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Margotte Channing
Sinopse
Ano 1115
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Dois homens se esconderam atrás de algumas árvores, de
onde podiam vigiar a entrada da granja. Quando estavam
sentados, um deles tirou um pouco de carne seca do embornal
e a compartilharam, eram morenos, com o cabelo e a barba
longos e descuidados e em geral com aspecto de sujos.
— Tem certeza de que ela não está?
— Não, ontem não apareceu por todo o dia. Por isso decidi
ir buscá-lo, se por acaso tivermos que esperar vários dias. Não
a vi desde outro dia, quando esteve se banhando nua no rio.
Que mulher! — O outro, maior e mais forte do que ele, assentiu
com a boca cheia, e voltou a perguntar.
— Diga-me outra vez quanto nos pagam…
— Dez moedas de ouro, cinco para cada um, mas
precisamos levá-la intacta, porque querem fazer com ela algum
tipo de bruxaria. Aquela que nos paga foi muito clara, não
podemos tocar à moça porque senão, ela não lhe serviria, falou
alguma coisa dos fluidos, mas era tão nojento que preferi não
escutar. Os dois irmãos se olharam enojados, enquanto
comiam com as mãos negras de sujeira. Nenhum dos dois
gostava de bruxas.
No dia seguinte, muito cedo, Eyra foi à granja de Ragnar,
buscaria sua roupa, mas além disso, gostava de montar a
cavalo, porque havia despertado muito intranquila. A princípio
pensava que seria por causa da viagem de Ragnar, mas agora,
sentia que havia algo mais, parecia que estava a ponto de
acontecer alguma coisa, embora não soubesse o que era.
Deixou que o cavalo corresse à vontade, através dos campos.
As duas granjas estavam muito perto uma da outra, por isso
não lhe pareceu necessário que alguém lhe acompanhasse,
porque demoraria somente dez minutos para chegar. Deixou os
arreios no estábulo e entrou na casa passando pelo salão, onde
ficou observando o quanto ele estava vazio. A cadeira onde
Ragnar sempre se sentava parecia maior, voltou-se e caminhou
à cozinha chamando por Helga; a anciã saiu a seu encontro e
sorriu ao vê-la.
— Eyra! Acreditava que você ficaria ao menos uma
semana lá! — Ela assentiu aproximando-se.
— Sim, mas vim buscar minha roupa, deixei aqui, a bolsa
foi esquecida em meu aposento. Vou pegá-la e depois volto à
casa dos pais de Ragnar. — Quando já caminhava pelo
corredor para o dormitório de Ragnar, virou-se para Helga
lembrando-se do pedido de Yvette.
— Helga, esquecia-me! Yvette pediu que me entregue um
pouco da mistura que você faz para dor de cabeça.
— Não tenho pronta, mas demorarei somente um pouco
para prepará-la.
— Está bem, enquanto isso, irei um momento à horta,
porque lá quase não temos ervas para cozinhar, e levarei
algumas. Volto em seguida. — Helga assentiu enquanto ia à
cozinha para preparar sua mistura especial contra as dores de
cabeça, e Eyra saía pela porta dianteira para ir à horta. Não viu
ninguém, mas eles a vigiavam de seu esconderijo, os dois
homens que a esperavam desde o dia anterior. O irmão mais
velho sussurrou no ouvido do caçula.
— Corra para buscar os cavalos. — Quando seu irmão foi
buscá-los, ele seguiu os passos da moça sem fazer ruído.
Quando chegou a seu lado, observou-a inclinada sobre
algumas plantas, que cortava com uma faca pequena, tapou-
lhe a boca e em seguida lhe colocou uma mordaça, amarrando-
lhe à nuca. Depois, amarrou suas mãos, mas ela não parava de
resistir. Por causa disso ele lhe deu um golpe no rosto com o
punho que a fez desmaiar, assim finalmente conseguiu amarrá-
la e carregá-la. Quando saía dali, aconteceram várias coisas ao
mesmo tempo, seu irmão chegou com os cavalos, e quando ele
caminhava com a moça nos braços, uma velha saiu gritando da
casa.
— O que fazem? Soltem-na! — O sequestrador subiu
rapidamente no cavalo, e saíram galopando. Helga chegou
tropeçando até a horta enquanto observava, aterrorizada, o
quão depressa galopavam os cavalos. Levou a mão à boca
assustada, e, em seguida, correu para procurar ajuda,
precisava chegar o mais rapidamente possível à granja de Erik
e Yvette.
Yvette escutou o que Helga lhe disse empalidecendo, e
caiu sentada na cadeira que havia atrás dela.
— Meu Deus! O que vou dizer ao meu filho? — Esfregou o
rosto, angustiada, porque vira o amor que seu filho sentia por
Eyra. Mas não podia ficar quieta, faria o possível para ajudá-la,
— Reconheceu os que a levaram?
— Não, nunca os vi. — A anciã sabia, como todos na
granja, que seu amo enlouqueceria se a moça não aparecesse.
Não precisava mais do que, vê-los juntos durante os últimos
dias, para saber que ele não aceitaria seu desaparecimento.
— Os homens não voltarão até dentro de cinco dias, a
menos que façamos algo. — Levantou-se e saiu dali a toda
pressa, seguida por Helga. — Meu filho Rongvald está perto, na
casa de alguns amigos. Irei buscá-lo, e direi para Olaf que me
acompanhe, por favor, preciso que você fique aqui se por acaso
acontecer mais alguma coisa. Yvette saiu correndo para os
estábulos para pegar dois cavalos.
Menos de uma hora depois, Rognvald se despedia de sua
esposa, para voltar a granja de seus pais, com sua mãe e Olaf,
o escravo de confiança de seu pai. Aproveitou o caminho para
ter mais informações.
— Realmente é tão importante essa escrava para Ragnar,
mãe? — Ela assentiu, enquanto mordia o lábio preocupada.
— Sim filho acredito que ele, finalmente, encontrou sua
alma gêmea. — Seu filho a olhou surpreso, já que seu irmão
mais velho era o que mais havia demorado a encontrar a
metade perdida de sua alma.
— Não quero nem pensar que algo assim acontecesse com
minha esposa. — Mas Yvette estava pensando como poderiam
avisar Ragnar do que acontecia.
— Filho, pode pegar o navio de seu pai — Erik tinha dois
Drakkar, um deles, recém construído, podia ser conduzido por
dois tripulantes, Rognvald a olhou, sorrindo travesso, porque
ele havia pedido o navio para seu pai várias vezes para
experimentá-lo, e ele sempre se negou.
— Ele vai se zangar com você.
— Não brinque, isto é muito importante, seu pai
queimaria cem navios se com isso assegurasse a felicidade de
vocês.
Chegaram rapidamente em casa, e enquanto saíam dos
estábulos, Rognvald disse para Olaf.
— Acredito que se lembre como navegar. — O homem
respondeu muito sério.
— Melhor do que você.
— Vamos ver isso logo. Mãe, enquanto revisamos o navio,
que nos tragam água e um pouco de comida. A nave que papai
construiu é muito rápida, mas demoraremos ao menos um par
de dias para alcançá-los. — Yvette saiu correndo enquanto
chamava Helga e a Liska para que a ajudassem. Rognvald e
Olaf chegaram à praia, onde admiraram, em silêncio, o drakkar
que, com a âncora baixada, as velas enroladas balançava-se ao
compasso do mar.
— Seu pai me convidou para dar uma volta com ele
quando o terminou, nunca viajei em um navio mais manejável
e rápido do que este. — Os dois suspiraram olhando-o, e
entraram na água para subir nele e começar a preparar a
saída.
Erik era um grande carpinteiro, embora não gostasse que
dissessem, porque a maior parte de sua vida tivera que
guerrear para conseguir o que possuía e preferia que o
considerassem um guerreiro, mas quando Rognvald passou a
mão pela madeira do drakkar, deu-se conta de que seu pai não
era um simples carpinteiro, era um artista. Sabia que ele havia
demorado um par de anos para construí-lo, e que o fizera
sozinho, porque não quis que ninguém o ajudasse. Admirou a
altura do mastro, e o feroz dragão que fora esculpido na
máscara de proa, para assustar seus inimigos.
— Rognvald, filho! — Sua mãe já estava na praia, onde
estavam deixando os mantimentos que ele pedira. Desceu para
recolhê-los, enquanto Liska e Helga voltavam à casa para
buscar o resto das coisas. Subiram tudo, Olaf e ele, e depois se
aproximou de sua mãe para lhe dar um abraço rápido.
— Não se preocupe mãe, alcançá-los-ei, e voltarei com
meu irmão. — Yvette acariciou um momento a bochecha de seu
filho e assentiu dando um passo para trás, Rognvald voltou
para o navio, ao qual subiu ajudado pela corda que estava
pendurava na amurada. Depois, elevaram a âncora e partiram.
Yvette ficou olhando o navio até que ele desapareceu,
rogando a Deus para que todos voltassem sãos e salvos.
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[←1]
Drakkar ― típica embarcação viking, longa destinada à guerra e à conquista,
que diferia do knorr essencialmente pela presença da grande carranca na proa.
[←2]
Bersercker ― Guerreiros nórdicos ferozes, relacionados ao culto do deus Odin.
Eles despertavam uma fúria incontrolável antes de qualquer batalha.
[←3]
Valhala, Valíala, Valhalla ou Walhala ― na mitologia nórdica e nas crenças de
religiões pertencentes ao paganismo nórdico, como a religião Ásatrú, de maior
reconhecimento, é um majestoso e enorme salão com 504 portas, situado em
Asgard, dominado pelo deus Odin.