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módulo
história da arte –
educação 2 16
AUTORES DO PROJETO
Terezinha Maria Losada Moreira Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
AUTORAS DO MÓDULO
COORDENADORES DO CURSO
módulo
história da arte –
educação 2 16
EQUIPE EDITORIAL
Conselho editorial: Eny Arruda
Izabel Costa
Lilian Ucker
Maria de Fátima Burgos
Nely Matter
Suzete Venturelli
FICHA CATALOGRÁFICA
07 INTRODUÇÃO
43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
72 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Unidade 1
O Lugar da Arte-Educação no
Brasil Contemporâneo
Luciana Hartmann
INTRODUÇÃO
Antes de iniciar nosso percurso pela segunda etapa
da história da Arte-Educação no Brasil, quero saudá-
los e desejar a todos uma ótima jornada. Espero que
a leitura deste texto produza não apenas novos co-
nhecimentos, mas satisfações, inquietações e, sobre- 7
tudo, o desejo de continuar aprendendo, sempre.
10 1
Idéia bastante difundida a partir do final do século XIX e consagrada por pen-
sadores como Gilberto Freyre, este “mito” ou “fábula”, no sentido pejorativo,
pretende uma participação igualitária das três raças, européia (português), negra
(escravo africano) e indígena (nativo) na formação da sociedade brasileira.
cessos por parte do docente de arte e sua introdução
no ambiente de ensino-aprendizagem permite maior
riqueza no desenvolvimento das atividades didáticas,
ao mesmo tempo em que democratiza e valoriza o
conhecimento prévio de cada aluno. Nesta proposta,
o aluno deixa de ser visto como uma tabula rasa a ser
preenchida e passa a ser respeitado como um sujei- 11
to que pode compartilhar, dar e receber saberes de
ordens diversas. Como observa Clarice Cohn em seu
livro Antropologia da Criança:
2
PCN-Arte I e PNC-Arte II.
tes níveis, diz respeito à orientação no sentido de
aproximar a vivência do aluno de sua prática em sala
de aula, ou seja, a contextualização dos conteúdos
curriculares de Arte/Teatro de acordo com a realida-
de sócio-cultural dos alunos. Embora partindo desta
necessária contextualização, que permite que os con-
teúdos adquiram significado, os PCN não restringem 13
o processo educacional em Arte a este aspecto, pro-
pondo também que se oportunize aos alunos experi-
ências artísticas diferenciadas, permitindo a amplia-
ção de seu universo de apreciação e a conseqüente
produção de um pensamento crítico.
SAIBA MAIS:
19
3
Para maior aprofundamento na discussão sobre a “operacionalidade” do con-
ceito “pós-dramático” ver FERNANDES, S. (org.), 2008.
pelo contrário, o intuito é de familiarização sobre
um determinado elemento utilizado pela encenação,
para provocar expectativas sobre o espetáculo. (...)
Posterior à ida ao espetáculo, ao se trabalhar com jo-
gos dramáticos, jogos de improvisação, o professor
estará percebendo a recepção do aluno, sob o foco
de captar as impressões, dúvidas, preconceitos, e etc.
22
TEORIAS, MÉTODOS,
TÉCNICAS SOBRE O ENSINO/
APRENDIZAGEM DE TEATRO
Neste momento, adotando como cenário a discussão
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introdutória feita no texto sobre o lugar da Arte-
educação no Brasil contemporâneo e a reflexão so-
bre os Parâmetros que regem os currículos escolares
da área de Arte na atualidade, trataremos mais es-
pecificamente das teorias e propostas metodológicas
desenvolvidas a partir de processos criativos reali-
zados por artistas, docentes e pesquisadores, como
jogos improvisacionais, jogo teatral, jogo dramático,
peça didática, pedagogia do oprimido, drama como
método de ensino, etnocenologia, antropologia tea-
tral e os estudos da performance. Estas não esgotam
Para principiantes
Se as crianças forem inexperientes comece construin-
do uma história ou situação com idéias reunidas en-
tre as crianças e as suas; essas naturalmente serão
“mais velhas” do que as mostradas nos exemplos do
curso primário.
Exemplo – Alguém sugeriu uma estação ferroviária:
Jogo da bola:
hh Introdução do exercício: o grupo é dividido em dois,
um que joga e outro que observa. O primeiro grupo
que sobe ao palco decide sobre o tamanho da bola
(imaginária) e, depois, os membros jogam a bola de
um para o outro. Uma vez começado o jogo, o profes-
sor-diretor dirá que a bola terá vários pesos.
hh Ponto de concentração: no peso e no tamanho da bola
hh Instrução: A bola é cem vezes mais leve! A bola é cem
vezes mais pesada! A bola é normal novamente!
hh Avaliação: todos os jogadores se concentraram no peso
da bola? Eles mostraram ou contaram?
Pontos de observação:
29
Hipnotismo colombiano
4
Inês Marocco (1996), professora do Programa de Pós-Graduação em Artes Cêni-
cas da UFRGS, vem desenvolvendo pesquisas nessa linha há mais de dez anos,
buscando, na lida campeira dos peões (o laçar, o pealar, o domar, etc.) e na trova,
uma análise do “gesto espetacular na cultura gaúcha”.
5
Bião ainda acrescenta a esses três conjuntos ou subgrupos a condição de serem,
respectivamente, objetos substantivos, adjetivos e adverbiais. Para um maior apro-
fundamento nesta nova classificação sugerida pelo autor, ver Bião (2007).
Essas experiências vão ocorrer especialmente nas
reuniões anuais da ISTA, que envolvem workshops,
demonstrações e finalizam com o Theatrum Mun-
di, espetáculo onde artistas de diferentes culturas
e técnicas de performance contracenam (Skeel,
1994), e também nas trocas, nas quais os atores do
Odin Teatret, grupo dirigido por Barba, comparti-
lham suas técnicas de performance com comunida-
des de diversas partes do mundo. Barba vai argu-
mentar sobre as trocas (1991: 104): “Todos podem
dançar suas próprias danças e cantar suas próprias
canções. Aqui não existe um momento estético do
espetáculo, não existe por um lado os profissionais
que cantam, dançam e recitam e, por outro lado,
pessoas que passivamente os observam e os con-
sideram como especialistas da música, da dança e
do recital. É esta nossa ‘troca’. Não renunciamos ao
que era nosso, eles não renunciam ao que era de-
les. Definimo-nos reciprocamente através de nosso
patrimônio cultural.”
6
Há uma sutil diferença, no entanto, entre a escola norte-americana dos Per-
formances Studies, desenvolvidos por Schechner, e a Etnocenologia francesa de
36 Pradier: enquanto esta focaliza o caráter êmico e individualizado das representa-
ções, aquela, ainda que também considere suas atribuições êmicas, volta-se, numa
perspectiva intercultural, para estudos comparativos, vislumbrando universais do
comportamento humano.
Considerando que os performance studies envol-
vem diversas artes, atividades e comportamentos,
Schechner organiza as atividades performativas da
seguinte maneira (1992: 273): de acordo com a re-
lativa “artificialidade” da atividade ou gênero, de
acordo com a necessidade de treinamento formal,
de acordo com o relacionamento entre “espaço 37
teatral” e “evento teatral” e de acordo com o sta-
tus social e ontológico de quem está atuando e
de quem está sendo representado. Mas, segundo
o próprio Schechner, sua taxonomia é falha, pois
freqüentemente uma performance mistura ou ex-
clui algumas destas categorias:
Performance não é fácil de definir ou localizar:
conceito e estrutura tem espalhado-se para todos
os lugares. É étnico e intercultural, histórico e a-
histórico, estético e ritual, sociológico e político.
7
Tradução da autora.
A PEDAGOGIA DO TEATRO –
UMA NOVA CATEGORIA PARA
NOVAS DEMANDAS
42
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
ARANTES, Luiz Humberto Martins; MACHADO, Irley
(orgs.). Perspectivas teatrais – o texto, a cena, a pes-
quisa e o ensino. Uberlândia/MG, EDUFU, 2005.
43
ARAÚJO, José Ricardo da Silva. A dimensão pedagó-
gica do teatro: reflexões sobre uma proposta meto-
dológica. Mestrado (Educação), Maceió, 2006.
44
_____ Pedagogia do Teatro e Teatro na Educação. In:
Congresso Nacional da Federação de Arte-Educadores
do Brasil - trajetória e políticas do ensino de artes no
Brasil. – Rio de Janeiro: FUNARTE : Brasília : FAEB, 2006.
Bibliografia complementar:
O que é um espectador?
Dos modos de constituir-se
dentro e fora da aula de teatro
Taís Ferreira
48
INTRODUÇÃO OU O QUE O
ESPECTADOR TEM A VER COM
AS AULAS DE TEATRO?
Aprende-se a ser espectador? A escola nos ensina a
49
sermos espectadores? A aula de teatro ensina a ser
espectador de teatro? É preciso aprender algo para
ser espectador? Onde, então, aprende-se a ser espec-
tador? Que espaços-tempos e artefatos são esses que
contemporaneamente crianças e jovens usufruem e
nos quais constituem suas identidades, suas subjetivi-
dades e seu repertório de “espectar”?
Unidade 2 – O que é um espectador? Dos modos de constituir-se dentro e fora da aula de teatro
rosa” (não há cobertura da mídia, nem fotos, nem
livros de história, nem críticas sobre espectadores,
ainda que se reconheça o crítico como “espectador
privilegiado”), ou seja, da parte minorada do todo
que é o acontecimento teatral? E, por conseguinte:
qual a pertinência de refletir acerca de ser especta-
dor nos processos de ensino-aprendizagem teatral?
Unidade 2 – O que é um espectador? Dos modos de constituir-se dentro e fora da aula de teatro
xx entender o teatro, a produção cultural para crian-
ças e jovens, como parte de um circuito cultural de
produção, circulação e consumo, contextualizan-
do-o sócio, econômica e culturalmente ;
8
Para tal fim, ver as publicações do professor e pesquisador Flávio Desgranges,
que desenvolve estudos acerca da “pedagogia do espectador”.
A PRODUÇÃO TEATRAL
PARA CRIANÇAS E JOVENS
NA CONTEMPORANEIDADE:
TEATRO COMO PRODUTO NO
CIRCUITO DA CULTURA9
9
O modelo de circuito da cultura a partir do qual discorro nestes escritos é aquele
52 apresentado por JOHNSON no artigo “O que é, afinal, estudos culturais?” (1999).
10
Todas as fotografias que ilustram este artigo são de espetáculos da Cooperativa
de Artistas Teatrais Oigalê, de Porto Alegre/RS, e seu uso foi gentilmente autorizado
pelo grupo. Maiores informações em: <http://www.oigale.com.br/index.htm>.
registros de platéias formadas por pessoas de todas
faixas etárias. Enfim, até o século XX, crianças, jovens
e adultos iam juntos ao teatro, não havia uma produ-
ção específica direcionada à infância e à juventude,
o que não significa que estas não freqüentassem as
praças públicas e salas de espetáculos.
53
Ariès (1991) exemplifica vários aspectos da invenção
da infância moderna, ou seja, da construção cultural
(e não biológica ou imanente à raça humana) ocor-
rida em meados dos séculos XVI e XVII e que fez da
infância uma fase particular da vida, marcada pela
instituição de determinadas características posterior-
mente consideradas inerentes à condição infantil.
Unidade 2 – O que é um espectador? Dos modos de constituir-se dentro e fora da aula de teatro
vos que buscam entendê-lo, capturá-lo e discipliná-
lo. Em certos momentos, pode-se perceber a presen-
ça das crianças em manifestações artísticas e lúdicas,
que estas compartilhavam com os adultos. Narra-se
o teatro de bonecos, o teatro feito por atores e a
dança como elementos presentes na vida do peque-
no aristocrata.
Unidade 2 – O que é um espectador? Dos modos de constituir-se dentro e fora da aula de teatro
que permitem pensar a existência de um campo do
teatro infantil.
Unidade 2 – O que é um espectador? Dos modos de constituir-se dentro e fora da aula de teatro
consensual. Efeitos tecnológicos especiais, além da
iluminação tradicional, têm sido regularmente utili-
zados; tentativas por vezes infelizes de plagiar meios
audiovisuais como a televisão e o cinema. Elemen-
tos como a música e a dança parecem ser integrantes
das características dos artefatos do campo do teatro
infantil, se pensarmos na freqüência com que apare-
cem nas cenas.
58
Cumpre notar que, para além da proposta de ser um
espetáculo abertamente didático, a estética dos figu-
rinos e elementos cênicos, que podem ser observados
na foto acima, também segue algumas características
da produção teatral infanto-juvenil levantadas ante-
riormente neste texto.
Unidade 2 – O que é um espectador? Dos modos de constituir-se dentro e fora da aula de teatro
em muitos casos, com forte apelo comercial: se há
anjos nas novelas televisivas, surgem espetáculos
com estes personagens; o mesmo aconteceu nos úl-
timos anos com gnomos e vampiros, ambos perso-
nagens de novelas veiculadas com grande audiência
e sucesso, principalmente entre as crianças e jovens.
Isso sem falar nos contos de fada, personagens de
desenhos animados e nas temáticas “adolescentes”
como a drogadição, problemas familiares e a sexu-
alidade (como se esses fossem os únicos assuntos de
interesse dos jovens!).
60
PEDAGOGIAS CULTURAIS:
ESPAÇOS-TEMPO ONDE SE
APRENDE (TAMBÉM) A SER
ESPECTADOR
61
Há, nos dias de hoje, vários espaços-tempo de apren-
dizagem. A escola perdeu seu posto de “rainha abso-
lutista” dos processos de ensino-aprendizagem: isso
é o que nos apresentam os diversos olhares sobre as
pedagogias culturais. Nestes espaços-tempo e com os
artefatos culturais não somente se aprende os conte-
údos dos currículos escolares, mas se aprende, atra-
vés da apropriação e naturalização de determinados
discursos e práticas, formas de ser e estar no mundo
contemporâneo. Modos de ser menino ou menina,
homo ou heterossexual, velho ou jovem, bonito ou
Unidade 2 – O que é um espectador? Dos modos de constituir-se dentro e fora da aula de teatro
feio, preto, pardo, branco ou amarelo, brasileiro ou
alemão, professor ou advogado, gordo ou magro,
feliz ou deprimido, entre as infinitas possibilidades
identitárias e de subjetivação contemporâneas.
62
MEDIAÇÕES OU AQUILO
TUDO QUE ESTÁ ENTRE O
PALCO E A PLATÉIA
Se o espectador é compreendido, contemporanea-
63
mente, como parte ativa (e absolutamente necessá-
ria) dos processos de recepção, é importante pensar
o que é um espectador encaminhando a discussão
para uma outra pergunta: como se constitui um es-
pectador? Como a aula de teatro pode (e deve) ser
um espaço de constituição de espectadores (mais do
que de formação, ousaria dizer)?
Unidade 2 – O que é um espectador? Dos modos de constituir-se dentro e fora da aula de teatro
o acontecimento teatral em si, que se dá no espaço-
tempo único da interação, da comunhão, que linhas
são essas, que medeiam, transformam, constituem
e determinam os processos de recepção, estes sim
acontecendo mesmo antes e também excedendo o
próprio momento (instante) efêmero do aconteci-
mento teatral?
Ç
Ç
Escola, família,
Ç Ç
Condições do
mídia, etc momento de recepção
Ç
ESPECTADOR
Ç
Características
Ç
Unidade 2 – O que é um espectador? Dos modos de constituir-se dentro e fora da aula de teatro
proposições direcionadas a uma “educação para os
meios” na América Latina.
67
Unidade 2 – O que é um espectador? Dos modos de constituir-se dentro e fora da aula de teatro
Figura 5. Jovens e É em um processo de negociação e tensão entre as
suas reações ao Diabo representações veiculadas nas diversas instâncias de
de “Deus e o Diabo na suas experiências que o receptor confere significados
Terra de Miséria”, da e atribui determinado sentido a elas. E este sentido,
Cooperativa de Artistas em articulação com outros sentidos e significados
Teatrais Oigalê. Crédito (que compõem o repertório único de cada indivíduo),
da fotografia: Kiran.
constituirá, culturalmente, os sujeitos espectadores.
Unidade 2 – O que é um espectador? Dos modos de constituir-se dentro e fora da aula de teatro
relacionarmos com artefatos culturais nas mais dife-
rentes linguagens, constituindo-nos como múltiplos
espectadores na contemporaneidade. E esta foi uma
das intenções deste artigo até o presente momento.
10
PCN para as séries iniciais do Ensino Fundamental, PCN para as séries finais do
70 Ensino Fundamental, Orientações Curriculares para o Ensino Médio, PCN para o
Ensino Médio e PCN+ para o Ensino Médio (linguagens e suas tecnologias), todos
os documentos disponíveis na página do MEC: <http://portal.mec.gov.br/ >. Acesso
em 22 de novembro de 2009.
se a propiciar um espaço para experiências práticas
no fazer teatral (jogos, improvisações e pequenas en-
cenações, geralmente)?
Unidade 2 – O que é um espectador? Dos modos de constituir-se dentro e fora da aula de teatro
bém como ensinamos a ensinar teatro nos cursos
de licenciatura das universidades brasileiras. Lanço
a pergunta com o desejo de que suscite idéias em
quem a estiver lendo. Lanço a pergunta para que,
como pergunta, desdobre-se produtivamente atra-
vés de quem sentir-se questionado.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
ABRAMOVICH, Fanny. O estranho mundo que se
mostra às crianças. São Paulo: Summus, 1983.
Unidade 2 – O que é um espectador? Dos modos de constituir-se dentro e fora da aula de teatro
ção e Realidade, v.22, n.2, 1997. p. 15-46
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ANOTAÇÕES