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BUKHARIN
A Economia Mundial e
o Imperialismo
Esboço Econômico
@
1984
EDITOR: VICTOR CIVITA
Nikolai lvanovitch BUKHARIN
(1888-1938)
PARTE TERCEIRA
' Falamos do imperialismo interpretando-o, sobretudo, como a politica do capital financeiro. Pode-se,
entretanto, falar do imperialismo entendendo-o como ideologia. O mesmo se passa com o liberalismo.
que, de um lado, constitui a política do capital industrial (livre-cambio etc), mas designa_ ao mesmo
tempo, toda urna ideologia ("liberdade individual" etc).
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Para destruir essa teoria, sem deixar pedra sobre pedra desse edificio,
basta indicar alguns fatos concretos. Os anglo-saxões, que têm a mesma ori
gem que os alemães, são seus inimigos mais ferozes; os búlgaros e os sér
vios, que falam quase a mesma língua e são eslavos por natureza, encon
tram-se de um e do outro lado das trincheiras. Pior ainda: os poloneses recru
tam, em seu seio, entusiastas partidários tanto da orientação austríaca como
da orientação russa. O mesmo acontece com os ucranianos, parte dos quais
é russófila e outra é austrófila. Por outro lado, cada uma das coalizões belige
rantes agrupa as mais heterogêneas raças, tribos e nacionalidades.
Que há de comum, em se tratando de raça, entre ingleses, italianos,
russos, espanhóis e negros selvagens das colônias francesas, que a "glorio
sa República" conduz à camificina, c_omo o faziam os antigos romanos a
seus escravos coloniais? Que há de comum entre alemães e tchecos, ucra
nianos e húngaros, búlgaros e turcos, que, juntos, marcham contra a coali
zão dos paises aliados? E bem evidente que não se trata de raças, e sim
das organizações de Estado de certos grupos da burguesia empenhados na
luta. E também evidente que esta ou aquela coalizão de "forças das potên
cias" não é determinada pela comunhão de alguns problemas de raça, mas
por uma comunhão de objetivos capitalistas, em dado momento. Não sem
razão, os sérvios e os búlgaros, que marchavam juntos contra a Turquia há
alguns anos, estão hoje separados em dois campos inimigos. Também não
é por acaso que a Inglaterra, antes inimiga da Rússia, se transforma hoje
em sua protetora. Não é, enfim, sem razão que o Japão segue os passos da
burguesia russa, ainda que, 10 anos atrás, o capital japonês combatesse o
capital russo, de annas nas mãos?
Se, longe de qualquer deformação, se adota um ponto de vista estrita
mente científico, a inconsistência dessa teoria salta aos olhos. Nem por isso,
entretanto, ela deixa de ser amplamente desenvolvida, não obstante sua fal
sidade evidente, na imprensa como nas cátedras universitárias, pela “boa
razão" de ser bastante proveitosa a Sua Majestade, o Capital?
Cabe, no entanto, para ser inteiramente justo, constatar que também
nos meios "científicos" imperialistas, à proporção que se opera a consolida
ção nacional das diferentes "raças" cimentadas pela mão de ferro 'do Esta
do militarista, se assiste a veleidades menos vulgares, mas igualmente incon
7Kautsky ridicularizou, oportunamente, a "teoria das raças". Ver seu llvro Rasse und Judentum, publi
cado durante a guerra.
3 São abundantes, na literatura "cientifica" do periodo da guerra, os exemplos verdadeiramente sur
preendentes de violências selvagens contra as verdades mals elementares. Procura-se por todos os
meios demonstrar a absoluta ausência de cultura, assim como a abominável natureza da "raça" do lni
migo. Uma revista francesa publicou uma espécie de "análise" visando a demonstrar a seus leitores
que a urina alemã contém 1/3 a mais de veneno que a urina aliada em geral, e a urina francesa em par
ticular
O lMPERlALlSMO. CATEGORLA HISTÓRICA 105
“NAUMANN, V. F. Mitteleuropa.
5 É conhecida a tese de Clauseu/itz: a guerra é a continuação da politica_ por outros meios. Ora, a pró
pria politica é a "continuação" ativa, no espaço, de dado modo de produção.
106 O IMPERIALISMO. REPRODUÇÃO AMPLIADA DA CONCORRÊNCIA CAPITALISTA
° É curioso que mesmo sábios, como o historiador russo R. Vipper, gostem de "modemizar" além da
medida os acontecimentos, fazendo desaparecer todos os limites históricos. Nestes últimos tempos.
aliás, Vipper revelou-se um caluniador chauvinisla sem freios e encontrou assistência no cidadão Rlabu
chinsky.
7O método de economia marxista é desenvolvido brilhantemente por Marx. em sua Elnleitung zur Ei
ner Kritik der Politischen Oekonomie. (Não confundir esse próiogo corn o prefácio de Zur Kritlk, que
contém os princípios essenciais na teoria do materialismo histórico.)
O lMPERlALlSMO,CAÉGORIA HISTÓRICA 107
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11o o IMPERIALLSMO.
RQFRODUÇÂO»mam DA CONCORRÊNCIACAPITALISTA
por limite o grau de cresdmento da riquaa social. Em segundo lugar. a parte
do capital social localizada em cada esfera especial da produção reparte-se en
tre numerosos capitalistas. independentes e concorrentes entre si. A essa dis
persão do capital social total em numerosos capitais individuais - ou a essa
repulsão recíproca de muitos capitais individuais - opõe-se a lorça de atra
ção. Já não se trata de uma concentração simples. idêntica à acumulação. Tra
ta-se da concentraçãopde capitais já lomrados, da supressão de sua autono
mia particular, da expropriação de um capitalista por outro, da transformação
de muitos capitais pequenos em um punhado de avultados capitais. Esse pro
cesso distingue-se do anterior por pressupor simplesmente uma repartição di
ferente dos capitais existentes e já em função. O capital acumula-se nas mãos
de um precisamente porque sai das mãos de muitos. E a centralização propria
mente dita. em oposição ã acumulação e à concentração"?
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116 O lMPERlALlSMO. REPRODUÇÃO AMPLIADADA CONCORRÊNCIA CAPlTALlSTA
"Não se trata", aqui, “de ganhar o que quer que seja na própria empresa:
trata-se. unicamente, de vencer a concorrência. A partir desse momento, a lu
ta é conduzida sem levar em conta os custos de produção. Não são estes últi
mos que servem para fixar o limite extremo dos preços, mas sim a potência
dos capitais e a capacidade de crédito do cartel, isto é, o tempo durante o
qual seus ñliados são capazes de sustentar a luta, sem dela auferir lucro al
gum."
l KESTNER, V. Fritz. Die Organisationszwang. Eine Untersuchung Uber die Kãmp/e zwischen Kartellen
und Aussenseitem. Berlim, 1912. Ver, igualmente, no que se refere a Kestner, o artigo de HlLFER
DlNG. "Organisationsmacht und Staaisgewalt." ln: Neue Zeit. 32,2.
7 Ver LAFARGUE. Les Trusts Américains; NAZAREWSKI. Op. cit. Ver, igualmente, MAYERS, Gusta
vus: History o] the Great American Fortunes. O relatório do Comité legislativo de seguros, para 1906,
diz: "Está comprovado que as grandes companhias de seguros empenharam-se em colocar a seu servi
ço a legislação deste Estado (Nova York) e de outros Estados. (...) Três companhias dividiram entre si o
pais (...) para se livrarem, desse modo, de grandes dificuldades, cada qual ocupando-se apenas de sua
região". Mayers acrescenta: "É maravilhoso: como a indústria, a corrupção transforma~se num sistema
e se modemiza!" O mesmo relatório fomece os dados seguintes: em 1904, a Mutual despendeu, em
gastos ligados à conupção. 364 254 milhões de dólares; a Equiiable, 172 698 milhões; e a New-York,
204 019 milhões (t. ill, p. 270).
OS MÉTODOS DE LUTA. VISANDO À CONCORRÊNCIA E AO PODER l 17
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120 o IMPERIALISMO, REPRODUÇÃO AMPLIADA DA CONCORRÊNCIA CAPITALISTA
5 Ver, por exemplo, o livro de Pavlovitch mencionado anteriormente. Kautsky fornece uma variante ain
da mais vulgar dessa teoria, ao afimiar (ver Nationalstaat, lmperialischer Staat und Staatenbund, assim
como vários artigos na Neue Zeit do tempo de guerra) que a guerra foi provocada (...) pela mobiliza
ção. Na realidade, isso significacolocar tudo de cabeça para baixo.
° Certos sociólogos e economistas burgueses o reconhecem, principalmente Franz Oppenheimer_ que
vê no Estado a organização das classes detentoras dos meios de produção (e, em primeiro lugar, da ter
ra) para a exploração das massas populares. Até certo ponto, sua definição aproxima-se da teoria mar
xista, ainda que alterando-a sensivelmente (no que concerne à imporiáncia primordial da terra etc.).
Convém assinalar que, em suas notas polémicas contra Oppenheimer, uma personalidade tão compe
tente como o economista e sociólogo alemão Adolf Wagner admite em larga medida aquela definição,
embora a transfira ao Estado "histórico". Ver seu artigo: "Staat ln Nationalõkonomlscher Hinsichi". ln:
Handwónerbuch der Staatsw issenschaften. t. Vll, 3.' ed., p. 731.
os MÉTODOS DE LUTA VISANDOA CONCORRÊNCIAE A0 mou: 121