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Rev. Bras.

de Hipnose 2014; 25(1):1-10

ISSN 1516-232X
Revista
Brasileira de
Associação Brasileira de Hipnose - ASBH Hipnose
www.revistaasbhipnose.org.br

Emprego da hipnose em rituais religiosos: análise crítica e comparativa


da metodologia de indução hipnótica com a liturgia religiosa
(Apply of hypnosis in religious rites: critical and comparative analysis of
hypnotic induction methods with religious liturgy )
Adelita Fátima de Almeida, Paulo Madjarof Filho
Psicólogos Membros da AHIESP - Associação de Hipnose do Estado de São Paulo, SP, Brazil

Resumo
Este trabalho tem por objetivo identificar os aspectos comuns, cientificamente reconhecidos, no emprego da
hipnose experimental em pareamento com as estratégias observadas na liturgia religiosa. Os rituais analisados estão
relacionados a denominações religiosas, que foram escolhidas em razão de sua importância e projeção na cultura
brasileira. Sob a perspectiva dos métodos formais de indução ao transe, analisamos e avaliamos os elementos
comuns presentes na liturgia religiosa e na metodologia elementar de indução ao transe hipnótico. As observações
baseadas em nosso estudo demonstraram aspectos e estratégias comuns no método de indução ao transe religioso
com resultados assemelhados ao denominado estado hipnótico.

Keywords: Hipnose, Religião, Rituais religiosos.

Abstract
This study aims to identify common issues scientifically recognized in the use of experimental hypnosis in pair
with the strategies observed in religious liturgy. The rituals analyzed are related to religious denominations that
have been selected because of its importance in Brazilian culture and projection. From the perspective of formal
methodology to induce trance, analyze and evaluate the common elements present in the liturgy and religious
elementary method to induce a hypnotic trance. The observations based on our study demonstrated common
aspects and strategies in the method of inducing trance religious with results similar to the so-called hypnotic state.
Palavras-chave: Hypnosis, Religion, Religious rituals.

1. Introdução
Desde a antiguidade a hipnose está cercada por Do “sono mágico” induzido por Chiron às
uma aura mística que muito comprometeu a sua “curas milagrosas” realizadas pelos sacerdotes nos
credibilidade, tornando-se um assunto marginal à templos egípcios, a relação da hipnose com o
ciência por séculos. Com o avanço tecnológico, foi poder seduziu homens ávidos pelo domínio e
recentemente resgatada pela ciência, pelas possibi- controle de outros homens e grupos, em especial
lidades de mensuração e confirmação de sua ação e pela intenção e desejo de sujeitá-los aos seus
efeito sobre o sistema neurológico e o organismo caprichos. De fato o poder está no centro de todas
como um todo.
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as questões que envolvem as relações, culturas e o igreja católica ou carismática, e as novas igrejas
saber humano1. evangélicas.
Essa relação pregressa da hipnose com o
exercício do poder está fundamentalmente vincu-
lada a essa história marginal, em que a utilização 1.1. Hipnose
pelos detentores da técnica lhes conferia certa O termo hipnose acalenta certa ambiguidade por
ascensão sobre mentes incautas. De Mesmer a ser empregado para definir aspectos distintos de
Braid, de Gasnner a La Fontaine, a história inva- um mesmo fenômeno. Pode-se fazer referência a
riavelmente relata as influências determinadas pela uma das inúmeras técnicas de indução, a uma das
ação de agentes que produziam respostas alheias à diversas estratégias terapêuticas ou de intervenção,
vontade de seus sujeitos, sendo temidos por esse ou mesmo a um estado psiconeurofisiológico –
suposto poder. Não incomum, observamos nas esse sim, único, variando em grau, mensurado
ilustrações de livros mais antigos que tratam do pelas escalas em razão dos fenômenos apresen-
tema, a imagem de um homem forte e de olhar tados6.
penetrante (Figura 1), com a mão erguida sobre a O fato é que essa confusão na empregabilidade
cabeça de outro indivíduo que se mostra fraco e do termo remete ao questionamento sobre o que é
entregue. ou não a hipnose ou quando essa definição pode
A hipnose pressupõe estratégias de ser utilizada na análise dos fenômenos de comuni-
comunicação que intenta implantar sugestões sem a cação, com consequente e observável repercussão
participação lógica de quem a ela se submete. Faz comportamental. Observamos manobras nos meios
aflorar as emoções primitivas tornando susceptível midiáticos, nas campanhas publicitárias, em dis-
a mente ao cultivo e intenções doutrinadoras2. O cursos políticos e religiosos, em que o resultado é
sujet hipnótico tem o seu julgamento crítico demonstrado por posições assumidas, valores
significativamente reduzido, abandonando-se a defendidos, partidarismo e devoção – com o acata-
outras e novas “verdades”, ainda que muitas vezes
de modo parcial. As ciências cognitivas
reconhecem e respaldam que a persistência e a
repetição levam a sedimentação de um aprendizado
cuja repercussão interfere no modus operandi de
um indivíduo, transformando os seus valores e
comportamentos3. Assim, quanto maior a
exposição ao estímulo, maior a possibilidade de
apresentação da resposta4,5.
Os passos e procedimentos para a indução
consentida e experimental confirmam o modelo do
condicionamento clássico pavloviano em que um
estímulo neutro e sem repercussão sobre o
comportamento, quando associado a um estímulo
condicionado, modifica a resposta de um
indivíduo5. Através de manobras observadas e
reconhecidas em rituais religiosos, pode-se con-
duzir uma pessoa ou um grupo de pessoas a um
padrão de conduta orientado a interesses e res-
postas comportamentais sabidas e esperadas.
Figura 1. Tipo de ilustração comum em livros antigos
Propomos em nossa análise a correlação entre exemplificando o domínio pela hipnose.
as etapas presentes na indução hipnótica formal
para o atingimento do estado hipnótico, cientifica-
mente reconhecido e validado, com os procedi-
mentos ritualísticos observados por grupos reli- mento e redução crítica. Isso é ou não hipnose?
giosos institucionalizados, em especial, a nova

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De modo geral a hipnose é definida como um sem o compromisso com as repercussões poste-
estado modificado da consciência com repercussão riores à ação do hipnólogo.
nas respostas psiconeurofisiológicas e comporta- Para Akstein9, a indução da hipnose compre-
mentais de um indivíduo6. A partir desta acepção, ende a técnica estimulativa empregada para induzir
há a necessidade de responder as seguintes o sono hipnótico. Destaca esse autor, que o treina-
questões para tal compreensão: o que são os mento e a pratica, somados a personalidade do
estados da consciência (ou o que difere do que operador, potencializam a resposta ensejada, ou
chamamos de “estado modificado”)? E, como se seja, o transe hipnótico.
pode produzir tal estado ou mesmo como sabemos
quando foi produzido?
Alguns exames, desde o acessível EEG ao 1.2. Transe ou estado hipnótico
sofisticado PET, permitem a verificação respostas A conotação negativa associada à palavra transe
neurofisiológicas de um individuo sob hipnose fez com que muitos terapeutas e estudiosos da
experimentalmente induzida, porém esses estados hipnose se livrassem dela. A literatura sobre
também podem ser verificados (e mensurados) hipnose, em especial nos últimos 20 anos,
frente a outras condições, que não apenas a abandonou a palavra transe, utilizando mais fre-
indução hipnótica formal. Um experimento quentemente o termo estado hipnótico para desig-
realizado demonstra que uma pessoa diante do nar o estado atingido pelo processo de indução10.
aparelho de televisão atinge estados análogos ao Encontramos na origem da palavra transe, do
estado hipnótico, tornando-se sujeito passivo de inglês medieval e no francês antigo, o significado
propagandas e ideologias diversas7. Os meios de grande ansiedade e medo, de transir, perecer.
eletrônicos alcançam grandes grupos e se tornam No latim a origem transire, esta relacionada
um meio de doutrinação em massa. Não sem razão, diretamente à morte. O medo do transe está ligado
empresas e instituições investem em propagandas a essa conotação negativa que é a própria morte ou
de ideias e produtos, com retorno garantido. o medo que a precede.
A indução a um estado hipnótico pressupõe O significado do transe sob a perspectiva da
estratégias que podem ser alcançadas por diferentes hipnose, como um estado hipnótico, é definido
vias. Na hipnose clínica ou experimental (con- como uma alteração das percepções provocada
sentida), os passos dessa estratégia são discutidos e pelo sistema nervoso, que pode ser subjetivamente
elaborados em conjunto e com objetivos definidos. experimentado de várias maneiras8. Uma
Na terapia, o terapeuta fideliza a proposta traba- modificação temporária do sistema nervoso sentida
lhando os anseios do paciente, que busca por esse pela alteração das percepções e da atenção é a
meio a revisão de aspectos de desconforto e resultante de um processo ao qual o individuo é
penúria – neste caso, o sucesso terapêutico não se exposto, com ou sem intenção. Deste modo a abs-
restringe à técnica exclusivamente. A indicação e o tração provocada pelo fervor religioso ou pelo mis-
reconhecimento do profissional em questão, a ticismo, pode também ser compreendida como um
crença do paciente no método, a orientação preli- transe com redução da consciência em que o indi-
minar e até o pré-atendimento antes da consulta víduo fica sob o controle de uma força externa11.
propriamente, compõe o menu para a finalidade Os transes rituais habitualmente vistos nos
terapêutica8. rituais religiosos produzem uma intensa descarga
Os profissionais da hipnose são reconhecidos de energias afetivas patogenicamente represadas,
em suas frentes de atuação, seja no campo da gerando autoregulação organísmica e bem-estar
pesquisa, da saúde ou do entretenimento. Na área biopsicossocial10. Para os espíritas o transe é um
acadêmica os estudos são determinados por estado modificado de consciência em que esta se
métodos e procedimentos científicos, fidelizando o interioriza e manifesta vivências habitualmente
experimento. Na área da saúde o profissional reprimidas na vigília. As características psíquicas
utiliza a hipnose no contexto de sua abordagem de deste estado são típicas: rapport, sugestionabili-
atuação profissional, adequando às necessidades do dade aumentada, estereotipias, literalismo, exibi-
paciente. No campo do entretenimento, o compro- cionismo ou teatralismo. O transe pode ser indu-
misso restringe-se ao espetáculo e encantamento, zido artificialmente ou espontaneamente, e é de

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natureza reversível, havendo pessoas com maior são estados estreitamente ligados que se inter-
facilidade para este estado10. relacionam.
De modo geral, a consciência pessoal obedece a
um fluxo lógico e pode ser representada pelo
1.3. Consciência
conjunto de signos e expressões. A modificação da
Na busca da definição do que é o estado estabilidade desse fluxo gera consequente reper-
hipnótico, esbarramos num problema científico- cussão nas expressões, sendo então reconhecido
filosófico sobre a própria definição de consciência. como a modificação do estado da consciência. Por-
As definições apontam para um mesmo alvitre, tanto a modificação da consciência é a quebra de
variando em termos os seus conceitos. A começar um padrão com efeito sobre as percepções e o
pela etiologia oriunda do latim da palavra processamento cognitivo6.
consciência ‘con scientia’, cujo significado é “com
conhecimento”, referindo ao completo conheci-
mento que o individuo tem de si e do meio que o 1.4. A Emoção na hipnose e a hipnose emocional
cerca12. Antes mesmo de Mesmer, temos uma descrição
Penso, logo existo. Essa afirmação do filósofo do estado de transe como manifestação histérica,
Descartes13 propõe uma definição para a determinada por espasmos, contorções, convulsões
consciência como o ato contiguo ao ato de pensar. e somatizações. Análise posterior desses padrões
Definir a consciência apenas pela perspectiva do levou à conclusão de Eastbrooks que essas respos-
conheci-mento e o exercício do pensamento lógico tas eram a expressão do medo que acometia os
que um indivíduo reconhece sobre si e sobre as indivíduos “magnetizados”. Para Wundt, a hipnose
coisas, torna-se parcial e incompleta, especial- está relacionada aos estados emocionais exaltados.
mente depois de Freud e seu modelo sobre o Segundo ele, a reação emocional torna-se
inconsciente. Freud considerou as razões intrín- aumentada sob esta condição. O aumento da
secas e chamou de determinismo psíquico todas as intensidade emocional no estado hipnótico é
ações e expres-sões humanas interligadas, nem reconhecido como estabilizador ou alterador do
sempre identificadas de modo consciente14. comportamento nas fases do transe15.
Se há algo sobre si conhecido, ainda que não Aristóteles refere-se à catarse como a puri-
reconhecido ou reconhecido parcialmente, não se ficação das almas por meio de uma descarga
pode negar a condição intrínseca de sua existência emocional provocada por um drama. O termo é
pela admissão de sua possibilidade de existir. A também utilizado para designar o estado de
consciência do EU pode então ser traduzida como a libertação psíquica que o ser humano vivencia
linguagem, abstrações, deduções e lógica do quando consegue superar algum trauma como o
próprio pensamento do individuo. Para Sanvito12, a medo, opressão ou outra perturbação psíquica. O
atenção e a capacidade de mudá-la seletivamente é estado hipnótico favorece o acesso para purgar os
um atributo da consciência, bem como a mani- traumas, levando o indivíduo a atingir diferentes
pulação de ideias abstratas, a expressão pela emoções que podem conduzir à cura, como
palavra ou por outros símbolos, a capacidade de demonstrou Freud em seu trabalho com Breuer16.
evocar o passado e antecipar o significado de um Sob a perspectiva religiosa, o êxtase conduz à
ato. limpeza espiritual almejada pelo fiel, que também
Penfield aborda a consciência sob uma se liberta pela confissão. Neste sentido, as emoções
perspectiva neurofisiológica, localizando-se na manifestadas pelos participantes de um ritual
porção superior do tronco cerebral onde existe um religioso são também demonstrações de catarse ou
sistema encarregado da vigília, através da ativação de purificação da alma.
do córtex cerebral de modo difuso12. Embora a Para Priori Maia15, A hipnose pode ser
consciência encontre na organização cerebral sua considerada como sendo uma dissociação psíquica
condição necessária, ainda assim, não se mostra produzida por reações emocionais, desenvolvidas
suficiente para a compreensão dos processos da através da intensificação de alguns estímulos
consciência12. Para este autor, vigília e consciência impositivos ou permissivos. Assim, para a indução
e manutenção do transe hipnótico é necessária uma

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carga emocional. Esta deve apresentar certa Para Levisky19, a religião se refere à indigência
intensidade para a ocorrência do transe, pois intrínseca de sobrevivência, ter esperança, fé, de
segundo Priori Maia15, sem emoção não há reconhecer e ser reconhecido e a necessidade de
hipnose. estabelecer meta. Para tanto, o homem se apega a
Na hipnose a emoção é intensificada, sendo imagem do Divino, para que possa projetar suas
canalizada através da zona de vigília com liberação angústias, buscar sua origem, não se sentir só e
subcortical que induz negativamente o córtex entender o que é desconhecido. Para os praticantes,
cerebral. A emoção intensificada nesse procedi- a religião representa uma luta entre o ego ideal e o
mento é produzida por estímulos partidos do superego, situação na qual é feito o confronto entre
hipnotizador, do meio ambiente (com ação forte no os valores herdados e os vivenciados na sociedade,
palco), ação evocativa de lembranças, traumas, como ódios inconscientes, frustrações, invejas.
pelo método hipnótico ou pelo desejo de cura. A Esses sentimentos surgem, para o sujeito, como
ação evocativa é produzida principalmente pela pecados cometidos, necessitando dessa forma a
palavra, pronunciada de forma impositiva sob a mão do Divino, que por meio da fé recebe a
forma de ordens ou suave, de maneira rítmica, absolvição e abranda “o mal estar da civilização”19.
débil, monótona e persistente. A repetição frase por Para Durkheim20, a religião é uma invenção da
frase, ou palavra por palavra, reforça a estimulação sociedade, e que a mesma revelam realidades
cortical15. ligadas e é uma forma de manter, gerar ou
remanejar alguns estados mentais desses grupos.
1.5. Rito, mito e religião Freud21 enfatiza que a religião foi criada para
defesa do ser humano, contra o estado de
A palavra religião vem do latim "religione", que desamparo infantil que perdura a vida adulta. Desta
está vinculada ao verbo "religare", ou seja, ação de forma a religião responde a necessidade de um pai
ligar. A religião pode ser definida “como o con- poderoso que proporciona proteção, segurança e
junto das atitudes e atos pelos quais o homem preserva o homem de uma neurose individual.
se prende, se liga ao divino ou manifesta sua Levisky19 aponta que as defesas maníacas incidem
dependência em relação a seres invisíveis tidos com a necessidade de se apegar ao Divino,
como sobrenaturais”.17 preenchendo o vazio existencial e enfrentamento
Para os antigos, a religião é a reatualização e a da dor.
ritualização do mito. O mito é uma função Segundo Winnicott22 a religião é uma manifes-
importante para as civilizações primitivas, sendo tação da “utilização da ilusão”. Essa ilusão não é
uma garantia do ritual, que também proporciona ao um engano ou fantasia, mas um empenho para
homem orientação em termos de regras práticas. afirmar a criação da vida.
Além disso, exalta, explica e compila a crença,
desta maneira preservando e fixando princípios
morais. O rito tem o poder de suscitar o mito, em 2. Objetivo
que o homem se beneficia das forças e energias Este trabalho tem por objetivo identificar os
que brotaram nas origens. Nessa situação, o rito aspectos comuns cientificamente reconhecidos no
tem “o sentido de uma ação essencial e primordial emprego da hipnose clinica e experimental em
através da referência que se estabelece do profano pareamento com as estratégias observadas nos
ao sagrado".17 rituais religiosos, em especial, nas novas igrejas de
Alves18, diz que a religião nasce a partir do origem católica e protestante.
momento em que o homem tem o poder de dar
nomes as coisas, fazendo uma separação entre 3. Método e procedimento
coisas de importância secundária e coisas na qual
seu destino, sua vida e sua morte se pendem. Sendo Utilizamos o método de pesquisa bibliográfica
assim, a religião se apresenta como um tipo de fala, valendo-nos de materiais de diferentes fontes
uma rede de símbolos, em que as experiências públicas, como livros, artigos, programas televisi-
pessoais seguem ao encontro ao sagrado. Por meio vos e publicações web.
dos símbolos sagrados o homem retira o medo e A hipnose clínica e experimental é descrita
edifica reservas contra a desordem. pelos métodos empregados no procedimento de

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indução e pelo resultado que caracteriza o estado nantes desses estados e de difícil mensuração,
hipnótico, passível de mensuração pelos protocolos como a expectativa acalentada pelo sujet em
indicativos dos níveis de transe (Escalas de relação ao procedimento. O nível de ansiedade
Profundidade). O estado hipnótico suscetibiliza o observado pode ser uma variável favorável ou
sujet que se torna receptivo às sugestões do opera- desfavorável à medida que o foco flutua entre o
dor, que pode interferir em suas atitudes, emoções que é percebido e o que é esperado23.
e comportamentos. A Tabela 1 mostra os principais Pensar as etapas que induzem ao estado
pontos explorados pelo operador pela consecução hipnótico como uma “receita de bolo” exclui,
do transe hipnótico. evidentemente, os aspectos favoráveis e relevantes
A mescla desses estímulos ou a ênfase dada a sob a perspectiva de saúde e bem estar, confirmado
um aspecto em especial (auditivo, visual ou por inúmeros trabalhos científicos. Por ora, nos
cinestésico), determina para alguns sujets, por interessa em especial a forma em detrimento do
características singulares identificadas na entrevista conteúdo, ainda que esses aspectos mostrem-se
e na observação que antecede o procedimento pelo indissolúveis sob diversos ângulos.
operador, graus diferentes de respostas (níveis de
transe). Devem-se relevar outros aspectos determi-

Tabela 1: ASPECTOS DA INDUÇÃO E FENÔMENOS CORRELATOS


Indução consensual – clinica ou experimental
ESTIMULAÇÃO PERCEPTUAL AUDITIVA
Repetições rítmicas, monótonas e persistentes;
Abuso na utilização de sinonímias e truísmos;
Sons eletrônicos, mecânicos ou instrumentais (rítmicos, débeis e persistentes);
Estimulação sonora bilateral.
ESTIMULAÇÃO PERCEPTUAL CINESTÉSICA
Toques sutis em regiões especificas do corpo (fronte, face, pálpebras, nuca, etc.);
Mudanças bruscas de postura – alteração do equilíbrio postural;
Estimulação bilateral por meio de toques;
Movimentos corporais inesperados (quebra do padrão reconhecido e esperado).
ESTIMULAÇÃO PERCEPTUAL VISUAL E IMAGINATIVA
Fixação em estímulos luminosos, pontos fixos ou em movimento;
Utilização de recursos ou objetos (a mão, pêndulo, caneta, etc);
Exploração das representações mentais conhecidas;
Estimulação na produção de imagens mentais;
Evocação de poder e competências por modelos conhecidos;
Exploração e acesso às memórias com exacerbação das emoções.

A indução experimental ao estado hipnótico


pressupõe etapas orquestradas pelo agente que 3.1. Estados da consciência e os rituais
segue uma metodologia determinada. As me- Os templos e igrejas comumente apresentam em
táforas, bastante utilizadas no processo de indução, suas edificações luxo e suntuosidade. As portas e
é um modo de exploração da imaginação que janelas são imensas e bem desproporcionais à
repercutirá nas percepções e sensações vivencia- altura de um homem. O pé direito alto dá a
das, favorecendo o aprofundamento na experiência. sensação ao fiel adepto de pequenez e insignifi-
Por esse meio, pode-se sugerir alucinações visuais cância, colocando-o numa posição de submissão e
de maneira indireta, referindo apenas como sujeição ao poder – representado pela grandio-
possibilidades a acontecer – como a metáfora ou as sidade da igreja. A tecnologia atualmente compõe
parábolas orientam de modo indireto.24

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o ambiente que potencializa a acústica e distribui a As crenças neopentecostais refletem essa antiga
iluminação com foco no púlpito e no pregador perspectiva do mal personificado nos demônios.
religioso. O setting cria a condição ideal e é pre- Por essa razão é frequente o inicio do cultos a
posto para a mudança de estado e a projeção de “amarração dos demônios” para que estes não
uma condição suprema que aproxima do poder, que interfiram no desenrolar do ritual. Há, portanto,
faz sentir poderoso. uma guerra cósmica dramatizada pelos cultos em
A cura é ofertada em muitas reuniões e é a que os milagres, conversão e exorcismo, são
representação maior do milagre, da constatação do amostras da vitória de deus contra as forças
poder anunciado. Muitos pregadores exploram nos diabólicas27.
cultos a realização do milagre pela cura de uma Características comuns nos rituais indicam que
patologia, muitas vezes de pacientes desenganados. certos procedimentos potencializados pelo alto
Exames são exibidos e testemunhos reforçam e grau de expectativa do fiel religioso, favorece o
conduzem os fieis à exortação coletiva. 24,25 acesso aos estados modificados da consciência. A
Alguns líderes carismáticos utilizam práticas expressão desses estados pode ser verificada por
que levam o grupo a reações parecidas com as alterações emocionais e comportamentais durante o
descritas no magnetismo mesmeriano. Estratégias ritual, em que comumente se verifica a exortação
utilizadas em movimentos religiosos conhecidos em choro, gritos e movimentos corporais. Esse tipo
por cair-no-espírito, avivamento, unção, cai-cai, de resposta assemelha-se, como já dissemos, ao
dente de ouro, risada santa, fanerose, entre outros, chamado transe histérico mesmérico, em que certo
desencadeiam reações diversas como choros e frenesi assola o ambiente.
convulsões, tremores, gritos, desmaios e somatiza- O padrão de indução hipnótico observados na
ções diversas. Um dos lideres fundador do movi- clínica psicológica e na experimentação científica
mento fanerose, o canadense Paul Gowdy, revelou obedece a um protocolo que varia na técnica,
depois de dez anos à frente desse movimento, que porem não no conteúdo. Desde a recepção até o
isso não passava de um engodo a qual as pessoas propriamente o término do atendimento, o esclare-
eram levadas a crer na expressão do divino quando cimento sobre o procedimento e a conduta profis-
“embriagadas no espírito”. Em dissidência e sional permeia as ações e diretivas condutuais.
arrependimento em relação ao modelo que criou, A análise comparativa como se observa nos
Gowdy publicou carta aberta, em que destacamos a quadros abaixo, mostra as ações observadas em
seguinte frase: cada fase em razão da intenção objetivada, seja na
“...depois de um ano na “benção” atuação clínica, experimental ou teatral, ou mesmo
preguei num encontro de pastores e falei: na conduta orientada nos rituais neo-evangélicos e
amigos, temos os sacudido, nos arrastado neocatólicos. Categorizamos pelos aspectos
pelo chão, rolamos por terra, rimos, reconhecidamente presentes em quaisquer das
choramos e adquirimos as amisetas da abordagens, tal qual segue: recepção/adesão
igreja. Mas não temos avivamento, nem (Quadro 1); local/preparação (Quadro 2); códigos
salvação, nem frutos, nem aumento de (Quadro 3); procedimento/indução (Quadro 4);
evangelização, por isso, qual é a graça”? objetivo (Quadro 5); operação/manejo (Quadro 6);
Paul Gowdy.26 efeito esperado (Quadro 7).

Segundo Campos27, sob a visão tripartida dos


4. Resultados
antigos hebreus, o cosmos divide-se em três partes:
o céu, a terra e o inferno. No céu a morada de deus Em nosso estudo, apuramos que o transe
e seus anjos, na terra a criação divina entregue aos religioso resultante em manifestações emocionais,
seres humanos, e no inferno as regiões inferiores exortação, cantos e danças, movimentos
destinadas a acolher a alma de mortos e demônios. estereotipados e repetidos, muito se assemelham ao
Para esse autor, o mundo é a arena onde se dá à transe histérico mesmérico. As etapas litúrgicas
luta entre deus e satanás e seus exércitos de anjos. obedecem a métodos e procedimentos baseado na
O objeto dessa guerra é o ser humano, cuja adesão expectativa individual, que se reforçam no
é disputada em renhidas batalhas espirituais27. coletivo. A metodologia de indução ao transe

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hipnótico, do mesmo modo, vale-se da expectativa (catárticas) com efeitos comportamentais comu-
do sujet como condição facilitadora e reforçadora mente são verificadas.
dentro do grupo. As respostas emocionais

5. Considerações finais
As observações baseadas em nosso estudo sob a características pessoais dos lideres religiosos e a
perspectiva de métodos de indução ao transe preparação dos ambientes e o seu contexto de
demonstraram a presença de elementos comuns nos realização. Sugerimos novos estudos comparativos
rituais religiosos e na metodologia elementar de que abarquem essas variáveis, reforçando, ou não,
indução hipnótica. Outras variáveis mostraram-se as nossas conclusões.
relevantes e passíveis de investigação, como as

Quadro 1: Recepção / Adesão


HIPNOSE HIPNOSE RITUAL NÉO RITUAL NÉO
HIPNOSE CLÍNICA
EXPERIMENTAL TEATRAL/PALCO EVANGÉLICO CATÓLICO
O rapport é fundamental e A notabilidade do pesqui- A curiosidade acompanha- Recepção afetuosa e sedu- A liturgia inicia-se pelo
se inicia antes mesmo do sador e da instituição de da de alto grau de expecta- tora acompanha o convite sinal da cruz à entrada da
contato entre o terapeuta e pesquisa credibiliza e fa- tiva conduz o individuo ao para a conversão. Regras igreja, como um signo de
o cliente. Está presente na vorece a voluntariedade e show. É criado um clima de de apresentação pessoal transição. A oração em
indicação ao profissional a entrega do sujet. Este se grande expectativa em tor- funcionam como um códi- joelhos indica reverência e
bem como na acolhida sente amparado e deposita no hipnotizador e a apre- go de adesão. O contato submissão e a entrega ao
pessoal. A expectativa alta expectativa e espírito sentação. O grupo se prote- com o divino é apresenta- poder representado em
pelo resultado terapêutico de colaboratividade. ge até que um individuo do como uma espécie de imagens. O dirigente
favorece a adesão à Colabora movido pelo seja convidado a fazer parte atalho, na forma de revê- inicia o rito e convida a
proposta e a entrega a sentimento de utilidade e do show quando então lações e descobertas do imersão em um espaço
indução hipnótica consen- relevância social de seu sente-se em desamparo. sagrado. A abordagem simbólico, aflorando a
sual. O trabalho é apre- ato, acalentando possíveis Não há expectativa de privilegia a necessidade emoção em ruptura ao
sentado como recurso no ganhos sociais/pessoais. ganho. do fiel e seduz para a cotidiano. Outros signos
contexto terapêutico. descoberta de caminhos como a unção e a hóstia,
de salvação e transfor- elevam a “conexão” e
mação pessoal. fortalecem a adesão.

Quadro 2: Local / Preparação


HIPNOSE HIPNOSE RITUAL NÉO RITUAL NÉO
HIPNOSE CLÍNICA
EXPERIMENTAL TEATRAL/PALCO EVANGÉLICO CATÓLICO
O setting terapêutico O local de realização do A comunicação interpes- O púlpito e o palco marca As edificações são
sugere um encontro com a experimento torna-se soal do hipnólogo no palco a diferença do represen- suntuosas de janelas e
paz e a sanação das menos importante do que de apresentação direciona o tante do poder e os fieis. portas sempre enormes e
angústias. Luzes indiretas a proposta científica em foco do público e seduz ao Músicas e hinos de louvor arquitetura arrojada.
e paredes em cores suaves si, variando em razão da propósito (hipnose). Os fáceis e com reflexões Paredes adornadas com
reduzem os estímulos intenção da pesquisa. holofotes e a exposição repetidos recepciona os pinturas e imagens evo-
externos e favorece o Multi-estímulos podem intimidam e predispõem o fieis. O som amplificado e cam a ligação com o as-
autoacesso. Uma cadeira fazer parte sem prejuízo à individuo ao transe, refor- o cântico em coral conta- grado e conduz à reflexão.
confortável convida ao pesquisa e/ou processo de çado pelo anúncio do gia e estimula a participa- Cânticos e hinos de
relaxamento. Em alguns indução (às vezes deseja- hipnotizador que sucederá ção. O êxtase e o clima exortação preparam ao
casos, musicas suaves são veis). O valor social vin- ao seu comando algumas emocional contagia os contato e a pregação da
utilizadas durante o culado ao local predispõe “experiências”, antecipadas presentes e os “prepara palavra. O acompanha-
processo de indução. o sujet à hipnose. mentalmente por muitos. para a reforma”. A mag- mento é feito pelos fieis
nitude das novas igrejas em livro litúrgico deixa-
determina a relação de dos previamente sobre os
poder (grande / pequeno; bancos, com ajoelhadores.
forte/fraco)

Quadro 3: Códigos
HIPNOSE HIPNOSE RITUAL NÉO RITUAL NÉO
HIPNOSE CLÍNICA
EXPERIMENTAL TEATRAL/PALCO EVANGÉLICO CATÓLICO
Há um código contido no Comandos, roteiros e Desafios, provocações e Os “convertidos” tratam- Os fieis carregam consigo
ato dedicado como “um scripts previamente comandos levam o indiví- se por “Irmão” e vestem- objetos de devoção e li-
caminho de solução” estabelecidos são duo ao transe, muitas vezes se de modo estereotipado. turgia, como hinários,
terapêutica. Um conjunto utilizados metodológica- desavisadamente. Fazem-se identificáveis escapulários, evange-

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de ações intencionalmente mente para a obtenção do Signosinais verbais, ges- por características co- liários e terços. O orador
colocadas funciona como estado hipnótico, confe- tuais e cinestésicos são muns, como mulheres dá comandos para o
signos provocadores e rindo um status assertivo “instalados” com conse- com cabelos longos e acompanhamento em
facilitadores para o ao processo. Pode haver a quentes respostas compor- presos e homens com repetições de frases e a
atingimento de um estado “instalação de um signo- tamentais – ensejo do cabelos e barbas aparadas solicitação de que os fieis
mental desejado, como sinal” para a obtenção do hipnotizador. Anúncios – “os escolhidos”. Frases fiquem em pé, ajoelhem-
por exemplo, o tom, o estado hipnótico num intencionais de que “todos e palavras como: “a paz se ou fiquem sentados. A
ritmo e a frequência da tempo abreviado. verão”, “alguém será cha- do senhor”; “aleluia”; purificação dos “pecados”
voz do terapeuta. Com o Prevalece o método em mado”, etc., são códigos “gloria senhor”, etc., são e/ou a redenção é a
tempo, o contexto, a detrimento do resultado, alinhados à intenção do apresentadas como códi- promessa da manifestação
música suave e a imagem posteriormente avaliado. show. gos que marcam o início do Espírito Santo.
do terapeuta, passa a ser ou fim do ritual, emoldu-
um signosinal indutor rando o comportamento
natural e comum. no rito. Anúncios de
revelações e curas elevam
a expectativa.

Quadro 4: Procedimento / Indução


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HIPNOSE CLÍNICA
EXPERIMENTAL TEATRAL/PALCO EVANGÉLICO CATÓLICO
A indução é declarada e A indução é declarada e Indução declarada explícita Indução implícita não Indução implícita não
explícita. A meta é pré- explícita. O pesquisador e/ou implícita. O hipnólogo declarada. O orador declarada. Há o anúncio
estabelecida em razão da conduz o trabalho em trabalha com o improviso e frequentemente utiliza da manifestação do poder
necessidade previamente razão de sua investigação, utiliza as circunstâncias em uma voz gutural (estere- da água benzida ou do
expressa pelo cliente. O pela confirmação ou não favor de sua intenção. A otipada) com variações de manto, que “se mani-
terapeuta convida o de seus pressupostos. A sugestão é impositiva e ritmo e volume. Emprega festará” sobre os presen-
cliente ao “trabalho” com meta é pré-estabelecida, direta. A resposta do palavras de ordem e refere tes. A “liberdade que
hipnose e utiliza técnica porém nem sempre individuo confirma o ao “poder que será sem- liberta” é conclamada e
conhecida e/ou adaptada. conhecida pelo sujet. A “poder” do hipnotizador e tido”, enquanto gritos e será sentida por aqueles
Etapas como indução, indução segue um modelo as sugestões impostas. A louvores entremeiam a que se “entregarem”. O
aprofundamento, sugestão formalizado com etapas indução é rápida com pregação (reforço). O êx- clima de expectativa em
(direta ou indireta) e saída definidas. As Escalas de técnicas que contemplam tase leva os presentes em torno da unção aplicada
do transe são cumpridas. profundidade do estado diferentes estratégias. contágio a levantarem os pelo representante do
Pode ser orientado o hipnótico conferem rigor Nesse tipo de indução, braços e baterem palmas poder sugere proteção e
acesso às memórias na ao procedimento e estados sonambúlicos são ou dançarem. Noutros poder. A emoção sentida
intenção terapêutica. O fidelizam a pesquisa. frequentes, com amnésia momentos a melodiosi- prenuncia os “escolhidos”.
nível do transe tem baixa Sujets refratários podem parcial ou total após o dade das músicas leva as
importância. ser excluídos do transe. Hipnólogo é um pessoas a se abraçarem ou
experimento. hábil comunicador. mesmo ao choro emocio-
nado, em profundo transe.

Quadro 5: Objetivos
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Declarados e consentidos Declarados e consentidos, Declarados e nem sempre Não declarados e consen- Não declarado e consen-
com possibilidades de sem a proposta ou o consentido, com a proposta tido por adesão. O com- tido por adesão. O com-
resultados favoráveis e compromisso de resulta- de entretenimento e sem promisso é determinado promisso é determinado
responsabilidade ética dos, com responsabilidade assumida responsabilidade pela fé e “adesão” ao pela fé e “adesão” ao
fiscalizada. ética pré-informada. pelas consequências. culto, que conduz ao culto, que conduz ao
atingimento da “graça”. atingimento da “graça”.

Quadro 6: Operação / Manejo


HIPNOSE HIPNOSE RITUAL NÉO RITUAL NÉO
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A repetição do procedi- A indução hipnótica pode O hipnotizador se detém A manifestação observada A renovação acontece por
mento na ação clínica e a ser em ação única ou mais à confirmação de sua nas ações de desobssessão ações onde o líder utiliza
orientação de autoexercí- repetida, de acordo com a ação hipnotizante com e descarrego a cada culto um recurso (manto, água
cios (auto-hipnose) são metodologia adotada no repetições rápidas e reforçam o poder da ação benzida, etc) levando os
medidas comuns ao pro- experimento. sucessivas, e sugestões que e eleva a adesão, tornando fieis à “transformação
cesso terapêutico em a confirmem. os fiéis multiplicadores. íntima” através de transes
razão do objetivo. coletivos.

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Quadro 7: Efeito Esperado


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A qualidade da interação O resultado está voltado à O efeito esperado no show A conversão e o compro- A nova igreja católica uti-
terapeuta / cliente é ingre- intenção investigada pelo de hipnose é a satisfação do misso do fiel com a causa liza métodos até então ob-
diente para o atingimento pesquisador. O pós acom- publico e/ou os níveis de e os interesses defendidos servados nas conversões
do resultado, cuja medida panhamento do sujet está audiência, sem comprome- pela igreja, em nome do evangélicas, supostamente
é de caráter subjetivo, vinculado à responsabi- timento do hipnólgo pós- fortalecimento do vínculo pela fidelização através da
pessoal e exclusiva. lidade ética assumida. espetáculo/apresentação. com o sagrado, é o efeito renovação pelo êxtase.
principal verificável.

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