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ZORDAN, E. P.
DELLATORRE, R.
WIECZOREK, L.
importantes pelas quais solicita ajuda neste as que se relacionam com a manutenção de
momento, desde quando estas situações estão uma comunicação adequada para o desen-
incomodando, quais as tentativas realizadas volvimento da entrevista e as que se referem
para resolvê-las, que resultados busca como ao uso de técnicas específicas de interven-
finalidade do tratamento, que problemas ção durante a mesma. Aqui serão descritas
médicos, cirurgias e acidentes sérios teve. as primeiras, isto é, as habilidades gerais
Também há uma lista de aspectos que a para a manutenção da entrevista: empatia/
pessoa terá que informar, os quais têm a ver conexão emocional (escuta ativa, reflexão
com a condição atual (esta relação inclui, de sentimentos e transmissão de interesse
entre outros, aspectos profissionais, sociais, genuíno pelo que diz e expressa cada membro
econômicos, sexuais, de saúde). Outro item da família), autenticidade/credibilidade
compreende informações sobre tratamentos (mostrar sinceridade e espontaneidade,
prévios (ano, lugar, duração, tipo, resultados), aplicar os procedimentos profissionais de
uso de medicações e doses, serviços sociais forma natural e adequada ao momento que
implicados e o genograma. vivem), clareza na comunicação (uso de
Outros autores, embora não sigam o linguagem adaptada, assegurando-se de que
todas as perguntas, explicações ou sugestões
preenchimento de uma ficha, destacam o
são compreensíveis para cada elemento da
objetivo do telefonema inicial: obter uma
família), ritmo adaptado ao cliente (ter em
visão geral do problema apresentado e fazer
mente que o contexto e os profissionais são
com que venha toda a família para a consul-
uma experiência nova para eles, o ritmo da
ta. Para tal, seguem um roteiro que envolve
entrevista deve acompanhar as possibilida-
a descrição do problema e como este afeta
des deles) estímulo para que o cliente fale
todos os membros da família. Esse primeiro
(é muito importante estimular que todos e
telefonema é dado para a pessoa que fez o
cada um dos componentes da família falem
pedido, esclarecendo o que está acontecendo,
e expressem seus pontos de vista e opiniões),
quem quer o atendimento, quais as pessoas
estrutura a informação (geralmente a infor-
envolvidas e quais são os membros da fa-
mação inicial que a família traz é contraditó-
mília. Se necessário, já no telefonema será
ria ou desestruturada, o entrevistador deve
redefinido o pedido e o enquadre (NICHOLS focar a entrevista no que é mais importante,
e SCHWARTZ, 2007; ROSSET, 2008). oferecendo um guia para fornecer informa-
Esta coleta de informações prévias é ção útil) e controle das emoções/conflito
coerente com os pressupostos teóricos por (o entrevistador deve ser capaz de criar um
possibilitar uma visão ampliada do sistema equilíbrio entre a expressão necessária das
familiar e a construção de uma hipótese sobre emoções por parte dos membros da família
a estrutura e o funcionamento da família, per- e a possibilidade de trabalhar coletivamente,
mitindo que, na sessão, o entrevistador possa avançando no processo).
estar mais atento ao processo de comunicação Assim, esta primeira entrevista tem como
que ocorre. Assim, após o registro desses objetivo criar uma aliança com a família e
dados, no final do telefonema é marcada a desenvolver uma hipótese sobre o que man-
primeira entrevista com todos os membros tém o problema apresentado, bem como testar
da família nuclear. aquela criada a partir do telefonema inicial.
Na entrevista propriamente dita, Lopez Para estabelecer a aliança com a família, o
e Escudero (2003) destacam que podemos terapeuta inicia se apresentando para quem
diferenciar dois tipos de habilidades técnicas: fez o contato e depois aos outros adultos, pe-
dindo para os pais que apresentem os filhos, condutas, de analisar sintomas a analisar as
cumprimentando a cada um com um aperto mensagens implícitas nestes sintomas e de
de mão. Neste contato inicial e apresentação investigar as causas a reestruturar modelos
fica explicitada a relação hierárquica em que de interação.
adultos têm mais poder e responsabilidade. Considerando sua experiência com terapia
Após o terapeuta mostra a sala e expõe a familiar na Espanha, Ochoa de Alda (2004)
duração e objetivos da sessão. propõe um modelo de entrevista criado para
Visando contemplar os aspectos teóricos contextos privados, porque requer tempo e a
mencionados, os terapeutas familiares norte- possibilidade de trabalhar com uma equipe
americanos Nichols e Schwartz (2007) apre- atrás de um espelho unidirecional. Ela esti-
sentam uma lista de verificação da primeira pula cinco etapas importantes da entrevista: a
sessão que inclui dez itens: 1) Fazer contato pré-sessão, a sessão, as pausas, a intervenção
com cada membro da família e reconhecer e a pós-sessão.
seu ponto de vista em relação ao problema A pré-sessão compreende o período an-
e seus sentimentos em relação à terapia; 2) terior ao início da entrevista com a família,
Estabelecer liderança, controlando a estrutura quando a equipe se reúne durante 15 a 20
e o ritmo da entrevista; 3) Desenvolver uma minutos para discutir as informações obtidas
aliança de trabalho com a família, equilibran- no contato telefônico. A finalidade é criar
do simpatia e profissionalismo; 4) Elogiar as hipóteses sobre o que pode estar acontecendo
pessoas por ações positivas e forças familia- no sistema familiar e em torno do sintoma,
res; 5) Ser empático com cada membro da para que se possa planejar a sessão, especi-
família e demonstrar respeito pela maneira ficando as estratégias que serão seguidas,
da família de fazer as coisas; 6) Focar pro- os temas que serão abordados e a ordem de
blemas específicos e as soluções tentadas; aparecimento, bem como as perguntas a se-
7) Desenvolver hipóteses sobre interações rem realizadas para cada membro da família.
prejudiciais em torno do problema apresenta- A segunda etapa, denominada sessão,
do. Investigar porque elas persistem; 8) Não dura 50 ou 90 minutos, e o terapeuta começa
ignorar o possível envolvimento de membros definindo o contexto terapêutico, explicando
da família, amigos ou auxiliares que não estão sobre as condições sociais e sobre as técnicas
presentes; 9) Negociar um contrato de trata- que serão utilizadas durante as sessões, assim
mento que reconheça os objetivos da família como esclarece possíveis dúvidas e firma
e especifique como o terapeuta vai estruturar um primeiro contrato verbal sobre essas
o tratamento e 10) Estimular perguntas. condições. Posteriormente apresentará um
Por sua vez, Ríos-González (1993) des- contrato escrito com todos os aspectos da
taca que na primeira entrevista deve ficar terapia, o que vai ser trabalhado, as técnicas a
estabelecido que o trabalho terapêutico será serem utilizadas, sigilo, honorários, horários,
realizado com esse sistema familiar, não só número de sessões e sobre o uso de filmagem
através da verbalização, mas de métodos durante o tratamento, se for o caso, o qual
ativos e dinâmicos que ponham em jogo as será assinado por todos os componentes da
interações. A proposta é trocar o esquema família.
linear tradicional pelo esquema circular re- Ainda na sessão, após definir as regras
troalimentador, que compreende os seguintes de trabalho, o objetivo do terapeuta consiste
passos: passar do indivíduo ao sistema, dos em orientar a entrevista para obter informa-
conteúdos aos processos, de interpretar a ções que vão confirmar ou não as hipóteses
prescrever, de buscar origens a compreender levantadas durante a pré-sessão. O procedi-
mento terapêutico abrange perguntas linea- Durante as pausas, o terapeuta deixa a sala
res e circulares, redefinições e conotações onde a família permanecerá e vai se reunir
positivas em relação às informações que as com a equipe para discutir sobre as informa-
pessoas da família trazem para a sessão. As ções que foram tratadas por eles e verificar se
perguntas lineares são usadas no começo da as hipóteses se confirmam ou não.
entrevista para o terapeuta orientar-se sobre A quarta etapa, intervenção, geralmente
o que ocorre em torno do sintoma e, assim, acontece no final de cada sessão. Após rea-
aproximar-se da família através de seus pon- lizar a última pausa, o terapeuta tenta gerar
tos de vista. Exemplos: qual é o problema? com a família uma mudança comportamen-
Desde quando está acontecendo? Aconteceu tal-cognitiva-afetiva, na forma como eles
alguma coisa que possa explicar seu apa- lidam com o sintoma e no sintoma mesmo.
recimento? Permitem conhecer a definição Os recursos técnicos que podem facilitar
e a explicação da família para o sintoma. esse entendimento compreendem conota-
Com as perguntas circulares o terapeuta ções positivas, redefinições, tarefas diretas
busca mais informações para confirmar ou e paradoxais, rituais e metáforas. As duas
refutar as hipóteses iniciais, sendo que estas primeiras já foram descritas anteriormente.
caracterizam-se por buscar conexões entre As tarefas diretas são técnicas de intervenção
pessoas, ações, percepções, sentimentos e que visam mudar as regras e os papeis do
contextos, apoiando-se nos pressupostos da sistema familiar, incluindo entre elas ensinar
circularidade e da neutralidade. aos pais sobre como controlar os seus filhos,
Em seguida solicita que cada um expresse e estabelecer regras disciplinares. As tarefas
suas percepções sobre as relações e as dife- paradoxais são técnicas de intervenção que
renças entre os componentes do sistema, e contêm uma dupla mensagem, por um lado
este questionamento circular possibilita a se afirma à família que seria bom mudar e
alteração destas percepções. As redefinições por outro que seria bom que não mudasse,
são intervenções que modificam o marco prescreve-se a continuidade da sequência
conceitual desde o qual o paciente ou os de- sintomática por um tempo determinado, com
mais percebem o problema. Já as conotações a finalidade de interromper tal sequência.
positivas orientam a restituir no paciente Os rituais caracterizam-se pela prescrição
e em sua família uma imagem de pessoas de uma série de ações destinadas a mudar
com condições para enfrentar e resolver a as regras de um sistema familiar. Metáforas
situação, de modo que, para isso, o terapeuta ou intervenções metafóricas são técnicas de
qualifica como positivos os aspectos que os intervenção que permitem evitar as estra-
familiares consideram como patológicos ou tégias de tipo relacional que o cliente ou a
negativos. Nas entrevistas posteriores, nesta família podem opor à prescrição do terapeuta,
segunda etapa buscam-se informações sobre revelar-lhes um padrão de interação, ou fazer
as mudanças e o grau de cumprimento das com que os mesmos descubram a solução do
tarefas sugeridas pela equipe terapêutica. seu problema.
A terceira etapa são as pausas, que têm Na fase da pós-sessão, a equipe se reúne
como objetivo proporcionar um tempo para entre 5 a 15 minutos para analisar a resposta
que o terapeuta desvincule-se deste ambiente, da família à intervenção, observando tanto o
retornando à sessão com um olhar menos feedback verbal quanto o não-verbal, confor-
parcial sobre a família. Em cada entrevista o me propõe o quarto axioma da comunicação.
terapeuta faz duas pausas, a primeira é de 5 a É também o momento de fazer predições so-
10 minutos e a segunda é de 10 a 30 minutos. bre como a família reagirá durante o intervalo
vários membros da família ampliada envolvi- Assim, consideramos que este embasa-
dos e é importante estender o olhar, a atenção mento teórico e as intervenções propostas
e o cuidado a todos, bem como às interações tais como perguntas lineares e circulares,
que se estabelecem na equipe profissional redefinições, conotações positivas e metáfo-
que presta atendimento direto ao paciente e ras podem ser aplicados a outros contextos,
familiares e ao contexto que envolve todos não se restringindo apenas à Terapia Familiar
os setores do complexo hospitalar. Sistêmica.
AUTORES
Eliana Piccoli Zordan- Doutora em Psicologia pela PUCRS. Professora de Psicologia da Uni-
versidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - Campus de Erechim. Email:
epzordan@uri.com.br.
Rochele Dellatorre - Acadêmica do 10º semestre do Curso de Psicologia da Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões- Campus de Erechim. Email: rochele.
psico@hotmail.com
Lúcia Wieczorek - Acadêmica do 10º semestre do Curso de Psicologia da Universidade Re-
gional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - Campus de Erechim.
REFERÊNCIAS