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Universidade Federal do Paraná

Curso de Direito
Metodologia do Trabalho Científico em Direito
Victor Hugo Petersen, turma 1A

Primeira Meditação - René Descartes

Em sua Primeira Meditação, René Descartes inicia, aproveitando-se de um


individualismo típico de tal período histórico dos séc. XVI e XVII falando sobre suas
falsas opiniões, que desde sempre considerou como verdadeiras. Nesse sentido,
Descartes comenta sobre sua necessidade de desfazer-se de tais opiniões, com a
finalidade de abrir espaço para a consolidação de uma nova ciência, a qual,
diferentemente do modelo aristotélico predominante até então, fosse mais simples e
segura, "algo de firme e de constante".
Na sequência, o autor dá início a tal processo ao desenvolver o método da
dúvida hiperbólica, onde defende que há menor prejuízo ao afastar tudo que pode
não ser verdadeiro do que ao aceitar como verdadeiro aquilo que não é. Tal método,
por sua vez, parece-se muito semelhante com o método cético - o qual defende que
diante de uma dúvida o melhor a se fazer é suspender o juízo - com a diferença, no
entanto, de que Descartes defende que, diante da dúvida, não se suspenda o juízo,
mas se escolha pelo juízo de falsidade, sendo uma estratégia mais eficaz para
invalidar conhecimentos falsos. Assim, René afirma que não seria necessário provar
a falsidade de todas as suas opiniões, pois o menor motivo de dúvida encontrado
nelas bastaria para rejeitar todas – logo, ele se dedicaria a derrubar os princípios
sobre os quais todas suas antigas opiniões estavam apoiadas.
Dando início ao argumento dos sentidos, Descartes afirma que não se é
prudente confiar inteiramente nos sentidos, uma vez que tudo que recebeu como
verdadeiro, incluindo suas falsas opiniões, decorreram dos sentidos, demonstrando
que tais sentidos podem ser enganosos. Nesse contexto, sendo os sentidos
enganosos, criam-se dois tipos de impressões sensíveis: aquelas que tangem coisas
pouco sensíveis e muito distantes, sendo derrubadas imediatamente por Descartes
por serem problemáticas e obscuras; e aquelas que são vivências concretas e
imediatas, tornando-se claras e distintas. Esse segundo tipo de impressão sensível,
por sua vez, cria a necessidade de um argumento para derrubá-lo.
Ao adentrar no argumento dos sonhos, Descartes afirma que os sonhos são
uma fantasia - acreditamos que estamos em uma determinada atividade, mas na
verdade não estamos (apenas em uma atividade mental). Também os sonhos, assim
como as impressões sensíveis, são de diferentes tipos e estruturas, podendo ser
patentemente fantasiosos e inverossímeis, ou cuja estrutura interna apresenta as
exatas mesmas características das impressões sensíveis claras e distintas.
Nesse sentido, o autor defende que o sonho é um indicio de que minha mente
não é capaz de distinguir aquilo que é fantasia daquilo que é realidade, pondo a
realidade sensível objetiva em cheque. Ainda assim, os sonhos seriam constituídos a
partir do real, mesmo que minimamente, – a exemplo, como destacado por René, de
"quadros e pinturas, que não podem ser formados senão à semelhança de algo real
e verdadeiro" - sendo as coisas mais simples e universais, que são por consequência
verdadeiras e existentes, a estrutura matemática, de forma que ciências como a
aritmética e a geometria, por não tratarem senão de coisas muito simples e muito
gerais, tornam-se certas e indubitáveis.
Ao tratar do argumento do gênio maligno, Descartes afirma que Deus não
deveria deixar com que ele se engane, mas como se engana, isso quer dizer que
pode ser que deus não apenas permita que ele se engane as vezes mas permita que
ele se engane sempre, e a grande empresa dele é enganar tudo aquilo que tem como
certo e seguro. Tendo em vista a confrontação ao argumento da existência de Deus,
o autor diz: "já que falhar e enganar-se é uma espécie de imperfeição, quanto menos
poderoso for o autor a que atribuírem minha origem tanto mais será provável que eu
seja de tal modo imperfeito que me engane sempre", supondo, portanto a existência
de um gênio maligno possuidor do desejo e dos meios de lhe enganar sempre.
Assim, sendo a linguagem matemática, por sua vez, inteligível e universal (ou
seja, o limite do conhecimento do ser), ao considerarmos a existência de Deus, ou de
alguma outra mente como a do gênio maligno, pode ser que aquilo que se tenha por
mais certo e seguro (a matemática) seja enganoso - tal estrutura pode ser
questionada como universal por ser válida para a mente humana, mas não podendo
pôr em questão para essas outras mentes. Portanto, se não é possível ter certeza
sobre a universalidade da estrutura matemática, cria-se uma dúvida, forçando assim
o juízo de falsidade sobre tal estrutura.

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