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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – UFC

FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM – FFOE


DEPARTAMENTO DE ANÁLISES CLÍNICAS E TOXICOLÓGICAS – DACT
MONITORIA DE BIOQUÍMICA CLÍNICA I
MONITORAS: ANA CAROLINE MORENO E STEPHANIE ALVES

BIOQUÍMICA DA FUNÇÃO RENAL E CORRELAÇÕES CLÍNICAS


INTRODUÇÃO

 O sistema renal exerce papel fundamental na regulação dos líquidos e eletrólitos


e na eliminação dos resíduos metabólicos, o que é essencial para à homeostase
corpórea.
 O sistema renal, composto pelos rins, ureteres, bexiga e uretra
 São cinco as funções primárias do rim:
 Eliminar resíduos metabólicos (uréia, creatinina, ácido úrico)
 Reter nutrientes (proteínas, aminoácidos, glicose, sódio, cálcio)
 Regulação do equilíbrio ácido-básico e pH sanguíneo
 Sintetizar eritropoietina, renina, prostaglandinas e 1,25-
diidroxicolecalciferol (forma ativa da vitamina D)
 Regulação do equilíbrio osmótico e hidroeletrolítico
 Regulação da pressão arterial
 A unidade funcional do rim é o néfron, que é responsável pelos processos de
filtração glomerular, reabsorção e secreção tubular
 Cada rim humano contém cerca de 1,2 milhão de néfrons.
 NÉFRON
 Glomérulo: é onde ocorre a FILTRAÇÃO, que é a passagem seletiva de
água, íons e pequenas moléculas pela rede de capilares que compõem a
barreira de filtração glomerular. Esta função é que melhor se correlaciona
com a capacidade dos rins em manter a composição dos líquidos
corpóreos. O glomérulo renal é um enovelado de capilares que se originam
das arteríolas. Ao redor desses capilares existem os podócitos, que vão
funcionar como uma peneira para esse filtrado, permitindo o que pode ou
não ser filtrado para a Cápsula de Bowman. A barreira de filtração apenas
permite que moléculas < 15KDa, com diâmetro pequeno e com carga
positiva consigam ser filtradas.

OBS.: Quando ocorre a perda de 50% ou mais da massa renal, verifica-se um


processo de adaptação glomerular. Os néfrons residuais sadios compensam a
perda funcional através da hiperfiltração.
 Túbulo proximal: Acontece a reabsorção passiva de algumas substâncias,
ou seja, o movimento delas para fora do lúmen tubular em direção aos
capilares renais (cloreto, sódio, potássio, glicose, creatinina,
aminoácidos). A Secreção ativa é o movimento de substâncias dos
capilares renais para dentro do lúmen tubular.
 Alça de Henle: aqui acontece o mecanismo contracorrente
 Descendente – reabsorção massiva de água
 Ascendente – é permeável ao sódio e impermeável a água

OBS: O mecanismo de contracorrente é essencial para a formação de urina, e para a


reabsorção de água no túbulo distal. No ramo ascendente da alça de Henle, os íons
sódio e cloreto são bombeados para o fluido intersticial. Posteriormente, podem-se
difundir livremente para o lúmen do ramo descendente, criando uma alça funcional
que perpetua o aumento da osmolalidade do filtrado que alcança o ramo ascendente.
Esse mecanismo é conhecido como multiplicação por contracorrente. Assim,
enquanto a osmolalidade do córtex renal é semelhante à do plasma (300 mmol/L),
a da medula pode chegar a 1.300 mmol/L. Essa elevada osmolalidade da medula
facilita depois a reabsorção de água nos ductos coletores. Esse mecanismo é
conhecido como troca em contracorrente. A quantidade de água reabsorvida é
controlada pela vasopressina.

 Túbulo distal: Realiza o ajuste da concentração de eletrólitos de acordo


com as necessidades orgânicas. O sódio pode ser removido sob a influência
do sistema aldosterona-angiotensina. O hormônio antidiurético (HAD)
controla a reabsorção da água para estabelecer o equilíbrio osmótico.
 Ducto coletor: permeabilidade da parede do ducto coletor à água é
controlada pela vasopressina, por meio de aquaporinas

PRINCIPAIS MECANISMO DE REGULAÇÃO

MANUTENÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL

 Quem controla a pressão sanguínea e o tônus vascular é o SISTEMA


RENINA-ANGIOTENSINA-ALDOSTERONA
 A renina é uma enzima produzida principalmente no aparelho
justaglomerular do rim; é armazenada em grânulos secretores e liberada em
resposta a uma redução na pressão de perfusão renal (entrega diminuída de
Na+ na mácula densa) e tônus simpático aumentado. Assim, em situações
nas quais a pressão arterial encontra-se baixa, os rins secretam um hormônio
denominado renina, o qual promove a conversão do angiotensinogênio em
angiotensina I. A angiotensina I, através da ação da enzima conversora de
angiotensina (ECA), é convertida em angiotensina II, a qual promove a
secreção de aldosterona pela glândula suprarrenal, promovendo o aumento
da reabsorção de sódio e água e com isso um aumento na pressão arterial.

MANUTENÇÃO DO EQUILÍBRIO OSMÓTICO E HIDROELETROLÍTICO

 Os rins realizam o processo de manutenção osmótica e hidroeletrolítica


através da secreção de duas sustâncias. A aldosterona, é um hormônio
liberado pela glândula suprarrenal, com o intuito de promover a reabsorção
de sódio e água. Ela possui vários receptores ao longo dos túbulos renais,
atua principalmente no ducto coletor. No entanto, ela pode atuar tambpem
na alça de Henle, dessa forma, na porção descendente, ativa receptores
denominados de aquaporinas, os quais serão os responsáveis pela
recaptação de água, enquanto que na porção ascendente, ativa os receptores
NKCC2, os quais serão responsáveis pela recaptação de solutos,
principalmente, sódio. Outra substância é o ADH (hormônio anti-diurético)
ou vasopressina, um hormônio produzido no hipotálamo e liberado pela
neurohipófise com o intuito de promover a reabsorção de água, através do
aumento na expressão de aquaporinas nos ductos coletores. Ambas as
substâncias, reduzem o volume urinário, diminuindo a pressão osmótica.

DESORDENS RENAIS

DESORDENS GLOMERULARES

 Provocam mudanças na permeabilidade da barreira de filtração glomerular.


 Proteinúria elevada constitui a característica básica das glomerulopatias e
indica comprometimento na capacidade do capilar glomerular em reter as
macromoléculas do plasma (proteínas). O segundo sinal mais comum de
glomerulopatia é a presença de hemácias, piócitos e cilindros celulares no
sedimento urinário; encontra-se associado à inflamação glomerular
 EX: Síndrome Nefrótica

DESORDENS TUBULARES
 Provocam distúrbios na reabsorção e secreção de substâncias ao longo dos
túbulos renais.
 Ex: Síndrome de Fanconi

INSUFICIÊNCIA RENAL

 INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA (IRA)  é uma condição onde se observa uma


redução rápida e temporária da função renal, resultando em perda do
controle hidroeletrolítico e ácido-básico. Geralmente é irreversível. Pode ser
classificada da seguinte forma:
 IRA Pré-renal: ocorre como uma resposta fisiológica do rim à
diminuição da perfusão sanguínea, ou seja, é resultante de uma
redução do volume efetivo de sangue arterial. Isso acontece por causa
da insuficiência cardíaca com débito cardíaco reduzido ou diminuição
do volume vascular provocado pela depleção de sódio ou perda
sanguínea. As principais causas são sepse, choques hemorrágicos,
desidratação grave, descompensação cardíaca.
 IRA Renal: pode ter origem isquêmica ou nefrotóxica – principais
causas: doenças glomerulares e necrose tubular aguda (NTA).
 IRA Pós-renal: ocorre devido a presença de algum tipo de obstrução –
principais causas: hiperplasia prostática, tumores de bexiga, e
cálculos renais em ureter ou uretra.
 INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA (IRC)  Pode resultar de muitas etiologias
diferentes e descreve a existência de uma insuficiência renal avançada e, em
geral, de desenvolvimento gradual, progressiva, e irreversível. É
diagnosticada quando a velocidade de filtração glomerular está
significativamente reduzida por no mínimo de 3 a 6 meses. É uma condição
em que se verifica uma destruição progressiva e irreversível do tecido renal.
Nessas condições, o paciente apresenta comprometimento hidroeletrolítico
e ácido-básico, bem como, alterações hormonais (baixa produção de
eritropoietina, renina, e vitamina D). O tratamento da IRC consiste em
hemodiálise e, posteriormente pode evoluir para o transplante renal.
AVALIAÇÃO LABORATORIAL

MARCADORES CLÁSSICOS DE FUNÇÃO RENAL

 CREATININA SÉRICA - marcador, proveniente do metabolismo da creatina, bastante


utilizado na avaliação da função renal, no entanto seus níveis só se alteram quando
cerca de 30 a 50% da função renal já está comprometida. Além disso, os valores de
creatinina podem variar em função do sexo, idade, massa muscular, situação
nutricional, peso corporal, tipo de dieta e estado de hidratação do indivíduo.

 A diminuição abrupta do ritmo de filtração pelos rins determina o aumento


da cretinina no sangue

 CLEARENCE DE CREATININA – é o teste que melhor descreve a função renal


pois compara a concentração de creatinina no sangue com a concentração de
creatinina presente em uma amostra de urina de 24 horas. Sendo assim,
corresponde ao volume de plasma no qual a creatinina é completamente
eliminada pelos rins, por unidade de tempo.

OBS: O clearence de creatinina é mais fidedigno, para avaliar a função renal, do que
a determinação da creatinina sérica. O que se verifica na prática clínica é que a
creatinina sérica é solicitada nos casos de triagem diagnóstica, enquanto que o
clearence de creatinina é solicitado quando é notada alteração na concentração de
creatinina sérica, elevação na concentração de proteínas na urina, ou para auxiliar
no diagnóstico e monitoramento de pacientes com doenças renais.

 URÉIA SÉRICA – marcador, proveniente do metabolismo da amônia, bastante


utilizado na avaliação da função renal juntamente com a creatinina sérica.
 PROTEINÚRIA DE 24H - marcador bastante utilizado na triagem, diagnóstico
e monitorização de doenças renais. Dependendo do tipo de proteína mais
encontrada, a proteinúria pode ser classificada em glomerular – quando a
proteína mais expressa é a albumina, ou tubular – quando a proteína mais
expressa é algum tipo de globulina.

NOVOS BIOMARCADORES DE FUNÇÃO RENAL

 Tem como principal objetivo indicar o surgimento de lesões renais em


estado precoce, no entanto, devido ao elevado preço, estão restritos ao uso
em pesquisas clínicas.
 CISTATINA C – é um inibidor de proteases que pode ser utilizado como
substituto da creatinina para estimar a taxa de filtração glomerular.
 MICROALBUMINÚRIA – marcador precoce de lesão glomerular.
 KIM 1 e NGAL – glicoproteínas expressas precocemente pelas células do
epitélio tubular proximal, na presença de lesão renal.
 IL 18 – citocina pró-inflamatória liberada precocemente pelas células do
epitélio tubular distal e ducto coletor em resposta à lesão renal. MCP 1 –
potente quimiocina produzida pelas células renais em resposta à lesão.

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