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Escrito por:
Robert Brian Dilts
Publicado em:
seg, 14/08/2006
O dicionário Webster define modelo como "uma descrição simplificada de uma entidade ou
processo complexo" – como o "modelo de computador" dos sistemas circulatório e respiratório.
O termo tem sua raiz no latim modus, que significa "uma maneira de fazer ou de ser; um
método, forma, moda, hábito, maneira ou estilo." Mais especificamente, a palavra "modelo" é
derivada do latim modulus, que significa essencialmente uma versão "menor" do original. O
"modelo" de um objeto, por exemplo, é tipicamente a versão em miniatura ou
a representação deste objeto. Um "modelo de trabalho" (como o de uma máquina) é algo que
pode fazer, numa escala menor, o trabalho que a própria máquina faz, ou se supõe que faça.
A noção de um "modelo" também passou a significar "uma descrição ou analogia usada para
ajudar a visualizar algo (como um átomo) que não pode ser observado diretamente." Também
pode ser usado para indicar "um sistema de postulados, dados e conclusões apresentadas
como uma descrição formal de uma entidade ou de uma situação comercial."
Deste modo, um trem em miniatura, um mapa da localização das estações de trem mais
importantes ou a tabela de horário dos trens, são todos exemplos de diferentes tipos de
modelos possíveis de um sistema ferroviário. O propósito deles é emular algum aspecto do
sistema ferroviário real e fornecer informações úteis para lidar melhor com as interações em
relação a este sistema. O trem em miniatura, por exemplo, pode ser usado para avaliar o
desempenho de um trem sob certas condições físicas; o mapa das estações pode ajudar a
planejar o itinerário mais eficiente para se chegar a uma determinada cidade; o horário dos
trens pode ser usado para determinar o tempo exigido para uma determinada jornada. A partir
dessa perspectiva, o valor fundamental de qualquer modeloé a sua utilidade.
De fato, a PNL começou quando Richard Bandler e John Grinder modelaram os padrões
de linguagem e de comportamento dos trabalhos de Fritz Perls (fundador da terapia
Gestalt), Virginia Satir (fundadora da terapia de família e da terapia sistêmica) e Milton H.
Erickson , M.D. (fundador da Sociedade Americana de HipnoseClínica). As primeiras ‘técnicas’
da PNL se originaram dos padrões verbais e não verbais que Grinder e Bandler observaram
no comportamento desses excepcionais terapeutas. A implicação do título do primeiro livro
deles, A Estrutura da Magia (1975), era que o que parecia magia e inexplicável tinha, muitas
vezes, uma estrutura mais profunda que, quando iluminada, podia ser entendida, comunicada e
colocada em prática por outras pessoas afora os raros ‘magos’ excepcionais que tinham
executado inicialmente a magia. A PNL é o processo pelo qual as peças relevantes
do comportamento dessas pessoas foram descobertas e depois organizadas num modelo de
trabalho.
A PNL desenvolveu técnicas e distinções para identificar e descrever os padrões verbais e não
verbais do comportamento das pessoas – isto é, os aspectos essenciais do que a pessoa fala e
o que ela faz. Os objetivos básicos da PNL são modelar capacidades especiais e excepcionais
e ajudar para que essas capacidades se tornem transferíveis para outras pessoas. O propósito
desse tipo de modelagem é colocar o que foi observado e descrito em ação numa maneira que
seja produtiva e enriquecedora.
O objetivo da modelagem da PNL não é terminar com uma descrição ‘certa’ ou ‘errada’ do
processo de pensamento de uma pessoa em particular, mas sim fazer um mapa instrumental
que nos permite aplicar as estratégias que modelamos de alguma maneira útil. Um ‘mapa
instrumental’ é um que nos permite agir mais eficazmente – a ‘precisão’ ou ‘veracidade’ do
mapa é menos importante do que a sua ‘utilidade’. Deste modo, a aplicação instrumental das
estratégias comportamentais ou cognitivas modeladas de um indivíduo particular ou um grupo
de indivíduos envolve colocá-las em estruturas que nos permitem usá-las para algum propósito
prático. Esse propósito pode ser similar ou diferente daquele para o qual o modelo foi usado
inicialmente.
Essa é outra maneira de se dizer que os modelos que nós fazemos do mundo a nossa volta
com nossos cérebros e nossa linguagem não são o mundo em si, mas representações dele.
Uma implicação importante dos princípios da gramática transformacional é que existem
múltiplos níveis de estruturas, sucessivamente mais profundas na estrutura e organização
dentro de qualquer sistema de codificação. Uma importante implicação disso, com relação
à modelagem, é que pode ser necessário explorar vários níveis da estrutura profunda atrás de
um desempenho particular, a fim de se produzir um modelo efetivo. Além disso, diferentes
estruturas de superfície podem ser reflexos das estruturas profundas comuns. Para
uma modelagem efetiva, é importante, muitas vezes, examinar múltiplos exemplos de
estruturas de superfície para conhecer ou identificar melhor a estrutura mais profunda que a
produz.
Uma outra maneira de pensar sobre a relação entre a estrutura profunda e a estrutura de
superfície é a distinção entre "processo" e "produto". Produtos são expressões ao nível de
superfície dos processos produtivos mais profundos e menos tangíveis que são a sua fonte.
Assim, "estruturas profundas" são potenciais ocultos que se tornaram evidentes em estruturas
de superfície concretas como resultado de um conjunto de transformações. Esse processo
inclui tanto a destruição seletiva como a construção seletiva dos dados.
Os aspectos da estrutura profunda que se tornaram evidentes, são aqueles para os quais
suficientes ligações perdidas (deleções, generalizações, distorções) foram preenchidas para
que o potencial oculto no nível da estrutura profunda seja capaz de completar a série de
transformações necessárias para se tornarem evidentes como estrutura de superfície. Uma das
metas do processo de modelagem é identificar o conjunto completo de transformações
suficientes para que uma expressão apropriada e útil da estrutura profunda possa ser
alcançada.
Capacidades de modelagem
O foco da maioria dos processos de modelagem da PNL é ao nível das capacidades. As
capacidades conectam as crenças e os valores a comportamentos específicos. Sem o como,
saber o que alguém deve fazer, e mesmo porque fazer isso, é basicamente ineficiente.
Capacidades e habilidades fornecem os elos e a alavancagem para revelar a
nossa identidade, valores e crenças como ações num ambiente particular.
É mais importante ter em mente que as capacidades são uma estrutura mais profunda do que
tarefas ou procedimentos específicos. Procedimentos são tipicamente uma sequência de ações
ou passos que conduzem a realização de uma tarefa particular. Habilidades e capacidades,
entretanto, são frequentemente "não lineares" na sua aplicação. Uma capacidade ou habilidade
particular (como a capacidade de pensar com criatividade ou de se comunicar efetivamente)
pode servir como apoio para diferentes tipos de tarefas, situações e contextos. As capacidades
precisam ser capazes de serem "acessadas randomicamente," já que o indivíduo precisa ser
capaz de recorrer imediatamente a diferentes habilidades em diferentes momentos numa
tarefa, situação ou contextoparticular. Ao invés de uma sequência linear de passos, as
habilidades estão, desta maneira, organizadas em torno do T.O.T.S. – um laço
de feedback entre a) metas b) a escolha de significados usados para executar essas metas e
c) a evidência usada para avaliar o progresso com relação às metas.
1. As metas do executor.
2. A evidência ou os procedimentos de comprovação usados pelo executor para determinar o
progresso com relação às metas.
3. O conjunto de escolhas usado pelo executor para alcançar a meta e os comportamentos
específicos usados para implementar essas escolhas.
4. A maneira que o executor reage se a meta não é atingida inicialmente.
Desta maneira, o processo de modelagem em si pode ser dirigido para diferentes níveis de
complexidade com relação as habilidades e capacidades particulares.
Metodologia da modelagem
Uma das partes centrais do processo de modelagem é a metodologia usada para coletar
informações e identificar aspectos relevantes e padrões relativos ao T.O.T.S. da pessoa sendo
modelada. Enquanto a forma padrão para coletar informações, como questionários e
entrevistas, pode acessar algumas informações são, muitas vezes, insuficientes na
identificação das operações inconscientes ou intuitivas usadas pelo especialista humano.
Muitas vezes elas também assumem ou deletam informações importantes com relação
ao contexto.
Como a PNL pressupõe que "o mapa não é o território," que "cada um faz o seu próprio mapa
individual de uma situação," e que não existe um único mapa "correto" de qualquer experiência
ou evento, tomar perspectivas múltiplas é uma habilidade essencial para modelar efetivamente
um desempenho ou atividade particular. Perceber uma situação ou experiência a partir de
múltiplas perspectivas permite a pessoa obter insights e conhecimentos mais amplos com
relação ao evento.
Modelar da ‘primeira posição’ envolveria nós mesmos testando algo e explorando a maneira
que "nós" fazemos isso. Nós vemos, ouvimos e sentimos a partir da nossa própria perspectiva.
Modelar da ‘segunda posição’ envolve se colocar ‘nos sapatos’ da outra pessoa que está
sendo modelada, tentando pensar e agir tão possível quanto essa pessoa. Isso pode fornecer
importantes intuições sobre aspectos significativos porém inconscientes dos pensamentos e
ações da pessoa sendo modelada. Modelar da ‘terceira posição’ envolveria se afastar e
observar, como uma testemunha não envolvida, a pessoa a ser modelada interagindo com as
outras pessoas (inclusive conosco). Na terceira posição, nós suspendemos os nossos
julgamentos pessoais e percebemos apenas o que os nossos sentidos percebem, como
cientistas ao examinar objetivamente um determinado fenômeno através de um telescópio ou
microscópio. ‘Quarta posição’ envolveria um tipo de síntese intuitiva de todas essas
perspectivas, a fim de conseguir um sentido para todo o ‘gestalt.’
A PNL, de fato, nasceu da união da modelagem implícita com a explícita. Richard Bandler
modelou intuitivamente "implicitamente" as habilidades linguísticas de Fritz Perls e Virginia Satir
através de vídeos gravados e da experiência direta. Bandler era capaz de reproduzir muitas
dos resultados terapêuticos de Perls e Satir fazendo perguntas e usando a linguagem de
maneira similar a que eles faziam. Grinder, que era linguista, observou Bandler trabalhando um
dia, e ficou impressionado pela capacidade de Bandler influenciar os outros com o uso da
sua linguagem. Grinder podia perceber que Bandler estava fazendo algo sistemático, mas era
incapaz de definir explicitamente o que era. Bandler também era incapaz de descrever
explicitamente ou explicar exatamente o que ele estava fazendo e como estava fazendo. Ele só
sabia que tinha, de alguma maneira, "modelado" algo de Perls e Satir. Os dois homens
estavam intrigados e curiosos para ter um conhecimento mais explícito dessas capacidades
que Bandler tinha implicitamente modelado destes excepcionais terapeutas – um conhecimento
que iria lhes permitir transferir isso como uma ‘competência consciente’ para outros. Nesse
ponto Grinder fez uma proposta para Bandler: "Se você me ensinar a fazer o que você está
fazendo, então eu lhe direi o que você está fazendo."
Grinder e Bandler foram capazes de trabalhar juntos para criar o Metamodelo (1975)
sintetizando (a) suas intuições compartilhadas sobre as capacidades verbais de Perls e Satir,
(b) observações diretas (tanto ao vivo como em fitas gravadas) de Perls e Satir trabalhando, e
(c) o conhecimento explícito de Grinder sobre linguística(em particular, gramática
transformacional).
Bandler e Grinder trabalharam em conjunto, mais tarde, para aplicar um processo similar para
modelar alguns dos padrões da linguagem hipnótica de Milton H. Erickson; nessa época
Grinder também participava na modelageminicial "implícita" do comportamento de Erickson.
Eles, e os outros desenvolvedores da PNL, usaram desde então esse processo
de modelagem para criar inúmeras estratégias, técnicas e procedimentos em praticamente
cada área da competência humana.
Referências:
Modeling with NLP; Dilts, R., 1998.
A Estrutura da Magia, Editora LTC