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SUMÁRIO

1. Introdução.....................................................................................3
2. Fisiologia renal............................................................................4
3. Diuréticos de alça...................................................................14
4. Diuréticos tiazídicos e fármacos relacionados.............17
5. Diuréticos poupadores de potássio.................................20
6. Inibidores da anidrase carbônica......................................23
7. Diuréticos osmóticos.............................................................24
Referências Bibliográficas .......................................................28
DIURÉTICOS (FARMACOLOGIA) 3

1. INTRODUÇÃO A capacidade de induzir um balanço


hídrico negativo tornou os diuréticos
Os diuréticos são uma classe de fár-
úteis no tratamento de uma varie-
macos que aumentam a eliminação
dade de condições, particularmente
de Na+ e água pelos rins. Eles atuam
estados edematosos e hipertensão.
diminuindo a reabsorção de Na+ e de
Esses fármacos possuem efeitos an-
um ânion acompanhante do filtrado
ti-hipertensivos quando usados so-
(geralmente Cl-), sendo o aumento da
zinhos e potencializam a eficácia de
perda de água secundário ao aumen-
praticamente todas as outras classes
to da eliminação de NaCl (natriurese).
de anti-hipertensivos.
Isso pode ser obtido através de dois
mecanismos principais:
• Ação direta sobre as células do
néfron: incluem diuréticos de alça, FLUXOGRAMA: MECANISMO
GERAL DOS DIURÉTICOS
diuréticos tiazídicos, diuréticos
poupadores de potássio e os inibi-
dores da anidrase carbônica.
• Indiretamente, por modificação do Diminuição da reabsorção tubular de Na+

conteúdo do filtrado: como exem-


plo, tem-se os diuréticos osmóticos.

Aumento da eliminação de Na+


A maioria dos diuréticos com ação di-
reta sobre as células do néfron atu-
am a partir do interior da luz tubular
e chegam a seus locais de ação pelo Aumento secundário da perda de água
fato de serem secretados para o tú-
bulo proximal (exceto a espironolac-
tona). Os principais locais de ação
desses fármacos são:
Balanço hídrico negativo
• O ramo ascendente da alça de
Henle;
• O início do túbulo distal;
• Os túbulos e ductos coletores.
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2. FISIOLOGIA RENAL aproximadamente 1,5 litro na forma


de urina.
Os rins recebem cerca de um quarto
do débito cardíaco. Das várias cente-
nas de litros de plasma que os atra- CONCEITO: A principal função do rim é
manter a constância do “meio interno”,
vessam a cada dia, filtram (no ser eliminando produtos que não são úteis
humano de 70 kg) aproximadamente para o organismo e regulando o volume,
120 litros por dia, equivalente a 11 o conteúdo de eletrólitos e o pH do líqui-
vezes o volume total do líquido extra- do extracelular.
celular. Esse filtrado é semelhante ao
plasma, exceto pela ausência de pro- A unidade funcional do rim é o néfron.
teína. Ao atravessar o túbulo renal, Cada néfron é formado por um glo-
cerca de 99% da água filtrada e gran- mérulo, túbulo proximal, alça de Hen-
de parte do Na+ filtrado são reabsor- le, túbulo contorcido distal e ducto
vidos; o fluido tubular recebe também coletor. O glomérulo consiste em um
algumas substâncias que são secre- tufo de capilares que se projetam na
tadas pelo sangue. Em condições extremidade dilatada do túbulo renal.
normais, a cada 24 horas elimina-se

Figura 1. Diagrama simplificado de um néfron justamedular e sua irrigação sanguínea.


Fonte: Rang & Dale: Farmacologia, 2016.
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Função tubular Túbulo contorcido proximal (TCP)


Os túbulos são formados por células O túbulo contorcido proximal possui
tubulares cujo ápice (superfície lumi- um tecido epitelial frouxo, isso signi-
nal) é cercado por uma junção oclu- fica que suas junções oclusivas não
siva. Esta é uma região especializada são, afinal, tão “ocludentes”, sendo
da membrana que separa o espaço permeáveis a íons e água, permitin-
intercelular da luz do túbulo. O mo- do o fluxo passivo em ambas as di-
vimento de íons e água que passam reções. Isso impede a formação de
pelo epitélio pode ocorrer através das gradientes de concentração expressi-
células (via transcelular) e entre as vos; dessa forma, embora aproxima-
células através das junções oclusivas damente 60-70% da reabsorção de
(via paracelular). Na+ ocorra no túbulo proximal, esta
A região oposta ao ápice das células transferência é acompanhada por ab-
tubulares é a membrana celular baso- sorção passiva de água, de modo que
lateral. Nesta região estão presentes o líquido que sai do túbulo proximal
as bombas de sódio e potássio (Na+/ continua aproximadamente isotônico
K+-ATPase), que gastam energia para em relação ao filtrado glomerular.
bombear o Na+ para fora da célula O mecanismo mais importante para
em direção ao interstício. A saída de entrada de Na+ nas células tubula-
Na+ da célula gera um gradiente de res proximais proveniente do filtrado
concentração que alimenta a entrada ocorre por troca de Na+/H+. A anidra-
do Na+ proveniente da luz através de se carbônica intracelular é essencial
vários transportadores. Estes trans- para a produção de H+ para secreção
portadores facilitam a entrada de Na+ na luz.
acoplado ao movimento de outros O Na+ é reabsorvido do fluido tubular
íons. para o citoplasma das células tubula-
O movimento de íons pode aconte- res proximais em troca do H+ citoplas-
cer na mesma direção do Na+, caso mático. É depois transportado para
em que são denominados de simpor- fora das células até o interstício atra-
tadores ou cotransportadores, ou na vés da Na+/K+-ATPase na membrana
direção oposta, caso em que são de- basolateral. Esse é o principal meca-
nominados de antiportadores. Esses nismo de transporte ativo do néfron
transportadores variam em diferentes em termos de consumo de energia.
partes do néfron e serão descritos a Posteriormente, o Na+ reabsorvido se
seguir. difunde para os vasos sanguíneos.
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Figura 2. Ultraestrutura celular e transporte primário característicos do túbulo proximal. Os túbulos proximais reabsor-
vem em torno de 65% do sódio, cloreto, bicarbonato e potássio filtrados, e praticamente toda a glicose e aminoácidos
filtrados. Os túbulos proximais também secretam ácidos orgânicos, bases e íons hidrogênio para dentro do lúmen
tubular. Fonte: Guyton & Hall Tratado de Fisiologia Médica, 2017

O bicarbonato (HCO3-) é normal- Muitos ácidos e bases orgânicos


mente reabsorvido por completo no são secretados ativamente do san-
túbulo proximal. Isso é obtido atra- gue para o túbulo por transportado-
vés da combinação com prótons (H+), res específicos. Depois da passagem
produzindo ácido carbônico (H2CO3), pelo túbulo proximal, o líquido tubular
que se dissocia até formar dióxido de (agora 30-40% do volume original do
carbono (CO2) e água (H2O) - reação filtrado) passa para a alça de Henle.
catalisada pela anidrase carbônica
presente na borda em escova luminal
das células do túbulo proximal – se-
guindo pela reabsorção passiva do
dióxido de carbono dissolvido.
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Figura 3. Reabsorção do íon bicarbonato no túbulo contorcido proximal, mostrando a ação dos inibidores da anidrase
carbônica. Fonte: Rang & Dale: Farmacologia, 2016

Alça de Henle (AH) inferior da alça. No segmento espes-


so do ramo ascendente, os íons mo-
A alça de Henle é dividida em partes
vimentam-se, através da membrana
descendentes e ascendentes, tendo
apical, para o interior das células por
a parte ascendente segmentos es-
efeito de um cotransportador Na+/K+/
pesso e delgado. Esta parte do néfron
2Cl− movimentado pelo gradiente de
possibilita ao rim eliminar urina mais
Na+ gerado pela Na+/K+-ATPase na
ou menos concentrada que o plas-
membrana basolateral.
ma e, dessa forma, regular o equilí-
brio osmótico do organismo como um A maior parte do K+ captado pela cé-
todo. As alças de Henle dos néfrons lula através do cotransportador Na+/
justamedulares funcionam como K+/2Cl− retorna à luz através de canais
multiplicadores de contracorrente, de potássio apicais, mas parte do K+
e os vasa recta, como trocadores de é reabsorvida, juntamente com Mg2+
contracorrente. e Ca2+. A reabsorção de sal do seg-
mento espesso do ramo ascendente
No ramo descendente, a água sai e
não é contrabalançada pela reabsor-
o fluido tubular torna-se progressi-
ção de água, de modo que o líquido
vamente mais concentrado à medi-
tubular fica hipotônico em relação ao
da que se aproxima da extremidade
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plasma no ponto de entrada no túbulo de sódio, cloreto e potássio, além de


contorcido distal. Dessa forma, o seg- grandes quantidades de cálcio, bicar-
mento espesso do ramo ascendente bonato e magnésio. Esse segmento
é denominado o “segmento diluidor”. também secreta íons hidrogênio para
O componente ascendente espesso o lúmen tubular.
da alça de Henle, portanto, reabsor-
ve cerca de 25% das cargas filtradas

Figura 4. Ultraestrutura celular e características do transporte da alça de Henle descendente fina (acima) e do seg-
mento ascendente espesso da alça de Henle (embaixo). Fonte: Guyton & Hall Tratado de Fisiologia Médica, 2017
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Figura 5. Transporte de íons no ramo ascendente espesso da alça de Henle, mostrando o local de ação dos diuréticos
de alça. Fonte: Guyton & Hall Tratado de Fisiologia Médica, 2017

Túbulo distal de concentração, acompanhado por


Cl−, por meio de um cotransportador
Na parte bem inicial do túbulo distal,
Na+/Cl−.
a reabsorção de NaCl, juntamente
com a impermeabilidade da zônula A eliminação de Ca2+ é regulada, nes-
ocludente à água, dilui ainda mais o ta porção do néfron, por paratormônio
líquido tubular. O transporte é efetua- e calcitriol, ambos aumentando a rea-
do pela Na+/K+-ATPase na membrana bsorção de Ca2+.
basolateral. Isso reduz a concentra-
ção citoplasmática de Na+ e, conse-
quentemente, o Na+ entra na célula a
partir da luz a favor do seu gradiente
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Figura 6. Ultraestrutura celular e características do transporte do túbulo distal. O início do túbulo distal tem muitas ca-
racterísticas da alça de Henle ascendente espessa, e reabsorve sódio, cloreto, cálcio e magnésio, mas é praticamente
impermeável à água e à ureia. Fonte: Guyton & Hall Tratado de Fisiologia Médica, 2017

Figura 7. Transporte de sal no túbulo contorcido distal, mostrando o local de ação dos diuréticos tiazídicos. Fonte:
Guyton & Hall Tratado de Fisiologia Médica, 2017
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Túbulo coletor e ducto coletor A aldosterona aumenta a reabsorção


da Na+ e promove eliminação de K+.
Os túbulos coletores incluem células
Esse hormônio promove reabsorção
principais, que reabsorvem Na+ e se-
de Na+ por 2 mecanismos:
cretam K+ e duas populações de célu-
las intercaladas, α e ẞ, que secretam • Um efeito rápido, estimulando a
ácidos e bases, respectivamente. troca Na+/H+ por ação nos recepto-
As junções oclusivas nesta parte do res de aldosterona localizados na
néfron são impermeáveis a água e membrana;
íons. O movimento dos íons e água • Um efeito tardio, através de re-
neste segmento está sob controles ceptores nucleares, direcionando
hormonais independentes: a absor- a síntese de um mediador proteico
ção de NaCl é controlada pela aldos- específico que ativa os canais de
terona e a absorção de água pelo hor- sódio na membrana apical.
mônio antidiurético (ADH), também
denominado vasopressina.
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Figura 8. Ultraestrutura celular e características do transporte do túbulo distal. Os túbulos distais finais e os túbulos
coletores corticais são compostos de dois tipos distintos de células, as células principais e as células intercaladas. As
células principais reabsorvem sódio do lúmen e secretam íons potássio para o lúmen. As células intercaladas rea-
bsorvem íons potássio e bicarbonato do lúmen e secretam íons hidrogênio no lúmen. A reabsorção de água desse
segmento tubular é controlada pela concentração do hormônio antidiurético (ADH). Fonte: Guyton & Hall Tratado de
Fisiologia Médica, 2017

Figura 9. Ações de fármacos sobre o túbulo coletor. As células são impermeáveis à água na ausência de ADH e ano
Na+ na ausência de aldosterona. Fonte: Guyton & Hall Tratado de Fisiologia Médica, 2017
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RESUMINDO...
O esquema a seguir mostra um resumo simplificado da função tubular e os principais locais
de ação dos fármacos. As células são retratadas como uma borda rosa em torno da luz tubu-
lar amarela.

Mecanismos de absorção de íons na margem apical da célula tubular:


(1) Troca Na+/H+;
(2) Cotransporte de Na+/K+/2Cl−;
(3) Cotransporte de Na+/Cl−;
(4) Entrada de Na+ através dos canais de sódio.

O sódio é bombeado para fora das células e para o interstício pela Na+/K+-ATPase na margem
basolateral das células tubulares (não representado na imagem). Os números nos quadros
dão a concentração de íons em milimol por litro de filtrado e a porcentagem de íons filtrados
ainda restantes no líquido tubular nos locais especificados.

Figura 10. Esquema mostrando a absorção de sódio e cloreto no néfron e os principais locais de ação dos
fármacos. Fonte: Rang & Dale: Farmacologia, 2016
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MAPA MENTAL: CORRELAÇÃO DOS DIURÉTICOS COM SEUS LOCAIS DE AÇÃO

Túbulo contorcido Inibidores da


proximal anidrase carbônica

Diuréticos
poupadores de K+

SISTEMA
Ducto coletor Alça de Henle
TUBULAR

Diuréticos de alça

Diuréticos tiazídicos Túbulo contorcido


distal

3. DIURÉTICOS DE ALÇA Os diuréticos de alça possuem tam-


bém ações vasculares vasodilatado-
Representantes: Furosemida (princi-
ras que não são inteiramente com-
pal); Bumetanida.
preendidas. Além disso, aumentam
a oferta de Na+ ao néfron distal, cau-
Mecanismo de ação: Os diuréticos sando perda de H+ e K+. Considerando
de alça são os mais potentes, capazes que ocorre perda urinária de Cl−, mas
de causar a eliminação de 15-25% não de HCO3−, a concentração plas-
do Na+ filtrado. Sua ação costuma ser mática de HCO3− aumenta quando o
descrita como causadora de “fluxo volume plasmático é reduzido – uma
urinário torrencial”. Esses fármacos forma de alcalose metabólica, portan-
atuam sobre o ramo ascendente es- to, denominada “alcalose de contra-
pesso, inibindo o transportador Na+/ ção”. Os diuréticos de alça aumentam
K+/2Cl− na membrana luminal, combi- a eliminação de Ca2+ e Mg2+ e dimi-
nando-se com seu ponto de ligação nuem a eliminação de ácido úrico.
para Cl−.
Farmacocinética: A furosemida é in-
SE LIGA! completa e erraticamente absorvida
Volta lá na Figura 5 e relembre! no intestino, com considerável varia-
ção interindividual. A bumetanida é
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absorvida de forma mais completa e • Tratamento de hipertensão compli-


confiável. Ambas podem ser admi- cada por comprometimento renal
nistradas por via intravenosa. A na- (os tiazídicos são preferidos, caso
triurese e a diurese iniciam cerca de a função renal esteja preservada);
30 minutos após dose oral e duram
• Tratamento de hipercalcemia após
até 6 horas. A injeção intravenosa
reposição do volume plasmático
produz um efeito mais rápido, com
usando solução intravenosa de
início de diurese em poucos minutos.
NaCl.
Os diuréticos de alça são parcialmen-
te metabolizados no fígado. Eles são
altamente ligados às proteínas plas- Efeitos adversos:
máticas, e pouco fármaco é filtrado no São comuns os efeitos indesejáveis
glomérulo. Na insuficiência renal, há diretamente relacionados à ação re-
redução da liberação de fármaco para nal dos diuréticos de alça:
o fluido tubular, uma vez que outros
substratos competem com o diuréti- • Hipovolemia e hipotensão: espe-
co pelos demais transportadores de cialmente em idosos;
ânions orgânicos. • Hipocalemia;
• Alcalose metabólica;
Usos clínicos: Os diuréticos de alça
são usados (com cautela!), em com- • Hiperuricemia: comum, pode pre-
binação com restrição de sal na dieta cipitar gota aguda;
e muitas vezes com outras classes de • Hipomagnesemia: menos comum.
diuréticos, no tratamento de sobre-
carga de sal e água associada a:
Não são frequentes os efeitos inde-
• Edema agudo de pulmão; sejáveis não relacionados às ações
• Insuficiência cardíaca crônica; renais dos fármacos:

• Cirrose hepática complicada por • Perda de audição relacionada à


ascite; dose: ocorre com doses muitos
altas e em uso concomitante de
• Síndrome nefrótica; outros fármacos ototóxicos, como
• Insuficiência renal. aminoglicosídeos;
• Rashes;
Outras indicações clínicas incluem: • Depressão da medula óssea.
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MAPA MENTAL: DIURÉTICOS DE ALÇA

Hipovolemia e
hipotensão
Furosemida Bumetanida

Hipocalemia

REPRESENTANTES
Diurético mais potente
Alcalose metabólica

Atuam no ramo
Hiperuricemia
ascendente espesso
DIURÉTICOS MECANISMO DE AÇÃO
EFEITOS ADVERSOS
DE ALÇA Inibem o cotransportador
Hipomagnesemia Na+/K+/2Cl-

Ototoxicidade Ação vasodilatadora


INDICAÇÕES Insuficiência renal

Rashes
IC crônica

Depressão da
medula óssea
Síndrome nefrótica

Edema agudo
de pulmão

Cirrose hepática
complicada com ascite
IC: Insuficiência Cardíaca
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4. DIURÉTICOS Os efeitos dos tiazídicos sobre o ba-


TIAZÍDICOS E FÁRMACOS lanço de Na+, K+, H+ e Mg2+ são qua-
RELACIONADOS litativamente semelhantes aos dos
diuréticos de alça, mas de menor
Representantes: (1) Tiazídicos:
magnitude. Entretanto, em contraste
Bendroflumetiazida, Hidroclorotiazi-
com os diuréticos de alça, os tiazídi-
da; (2) Fármacos relacionados: Clor-
cos reduzem a eliminação de Ca2+, o
talidona; Indapamida; Metolazona.
que pode ser vantajoso em pacientes
mais idosos com risco de osteoporose.
Mecanismo de ação: Os tiazídicos Os diuréticos tiazídicos também têm
são menos potentes que os diuréti- ação vasodilatadora. Quando usados
cos de alça e são preferidos para tra- no tratamento de hipertensão, a que-
tar hipertensão não complicada. São da inicial da pressão arterial decorre
mais tolerados que os diuréticos de da diminuição do volume sanguíneo
alça e, em ensaios clínicos, demons- causada pela diurese, mas a vasodi-
traram reduzir os riscos de acidente latação contribui para a fase tardia.
vascular cerebral (AVC) e de infarto
agudo do miocárdio (IAM) associados
à hipertensão. Farmacocinética: Os diuréticos tia-
zídicos e relacionados são razoavel-
Ligam-se ao ponto do Cl− do sistema
mente bem absorvidos pelo intestino
de cotransporte tubular distal de Na+/
e a maioria é metabolizada no fíga-
Cl−, inibindo sua ação e causando
do. O início da diurese é lento, mas
natriurese com perda de íons sódio e
eles têm duração de ação mais lon-
cloreto na urina. A contração do volu-
ga do que os diuréticos de alça. Ela
me sanguíneo decorrente estimula a
varia entre os fármacos, sendo que a
secreção de renina, levando à forma-
bendroflumetiazida produz natriure-
ção de angiotensina e à secreção de
se por até 6-12 horas e a clortalidona
aldosterona. Este mecanismo home-
por 48-72 horas. São menos eficazes
ostático limita o efeito dos diuréticos
quando a taxa de filtração glomerular
sobre a pressão arterial.
é inferior a 20 mL/minuto.

SE LIGA!
Usos clínicos:
Volta lá na Figura 7 e relembre!
Esses fármacos são usados principal-
mente nas seguintes condições:
• Hipertensão;
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• Insuficiência cardíaca leve (em ge- • Perda de potássio e magnésio;


ral, preferem-se diuréticos de alça);
• Excreção de ácido úrico reduzida;
• Edema resistente grave (especial-
• Alcalose hipoclorêmica;
mente a metolazona - é usada jun-
tamente com diurético de alça); • Tolerância à glicose diminuída: in-
dapamida causa menos distúrbios
• Para prevenir formação recorren-
metabólicos;
te de cálculos na hipercalciúria
idiopática; • Hiponatremia;
• Diabetes insipidus nefrogênico. • Rashes, discrasias sanguíneas: ra-
ras, mas podem ser graves.

Efeitos adversos:
Os principais são:
• Disfunção erétil: reversível, menos
comum com doses baixas usadas
na prática clínica;
DIURÉTICOS (FARMACOLOGIA) 19

MAPA MENTAL: DIURÉTICOS TIAZÍDICOS E FÁRMACOS RELACIONADOS

Bendroflumetiazida Hidroclorotiazida Clortalidona Indapamida Metolazona

REPRESENTANTES
Reduzem risco
cardiovascular
Disfunção erétil
Atuam no túbulo distal

DIURÉTICOS MECANISMO DE AÇÃO


Perda de K+ e Mg2+ EFEITOS ADVERSOS
TIAZÍDICOS
Inibem o
cotransportador Na+/Cl-
Excreção de ácido
úrico reduzida
Ações vasodilatadoras

Alcalose hipoclorêmica INDICAÇÕES IC leve

Tolerância à glicose HAS


diminuída

Diabetes insipidus
Hiponatremia nefrogênico

Edema resistente grave


Rashes

Prevenção da
Discrasias sanguíneas formação de cálculos
na hipercalciúria
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5. DIURÉTICOS dias, em grande parte, como conse-


POUPADORES DE quência de seu mecanismo de ação
POTÁSSIO transcricional.
Antagonistas da aldosterona
Efeitos adversos:
Representantes: Espironolactona;
Eplerenona. Os principais são:
• Hipercalemia: potencialmente fatal;
Mecanismo de ação: Possuem ação • Desconforto gastrointestinal;
diurética muito limitada quando usa-
dos isoladamente, porque a troca dis- • Ginecomastia;
tal de Na+/K+ – local em que agem – é • Distúrbios menstruais;
responsável pela reabsorção de ape-
• Atrofia testicular.
nas 2% do Na+ filtrado. Eles têm, con-
tudo, acentuados efeitos anti-hiper-
tensivos, prolongam a sobrevida em Triantereno e amilorida
pacientes selecionados com insufici-
ência cardíaca e podem impedir hipo- Mecanismo de ação: Possuem efi-
calemia quando combinados a diuré- cácia limitada como diuréticos porque
ticos de alça ou tiazídicos. Competem atuam no néfron distal, onde ocorre
com a aldosterona por seus recepto- apenas pequena fração de reabsor-
res intracelulares, inibindo a retenção ção de Na+. Atuam sobre os túbulos
de Na+ e a secreção de K+ em nível coletores e ductos coletores, inibindo
distal. a reabsorção de Na+ por bloqueio dos
canais de sódio luminais e diminuição
da eliminação de K+. Podem ser admi-
Farmacocinética: Todos os diuré- nistrados juntamente com diuréticos
ticos poupadores de potássio são de alça ou tiazídicos, com a finalidade
administrados por via oral. A espiro- de manter o balanço de potássio.
nolactona é metabolizada na parede
do intestino e no fígado em canreno-
na, que tem meia-vida mais longa e Farmacocinética: O triantereno é
é, provavelmente, responsável pela amplamente metabolizado no fígado,
maior parte do efeito diurético. O iní- e a secreção tubular do metabólito do
cio da ação da espironolactona e da éster sulfato é responsável pela ação
eplerenona é lento, iniciando após 1 diurética. A amilorida é secretada
dia e se tornando máximo em 3-4 inalterada no túbulo renal proximal. O
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início da ação de ambos os fármacos de alça ou tiazídicos) de modo a pre-


é rápido. venir perda de K+, em casos nos quais
a hipocalemia seja especialmente pe-
rigosa (ex: pacientes que necessitem
Efeitos adversos: de digoxina ou amiodarona). São usa-
Os principais são: dos em:
• Hipercalemia; • Insuficiência cardíaca, para au-
• Distúrbios gastrointestinais: infre- mentar a sobrevida;
quentes; • Hiperaldosteronismo primário,
• Cálculos renais: triantereno; (síndrome de Conn);

• Reações indiossincráticas, como • Hipertensão essencial resistente


rashes: incomuns. (em especial hipertensão com re-
nina baixa);

SE LIGA! • Hiperaldosteronismo secundário


causado por cirrose hepática com-
Volta lá na Figura 9 e relembre o meca-
nismo de ação desses fármacos! plicada por ascite.

Usos clínicos dos diuréticos poupa-


dores de potássio:
Geralmente, são usados juntamente
com diuréticos perdedores de K+ (ex:
DIURÉTICOS (FARMACOLOGIA) 22

MAPA MENTAL: DIURÉTICOS POUPADORES DE POTÁSSIO

Espironolactona Eplerenona Triantereno Amilorida

REPRESENTANTES
Ação diurética limitada

Atuam no ducto coletor


Hipercalemia
DIURÉTICOS
EFEITOS ADVERSOS MECANISMO DE AÇÃO
POUPADORES
PRINCIPAIS
Desconforto DE POTÁSSIO Competem com a
gastrointestinal aldosterona ou
bloqueiam canal de Na+

Usados com diuréticos


INDICAÇÕES IC perdedores de K+

HAS resistente

Hiperaldosteronismo
primário

Hiperaldosteronismo
secundário
DIURÉTICOS (FARMACOLOGIA) 23

6. INIBIDORES DA Farmacocinética: A acetazolamida


ANIDRASE CARBÔNICA é secretada no túbulo renal proximal
por transportadores de ácidos orgâ-
Representante: Acetazolamida.
nicos (TAOs) e age na superfície lu-
minal do túbulo proximal. É eliminada
Mecanismo de ação: Aumentam a inalterada na urina.
eliminação de bicarbonato acompa-
nhado de Na+, K+ e água, resultando
Usos clínicos: Embora já não usados
em aumento do fluxo de urina alcali-
como diuréticos, ainda são aplicados
na e acidose metabólica. A perda uri-
no tratamento de glaucoma para re-
nária de bicarbonato causa depleção
duzir a formação de humor aquoso e
do bicarbonato extracelular, e o efei-
também em alguns tipos de epilepsia
to diurético dos inibidores da anidra-
infantil, e para acelerar a aclimatação
se carbônica, consequentemente, é
a altitudes elevadas.
autolimitado.

SE LIGA!
Efeitos adversos:
Volta lá na Figura 3 e relembre! A acetazolamida é uma sulfonami-
da e podem ocorrer efeitos indesejá-
veis comuns às outras sulfonamidas,
como:
• Rashes;
• Discrasias sanguíneas;
• Nefrites intersticiais.
DIURÉTICOS (FARMACOLOGIA) 24

MAPA MENTAL: INIBIDORES DA ANIDRASE CARBÔNICA

Representante Acetazolamida

Aumentam a eliminação
de bicarbonato acompanhado Mecanismo
de Na+, K+ e água de ação
Efeito diurético autolimitado

Glaucoma; Alguns tipos de


epilepsia infantil; Acelerar
Indicações a aclimatação a altitudes
elevadas; Não são mais
usados como diuréticos

Rashes
Discrasias sanguíneas Efeitos
adversos
Nefrites intersticiais

7. DIURÉTICOS osmolaridade do fluido tubular. Den-


OSMÓTICOS tro do néfron, seu principal efeito é
exercido sobre áreas que são livre-
Representante: Manitol.
mente permeáveis à água: o túbu-
lo proximal, o ramo descendente da
Mecanismo de ação: Os diuréticos alça e, na presença de ADH, os túbu-
osmóticos são substâncias farmaco- los coletores. A reabsorção passiva
logicamente inertes filtradas no glo- de água é reduzida pela presença de
mérulo, mas não reabsorvidas pelo soluto não reabsorvível dentro do tú-
néfron. Para causar diurese, precisam bulo; consequentemente, um volume
constituir uma fração apreciável da maior de líquido continua no túbulo
proximal. Isso tem o efeito secundário
DIURÉTICOS (FARMACOLOGIA) 25

de reduzir a reabsorção de Na+. Por- osmóticos podem limitar esses efei-


tanto, o principal efeito dos diuréticos tos, pelo menos se dados nos primei-
osmóticos é aumentar a quantidade ros estágios, embora aumentem o vo-
de água eliminada, com menor au- lume intravascular e tragam o risco de
mento da eliminação de Na+. insuficiência do ventrículo esquerdo.
Também são utilizados como trata-
Farmacocinética: O manitol é admi- mento de emergência para aumen-
nistrado por infusão intravenosa e é to súbito da pressão intracraniana
excretado inalterado no glomérulo. ou intraocular. Esse tratamento não
Tem uma meia-vida de 2 horas, que é se relaciona com o rim, em absoluto,
substancialmente aumentada na in- porém se baseia no aumento da os-
suficiência renal. molaridade plasmática por solutos
que não penetram no cérebro ou nos
olhos, o que resulta no efluxo de água
Usos clínicos: Podem ser usados na desses compartimentos.
insuficiência renal aguda, que pode
ocorrer devido a hemorragia, trau-
ma ou infecções sistêmicas. A taxa Efeitos adversos: Incluem expansão
de filtração glomerular se reduz, e a transitória do volume do líquido ex-
absorção de NaCl e água no túbulo tracelular (com risco de causar insu-
proximal se torna quase completa, de ficiência do ventrículo esquerdo) e hi-
modo que partes mais distais do né- ponatremia. Podem ocorrer cefaleia,
fron virtualmente “secam” e cessam náuseas e vômitos.
o fluxo urinário. As proteínas são de-
positadas nos túbulos e podem im-
pedir o fluxo de líquido. Os diuréticos
DIURÉTICOS (FARMACOLOGIA) 26

MAPA MENTAL: DIURÉTICOS OSMÓTICOS

Representante Manitol

Reduz reabsorção passiva


da água pela presença de soluto
não reabsorvível dentro do túbulo Mecanismo
de ação
Secundariamente, reduz
reabsorção de Na+

Insuficiência renal aguda


por hemorragia, trauma ou
Indicações infecções sistêmicas
Aumento súbito de pressão
intracraniana ou intraocular

Expansão transitória
do volume do líquido Efeitos
extracelular adversos
Hiponatremia
Cefaleia
Náuseas e vômitos
DIURÉTICOS (FARMACOLOGIA) 27

MAPA MENTAL: VISÃO GERAL DOS DIURÉTICOS

Diuréticos de alça Diuréticos tiazídicos Diuréticos poupadores


de potássio
• Representantes: • Representantes:
Furosemida; Bumetanida Bendroflumetiazida; • Representantes:
Hidroclorotiazida; Fármacos Espironolactona; Eplerenona;
• Causam abundante
relacionados: Clortalidona; Amilorida; Triantereno
produção de urina
Indapamida; Metolazona
• Diuréticos muito fracos
• Inibem o cotransportador
• Menos potentes que os
Na+/K+/2Cl- no ramo • Atuam no néfron distal e
diuréticos de alça
ascendente espesso da túbulos coletores
alça de Henle • Inibem o cotransportador
• A espironolactona e a
Na+/Cl- no túbulo contorcido
• Usados no tratamento da eplerenona competem com a
distal
insuficiência cardíaca e aldosterona por seu receptor
outras doenças complicadas • Usados no tratamento da
• A amilorida e o triantereno
por retenção de sal e água hipertensão
atuam bloqueando os
• Hipovolemia e hipocalemia • Um efeito adverso canais de sódio controlados
são importantes efeitos importante é disfunção erétil pelo mediador proteico à
indesejáveis aldosterona
• Podem ocorrer hipocalemia e
outros efeitos metabólicos • Eficazes em algumas formas
de hipertensão e insuficiência
cardíaca; podem impedir a
hipocalemia causada por
diuréticos de alça e tiazídicos
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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Rang, H. P., et al. Rang & Dale: farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
Hall, John E. Guyton & Hall Tratado de Fisiologia Médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,
2017.
Waller, Derek G. Sampson, Tony. Farmacologia médica e terapêutica. 5. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2019.
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