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Luísa Mourad - Turma 131 - 2022

Prof. Solange - 22/09

FÁRMACOS DE AÇÃO RENAL: DIURÉTICOS

INTRODUÇÃO AOS DIURÉTICOS

Os diuréticos são drogas que aumentam o volume urinário e são utilizados em


todas as situações em que é necessário o aumento da volemia. O efeito primário é de
aumentar a excreção de Na+ (natriurese) e Cl- e o efeito consequente é de perda de água.
● Locais de ação dos diuréticos:
○ Túbulo contorcido proximal (TCP) →
inibidores da anidrase carbônica
○ Alça de Henle ascendente → diuréticos de
alça (1ª escolha → mais potentes)
○ Túbulo contorcido distal (TCD) →
diuréticos tiazídicos (2ª escolha)
○ Ducto coletor → diuréticos poupadores de
potássio
■ Utilizados para reduzir a perda de
potássio causada pelos diuréticos de alça e/ou tiazídicos
○ Ao longo de todo o túbulo renal → diuréticos osmóticos (Manitol)
● Mecanismo de ação principal → retenção de sódio dentro do túbulo renal e,
consequentemente, retenção de água

PRINCÍPIOS IMPORTANTES

● Eficácia do diurético → depende da concentração de sódio que alcança um sítio


específico, ou seja, o quanto fica retido dentro da luz tubular
○ Por exemplo, 67% de sódio é reabsorvido no túbulo contorcido proximal,
onde atuam os inibidores da anidrase carbônica, mas eles não são os mais
potentes porque, ao inibir essa via, o Na+ ainda pode ser reabsorvido na alça
de Henle e no túbulo contorcido distal. Na alça de Henle ascendente, 25% de
sódio é reabsorvido, logo, ao inibirem essa via, os diuréticos de alça acabam
sendo os mais potentes, pois menos sódio será reabsorvido posteriormente.
No túbulo distal, há a reabsorção de apenas 5% de Na+ e no ducto coletor,
apenas 2% de sódio é reabsorvido.
● Interferência com a reabsorção de sódio em um sítio do néfron interfere com
outras funções renais a ele associadas, como K+ e Cl-
● Aumento do fluxo e da oferta de Na+ ao néfron distal → estimula a secreção de
K+ e/ou H+ (ao inibir a reabsorção de Na+, nem todo sódio será eliminado, pois
uma parte desse sódio será trocada por K+ e íons H+)
○ Alguns diuréticos induzem a hipocalemia (perda de potássio)
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● Todos os diuréticos, exceto a espironolactona, agem do lado luminal da célula


tubular → isso ocorre pois precisam alcançar o interior do túbulo renal para
interferir com os mecanismos de transporte.
○ A espironolactona vem pelo sangue, entra na célula epitelial renal por ser
lipossolúvel e ocupa os receptores dos mineralocorticóides, especificamente
da aldosterona (é a única que atua a partir da membrana basolateral)

FISIOLOGIA RENAL

NÉFRON

O néfron é a unidade morfológica


e funcional do rim. O sangue vem pela
arteríola aferente, é filtrado a nível dos
glomérulos renais, mas, se houver uma
partícula com alto peso molecular ou
ligada a proteínas plasmáticas, elas não
são filtradas. O sangue sai dessa região
pela arteríola eferente, que dá origem
aos capilares peritubulares (cercam
todo o túbulo). O fluxo segue pelo túbulo
proximal → alça de Henle descendente →
alça de Henle ascendente (segmento espesso) → túbulo contornado distal, que tem um
segmento inicial e um segmento final. O túbulo distal inicial passa entre a arteríola
aferente e eferente e essa área de contato forma o aparelho justaglomerular.
Dentro do túbulo renal, há os mecanismos de reabsorção e secreção. O que
chega a nível de ducto coletor é a urina formada.

90% dos néfrons se situam a nível


de córtex renal, mas 10% deles alcançam
a parte medular, sendo chamados de
néfrons justamedulares. Como o néfron
está associado ao fluxo de sangue e há
poucos néfrons justamedulares, o fluxo
sanguíneo nessa região é menor (em
torno de 10% do fluxo sanguíneo renal
total) e mais lento. Além disso, esses tipos
de néfrons formam alças, que são
chamadas de vasa recta (sistema de
contratransporte). Qualquer situação que aumente o fluxo sanguíneo na vasa recta,
aumenta o fluxo e a hidratação das células tubulares e qualquer situação que diminua
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o fluxo sanguíneo irá atingir primeiro essa área, levando a uma necrose. Dessa forma,
existem alguns diuréticos que atuam aumentando o volume de líquido que passa por
essa região, evitando a evolução para necrose. Os capilares peritubulares, por sua vez,
são enovelados.

● Funções do néfron → excreção = filtração - reabsorção + secreção


Quando há uma substância filtrada, ela cai na cápsula de Bowman e chega a nível
renal. Dependendo do transportador, algumas substâncias são reabsorvidas (sai da luz
tubular e volta para o capilar peritubular). Porém, algumas substâncias não são
filtradas, mas ao longo do túbulo renal, essa substância pode ser secretada (secreção
tubular).
O ácido úrico precisa ser eliminado e deve sair junto com a urina, então, ele é
secretado para o túbulo e, para que essa secreção ocorra, existem transportadores para
substâncias ácidas. Esses transportadores levam o ácido úrico dos capilares
peritubulares para o túbulo renal (processo de secreção) para ser eliminado junto com a
urina. Os diuréticos de alça e tiazídicos tem uma característica ácida e, para atuar, eles
precisam alcançar o interior do túbulo renal. Então, no caso da furosemida, por
exemplo, que se encontra no sangue, ela alcança os capilares peritubulares e, para
alcançar o interior do túbulo, ela também utilizará um transportador para substâncias
ácidas, o mesmo responsável pela secreção de ácido úrico. Quando isso ocorre, ocorre
uma diminuição do transporte de ácido úrico devido a competição com o fármaco,
diminuindo assim sua eliminação (não passa do sangue para o túbulo), ou seja, o ácido
úrico se concentra no sangue. Por isso, deve-se ter muito cuidado ao fazer diuréticos
de alça ou tiazídicos em pacientes portadores de gota.
Na reabsorção tubular, a substância encontra-se no túbulo e utiliza um canal
iônico/proteico ou um transportador, saindo do túbulo e passando para o capilar
peritubular (um dos principais mecanismos dos diuréticos consiste em inibir essa
reabsorção). Ao inibir a reabsorção do íon sódio, por exemplo, ele permanece no túbulo
e aumenta o volume de urina, pois ele retém água.

TIPOS DE DIURÉTICOS

DIURÉTICOS DE ALÇA

● Principais → FUROSEMIDA (protótipo), BUMETANIDA, TORSEMIDA, ÁCIDO


ETACRÍNICO (não existe no Brasil)
● Excreção → favorecem a excreção de 15-25% de sódio (mais potentes)
○ Depende da dose utilizada
○ Nem todo sódio que fica no túbulo é eliminado na urina, porque uma parte
dele é trocada no final do túbulo por íons K+ e íons H+, favorecendo a
excreção de potássio e a reabsorção de sódio, o que pode levar a uma
hipocalemia, pois o potássio é eliminado junto com a urina
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● Local de ação → segmento espesso da alça ascendente de Henle


○ Essa área normalmente reabsorve 25% de sódio, logo, ao inibí-la, muito mais
sódio é deixando dentro do túbulo
● Mecanismo de ação → inibição do simporte de Na+, K- e 2 Cl- (NKCC2) na
membrana luminal
○ Aumento da excreção de Na+, Cl-, K+, Ca++, Mg++ → principalmente de sódio,
que tem uma reabsorção nessa área de 25% (parte desse Na+ pode ser
trocado por íons H+ e por K+)
○ Diminuição da excreção de ácido úrico → aumento de ácido úrico no sangue
■ Os diuréticos de alça possuem em sua estrutura química o grupamento
sulfamídico, ou seja, eles tem característica ácida, diminuindo a
excreção de ácido úrico ao competir com ele pelo transportador de
substância ácida, e aumentando a concentração de ácido úrico no
sangue
↳ Deve-se ter cuidado com pacientes com gota!
○ Ação venodilatadora via EV → útil para pacientes com edema agudo de
pulmão, pois diminui-se o retorno de sangue para a circulação pulmonar,
diminuindo a sobrecarga pulmonar
■ Esse efeito venodilatador ocorre antes da ação diurética, mas apenas há
esse efeito pela via endovenosa
■ Essa ação ocorre por ação de liberação de prostaglandinas, responsável
pelo relaxamento da musculatura lisa a nível venoso
○ Aumento do fluxo sanguíneo medular → retira solutos, diminuindo a
osmolaridade da região medular e contribuindo para a formação de uma
urina mais diluída
■ Diminui o risco de necrose tubular
○ Redução da tonicidade medular

Na figura ao lado há uma célula


epitelial renal, onde, na membrana
luminal (ou apical), há o transportador
NKCC2, que coloca sódio, cloro e
potássio para dentro da célula. O sódio
que entra sai pela bomba de Na+/K+
ATPase, voltando para o capilar
peritubular (reabsorção). O potássio, por
sua vez, já encontra-se elevado na célula
(entra na célula também pela bomba de
sódio potássio). Por isso, parte desse K+
sai para a luz (membrana luminal). Já o cloro sai passivamente por canais de cloro na
membrana basolateral (cargas negativas).
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O diurético de alça inibe a NKCC2, logo, o sódio, potássio e cloro não entram,
ficando na luz tubular e assim, puxa-se água para o túbulo (pois retém sódio). Parte do
potássio também entra na célula pela bomba na membrana basolateral, contribuindo
para a saída para a luz do túbulo e aumentando sua concentração nessa região.
O cálcio e magnésio estão mais concentrados na luz tubular, mas, normalmente,
como há cargas negativas na membrana basolateral, cria-se um gradiente eletroquímico,
atraindo cargas positivas, que são o cálcio e o magnésio. Por isso, eles passam pelo
espaço paracelular até o capilar peritubular. Com o diurético de alça, como não há mais
as cargas negativas na membrana basolateral pelo transporte de cloro, o magnésio e o
cálcio param de ser atraídos pela região paracelular e permanecem no túbulo,
aumentando sua excreção.
Os diuréticos de alça induzem uma perda muito grande de K+ que não pode ser
apenas pela inibição da entrada de potássio na célula. Logo, a hipocalemia intensa
desses pacientes é explicada porque parte do sódio que foi retido é compensado pela
secreção de K+ (troca de Na+, que é reabsorvido, por K+).

● Usos terapêuticos:
○ Edema agudo de pulmão → aumentam a capacitância venosa
■ Furosemida por via EV como uma das primeiras escolhas (efeito
venodilatador)
○ Edema severo → aumentam a excreção de sódio para 25% da carga filtrada,
diminuindo o volume
○ Hipercalcemia (tratamento agudo) → aumentam a excreção de cálcio
■ Prejudicial para pacientes que têm tendência à osteoporose
○ Hipercalemia (ex: politraumatizado, lesão muscular extensa) → aumentam a
excreção de potássio
○ Falência renal aguda oligúrica → para evitar a anúria, é preciso proteger a
medula renal (diuréticos de alça aumentam o fluxo pela vasa recta,
garantindo a manutenção da hidratação das células tubulares)
○ Hipertensão moderada → redução da volemia + efeito venodilatador, que
resulta na redução da PA
● Efeitos colaterais:
○ Hipocalemia → o potássio é retido na luz tubular e sendo eliminado
○ Alcalose metabólica hipocalêmica (aumenta excreção de H+, porque parte do
Na+ é trocado por íons H+)
○ Hipovolemia
○ Ototoxicidade → altera o balanço de eletrólitos na endolinfa, podendo
diminuir a acuidade auditiva dos pacientes
■ A suspensão do fármaco reverte o quadro
○ Hipersensibilidade → a furosemida tem uma característica ácida devido a
sua estrutura química (ácido sulfamídico), logo, qualquer paciente que tenha
hipersensibilidade às sulfonamidas, será hipersensível também aos
diuréticos de alça
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○ Fraqueza → ocorre pela perda de K+ nas células, pois isso favorece a saída de
K+, hiperpolarizando as células musculares e retardando o potencial de ação
(algumas células musculares não irão conseguir gerar o potencial de ação e
liberar cálcio no retículo)
■ Nesses casos, não se pode prescrever diretamente os diuréticos
poupadores de potássio, pois pode tirar o paciente da hipocalemia e
gerar uma hipercalemia (deve-se primeiro tranquilizar o paciente e
indicar alimentação para repor K+ com banana, suco de laranja)
○ Hiperuricemia → competição com os transportadores ácido, que são
responsáveis pela secreção de ácido úrico (problema em pacientes com gota)
○ Hipomagnesemia → menor atividade da Na+/K+ ATPase, podendo acumular
magnésio na célula
■ Em doses terapêuticas é muito pouco para conseguir interferir com a
atividade da bomba e, por isso, esse efeito colateral não é muito comum

DIURÉTICOS TIAZÍDICOS

● Principais (há diferenças farmacocinéticas entre eles) → HIDROCLOROTIAZIDA,


CLOROTIAZIDA, CLORTALIDONA, INDAPAMIDA
● Excreção → 5% de sódio (ação moderada)
● Local de ação → início do túbulo contornado distal
● Mecanismo de ação:
○ Inibição do simporte Na+ e Cl- (NCC1) na membrana luminal
■ Aumento da excreção de Na+, K+, Cl-, Mg++
■ Diminuição da excreção de Ca++ e ácido úrico → há retenção de cálcio
porque essa região do túbulo distal é controlada pelo PTH (preparada
para reabsorção de cálcio)
■ Ação vasodilatadora

Na membrana luminal do túbulo


contorcido distal existe um canal de
cálcio que, normalmente, pelo
gradiente de concentração, faz com
que o cálcio entre na célula. Esse cálcio
sai através de um contra transporte
para o capilar (reabsorção). Esse contra
transporte é feito com o sódio, que
entra na célula e será retirado pela
bomba Na/K, já que não pode haver
aumento da concentração de sódio dentro da célula. Além disso, também na membrana
luminal, está presente o transportador NCC1, que transporta o sódio da luz tubular para
dentro da célula, que será reabsorvido através da bomba Na/K, além do cloro, que sai
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passivamente através dos canais. Logo, fisiologicamente, há uma reabsorção de sódio e


cloro. Como o cloro passa para a proximidade da membrana basolateral, ele deixa cargas
negativas, puxando o magnésio (reabsorção). Já o cálcio entra pelos canais se sua
concentração dentro das células estiver baixa, e, fisiologicamente, ela é mantida baixa,
porque o cálcio entra e vai sendo reabsorvido.
Ao utilizar o tiazídico, ele inibe o NCC1: o sódio e o cloro não entram na célula,
ficando na luz tubular para serem excretados. Como parte do sódio é trocado pelo K+,
há excreção de K+. O magnésio também terá sua excreção aumentada, pois não há mais
cargas negativas e, por isso, ele não é atraído pela região paracelular. Como o sódio puxa
água, há uma maior excreção de água também.

○ Ativação de canais de potássio ATP dependentes


■ Vasodilatação independente de prostaglandinas
■ Redução da liberação de insulina pela célula beta
■ Hiperglicemia
■ Dislipidemia → ao iniciar um quadro de hiperglicemia, ocorre uma
alteração do metabolismo dos lipídeos, levando a quadros de
dislipidemia

Na imagem ao lado há uma célula


muscular lisa, onde há canais de potássio ATP
dependentes, que encontram-se sempre abertos
para a saída de potássio (ativação do canal de K+
pelos tiazídicos). Com isso, o meio intracelular
fica mais negativo e, por isso, os canais PDC de
cálcio não abrem (fica mais hiperpolarizada a
célula e esses canais só abrem pela
despolarização). Com isso, não entra cálcio e, assim, há uma ação vasodilatadora.
Fisiologicamente, na célula beta pancreática há o GLUT2, responsável pela
entrada de glicose que forma ATP que irá inibir o canal de K+ ATP dependente,
diminuindo a negatividade da célula (despolarização) de forma suficiente para abrir
canais de cálcio e, assim, secretar insulina. Os tiazídicos, por manterem canais de K+
aberto, não deixam o ATP inibir o canal de K+ ATP dependente, mantendo-o aberto e,
assim, a célula não despolariza e o cálcio não entra, fazendo com que a secreção de
insulina seja diminuída. Isso explica a hiperglicemia nesses pacientes. Se aumenta-se a
glicemia, há desvio do metabolismo, afetando a parte lipídica (aumenta triglicerídeos) e
causando dislipidemia.

● Usos terapêuticos:
○ Insuficiência cardíaca → redução da volemia para redução da sobrecarga
cardíaca
○ Hipertensão → redução da volemia para redução do débito cardíaco
○ Hipercalciúria idiopática → como ainda se está pesquisando a causa, deve-se
utilizar medicamentos que diminuam a perda de cálcio
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○ Prevenção de cálculos de oxalato de cálcio → ao diminui a eliminação de


cálcio, também diminui-se a deposição de cálcio que pode levar ao aumento
do cálculo
○ Osteoporose → mulheres em menopausa e com hipertensão são candidatas a
Tiazídicos mais do que a Furosemida, pois também se diminui a perda de Ca++
● Efeitos colaterais:
○ Hipocalemia
○ Aumento de LDL, colesterol e triglicerídeos
○ Alcalose metabólica → parte do sódio pode ser trocada por H+, causando
alcalose
○ Hiperglicemia → como os tiazídicos mantém os canais de potássio abertos,
eles diminuem a secreção de insulina, levando a hiperglicemia
■ Deve-se ter cuidado ao prescrever um diurético tiazídico em um
paciente diabético tipo 2
○ Hipersensibilidade → medicamentos com estrutura do grupo do ácido
sulfamídico, podem apresentar hipersensibilidade
○ Hiponatremia → perda de sódio
○ Fraqueza → associada à hipocalemia
○ Parestesia → associada à hipocalemia
○ Hiperuricemia → competição do tiazídico com o ácido úrico pelo
transportador de ácido
○ Hipercalcemia → ocorre pela retenção de cálcio
■ Redução da excitabilidade celular
● Efeitos dos tiazídicos na reabsorção de cálcio → redução da excreção de Ca+
Na membrana basolateral há
reabsorção de cálcio pela troca de
Ca+/Na+, que é a região que o PTH
atua induzindo a reabsorção de cálcio
em situações de hipocalcemia. Logo,
se o cálcio sai da célula, aumenta-se o
gradiente para entrada de cálcio e, por
ter esse mecanismo próprio para o
cálcio que ocorre uma diminuição da
sua excreção.
A inibição do transportador NCC1 diminui a concentração intracelular de sódio,
favorecendo o aumento do gradiente de sódio a nível do transportador NCX1 e, em
consequência, favorecendo a saída de cálcio (aumenta a reabsorção). Por isso, há
indicação para hipercalciúria idiopática.

DIURÉTICOS POUPADORES DE
POTÁSSIO
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● Grupos:
○ Bloqueadores de canal de sódio → AMILORIDA, TRIANTERENO
○ Bloqueadores do receptor da aldosterona → ESPIRONOLACTONA,
EPLERENONA
● Local de ação → segmento de conexão entre o túbulo contornado distal e o
ducto coletor
● Mecanismo de ação:
○ Aumento da excreção de Na+ (natriurético) e ácido úrico (não competem com
o transportador de ácido)
○ Diminuição da excreção de K+, H+, Ca+ e Mg+

O sódio chega na parte final do


túbulo distal e parte dele irá entrar
passivamente pelos canais de sódio
chamados de ENaC (concentração de
sódio dentro baixa e fora alta). O sódio irá
sair pela Na+/K+ ATPase da membrana
basolateral, colocando K+ para dentro. O
K+ já é alto dentro da célula e, como
aumenta mais a sua concentração no
interior da célula, o K+ sai por canais de K+
na membrana luminal. Por isso que parte
do Na+ é "trocado" pelo K+.
Com o uso de AMILORIDA E TRIANTERENO, uma das formas é inibir o canal de
sódio, pois, se não entra tanto sódio, não sai tanto potássio.
A aldosterona entra pela membrana basolateral, se liga ao receptor de
mineralocorticóide citoplasmático para ter acesso ao interior do núcleo, onde interfere
com a transcrição do DNA para o RNAm. Assim, a aldosterona age aumentando os canais
ENaC, aumentando a entrada de sódio na célula e a saída de K+ para a luz. Para impedir
essa perda de potássio, a ESPIRONOLACTONA age ocupando o receptor
mineralocorticóide e impedindo a ligação da aldosterona, que não realiza seu efeito de
aumentar a expressão dos canais ENaC.

Quando usa-se esses poupadores, aumenta-se a excreção de sódio, porém em


apenas 2% da reabsorção (são diuréticos fracos, por isso, seu objetivo maior não é a
diurese e sim poupar potássio). Como não são substâncias ácidas, não interferem com a
secreção de ácido úrico e, por isso, aumentam sua excreção. Por isso, se feito com
cautela, mesmo não sendo protocolo, pode ser associado aos diuréticos para evitar a
diminuição da excreção de ácido úrico.

● Usos terapêuticos:
○ Amilorida e Triantereno → associados aos diuréticos espoliadores de
potássio
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○ Espironolactona e Eplerenona:
■ Hiperaldosteronismo primário
■ Hiperaldosteronismo secundário
↳ Insuficiência cardíaca → normalmente há ativação do SRAA, logo, a
aldosterona encontra-se alta, levando a uma perda de potássio, logo,
esses diuréticos podem ser usados para bloquear esses receptores
↳ Insuficiência hepática → a aldosterona fisiologicamente liberada no
organismo deve ser metabolizada para cessar seu efeito e, essa
metabolização, ocorre por CYPs na célula hepática, logo, pacientes
com insuficiência hepática podem ter uma demora na metabolização
metabolização da aldosterona, ocasionando um hiperaldosteronismo
e perda de muito potássio
● Efeitos colaterais:
○ Amilorida e Triantereno:
■ Hipercalemia → redução da troca de sódio e potássio, aumentando o
potássio no sangue
↳ Em doses dentro da faixa terapêutica, isso não ocorre
■ Acidose metabólica → impedem a troca de íons H+, que ficam retidos e
podem causar acidose
■ Náuseas, vômitos e diarreia → decorrente da acidose
↳ Tendem a desaparecer após ajuste de dose ou substituição do
fármaco
○ Espironolactona e Eplerenona: a eplerenona tem um menor efeito
antiandrogênico
■ Hipercalemia → redução da troca de sódio e potássio, aumentando o
potássio no sangue
■ Acidose metabólica → impedem a troca de íons H+, que ficam retidos e
podem causar acidose
■ Úlcera
■ Ginecomastia (antagoniza o receptor de andrógenos), distúrbios
menstruais → a espironolactona realiza um bloqueio dos receptores dos
andrógenos
↳ Utilizar eplerenona ao invés da espironolactona
■ Diarreia, sonolência. letargia, cefaleia → decorrente da acidose

DIURÉTICOS OSMÓTICOS

● MANITOL → usado apenas pela via IV por infusão contínua (situações de


emergência)
○ Baixo peso molecular → consegue ser filtrado, pois passa pelas fenestras dos
capilares glomerulares
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○ Hidrossolúvel e osmoticamente ativo (puxa água) → não consegue ser


reabsorvido nem secretado pelo túbulo
○ É mais potente do que a furosemida
● Local de ação → ao longo de todo túbulo renal
● Mecanismo de ação → aumenta a volemia
○ Exerce força osmótica no lúmen, aumentado a H2O excretada
○ Aumenta muito o débito urinário
○ Aumenta o fluxo sanguíneo renal
○ Aumento discreto na eliminação de Na, K, Cl, Mg, fosfato, bicarbonato

Nos capilares glomerulares há


fenestras que permitem a passagem da
molécula do manitol, que é filtrado e cai no
túbulo renal, puxando mais água. Porém, ele
não consegue mais ser reabsorvido e, assim,
o que está no sangue não consegue ser
secretado.
O manitol dentro do túbulo alcança o
interstício (fenestras dos capilares
glomerulares e pulmonares), puxando água
do interstício e da célula (risco de
desidratação). Por isso, ele não pode ser
indicado para EAP, pois como já há edema, quando o manitol atinge a área de edema,
ele irá puxar mais água, piorando o caso.
Porém, se houver um edema cerebral, os capilares cerebrais não tem fenestras,
logo, ele não sai do capilar e, assim, a água sai do interstício para dentro do vaso, o que
tende a reduzir o edema cerebral.

● Características:
○ Contra indicado na ICC → nesses casos, o aumento de volemia aumentaria o
retorno venoso e, consequentemente, a sobrecarga cardíaca
○ Contra indicado no EAP → nesses casos, já existe um aumento de volume no
interstício e, como o Manitol encontra-se no vaso, ele também chegará nos
capilares pulmonares, extravasando para o interstício e agravando o EAP
○ Usado no edema cerebral sem lesão vascular → como é hidrossolúvel não
atravessa a BHE, logo, passa pelos vasos cerebrais sem alcançar o interstício
e, dessa forma, não aumenta o volume intersticial, não agravando o edema,
pois à medida que ele passa pelos capilares, ele puxa água para dentro do
vaso, reduzindo o edema
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● Usos terapêuticos:
○ Profilaxia da necrose tubular aguda pós choque → pois aumenta o fluxo
tubular pela vasa recta, evitando a necrose tubular
○ Insuficiência renal aguda → evita a necrose tubular
○ Diagnóstico de necrose tubular aguda → se já tiver NTA o paciente não urina
com manitol
○ Glaucoma agudo de ângulo fechado → o Manitol puxa água, diminuindo a
pressão do humor aquoso
○ Edema cerebral e hipertensão intracraniana sem lesão vascular → se houver
lesão, não pode-se utilizar o Manitol, pois ele chegaria ao interstício através
das fenestras da lesão, agravando o edema
○ Hemodiálise
● Efeitos colaterais:
○ Hiponatremia
○ Cefaleia, náuseas e vômitos → efeito decorrente do aumento do volume de
água dentro dos vasos
○ Desidratação → evitada pela reposição de volume

INIBIDORES DA ANIDRASE
CARBÔNICA

● ACETAZOLAMIDA
● Local de ação → início do túbulo
contorcido proximal
● Mecanismo de ação:
○ Aumento da excreção de
HCO3-, Na+, K+, H2O
○ Aumento do fluxo de urina
alcalina → como mais
bicarbonato fica na luz
tubular, a urina fica alcalina
● Características:
○ Leve acidose metabólica → ao perder bicarbonato, o íon H+ é retido, levando
a um quadro de acidose
■ À medida que essa acidose evolui, significa que já há pouca reserva
alcalina de bicarbonato, portanto, o efeito diurético se perde
○ Tolerância em 48 horas → se ela continuar sendo utilizada, perde-se muito
bicarbonato e seu efeito é reduzido
■ Ao aumentar a dose do fármaco, seu efeito não é recuperado, pelo
contrário, há maior perda do efeito, porque ela se deve a diminuição da
reserva alcalina
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Quando aumenta-se a excreção de


bicarbonato, alcaliniza a urina. À medida que há a
filtração, o bicarbonato é filtrado e,
+
normalmente, ele se liga por íons H , se dissocia
em H2O + CO2 pela anidrase carbônica IV e
entram na célula. CO2 + H2O sofrem ação da
anidrase carbônica tipo II dentro da célula,
formando ácido carbônico, que se dissocia em H+
e HCO3-. O H+ sai da célula pelo trocador de Na+ e
é ele que irá se ligar ao bicarbonato na luz para
formar H2O + CO2, neutralizando o bicarbonato. Porém, a acetazolamida inibe a
anidrase carbônica IV e II. Ao inibir a II, não há mais H+, deixando de neutralizar o
bicarbonato, que se acumula na luz tubular. Como também inibe a anidrase carbônica
IV, o bicarbonato não é dissociado em CO2 + H2O, mantendo o bicarbonato que deveria
ter sido reabsorvido, no túbulo. Normalmente, ele é reabsorvido no co-transporte com
o sódio na membrana basolateral.

● Usos terapêuticos:
○ Edema por ICC → eliminação de volume
○ Glaucoma de ângulo aberto (principal indicação) → a formação do humor
aquoso depende da presença de bicarbonato, logo, ao inibir a anidrase
carbônica, diminui-se a formação do humor aquoso
○ Epilepsia do tipo pequeno mal (durante a troca de anticonvulsivantes)
○ Alcalinização da urina
● Efeitos colaterais:
○ Distúrbios gastrointestinais
○ Anorexia
○ Reações alérgicas
○ Parestesias
○ Sonolência
○ Necrose hepática

OBSERVAÇÕES

A furosemida provoca mais


hipocalemia (maior perda de potássio) do
que a hidroclorotiazida (tiazídico). Na
tabela, o volume controle é diferente e, por
isso, há mais K+. O volume da furosemida é
8mL/min, enquanto que os tiazídicos tem
um volume de 3mL/min. Por isso, 8x10=80,
enquanto que os tiazídicos 3x25=75.
Luísa Mourad - Turma 131 - 2022
Prof. Solange - 22/09

O manitol tem um efeito de promover a diurese maior do que a furosemida,


porém, como ele só ocorre por via EV e infusão contínua, ele é reservado apenas para
emergência. Os poupadores de potássio possuem pouco efeito diurético, mas em
compensação, possuem menor perda de potássio e podem ser associados à furosemida
e tiazídicos.
A acetazolamida (inibidor da
anidrase carbônica) não é muito potente
como diurético, mas promove a maior
alteração de pH. Por isso, quando a
acidose metabólica se instalar, perde-se o
efeito diurético, mas o objetivo é
alcalinizar a urina.

APLICAÇÃO PRÁTICA

1. Um paciente portador de IC estadia em classe funcional II, está em uso crônico


de hidroclorotiazida 25 mg/dia. Relata que nos últimos 5 meses vem, por conta
própria, dobrando a dose, Dentro os abaixo, assinale o efeito adverso que pode
aparecer com esse aumento de dose:
A. Hipoglicemia → provoca hiperglicemia
B. Hiperuricemia → competição com o transportador de ácido úrico
C. Hipercalemia → provoca hipocalemia
D. Hipermagnesemia → provoca hipomagnesemia
2. Uma paciente hipertensa crônica, 59 anos, menopáusica, apresenta indicação
para uso de diurético. A paciente apresenta osteoporose significativa e, entre
outras coisas, redução da absorção de cálcio, Assinale o diurético que pode ser
usado nessa mulher, porque aumenta a calcemia:
A. Acetazolamida
B. Furosemida → aumenta a excreção de cálcio
C. Espironolactona
D. Hidroclorotiazida → ao diminuir a concentração de sódio dentro da célula
pela inibição do transportador Na/Cl, há favorecimento do trocador de
Na/Ca, logo, diminui-se a perda de cálcio, aumentando sua reabsorção

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