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- São características típicas de sociedades industriais avançadas, ao passo que a realidade social
do Terceiro Mundo, com seu nível menor de diferenciação, pode ainda ser apreendida em
termos das categorias mais clássicas de análises sociológicas e de classes? Mito. Evitar este tipo
de universalismo eurocêntrico. Considerar as entidades do tipo "classes", "níveis" do social etc.,
enquanto complexos, resultantes da articulação contingente de entidades menores.
- Ruptura com o sujeito enquanto racional, central (outros níveis da personalidade, ação) –
inversão da noção clássica de subjetividade. O sujeito não é fonte do mundo, mas ocupa uma
posição no interior de uma estrutura DISCURSO = essa estrutura, conjunto de posições. Não
há uma relação prévia necessária entre os discursos.
- Peculiaridade dos novos movimentos sociais: a característica central deles é que um conjunto
de posições de sujeito [a nível de local de residência, aparatos institucionais, várias formas de
subordinação cultural, racial e sexual] tornaram-se pontos de conflito e mobilização política.
- Mas a impossibilidade de se estabelecer uma conexão necessária e prévia entre elas não
significa a inexistência de esforços constantes para estabelecer entre elas conexões variáveis e
historicamente contingentes. A este tipo de conexão, estabelecendo entre várias posições uma
relação contingente e sem predeterminação, é que chamamos de articulação. Não há nenhuma
identidade social integralmente adquirida que não esteja sujeita, em maior ou menor escala, à
ação de práticas articulatórias.
- Uma certa ordem social somente pode ser constituída com base numa fronteira que a separe
do que seja radicalmente "o outro", oposto a esta ordem. Exs: militarismo, Welfare State. [?]
Nos movimentos de deslocamento desta fronteira política interna é que devemos buscar as
características marcantes das lutas sociais contemporâneas.
- Séc. XIX - deslocamentos e transformações desta fronteira interna, desta linha que constitui a
negatividade social. No período 1789-1848, a linha divisora foi traçada pela oposição
"povo/Antigos Regimes". Essa fronteira social interna foi ficando cada vez menos eficaz (política
sem articulação e hegemonia).
- A transição para esta nova forma de política implica numa mudança decisiva: a transformação
do papel do imaginário político. Assim denominamos o conjunto de significados que, no âmbito
de um determinado complexo ideológico-discursivo, operem como um horizonte, ou seja, como
o momento de totalização equivalente de várias confrontações e lutas parciais. O social
somente pode ser vivenciado e concebido como uma totalidade.
- No século XIX, as lutas sociais permitiam o acesso destes antagonismos a um espaço político
relativamente unificado. A presença dessas áreas de emergência nessa área de construção tinha
de assumir a forma de uma relação de representação. Os momentos de crise no sistema político
foram momentos em que os novos antagonismos sociais entraram em choque direto com os
espaços políticos tradicionais (1830, 1848, 1871); mas, em qualquer caso, estas crises sempre
foram crises de um modelo total de sociedade ─ o que denominamos de imaginário político
unificado.
- Nas últimas décadas, a dimensão do horizonte do imaginário político, não é mais constituído
como um "modelo total" da sociedade, mas se restringe a certas exigências e certas relações
sociais específicas cada arranjo social "global" representa somente o resultado contingente
de operações de barganha entre uma pluralidade de espaços, e não uma categoria básica, a qual
determinaria o significado e os limites de cada um destes espaços.
- O campo político na América Latina foi construído, no último século, ao redor de duas matrizes
sucessivas, básicas e totalizantes: liberalismo e populismo.
- Quando esta dimensão capaz de expansão entrou em crise, a função da fronteira sofreu uma
transformação: o que eram fronteiras tornaram-se limites. Populismo: A dimensão
totalizante do social é instituída através de oposições básicas do tipo: "povo/oligarquia",
"nação/imperialismo" etc. Campo popular x campo de dominação.
- Durante os últimos vinte anos é que ─ talvez pela primeira vez ─ este momento totalizante se
encontre ausente ou, pelo menos, seriamente questionado. (1960/1980?) Não há mais foco
numa sociedade totalizante, mas numa pluralidade de exigências concretas, conduzindo a uma
proliferação de espaços políticos.
- Em que medida as novas mobilizações rompem com um imaginário totalizante ou, ao contrário,
em que medida elas permanecem aprisionadas nele? Será que a experiência de abertura dos
sistemas políticos, após a crise das ditaduras, leva a uma reprodução dos espaços políticos
tradicionais, com base numa dicotomia que reduza toda a prática política a uma relação de
representação? Ou será que a radicalização de várias lutas baseadas numa pluralidade de
posições de sujeitos leva a uma proliferação de espaços, reduzindo a distância entre
representante e representado?
COMENTÁRIOS:
- Revolução – mobilização das massas para tomar o Estado. Substituir uma forma opressora de
poder estatal por outra voltada para um fim distinto, mas que se utiliza de meios semelhantes
coerção e violência.
- Materialismo - qualquer mudança social significativa teria de "coincidir com o campo das
relações econômicas".
- Marx – primeiro transformações morais dos militantes, depois estruturais. Somente depois que
Marx absorveu integralmente a lógica teórica da economia política é que essa visão da revolução
se modificou - toda liderança eficaz em um sentido prático, teria de abandonar o humanismo e
a subjetividade. Marx distinguiu o socialismo, que agora acreditava representar a primeira etapa
"realista" da sociedade pós capitalista, do comunismo, visto como a segunda etapa
comprometida com a moral e a ordem normativa – futuras lutas poderiam evitar a violência das
barricadas.
- Pequena rede de autores analisaram como o entendimento cognitivo e moral das questões
exerce um papel importante na produção do descontentamento que alimenta os movimentos
sociais. Mesmo assim, esses autores raramente focalizaram de modo sistemático os
movimentos políticos de massa que lutam pela mudança social, e quando o fazem, é de modo
pejorativo e pessimista.
Dimensões criativas e subjetivas dos movimentos sociais ainda vistas como meios para um fim.
Necessidade de por de fato em xeque o modelo clássico - esclarecer a importância das práticas
interpretativas e do meio cultural e que, ao mesmo tempo, mostrar como estes aspectos se
inter-relacionam com fatores institucionais e históricos.
- A teorização sobre os novos movimentos sociais serviu de ponte legitimadora entre o modelo
clássico de movimentos sociais e a compreensão empírica de determinadas tendências
inevitáveis na vida social contemporânea. Permitiu manter intacta a antiga estrutura teórica.
mudanças históricas...
- Não basta atualizar o modelo clássico, assim como não é suficiente secularizá-lo ou invertê-lo.
É preciso fazer uma profunda revisão da teoria na sua maneira de entender o que é a mudança
social, inclusive nas formas mais radicais.
Alain Touraine (1925 - 94 anos) - sociólogo francês - pai da expressão "sociedade pós-industrial";
trabalho baseado na "sociologia de ação" - a sociedade molda o seu futuro através de
mecanismos estruturais e das suas próprias lutas sociais.
- A fim de conceituar essa ordem coletiva externa à política e as relações antiestratégicas que
ela inspira, Touraine recorre à idéia de sistema cultural. Nega categoricamente que uma situação
social possa ser reduzida à lógica interna da dominação. Atores influenciados por cultura e
conflitos. Conflitos e dominação pautados num contexto cultural.
- A julgar pelos textos mais recentes de Touraine (por exemplo, 1992b e 1994) - sociologia do
seu "período revolucionário" estaria chegando ao fim - declínio do espírito revolucionário.
Foco: Democracia - permitir que indivíduos, grupos e coletividades se tornem sujeitos livres.
(liberdade oposta àquelas lutas de classes).
Uma nova historicidade do contexto institucional e cultural dos movimentos sociais – fls 18
- Para que se possa finalmente superar o modelo clássico dos movimentos sociais, é preciso
acompanhar a abordagem do conflito que Touraine aplica à análise da ação, da cultura, das
normas e das instituições – e dar o devido reconhecimento ao papel que as obrigações morais e
políticas, e as instituições, desempenham na formação e regulação dos próprios conflitos.
Isso porque o modelo clássico dos movimentos sociais não só fracassa na compreensão da
especificidade das tentativas contemporâneas de realizar mudanças radicais; faz também uma
descrição extremamente distorcida dos próprios movimentos revolucionários.
- Movimentos surgem e lutam no interior dessas esferas (de diferenças) para obter justiça de
modo descontínuo, pluralista e auto-regulador, independente de sua posição estrutural -
incentiva o exercício da ação em face das limitações institucionais implícitas na própria
existência de um movimento social.
- A ação coletiva pode ser entendida como uma luta por posições ante os antagonismos das
categorias da vida civil, como uma luta para representar outros atores definidos por categorias
negativas e impuras e para representar a si mesmo como sagrado.
- ideal regulador
- Os movimentos sociais podem ser vistos como mecanismos sociais que constroem traduções
entre o discurso da sociedade civil e os processos institucionais específicos de tipo mais
particularista. São movimentos de natureza prática e histórica, mas que apenas podem ter êxito
se forem capazes de empregar a metalinguagem civil para relacionar esses problemas práticos
ao centro simbólico da sociedade e suas premissas utópicas.
- Touraine sugere um ponto de vista muito diferente. Designa os movimentos sociais como
respostas idealizadas à tensão entre orientações culturais utópicas e gerais e a posição
institucional limitada que caracteriza a contestação na vida cotidiana. A única maneira de
desenvolver essa idéia seminal é relacionar os movimentos sociais à cultura e às estruturas da
sociedade civil.
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