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HIPNOTERAPIA COGNITIVA

Faculdade de Minas
Sumário

INTRODUÇÃO................................................................................................. 4

TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL ................................................ 7

INTERFACE ENTRE A TCC E A HIPNOTERAPIA ....................................... 13

TCC E HIPNOSE COMO ALIADAS ............................................................... 17

A PRÁTICA DA HIPNOSE NA PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL............ 21

REFERÊNCIAS ............................................................................................. 27

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários,


em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-
Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo
serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação
no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua.
Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que
constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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INTRODUÇÃO

Historicamente, a hipnose tem sido empregada de forma inadequada,


principalmente no que se refere ao advento da psicoterapia. Por isso ainda hoje,
muitas vezes, pode-se dizer que a sua utilização é percebida de maneira pouco
receptiva, inclusive perante a comunidade científica. Entretanto, no Brasil, desde que
conduzido de maneira ética, o uso da hipnoterapia é aprovado e regulamentado pelo
Conselho Federal de Psicologia (CFP) como ferramenta auxiliar no trabalho do
psicólogo, conforme disposto pela Resolução nº 013/00.

No que diz respeito ao âmbito internacional, atualmente, diversas pesquisas e


estudos empíricos estão sendo desenvolvidos, objetivando o aprimoramento e a
desmistificação da técnica. Nesse sentido, a utilização de sessões de hipnose nos
processos terapêuticos envolvendo transtornos alimentares, de ansiedade, sono,
depressão, fobias e o uso de substâncias, principalmente, tem apresentado
resultados significativos.

A Hipnoterapia Cognitiva é uma técnica coadjuvante em psicoterapia, que


engloba aspectos da hipnose clínica e da abordagem cognitivo-comportamental para
o tratamento das psicopatologias. Trata-se de uma metodologia desenvolvida
recentemente, de caráter integrativo, e que tem auxiliado efetivamente no
esbatimento de sintomas específicos e na resolução de diversos problemas.

O processo da hipnoterapia cognitiva envolve o trabalho com diferentes


crenças e estratégias comportamentais, numa associação entre a hipnose clínica com
a Terapia Cognitiva tradicional e/ou a Terapia do Esquema. Através de técnicas
próprias e o uso de imagens mentais, o paciente é levado a confrontar crenças
disfuncionais e a desenvolver estratégias de enfrentamento mais adaptativas e
eficazes.

Com isso, espera-se diminuir a intensidade do sofrimento manifestado pelo


sujeito, otimizando o processo terapêutico. Da mesma forma, com a hipnoterapia
cognitiva, objetiva-se promover a prevenção de recaídas e o aumento da qualidade

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de vida, tornando a abordagem uma terapêutica complementar eficaz no tratamento
de diversas psicopatologias.

Os primeiros registros sobre a hipnose datam de 1500 AC no Egito. Apesar de


sua longa história, seu uso clínico com frequência é confundido com o que os
pesquisadores chamam de “hipnose de palco”, o que tem alimentado mitos e
distorções sobre seu caráter terapêutico. Objetivos. Apresentar a hipnose como uma
técnica dentro do contexto clínico, discutindo suas aplicações e os resultados
empíricos, sendo abordadas as diferenças entre este uso particular e o que
equivocadamente se divulga fora do contexto acadêmico.

A hipnose é um processo que envolve extremo foco atencional em que, por


meio da autoindução e técnicas diretivas de relaxamento, o paciente é levado a um
estado de profundo relaxamento, chamado transe hipnótico. Este estado, com a
atmosfera relaxada e facilitadora da introspecção pessoal, torna possível uma
interação cooperativa para que responda às sugestões do hipnotizador, quando
ocorre um rebaixamento da crítica que permite com que o paciente fique mais
suscetível a comandos verbais para alcançar objetivos terapêuticos pré-
estabelecidos.

Assim, dentro da psicoterapia, a hipnose utiliza o estado hipnótico para atingir


mudanças na percepção e na memória para o controle de várias funções fisiológicas
normalmente involuntárias. Além disso, o estado hipnótico permite a exploração de
pensamentos negativos dolorosos, sentimentos e memórias bastante profundos e a
percepção vívida e emoções mais intensas, aguçando os sentidos. Suas aplicações
englobam uma série de distúrbios e patologia, como por transtornos de ansiedade,
controle da dor e insônia. Apesar de a hipnose poder estar associada a diversas
abordagens psicoterápicas, ela tem alta compatibilidade com a terapia cognitivo-
comportamental, principalmente porque possuem similaridades metodológicas, seus
pressupostos subjacentes são compatíveis e ambas oferecem técnicas
complementares.

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Embora a hipnose tenha se tornado conhecida por causa de atos populares,
nos quais as pessoas são solicitadas a realizarem ações comuns, esta técnica
também tem sido clinicamente comprovada para proporcionar benefícios
terapêuticos. Com a hipnose associada à TCC é possível potencializar as técnicas
cognitivas e comportamentais, principalmente nos transtornos mentais nos quais a
imagética é a matéria-prima da disfuncionalidade. Desta forma, a hipnose tem se
mostrado uma ferramenta terapêutica coadjuvante útil e versátil, que pode aumentar
a eficácia da terapia cognitivo-comportamental.

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TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL

Para Ferreira (2003), a hipnose já era utilizada desde tempos remotos em


quase todas as culturas, com relatos de seu uso no antigo Egito há mais de 3.550
anos, entre os Caldeus há mais de 2.400 anos e entre os xamãs de diversos povos.
O termo, porém, surgiu bem mais tarde.

Foi James Braid que, em 1842, cunhou a palavra hipnose, derivada da


palavra grega “hypnos”, que significa “sono”. Porém, com o desenvolvimento
e utilização das técnicas de imageamento cerebral e eletroencefalografia, já
se sabe que a hipnose é um estado de consciência diferente do sono, mas
semelhante ao de um relaxamento profundo, onde há redução da atenção
aos estímulos externos e há concentração maior nos processos mentais
(FERREIRA, 2003, p. 16).

A hipnose com finalidade mística fez com que haja até hoje a falsa crença de
um componente mágico. Conforme Faria (1979):

A princípio a hipnose era exercida como se fosse um mito religioso. São


conhecidos hoje os clássicos “templos do sono” do antigo Egito, onde os
sacerdotes usavam o poder hipnótico para tratar os crentes, fazendo-os
adormecerem suavemente e ministrando-lhes passes mágicos. Um baixo
relevo encontrado em um sarcófago de Tebas mostra um sacerdote em pleno
ato de indução hipnótica de um paciente (FARIA, 1979, p. 5).

Foi, porém, com o médico Franz Mesmer, considerado o criador da moderna


era do hipnotismo, que a hipnose começou a ser utilizada de forma mais criteriosa,
visando à cura de pacientes. Diversos pesquisadores, como James Braid, Ambrose-
Auguste Liébault, Hyppolyte-Manie Bernheim, Jean Martin Charcot, Sigmund Freud e
mais recentemente Milton Erickson, dentre outros, a partir dos trabalhos de Mesmer,
buscaram descobrir maiores utilizações para a hipnose.

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Para Freud, “a hipnose confere ao médico uma autoridade como
provavelmente jamais foi possuída pelo sacerdote ou pelo taumaturgo, já que
concentra todo o interesse do paciente na figura daquele” (FREUD, 1905, p. 321).

Com o desuso da hipnose como anestésico depois do advento da anestesia


química, com o descrédito decorrente do abandono da hipnose em favor da
psicanálise e da psicoterapia dinâmico-analítica, e com o aumento das
demonstrações de palco, a hipnose volta ao descrédito científico anterior a Mesmer,
voltando a ser vista como coisa oculta, mágica, misteriosa.

Sob a crítica de que as sugestões hipnóticas desmoronavam e a doença ou


algum substituto dela voltavam, Freud abandona o uso da hipnose. Atualmente, com
os avanços da hipnoterapia, não se busca eliminar os sintomas, mas ir à causa do
problema. No Brasil, o exercício da hipnose por psicólogos é regulamentado pelo
Conselho Federal de Psicologia através da Resolução n. 013/00. Outras profissões
também tem o uso da hipnose regulamentado, como é o caso de fisioterapeutas,
médicos, odontólogos e terapeutas ocupacionais.

Toda comunicação é hipnose. Quando nos emocionamos com cenas de


novelas, filmes ou livros, quando estamos dirigindo, quando assistimos a uma aula ou
debate que nos interessa e o professor é habilidoso, em todos esses momentos nossa
atenção está tão focalizada que nosso estado de consciência apresenta-se alterado.
Ferreira (2011) afirma que:

A hipnose na vida diária ocorre mais frequentemente do que imaginamos, e


contribui para a compreensão de que não é necessária a indução formal para
obtermos a hipnose. No consultório do profissional médico, odontólogo ou
psicólogo, faz-se a indução formal da hipnose para obtê-la no momento
desejado e com finalidades específicas (FERREIRA, 2011, p. 4).
A American Psychological Association (APA) define a hipnose da seguinte
maneira:

A hipnose, tipicamente, envolve uma introdução ao procedimento durante o


qual é dito ao participante que sugestões para experiências imaginativas
serão apresentadas. A indução hipnótica é uma prolongada sugestão inicial
para usar a imaginação, e pode conter outras elaborações da introdução. O
procedimento hipnótico é usado para encorajar e avaliar respostas às
sugestões. Ao utilizar a hipnose, uma pessoa (o participante) é guiada por
outra (o hipnotista) a responder a sugestões de mudanças nas experiências

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subjetivas, alterações nas sensações, percepções, pensamentos ou
comportamento. Pessoas podem também aprender auto hipnose, que é o
ato de administrar procedimentos hipnóticos em si próprios. Se o sujeito
responde às sugestões hipnóticas geralmente é inferido que a hipnose está
sendo induzida. Muitos acreditam que as respostas e experiências hipnóticas
são características de um estado hipnótico. Enquanto alguns pensam que
não é necessário usar a palavra “hipnose” como parte da indução, outros
acham que é essencial. Detalhes dos procedimentos e sugestões hipnóticas
serão diferentes, dependendo dos objetivos do clínico e dos propósitos do
objetivo clínico e dos propósitos do objetivo clínico ou da pesquisa. Os
procedimentos tradicionalmente envolvem sugestões de relaxamento,
apesar do relaxamento não ser necessário para a hipnose e uma variedade
ampla de sugestões pode ser usada, incluindo aquelas para se tornar mais
alerta (tradução do autor) (APA, 2016).

Como hipnose entende-se, portanto, o uso de sugestão e de atenção


focalizada para auxiliar na modificação da percepção, da emoção e/ou do
comportamento. Aparentemente semelhante ao sono fisiológico, a hipnose em muito
deste se difere, o que pode ser comprovado através de eletroencefalogramas (EEG).

Passos e Labate (1998) afirmam que a hipnose se caracteriza

[...]pelo aparecimento espontâneo (ou em resposta a um estímulo verbal, ou


a outro qualquer) de uma variedade de fenômenos que incluem: 1- alteração
da atenção; 2- alteração da memória; 3- aumento da sugestionabilidade; 4-
produção no paciente de ideias e respostas diferentes daquelas do seu
estado mental normal; 5- alterações motoras e sensoriais; 6- aumento na
labilidade dos processos regulados pelo sistema nervoso autônomo
(PASSOS; LABATE, 1998, p. 16).
Alguns aspectos da hipnose são: a pessoa permanece consciente, lembra-se
de tudo ou quase tudo e sintoniza-se com o objetivo. É relevante enfatizar que não é
possível realizar algo que vá contra o código de ética e moral do paciente e que
mesmo que o hipnotista não possa realizar o procedimento de "despertar", o próprio
corpo do sujeito irá despertá-lo naturalmente, em seu próprio tempo.

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Para Ferreira (2013):

As respostas de um paciente à hipnose podem variar com:

1. O tipo de experiência sugerida.

2. O modo como é transmitida a sugestão dessa experiência.

3. O que o paciente espera acontecer durante a hipnose.

4. As condições do paciente em relação ao tipo de experiência solicitada.

5. Diferentes clínicos, e a intensidade do rapport.

6. O ambiente do local onde ocorre a hipnose. (FERREIRA, 2013, p. 16).

A hipnose é uma das técnicas mais eficazes e costuma reduzir o tempo de


tratamento, podendo estar associada a várias abordagens psicoterápicas. Eficaz no
tratamento de fobias, agressividade, ansiedade, depressão, dor, bem como na
melhora da motivação, memória, percepção e atenção, a hipnose pode interferir
positivamente na aprendizagem.

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma abordagem psicológica


baseada em princípios científicos com comprovações empíricas. Baseia-se no
modelo cognitivo, que levanta a hipótese de que as emoções e os comportamentos
das pessoas são influenciados por sua percepção dos eventos. Não é a situação por
si só que determina o que as pessoas sentem, mas a maneira como a situação é
interpretada.

Algumas correntes filosóficas e religiões antigas, como o estoicismo grego e o


budismo já postulavam a influência das ideias sobre as emoções, mas a terapia
cognitiva como abordagem foi desenvolvida por Aaron Beck, no início da década de
60, quando realizava trabalhos com pessoas depressivas. Beck buscou verificar os

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pressupostos psicanalíticos acerca de depressão que dizia que pessoas deprimidas
apresentavam uma hostilidade retrofletida.

Os estudos de Beck o levaram a deparar-se com resultados de outra


natureza: alguns pacientes apresentaram melhoras em resposta a algumas
experiências bem-sucedidas e não resistiram a estas mudanças,
contrariando o esperado. Isso fez com que Beck e demais pesquisadores
iniciassem uma sequência de novos e diversos estudos sobre a depressão,
que passou a ser vista como um transtorno cuja principal característica seria
uma tendência negativa em que a pessoa deprimida apresenta, muito
frequentemente, expectativas negativas com relação ao resultado de seus
comportamentos e uma visão também negativa de si mesma, do contexto
em que está inserida e de seus objetivos (SILBERFARB, 2011, p. 21-22).

Na década de 70, Lang, Rachman e outros desenvolveram a ideia de que um


problema psicológico sob três sistemas ligados entre si: sistema comportamental,
sistema cognitivo/afetivo e sistema fisiológico.

A TCC é uma forma de terapia breve, estruturada e direcionada a resolver


problemas atuais através da modificação de pensamentos e comportamentos
disfuncionais. O cliente e o terapeuta trabalham juntos para identificar e solucionar os
problemas em termos da relação entre pensamentos, emoções e comportamentos.

Os pensamentos automáticos, as palavras ou imagens que passam pela


cabeça da pessoa são específicos à situação e podem ser considerados o nível mais
superficial de cognição. Conforme Beck (1997, p. 87), “pensamentos automáticos são
um fluxo de pensamento que coexiste com um fluxo de pensamento mais manifesto”.

Muitos pensamentos automáticos não nos causam problemas, mas alguns


pensamentos são disfuncionais. Usualmente o tratamento envolve uma ênfase inicial
sobre pensamentos automáticos, que são as cognições mais próximas à percepção
consciente. O terapeuta ensina o paciente a identificar, avaliar e modificar seus
pensamentos, a fim de produzir alívio de sintomas.

Posteriormente, as crenças que estão por trás dos pensamentos disfuncionais


tornam-se o foco do tratamento. Crenças relevantes de nível intermediário e crenças

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centrais são avaliadas e posteriormente modificadas para que as conclusões dos
pacientes sobre eventos e percepções de eventos sejam mais funcionais.

Começando na infância, as pessoas desenvolvem determinadas crenças sobre


si mesmas, outras pessoas e o mundo. Suas crenças centrais são o nível mais
fundamental de crença; elas são globais, rígidas e supergeneralizadas. As crenças
centrais influenciam o desenvolvimento de uma classe intermediária de crenças,
conhecidas como crenças intermediárias, que consiste em atitudes, regras,
expectativas e suposições (frequentemente não conscientemente articuladas).

Beck (1997, p. 147) afirma que “desde o início, no entanto, o terapeuta começa
formulando uma conceituação, que conecta logicamente os pensamentos
automáticos a crenças de nível mais profundo”. A modificação profunda de crenças
mais fundamentais torna os pacientes menos propensos a recaídas. A terapia
cognitiva refere-se, portanto, às crenças disfuncionais, que podem ser
desaprendidas, e às novas crenças mais embasadas na realidade e funcionais, que
podem ser desenvolvidas e aprendidas através da terapia.

Conforme Beck, O modelo cognitivo propõe que o pensamento distorcido ou


disfuncional (que influencia o humor e o comportamento do paciente) seja
comum a todos os distúrbios psicológicos. A avaliação realista e a
modificação no pensamento produzem uma melhora no humor e no
comportamento. A melhora duradoura resulta da modificação das crenças
disfuncionais básicas dos pacientes. (BECK, 1997, p.17)

Assim, o terapeuta ajuda o paciente a modificar seus pensamentos e crenças


disfuncionais (reestruturação cognitiva), influenciando, por conseguinte, suas
emoções e correlatos fisiológicos. O uso da TCC demonstra aplicabilidade eficaz,
segundo estudos controlados, em diversas áreas como distúrbios psíquicos, esporte,
organizações e educação. Além disso, o tratamento a partir da intervenção cognitivo-
comportamental proporciona a manutenção em longo prazo da melhora alcançada.
Para Beck (1997, p. 275), “ao ensinar técnicas e ferramentas a um paciente, o
terapeuta enfatiza que estas são auxílios para toda a vida e que o paciente poderá
usar em diversas situações agora e no futuro”.

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INTERFACE ENTRE A TCC E A HIPNOTERAPIA

A Terapia Cognitivo-Comportamental é um tipo de psicoterapia que se


preocupa com o aqui e o agora. Apesar de reconhecer que coisas que aconteceram
no passado fazem parte da maneira em que a pessoa pensa, sente e se comporta,
foca-se mais nesses pensamentos e comportamentos atuais.

Faz-se uma análise do passado para compreender esses padrões. Estes


podem ter sido aprendidos na infância, ou foram crenças errôneas que, hoje,
influenciam em determinado comportamento. Portanto, a Terapia Cognitivo-
Comportamental quer identificar e corrigir essas formas inadequadas de pensar.
Pretende criar melhores emoções e jeitos mais eficazes de se lidar com os problemas
e as angústias do agora e do futuro.

As emoções e os comportamentos vêm da percepção individual dos eventos.


Não da situação em si, mas da interpretação dela. É uma ótima abordagem que usa
de muitas estratégias cognitivas e comportamentais para tratar transtornos mentais,
como depressão, ansiedade, fobias, traumas, etc.

Existem 3 características dessa terapia que fundamentam a maneira como


funciona. São elas:

1. O pensamento (ou cognição) influencia a emoção. E assim, o comportamento;

2. O pensamento pode ser monitorado e modificado;

3. Ao alterar o pensamento, pode-se, também, alterar o comportamento para algo


mais desejável.

Logo, são os pensamentos que levam à emoção, e, consequentemente, ao


comportamento. E podem ser tão rápidos a ponto do nosso humor mudar e não
sabermos o porquê. E detectar essas ideias não é tão fácil quanto parece!

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O indivíduo que está fazendo a Terapia Cognitivo-Comportamental aprende a:

 Diferenciar entre sentimentos, pensamentos e a realidade;

 Ser consciente de seus próprios pensamentos e comportamentos, e como


esses influem nos sentimentos;

 Desenvolver a capacidade de perceber-se, de dominar e superar os


pensamentos automáticos;

 Avaliar a autenticidade desses pensamentos automáticos.

Conforme Aaron Beck, psiquiatra, antes psicanalista, criador da Terapia


Cognitiva comportamental, nossas emoções e nossos comportamentos são
diretamente influenciados pelas cognições, pelos nossos pensamentos. O tratamento
identifica erros de pensamentos ou distorções cognitivas e através de técnicas ajuda
o paciente a mudar a visão sobre si, na relação com as pessoas, com o mundo e com
seu futuro.

Na hipnoterapia conseguimos associar imageticamente pensamentos,


emoções e cenários (situações). Os terapeutas cognitivos têm como hábito
operacional perguntar ao cliente “o que você estava pensando naquele momento”? A
maioria das vezes a resposta é “não lembro”. Se você mudar a pergunta a resposta
será outra. Pergunte ao cliente “o que você estava imaginando naquele momento”?
O imaginar contempla um espectro mnemônico, um universo de memórias muito
maior, daí fica mais fácil o sujeito identificar um pensamento quando a matéria prima
é uma imagem mental. Seria uma identificação de pensamentos automáticos por
imagem mental, característica da hipnoterapia como coadjuvante. Lembre-se que
numa imagem mental a vivificação e ativação de sentidos são maiores.

O maior objetivo na TCC é a mudança de crenças centrais, as quais os


pensamentos, como cognições mais superficiais representam. Várias técnicas
representam esta estratégia como a Flecha Descendente e outras. Na hipnoterapia

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colocamos o paciente em relaxamento profundo e este tem a propriedade de acionar
a Hipermnésia, aumento da capacidade de evocarmos memórias de difícil acesso a
consciente, mesmo que traumáticas. Daí é um pulo usar alguma metáfora para entrar
na linha da vida, ir até o cenário que contempla a ativação da crença ou esquemas
mentais que contemplam várias crenças e desafiar cada uma delas com mais
sentidos, mais emoções. Não haverá mudanças em psicoterapia ou na hipnoterapia
sem que haja mudanças emocionais. A emoção é a força impulsionadora da vida.

Outra parceria importante é aproveitar a identificação de Distorções Cognitivas


de parte do paciente na psicoterapia na hipnose e colocá-las uma a uma em imagens
mentais para que o cliente possa representá-la nas situações associadas, sentindo a
disfuncionalidade e experienciando a mudança durante o transe. Realmente é a
vivificação da distorção. Os resultados são mais efetivos quando usamos a emoção.
Na realidade tudo está embasado no controle e limites pelo estado de relaxamento
que a hipnose promove ao paciente, evitando reações intempestivas, surtos, reações
em controle. Existe uma regulação controlada pela parceria profissional/cliente, uma
cumplicidade treinada, alicerçada na confiança.

Se pensarmos bem a hipnoterapia é uma Dessensibilização Sistemática de


luxo, ativando mais os sentidos e vivificando imagens mentais. Portanto estamos o
tempo todo promovendo o pareamento ansiedade x relaxamento. A coparticipação da
Hipnoterapia permite uma complementação através da Reestruturação Cognitiva por
imagens mentais, como se utilizássemos toda a matéria prima da psicoterapia e
ativássemos mais as emoções associadas através de imagens mentais, estruturadas
e programadas terapeuticamente durante o tratamento.

Para isso utilizamos uma ferramenta estruturada chamada de Diagrama de


Conceitualização Mnemônica, utilizado em cada sessão para que programemos com
o paciente como vamos intervir. Lá consta o nome do cliente, característica especial
do cliente para atentar se necessário, diagnostico multiaxial, memória disfuncional
selecionada para o evento, crença central foco, emoção envolvida e a ser trabalhada,
comportamento disfuncional, memória desejada adaptativa, resultados e efeito, nível

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de transe alcançado e se o paciente levou algum CD de condicionamento para
manutenção em casa.

Outra situação importante na parceria é poder definir com o cliente tarefas de


terapia, muitas vezes difíceis de operacionalizar – principalmente no diagnóstico de
depressão e colocá-las durante o transe em imagens mentais, onde o paciente se
observa executando a atividade proposta, buscando sensações prazerosas e
motivadoras. O objetivo é criar uma situação de previsibilidade e motivação para
desenvolver a tarefa.

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TCC E HIPNOSE COMO ALIADAS

Existe a associação da TCC como uma abordagem psicológica


comprovadamente eficiente, junto com a Hipnose como técnica coadjuvante, surgindo
a Hipnoterapia Cognitiva, podendo ser utilizada por médicos, psicólogos, psiquiatras
e demais profissionais da área de saúde mental que sejam habilitados a usar a
hipnose e tenham compreensão dos processos cognitivos.

O uso da hipnose na TCC é tão antigo quanto à própria TCC. Conforme


Ferreira (2011), Wolpe usou a hipnose em 1958 como uma parte integral da sua
intervenção pela dessensibilização sistemática. No Brasil, o exercício da Hipnose por
psicólogos é regulamentada pelo Conselho Federal de Psicologia através da
Resolução n. 013/00.

Outras profissões também tem o uso da hipnose regulamentado, como é o


caso de fisioterapeutas, médicos, odontólogos e terapeutas ocupacionais. O objetivo
da Hipnoterapia Cognitiva é de reestruturar cognitivamente as crenças inadequadas
por meio de técnicas cognitivas com técnicas da hipnose. A Hipnoterapia Cognitiva
promove um espaço de relaxamento, enfraquece os esquemas mentais
desadaptativos e trabalha na ressignificação de memórias negativas. Isso promove
modificações comportamentais, cognitivas e emocionais mais rápidas e efetivas.

Segundo Silberfarb (2011) o paciente na Hipnoterapia percebe que pode


respirar suavemente, longa e profundamente e que é capaz de relaxar, uma ideia que
para ele parecia impossível num primeiro plano. Nesta intervenção é fundamental que
o paciente detenha de confiança para assim então ter a capacidade de experimentar
emoções e situações prazerosas que servirão como suporte para o mesmo ter
predisposição adaptativa.

A Hipnoterapia Cognitiva, além do combate aos sintomas do espectro ansioso


da depressão pelo pareamento de estímulos, visa a interromper as expectativas
negativas ao futuro (YAPKO, 1992), como acontece na DPP onde as puérperas

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apresentam uma preocupação excessiva com o futuro no quesito aos cuidados ao
recém-nascido, ao lar, de seu companheiro e de si mesma.

A utilização da Hipnoterapia Cognitiva em gestantes é versátil podendo ser


utilizada antes (para potencial e aumentar a sua fertilidade, apenas em questões
psicogênicas, ou seja, sem causa física associada), durante (para aumentar os
momentos de conexão com o bebé, controlar o peso, trabalhar medos, inseguranças
e fobias durante a gravidez e parto, controle da dor durante o parto) e depois (aumento
da confiança e a autoestima da mãe, fortalecendo o elo de ligação com o bebê, de
forma centrada e tranquila, para prevenção da DPP, para reduzir os sintomas e
recaídas da mesma caso a puérperas forem diagnosticadas).

A Hipnoterapia Cognitiva no auxílio ao tratamento da DPP acontece de duas


formas segundo Harvey (2002, p.73-74):

Em primeiro lugar, proporciona uma forma de psicoterapia para a paciente,


permitindo que ela fale; em segundo lugar, induz a um estado profundo de
relaxamento, o que mostrou ajudar em problema com depressão, ansiedade
e estresse. A paciente irá aprender técnicas de auto hipnose para conseguir
um estado de relaxamento profundo em casa em momentos de necessidade
imediata.

Segundo Carvalho (2017), o processo da Hipnose acontece a partir de 5 (cinco)


etapas que são importantes serem citadas:

 Entrevista: momento que é realizado uma pequena investigação do problema do


cliente, ou seja, o hipnoterapeuta tem que identificar as possíveis causas que
levam ao desenvolvimento do problema ou dificuldade.

 Indução ao Relaxamento: o cliente coloca-se de forma confortável, fecha os olhos


e passa por um relaxamento em que há uma sensação de paz, calma e
tranquilidade. Baixa-se a frequência mental, fixando-se um nível, a que chamamos
de sono terapêutico.

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 Aprofundamento: irá conduzir a um transe mais profundo onde é deixado de lado


o filtro crítico da mente consciente. Uma vez que isto seja alcançado, existe a
comunicação direta coma mente inconsciente, feita pelo hipnoterapeuta. Isto é
importante, porque o aspecto principal da hipnose é exatamente conseguir com
que a mente inconsciente aceite e concorde com as mudanças que serão
propostas.

 Sugestões: Quando o cliente estiver em estado de transe, inicia-se a terapia.


Chegou a hora de trabalhar a questão que motivou a sessão. Novas ideias e
“sugestões” combinadas antes de iniciar a hipnose, são dirigidas diretamente ao
inconsciente com o objetivo de efetuar as mudanças pretendidas. Durante o transe
hipnótico, o cliente ficará consciente e ouvirá tudo que for dito. As sessões podem
ser gravadas.

 Saída do Transe: No final do trabalho, o cliente é tirado do estado de transe e volta


ao seu estado normal. Qualquer sugestão utilizada para produzir o estado
hipnótico será então removida. Segue-se uma conversa final e a conclusão da
sessão.

No aspecto positivo da utilização desta psicoterapia há indícios que na maioria


dos casos de DPP as puérperas responderam bem ao tratamento por cerca de três
meses, proporcionando autoconhecimento, relaxamento, qualidade de vida, elo entre
mãe e bebê, modificação dos pensamentos automáticos, elaboração de esquemas e
autoconfiança para desenvolver seu papel como mãe, esposa e dona do lar. Ressalta-
se que a Depressão pós-parto é um tema central presente nas principais discussões,
sendo importante a produção de saberes específicos na área, que visem subsidiar
práticas que possam vir a se tornar estratégias, ferramentas e modelos teórico-
práticos para o cuidar diante da depressão pós-parto.

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Logo, é fundamental que se tenha em mente a importância da atenção precoce
na DPP, tendo em vista a possibilidade de intervenções profissionais que
proporcionem às puérperas o apoio de que necessitam para enfrentar os desafios de
ser mãe, sem perder sua identidade, inserção social, relação parental, entre tantos.

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A PRÁTICA DA HIPNOSE NA PSICOLOGIA
COMPORTAMENTAL

Didaticamente, podemos dividir em cinco etapas uma sessão de hipnose:

1) preparação do paciente,

2) indução hipnótica,

3) aprofundamento da hipnose,

4) emprego do transe hipnótico para propósitos terapêuticos e

5) finalização.

1) Preparação do paciente

Nesta etapa, o hipnoterapeuta esclarece o que é a hipnose e o que não é para


o paciente, estabelecendo a relação terapêutica para que o processo seja realizado.

2) Indução hipnótica

“O número de possíveis técnicas de indução que poderiam ser utilizadas pelos


hipnotizadores é potencialmente infinito, limitado somente por sua própria
criatividade” (Dowd, p. 617). Evidentemente, o hipnoterapeuta competente terá
aprendido as técnicas de indução e poderá escolher qual é a mais adequada para o
paciente que está tratando.

Uma técnica de indução hipnótica bastante comum é a do relaxamento


progressivo, baseado na dessensibilização sistemática:

“Por exemplo, o hipnoterapeuta pode começar assim:

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Primeiro relaxe os músculos da cabeça, sentindo como a tensão escapa para
baixo…, agora os olhos…, depois as mandíbulas, deixando que a boca se abra
livremente…, agora os músculos do pescoço, sentindo como toda a tensão flui para
baixo […]. [O procedimento do relaxamento progressivo pode terminar como segue.]
E agora relaxe os tornozelos…, agora os pés…, e finalmente os dedos dos pés,
deixando que toda a tensão escape pelos dedos dos pés.

As sugestões de relaxamento devem ser acompanhadas de sugestões para a


focalização da atenção, como:

[…] conforme você sente que os músculos do peito se relaxam, pode


concentrar-se em seu padrão de respiração e deixar que esta seja cada vez mais
lenta e mais profunda, [ou]… à medida que você relaxa cada vez mais, pode observar
como sua atenção se concentra cada vez mais em seu corpo e no som da minha voz
e cada vez menos em outros sons e em outras sensações, (ou)… conforme vai
relaxando cada vez mais, percebe que vai se liberando progressivamente da tensão”
(Dowd, p. 617).

3) Aprofundamento da hipnose

Na prática, em geral, é difícil distinguir a indução do chamado aprofundamento,


já que a própria indução pode levar a um profundo estado de hipnose. Porém, por
vezes, o hipnoterapeuta utiliza metáforas, visualizações – como estar descendo uma
escada ou contar de 10 até 1 – para estabilizar a indução.

4) Emprego do transe hipnótico para propósitos terapêuticos

O grande objetivo da hipnoterapia é tornar possível, dentro do momento do


estado hipnótico, a modificação de crenças, pensamentos e comportamentos
disfuncionais ou negativos. Por isso, Dowd frisa o tempo todo a necessidade de
considerar a hipnose apenas como uma ferramenta para a psicoterapia e não como
uma técnica isolada (já que a indução hipnótica é relativamente fácil e, se não for
utilizada com um propósito, acaba por ser sem sentido).

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“No caso da auto hipnose e durante o transe, o sujeito pode dar a si mesmo
instruções construtivas, modificando o pensamento negativo e irracional e
empregando a imaginação de forma terapêutica” (Dowd, p. 621).

5) Finalização

“Para tirar o paciente do transe, considera-se que o melhor é empregar o


procedimento inverso ao da indução e aprofundamento hipnótico. Deste modo, se se
hipnotizou o sujeito empregando o método das escadas com 15 degraus, deve- se
tirá-lo contando para trás 15 degraus. Neste caso, um método popular é contar de 5
a 1 ou de 10 a 1” (Dowd, p. 621).

Hipnoterapia é o uso da hipnose como auxiliar em psicoterapia. Da associação


de uma abordagem psicológica comprovadamente eficiente, a TCC, com a Hipnose
como técnica coadjuvante, surge a Hipnoterapia Cognitiva. Essa ferramenta pode ser
utilizada por médicos, psicólogos, psiquiatras e demais profissionais da área de saúde
mental que sejam habilitados a usar a hipnose e tenham compreensão dos processos
cognitivos. Para Gomes (2013),

Os conceitos da terapia cognitiva, por meio de seus estudos empíricos,


abriram novas possibilidades para a utilização das abordagens
hipnoterápicas e proporcionaram o surgimento da hipnoterapia cognitiva, que
é protocolizada, e que pelas técnicas específicas permite ao inconsciente
eliciar conteúdos encobertos (GOMES, 2013, p. 170).

Sendo uma metodologia de caráter integrativo e que auxilia efetivamente no


tratamento de sintomas específicos e na resolução de diversos problemas, a
Hipnoterapia Cognitiva utiliza técnicas próprias (relaxamento, sugestão, repetição de
estímulos, intensa ativação emocional e ressignificação de memórias) e o uso de
imagens mentais, levando o paciente a confrontar crenças disfuncionais e a
desenvolver estratégias de enfrentamento mais adaptativas e eficazes.

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Para Silberfarb (2011),

A psicoterapia cognitivo-comportamental é hoje a abordagem que oferece o


campo mais fértil para a utilização da hipnose no âmbito clínico, pela
combinação clássica com técnicas comportamentais, como o uso de
relaxamento no tratamento dos sintomas nos transtornos de ansiedade e
fobias, no espectro ansiogênico da depressão, no uso de imagens na forma
de memórias carregadas de conteúdo emocional. Tem espaço como técnica
em vários ensaios cognitivos na evocação de memórias, no uso dos sentidos
para ativação emocional, nas técnicas vivenciais tão contemporâneas hoje
na TCC. Tudo isto é matéria-prima da Hipnose. (SILBERFARB, 2011, p. 32-
33).

A Hipnoterapia Cognitiva se apropria das técnicas de indução, aprofundamento


e manutenção do estado hipnótico da Hipnose Clássica, e a intervenção psicológica
é feita através da TCC, normalmente com duração de uma sessão. Após isso, o
paciente volta às intervenções normais em TCC, mas agora sem os sintomas que
impediam o início de uma boa reestruturação cognitiva.

A principal diferença entre a Hipnoterapia Cognitiva e a Hipnose Clássica é que


a primeira é interativa, enquanto que a segunda trabalha eminentemente com
sugestionabilidade. A primeira trabalha as origens dos sintomas que estão na
estrutura de crenças rígidas que dão origem às distorções dos pensamentos.

O uso da hipnose na TCC é tão antigo quanto a própria TCC. Conforme


Ferreira (2011), Wolpe usou a hipnose em 1958 como uma parte integral da sua
intervenção pela dessensibilização sistemática.

Podemos dividir o processo em fases separadas apenas didaticamente:


Psicoeducação sobre a queixa; Psicoeducação sobre a hipnoterapia Cognitiva; como
manejar a imaginação; Testes de suscetibilidade hipnótica; Indução; Relaxamento
profundo; Intervenções terapêuticas; Uso de diagrama para intervenção; Sugestões
pós-hipnóticas; De-hipnotização do paciente; e Registro no Diagrama de
Conceituação Mnemônica.

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Quanto ao uso, Silberfarb (2011) afirma:

Ela [a Hipnoterapia Cognitiva] tem ótimos resultados atuando nos


componentes emocionais na percepção da dor, na analgesia e anestesia.
Alguns profissionais têm trazido bons resultados na atuação da Hipnoterapia
Cognitiva para os transtornos alimentares, no tabagismo e nos sintomas da
quimioterapia. Aparece com destaque na melhora da evocação da memória
e na atenção, sendo matéria-prima do próprio processo em si. Sua atuação
mais forte é a ansiedade e todo e qualquer transtorno que estiver ao alcance
deste mesmo espectro, como a onicofagia, tricotilomania e alguns tiques.
Existem trabalhos com relação à intervenção para tratamento do tabagismo,
fibromialgia, síndrome do cólon irritável, enurese, dependência química,
aprendizagem (SILBERFARB, 2011, p. 100).

Com o objetivo de reestruturar cognitivamente as crenças inadequadas por


meio de técnicas cognitivas com técnicas da hipnose, a Hipnoterapia Cognitiva
promove um espaço de relaxamento, enfraquece os esquemas mentais
desadaptativos e trabalha na ressignificação de memórias negativas. Isso promove
modificações comportamentais, cognitivas e emocionais mais rápidas e efetivas.

Uma das aplicações da Hipnoterapia Cognitiva que ainda é pouco explorada é


o uso da Hipnoterapia Cognitiva como ferramenta auxiliar no processo de
aprendizagem.

Conforme afirma matéria do site O DIA publicada no dia 29 de outubro de 2012,


a hipnose está progressivamente sendo utilizada por “concurseiros” na busca por
melhores resultados, através do controle da ansiedade e do aumento dos
rendimentos nos estudos. Ultra (2013, p. 438) afirma que “a hipnose ajuda tanto no
tratamento de fobias, baixa autoestima, agressividade, ansiedade, angústia,
depressão, como na memória, percepção, atenção, criatividade e motivação que,
muitas vezes, podem interferir [...] na aprendizagem”.

Diversas pesquisas tem comprovado a influência negativa dos problemas


emocionais sobre o desempenho escolar da criança. A Hipnoterapia Cognitiva pode
auxiliar o aprendizado tanto de crianças e adolescentes como de adultos através da
melhora nos hábitos de estudo, da redução da ansiedade às provas e da ampliação

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da motivação e do interesse no estudo. Em 1966, Krippner conseguiu melhorar a
compreensão da leitura com 49 estudantes com idades entre 8 e 17 anos através de
sugestões pós-hipnóticas.

Além disso, a Hipnoterapia Cognitiva, através da reestruturação cognitiva,


modifica pensamentos e emoções que estejam interferindo nesse processo de
aprendizagem e trabalha para produzir e ensinar estados mentais e emocionais ideais
para o estudo e o aprendizado. A Hipnoterapia Cognitiva gera, portanto, mudanças
comportamentais saudáveis e melhor adaptativas. Com treinamento apropriado em
auto hipnose e em TCC, os estudantes podem ser treinados para aumentar o seu
desempenho.

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