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As anormalidades no volume dos líquidos e na composição eletro- bloqueiam a reabsorção de NaHC03) atua diretamente no túbulo
lítica representam problemas clínicos comuns e importantes. As proximal. Em vista da grande quantidade de cloreto de sódio ab-
drogas que bloqueiam as funções de transporte dos túbulos renais sorvida nesse local, uma droga capaz de bloquear especificamente o
constituem importantes ferramentas clínicas no tratamento desses transporte de cloreto de sódio no túbulo proximal poderia atuar
distúrbios. Embora diversos fármacos que aumentem o fluxo de como diurético particularmente potente. Todavia, ainda não se
urina tenham sido descritos desde a antigüidade, foi apenas em 1957 dispõe desse tipo de droga atualmente.
que um fármaco diurético prático e poderoso (a clorotiazida) tor- A reabsorção de bicarbonato de sódio pelo túbulo proximal é
nou-se disponível para uso geral. Tecnicamente, o termo "diurese" iniciada pela ação de um trocador de Na+ IH+ localizado na mem-
significa aumento no volume de urina, enquanto "natriurese" refe- brana luminal das células epiteliais do túbulo proximal (Fig. 15.3).
re-se a aumento na excreção renal de sódio. Como as drogas Esse sistema de transporte permite ao sódio penetrar na célula a
natriuréticas quase sempre aumentam também a excreção de água, partir da luz tubular, através de um mecanismo de troca com um
elas são habitualmente denominadas diuréticos. próton proveniente do interior da célula. Como em todas as por-
Muitos fármacos diuréticos (diuréticos de alça, tiazídicos, ções do néfron, a Na+/K+ATPase na membrana basolateral bom-
amilorida e triantereno) exercem seus efeitos sobte proteínas trans- beia o Na+ reabsorvido no interstício, mantendo a concentração
portadoras específicas de membrana das células epiteliais dos túbu- intracelular de sódio normal. Os prótons secretados na luz combi-
los renais. Outros exercem efeitos osmóticos que impedem a reab- nam-se com o bicarbonato para formar ácido carbônico, HlC03•
sorção de água (manitol), inibem enzimas (acetazolamida) ou in- O ácido carbônico é rapidamente desidratado a COl e H20 pela
terferem em receptores de hormônios nas células epiteliais renais anidrase carbônica. O CO2 produzido pela desidratação do H2C03
(espironolactona) . penetra na célula tubular proximal por difusão simples, onde é en-
Os fármacos diuréticos atuam, em sua maioria, sobre um único tão reidratado a H2C03• Após dissociação do H2C03, o H+ torna-
segmento anatômico do néfron (Fig. 15.1). Como esses segmentos se disponível para transporte pelo trocador de Na+/H+, e o bicar-
exercem funções transportadoras distintas, a primeira seção deste bonato é transportado para fora da célula por um transportador da
capítulo é dedicada a uma revisão das características da fisiologia membrana basolateral (Fig. 15.3). Por conseguinte, a reabsorção do
dos túbulos renais que são relevantes à ação dos diuréticos. A se- bicarbonato pelo túbulo proximal depende da anidrase carbônica.
gunda seção trata da farmacologia básica dos diuréticos, enquanto Essa enzima pode ser inibida pela acetazolamida e fármacos relacio-
nados.
a terceira seção analisa as aplicações clínicas dessas drogas.
Na parte terminal do túbulo proximal, o líquido luminal resi-
dual contém predominantemente NaCl, uma vez que tanto o bi-
carbonato quanto os solutos orgânicos já foram, em grande parte,
removidos do líquido tubular. Nessas condições, a reabsorção de
I. MECANISMOS DE TRANSPORTE Na + prossegue, porém os pró tons secretados pelo trocador de
DOS TÚBULOS RENAIS Na+ IH+ não podem mais ligar-se ao bicarbonato. O H+ livre de-
termina uma queda do pH luminal, ativando um trocador de Cl-I
base ainda pouco definido (Fig. 15.3). O efeito final das trocas
TÚBULO PROXIMAL paralelas de Na+/H+ e Cl-/base consiste na reabsorção de NaCl.
Até essa etapa, não existe nenhum fármaco diurético que atue re-
O bicarbonato de sódio, o cloreto de sódio, a glicose, os aminoáci- conhecidamente sobre esse processo.
dos e outros sol mos orgânicos são reabsorvidos através de sistemas Devido à grande permeabilidade do túbulo proximal à água, esta
de transporte específicos na porção inicial do túbulo proximal. A é reabsorvida em proporção direta à reabsorção de sal nesse segmen-
água sofre reabsorção passiva para manter a osmolalidade do líqui- to. Por conseguinte, a osmolalidade e a concentração de sódio do
do tubular proximal quase constante. À medida que o líquido tu- líquido luminal permanecem quase constantes ao longo da exten-
bular é processado ao longo da extensão do túbulo proximal, as são do túbulo proximal (Fig. 15.2). A concentração de um soluto
concentrações luminais de sol mos diminuem em relação à concen- experimental impermeante, como a inulina, aumenta à medida que
tração de inulina, um marcadar experimental que não é secretado a água for sendo reabsorvida (Fig. 15.2). Na presença de grande
nem absorvido pelos túbulos renais (Fig. 15.2). Cerca de 85% do quantidade de soluto impermeante, como o manitol, no líquido
bicarbonato de sódio filtrado, 40% do clareto de sódio, 60% da tubular, a reabsorção de água produz uma elevação da concentra-
água e praticamente todos os solmos orgânicos filtrados são reab- ção do solmo até impedir qualquer reabsorção adicional de água.
sorvidos no túbulo proximal. Este é o mecanismo pelo qual atuam os diuréticos osmóticos (ver
Dentre os diversos solmos reabsorvidos no túbulo proximal, os adiante).
mais relevantes para a ação diurética são o bicarbonato de sódio e o Os sistemas secretores de ácidos orgânicos localizam-se no terço
cloreto de sódio. Dentre os agentes diuréticos atualmente disponí- médio do túbulo proximal (segmento 52)' Esses sistemas secretam
veis, apenas um grupo (os inibidores da anidrase carbônica, que uma variedade de ácidos orgânicos (ácido úrico, antiinflamatórios
204 / FARMACOLOGIA
4
proximal
'. K+
j.
Glomérulo
Dueto
coletor
Córtex
Medula extema
K+
Diuréticos H+
Ramo
(2) Acetazolamida ascendente
o
o
Antagonistas
Antagonistas
da aldosterona
de ADH
0 Ramo
ascendente
delgado
Medula Interna
não-esteróides [AINE], diuréticos, antibióticos etc.) do sangue para camente neutro (são co-transportados dois cátions e dois ânions), a
o líquido luminal. Por conseguinte, esses sistemas ajudam a liberar ação do transportador contribui para o acúmulo excessivo de K+
diuréticos no lado luminal do túbulo, onde atua a maioria deles. no interior da célula. Isso resulta em difusão retrógrada de K+ para
Os sistemas secretores de bases orgânicas (creatinina, colina etc.) a luz tubular, levando ao desenvolvimento de um potencial elétri-
também estão localizados nos segmentos inicial (51) e médio (52) co positivo na luz. Esse potencial elétrico constitui a força propul-
do túbulo proximal. sora para a reabsorção de cátions - incluindo Mi+ e Ca2+ - pela
via paracelular (entre as células). Por conseguinte, a inibição do
ALÇA DE HENLE transporte de sal no ramo ascendente espesso por diuréticos de alça
produz um aumento na excreção urinária desses cátions divalentes,
No limite entre as porções interna e externa da medula externa além do NaCl.
começa o ramo delgado da alça de Henle. A água é extraída a partir
do ramo descendente delgado da alça de Henle por forças osmóticas TÚBULO CONTORCIDO DISTAL
geradas no interstício medular hipertônico. Como no túbulo pro-
ximal, os soluras impermeantes presentes na luz, como o manirol, Apenas cerca de 10% do NaCI filtrado são reabsorvidos no túbulo
opõem-se à extração de água. contorcido distal. A exemplo do ramo ascendente espesso, esse seg-
O ramo ascendente espesso da alça de Henle reabsorve ativamen- mento é relativamente impermeável à água e, por conseguinte, a
te o NaCI da luz (cerca de 35% do sódio filtrado); entretanto, ao reabsorção de NaCI dilui ainda mais o líquido tubular. O mecanis-
contrário do túbulo proximal e do ramo delgado, é quase imper- mo de transporte do NaCI no túbulo contorcido distal consiste no
meável à água. Por conseguinte, a reabsorção de sal no ramo ascen- co-transporte eletricamente neutro de Na+ e CI- (Fig. 15.5). Esse
dente espesso dilui o líquido tubular, eXplicando, assim, a sua de- transportador de NaCI é bloqueado por diuréticos da classe dos
signação de "segmento diluidor". As porções medulares do ramo tiazídicos.
ascendente espesso contribuem para a hipertonicidade medular e, Uma vez que o K+ não é reciclado através da membrana apical
portanto, também desempenham um importante papel na concen- do túbulo contorcido distal, como ocorre na alça de Henle, não há
tração da urina. potencial positivo na luz nesse segmento, e o Ca2+ e Mi+ não são
O sistema de transporte de NaCl na membrana luminal da alça extraídos da luz tubular por forças elétricas. Entretanto, o Ca2+ é
ascendente espessa é um co-transportador de Na+/K+/2Cl- (Fig. reabsorvido ativamente pelas células epiteliais do túbulo contorci-
15.4). Esse transportador é seletivamente bloqueado por fármacos do distal através de um canal de Ca2+ apical e de um mecanismo de
diuréticos, conhecidos como diuréticos "de alça" (ver adiante). troca de Na+ ICa2+ basolateral (Fig. 15.5). Esse processo é regulado
Apesar de o transportador de Na+ IK+ 12CI- ser, ele próprio, eletri- pelo hormônio paratireoidiano. Como veremos adiante, as diferen-
FÁRMACOS DIURÉTICOS / 205
2.6
1.2
LT LuZ' Interstício-
PO
2.4 urina sangue
2.0
0.2
2.2
0.8
0.6
1.4
1.6
1.8
1.0
0,4
O
------
+ Na+
K" "'-..-----
---=========---------
-- osm
(
Fig. 15.3 Troca de Na+IW na membrana apical e reabsorção do
bicarbonato na célula do túbulo contorcido proximal. A Na+/K+
A TPase é encontrada na membrana basolateral, onde mantém os
níveis intracelulares de sódio e de potássio dentro da faixa normal.
Devido ao rápido equilíbrio, as concentrações dos solutos mostra-
dos são aproximadamente iguais no líquido intersticial e no sangue,
25 30 75 100
A anidrase carbõnica (AC) é encontrada em outros locais, além da
% de extensão do túbulo proximal borda em escova da membrana luminal,
DP _g
+2L-
(mV) ~--~~~-------- _
Fig. 15.2 Reabsorção de vários solutos no túbulo proximal em rela- na. Como a força motriz para a entrada de Na+ no interior das
ção à extensão do túbulo. (LT/P, relação entre líquido tubular e con- células principais excede acentuadamente aquela para a saída de
centração plasmática; DP, diferença de potencial através do túbu- K+, a reabsorção de Na + predomina, e verifica-se o desenvolvi-
10.) (Reproduzido, com permissão, de Ganong WF: Review of Medica! Phy-
mento de um potencial elétrico de 10-50 m V negativo na luz. O
sio!ogy, 17th ed. Lange, 1993.)
Na+ que penetra na célula principal a partir da urina é então trans-
portado de volta ao sangue através da Na +IK+ A TPase basolateral
(Fig. 15.6). O potencial elétrico negativo na luz impulsiona o
ças no mecanismo de transporte do Ca2+ no túbulo contorcido distal transporte de CI- de volta ao sangue pela via paracelular e tam-
e na alça de Henle possuem importantes implicações para os efei- bém impulsiona o K+ para fora da célula, através do canal de K+
tos de diversos diuréticos sobre o transporte de Ca2+. da membrana apical. Por conseguinte, existe uma importante re-
lação entre o fornecimento de Na+ ao ducto coletor e a conseqüen-
DUCTO COLETaR te secreção de K+. Os diuréticos que atuam na parte proximal do
ducto coleto r aumentam o aporte de Na+ a esse local e intensifi-
o ducto coleto r é responsável por apenas 2-5% da reabsorção de cam a secreção de K+. Além disso, se o Na+ for suprido com um
NaCI pelo rim. A despeito dessa pequena contribuição, o ducto ânion que não pode ser reabsorvido tão facilmente quanto o Cl-
coleto r desempenha uma importante função na fisiologia renal e
na ação dos diuréticos. Como último local de reabsorção de NaCI,
o ducto coleto r é responsável pela regulação do volume e por deter- Ramo
Luz- ascendente Interstício-
minar a concentração final de Na+ na urina. Além disso, o ducto
urina espesso sangue
coleto r representa um local onde os mineralocorticóides exercem
uma influência significariva. Por fim, o ducto coleto r constitui o
principal local de secreção de potássio pelo rim e, portanto, o local
em que ocorrem praticamente todas as alrerações induzidas por
diuréticos no metabolismo do potássio. 2CI
O mecanismo de reabsorção de NaCI no ducto coletor difere
dos mecanismos descritos para os outros segmentos tubulares. As
células principais constituem os principais locais de transporte de (+) ---=--- ~
Na+, K+ e H20 (Fig. 15.6), enquanto as células intercaladas são
os locais primários de secreção de prótons. Ao contrário das célu-
las encontradas em outros segmentos do néfron, a membrana
apical das células principais do ducto coleto r não contém siste-
(Potencial
Mg2+, Ca2+
( I -
mas de co-transporte para o Na+ e outros Íons. Em vez disso, es- Fig. 15.4 Vias de transporte de íons através das membranas lumi-
sas membranas apresentam canais iônicos separados para o Na+ e nal e basolateral da célula do ramo ascendente espesso. O potenci-
o K+. Como esses canais excluem ânions, o transporte de Na+ ou al elétrico positivo na luz criado pela retrodifusão de K+ promove a
K+ resulta num movimento efetivo de cargas através da membra- reabsorção de cátions divalentes através da via paracelular,
206 / FARMACOLOGIA
Luz-
urina
Túbulo
contorcido
distal
Intersticio-
sangue
Luz-
urina
l Ducto
coletor
Célula principal
J ••
Intersticio-
sangue
Aldosterona
II ••
®
H20~-OO-Moléculas
( ')
de água
no canal
Fig. 15.5 Vias de transporte de íons através das membranas lumi-
nal e basolateral da célula do túbulo contorcido distal. Como em
todas as células tubulares, a Na+/K+A TPase é encontrada na mem- Célula intercalada
brana basolateral. (R, receptor do PTH.)
Farmacodinâmica
líquido cefalorraquidiano pelo plexo coróide envolve a secreção de pode colocar em risco a vida do indivíduo. Ao diminuir a formação
bicarbonato no líquido cefalorraquidiano. Embora esses processos de líquido cefalorraquidiano e ao reduzir o pH do líquido cefalorra-
removam o bicarbonato do sangue (em direção oposta à do túbulo quidiano e do cérebro, a acetazolamida pode melhorar o desempe-
proximal), são significativamente inibidos pelos inibidores da ani- nho e diminuir os sintomas da doença das montanhas.
drase carbônica, o que, em ambos os casos, altera drasticamente o
pH e a quantidade de líquido produzida. E. OUTROS USOS
Os inibidores da anidrase carbônica têm sido utilizados como ad-
Indicações Clínicas e Posologia juvantes para o tratamento da epilepsia, em algumas formas de
(Quadro 15.1) paralisia periódica hipocalêmica e para aumentar a excreção uriná-
ria de fosfato durante a hiperfosfatemia grave.
A. GLAUCOMA
L:.~~.~~.~~.~ !:'.~~.~~.~I
..!:'.~.~~.i.~~
.
CI í"4 3 2 ~1 ° Acidoetacrínico 50-200 mg
Bumetanida
H2N-02S
-ç>-NH-CH20
~ COOH
Furosemida
0,5-2 mg
20-80 mg
Furosemida Torsemida 2,5-20 mg
'Como dose única ou em duas doses fracionadas.
Farmacodinâmica
cem reduzir a duração da insuficiência renal. Se uma grande carga de hipercalcemia, como carcinoma de pequenas células do pulmão,
pigmentar tiver precipitado o desenvolvimento de insuficiência renal se houver grave depleção do volume.
aguda ou ameaça fazê-Io, os diuréticos de alça podem ajudar a eli-
minar os cilindros intratubulares e reduzir a obstrução intratubular. Contra-indicações
Por outro lado, os diuréticos de alça podem, teoricamente, agravar
a formação de cilindros no mieloma e na nefropatia por cadeias leves. A furosemida, a bumetanida e a torsemida podem apresentar reati-
vidade cruzada em pacientes que são sensíveis'a outras sulfonami-
C. SUPERDOSAGEM DE ÂNIONS das. O uso excessivo de qualquer diurético é perigoso na cirrose
hepática, na insuficiência renallimítrofe ou na insuficiência cardí-
Os diuréticos de alça mostram-se úteis no tratamento da ingestão aca (ver adiante).
tóxica de brometo, fluoreto e iodeto, que são reabsorvidos no ramo
ascendente espesso. Deve-se administrar uma solução salina para
TIAZíDICOS
repor as perdas urinárias de Na+ e fornecer CI-, de modo a evitar
uma depleção do volume de líquido extracelular.
Os diuréticos tiazídicos surgiram durante tentativas de sintetizar
inibidores mais potentes da anidrase carbônica. Posteriormente,
Toxicidade ficou claro que os tiazídicos inibem o transporte de NaCI predo-
minantemente no túbulo contorcido distal. Todavia, alguns mem-
A. ALCALOSE METABÓLICA HIPOCALÊMICA bros desse grupo conservam uma atividade inibitória da anidrase
Os diuréticos de alça aumentam o transporte de sal e de água até o carbônica significativa. O protótipo dos tiazídicos é a hidrocloro-
tiazida.
ducto coletor e, portanto, intensificam a secreção renal de K+ e H+,
causando alcalose metabólica hipocalêmica. Essa toxicidade é fun-
ção da magnitude do efeito diurético e pode ser revertida através de Química e Farmacocinética
reposição de K+ e correção da hipovolemia.
À semelhança dos inibidores da anidrase carbônica, todos os tiazí-
B. OTOTOXIClDADE dicos apresentam um grupo sulfonamida não-substituído (Fig.
15.8).
Os diuréticos de alça podem causar perda auditiva relacionada à Todos os tiazídicos podem ser administrados por via oral; toda-
dose, que é habitualmente reversível. É mais comum em pacien- via, existem diferenças no seu metabolismo. A clorotiazida, a droga
tes com diminuição da função renal ou que rambém estão fazen- original do grupo, não é muito lipossolúvel e deve ser administrada
do uso de outros fármacos ototóxicos, como antibióricos amino- em doses relativamente altas. Trata-se da única tiazida disponível
glicosídicos. para administração parenteral. A clortalidona sofre absorção lenta
e tem duração de ação mais prolongada. Apesar de a indapamida
C. HIPERURICEMIA ser excretada primariamente pelo sistema biliar, uma quantidade
suficiente da forma ativa é depurada pelo rim para exercer seu efei-
Os diuréticos de alça podem causar hiperuricemia e precipitar ata- to diurético no túbulo contornado distal.
ques de gota. Isso é causado por um aumento da reabsorção de áci-
Todos os tiazídicos são secretados pelo sistema secreto r de áci-
do úrico no túbulo proximal associado à hipovolemia. Esse proble-
ma pode ser evitado com o uso de doses mais baixas dos diuréticos. dos orgânicos no túbulo proximal e competem com a secreção de
ácido úrico por esse sistema. Em conseqüência, a secreção de áci-
D. HIPOMAGNESEMIA do úrico pode ser reduzida, com elevação dos níveis séricos de ácido
úrico.
A depleção de magnésio é uma conseqüência previsível do uso crô-
nico de diuréticos de alça e ocorre mais freqüentemente em paci- Farmacodi nâmica
entes com deficiência dietética de magnésio. Pode ser facilmente
revertida pela administração de preparações de magnésio por via oral. Os tiazídicos inibem a reabsorção de NaCI do lado luminal das
células epiteliais no túbulo contorcido distal ao bloquear o trans-
E. REAÇÕES ALÉRGICAS portador de Na+ ICl-. Diversamente da situação observada na alça
de Henle, onde os diuréticos de alça inibem a reabsorção de Ca2+,
Alguns efeitos colaterais ocasionais da terapia com furosemida, os tiazídicos aumentam efetivamente a reabsorção de Cau no tú-
bumetanida e torsemida consistem em erupção cutânea, eosinofi- bulo contorcido dista!. Foi postulado-que esse aumento resulta da
lia e, com menos freqüência, nefrite intersticial. Em geral, esses efei- diminuição do Na+ intracelular através do bloqueio de sua entra-
tos colaterais regridem rapidamente após a interrupção do fárma- da pelos tiazídicos. A menor concentração celular de Na+ pode
co. As reações alérgicas são muito menos comuns com o uso do ácido então aumentar a troca de Na+ICa2+ na membrana basolateral
etacrínico.
(Fig. 15.5), aumentando a reabsorção global de Ca2+. Enquanto
os diuréticos tiazídicos raramente provocam hipercalcemia em
F. OUTROS EFEITOS TÓXICOS
conseqüência dessa reabsorção aumentada, eles podem desmas-
Os diuréticos de alça, mais do que outros diuréticos, podem pro- carar a existência de hipercalcemia de outras causas (por exem-
vocar grave desidratação. A hiponatremia é menos comum do que plo, hiperparatireoidfsmo, carcinoma, sarcoidose). Os tiazídicos
com o uso dos tiazídicos (ver adiante). Todavia, os pacientes que mostram-se úteis no tratamento dos cálculos renais causados por
aumentam a ingestão de água em resposta à sede induzi da pela hi- hipercalciúria.
povolemia podem desenvolver hiponatremia grave com a adminis- A ação dos tiazídicos depende, em parte, da produção renal de
tração de diuréticos de alça. Os diuréticos de alça são conhecidos prostaglandinas. Conforme descrito anteriormente para os diuréti-
pelo seu efeito calciúrico; entretanto, pode ocorrer hipercalcemia cos de alça, as ações dos tiazídicos também podem ser inibidas pe-
em pacientes que apresentam outra causa - previamente oculta- los AINE em certas condições.
210 / FARMACOLOGIA
Hidroclorotiazida Indapamida
Clortalidona Metolazona
Ouinetazona
Indicações Clínicas e Posologia (Quadro 15.3) vação do ADH induzida pela hipovolemia, redução da capacidade
de diluição do rim e aumento da sede. Pode ser evitada ao reduzir-
As principais indicações dos diuréticos tiazídicos incluem: (1) hi- se a dose do fármaco ou ao limitar-se a ingestão de água.
pertensão, (2) insuficiência catdíaca, (3) nefrolitíase resultante de
hipercalciúria idiopática e (4) diabete insípido nefrogênico. O uso E. REAÇÕES ALÉRGICAS
dos tiazídicos em cada uma dessas condições é descrito adiante, na
seção sobte farmacologia clínica. Os tiazídicos são sulfonamidas e compartilham uma reatividade
cruzada com outros membros desse grupo químico. Raramente
Toxicidade ocorrem fotossensibilidade ou dermatite generalizada. As reações
alérgicas graves são exrremamente raras, mas incluem anemia he-
A. ALCALOSE METABÓLICA HIPOCALÊMICA E HIPERURICEMIA molítica, trombocitopenia e pancreatite necrosante aguda.
Essas toxicidades assemelham-se às observadas com os diuréticos de F. OUTROS EFEITOS TÓXICOS
alça (ver anteriormente).
Podem ocorrer fraqueza, fatigabilidade e parestesias semelhantes
B. COMPROMETIMENTO DA TOLERÂNCIA AOS àquelas observadas com os inibidores da anidrase carbônica. Foi
CARBOIDRATOS relatada a ocorrência de impotência, que está provavelmente rela-
cionada à depleção de volume.
Pode ocorrer hiperglicemia em pacientes francamente diabéticos ou
que apresentam testes de tolerância à glicose levemente anormais. Contra-indicações
O efeito é devido a um comprometimento na liberação pancreáti-
ca de insulina e à diminuição da utilização tecidual de glicose. A O uso excessivo de qualquer diurético é perigoso na cirrose hepáti-
hiperglicemia pode ser parcialmente reversível com a correção da ca, na insuficiência renallimítrofe ou na insuficiência cardíaca (ver
hipocalemia. adiante).
Quadro 15.3 Tiazídicos e diuréticos relacionados: (ENaC) na membrana apical do ducto coletor. Como a secreção
Posologias de K+ está acoplada com a entrada de Na+ nesse segmento, esses
fármacos também são diuréticos poupadores de K+ eficazes.
Dose Freqüência· de
Fármaco Oral Diária As ações do triantereno e da espironolactona dependem da pro-
Administração
dução renal de prostaglandinas. Conforme descrito anteriormente
Bendroflumetiazida 2,5-10 mg Em dose única para os diuréticos de alça e os tiazídicos, as ações do triantereno e
Benzotiazida 25-100 mg Em duas doses da espironolactona também podem ser inibidas por AlNE em cer-
fracionadas tas condições.
C lorotiazida 0,5-1 9 Em duas doses
fracionadas Indicações Clínicas e Posologia
Clortalidona 1 50-100 mg Em dose única (Quadro 15.4)
Hidroclorotiazida 25-100 mg Em dose única Esses fármacos são mais úteis em estados de excesso de mineral 0-
Hidroflumetiazida Em duas doses corticóides, devido à hipersecreção primária (síndrome de Conn,
25-100 mg
fracionadas produção ectópica de ACTH) ou à presença de aldosteronismo
secundário (em decorrência de insuficiência cardíaca, cirrose hepá-
Indapamida 1 2,5-10 mg Em dose única
tica, síndrome nefrótica e outras condições associadas a uma dimi-
Meticlotiazida 2,5-10 mg Em dose única nuição do volume intravascular efetivo). O uso de outros diuréti-
Em dose única cos, como tiazídicos ou diuréticos de alça, pode causar contração
Metolazona' 2,5-10 mg
do volume ou exacerbá-Ia, intensificando, assim, o aldosteronismo
Politiazida 1-4 mg Em dose única secundário. Na presença de secreção aumentada de mineralocorti-
Quinetazona 1 50-100 mg Em dose única cóides e aporte contínuo de Na+ às partes distais do néfron, ocorre
perda renal de K+. Os diuréticos poupadores de K+ de qualquer
Triclormetiazida 2-8 mg Em dose única
tipo podem ser utilizados nesse contexto para atenuar a resposta
'Não se trata de uma tiazida, mas de uma sulfonamida qualitativamente semelhante secretora do K+.
às tiazidas.
Toxicidade
A. HIPERCALEMIA
Química e Farmacocinética
Ao contrário de outros diuréticos, essas drogas podem causar hi-
A espironolactona é um esteróide sintético que atua como antago- percalemia leve, moderada ou até mesmo potencialmente fatal. O
nista competitivo da aldosterona. Por conseguinte, seu início e risco dessa complicação é muito maior na presença de doença renal
duração de ação são determinados pela cinética da resposta à aldos-
terona no tecido-alvo. Ocorre inativação considerável da espirono-
lactona no fígado. De modo global, a espironolactona apresenta
início de ação bastante lento, exigindo vários dias para a obtenção
do efeito terapêutico integral. A eplerenona, um novo análogo da
espironolactona com maior seletividade para os receptores de aldos-
terona, foi recentemente aprovada para o tratamento da hipertensão.
A amilorida é excretada de modo inalterado na urina. O trian-
tere no é metabolizado no fígado, porém a excreção renal constitui
uma importante via de eliminação para a forma ativa e os metabó- o
litos. Devido a seu extenso metabolismo, o triantereno possui meia- o , II
vida mais curta e deve ser administrado com mais freqüência do que , S-C-CH3
a amilorida. As estruturas da espironolactona, do triantereno e da EspíronolaClona
Farmacodinâmica
Os diuréticos poupadores de potássio reduzem a absorção de Na+
nos túbulos e ductos coletores. A absorção de Na+ (e a secreção de
K+) nesse local é regulada pela aldosterona, conforme descrito an-
teriormente. Os antagonistas da aldosterona interferem nesse pro- Tríantereno
ou de outras drogas que reduzem a atividade da renina (f3-bloque- Os pacientes com insuficiência renal crônica são particularmente
adores, AINE) ou da angiotensina II (inibidores da enzima conver- vulneráveis e raramente devem ser tratados com antagonistas da
sora de angiotensina [ECA] , inibidores dos receptores de angioten- aldosterona. O uso concomitante de outras drogas que atenuam o
sina). Como a maioria dos outros fármacos diuréticos leva a uma sistema de renina-angiotensina (f3-bloqueadores ou inibi dores da
perda de K+, a hipercalemia é mais comum quando são utilizados ECA) aumenta a probabilidade de hipercalemia. Os pacientes com
antagonistas da aldosterona como único fármaco diurético, sobre- hepatopatia podem apresentar comprometimento do metabolismo
tudo em pacientes com insuficiência renal. Com o uso de associa- do triantereno e da espironolactona, tornando necessário o ajuste
ções de doses fixas de diuréticos poupadores de potássio e tiazídi- cuidadoso da dose desses fármacos. Os inibidores potentes da
cos, observa-se uma melhora da hipocalemia induzi da por tiazídi- CYF3A4 (por exemplo, cetoconazol, itraconazol) podem aumen-
cos e da alcalose metabólica com o antagonista da aldosterona. tar acentuadamente os níveis sangüíneos de eplerenona.
Entretanto, devido a variações na biodisponibilidade dos compo-
nentes das formas com doses fixas, os efeitos adversos associados aos
tiazídicos podem predominar. Por esse motivo, é geralmente pre-
FÁRMACOS QUE AL lERAM A EXCREÇÃO
ferível ajustar separadamente as doses das duas drogas.
DE ÁGUA
1. DIURÉTICOS OSMÓTICOS
B. AClDOSE METABÓLICA HIPERCLORÊMICA
Ao inibir a secreção de H+ paralelamente à secreção de K+, os diuré- O túbulo proximal e o ramo descendente da alça de Henle são livre-
ticos poupadores de potássio podem causar acidose semelhante mente permeáveis à água. Um fármaco osmótico que não seja reab-
àquela observada na acidose tubular renal tipo IV. sorvido provoca retenção de água nesses segmentos e promove uma
diurese hídrica. Esses fármacos podem ser utilizados para reduzir a pres-
C. GINECOMASTIA são intracraniana elevada e promover a remoção imediata de toxinas
renais. O protótipo dos diuréticos osmóticos é o manitol.
Os esteróides sintéticos podem causar anormalidades endócrinas
através de seus efeitos sobre outros receptores de esteróides. Foi Farmacocinética
relatada a ocorrência de ginecomastia, impotência e hiperplasia
prostática benigna com o uso de espironolactona. Esses efeitos não Os diuréticos osmóticos são pouco absorvidos, o que significa que
ocorreram com o uso da eplerenona. precisam ser administrados por via parenteral. Se for administrado
por via oral, o manitol provoca diarréia osmótica. O manitol não é
D. INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA
metabolizado e é excretado primariamente por filtração glomeru-
Foi relatado que a associação de triantereno com indometacina lar dentro de 30-60 minutos, sem qualquer reabsorção tubular ou
provoca insuficiência renal aguda. Esse problema não foi observa- secreção significativa.
do com outros fármacos poupadores de potássio.
Farmacodinâmica
E. CÁLCULOS RENAIS
Os diuréticos osmóticos exercem seu efeito principal nos segmen-
O triantereno é pouco solúvel e pode precipitar na urina, com con- tos do néfron que são livremente permeáveis à água: o túbulo pro-
seqüente formação de cálculos renais. ximal e o ramo descendente da alça de Henle. Além disso, opõe-se
à ação do ADH no ducto coletor. A presença de um soluto não-
Contra-indicações reabsorvível, como o manitol, impede a absorção normal de água
ao interpor uma força osmótica contrária. Em conseqüência, o vo-
Esses fármacos podem causar hipercalcemia grave e até mesmo fa- lume urinário aumenta. O aumento do fluxo de urina diminui o
tal em pacientes suscetíveis. A administração oral de K+ deve ser tempo de contato do líquido com o epitélio tubular, reduzindo,
interrompida, se forem administrados antagonistas da aldosrerona. assim, a reabsorção de Na+. Todavia, a natriurese resultante é de
FÁRMACOS DIURÉTICOS / 213
menor magnitude do que a diurese hídrica, levando, por fim, ao ficos do ADH estão apenas disponíveis para fins de pesquisa. Dois
desenvolvimento de hipernatremia. fármacos não-seletivos, o lítio e a demeclociclina (um derivado da
tetraciclina), têm uso limitado em algumas situações.
Indicações Clínicas e Posologia
Farmacocinética
A. AUMENTO DO VOLUME URINÁRIO
Tanto o lítio quanto a demeclociclina são ativos por via oral. O lí-
Os diuréticos osmóticos são utilizados para aumentar a excreção de tio é excretado pelos rins, enquanto a demeclociclina é metaboliza-
água, preferencialmente em relação à excreção de sódio. Esse efeito da no fígado.
pode ser útil quando a retenção ávida de Na+ limira a resposta aos
agentes convencionais. Pode ser utilizado para manter o volume de Farmacodinâmica
urina e para impedir a anúria que, de outro modo, poderia ocorrer
em conseqüência da apresentação de grandes cargas de pigmentos Os antagonistas do ADH inibem os efeitos do hormônio no dueto
ao rim (por exemplo, em caso de hemólise ou de rabdomiólise). coleto r. Tanto o lítio quanto a demeclociclina parecem reduzir a
Alguns pacientes oligúricos não respondem a um diurético osmó- formação do monofosfato de adenosina cíclico (cAMP) em respos-
tico. Por conseguinte, deve-se administrar uma dose-teste de ma- ta ao ADH e também interferem nas ações do cAMP nas células do
nitol (12,5 g por via intravenosa) antes de iniciar uma infusão con- dueto coletor.
tínua. Não se deve continuar o manitol, a não ser que haja aumen-
to do fluxo urinário para mais de 50 mL/h durante 3 horas após a Indicações Clínicas e Posologia
dose-teste. A administração de manitol (12,5-25 g) pode ser repe-
tida a cada 1-2 horas para manter um fluxo de urina superior a 100 A. SíNDROME DE SECREÇÃO INAPROPRIADA DE ADH
mL/h. Não se aconselha o uso prolongado de manitol. (SIADH)
B. REDUÇÃO DA PRESSÃO INTRACRANIANA E DA PRESSÃO Os antagonistas do ADH são utilizados no tratamento da SIADH,
INTRA-OCULAR
quando a restrição hídrica não consegue corrigir a anormalidade.
Isso ocorre geralmente no contexto ambulatorial, em que não se
Os diuréticos osmóticos alteram as forças de Starling, de modo que pode forçar a restrição de água, ou no hospital, quando são admi-
a água abandona as células, com redução do volume intracelular. nistradas grandes quantidades de líquido intravenoso com drogas.
Esse efeito é utilizado para reduzir a pressão intracraniana em con- O carbonato de lítio tem sido utilizado no tratamento dessa sín-
dições neurológicas, bem como para reduzir a pressão intra-ocular drome, porém a resposta é imprevisível. Os níveis séricos de lítio
antes de procedimentos oftalmológicos. Administra-se uma dose de devem ser cuidadosamente monitorizados, visto que as concentra-
1-2 g/kg de manitol por via intravenosa. A pressão intracraniana, ções séricas acima de 1 mmol/L são tóxicas. A demeclociclina, em
que precisa ser monitorizada, deve cair em 60-90 minutos. doses de 600-1.200 mg/ dia, produz um resultado mais previsível,
além de ser menos tóxica. Os níveis plasmáticos apropriados (2 fLg/
Toxicidade mL) devem ser mantidos através de monitorização.
Diversas condições clínicas causam retenção de água em conse- Os efeitos adversos associados à terapia com lítio consistem em tre-
qüência do excesso de ADH. Infelizmente, os antagonistas especí- mor, obnubilação mental, cardiotoxicidade, disfunção da tireóide
214 / FARMACOLOGIA
e leucocitose (ver Capo 29). Deve-se evitar a demeclociclina em DIURÉTICOS POUPADORES DE POTÁSSIO E
pacientes com hepatopatia (ver Capo 44), bem como nas crianças DIURÉTICOS DE ALÇA OU TIAZíDICOS
com menos de 12 anos de idade.
Muitos pacientes em uso de diuréticos de alça ou tiazídicos desen-
volvem hipocalemia em algum momento de sua terapia. Com fre-
ASSOCIAÇÕES DE DIURÉTICOS qüência, esse problema pode ser controlado pela restrição dietética
de NaCl. Quando a hipocalemia não pode ser tratada dessa manei-
DIURÉTICOS DE ALÇA E TIAZíDICOS ra ou com suplementos dietéticos de KCl, a adição de um diuréti-
co poupador de potássio pode reduzir significativamente a excre-
Alguns pacientes são refratários às doses habituais dos diuréticos de ção de potássio. A despeito de ser geralmente segura, essa aborda-
alça ou tornam-se refratários depois de uma resposta inicial. Como gem deve ser evitada em pacientes com insuficiência renal, que
esses fármacos possuem meia-vida curta, a refratariedade pode ser podem desenvolver hipercalemia potencialmente fatal em resposta
devida a um intervalo excessivamente longo entre as doses. A re- aos diuréticos poupadores de potássio.
tenção renal de Na+ aumenta durante o período em que a droga
não está mais ativa. Depois que o intervalo entre as doses de diuré-
ticos de alça é reduzido, ou a dose é aumentada ao máximo, o uso
de dois fármacos que atuam em diferentes locais do néfron pode
produzir sinergismo. Os diuréticos de alça e os tiazídicos em asso-
111.FARMACOLOGIA CLíNICA
ciação freqüentemente produzem diurese, quando nenhum dos DOS FÁRMACOS DIURÉTICOS
agentes isoladamente possui eficácia, ainda que mínima. Existem
várias razões para esse fenômeno. Em primeiro lugar, a reabsorção
Esta seção irá discutir o uso clínico dos diuréticos nos estados ede-
de sal e de água no ramo ascendente espesso ou no túbulo contor-
matosos e não-edematosos. Os efeitos desses agentes sobre a excre-
cido distal pode aumentar quando o outro é bloqueado. Por conse-
ção urinária de eletrólitos são apresentados no Quadro 15.5.
guinte, a inibição de ambos pode produzir mais do que uma res-
posta diurética aditiva. Em segundo lugar, os diuréticos tiazídicos
podem causar natriurese leve no túbulo proximal, que habitualmen- ESTADOS EDEMATOSOS
te é mascarada pela reabsorção aumentada no ramo ascendente es-
pesso. Por conseguinte, a associação de diuréticos de alça e tiazídi- A razão mais comum para o uso de diuréticos consiste em reduzir o
cos atenua a reabsorção de Na+, pelo menos até certo ponto, em edema periférico ou pulmonar que se acumulou em conseqüência
todos os três segmentos. de doenças cardíacas, renais ou vasculares, ou de anormalidades na
A metolazona é o fármaco de escolha habitual entre os agentes pressão oncótica sangüínea. Com freqüência, ocorre retenção de sal
semelhantes aos tiazídicos para pacientes refratários ao uso isolado e de água com a formação de edema quando a diminuição do su-
de diuréticos de alça. Todavia, é provável que outros tiazídicos se- primento sangüíneo para o rim é percebida como volume sangüí-
jam tão eficazes quanto a metolazona. Além disso, a metolazona só neo arterial "efetivo" insuficiente. O uso criterioso de diuréticos
está disponível numa preparação oral, enquanto a clorotiazida pode pode mobilizar o líquido do edema intersticial, sem reduzir de modo
ser administrada por via parenteral. significativo o volume plasmático. Entretanto, a terapia diurética
A associação de diuréticos de alça e tiazídicos pode mobilizar excessiva nesse contexto pode levar a um maior comprometimento
grandes quantidades de líquido, mesmo em pacientes que se mos- do volume sangüíneo arterial efetivo, com redução da perfusão de
traram refratários a ambos os agentes individualmente. Por conse- órgãos vitais. Por conseguinte, o uso de diuréticos para a mobiliza-
guinte, é essencial proceder a uma rigorosa monitorização hemodi- ção do edema exige cuidadosa monitorização do estado hemodinâ-
nâmica nesses pacientes. Não se pode recomendar o uso ambulato- mico do paciente, bem como conhecimento da fisiopatologia da
rial de rotina. Além disso, a perda de K+ é extremamente comum e condição subjacente.
pode exigir a administração parenteral de K+, com cuidadosa mo-
nitorização do estado hidroeletrolítico.
INSUFICIÊNCIA CARDíACA
tornar-se intensa a ponto de exigir o uso de uma associação de tia- Os pacientes com doenças renais que levam à síndrome nefróti-
zídicos e diuréticos de alça. ca freqüentem ente apresentam problemas complexos no controle
Ao tratar um paciente portador de insuficiência cardíaca com do volume. Esses pacientes podem apresentar uma diminuição do
diuréticos, deve-se sempre lembrar que o débito cardíaco nesses volume plasmático em associação a uma redução da pressão oncó-
pacientes é mantido, em parte, por pressões de enchimento eleva- tica do plasma, particularmente naqueles com nefropatia por "le-
das, e que o uso excessivo de diuréticos pode diminuir o retorno são mínima". Nesses pacientes, o uso de diuréticos pode causar re-
venoso e, portanto, comprometer o débito cardíaco. Essa questão é duções ainda mais acentuadas do volume plasmático, passíveis de
particularmente importante na insuficiência ventricular direita. Esse alterar a taxa de filtração glomerular e resultar em hipotensão or-
distúrbio caracteriza-se por congestão vascular sistêmica, mais do tostática. Todavia, as outras causas de síndrome nefrótica estão as-
que pulmonar. A contração de volume induzida por diuréticos irá sociadas, em sua maioria, a uma retenção primária de sal e de água
reduzir de modo previsível o retorno venoso, podendo comprome- pelo rim, resultando em expansão do volume plasmático e hiper-
ter gravemente o débito cardíaco, se a pressão de enchimento ven- tensão, a despeito da pressão oncótica plasmática baixa. Nesses ca-
tricular esquerda sofrer uma redução abaixo de 15 mm Hg. sos, a terapia diurética pode ser benéfica ao controlar o componen-
A alcalose metabólica induzida por diuréticos constitui outro te da hipertensão que depende do volume. Ao escolher um diuréti-
efeito adverso passível de comprometer ainda mais a função cardí- co para o paciente com doença renal, o médico depara-se com vá-
aca. Embora esse efeito seja geralmente tratado através da reposi- rias limitações importantes. Em geral, deve-se evitar o uso de ace-
ção de potássio e do restabelecimento do volume intravascular com tazolamida e de diuréticos poupadores de potássio, devido à sua
solução salina, a insuficiência cardíaca grave pode impedir o uso de tendência a exacerbar a acidose e a hipercalemia, respectivamente.
solução salina, até mesmo em pacientes que receberam diuréticos Os diuréticos tiazídicos geralmente são ineficazes quando a taxa de
em excesso. Nessas situações, o uso adjuvante de acetazolarnida pode filtração glomerular cai abaixo de 30 mL/mg. Por conseguinte, os
ajudar a corrigir a alcalose. diuréticos de alça constituem, muitas vezes, a melhor opção para o
A hipocalemia representa outro efeito tóxico grave decorrente tratamento do edema associado à insuficiência renal. Por fim, o uso
do uso de diuréticos, sobretudo em pacientes cardíacos. A hipoca- excessivo de diuréticos provoca um declínio da função renal em
lemia pode exacerbar arritmias cardíacas subjacentes e contribuir todos os pacientes; todavia, as conseqüências são mais graves na-
para toxicidade digitálica. Esse problema pode ser freqüentemente queles com doença renal subjacente.
evitado ao reduzir-se a ingestão de sódio do paciente, diminuindo,
assim, o aporte de sódio ao ducto coleto r secreto r de K+. Os paci- CIRROSE HEPÁTICA
entes que não aderem a uma dieta com baixo teor de sódio devem
tomar suplementos orais de KCI ou um diurético poupador de A hepatopatia está freqüentemente associada a edema e ascite, jun-
potássio, ou devem interromper o uso de diurético tiazídico. tamente com elevação da pressão hidrostática porta e redução da
Por fim, é preciso ter em mente o fato de que os diuréticos nun- pressão oncótica plasmática. Os mecanismos relacionados à reten-
ca poderão corrigir a cardiopatia subjacente. As drogas que melho- ção de sódio são complexos. Envolvem provavelmente uma com-
ram a contratilidade do miocárdio ou que reduzem a resistência binação de fatores, incluindo diminuição da perfusão renal em de-
vascular periférica proporcionam uma abordagem mais direta para corrência de alterações vasculares sistêmicas, diminuição do volu-
o problema básico. me plasmático devido à formação de ascite, e redução da pressão
oncótica em conseqüência da hipoalbuminemia. Além disso, pode
DOENÇA RENAL haver retenção primária de sódio pelo rim. Os níveis plasmáticos
de aldosterona estão habitualmente elevados em resposta à redução
Várias doenças renais podem interferir no papel fundamental do do volume circulante efetivo.
rim na homeostasia do volume. Embora a doença renal produza, Quando a ascite e o edema tornam-se graves, a terapia diurética
em certas ocasiões, perda de sal, a maioria dos distúrbios renais causa pode ser útil para iniciar a manter a diurese. Com freqüência, os
retenção de sal e de água. Quando a perda da função renal é grave, pacientes cirróticos mostram-se resistentes aos diuréticos de alça,
os diuréticos trazem pouco benefício, visto que a filtração glome- em parte devido a uma diminuição na secreção da droga no líqui-
ruI ar não é suficiente para manter uma resposta natriurética. En- do tubular e, em parte, devido aos níveis elevados de aldosterona
tretanto, numerosos pacientes com graus mais leves de insuficiên- que resultam em aumento da reabsorção de sal no dueto coleto r.
cia renal podem ser tratados com diuréticos quando apresentam Por outro lado, o edema cirrótico é notável pelo seu elevado grau
retenção de sódio. de responsividade à espironolactona. A associação de diuréticos-de
Muitas doenças glomerulares primárias e secundárias, como alça e espironolactona pode ser útil em alguns pacientes. Todavia,
aquelas associadas ao diabete melito ou ao lúpus eritematoso sistê- mais do que na insuficiência cardíaca, o uso excessivamente agres-
mico, apresentam retenção de sal e de água pelo rim. A causa dessa sivo de diuréticos pode ser desastroso nesse contexto. A terapia diuré-
retenção de sódio não é conhecida com precisão, mas envolve, pro- tica vigorosa pode causar acentuada depleção do volume intravas-
vavelmente, um distúrbio da regulação da microcirculação renal e cular, hipocalemia e alcalose metabólica. A síndrome hepatorrenal
da função tubular através da liberação de vasoconstritores, prosta- e a encefalopatia hepática constituem as conseqüências lamentáveis
glandinas, citocinas e outros mediadores. Quando esses pacientes do uso excessivo de diuréticos em pacientes cirróticos.
desenvolvem edema ou hipertensão, a terapia diurética pode ser
muito eficaz. As advertências anteriormente citadas devem ser apli- EDEMA IDIOPÁTICO
cadas nos casos em que ocorre também insuficiência cardíaca.
Certas formas de doença renal, particularmente a nefropatia A despeito da realização de estudos intensivos, a fisiopatologia des-
diabética, estão freqüentemente associadas ao desenvolvimento de se distúrbio (retenção flutuante de sal e edema) permanece obscu-
hipercalemia num estágio relativamente inicial da insuficiência re- ra. Alguns estudos sugerem que o uso intermitente de diuréticos
nal. Nesses casos, a administração de um tiazídico ou de um diuré- pode contribuir efetivamente para a síndrome. Por conseguinte, o
tico de alça irá intensificar a excreção de K+ ao aumentar o aporte edema idiopático deve ser tratado apenas com leve restrição de sal,
de sal ao ducto coletor secreto r de K+. se possível.
216 / FARMACOLOGIA
PREPARAÇÕES DISPONíVEIS
evitar uma depleção de volume. Pode-se adicionar potássio à infu- De Troyer A: Demeclocycline: treatmenc for syndrome of inappro-
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plasmático, com queda concomitante da taxa de filtração glomeru- terization of [wo membets of the mammalian electroneutral
lar, aumento da reabsorção proximal de NaCI e água e menor aporte sodium-(potassium)-chlotide cotransporter family expressed
de líquido aos segmentos diluidores. Por conseguinte, o volume in kidney.J Biol Chem 1994;269:17713.
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urinário no paciente poliúrico. A restrição dietética de sódio pode
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nesse contexto, O lítio, que é utilizado no tratamento do distúrbio 1981 ;283:811.
maníaco-depressivo, constitui uma causa comum de diabete insípi- Greger R: Physiology of renal sodium transport. Am J Med Sci
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