Você está na página 1de 22

REV PORT PNEUMOL VII(1):57

ARTIGO DE REVISÃO/REVIEW ARTICLE

Inflamação e doença pulmonar


obstrutiva crónica*

Inflammation and chronic obstructive


pulmonary disease

A. P. BUGALHO DE ALMEIDA**

* Trabalho realizado no âmbito do II Mestrado de Patologia Respiratória


da Faculdade de Ci_ncias Médicas da Universidade Nova de Lisboa
(Director mestrado: Prof. Doutor Ramiro Ávila)
** Interno do Internato Complementar de Pneumologia do Hospital
de Pulido Valente
(Directora: Prof. Doutora Maria Jo_o Marques Gomes)

Recebido para publicação: 00.09.07


Aceite para publicação: 00.12.15

RESUMO diversos protagonistas do processo inflamatório na


DPOC, a sua dinâmica, contributo para o
A doença pulmonar obstrutiva crónica é uma desenrolar da doença e procura-se explicar de
das principais causas de mortalidade e morbilidade forma sucinta os porquês da ineficácia terapêutica
a nível mundial. O tabaco e as características dos corticosteróides.
genéticas de cada indivíduo participam
seguramente na sua patogenia. Recentemente o REV PORT PNEUMOL 2001; VII (1):
processo inflamatório tem sido considerado um dos
principais responsáveis pela progressão continua e Palavras-chave: Doença pulmonar obstrutiva crónica;
irreversível da doença, existindo inúmeras células e Inflamação
mediadores implicados.
Neste trabalho efectua-se uma revisão dos
57
ABSTRACT associada a uma resposta inflamatória anormal dos
pulmões a partículas e gases nocivos"1.
Chronic obstructive pulmonary disease is one of the
main causes of morbidity and mortality worldwide. A descoberta nos anos 60, esquecida e entretanto
Cigarette smoke and genetics are implicated in its reavivada, de uma base inflamatória marcou novos
pathogenesis. In the last few years, inflammation as caminhos na compreensão da patogenia desta
been considered one of the most important causes of
doença, facto crucial para um melhor tratamento. Um
progression and irreversibility of the disease, with
numerous cells and mediators implicated. dos possíveis motivos para que o processo
In this paper, the role of different protagonists, inflamatório na DPOC não tenha sido tão investigado
their relations and contribute to worsening the disease como noutras doenças inflamatórias, pode residir no
are reviewed. In a brief way we try to explain why
facto da sua história natural ser lenta e cursar, numa
corticosteroids are ineffective in COPD.
fase inicial, com declínio assintomático da função
REV PORT PNEUMOL 2001; VII (1): respiratória, pelo que a maioria dos doentes só é
estudada em fases avançadas e estabelecidas da
Key-words: Chronic obstructive pulmonary disease;
Inflammation.
afecção.
É hoje claro que a DPOC é um sindrome
caracterizado por uma inflamação crónica das vias
INTRODUÇÃO aéreas (grandes e pequenas) e parênquima pulmonar,
com inúmeras células e mediadores envolvidos. Esta
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) inflamação reflecte um processo contínuo de equilí-
é uma patologia que envolve um grande número de brio entre os factores protectores, que promovem a
doentes, na sua maioria fumadores, e é uma das resolução do processo, e os agressores e de
principais causas de morbilidade e mortalidade a amplificação da resposta pro-inflamatória, que
nível mundial, com enorme impacto sócio- tendem a conduzir a lesão e a processo cicatricial.
económico, razões que determinaram, na última Existem, assim, vários caminhos possíveis neste tipo
década, o aumento do interesse por parte de de inflamação, uns que a limitam e outros que a
numerosos investigadores. De facto, tal interesse é perpetuam.
justificado por a DPOC ter um carácter de Muito pouco é conhecido sobre os mecanismos
irreversibilidade, indutora de uma perda progressiva que induzem e controlam a inflamação crónica dos
de função respiratória e, ao contrário de outras doentes com DPOC. Há algumas contradições nos
doenças, os avanços terapêuticos serem pequenos. trabalhos cientificos actuais, que têm de ser
A definição clássica de DPOC engloba a esclarecidas, e inúmeras perguntas que estão por
bronquite crónica (definida em termos clínicos) e o responder como:
enfisema pulmonar (definido em termos · porque razão nem todos os fumadores desen-
anatomopatológicos), e assenta as suas bases em volvem DPOC?
características funcionais, focando os seus objectivos · Porque motivo uns têm predomínio de enfise-
na queda acelerada, e na maioria dos casos ma e outros de bronquite crónica?
irreversível, do volume expiratória forçado no · qual o verdadeiro papel da inflamação na
primeiro segunda (FEV1) não incluindo o termo patogenia desta doença?
inflamação ou os seus intervenientes. Recentemente · como é que a inflamação se correlaciona com
foi proposta uma nova definiçãa na qual "a doença é a queda do FEV1 nos fumadores susceptíveis?
caracterizada pelo desenvolvimento progressivo de Procuraremos com este trabalho de revisão
limitação do fluxo aéreo que não é completamente responder, em parte, a algumas destas questões.
reversível, sendo esta limitação progressiva e
58
prevalentes em fumadores que desenvolvem DPOC
AGRESSORES E ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS do que nos não fumadores8.
Os agentes agressores num terreno genético
A DPOC resulta da inalação prolongada de partí- propício originam inflamação crónica das vias aéreas
culas irritantes ou tóxicas na sua maioria e parênquima pulmonar com alterações estruturais
provenientes do fumo do tabaco, que é o responsável importantes.
por 80-90% dos casos2. Mullen e colaboradores9 identificaram um aumen-
Os poluentes atmosféricos como o ozono, o dióxi- to da inflamação das vias aéreas e a sua correlação
do de nitrogénio e as partículas diesel consideram-se, com a hiperprodução de muco, em peças cirúrgicas
actualmente, como tendo um papel secundário na de doentes com DPOC quando comparados com
patogenia da DPOC3. controlos sem sintomatologia. Também a relação
Não se conhece, ainda, a verdadeira importância entre fumadores que desenvolveram DPOC e
das infecções virais na etiologia e patogenia da fumadores sem alteração da função pulmonar
DPOC. Dados recentes indicam que os adenovírus apresentava diferenças: os primeiros tinham um
podem persistir na parênquima pulmonar destes aumento do músculo liso, sugerindo a presença de
doentes após uma infecção inicial, e estas formas remodelação nas vias aéreas, com consequente
latentes amplificam a inflamação induzida pelo fumo limitação de fluxo, e aumento dos linfócitos T CD8+
do tabaco, podendo estar na origem e/ou que se correlacionavam com o grau de obstrução10.
agravamento desta patologia4. Esta inflamação Finkelstein et al, em 199511, encontrou diferenças
crónica é particularmente importante, uma vez que se significativas no padrão inflamatório das vias aéreas
detectaram casos de resistência aos corticosteróides de diferentes grupos de fumadores, tendo em conta
em crianças asmáticas após infecção a adenovírus o os vários fenótipos da doença. Refere uma reacção
que por analogia poderia explicar a ineficácia inflamatória nos fumadores sem alteração do FEV1,
terapêutica desta classe de fármacos em doentes com sugerindo que, antes de se desenvolver um compro-
DPOC. misso funcional, existe um processo inflamatório
Reconhece-se, hoje, que para além dos precoce em curso. Este está presente nas vias aéreas
agressores, o padrão genético de cada indivíduo de jovens fumadores, sob a forma de um infiltrado
condiciona o desenvolvimento ou não da doença. inflamatório com predomínio de macrófagos e
Claramente estabelecido como factor genético de neutrófilos10,12, e existem trabalhos que associam o
rìsco na DPOC é o alelo ZZ do gene da α1- aumento dos leucócitos séricos à elevação de radicais
antitripsina (α1-AT)5. O polimorfismo da enzima livres em fumadores passivos13 o que demonstra a
epoxido hidrolase microssómico está relacionado importância do tabaco nesta patologia. Mesmo após
com um aumento de 4 a 5 vezes do risco de DPOC6. a cessação tabágica o processo inflamatório
Existem, igualmente, associações embora mais perpetua-se14.
fracas, com o polimorfismo da gene da factor de O aumento da gravidade da DPOC está associado
necrose tumoral alfa (TNF-α), com a α1-antiquimio- a um agravamento da actividade inflamatória, e é
tripsina e a α2-macroglobulina6. Outras diferenças caracterizado por uma neutrofilia marcada12 mas,
encontradas prendem-se com as alterações para além destas células outras estão implicadas,
fenotípicas dos receptores das taquicininas nas vias como os macrófagos, as células epiteliais, os
aéreas de fumadores, cujo aumento da expressão é linfócitos, os eosinófilos e os fibroblastos.
considerado pratector da obstrução das vias aéreas, e As vias aéreas centrais dos fumadores, avaliadas
cuja diminuição se observa nos doentes com DPOC7. por biópsias brônquicas, têm um aumento de macró-
Os polimorfismos de vários genes parecem ser mais fagos e linfócitos T quando comparadas com as de
59
não fumadores, não se observando valores aumenta- (H2O2) e altos níveis de óxido nitrico (NO) que ao
dos de neutrófilos, como acontece no lavado bronco- reagirem com anião superóxido (O2-) originam
alveolar (LBA)12. Os fumadores têm uma maior peroxinitrite e outras radicais peroxilo, altamente
inflamação da parede das vias aéreas periféricas do citotóxicos, que diminuem a capacidade
que os não fumadores, e esta correlaciona-se com a antioxidativa do plasma16.
destruição das ligações entre as paredes alveolares e Os neutrófilos dos fumadores e doentes com
as vias aéreas12. bronquite crónica têm quantidades aumentadas de
Em relação às paredes alveolares, o fumo do O2- e H2O2 18 e os macrófagos dos fumadores
tabaco causa uma inflamação, predominantemente, libertam, "in vitro", maiores quantidades de ferro
de células mononucleares que se correlaciona livre do que os dos não fumadores, permitindo que
positivamente com o grau de destruição do este tome parte em reacções que geram mais radicais
parênquima e a perda de tracção elástica pulmonar12. livres OH-, extremamente lesivas para os tecidos16,17.
A diferença de células encontradas na literatura, O stress oxidativo está assim aumentado nos
ocorre, possivelmente, porque a maioria dos doentes com DPOC quer pela libertação de oxidantes
trabalhos avalia, de forma diferente, os três espaços pelo fumo do tabaco, quer pela produção endógena
mencionados. A expectoração induzida reflecte o de espécies reactivas de oxigénio pelos neutrófilos e
processo inflamatório presente no lúmen das vias macrófagos alveolares, e ainda mais durante os
aéreas e resulta da combinação de muco brônquico períodos de exacerbação19. As células epiteliais e
acumulado, muco formado de novo e algum endoteliais também podem produzir espécies reacti-
transudado vascular, sendo rica em neutróflos; o vas de oxigénio, embora em menor quantidade que
LBA avalia sobretudo o compartimento alveolar e as anteriores17.
tem geralmente mais macrófagos que o anterior; as Há inúmeras evidências de stress oxidativo na
biópsias brônquicas reflectem a inflamação das DPOC: o peróxido de hidrogénio20 e o NO estão
grandes vias aéreas e, em comparação com os aumentados no ar expirado, sobretudo em condições
anteriores, expressam maior número de linfócitos T, de exacerbação21,22 embora tal facto não seja
colocando-se como hipótese explicativa a migração consensual23.
mais lenta destas células para o lúmen brônquico em O stress oxidativo pode originar a formação de
relação às mencionadas anteriormente15. isoprostanos a partir do ácido araquidónico, potentes
broncoconstritores das vias aéreas humanas, "in
vitro". O 8-epiisoprostano F2α está aumentado nos
STRESS OXIDATIVO doentes com DPOC estável, quando comparado com
controlos saudáveis, e eleva-se durante as exacerba-
O balanço inapropriado entre oxidantes (Quadro ções da doença24,25.
I) e antioxidantes celulares parece ser um mecanismo Nos doentes com DPOC encontra-se também a
precoce de lesão na DPOC. outra vertente deste desequilibrio, uma vez que na
O fumo do tabaco, factor etiológico major desta circulação dos fumadores crónicos existem níveis
doença, possui uma grande quantidade de oxidantes diminuídos de antioxidantes, e esta diminuição é
(cerca de 1016 por inalação), mas para além deste, o mais acentuada em fumadores "agudos" e nas
componente inflamatório também pode libertar exacerbações26. Nestes doentes existe um decréscimo
oxidantes mantendo o desequilibro destes com os de um importante antioxidante produzido pelas
seus antagonistas16,17. células epiteliais, o glutatião, embora tal facto, para
O fumo do tabaco tem grandes concentrações de alguns, seja controverso17,18. Os oxidantes libertados
radicais hidroxilo (OH-), de peróxido de hidrogénio oxidam o resíduo de metionina da α1-AT inactivando
60
esta antiprotease5 contribuindo, ainda mais, para a pneumócitos tipo II e os fibroblastos estão
lesão inflamatória. envolvidos na resposta ás agressões anteriormente
Uma vez libertados, os oxidantes podem danificar referidas. Estas células produzem factores
directamente a elastina e o colagéneo da matriz quimiotáticos que mantêm a resposta inflamatória.
pulmonar e interferir na síntese e reparação da elasti-
na, contribuindo para o desenvolvimento de
enfisema. Um dos locais preferenciais de lesão é a Papel do epitélio brônquico
membrana celular, sofrendo esta peroxidação lipídica
e dano proteico, e que originam produtos que O epitélio brônquico desempenha um papel
aumentam a permeabilidade da membrana alvéolo- extremamente importante no início e perpetuação dos
capilar e perpetuam o stress oxidativo mecanismos de defesa pulmonares.
sistémico16,17,18. É uma barreira mecânica de defesa que sintetiza e
A lesão dos espaços alveolares será, possivelmen- liberta uma grande variedade de mediadores que
te, o primeiro evento lesivo estrutural da DPOC, com podem causar activação, diferenciação e
aumento da permeabilidade vascular, permitindo o recrutamento de células inflamatórias27.
fluxo de células inflamatórias e mediadores, do Após a detecção de agentes patogénicos ou
sangue para o interstício e alvéolo16. irritantes o epitélio induz a expressão de dois tipos
O stress oxidativo é também o responsável pelo de genes: aqueles cujos produtos atacam e eliminam
aumento da sequestração de neutrófilos na microcir- directamente os agentes agressores, e um segundo
culação pulmonar de fumadores, quer pela produção grupo que conduz à síntese de citocinas que, de
de citocinas, quer pela diminuição da deformação forma indirecta, actuam sobre os estímulos nocivos.
destas células, e aumento da expressão de CD18 na Entre os primeiros contam-se os genes produtores
sua superficie - um primeiro passo para a adesão de mucina (MUC), uma glicoproteina que não
endotelial e migração subsequente para o interstício e degrada mas captura agentes e partículas
alvéolo18. Esta sequestração verifica-se, predominan- patogénicas, e os responsáveis pela síntese de
temente, durante as exacerbações da DPOC. lisozima, lactoferrina e defensinas. Actualmente,
Activa genes de mediadores pro-inflamatórias existem 9 genes de mucina codificados, que são
como a interleucina 8 (IL-8), o TNF-α e o NO, expressados nas vias aéreas humanas. São
através de factores de transcrição, como o factor considerados como mais importantes na produção de
nuclear kB (NF-kB), promovendo o recrutamento muco o MUC5AC, presente sobretudo nas células
celular e manutenção da inflamação6,21. caliciformes, o MUC5B, expressada pelas glândulas
A combinação das actividades lesivas das células submucosas, e os MUC4 e MUC8 28,29.
inflamatórias, com as alterações da reparação das Desde os trabalhos de Reid30,31 que se demonstrou
vias aéreas e o aumento da carga oxidativa um aumento do número e tamanho das células
potenciam-se, originando nos pulmões de animais de produtoras de muco a estímulos nocivos. Sabe-se que
laboratório lesões mais graves, do que quando na DPOC estas produzem quantidades exageradas de
isoladas5. mucina em resposta a agentes agressores e, para além
disso, durante os processos de remodelação, que
ocorrem nesta patologia, verifica-se a diferenciação
CÉLULAS E MEDIADORES das células epiteliais em mucosas - metaplasia celular
- e a degradação do colagéneo subepitelial, com
As células epiteliais, os neutrófilos, os macrófa- migração das células epiteliais para baixo,
gos, os linfócitos T, os eosinófilos, os mastócitos, os originando novas e maiores glândulas mucosas32.
61
O fumo do tabaco, um dos agressores já referidos, 8, RANTES, da molécula de adesão intercelular 1
é capaz de estimular directamente a expressão dos (ICAM-1), da molécula de adesão celular vascular 1
genes da mucina através do receptor do EGF (epider- (VCAM-1 e selectina-E, desempenhando um papel
mal growth factor)33 ou, indirectamente, por fenóme- importante na inflamação eosinofílica e neutrofílica
35,37
nos ainda não completamente esclarecidos, mas que .
parecem envolver a libertação de taquicininas a partir De referir ainda o TGF-β (transforming growth
dos nervos sensoriais, por um mecanismo reflexo factor β) que é sintetizado e libertado pelas células
axónio34. A exposição a poluentes atmosféricos do epitélio brônquico, pelos macrófagos, eosinófilos
conduz a hipersecreção de muco por aumento da e fibroblastos, e tem importantes funções na
transcrição do gene MUC5AC28. regulação do crescimento, sinalização e reparação
Outros estímulos como a interleucina-9 (IL-9), a celulares, estando associado a alterações fibróticas
elastase neutrofílica e outras proteases podem estar do parênquima pulmonar27-38.
implicadas no aumento de expressão destes genes 28. O óxido nítrico é sintetizado em quantidades
Esta superprodução de mucina na DPOC, origina excessivas pela enzima óxido nítrico sintetase
diminuição dos batimentos ciliares e estagnação de inductível (iNOS) epitelial (e por outras células
muco, com propensão para a infecção. constitutivas e inflamatórias) podendo originar e
Existem genes que induzem a produção de media- perpetuar a inflamação das vias aéreas e a lesão
dores pro-inflamatórios pelo epitélio entre os quais: epitelial21,22.
citocinas, NO, endotelinas e metabolitos do ácido Na DPOC as endotelinas e os mediadores deriva-
araquidónico. dos do metabolismo do ácido araquidónico, como os
As citocinas produzidas são: o factor quimiotático leucotrienos (LT), induzem quimiotaxia, alterações
linfocítico (LCF) e o factor estimulador da colónia da permeabilidade e bronco e vasoconstrição por
granulócito-macrofágica (GM-CSF), que contracção do músculo liso27.
influenciam a migração das células inflamatórias Uma vez mais são os agressores que
para os locais de lesão e, no caso do GM-CSF, para desencadeiam a cascata inflamatória (Esquema 1).
além de ser quimiotático para neutrófilos e A exposição a poluentes atmosféricos como o
eosinófilos, promove a diferenciação e a dióxido de nitrogénio (NO2) determina uma
sobrevivência das células inflamatórias recrutadas35; lìbertação aumentada de LTC4, IL-8, GM-CSF, e
e a IL-8, um dos mais potentes factores activadores e TNF-α que originam atenuação da actividade ciliar,
quimiotáticos dos neutrófilos, que é sintetizada em lesão da membrana celular e aumento da
grandes quantidades nas vias aéreas36. permeabilidade vascular39. O ozono aumenta a IL-8,
O epitélio brônquico também sintetiza e liberta β- o GM-CSF, o TNF-α e ainda a ICAM-140.
-quemocinas, como o RANTES (regulated on O fumo do tabaco gera múltiplas alterações nas
activated normal T cell expressed and secreted) e a células epiteliais: diminui a migração celular e a
proteína quimiotática monocítica 1 (MCP-1) que são ligação das células epiteliais à membrana basal;
potentes factores quimiotáticos, o primeiro para os aumenta a permeabilidade celular epitelial por
eosinófilos e o último para monócitos e basófilos27 e deplecção de antioxidantes como o glutatião, e
ainda interleucina-1β (IL-1β), interleucina-6 (IL-6), aumenta a lìbertação de IL-8, quimiotática para
interleucina-11 (IL-11), e o TNF-α, todos eles com células inflamatórias27. Todas estas alterações são
efeitos e acções em inúmeras células, envolvendo a dose-dependentes 40.
activação dos linfócitos B e monócitos e induzindo a
síntese de proteínas de fase aguda. A IL-1β e o TNF-
α estimulam a expressão, síntese e libertação de IL-
62
Mills e colaboradores42 estudaram os perfiis das na DPOC é conhecida há longa data43,45,46. Desde os
citocinas IL-8 e TNF-α em fumadores com função anos 60 que se demonstrou a importância do
pulmonar normal, concluindo que a libertação destes processo inflamatório, através da actividade lesiva do
mediadores inflamatórios pelas células epiteliaìs neutrófilo e da deficiência de α1-AT na génese da
estava diminuída, por um mecanismo que impedia a DPOC particularmente do enfisema pulmonar46.
progressão da inflamação e evolução para doença. O factor quimiotático neutrofílico actualmente
Postula-se assim, que a existência deste mecanìsmo considerado como o mais importante é o LTB4,
frenador, que aborta, pela menos parcialmente a libertado pelos macrófagos alveolares. Os seus niveis
resposta inflamatória a um estimulo agressor, é estão aumentados na expectoração induzida de
incompleto nos indivíduos com DPOC, conduzindo a doentes com DPOC47.
níveis aumentados de IL-8 e TNF-α com progressão Os neutrófilos podem amplificar e perpetuar esta
para inflamação crónica, remodelação das vias aéreas resposta através da libertação de elastase que, por sua
e deterioração progressiva da função pulmonar. vez, actuará directamente nos macrófagos promoven-
Noutro trabalho43, em que se avaliou a libertação do a libertação daquele LT. Por outro lado, os
destas citocinas pelas células epiteliais e neutrófilos libertam LTB4 e IL-8 actuando como
inflamatórias das vias aéreas, obtiveram-se "feedback" negativo48. Assim, esta célula contém um
resultados diferentes: o aumento de IL-8 verificava- grande número de produtos inflamatórios com
se em todos os fumadores, enquanto o TNF-α só capacidade não só de lesar os tecidos mas também de
estava aumentado em fumadores com função gerar factores quimiotáticos.
pulmonar diminuída, podendo este último constituir Outros factores quimiotáticos estão envolvidos e
um marcador precoce de DPOC. são: citocinas, das quais se destaca a IL-846,49, liberta-
Bhowmik et al44 estudaram os perfis de IL-6 e IL- da pelas células epiteliais e neutrófilos e aumentada
8 em períodos de exacerbação da DPOC e no LBA de fumadores e expectoração induzida de
constataram a existência de uma correlação positiva doentes com DPOC, mesmo após a cessação
entre estas e o número total de células, eosinófilos e tabágica50; os linfócitos T CD8+, com um papel
linfócitos na expectoração induzida, que eram tanto ainda não totalmente esclarecido no recrutamento de
mais elevados quanto maior o número de neutrófilos; a nicotina que actua como substância
exacerbações. quimiotática para estas células; as substâncias
Coloca-se assim como questão se todas estas oxidativas libertadas pelo tabaco que originam
alterações serão origem ou consequência da diminuição da deformabilidade dos neutrófilos com
patologia. Reconhecerem-se diferenças na forma maior sequestração destes nos locais inflamatórios48.
coma as células epiteliais de fumadores com e sem A lesão neutrofílica pode ocorrer não só por
DPOC reagem a estímulos irritantes, podendo as excesso de enzimas destrutivas, dependendo o apare-
mesmas explicar porque alguns fumadores cimento de doença da migração, recrutamento,
desenvolvem obstrução e autros não, e prever os que natureza e persistência da resposta inflamatória
têm maior probabilidade de progredir para DPOC, neutrofílica, mas também por défice parcial ou total
caso mantenham os seus hábitos tabágicos. de antiproteases (Esquema 2). Para além da α1-AT
existem outros inibidores das proteases séricas, como
o inibidor da leucoprotease secretória (SLPI) que
Neutrófilos parece mais eficaz em inibir a proteólise neutrofilica
"in vitro" do que a α1-AT46,51; a elafina, inibidor
A presença aumentada de neutrófilos e a alteração específico da elastase, sintetizado pelas células
do balanço proteases-antiproteases em fumadores e epiteliais em resposta a estímulos inflamatórios52; os
63
inibidores tissulares das metaloproteases (TIMP)5 e neutrofílica, a proteinase 3, e indirectamente a
as cistatinas, capazes de controlar as proteases catepsina B, todas elas acumuladas e produzidas pelo
cisteínicas, como a catepsina B53. neutrófilo e implicadas na degradação do tecido
Estas enzimas inibem a elastase neutrofilica, a pulmonar5,54 (Quadro II).
catepsina G, a gelatinase B, a colagenase
A elastase neutrofilica tem papeis extremamente Macrófagos
importantes: é um dos constituintes major da
actividade elastolítica pulmonar causando lesão Em condições fisiológicas, os macrófagos são a
epitelial, hiperplasia das glândulas mucosas, aumento célula major de defesa das vias aéreas inferiores.
da produção de muco, diminuição dos batimentos O fumo do tabaco tem capacidade de recrutar e
ciliares e indução de IL-8 pelas células epiteliais, activar macrófagos, e estes estão aumentados 5 a 10
perpetuando a inflamação55. Na DPOC as concentra- vezes, para além do normal, em doentes com
ções de elastase libertada são suprafisiológicas, e DPOC17. Existem autores que os consideram,
como tal os inibidores específicos não conseguem actualmente, a principal célula lesiva das vias aéreas
impedir a lesão tissular uma vez que existe um défice nesta patologia 32,57. Os macrófagos pigmentados
relativo de antiproteases5. A lesão é no entanto mais alveolares têm sido regularmente apontados como o
atenuada à periferia dos locais inflamatórios, onde as tipo celular mais precocemente alterado nos jovens
concentrações de elastase são menores e os seus fumadores33.
efeitos contrabalançados pela presença de enzimas As citocinas inflamatórias, fragmentos de matriz e
protectoras. outros agentes, têm capacidade de promover a síntese
A resposta neutrofílica é diferente nos doentes e segregação de várias metaloproteases da matriz
com DPOC comparativamente a controlos saudáveis (MMP)57. As MMPs são um grupo de mais de 20
ou fumadores - os neutrófilos têm uma resposta endopeptidases capazes de degradar e remover todos
quimiotática aumentada, maior adesividade e maior os camponentes da matriz extracelular, e intervir na
capacidade de digerir o tecido conjuntivo, quer na reparação e remodelação das vias aéreas5. Para além
sua forma basal quer activados56, devido a uma maior dos macrófagos podem ser sintetizadas pelos
expressão dos seus receptores. O endotélio vascular neutrófilos, eosinófilos e células epiteliais das vias
dos doentes com DPOC expressa maiores aéreas29. Entre elas destacam-se: a colagenase 1
quantidades de moléculas de adesão, selectina-E e (MMP-1), a gelatinase B (MMP-9), a matrilisina
ICAM-1, sugerindo também a este nível activação e (MMP-7) e a elastase macrofágica (MMP-12), esta a
recrutamento neutrofílicos18. única exclusivamente presente no macrófago57.
A inflamação neutrofílica da submucosa correla- Ainda não está suficientemente claro se existe
ciona-se com o número de cigarros fumados e com a predomínio de uma MMP na DPOC ou se é o
limitação dos débitos respiratórios nos doentes com conjunta de várias que está envolvido na
DPOC38 e as concentrações de IL-8 com a redução fisiopatologia da doença.
de FEV16. A alteração da expressão das MMPs pelo fumo do
Entre os factores agressores libertados pelos neu- tabaco, directa ou indirectamente (citocinas,
trófilos para além de enzimas não nos podemos oxidantes e outras enzimas como a elastase
esquecer de espécies reactivas de oxigénio (referidas neutrofilica), pode conduzir a destruição pulmonar,
anteriormente) e que podem causar lesão, mesmo caracteristica da DPOC, sobretudo no enfisema
sem correr migração destas células para os tecidos18. pulmonar.
Níveis aumentados de MMP-1 e MMP-9 foram
detectados no LBA. de doentes com enfisema, e os
64
macrófagos destes doentes expressam também humanos58. O fumo do cigarro induz os macrófagos
quantidades aumentadas destas enzimas, sugerindo constitutivos a produzirem MMPs, que causam cisão
que estas células podem desempenhar um papel de da elastina, originando fragmentos quimiotáticos
iguaI ou maior importância que os neutrófilos6. para os monócitos - feedback positivo na perpetuação
A prova da relação entre o aumento dos da inflamação57.
macrófagos e alterações estruturais encontra-se na Finley e colaboradores59 compararam macrófagos
exposição de ratos ao fumo do tabaco durante longos de doentes com e sem DPOC concluindo que os
períodos de tempo, o que origina uma inflamação primeiros apresentavam níveis aumentados de MMP-
predominantemente macrofágica com alargamentos I, MMP-9 e elastase macrofágica.
dos espaços aéreos, semelhante ao enfisema nos
Para além desta produção enzimática, os macrófa- macrófagos, limitando a lesão dos tecidos e
gos têm capacidade de libertar: catepsinas (B, H, L, resolvendo o processo inflamatório63.
S); espécies reactivas de oxigénio muito lesivas para "In vitro" a apoptose limita a inflamação e impede
os tecidos5,17, como referido anteriormente; citocinas os seus efeitos nefastos através da clearance de
pro-inflamatórias como a MCP-1, a proteína infla- células inflamatórias pelos granulócitos. Os
matória macrofágica 1 alfa (MIP-1α) e a proteína macrófagos têm capacidade de fagocitar grandes
inflamatória macrofágica 1 beta (MIP-1β)60. quantidades de neutrófilos apoptóticos sem que haja
Verificam-se ainda, nos doentes com DPOC, níveis rotura destes e extravasamento do seu conteúdo para
diminuídos de inter-leucina-10 (IL-10), que é uma o meio circundante48,63. No entanto, não é de esperar
citocina extremamente potente na diminuição da que os neutrófilos apoptóticos se mantenham inertes
resposta inflamatória, uma vez que inibe a expressão por longos períodos, pois está provado "in vitro" que
do TNF-α, IL-8, MMPs e aumenta a expressão de após algumas horas, na ausência de macrófagos no
TlMPs e a apoptose neutrofílica61. local de inflamação, existe rotura da sua membrana
com extravasamento de conteúdo.
Normalmente a fagocitose macrofágica de células
Relação neutrófilos-macrófagos opsonizadas ou de neutrófilos em processo de necro-
se, liberta factores perpetuadores da inflamação
Um processo particularmente interessante e pivot como a 1L-1β , o GM-CSF, a IL-8 e o TNF-α.
na patogenia da DPOC consiste na persistência de Parecem existir diferentes mecanismos na ingestão
granulócitos e outros leucócitos nas zonas de macrofágica de células, porque ao fagocitarem os
inflamação conduzindo a lesões tecidulares crónicas neutrófilos apoptóticos, há um aumento da libertação
e irreversíveis. de factores com actividade supressora da inflamação
As primeiras células a migrar para os locais de como o TGF-β, a prostaglandina E2 (PGE2) e o
inflamação aguda são os neutrófilos, que libertam factor de activação plaquetário (PAF)64. Existem
factores quimiotáticos responsáveis pela afluxo de vários factores que promovem a apoptose
monócitos62 com posterior diferenciação em neutrofílica como a ciclo-hexamida, o TNF-α e o
macrófagos. NO, enquanto outros a reduzem, como sejam o GM-
Possivelmente a resolução da inflamação aguda CSF, a hipóxia e os corticosteróides48.
no pulmão, e noutros órgãos, prende-se com a Nunca podemos esquecer que todos estes estudos
apoptose (morte programada) dos neutrófilos ocorrem em situações obtidas "in vitro" não estando
senescentes e intactos no sangue periférico ou completamente demonstrados "in vivo".
tecidos, que ao contrário da necrose (morte não Uma das possibilidades para a persistência de
programada), determina a sua rápida remoção pelos inflamação na DPOC é que exista um controlo
65
impróprio da apoptose com alteração dos remodelação e decréscimo da função pulmonar67.
mecanismos que controlam a morte celular e Procura fazer uma analogia entre duas doenças
reconhecimento pelos macrófagos da morte das inflamatórias, a asma brônquica e a DPOC, não
células, tornando-se responsáveis pela persistência admitindo que o processo inflamatório por si só
da inflamação em DPOC fumadores. possa originar uma diminuição do FEV1.
O desequilíbrio pode surgir a vários niveis: Múltiplos autores relatam a presença de grandes
podem existir neutrófilos que sofrem processos de números de eosinófilos na expectoração e biópsias
necrose primária com efeitos deletérios directos e brónquicas de doentes com DPOC, em situações de
indirectos ou pode ocorrer um processo de necrose exacerbação - a que não é de espantar, uma vez que a
secundária, porque se tornam apoptóticos mas não maioria destas são devidas a infecções virais e
existe uma clearance rápida e eficaz pelos bacterianas. No entanto, a ocorrência de eosinofilia
macrófagos, exacerbando assim a resposta durante as exacerbaç_es não está completamente
inflamatória. Em qualquer um dos casos existe uma explicada. Á luz dos conhecimentas actuais teríamos
amplificação da resposta inflamatória com inibição de considerar em alguns doentes com DPOC, uma
ainda mais acentuada do papel protector dos população linfócitos Th2 (T helper 2), secretores de
macrófagos originando a libertação de mediadores IL-4 e IL-5. Coloca-se como hipótese que a estimula-
pro-inflamatórios par múltiplas células, conduzindo a ção viral (ex: adenovírus), poderia originar um
um ciclo vicioso e nefasto48. aumento de células CD8+, com produção de um
Se se conseguir, na futuro, a manipulação destas vasto leque de citocinas entre as quais a IL-533,
vias, conduzindo todo este processo para uma via importante no recrutamento eosinofílico. No entanto
benéfica de resolução da situação inflamatória, os valores desta citocina, nas exacerbações da
podemos ter em mão uma arma terapêutica eficaz. DPOC, encontram-se normais68.
Resta saber qual será o papel da apoptose em relação Outra das diferenças entre os eosinófilos na
a outras células inflamatórias que estão envolvidas DPOC, quando comparados com a asma, é que na
na fisiopatologia da DPOC. primeira estas células não desgranulam10.
Têm também capacidade de produzir MMPs,
Eosinófilos colagenases e factores de crescimento como TGF-β e
o factor de crescimento derivado das plaquetas
Há um aumento das proteinas eosinofílicas na (PDGF), pelo que poderão desempenhar um papel
DPOC, que alguns investigadores questionam ser o importante e ainda não esclarecido, nos processos de
resultado da aumento total de células inflamatórias, remodelação32.
consistindo assim numa reacção inflamatória inespe-
cífica65.
Existem no entanto estudos que revelam uma Linfócitos
correlação positiva entre o aumento de easinófilos,
os níveis de Ig E e o fumo do tabaco e constituem a Pouco se sabe do papel linfócitos T na patogenia
base da teoria da atopia e hiperreactividade da DPOC.
brônquica na DPOC, que tenta explicar a Os linfócitos T CD8+ têm sido encontrados em
susceptibilidade de alguns fumadores ao fumo do valores superiores ao normal nos pulmões e sangue
tabaco66. Esta hipótese, designada por "Hipótese periférico de doentes com DPOC provavelmente por
Holandesa", especula que a agressão das vias aéreas aumento da libertação de IL-16 pelas células
causa inflamação, que por sua vez origina epiteliais e outras células inflamatórias69.
hiperreactividade brônquica, com progressão para a Há autores que encaram o aumento dos linfócitos
66
T CD8+ como resposta a repetidas infecções virais,
que origina dano nos pulmões de fumadores Na fase mais precoce, após a lesão tissular, o
susceptíveis12. epitélio e as células inflamatórias das vias aéreas
Em termos estruturais verifica-se que, nos locais libertam citocinas como o TGF-β, o PDGF, o GM-
de destruição pulmonar, existem números -CSF e o factor de crescimento fibroblástico básico
aumentados de macrófagos e linfócitos T citotóxicos (bFGF) que promovem um aumento da produção de
CD8+ no par_nquima pulmonar e parede das vias fibroblastos73. Estes têm um papel reparador na
aéreas70. Existem trabalhos recentes que colocam matriz pulmonar, migrando para locais de lesão,
como hipótese que sejam estas duas células formando e contraindo a matriz extracelular32.
(linfócitos e macrófagos) as responsáveis pela Podem perpetuar a resposta inflamatória quer pela
perpetuação da inflamação em doentes com DPOC libertação de factores quimiotáticos para os
ex-fumadores, provavelmente por manutenção de neutrófilos e monócitos, quer pela libertação de
libertação de citocinas que se encontram em valores MMPs32,74.
superiores aos normais mesmo após a cessação A inoculação de elastase neutrofílica, em animais
tabágica71 embora outros trabalhos apontem para os de laboratório, conduz a uma deplecção aguda de
neutrófilos e para a IL-8, como foi referido elastina seguida de um aumento da sintese
anteriormente. Os linfócitos T actuam também fibroblástica de matriz extracelular, com uma
causando vasodilatação microvascular, com arquitectura desorganizada5. Ocorre deposição
consequente recrutamento de leucócitos para os acentuada de proteínas, com fibrose das pequenas
locais de inflamação, via PGI2 e NO, e libertação de vias aéreas, característica da bronquite crónica, mas
quemoquinas pelas células epiteliais, sobretudo IL-8 também pode conduzir a uma diminuição da
e MCP-115. reposição da matriz pelos fibroblastos com
Um estudo de De Jong e colaboradores72 demons- progressão para enfisema. A exposição mantida a
tra que a relação CD4+/CD8+ está invertida nos estímulos exógenos agressores, como o fumo do
doentes fumadores com DPOC, e que o aumento dos tabaco, pode originar disfunção destas células73.
CD8+ se correlaciona negativamente com a função Um tipo distinto de fibroblasto, o miofibroblasto,
pulmonar, mas positivamente com os níveis séricos está associado a uma grande produção de colagéneo
de IgE. Este estudo vem reforçar a hipótese de que a e foi identificado como sendo extremamente impor-
linhagem T e a síntese de IgE poderão ter um papel tante no desenvolvimento de lesões fibróticas.
na patogénese da DPOC. Por outro lado a presença Liberta MIP-1α, MCP-I e TGF-β que são factores
de grandes quantidades de macrófagos alveolares e a importantes na síntese de matriz extracelular. O
sua correlação significativa com os números de último é o promotor da alteração fenotípica de
CD3+ nos pulmões de fumadores, sugere que os fibroblastos perivasculares em miofibroblastos.
linfócitos Thl CD4+ estejam envolvidos neste Todos estes mediadores podem também ser
processo inflamatório, por libertação de interferon libertados pelos eosinófilos, macrófagos e células
gama (INF-γ). Os macrófagos activados por sua vez epiteliais. Existem indícios de que os miofibroblastos
libertam citocinas, como a Il-12, que actua como estão sujeitos a estímulos apoptóticos e será a
"feedback" positivo ao nível dos linfócitos T, alteração destes, que conduz à sua perpetuação nos
promovendo a sua diferenciação na subpopulação tecidos, com progressão para fibrose32.
Thl70.

PROCESSOS DE REPARAÇÃO
Fibroblastos
67
Os processos de reparação são iniciados como IGF-I (insulin-like grawth factor-I), o PDGF, o EGF
parte integrante da resposta inflamatória com o e o TGF-β, sendo este último o mais importante,
objectivo de restituir a arquitectura pulmonar normal, tendo no seu conjunto um papel regulador da
o que nem sempre acontece. reparação epitelial, aumentando a adesão e diminu-
Na DPOC as alterações que se verificam são indo a actividade migratória destas células no local
resultantes de destruição pulmonar pela proteólise e de lesão74.
stress oxidativo, mas também de respostas reparado- As células epiteliais libertam factores que promo-
ras incompletas ou ineficazes em termos vem o recrutamento, proliferação e produção de
quantitativos e qualitativos nas quais o fibroblasto matriz de colagénio pelos fibroblastos originando
tem um papel crucial75. também remodelação a nível subepitelial7,74.
Após um estímulo agressor ocorre exsudação de Para além dos fibroblastos, os macrófagos
proteínas plasmáticas, para as vias aéreas, que alveolares parecem contribuir para a proliferação das
polimerizam e originam uma matriz que forma a base células epiteliais das vias aéreas74. Produzem várias
de reparação da lesão. As células epiteliais dos MMP, como foi referido, que participam nos
bordos da lesão tornam-se então mais achatadas e processos de remodelação da matriz extracelular,
migram de forma a cobri-la. Toda a zona sofre uma facilitando a reepitilização das zonas de lesão,
intensa proliferação e passa a ser constituída por podendo conduzir a alterações da estrutura normal
inúmeras células indiferenciadas que posteriormente das vias aéreas76. Tam- bém as células epiteliais
se diferenciam e se sub-especializam, havendo uma ciliadas e as glândulas submucosas das vias aéreas
substituição de células serosas por mucosas e células expressam MMP-7 constitutiva (matrilisina) que, em
ciliadas por secretoras o que demonstra a casos de lesão, é sintetizada e libertada em maiores
plasticidade do epitélio das vias aéreas74,76. Mas estes quantidades facilitando a migração e remodelação
processos de reparação não são perfeitamente celulares32.
eficazes, a avaliar pela presença de metaplasia das O fumo do cigarro altera a capacidade das células
células caliciformes, metaplasia das células mucosas, epiteliais em participar na resposta reparadora e pro-
e fibrose peribronquiolar que caracteriza as vias move a fibrose peribrônquica38,78. "In vitro", este
aéreas dos fumadores com DPOC5,10,38. Podem, tecido fibrótico contrai-se, via TGF-β libertada pelas
inclusive, ser deletérios uma vez que as células células epiteliais38,79, podendo ser o responsável
epiteliais que migram em resposta à lesão expressam directo pela diminuição do calibre das vias aéreas e
receptores de superfície diferentes das outras células limitação funcional "in vivo". Verifica-se um aumen-
epiteliais, que facilitam a adesão bacteriana ao to da expressão do TGF-β nas vias aéreas de doentes
epitélio respiratório77. Tal facto pode justificar o com bronquite crónica embora esta última
aumento da tendência para as vias aéreas de doentes observação seja controversa74.
com DPOC serem colonizadas por agentes O controlo do processo fibrótico e da
patogénicos. remodelação das vias aéreas poderá ser uma futura
Existem inúmeras células e mediadores via terapêutica, evitando a queda da função
envolvidos na remodelação das vias aéreas. A respiratória nestes doentes. Estudos "in vitro" com
fibronectina é um agente quimiotático das células β2-agonistas atenuam a contracção da matriz de
epiteliais, e pode ser libertada pelas células colagénio fibroblástico80. Pelo contrário os
adjacentes à lesão ou proveniente dos vasos, por corticosteróides aumentam a sua contracção via
exsudação de plasma77. Existem estudos que inibição da PGE2 protectora81, mas são necessários
demonstram níveis aumentados de fibronectina no mais estudos neste campo para avaliar as respostas
LBA de doentes com DPOC74 e de factores como o "in vivo".
68
durante os periodos de estabilização, tiveram resulta-
dos desanimadores, no que diz respeito a evitarem
CORTICOSTERÓIDES E DPOC um decréscimo do FEV1. Existem no entanto estudos
controversos que referem uma melhoria dos
É intrigante a falta de resposta aos sintomas, uma diminuição do número e gravidade
corticosteróides sistémicos ou inalados na DPOC das exacerbações e aumento da qualidade de vida29.
uma vez que se trata de uma doença inflamatória e Alguns doentes, com diagnóstico reconhecido de
seria de esperar que ao reduzirmos ou suprimirmos a DPOC, respondem a esta classe de fármacos. Os
inflamação das vias aéreas estivéssemos a evitar o últimos estudos apontam para que os doentes que
decréscimo da função pulmonar. Tal não acontece, respondem aos corticosteróides sejam aqueles que
porque até há pouco tempo se considerava este têm um componente inflamatório eosinofílico impor-
processo inflamatório semelhante ao de outras tante, e não neutrofílico48. Existem trabalhos que
doenças, nomeadamente ao da asma brônquica. demonstram a eficácia dos corticosteróides nas
Alguns estudos descrevem uma ligeira eficácia exacerbações da DPOC85, possivelmente relacionada
clínica, mas os mecanismos de actuação destes com o aumento de eosinófilos nas vias aéreas, resul-
fármacos não estão completamente esclarecidos, o tantes de processo infeccioso.
que faz com que existam posições controversas, em Os corticosteróides inalados poderão ser relativa-
82,83
relação à sua utilização na DPOC . Os ensaios mente eficazes em cerca de 10% dos doentes com
desenhados para avaliar a eficácia dos corticosterói- DPOC, mas será que nestes casos não está associada
des na DPOC, quer durante as exacerbaç_es, quer uma asma brônquica?
Ao verificarmos a resposta dos marcadores de inflamação após o uso de
corticosteróides na DPOC os resultados são desanimadores. Os corticosteróides
inalados e orais não alteram significativamente as contagens de neutrófilos ou
citocinas inflamatórias na expectoração induzida86. Um trabalho recente de Culpitt e
colaboradores87 não revelou qualquer benefício dos corticosteróides inalados na
melhoria da função pulmonar, na sintomatologia ou na diminuição da percentagem de
neutrófilos e níveis de IL-8. Também não se verificaram alteraç_es do balanço
proteases-antiproteases, uma vez que os níveis de MMP-l, MMP-9, SLPI e TIMP-1
não foram modificados pela introdução de tratamento.
Os corticosteróides são ineficazes na inflamação neutrofílica, diminuem a apoptose
dos neutrófilos e não inibem os níveis elevados de IL-8 e TNF- 29,43. Existe assim
uma resistência natural da doença a estes fármacos. Causam uma diminuição do
glutatião intracelular nas células epiteliais das vias aéreas, agravando o stress
oxidativo88.
Os mediadores inflamatórios modulam o número e afinidade dos receptores dos
glucocorticóides nas células brônquicas epiteliais. A inflamação, presente nos
fumadores e doentes com DPOC, diminui a capacidade de ligação destes receptores89.
Por outro lado a SLPI é aumentada pelos corticosteróides "in vitro"90 e estudos
recentes revelam que, embora os corticosteróides diminuam a apoptose neutrofílica,
têm um papel promotor da clearance destas células dos locais inflamatórios, por
aumento da ingestão macrofágica91.
Mais trabalhos de investigação são necessários para esclarecer a relação entre a
inflamação e os corticosteróides e também para descobrir outros anti--inflamatórios
69
eficazes (alguns já em estudo como os inibidores da fosfodiesterase 4, a IL-10, os
análogos da PGE, ....) que actuem nas múltiplas vias, diminuindo a globalidade do
processo inflamatório.

CONCLUSÕES

Os mecanismos que estão na base da DPOC e desenvolvimento da limitação da


função respiratória ainda não estão totalmente esclarecidos. Envolvem uma série de
factores agressores e genéticos que promovem o recrutamento de células inflamatórias
e originam uma resposta alterada das células estruturais do pulmão, com desequilíbrio
do balanço proteases--antiproteases e do balanço oxidantes-antioxidantes.
É extremamente importante identificar os factores que determinam que apenas 10-
20% dos fumadores desenvolvam DPOC.
As variações genéticas que permitem que alguns indivíduos sejam susceptíveis aos
factores agressores serão certamente investigadas de forma mais profunda nos anos
vindouros. A descoberta dos vários polimorfismos dos genes mediadores da
inflamação e dos genes antioxidantes, que certamente desempenham um papel
fundamental na susceptibilidade ao fumo do tabaco (o principal agressor), irão
possibilitar a identificação dos doentes em risco, uma melhor prevenção e um arsenal
terapêutico mais eficaz, de forma a contrariar as graves alterações da função
respiratória que advêm desta doença.
As futuras terapêuticas na DPOC parecem desenvolver-se em torno da descoberta
de novos anti--inflamatórios, pretendendo-se que sejam eficazes na reversão do
processo inflamatório inicial, no processo de reparação e contracção do músculo liso e
mesmo durante estádios mais avançados, quando a inflamação crónica conduz a
processos de deposição de colagéneo, remodelação e fibrose, cujo controle se revelou
quase infrutífero.
Por ora, o reforço da modificação de estilos de vida com evicção de factores de
risco, parece ser um ponto em que se deve continuar a apostar, enquanto não aparecem
tratamentos com capacidade de alterar activamente a história natural da doença.

BIBLIOGRAFIA

1 BUIST S. Risk factor classification, Exposure of humans to ambient levels of


Comunicação oral. COPD 2000. ozone for 6.6 hours causes cellular and
Birmingham UK 2000. biochemical changes in the lung. Am J
2 US SURGEON GENERAL. The health Respir Cell Mol Biol 1991; 4: 72-81.
consequences of smoking: chronic 4 HOGG JC. Childhood Viral Infection
obstructive pulmonary disease. DHHS and the pathogenesis of asthma and
public nº 84 -50205, 1984. chronic obstructive lung disease. Am J
3 DEVLIN RB, MCDONNELL WF, Respir Crit Care Med 1999; 160: S26-
MANN R, BECKER S, HOUSE DE, S28.
SCHREINEMACHERS D, KOREN HS. 5 SENIOR RM, SHAPIRO SD. Chronic

70
obstructive pulmonary disease: and Antioxidants as therapeutic targets
epidemiology, pathophysiology and in chronic obstructive pulmonary
pathogenesis. In Fishman "Pulmonary dissese.Am J Respir Crit. Care Med
dìseases and disorder.s ", 3 rd ed 1999; 160: S58-S65.
McGraw-Hill 1998. 17 JORRES RA, MAGNUSSEN H.
6 BARNES PJ. Molecular genetics of Oxidative stress in COPD. Eur Respir
COPD. Thorax 1999; 554: 245-252. Rev 1997; 7, 43: 131-135.
7 PARÉ PD, BAI TR. Airway wall 18 MACNEE W. Neutrophil traffic and
remodelling in chronic obstructive COPD. Eur Respir Rev 1997; 7, 43: 124-
pulmonary disease. Eur Respir Rev 127.
1996; 6: 39, 259-263. 19 REPINE JE, BAST A, LNAKHORST I.
8 SANDFORD AJ, WEIR TD, PARE PD. Oxidative stress in chronic obstructive
Genetic risk factors for chronic pulmonary disease. Am J Respir Crit.
obstructive pulmonary disease. Eur Care Med 1997; 156: 341-357.
Respir J 1997; 10: 1380-1391. 20 DEKHUIJZEN RPN, ABON KKH,
9 MULLEN JBM, WRIGHT JL, WIGGS DEKKER I, AARTS PHJ, WIELDERS
BR, PARÉ PD, HOGG JC. PML, VAN HERWAADEN LA, BAST
Reassessment of inflammation of A. Increased exhalation of hydrogen
airways in chronic bronchitis. Br Med J peroxide in patients with stable and
1985; 291: 1235-1239. unstable chronic obstructive pulmonary
10 JEFFERY PK. Pathology of asthma and disease. Am J Respir Crit. Care Med
COPD: a synapsis. Eur Respir Rev 1997; 1996; 154: 813-816.
7: 43, 111-118. 21 KANAZAWA H, SHOJI S,
11 FINKELSTEIN R, MA H-D, GHEZZO YOSHIKAWA T, HIRATA K,
H, WHITTAKER K, FRASER RS, YOSHIKAWA J. Increase production of
COSIO MG. Morphometry of small endogenous nitric oxide in patients with
airways in smokers and its relationship bronchial asthma and chronic obstructive
to emphysema type and pulmonary disease. Clin Exp Allergy
hyperresponsiveness. Am J Respir Crit. 1998; 28 (10): 1244-1250.
Care Med 1995;152: 267-276. 22 AGUSTI AG, VILLAVERDE JM,
12 SAETTA M. Airway inflammation in TOGORES B, BOSCH M. Serial
chronic obstructive pulmonary disease. measurements of exhaled nitric oxide
Am J Respir Crit. Care Med 1999; 160: during exacerbations of chronic
S17-S20. obstructive pulmonary disease. Eur
Respir J 1999;14 (3): 523-528.
13 ANDERSON R, THERON AJ,
RICHARDS GA, MYERS MS, 23 RUTGERS SR, VAN-DER-MARK TW,
RENSBURG AJV. Passive smoking by COERS W, MOSHAGE H, TIMENS W,
human sensitises circulating neutrophils. KAUFFMAN HF, KOETER GH,
Am Rev Respir Dis 1991; 144: 570-574. POSTMA DS. Markers of nitric oxide
metabolism in sputum and exhaled air
14 TURAGO G, DI STEFANO A,
are not increased in chronic obstructive
MAESTRELLI P et al. Effects of
pulmonary disease. Thorax 1999; 54 (7):
smoking cessation on airway
576- 580.
inflammation in chronic bronchitis. Am J
Respir Crit. Care Med 1995; 152: 1262- 24 KAWIKOVA I, BARNES PJ,
1267. TAKAHASHI T, TADJKARIMI S,
YACOUB MH, , BELVISI MG. 8-
15 COSIO M, GUERASSIMOV A. Chronic
epiprostaglandin F2α, a novel non-
obstructive pulmonary disease -
cycloxygenase derived prostaglandin, is
Inflammation of small airways and lung
a potent constrictor of guinea-pig and
parenchyma.Am J Respir Crit. Care Med
human airways. Am J Respir Crit. Care
1999; 160: S21-S25.
Med 1996; 153: 590-596.
16 MACNEE W, RAHMAN I. Oxidants
25 PRATICO D, BASILI S, VIERI M,
71
CORDOVA C, VIOLI F, FITZGERALD cytokines. Int Arch Allergy Immunol
GA. Chronie obstructive pulmonary 1992; 99: 196-199.
disease associated with an increase in 37 LEVINE SJ. Bronchial epithelial cell-
urinary levels of isoprostane F2α-III, an cytokine interactions in airway
index of oxidant stress. Am J Respir inflammation. J Invest Med 1995; 43:
Crit. Care Med 1997, 158: 1709-1714. 241-249.
38 CHANEZ P, VIGNOLA AM,
26 RAHNAN I, MORRISON D, BOUSQUET J. Remodelling of the
DONALDSON K, MACNEE W. airways in chronic obstructive
Systemic oxidative stress in asthma, pulmonary diseases. Eur Respir Rev
COPD and smokers. Am J Respir Crit. 1997; 7, 43: 142-145.
Care Med 1996; 154: 1055-1060. 39 DEVALIA JL, SAPSFORD RJ,
27 MILLS P. Airway epithelial cells, CUNDELL DR, RUSZNAK C,
cytokines and CAMPBELL AM, DAVIES RJ. Human
pollutants. Am J Respir Crit. Care Med 1999; bronchial epithelial cell dysfunction
160: S29-S32. following in vitro exposure to nitrogen
dioxide. Eur Respir J 1993; 6: 1308-
28 BASBAUM C, LEMJABBAR H,
1316.
LONGPHRE M, LI D, GENSCH E.
MCNAMARA N. Control of mucin 40 RUSZNAK C, DEVALIA JL,
transcription by diverse injury-induced SAPSFORD RJ, DAVIES RJ. Ozone -
signalling pathways. Am J Respir Crit. induced mediator retease from human
Care Med 1999; 160: S44-S48. epithelial bronchial cells in vitro and the
influence of nedocromil sodium. Eur
29 BARNES PJ. Novel approaches and
Respir J 1996; 9: 2298- 2305.
targets for treatment of chronic
obstructive pulmonarv disease. Am J 41 SUN W, WU R, LAST JA. Effects of
Respir Crit. Care Med 1999; 160: S72- exposure to environmental tobacco
S79. smoke on a human tracheobronchial
epithelial cell line. Toxicology 1995;
30 REID L. An experimental study of
100: 163-174.
hypersecretion of mucus in the bronchial
tree. Br J Exp Pathol 1963; 44: 437-445. 42 MILLS PR, RUSZNAK C, SAPSFORD
RJ, DEVALIA JL, DAVIES RJ.
31 COLES SJ, LEVINE LR, REID L.
Cigarette smoke induced IL-8 and TNF
Hypersecretion of mucus glycoproteins
α from cultured human bronchial
in rat airways induced by tobacco
epithelial cells of non--smokers, smokers
smoke. Am J Pathol 1979; 94: 459-471.
with normal pulmonary function and
32 BUSSE W, ELIAS J, SHEPPARD D, patients with COPD. Thorax 1998; 53:
BANKS-SCHLEGEL S. Airway A58.
remodelling and repair. Am J Respir
43 KEATINGS VM, BARNES PJ.
Crit. Care Med 1999; 160: 1035-1042.
Comparison of inflammatory cytokines
33 JEFFEERY PK. Inflammation in in chronic obstructive pulmonarr disease,
Chronic Obstructive Lung Disease.Am J asthma and controls. Eur Respir Rev
Respir Crit. Care Med 1999; 160: S3-S4. 1997;⋅ 7, 43: 146-150.
34 KUO H, BARNES PJ, ROGERS DF. 44 BHOWMIK A, SEEMUNGAL TA,
Cigarette smoke-induced airway globet SAPSFORD RJ, WEDZICHA JA.
cell secretion: dose dependent Relation of sputum inflammatory,
differential nerve activation. Am J markers to symptoms and lung function
Physiol 1992; 7: L161-L167. changes in COPD exacerbations. Thorax
35 BORISH L, ROSENWASSER LJ. 2000; 55 (2): 114-120.
Update on cytokines. J Allergy Clin. 45 HUNNINGHAKE GW, CRYSTAL RG.
Immunol 1996; 97: 719-734. Cigarette smoking and lung destruction:
36 BAGGIOLINI M. Neutrophil activation accumulation of neutrophils in the lungs
and the role of interleukin-8 and related of cigarette smokers. Am Rev Respir Dis
72
1983; 8: 833-838. 56 BURNETT D, HAMBA A, HILL SL,
46 STOCKLEY RA. New perspectives on STOCKLEY RA. Neutxophils from
the protease/ antiprotease balance. Eur subjects with chronic obstructive lung
Respir Rev 1997; 7, 43: 128-130. disease show enhanced chemotaxis and
extracellular proteolysis. Lancet
47 ZAKRZEWSKI JT, BARNES NC,
1987;11: 1043-1046.
COSTELLO JF, PIPER PJ. Lipid
mediators in cystic fibrosis and chronic 57 SHAPIRO DS. The Macrophage in
obstructive pulmonary disease. Am Rev COPD.Am J Respir Crit Care Med 1999;
Respir Dis 1987; 136: 779-782. 160: S29-S32.
48 HASLETT C. Granulocyte Apoptosis 58 HAUTAMAKI RD, KOBAYASHI DK,
and Its Role in the Resolution and SENIOR RM, SHAPIRO SD.
Control of Lung Inflammation. Am J Macrophage elastase is required for
Respir Crit Care Med 1999; 160: S5- cigarette smoke-induced emphysema in
S11. mice. Science 1997; 277: 2002-2004.
49 LUSTER AD. Chemokines-chemotactic 59 FINLEY GA, O'DRISCOLL RL,
cytokines that mediate inflammation. N RUSSELL KJ, D'ARCY EM,
Engl J Med 1998; 338: 436-445. MASTERSON JB, FITZGERALD MX,
O'CONNOR CM. Matrix
50 KEATINGS VM, COLLINS PD,
metalloproteinase expression and
SCOTT DM, BARNES PJ. Differences
production by alveolar macrophages in
in interleukin factor-8 and tumour
emphysema. Am J Respir Crit Care Med
necrosis factor-alpha in induced sputum
1997; 156: 240-247.
from patients with chronic obstructive
pulmonary disease and asthma. Am J 60 CAPELLI A, DI STEFANO A,
Respir Crit Care Med 1996; 153: 530- GNEMMI I, BALBO P, CERUTTI CG,
534. BALBI B, LUSUARDI M, DORMER
CF. Increased MCP-1 and MIP-1 beta in
51 LLEWELLYN JONES CG, LOMAS
bronchoalveolar lavage fluid of chronic
DA, STOCKLEY RA. Potential role of
bronchitics. Eur Respir J 1999; 14: 160-
recombinant secretory leucoprotease
165.
inhibitor in the prevention of neutrophil
mediated matrix degradation. Thorax 61 TAKANASHI S, NASEGAWA Y,
1994; 49: 567-572. KANEHIRA Y, YAMAMOTO K,
FUJIMOTO K, SATOH K, OKAMURA
52 SALLENAVE JM, SHULNANN J,
K. lnterleukin 10 level in sputum is
CROSSLEY J, JORDANA M,
reduced in bronchial asthma, COPD and
GAULDIE J. Regulation of secretory
in smokers. Eur Respir J 1999; 14 (2):
leukocyte proteinase inhibitor (SLPI)
309-314.
and elastase-specific inhibitor
(ESl/elafin) in human airway epithelial 62 DAHERTY DE, WORTHEN GS,
cells by cytokines and neutrophilic HASLETT C, HENSON PM. Monocyte
enzymes. Am J Respir Cell Mol Biol accumulation at acutely inflamed sites in
1994; 11: 733-741. the rabbit lung is dependent upon initial
neutrophil accumulation. Lab Invest
53 STOCKLEY RA. Cellular mechanisms
1988; 59: 200-213.
in the pathogenesis of COPD. Eur Respir
Rev1996; 6, 39: 264-269. 63 COX G, CROSSLEY J, XING Z.
Macrophage engulfment of apoptofic
54 STOCKLEY RA. Neutrophils and
neutrophils contributes to the resolution
protease/antiprotease imbalance. Am J
of acute pulmonary intlammation in
Respir Crit Care Med 1999; 160: S49-
viuo. Am J Respir Cell Mol Biol 1995;
S52.
12: 232-237.
55 BARNES PJ. Novel approaches and
64 FADOK VA, BRATTON DL,
targets for treatment of clronic
KONOWAL A, FREED PW,
obstructive pulmonary disease. Am J
WESTEOOTT JY, HENSON PM.
Respir Crit Care Med 1999; 160: S72-
Macrophages that have ingested
79.
73
apoptotic cells in vitro inhibit role for fibroblast-mediated defective
proinflammatory cytokine production tissue repair in the pathogenesis of
through autocrine/paracrine mechanisms emphysema? Eur Respir Rev 1997; 7:
involving TGF-β, PGE2 and PAF. J Clin 43, 119-123.
Invest 1998; 90: 1513-1522. 74 RENNARD SI. Inflammation and repair
65 HARGREAVE FE, Leigh R. Induced processes in chronic obstructive
sputum, eosinophilic bronchitis, and pulmonary disease. Am J Respir Crit
chronic obstructive pulmonary disease. Care Med 1999; 160: S12-S16.
Am J Respir Crit Care Med 1999, 160: 75 NIEWOEHNEr DE. Anatomic and
S53-S57. pathophysiological correlations in
66 POSTMA DS, RIJCKEN B. The role of COPD. In Baum C L, C rapo JD, Celli
atopy and hyperresponsiveness in the BR, Karrinsky JB editors. Textbook of
development of COPD. Eur Respir Rev Pulmonary Diseases. Lippinccott-Raven,
1997; 7, 43: 159-162. Philadelphia 1998; 823-842.
67 RENNARD SI. COPD: Overview of 76 PUCHELLE E, ZAHM J-M,
definitions, epidemiology, and factors TOURNIER J-M, DE BENTZMANN S.
influencing its development. Chest 1998; Airway epithelial injury and repair. Eur
113: S235-S241. Respir Rev 1997; 7, 43: 136-141.
68 SAETTA M. Central inflammation in the 77 RENNARD S. Pathaphysiological
development of COPD. Eur Respir Rev mechanisms of COPD. Eur Respir Rev
1997; 7: 43, 109-110. 1997; 7, 45; 206-210.
69 MARTTI L, QVARFORDT I, RIISE 78 CANTRAL DE, SISSON JH, VEYS T,
GC, BENGT AA, LARSSON S, RENNARD SI, SPURZEM JR. Effects
LINDÉN A. Increased levels of of cigarette smoke extract on bovine
interleukin-16 in the airways of tobacco bronchial epithelial cell attachment and
smokers: relationship with peripheral migration. Am J Physiol 1995; 268:
blood T lymphocytes. Thorax 1999; 54: L723-L728.
911-916. 79 MIO T, LIU X, ADACHI Y, STRIZ I,
70 KEMENY DM, VYASB, SKOLD CM, ROMBERGER DJ,
VUKMALIOVIC-STEJIC M, THOMAS SPURZEM JR, ILLIG MG, ERTL RF,
M, NOBLE A, LOH LC, O'CONNOR RENNARD SF. Human bronchial
BJ. CD8+ T cell subsets and chronic epithelial cells modulate collagen gel
obstructive pulmonary disease. Am J contraction by fibroblasts. Am J Physiol
Respir Crit Care Med 1999; 160: S33- 1998; 274: L119-L126.
S37. 80 MIO T, ADACHI Y, CARNEVALI S,
71 RUTGERS SR, POSTMA DS, TEN ROMBERGER DJ, SPURZEM JR,
HACKEN NH, KAUFFMAN HF, VAN RENNARD SF. B-adrenergic agonists
DER MARK TW, KOETER GH, attenuate fibroblast-mediated contraction
TIMENS W. Ongoing airway of released collagen gels. Am J Physiol
inflammation in patients with COPD 1996; 270: L829-L835.
who do not currently smoke. Thorax 81 SKOLD CM, LIU X, ZHU YK, UMINO
2000; 55 (1): 12-18. T, TAKIGAWA K, OHKUNI Y, ERTL
72 DE JONG JW, VAN DER BELT- RF, SPUNEM JR, SPURZEM DJ;
GRITTER B, KOETER GH, POSTMA ROMBERGER DJ, BRATTSAND R,
DS. Peripheral blood lymphocytes cell RENNARD SI. Glucocorticoids augment
subsets in subjects with chronic fibroblast mediated contraction of
obstructive pulmonary disease: collagen gels by inhibition of
association with smoking, IgE and lung endogenous PGE production Proc Assoc
function. Respir Med 1997; 91: 67-76. Am Phyisicians 1999; 111: 249-258.
73 TIMENS W, COERS W, VAN 82 CALVERLEY PMA. Inhaled
STRAATEN JFM, POSTNA DS. corticosteroids are beneficial in chronic
Extracellular matrix and inflammation: a obstructive pulmonarr disease. Am J
74
Respir Crit Care Med 2000; 161: 341- tumor necrosis factor-α and
342. dexamethasone in human alveolar
83 BARNES PJ. Inhaled corticosteriods are epithelial cells. J Biol Chem 1999; 274:
not beneficial in chronic obstructive 5088-5096.
pulmonary disease.Am J Respir Crit 89 VERHEGGEN MM, ADRIAANSEN-
Care Med 2000; 161: 342-344. SOETING PW, BERREVOETS CA,
84 FUJIMOTO K, KUBO K, VAN-HAL PT, BRINKMANN AO,
YAMAMOTO H, YAMAGUCHI S, HOOGSTEDEN HC, VERSNEL MA.
MATSUZAWA Y. Eosinophilic Glucocorticoid receptor expression in
inflammation in the airway, is related to human bronchial epithelial cells: effects
glucocorticoid reversibility in patients of snoking and COPD. Mediators-
with pulmonary emphysema. Chest Inflamm. 1998; 7 (4): 275-281.
1999; 115 (3): 697-702. 90 SALLENAVE JM, SHULMANN J,
85 THOMPSON WH, NIELSON CP, CROSSLEY J, JORDANA M,
CANRALLTO P, CHARAN NB, GAULDIE J. Regulation of secretory
CROWLEY JJ. Controlled trial of oral- leukocyte proteinase inhibitor (SLPI)
prednisone in outpatients with acute and elastase-specific inhibitor
COPD exacerbation. Am J Respir Crit (ESI/elafin) in human airway epithelial
Care Med 1996; 154: 407-412. cells by cytokines and neutrophilic
enzymes. Am J Respir Cell Mol Biol
86 KEATINGS VM, JATAKANON A,
1994; 11: 733-741.
WORSDELL YM, BARNTES PJ.
Effeets of inhaled and oral 91 LIU Y, COUSIN JM, HUGHES J, VAN
glucocorticoids on inflammatory induces DAMME J, SECKEL JR, HASLETT C,
in asthma and COPD. Am J Respir Crit DRANSFIELD I, SAVILL J, ROSSI
Care Med 1997; 155: 542-548. AG. Glucocorticoids promote non-
phlogistic phagocytosis of apoptotic
87 CULPITT SV, MAZIAK W, LOUKIDIS
leukocytes J Immunol 1999; 162: 3639-
S, NIGHTINGALE JA, MATTHEWS
3646.
JL, BARNES PJ. Effect of high dose
inhaled steroid on cells, cytokines and
proteases in induced sputurn in chronic
obstructive pulmonary disease. Am J
Respir Crit Care Med 1999; 160: 1635-
1639.
88 RAHMAN I, ANTONICELLI F,
MACNEE W. Molecular mechanisms of
the regulation of glutathione synthesis by

75
Esquema 1 - Contributo do epitélio brônquico para o processo inflamatório
na patogenia da DPOC. IL-6 (interleucina 6); IL-8
(interleucina 8); TNF-α (factor de necrose tumoral alfa);
TGF-β (transforming growth factor β); IL-11 (interleucina
11); RANTES (regulated on activated normal T cell
expressed and secreted); MCP-1 (proteína quimiotática
monocítica 1); LCF (factor quimiotático linfocítico); GM-
CSF (factor estimulador da colónia granulócito-
-macrofágica); IL-1 (interleucina 1)

76
Esquema 2 - Desequilíbrio entre proteases e antiproteases. TIMP
(inibidores tissulares das metaloproteases); SLPI (inibidor da
leucoprotease secretória); α1-AT (alfa-1-antitripsina); MMP
(metaloprotease da matriz)

QUADRO I
Oxidantes e espécies reactivas de oxigénio relacionadas

Oxidantes e espécies reactivas Símbolo químico

Ani_o superóxido O2-


Radical peridroxilo HO2
Peróxido de hidrogénio H2O2
Radical hidroxilo OH-
Radicais peroxilo R-OO
Hidroxiperóxidos R-OOH
Adaptado de Jorres17

77
QUADRO II
Enzimas lesivas da elastina presentes no par_nquima pulmonar e seus locais de produção

Enzima Massa molecular (Kda) Origem celular

Elastase 27-31 Neutrófilos


Monócitos*
Proteinase 3 28-34 Neutrófilos
Monócitos*
Catepsina G 27-32 Neutrófilos
Monócitos*
Mastócitos*
Gelatinase B 92-95 Macrófagos
Neutrófilos
Eosinófilos
Metaloelastase 54 Macrófagos
Catepsina L 29 Macrófagos
Catepsina S 28 Macrófagos
* Células de menor produção. Adaptado de5

78

Você também pode gostar