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Maio, 2019
Índice
3. Conclusão ......................................................................................................................7
4. Bibliografia ...................................................................................................................9
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Introdução: Apresentação do artigo e sua importância
Hoje, mais que no passado o setor da saúde caracteriza-se por idiossincrasias muito
próprias e peculiares, em resultado da natureza dos mercados paradigmáticos da saúde
onde a incerteza, informação assimétrica, externalidades, bens públicos e
(i)rracionalidade dos indivíduos, ao qual se somam ainda uma grande fragilidade das
unidades hospitalares alicerçadas em orçamentos diminutos gerando constrangimentos
de natureza financeira, humana e tecnológica entre outros fatores que influenciam o
mercado da saúde. Tais pressupostos só por si justificam a aplicação da metodologia
Lean como forma de compartilhar saberes; organizar e projetar eficácia e eficiência;
prevenir o erro e gerar consciencialização coletiva e confiabilidade de processos como
fatores fundamentais para o sucesso das instituições de saúde (1) (2).
Assim a metodologia Lean congrega métodos e ferramentas sendo uma das mais
recentes importações de filosofia por parte do setor da saúde da indústria automóvel,
onde a Toyota na década de 90 construiu um sistema robusto, eficiente e em constante
atualização designado “Toyota Production System” (TPS) focado na maximização de
valor para o cliente, encarnando 3 rotinas: identificação de problemas; resolução de
problemas, identificando soluções e gestão de mudança e apropriação e
institucionalização das soluções (2) (3).
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mesmos desperdícios por via da otimização e automatização de fluxos ao longo da
produção com vista à redução de custos e ao aumento da produtividade (4) (5).
A apropriação por parte da indústria automóvel pelo Lean deve-se à necessidade desta
indústria atuar em mercados globais altamente competitivos. Relativamente à saúde
pela necessidade de melhorar a qualidade e eficiência dos serviços, controlando custos
pelo combate ao desperdício, adotando modelos operacionais sem comprometer o
acesso e a qualidade dos serviços de saúde (7).
A Toyota Motor Corporation considerada pela revista Forbes em 2018 como das
empresas mais conceituadas no mercado global sendo a marca Toyota a nona mais
valiosa do mundo (8). A Toyota absorveu os conceitos de produção em massa de
automóveis tendo como referencia as linhas de produção da Ford em Detroit, criando
assim o seu próprio sistema (Taiichi Ohno) de produção de automóveis, baseado na
melhoria contínua dos processos de produção. Esse sistema teve por base
metodologias ágeis, usadas especialmente na indústria de software estando na origem
do Toyota Production System (TPS), sendo certo que o termo Lean veio mais tarde nos
anos oitenta, pela mão de John Krafcik (9).
Mazzocato et al. em mais de mil referencias de artigos entre 1998 e 2008 salienta que
a filosofia Lean tem apresentado um crescente interesse por parte de gestores da saúde
no sentindo de aplicar os conceitos da indústria automóvel à saúde. Estes autores
compilaram 33 artigos tendo constatado que todos os artigos descrevem etapas iniciais
de implementação da filosofia Lean, focalizadas essencialmente nas questões de
processos (Lean Production, através de ferramentas específicas do Lean, como "kaizen
blitz" para incrementação gradual de ganhos de eficiência; mapa de fluxo de valor -
VSM), relatando aspetos positivos da aplicação desta metodologia no setor da saúde.
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Todas as abordagens assentam em quatro pilares apontando para cenários de mudança
culturais e organizacionais, a saber: simplificação e desmaterialização de processos;
implementação de estratégias visando eficácia e eficiência; deteção precoce de erros,
minimização do risco clínico e confiabilidade dos processos, encetando programas de
melhoria contínua da qualidade. Em síntese e segundo os autores do artigo Lean
thinking in healthcare, referem que a filosofia Lean foi empregue em diversas
organizações de saúde com resultados de sucesso com os seguintes propósitos de
intervenção: identificar processos e análise de constrangimentos; reorganizar processos
e torna-los mais eficazes/eficientes; deteção de erros, rastreabilidade de informação,
minimização de riscos e gestão da mudança organizacional (2) (5).
Toussaint, et. al. na análise do artigo adverte que o Lean é uma caminhada com principio
e desprovida de fim, onde o que não foi concretizado ao longo de décadas não poderá
ter resposta de forma célere e não encontra correspondência com desinvestimento, não
compromisso institucional e não aposta na melhoria continua (6).
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nível da melhoria de indicadores clínicos, referindo da necessidade de distinguir setor
público e privado, indústria automóvel e indústria da saúde (3).
Não menos interessante é o artigo de Abigail et. al. em que a filosofia Lean foi
implementada no Department of Neurosurgery, University of California, como
metodologia que pretendeu aumentar a resolutividade da formação em contexto de
trabalho no hospitalar e a eficiência do atendimento ao paciente por via do estudo de
fluxos de trabalho minimizado a entropia em objetivos aparentemente insolúveis (12).
Também Mazzocato et al. na sua extensão revisão bibliográfica fazem referência a uma
serie de instituições que abraçaram a filosofia Lean de uma forma menos cuidada sendo
certo que os resultados não foram os mais conseguidos (2). Contudo, Balushi et. al no
seu artigo refere que independentemente da complexidade das organizações de saúde
o avanço para a filosofia Lean só deve prosseguir caso a instituição disponha dos
seguintes fatores diferenciadores: liderança distintiva, cultura organizacional coerente,
comunicação, formação, sistemas métricos e de recompensa como fatores facilitadores
comummente atribuídos à gestão da mudança presentes na literatura Lean (13).
Radnor et. al. alerta no seu artigo sobre a implementação do Lean no NHS inglês refere
a focalização de gestores da saúde, fruto da departamentalização das unidades
hospitalares, nas ferramentas do Lean em detraimento de uma visão geral criando uma
abordagem desarticulada (5). Este aspeto do enfoque nas ferramentas em detrimentos
de uma visão global é apontada também por Leicher et. al. como uma estratégia menos
conseguida atendendo ás idiossincrasias das pessoas e cultura organizacional (14).
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qualidade, oferecendo serviços a um mais baixo custo pelo incremento de valor,
eliminação de redundâncias e combate ao desperdício (2) (6).
Mas foi nas décadas de 50 e 60 que surge a mudança de paradigma. A qualidade deixou
de estar associada á produção e ao produto para estar associada ao desempenho da
organização.
Na década de 50, Juran, doutrinava que a gestão da qualidade passaria pela adequação
ao uso e produção na “quantidade certa”, tendo estabelecido que a qualidade determina
conceitos como: planeamento, controle e melhoria continua.
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qualidade entre os diferentes setores da empresa, com o objetivo de criar
produtos/serviços com o máximo de economia e a plena satisfação dos consumidores.
Feigenbaum defende que a Qualidade, nada mais é que a soma dos esforços de toda
a organização para satisfazer o cliente, onde um sistema de qualidade total é transversal
a toda a organização, dando origem ao maior legado de Feigenbaum, a Qualidade Total
(17). Mas foi no Japão (onde Deming e Juran trabalharam após a Segunda Guerra
Mundial) que a Qualidade Total tomou o formato que influenciou os empresários do
mundo todo. Muito da filosofia Lean absorveu conceitos provenientes da Gestão da
Qualidade Total, referindo-se a uma estratégia de gestão orientada para criar
consciência da importância da qualidade em todos os processos organizacionais (17).
Conclusão
Num cenário de retração económica a nível mundial, orçamentos restritivos a qual ainda
se somam; compromissos entre Estados da União Monetária, um sistema de saúde
público com subfinanciamento, escassez de recursos, sobreposição de serviços, uma
indústria despesista, geradora de desperdício, falta de incentivos para os profissionais,
legislação restritiva em matéria de contratação, sedenta de incorporação de novas
tecnologias em saúde e grande variabilidade na utilização dos insumos e procedimentos
médicos, os gestores necessitam de novas abordagens filosóficas no sentido de eliminar
o desperdício (2)(6).
Mason et al. define Lean como uma metodologia “que usa um ciclo contínuo de melhoria
com enfoque no mapeamento e adaptação de caminhos de processos para eleger
etapas que fornecem 'valor' eliminando fontes de desperdício.” O Seis Sigma,
entretanto, é um processo “que visa melhorar a qualidade identificando e corrigindo as
causas dos erros reduzindo a taxa para um nível seis sigma - 3,4 defeitos por milhão de
oportunidades (DPMO). ”Combinando esses dois métodos: Lean vs. Six Sigma,
descritas pela sigla DMAIC (Definir, Medir, Analisar, Melhorar, Controlar) as instituições
podem beneficiar de ambos os sistemas (11).
Toussaint, et. al. no seu artigo adverte-nos que a implementação da filosofia Lean não
constitui uma solução rápida para os problemas das organizações de saúde, mas a sua
implementação exige análise detalhada da organização para avaliar o estado de
prontidão e disponibilidade para encetar um longo caminho e mudanças culturais. Não
menos importante é a responsabilidade e compromisso da direção de topo,
entrosamento de equipas e uma mudança no paradigma cultural das organizações na
busca incessante pela melhoria contínua, combate ao desperdício, minimização do risco
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clínico, onde organizações de saúde são cada vez mais escrutinadas por um público
cada vez mais ciente dos seus direitos e onde a prestação de contas perante
stakeholders é imperioso (6).
Em síntese, a aplicação do Lean Healthcare surge como uma forma das instituições de
saúde se reinventarem por via da redução de custos, eliminação de desperdícios e
consequente aumento da produtividade, qualidade e segurança dos serviços.
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Bibliografia
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