as hipóteses para explicar a
natureza da luz são um exemplo dessa mudança.
forças viscosas Mas o que se observa agora é diferente. Não
atuando sobre se trata de revisão teórica; tampouco as equações
partículas de ar
de Continuidade e de Bernoulli perderam a valida-
de. Elas continuam aceitas e corretas. O que
mudou foi a percepção de que elas não podem ser
tira de
aplicadas à explicação da sustentação da asa do
papel avião nem à de alguns experimentos criados até
Na primeira figura, a região sombreada representa o espaço que essa curvatura explicitamente para ilustrá-las.
abre para o fluxo de ar. Se esse espaço não fosse ocupado pelo fluxo de ar, essa É difícil saber por que um equívoco como esse
região ficaria vazia; haveria vácuo nela. Mas isso não ocorre. A adesão viscosa do aparece e sobrevive durante tanto tempo. Uma
ar à superfície do papel faz com que as partículas de ar sejam puxadas para essa
região (segunda figura) — elas são aceleradas no sentido da superfície encurva- explicação óbvia é a dificuldade inerente à inter-
da por ação da força viscosa que aparece no ar nessa região. pretação física dos fenômenos da natureza ou
mesmo das próprias criações humanas — nada,
Assim, ao atravessar uma superfície curva, o fluxo nenhuma explicação, é trivial.
de ar tende a acompanhá-la e sofre uma diminuição de Uma das ideias hoje comprovadamente errada,
pressão; com isso, sua velocidade aumenta (reveja a foto mas ainda apresentada como certa em muitas en-
da página 2: ela mostra como o fluxo de ar para essa re- ciclopédias, sites e textos didáticos, é que, como
gião de baixa pressão pode até tornar-se turbulento). consequência da Equação de Continuidade, as par-
Mas não é o aumento da velocidade do fluxo que pro- tículas do ar levam o mesmo tempo para percorrer
voca a redução da pressão; é esta que provoca aquele. a parte inferior e a superior da asa de um avião. Por
Por essa razão, dependendo do perfil inferior da asa isso, se o perfil curvo superior da asa é maior que o
de um avião, a velocidade do ar em cima pode ser maior inferior, o ar passa em cima da asa com velocidade
que embaixo. Nesse caso, essa diferença origina uma força maior do que embaixo. Veja a figura a seguir.
adicional resultante da diferença de pressões e de veloci- maior velocidade menor pressão
força resultante
dades, que pode ser calculada pela Equação de Bernoulli.
Veja a figura a seguir: sobre a asa atuam as forças F=C, devi-
da à ação viscosa do ar (Efeito Coanda), e F=B, devida à
diferença de pressões entre o ar em movimento na parte
menor velocidade maior pressão
superior da tira e o ar praticamente em repouso na parte
inferior (Equação de Bernoulli). É difícil saber qual a con-
Por causa dessa diferença de velocidades, de
tribuição de cada uma dessas forças, mas não há dúvida acordo com a Equação de Bernoulli, aparece uma
de que a origem primeira de ambas é o Efeito Coanda. diferença de pressões, que resulta na força de sus-
F =C
tentação do avião.
F B= Essa explicação é contestada por várias ra-
zões. As principais são:
a) Nem todas as asas têm esse perfil. Muitas são
planas ou têm um perfil perfeitamente simétri-
co, o que invalida a hipótese da “necessidade”
Essa é uma explicação relativamente nova desse fe-
de o ar ter velocidade maior em cima.
nômeno e vem sendo mais bem aceita do que a antiga
b) Os aviões de acrobacia voam de cabeça para
baseada nas equações de Continuidade e de Bernoulli
baixo, o que seria impossível se essa explicação
(veja o boxe Discussão: A nova explicação do efeito da
fosse verdadeira.
asa de um avião).
18
c) Quanto maior o percurso do ar em cima da asa Veja as imagens abaixo.
em relação ao percurso de baixo, mais eficiente

ALAN RODRIGO MARRETTO


ela seria, o que é comprovadamente falso.
d) As partículas de ar que passam por cima da asa
não têm nenhum vínculo com as partículas de
baixo, ou seja, elas não têm como “saber”se estão
ou não acompanhando as de baixo.
e) Simulações feitas em computador ou em túneis
de vento mostram que as partículas de cima têm
velocidade maior que a das suas hipotéticas par-
ceiras de baixo (veja a figura a seguir).
A B F =C
C
D

F’C=

Enquanto o ar não atravessa a asa, os blocos de linhas de fluxo A e B têm a mesma


velocidade, mas, por causa do Efeito Coanda, a passagem pela asa faz com que os
blocos C e D se adiantem. As partículas de ar de cima não acompanham as partí-
culas de ar de baixo, como a antiga explicação da sustentação da asa afirmava.
Na primeira, um sopro dirigido frontalmente para a
garrafa apaga a vela colocada logo atrás. Essa experiência
Esta última observação valida o uso da Equa- simples mostra que o ar também adere à superfície curva
ção de Bernoulli como origem de uma força de da garrafa e a acompanha, como a água, ou seja, ela com-
sustentação, mas não é causa dela, como se expli- prova que o Efeito Coanda também ocorre com o ar.
ca nas duas primeiras figuras da página anterior. A foto mostra uma experiência muito conhecida.
Além disso, a força resultante para cima, decorren- Uma bolinha de isopor flutua presa a um jato de ar. A
te dessa diferença de pressões, não é suficiente terceira imagem ilustra a nova explicação para essa ex-
para a sustentação da asa e muito menos do avião. periência baseada no Efeito Coanda: a adesão do ar à
Para aqueles que (como este autor) por muito curvatura da bolinha faz com que ela se mantenha presa
tempo acreditaram e difundiram essa explicação, ao jato de ar, como a colher se prende ao filete de água.
talvez sirva de consolo saber que Einstein, durante Note que há duas forças resultantes decorrentes desse
a Primeira Guerra Mundial, sugeriu que se cons- efeito — F=C e F=C’ —, mas a de maior intensidade atua no
truísse uma asa com perfil orientado pelas equa- sentido do fluxo de ar mais curvo e mais intenso; por isso
ções de Continuidade e de Bernoulli e, como hoje a bolinha sempre é puxada para o meio do fluxo de ar. A
seria de esperar, sua sugestão foi um retumbante sustentação da bolinha continua sendo explicada como
fracasso. Veja na figura abaixo o perfil da asa pro- antes: ela se deve à ação direta do ar sobre a bolinha.
posto por Einstein.
Para você pensar

Por fim, é importante destacar que o Efeito 7 Muitos recipientes têm um bico para que se pos-
Coanda isoladamente não explica o voo ou a susten- sa verter o líquido neles contido sem que escorra
tação do avião. Apenas é causa parcial da força de pelas paredes. Justifique esse recurso com base
sustentação exercida pela asa. Veja a figura a seguir. no Efeito Coanda.
8 No boxe Discussão: A forma de uma gota (página
A
13) afirmamos que, ao adquirir velocidade cons-
D tante, a gota se torna praticamente esférica. Por
B que não perfeitamente esférica? O que pode im-
C
pedir a gota de adquirir uma esfericidade perfei-
Um avião em voo está sob a ação de quatro forças: A: força resultante de sus- ta? (Observação: Pense no que aconteceria com
tentação exercida pela asa (uma pequena parcela deve-se ao Efeito Coanda);
B: força de tração exercida pela hélice ou turbina; C: peso, exercido pela Terra; a bolinha flutuante da última figura acima se ela
D: força viscosa exercida pelo ar. fosse deformável como uma esfera de água.)

19
Deduções Como V = V1 = Δx1S1 = v1ΔtS1 (ou V = V2 = v2ΔtS2):
1a) Equação de Continuidade ΔEc = 1  dv1ΔtS1(v22 – v12) (III)
2
Reveja a última figura da página 3. Os trechos ha-
churados correspondem ao deslocamento de um fluido b) um acréscimo ΔEp de energia potencial gravitacional:
ideal no mesmo intervalo de tempo ⌬t. Se o fluxo (Φ) é ΔEp = mg(h2 – h1) ⇒ ΔEp = dv1ΔtS1g(h2 – h1) (IV)
constante e esse intervalo é suficientemente pequeno,
Esses acréscimos de energia se devem ao trabalho
esses trechos podem ser considerados cilindros de áreas
realizado por duas forças, uma decorrente da pressão
S1 e S2. Nessas condições, vamos aplicar a esses dois
cilindros as definições de fluxo (Φ = vS) e de p1 , de módulo F1 = p1S1, atuando em S1 no sentido do
movimento do fluido, e outra decorrente da pressão p2,
⌬x ]
velocidade média [v = , nesse caso também cons- de módulo F2 = p2S2, atuando em S2 no sentido oposto.
⌬t
Então, podemos escrever:
tante, pois Φ e S são constantes. Para o cilindro de base S1:
τF=1 + τF=2 = ΔEc + ΔEp (V)
⌬x
Φ1 = ⌬t1  S1
Da expressão da força em função da pressão e da
superfície (I), da definição de trabalho (II), lembrando que
Como ⌬x1S1 = V1 (volume do cilindro de altura ⌬x1):
V em cada caso Δx = vΔt, e das expressões III e IV substituí-
Φ1 = ⌬t1 (I) das em V, temos:

Por raciocínio análogo, para o cilindro de base S2: p1S1v1Δt  cos 0° + p2S2v2Δt  cos 180° =
V 1  dv
Φ2 = ⌬t2 (II) 1ΔtS1(v2 – v1 ) + dv1ΔtS1g(h2 – h1) ⇒
2 2
2
1
Como Φ é constante e ⌬t é o mesmo, podemos (p1 – p2)S1v1Δt =  dv1ΔtS1(v22 – v12) +
2
concluir de I e II que V1 = V2. Então, aplicando de novo
a expressão do volume do cilindro e lembrando que dv1ΔtS1g(h2 – h1) ⇒ p1 – p2 =
⌬x = v⌬t:
= 1  d(v22 – v12) + dg(h2 – h1)
V1 = V2 ⇒ S1⌬x1 = S2⌬x2 ⇒ S1v1⌬t = S2v2⌬t ⇒ 2
S1v1 = S2v2 ou v1S1 = v2S2
3a) Equação de Torricelli
2-a) Equação de Bernoulli Reveja a primeira figura da página 7. Vamos supor
Para esta dedução é preciso recordar as seguintes que a área S do orifício seja muito menor que a área S0 da
expressões: superfície do tanque. Nesse caso, da Equação de Conti-
m nuidade, podemos escrever:
• densidade: d = e m = dV
V
v0S0 = vS ⇒ v0 = v  S
F S0
• pressão: p = e F = pS (I)
S E concluir que v 0= também é muito menor que v,= ou
• trabalho: τ = FΔx  cos α (II) seja, que, em relação ao módulo de v ,= podemos supor
1 v0 = 0.
2  mv
2
• energia cinética: Ec = Vamos admitir ainda que a pressão atmosférica, p0,
é a mesma na superfície do líquido e no orifício de saída
• energia potencial gravitacional: Epg = mg(h – h0) e que por ele o escoamento seja laminar. Nessas condi-
Pela dedução anterior, sabemos que os dois cilin- ções, aplicando a Equação de Bernoulli à superfície
dros em cinza da primeira figura da página 5 têm o mes- (nível 1) e ao orifício (nível 2) e colocando o referencial
mo volume: V1 = V2. Como, tratando-se de um fluido para as alturas no nível do orifício, temos:
ideal, a densidade é constante, ambos têm a mesma mas-
1 1
sa m de fluido. p1 +  dv12 + dgh1 = p2 +  dv22 + dgh2 ⇒
2 2
Ao deslocar-se pelo tubo do nível h1, com veloci-
1 1
dade de módulo v1, para o nível h2, com velocidade de p0 +  dv02 + dgh0 = p0 +  dv2 + dgh ⇒
módulo v2, podemos afirmar que a massa de fluido con- 2 2
tida nesses cilindros sofre: 1 1
p0 +  d(0)2 + dgh = p0 +  dv2 + dg(0) ⇒
a) um acréscimo ΔEc de energia cinética: 2 2
1 
ΔEc = 1  m(v22 – v12) ⇒ ΔEc = 1  dV(v22 – v12) dgh =  dv2 ⇒ v = 2gh
2 2 2
20
4a) Tubo de Venturi as falhas da antiga explicação, baseada na Equação de
Reveja o esquema de um tubo de Venturi na página Bernoulli, e justifiquem a utilização do Efeito Coanda.
8. Seja S1 a área da seção normal onde a pressão é p1 e a Sugerimos as duas atividades ilustradas nas fotos a seguir.
velocidade do fluido é v1 e S2 a área da seção normal onde Improvise o encaixe de um disco rígido — um CD,
a pressão é p2 e a velocidade do fluido é v2. Da Equação por exemplo — na boca de um secador de cabelos, por
de Continuidade e da definição de fluxo (Φ = vS): exemplo, para que o jato de ar passe pelo furo central.
Coloque outro disco de cartolina, de mesmo raio, sem o
Φ Φ
Φ = v1S1 = v2S2 ⇒ v1 = (I) e v2 = (II) furo central, no chão; aproxime o disco rígido do disco
S1 S2
no chão. Ele será puxado e vai prender-se ao disco rígi-
Da Equação de Bernoulli, sendo h2 = h1, podemos do (três ou quatro apoios laterais, também de cartolina,
escrever: colados na extremidade do disco inferior garantem que
p1 – p2 = 1  d(v22 – v12) (III) ele não escape lateralmente). Note que, como o disco
2
está no chão, não há ar sob ele que justifique a explica-
Substituindo I e II em III: ção baseada na diferença de pressões.


2(p1 – p2) Faça um perfil de asa em isopor ou cartolina (o
Φ = S1S2
d(S12 – S22) perfil mostrado nas fotos abaixo é de madeira balsa e foi
montado com material adquirido em casa de aeromo-
Atividades experimentais
delismo). Faça dois furos no perfil e duas hastes verti-
A Fluidodinâmica é riquíssima em atividades
cais paralelas fixadas em uma base plana, pelas quais o
experimentais.
perfil da asa possa se mover também verticalmente.
Uma atividade simples e muito rica em conteúdo,
Deixe o perfil apoiado na base, com uma película de ar
sobretudo pela revisão que permite da Cinemática, é
descrita na primeira figura do exercício resolvido 3* de espessura desprezível sob ele, e faça incidir sobre ele
(página 7). o ar de um pequeno ventilador (na montagem das fotos
As atividades mostradas nas duas últimas figuras utilizamos uma pequena turbina — para esse perfil o
da página 17 e na quarta figura e foto da página 19 tam- jato de ar precisa ser bem forte — e fizemos uma leve
bém são muito fáceis e sugerimos ao professor que as elevação na base para garantir que o ar não passasse
faça. Na experiência da vela atrás da garrafa, o professor abaixo do perfil). Você verá que o perfil da asa é puxa-
deve colocar água na garrafa pelo menos até a metade, do para cima, embora só haja fluxo de ar passando por
para que ela não caia sobre a vela. A experiência da boli- cima dele, o que nos impede de explicar o fenômeno
nha flutuante é mais fácil de ser feita adaptando a um pela Equação de Bernoulli.
secador de cabelos uma boca fina e circular e usando
ALAN RODRIGO MARRETTO

uma bolinha de isopor de 2 cm a 3 cm de diâmetro, no


máximo. Bolinhas de pingue-pongue são muito pesadas
e exigem jatos de ar muito fortes, que nem todos os
secadores de cabelo produzem.
Com o advento das novas explicações, é importan-
te que o professor também faça atividades que mostrem
ALAN RODRIGO MARRETTO
ALAN RODRIGO MARRETTO

ALAN RODRIGO MARRETTO

* Essa atividade está descrita em detalhes nas páginas 82-84 do livro Experiências de ciências para o ensino fundamental, deste mesmo autor (São Paulo: Ática, 2005).

21
Preparação para o ingresso no ensino superior a) m–1  s–1. d) m3  s.
Testes b) m  s–1. e) m3  s–1.
c) m2  s.
1 (Unifra-RS) Num salto de paraquedas, verificamos
que a velocidade do paraquedista pode ser conside- 4 (PUCC-SP) Num dado instante, se a velocidade do
rada constante, ao menos depois de algum tempo fluxo sanguíneo num ponto do eixo central da aorta é
que o paraquedas tenha sido aberto. Dessa forma, de 28 cm/s e o raio desse vaso é 1 cm, a velocidade
podemos considerá-lo como um movimento unifor- em um ponto que dista 0,5 cm desse eixo é, em cen-
me. Dentre os itens abaixo, qual apresenta uma expli- tímetros por segundo, igual a:
cação plausível para esse fato? a) 19. d) 25.
a) Com o movimento apropriado de pernas e bra- b) 21. e) 27.
ços, o paraquedista consegue anular o efeito da c) 23.
gravidade.
b) Na baixa atmosfera, o ar menos denso impede que 5 (PUC-RS) Quando um fluido é incompressível (mas-
a velocidade dos objetos continue aumentando. sa específica constante), sua vazão em qualquer se-
c) O ar menos aquecido vindo da região próxima à ção reta de uma tubulação de diâmetro variável é
terra impulsiona o paraquedas para cima. sempre a mesma e vale Av, em que A é a área da
d) A força de resistência do ar, em magnitude, é seção reta e v é o valor médio da velocidade do flui-
do na seção. Considerando uma parte da tubulação
aproximadamente igual à força gravitacional da
onde a área da seção reta é A1 e a velocidade média
Terra, fazendo com que o paraquedista atinja uma
do fluido é v1, e outra região onde a área da seção
velocidade terminal constante.
reta é A2 = 3A1 e a velocidade média é v2 = xv1, o valor
e) No vácuo gerado pelo paraquedas em movimento,
de x é:
ele passa a se mover com velocidade constante. 1
a) 9. d) .
3
2 (Unifra-RS) Para fazer chegar água a uma popula- b) 3. e) 1 .
ção cada vez maior das cidades grandes, é preciso, 9
c) 1.
além de outras coisas, aumentar a vazão de água nas
tubulações. Sendo v a velocidade da água na tubula- 6 (PUC-RS) Quando a água passa numa tubulação
ção e A a área de seção reta do tubo, é possível con- horizontal de uma seção de 4,0 cm de diâmetro para
cluir que: outra seção de 2,0 cm de diâmetro:
a) A vazão é diretamente proporcional a v e inversa- a) sua velocidade diminui.
mente proporcional a A. b) sua velocidade não se altera.
b) A vazão é inversamente proporcional a v e direta- c) a pressão diminui.
mente proporcional a A. d) a pressão aumenta.
c) A vazão é inversamente proporcional a v e inver- e) a pressão não se altera.
samente proporcional a A.
d) A vazão é diretamente proporcional a v e direta- 7 (PUC-RS) Uma pequena esfera de vidro cai com ve-
mente proporcional a A. locidade constante num líquido em repouso contido
e) A vazão não depende de A ou v. num recipiente. Com relação aos módulos das forças
que atuam sobre a esfera, peso P, empuxo E e força
de atrito viscoso Fa, é correto afirmar que:
Para responder às questões de números 3 e 4 utilize
a) P = E. d) P = E – Fa.
as informações abaixo.
b) P = Fa. e) P = Fa – E.
De acordo com a Lei de Poiseuille, a velocidade v do
c) P = E + Fa.
sangue, em centímetros por segundo, num ponto P à
distância d do eixo central de um vaso sanguíneo de 8 (PUC-RS) A figura abaixo representa um segmento
raio r é dada, aproximadamente, pela expressão de cano horizontal, com diâmetro variável, por onde
v = C(r2 – d2), em que C é uma constante que depen- flui água. Considerando as seções retas A e B, é corre-
de do vaso. to afirmar que:
3 (PUCC-SP) A unidade da constante C no Sistema a) a pressão da água é me- A B

Internacional é: nor em A do que em B.

22
b) a velocidade da água é maior em A do que em B. do trecho do rio Tuandeua, uma equipe de técnicos
c) através das duas seções retas, A e B, a vazão de fez algumas medidas e João ficou sabendo que a área
água é a mesma. transversal ao rio, naquele trecho, media 500 m2 e a
d) a pressão da água é a mesma em A e em B. velocidade média da água na vazante era de 1 m/s.
e) a velocidade de escoamento é a mesma em A e Como já sabia que em frente a sua casa a velocidade
em B. média na vazante era 2 m/s, fazendo aproximações
para uma situação ideal, conclui-se que a área trans-
9 (PUC-RS) A força de atrito viscoso sobre um deter- versal do rio, em frente à casa de João, é igual a:
minado barco é diretamente proporcional à sua ve- a) 250 m2. d) 750 m2.
locidade em relação à água. Sob outro aspecto, a po- b) 300 m .2
e) 1 000 m2.
tência desenvolvida pela força motriz para deslocar o c) 500 m .2

barco numa dada velocidade e em movimento retilí-


neo pode ser calculada pelo produto entre os mó- Questão discursiva
dulos da força e da velocidade. Verifica-se que, para 12 (UFBA) Um fenômeno bastante curioso associado
deslocar o barco com velocidade constante de mó- ao voo dos pássaros e do avião pode ser visualizado
dulo 12 km/h, é necessária potência motriz de através de um experimento simples, no qual se utiliza
6,0 kwatts (kW). Para deslocar o mesmo barco com um carretel de linha para empinar pipa, um prego e
velocidade constante de módulo 24 km/h, será ne- um pedaço circular de cartolina.
cessária potência motriz de:
a) 24 kW. d) 14 kW.
b) 18 kW. e) 10 kW.
c) 16 kW.

10 (PUC-RS) Numa experiência de laboratório de Fí-


sica, abandona-se uma esfera metálica no topo de um
tubo de vidro cheio de água, na vertical. A esfera cai
inicialmente em movimento acelerado, mas, após
alguns centímetros, atinge velocidade constante, por
isso chamada velocidade terminal ou velocidade-li-
mite. Considerando a esfera com massa específica
2 cm
duas vezes a da água e sabendo que os módulos das
únicas forças que agem sobre ela são o seu peso P, o
O prego é colocado no centro da cartolina e inserido
empuxo E e a força de atrito viscoso A (também cha-
no buraco do carretel, conforme a figura. Soprando
mada força de arrasto), pode-se concluir que, quando
atingida a velocidade-limite: pelo buraco superior do carretel, verifica-se que o
a) P = E. d) P = 2A. conjunto cartolina-prego não cai. Considere a massa
b) E = 2A. e) P = A. do conjunto cartolina-prego igual a 10 g, o raio do
c) A = 2E. disco igual a 2 cm e a aceleração da gravidade local
10 m/s2. A partir dessas informações, apresente a lei
11 (UFPA) Não era novidade para ninguém que a ve- física associada a esse fenômeno e calcule a diferença
locidade de escoamento do rio mudava ao longo de de pressão média mínima entre as faces da cartolina
seu curso. Para projetar uma ponte sobre determina- necessária para impedir que o conjunto caia.

23
Orientações para o Professor
e resolução dos exercícios
Comentários e sugestões • Reconhecer e saber utilizar corretamente símbolos, có-
Este assunto apresenta uma rara novidade: a revisão da digos e nomenclaturas de grandezas da física.
explicação clássica que a maioria dos físicos e engenheiros • Ler e interpretar corretamente tabelas, gráficos, esque-
ainda dá em relação à sustentação da asa de um avião. mas e diagramas apresentados em textos.
É importante, em primeiro lugar, que o professor se • Construir sentenças ou esquemas para a resolução de
convença de que ela está de fato errada e deve ser revista. problemas.
Para isso, sugerimos a leitura de alguns textos. O primeiro é o • Elaboração de comunicações
artigo pioneiro, em português, que alerta para esse equívoco • Descrever relatos de fenômenos ou acontecimentos que
e apresenta o Efeito Coanda: A dinâmica dos fluidos comple- envolvam conhecimentos físicos, apresentando com
mentada e a sustentação da asa, de Klaus Weltner, Antonio clareza e objetividade suas considerações e fazendo uso
Sergio Esperidião e Paulo Miranda, professores do Instituto apropriado da linguagem da física.
de Física da Universidade Federal da Bahia, e Martin Ingel- • Elaborar relatórios analíticos, apresentando e discutin-
man-Sundberg, da Suécia. Foi publicado na Revista Brasileira do dados e resultados, seja de experimentos ou de ava-
de Ensino de Física, volume 23, número 4, de dezembro de liações críticas de situações, fazendo uso, sempre que
2001, e pode ser acessado diretamente pela Internet na pági- necessário, da linguagem física apropriada.
na www.sbfisica.org.br/rbef/Vol23/Num4/.
Há muitos outros, todos em inglês. Indicamos dois: Investigação e compreensão
Model airplanes, the Bernoulli Equation, and the Coanda • Estratégias para enfrentamento de situações-problema
Effect, de Jef Raskin, que pode ser acessado em http://jef. • Frente a uma situação ou problema concreto, reco-
raskincenter.org/main/published/coanda_effect.html. O nhecer a natureza dos fenômenos envolvidos, situan-
autor foi professor da Universidade da Califórnia, em San do-os no conjunto de fenômenos da física, e identi-
Diego, e se tornou muito conhecido por ter criado o com- ficar as grandezas relevantes em cada caso.
putador Macintosh. O outro é uma página do excelente ma- • Interações, relações e funções; invariantes e transforma-
terial educativo produzido pela Nasa para explicar o voo do ções
avião — é um texto curto, claro e objetivo, que pode ser • Reconhecer a relação entre diferentes grandezas ou
encontrado em www.grc.nasa.gov/WWW/K-12/airplane/ relações de causa-efeito para ser capaz de estabelecer
wrong1.html. Se o professor se interessar, há na Internet farto previsões.
material de boa qualidade a respeito, mas quase todo em • Identificar regularidades, associando fenômenos que
inglês. ocorrem em situações semelhantes para utilizar as leis
Essas leituras e a realização das experiências descritas que expressam essas regularidades na análise e nas
nas atividades propostas certamente vão convencer o pro- previsões de situações do dia-a-dia.
fessor da necessidade dessa revisão. Quanto ao aluno, é • Reconhecer a existência de invariantes que impõem
condições sobre o que pode e o que não pode aconte-
quase certo que a maioria não conhece a explicação ante-
cer em processos naturais para fazer uso desses inva-
rior, mas nos parece importante que saibam dessa revisão,
riantes na análise de situações cotidianas.
por dois motivos pelo menos. O primeiro, para mostrar o
caráter humano da física e que as verdades nela, como em • Relações entre conhecimentos disciplinares, interdis-
ciplinares e interáreas
qualquer ciência, não são definitivas e podem ser revistas
• Construir uma visão sistematizada dos diversos tipos
— essa é, aliás, uma das recomendações dos PCNs. O segun-
de interação e das diferentes naturezas de fenômenos
do, para mostrar ao aluno que a física não é mesmo fácil,
da física para poder fazer uso desse conhecimento de
não só na sua construção conceitual, mas também na forma
forma integrada e articulada.
como ela é empregada para explicar os fenômenos tecno-
• Identificar e compreender os diversos níveis de expli-
lógicos ou do dia-a-dia. Alguns professores gostam de dizer
cação física, microscópicos ou macroscópicos, utilizan-
que física é fácil, que tudo se resume a aplicar as fórmulas
do-os apropriadamente na compreensão de fenôme-
certas, uma falácia que só angustia e desestimula os alunos.
nos.
É muito melhor para o aluno saber que não está sozinho
nas dificuldades de compreensão e nos erros que comete, Contextualização sociocultural
pois, como vimos, até Einstein os cometeu. • Ciência e tecnologia na história
• Compreender o desenvolvimento histórico dos mode-
los físicos para dimensionar corretamente os modelos
Competências
atuais, sem dogmatismo ou certezas definitivas.
Representação e comunicação • Compreender o desenvolvimento histórico da tecno-
• Símbolos, códigos e nomenclaturas de ciência e tecno- logia nos mais diversos campos e suas consequências
logia para o cotidiano e as relações sociais de cada época,

25
identificando como seus avanços foram modificando p1 + dgh1 = p2 + dgh2 ⇒ p1 – p2 = dgh2 – dgh1 ⇒
as condições de vida e criando novas necessidades. p2 – p1 = dg(h2 – h1)
• Perceber o papel desempenhado pelo conhecimento b) A diferença de pressões (p1 – p2) é responsável, em I,
físico no desenvolvimento da tecnologia e a complexa só pela variação da energia cinética do líquido e, em
relação entre ciência e tecnologia ao longo da história. II, apenas pela variação da energia potencial gravita-
cional.
Atividades interdisciplinares e de 4. A afirmação é correta. Basta observar que a dedução da
contextualização expressão dessa lei (página 20) tem como ponto de par-
O assunto abordado aqui complementa os de tida a identidade entre o trabalho realizado pelas forças
Hidrostática, que tratam dos líquidos em equilíbrio (os devidas às variações de pressão e as respectivas varia-
gases em equilíbrio são objeto da Teoria Cinética dos Gases, ções de energia cinética e potencial da água, conse-
apresentada com o estudo da Termodinâmica). quência do Princípio da Conservação da Energia Mecâ-
Ter como temas principais a água, como líquido, e o ar, nica.
como gás, possibilita a realização de inúmeras atividades 5. Como mostra a equação de Torricelli, a velocidade de saí-
interdisciplinares e de contextualização. Esta pode ser tra- da da água não depende da abertura do orifício, ou seja,
balhada a partir da sua mais importante tecnologia — a nesse caso apertar a saída da mangueirinha não aumenta
Aerodinâmica —, destacada na foto de abertura deste arti- a velocidade de saída da água, o que invalida a ideia ini-
go. Além da sustentação de aviões e helicópteros, a cial do aluno. Esse resultado não contraria a Equação de
Aerodinâmica estuda a aderência dos veículos terrestres ao Continuidade (v1S1 = v2S2), pois ela não se aplica a essa
solo e a redução da resistência do ar sobre eles. São assun- situação porque a velocidade de abaixamento da super-
tos que motivam extraordinariamente os adolescentes, fície do recipiente foi considerada nula (desprezível).
principalmente aqueles que gostam de corridas de auto- Assim, cinematicamente, a altura máxima da água será
móvel, área em que essa tecnologia é altamente desenvol- sempre igual à profundidade h do recipiente.
vida — se o professor sugerir pesquisas nessa área, certa-
6. Não faz sentido falar em coeficiente de viscosidade está-
mente encontrará adesões entusiásticas.
tico porque a viscosidade depende da existência do mo-
O voo das aves e o movimento dos peixes, a forma
vimento relativo entre as diferentes camadas de um flui-
como esses animais se sustentam ou vencem a viscosidade
do. Não havendo esse movimento (v = 0), não existe vis-
do ar ou da água e a função das penas nas aves e das esca-
Fy
mas nos peixes são também temas interessantíssimos que cosidade e a expressão do coeficiente [η = Sv ] perde o
podem proporcionar atividades interdisciplinares muito seu significado.
motivadoras com a biologia. 7. A adesão viscosa do líquido ao bico do recipiente dirige
o líquido e o afina, tornando-o um filete laminar, o que
Para você pensar facilita o seu derramamento.
1. Por causa da aceleração da gravidade, a velocidade do 8. Ao cair através do ar, a curvatura da gota faz o fluxo de
filete de água aumenta ao cair. Como a velocidade é in- ar curvar-se para contorná-la. Pelo Princípio da Ação e
versamente proporcional à área da seção normal do tu- Reação, a gota é puxada lateralmente para o fluxo e, por
bo de corrente, à medida que a velocidade aumenta isso, é ligeiramente achatada.
essa área diminui e o filete afina.
2. Em condições ideais, pelo Princípio da Conservação da Para você resolver
Energia, a água só pode atingir o mesmo nível da super- 12
fície. Portanto, mesmo nessas condições, a experiência 1. a) Φ = V ⇒ ΦE = ⇒ ΦE = 0,20 L/s ⇒
Δt 60
seria impossível. Na prática, como há perdas de energia
por causa da viscosidade da água e do ar, o esguicho fica ΦE = 2,0  10–4 m3/s
bem abaixo do nível da superfície. b) rE = 0,50 cm = 5,0  10–3 m ⇒ SE = πrE2 ⇒
3. a) Em I, sendo h1 = h2: SE = 3,1(5,0  10–3)2 ⇒ SE = 7,8  10–5 m2
1 1 ΦE = vESE ⇒ 2,0  10–4 = vE  7,8  10–5 ⇒
p1 +  dv12 = p2 +  dv22 ⇒
2 2 vE = 2,6 m/s
1 1 1
p1 – p2 =  dv22 –  dv12 ⇒ p1 – p2 =  d(v22 – v12)
2 2 2 c) rT = 2,5 ⇒ rT = 1,3 cm = 1,3  10–2 m ⇒
2
Em II, como não há variação da seção normal
ST = πrT2 ⇒ ST = 3,1(1,3  10–2)2 ⇒ ST = 5,2  10–4 m2
(S1 = S2 ⇒ v1 = v2):

26
v1S1 = v2S2 ⇒ vESE = vTST ⇒ 5. Ao atingir a velocidade-limite, o sistema passa a se mo-
2,6  7,8  10–5 = vT  5,2  10–4 ⇒ vE = 0,39 m/s ver com velocidade constante. Logo, sendo mB = 0,060 kg
2. a) Φ = 5,0 L/s = 5,0  10–3 m3/s (reveja as figuras da bola na página 16):
S1 = 1,2  10–2 m2 ⇒ Φ = v1S1 ⇒ T = PB ⇒ T = mBg ⇒ T = 0,060  10 ⇒ T = 0,60 N
5,0  10–3 = v1  1,2  10–2 ⇒ v1 = 0,42 m/s Esse é o módulo da força viscosa. Então, sendo
S2 = 2,0  10–3 m2 ⇒ Φ = v2S2 ⇒ y = 0,30 mm = 3,0  10–4 m, da expressão dessa força:
5,0  10–3 = v2  2,0  10–3 ⇒ v2 = 2,5 m/s ηS 0,75  0,040
b) Fazendo p2 = p0 = 1,0  105 Pa, da Equação de F=  v ⇒ 0,60 = v ⇒
y 3,0  10–4
Bernoulli:
1  d(v2 – v2) + dg(h – h ) ⇒
p1 – p0 = 2 1 2 1 v = 6,0  10–3 m/s
2
p1 – 1,0  105 = 1  1,0  103(2,52 – 0,422) + 6. a) Reveja a figura da página 14. Como a velocidade é cons-
2 tante, da Segunda Lei de Newton em módulo, podemos
1,0  103  10(3,0 – 0) ⇒ p1 – 1,0  105 = escrever:
3,1  103 + 3,0  104 ⇒ p1 = 1,3  105 Pa F+E=P⇒F=P–E⇒
3. Da equação de Torricelli (v = 2gh ): F = dAlVesferag – dglicerinaVesferag ⇒ F = (dAl – dglicerina)Vesferag
• para a profundidade hA = 0,080 m: vA = 2ghA ⇒ Vesfera =
4  3,1(2,0  10–3)3 ⇒
vA = 2 ⋅10 ⋅0,080 ⇒ vA = 1,3 m/s 3
Vesfera = 3,3  10–8 m3
• para hB = 0,16 m: vB = 2 ⋅10 ⋅0,16 ⇒ vB = 1,8 m/s
F = (2 700 – 1 300)3,3  10–8  10 ⇒ F = 4,6  10–4 N
• para hC = 0,24 m: vC = 2 ⋅10 ⋅0,24 ⇒ vC = 2,2 m/s
Para um referencial em que a origem das alturas está fi- b) Sendo Δx = 18 cm = 0,18 m, Δt = 20 s e a velocidade
xada no nível do solo, de acordo com a figura do item b, constante:
exercício 3 da página 7: Δx 0,18
v= ⇒v= ⇒ v = 9,0  10–3 m/s
• para as gotas que saem de A: Δt 20
yA = 0,24 + 0,72 = 0,96 m
Então, da Lei de Stokes:
tempo de queda: y = y0 + v0yt + 1 ⭈ gt2 ⇒
2 F = 6πηrv ⇒ 4,6  10–4 =
1
0 = yA + 0 ⭈ tA + (–g)tA ⇒ 0 = 0,96 – 5,0tA2 ⇒
2 6  3,1η  2,0  10–3  9,0  10–3 ⇒ η = 1,4 Pa  s
2
7. Reveja a primeira figura da página 15. Como a velocidade
tA = 0,44 s
é constante e o empuxo é desprezível, da Segunda Lei de
• para as gotas que saem de B: Newton em módulo podemos escrever:
yB = 0,16 + 0,72 = 0,88 m
P – F = 0 ⇒ F = P = mgotag (I)
0 = yB + 0 ⭈ tB + 1 (–g)tB2 ⇒ 0 = 0,88 – 5,0tB2 ⇒ Como a velocidade-limite é constante e a gota é esférica,
2
tB = 0,42 s supondo não haver turbulência, podemos aplicar a Lei
de Stokes:
• para as gotas que saem de C:
yC = 0,080 + 0,72 = 0,90 m F = 6πηarrgotav (II)
De I e II:
0 = yC + 0 ⭈ tC + 1 (–g)tC2 ⇒ 0 = 0,80 – 5,0tC2 ⇒
2 mgotag = 6πηarrgotav (III)
tC = 0,40 s m 4
Sendo d = e Vesfera =  πr3:
Portanto, os alcances serão: V 3
• para as gotas que saem de A: x = x0 + vt ⇒ 4  πr3 (IV)
mgota = dóleoVgota ⇒ mgota = dóleo 
xA = x0 + vAtA ⇒ xA = 0 + 1,3 ⭈ 0,44 ⇒ xA = 0,57 m 3
gota

• para as gotas que saem de B: xB = x0 + vBtB ⇒ Substituindo IV em III, sendo v = 2,0 m/s a velocidade-
xB = 0 + 1,8 ⭈ 0,42 ⇒ xB = 0,76 m
-limite para o ar:
• para as gotas que saem de C: xC = x0 + vCtC ⇒
4  πr3 g = 6πη r v ⇒
xC = 0 + 2,2 ⭈ 0,40 ⇒ xC = 0,88 m dóleo  gota ar gota
3
4. Da expressão do tubo de Venturi: 4 2
苴 dóleo   r gotag = 6ηarv ⇒
2(p苴苴 苴苴 Φ2d(S12 – S22)
Φ = S1S2 冪 1 – p2)
d(S12 – S22)
⇒ p1 – p2 =
2(S1S2)2

3

(2,0  10–2)2  1,0  103[(2,5  10–2)2 – (1,0  10–2)2] 800  4  r2gota  10 = 6  1,8  10–5  2,0 ⇒
Δp = ⇒ 3
2(2,5  10–2  1,0  10–2)2
rgota = 1,4  10–4 m
Δp = 1,7  103 Pa
27
Preparação para o ingresso no ensino superior proporcional ao quadrado da sua velocidade – se ela
dobra (passa de 12 km/h a 24 km/h), a potência deve
1. Resposta: alternativa d.
tornar-se 4 (22) vezes maior e passar de 6,0 kW para
2. Num escoamento laminar, a vazão é dada por Φ = vS. 24 kW (4  6,0).
Então, ela é diretamente proporcional à velocidade e à Resposta: alternativa a.
área. 10. Como a massa específica da esfera é o dobro da massa
Resposta: alternativa d. específica da água, podemos escrever
3. Da expressão dada podemos obter a dimensão de dágua = 1  desfera. Então, pela expressão do empuxo
m 2
5 6
s m3 (E = dfluidoVfluido deslocadog), podemos determinar o empu-
C pela razão 2 . Portanto, a dimensão de C é 5 s 6 ou
[m ] xo dessa esfera inteiramente imersa na água:
Eesfera = dáguaVesferag ⇒ Eesfera = 1  desferaVesferag ⇒
m3 ⭈ s–1. 2
1 P
Resposta: alternativa e. Eesfera =
2
4. Ainda dessa expressão, podemos determinar C usan- Como a velocidade é constante, a resultante sobre a
do a expressão da velocidade do sangue (v = 0,28 m/s) esfera é nula (reveja a figura da página 14). Da Segunda
para um ponto P localizado no eixo central (d = 0) em Lei de Newton em módulo, sendo A a força viscosa:
um vaso de raio r = 1,0 cm = 1,0  10–2 m:
A + Eesfera = P ⇒ A + 1  P = P ⇒ P = 2A
v = C(r2 – d2) ⇒ 0,28 = C[(1,0  10–2)2 – 02] ⇒ 2
C = 2,8  103 m3  s–1 Resposta: alternativa d.
Pela mesma expressão determinamos o valor de v para
11. Da Equação de Continuidade, sendo v1 = 1 m/s, onde
d = 0,50 cm = 5,0  10–3 m:
S1 = 500 m2, obtemos S2, onde v2 = 2 m/s:
v = C(r2 – d2) ⇒ v = 2,8  103[(1,0  10–2)2 –
S1v1 = S2v2 ⇒ 500  1 = S2  2 ⇒ S2 = 250 m2
(5,0  10–3)2] ⇒ v = 0,21 m/s Resposta: alternativa a.
Resposta: alternativa b.
12. Até há pouco tempo esse fenômeno era associado à
5. Da Equação de Continuidade, chamando de A a área da Equação de Bernoulli (podemos afirmar que essa era a
seção reta e sendo A2 = 3A1, podemos escrever: resposta esperada pela banca). No entanto, a resposta
1 correta é o Efeito Coanda (curiosamente, essa mudança
A1v1 = A2v2 ⇒ A1v1 = 3A1v2 ⇒ v2 = [ ]v1
3 de explicação foi divulgada pela primeira vez por físicos
1 da UFBA).
Logo, x = .
3 Supondo que o conjunto cartolina-prego seja sustenta-
Resposta: alternativa d. do apenas pela diferença de pressão, o que não é mais
aceito como verdadeiro, a diferença de pressão média
6. Da Equação de Continuidade, podemos concluir que, ao
mínima entre as faces da cartolina necessária para im-
passar de uma região de maior raio para outra de menor
pedir que o conjunto caia deve ser aquela que resulte
raio, a velocidade da água aumenta. E, pela Equação de
em uma força ascendente F= igual ao módulo P do peso
Bernoulli, se a velocidade aumenta, a pressão diminui.
desse conjunto. Sendo m = 10 g = 1,0 ⭈ 10–2 kg a massa
Resposta: alternativa c.
do conjunto cartolina-prego e g = 10 m/s2, o módulo da
7. Chamando F de Fa, Fa + E = P (reveja o exercício resolvi- força ascendente é:
do 6).
F = P ⇒ F = mg ⇒ F = 1,0 ⭈ 10–2 ⭈ 10 ⇒ F = 0,10 N
Resposta: alternativa c. F
Da definição de pressão, podemos escrever Δp = .
S
8. Resposta: alternativa c.
A área do disco de raio r = 2,0 cm = 2,0  10–2 m é:
9. Da expressão da força viscosa (F = cv), lembrando a re- S = πr2 ⇒ S = 3,1(2,0  10–2)2 = 1,2  10–3 m2
lação entre a potência (P) e velocidade (v) de um mó- Então:
vel em MRU (P = Fv), concluímos que P = cv2. Logo, nas Δp =
0,10
⇒ Δp = 83 Pa
condições dadas, a potência do barco é diretamente 1,2  10–3

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