Penhane BOLETIM OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO DE APOIO E ASSISTÊNCIA JURÍDICA AS COMUNIDADES

Director Executivo: Rui de Vasconcelos* Sede: AAAJC* Telefone: 20030252*Cidade de Tete *Chingodzi* Editado em Português e Inglês

Desenvolvimento Local: Que gestão dos 2,75% precisamos para Tete?

O papel dos Conselhos Consultivos Distritais e monitoria
pelas OSC e comunidades locais à gestão dos 2,75% resul-
tante da extracção mineira em Tete mostra-se cada vez mais
relevante. O boom da indústria extractiva em Moçambique
trouxe consigo o debate em torno dos benefícios locais a
serem obtidos pelos habitantes das áreas onde os recursos
minerais ou hidrocarbonetos são explorados. Como escreve
um guia da ONG Sekelekani, as leis 11/2007 e 12/2007,
ambas de Junho, Lei de Minas e Lei de Petróleos, respectiva-
mente, já previam (artigo 11) a alocação de uma percenta-
gem das receitas mineiras e petrolíferas para o desenvolvi-
mento local, nos seguintes termos: Uma percentagem das
receitas geradas na actividade petrolífera é canalizada para
o desenvolvimento das comunidades das áreas onde se lo-
calizam os respectivos projectos petrolíferos.
A percentagem a que se refere o artigo 11 é fixada na Lei
Orçamental, em função das receitas previstas e relativas à
actividade mineira e petrolífera. Competindo ao Conselho
de Ministros inventariar as receitas resultantes das opera-
ções mineiras e petrolíferas e publicitá-las periodicamente.
Embora a fixação daquela percentagem viria acontecer de-
pois de seis anos de trabalho de advocacia das organizações
da sociedade civil moçambicana, há que assinalar como
marco histórico rumo ao desenvolvimento local. Em 2013, o
Governo aceitou propor, junto da Assembleia da República,
em sede da Lei Orçamental, a definição da percentagem de
2,75% como parcela das receitas que devem reverter a favor
das comunidades locais. A argumentação a favor da criação
de um mecanismo mediante o qual uma percentagem prove-
niente da exploração mineira ou petrolífera beneficiasse di-
rectamente as comunidades locais das zonas de exploração
foi feita em equiparação com o que acontece nas explorações
florestais onde 20% das receitas revertem a favor das comu-
nidades locais.
A reversão dos 2,75% é feita por via do Orçamento do Esta-
do. Os mecanismos de aplicação desses fundos foram defini-
dos numa circular conjunta dos então Ministérios da Planifi-
cação e Desenvolvimento (MPD) e das Finanças (MF):
“Circular 01/MPD-MF/2013 – Critérios a Observar na Im-
plementação de Projectos Financiados por Receitas de Explo-
rações Mineiras e Petrolíferas Canalizadas às Comunidades.”
A nível local, houve instruções de se gerirem os 2,75% nos
mesmos moldes em que se gerem os fundos de desenvolvi-
mento local, mais conhecidos por “7 milhões”.

Tete, caso particular?

Uma orientação do então Governador de Tete, Ratxide para tal, garantir-se maior clareza nos critérios, transparência
Gogo, já falecido, datada de 31 de Dezembro de 2013, é total nos mecanismos de gestão, e também uma harmonização
clara nesse aspecto: “A implementação dos projectos de entre os planos económicos e sociais do distrito (PESOD) e os
promoção do desenvolvimento económico local deve
recursos públicos disponíveis, de modo a que não se repitam
ser feita em estrita obediência ao Decreto 90/2009 de 31
os erros cometidos com os 7 milhões.
de Dezembro, que cria o Fundo Distrital de Desenvolvi-
mento Local (FDD) na parte aplicável aos 7 milhões.”

O documento do Sekelekani aborda que embora sejam

do domínio público as críticas feitas por diversos seg-
Parceiros:
mentos da sociedade quanto aos mecanismos de gestão
dos chamados “7 milhões”, particularmente as reclama-
ções de pessoas não-alinhadas com o partido Frelimo
que se sentem marginalizadas nesses processos. Se bem
geridos, os 2,75% das receitas mineiras podem ser uma
mais-valia no desenvolvimento socio-económico das
zonas de exploração mineira e petrolífera. Será preciso,

Quem somos? Associação de Apoio e Assistência Jurídica as Comunidades (AAAJC), é uma organização da Sociedade Civil
Moçambicana, não-governamental, sem fins lucrativos, de âmbito nacional, fundada em 2008 e com os seus estatutos legal-
mente publicados em 2010 no Boletim da República nº. 2, III serie, 4º suplemento de 19 de Janeiro. A sede é na cidade de Tete.
 Penhane OFICIAL REPORT CARD OF THE ASSOCIATION FOR SUPPORT AND LEGAL ASSISTANCE TO COMMUNITIES

The Executive Director Rui de Vasconcelos* Sede: AAAJC* Telefone: 20030252*City of Tete*Chingodzi* Edited in Portuguese & English
o
Edition n 184

Local Development: What 2.75% management do we need for Tete?

The role of District Advisory Councils and monitoring by In 2013, the Government agreed to propose to the Assembly
CSOs and local communities in managing the 2.75% result- of the Republic, in the framework of the Budget Law, the
ing from Tete mining is becoming increasingly relevant. The definition of the percentage of 2.75% as a portion of the reve-
boom in the extractive industry in Mozambique has brought nues that should revert to the local communities. The argu-
with it the debate about the local benefits to be gained by the ment in favor of setting up a mechanism whereby a percent-
inhabitants of the areas where mineral or hydrocarbon re- age from mining or oil directly benefits local communities in
sources are exploited. As an NGO Sekelekani guide writes, the exploration zones has been made in line with what hap-
Laws 11/2007 and 12/2007, both from June, Mining Law and pens in forestry where 20% of the revenue goes to the local
Petroleum Law, respectively, already provided (Article 11) communities.
for the allocation of a percentage of mining and oil revenues
to the local development, as follows: A percentage of the The reversal of 2.75% is made through the State Budget. The
revenues generated from the petroleum activity is channeled mechanisms for the application of these funds were defined
to the development of the communities in the areas where in a joint circular of the then Ministries of Planning and De-
the respective petroleum projects are located. velopment (MPD) and Finance (MF): “Circular 01 / MPD-
MF / 2013 - Criteria to be Observed in Implementing Reve-
The percentage referred to in Article 11 shall be fixed in the nue-Financed Projects Mining and Oil Channeled to the
Budget Law, in accordance with the expected revenue relat- Communities. ”At local level, there were instructions to
ed to mining and oil activity. It is up to the Council of Minis- manage the 2.75% in the same way as local development
ters to inventory the revenues resulting from mining and oil funds, better known as “7 million”.
operations and to publicize them periodically. Although the
setting of this percentage would come after six years of ad-
vocacy work by Mozambican civil society organizations, it
should be noted as a milestone towards local development.

Tete, particular case?

A statement by the late Governor of Tete Ratxide full transparency in management mechanisms, and
Gogo, dated 31 December 2013, is clear in this regard: harmonization between the economic and social
“The implementation of projects promoting local eco- plans of the district (PESOD) and available public
nomic development must be done in strict compliance resources, so as not to repeat mistakes made with
with Decree 90/2009 December 31, establishing the the 7 million.
District Local Development Fund (FDD) for the 7 mil-
lion”.

The Sekelekani document points out that while it is in Partners:

the public domain the criticism made by various seg-
ments of society regarding the management mecha-
nisms of the so-called “7 million”, particularly the
complaints of people not aligned with the Frelimo par-
ty who feel marginalized in these processes. If well
managed, the 2.75% of mining revenues can be an as-
set in the socio-economic development of mining and
oil areas. This will require greater clarity of criteria,

Who Are We? The Association for Support and Legal Assistance to Communities (AAAJC) is an mozambican Civil Society Organization (CSO) based in Tete province, non-governmental and non proffit, created in 2008 by
a group of Paralegals in natural resources and development law, formed by the Center for Legal and Judicial Training (CFJJ), now Ministry of Justice, who decided to organize themselves based on their knowledge to promote
social and economic development and respect for human rights based on observance of the principles of social justice, equity and sustainability. Its scope of action was limited to the areas of economic development and poverty
reduction in a participatory manner, legal support to communities and citizens, environmental education, conflict resolution, advocacy of public policies and human rights. In 2010, following the implementation of some initiatives
and completing the process of its constitution, the organization was formally legalized with statutes published in the Bulletin of the Republic no. 2, III series, 4th supplement of January 19, 2010.