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Abrindo o debate: conceitos e palavras-chaves para a compreensão do tema da

América andina em foco - questões histórico-culturais do narcotráfico

América - a palavra "América" foi uma atribuição dada pelos europeus da península
ibérica. O nome foi uma homenagem prestada ao navegador Américo Vespúcio, com a
mudança da vogal para fins de seguir as denominações (patriarcais) dadas aos outros
continentes. A outra expressão que se refere à América é "novo continente", que remete
a existência de um "velho ou antigo" continente e, ainda, constrói a história a partir das
narrativas dos colonizadores. Um contraponto a esta palavra é o nome de Abya yala
que significa terra viva ou em florescimento. Nome utilizado pelos povos andinos para
autodesigninação como aqueles que são originários do continente e como meio de
criação de uma identidade própria. Andina - é o vocábulo referente à Cordilheira dos
Andes, uma das maiores cadeias de montanha do mundo, que compreende aos limites
da Venezuela, Equador, Colômbia, Bolívia, Peru e Chile. América Andina - é uma
expressão que remete ao processo geográfico de regionalização, ou seja, delimitação de
uma área com características específicas.

Povos Andinos - são povos que coabitam a região da Cordilheira dos Andes, que
podem ser dividas em faixas litorâneas, médios e altos planos e áreas florestadas. Suas
raízes étnicas remetem aos povos antigos que habitavam a região e da miscigenação dos
europeus (principalmente os espanhóis) que chegaram à região em meados do século
XV. As principais atividades produtivas eram a agricultura, criação de animais e
extrativismo. Atualmente, além da manutenção destas práticas, desenvolveram a
produção industrial petroquímica, siderúrgica, mecânica, química, automobilística, têxtil
e energética.

Narcotráfico - o vocábulo narco é referente à adjetivação dormência, adormecer,


anestesiar. Junto com a palavra tráfico, ligada ao fluxo ou comércio, passou a atribuir
todo processo industrial de cultivo, elaboração, distribuição e venda de drogas ilegais. A
importância geopolítica da produção de drogas acontece devido à rentabilidade do
negócio, que aparece como o segundo tipo de indústria mais lucrativo do mundo,
perdendo apenas para o comércio de armas e disputando posição com o mercado
futebolístico.
Coca - O uso da folha de coca na América do Sul remonta a um passado de mais de oito
mil anos, observado pelos estudos de Dillehay e colaboradores (2010), em ruínas
encontradas no vale Nanchoc, Peru. Comentam Karsh, Hernández e Sánchez (citados
em Ferreira, Martini, 2001) que seu nome deriva da palavra aimará khoka, cujo
significado seria ‘a árvore’. Para os incas, a planta era sagrada, um presente do Deus Sol
(Inti), relacionada à lenda de Manco Capac, o primeiro inca ou o filho do sol que desceu
do céu sobre as águas do lago Titicaca para ensinar aos homens as artes e a agricultura.
É uma planta da família Erythroxylaceae, seu nome científico é Erythroxylum coca.
Nativa da Bolívia e do Peru, tem porte arbustivo/arbóreo. Tanto no Perú, como na
Bolívia ela tem até hoje uma grande importância como chá, para dores de estômago,
cólicas, distúrbios digestivos, para facilitar a digestão, normalizar a pressão, problemas
de pele, do aparelho respiratório, da circulação, enjoo, fadiga na laringe, diminuição do
apetite. Os incas ao subirem as montanhas, às vezes ficavam dias sem comer, somente
mascando folhas, que tiravam a fome e lhe davam mais energia. Outras indicações
terapêuticas estudadas: antidepressivo acalma inflamações, fortalecem ossos fraturados,
o pó das sementes efeitos no sistema nervoso. É importante ressaltar o fato de que a
coca não é uma droga, e seu consumo em chás e em refrigerantes em certas escalas e em
certos países é permitido, como por exemplo, na Bolívia. O presidente da Bolívia Evo
Morales defende nas nações unidas a descriminalização da folha da coca. Para que a
droga cocaína seja criada, é necessário que a planta coca seja submetida há vários
processos químicos com substâncias industrializadas.

Cocaína - A cocaína é uma substância natural, extraída das folhas de uma planta que
ocorre exclusivamente na América do Sul. As formas de uso são:

 folhas de coca: podem ser mascadas ou ingeridas; são de uso cultural pelos
povos do Peru, Colômbia, Equador, etc.;
 pasta de coca: é fumada com tabaco ou maconha sendo esta mistura conhecida
como BASUCO. Além da cocaína, esta preparação contém solventes como
ácido sulfúrico;
 pó de coca (cloridrato): pode ser cheirado ou injetado;
 "crack" ou "rock" (base livre): é fumado e tem aparência de mineral

Os efeitos são relacionados a alterações em todo o organismo como aumento da


freqüência dos batimentos cardíacos (taquicardia) e aumento da pressão arterial
(hipertensão). Com a utilização da doses moderadas podem aparecer vômitos, diarréia,
excitação, confusão das idéias até ansiedade extrema. Estes efeitos podem durar de
poucas horas até alguns dias. A utilização de doses elevadas podem ocasionar uma
significativa hipertensão arterial, taquicardia, calafrios, transpiração excessiva,
convulsões e morte (por efeitos sobre o coração e respiração) que caracterizam a
intoxicação aguda, também conhecida como overdose.

A produção de drogas na América Andina teve um grande salto em meados da


década de 1970. A cocaína, que aparece como grande exemplo desta dinâmica,
passando a ser vista como símbolo de status das classes mais altas e disputar mercado
com as anfetaminas e drogas sintéticas. O aumento da demanda no mercado
internacional contribuiu para a reestruturação produtiva dos territórios cocaleros. O
plantio de coca pode ser pensado em termos das atividades agroindustriais, salvo a
particularidade de ser considerado ilícito, aparecendo no mercado internacional global e
na integração vertical das relações de produção. Um exemplo desse processo de
reordenamento territorial é o conflito entre as pequenas unidades produtivas, as
haciendas (grandes fazendas) e os cartéis da produção de coca, e a distribuição e venda
no mercado internacional. Os atores em destaque nessa complexa rede política territorial
são: os cultivadores de coca; trabalhadores sem terra e proletários urbanso
(transumância); os narcotraficantes, os grupos paramilitares e os cartéis; os governantes
e administradores estatais; os EUA (principal mercado consumidor, junto com Europa);
e organismos internacionais, tal com a ONU. Alguns dos impactos decorrentes desse
processo são as alterações das relações produtivas que passam a ser associada ao uso
estratégico da violência, a especulação fundiária e ao aumento do valor dos bens de
primeira necessidade e do custo de vida para a população local.

Questões para reflexão:

 Para onde vai à cocaína?


 Quais são os motivos da proibição? Quem proíbe? De que forma?
 Quais são as forma de uso da coca?
 Quais são as particularidades do narcotráfico e do cultivo presente em cada um
dos países que compõe a America Andina?
 Qual é o papel do Brasil no narcotráfico internacional?

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