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Universidade Estadual do Ceará

Faculdade de Filosoa Dom Aureliano Matos


Curso de Matemática

Noções Topológicas

Inacio Alan Barreto da Silva

Orientador: Prof. Dr. Flávio Alexandre Falcão Nascimento

Limoeiro do Norte - CE
2019
Inacio Alan Barreto da Silva

Noções Topológicas

TCC submetido ao Curso de Licenciatura Plena


em Matemática da Faculdade de Filosoa Dom
Aureliano Matos - FAFIDAM/UECE, como re-
quisito parcial para a obtenção da graduação em
Licenciatura em Matemática.

Aprovada em (em avaliação)

BANCA EXAMINADORA

Prof.Dr. Flávio Alexandre Falcão Nascimento

Limoeiro do Norte - CE

2019
Ficha Catalográca
Folha de Aprovação
Agradecimentos
Em primeiro lugar os meus agradecimentos vão para Deus, que nos momentos difíceis mandou

pessoas que ajudaram a me reerguer e chegar até aqui neste ponto da minha vida, prestes a

ter um curso superior.

Em segundo lugar agradeço aos próprios enviados de Deus dos quais destaco minha noiva

Vancleide, que me incentivou, ajudou e por muitas vezes me tirou de possíveis quadros

de depressão durante todo a nossa história juntos, além de se manter presente em todo o

meu período de graduação, priorizando meu conhecimento e me auxiliando nanceiramente

quando ninguém mais conseguia. Também ao meu pai Itamar, minha mãe Maria e madrasta

Eunice a qual passei a chamar de mãe após o falecimento precoce da minha mãe biológica.

Eles que me deram a vida e ainda me educaram, sempre fornecendo o máximo que podiam.

Tenho orgulho de ser o homem que sou hoje e tudo isso eu devo a eles.

Às minhas avós Francisca e Maria, pois contribuiram também com a minha criação e nunca

me deixaram desistir dos estudos.

À minha madrinha Tereza, ela que até o m me considerou como um neto e sempre esteve

pronta a me ajudar quando eu precisasse.

Às minhas tias, com ênfase na Sônia, Suely e Lurdes que são exemplos de mulher e donas de

sabedoria que me orientou em diversos momentos da vida.

Não posso esquecer o corpo docente do curso de Matemática da FAFIDAM, principalmente

os professores Wanderley, Cristiane, Acácio e Flávio, este último me escolheu como bolsista

e assim contribuiu ainda mais com o conhecimento que obtive no decorrer da faculdade.

A todos meus amigos, especialmente ao, Alan, meus primos, Kennedy, Gecicleide e Lusia que

sempre estiveram do meu lado, ensinando e aprendendo.

E nalmente, à todas pessoas, da minha família ou não, que contribuiram diretamente ou

indiretamente nesses últimos quatro anos da minha vida.


Fizemos tanto, com tão pouco por tanto tempo,

que agora podemos fazer qualquer coisa sem nada,

para sempre.

Konstantin Josef Jirecek.


Resumo
Neste trabalho, são apresentadas denições topológicas, assim como Teoremas, Corolários

e observações importantes para aqueles que desejam uma leitura detalhada do assunto, ou

mesmo uma fonte de estudo, além de conter um Capítulo inteiramente dedicado a solução

de questões. Toda a preparação do trabalho, a ordem dos conceitos e os exercícios foram

baseados no Capítulo cinco do livro Análise Real, Volume 1, do autor Elon Lages Lima,

e tendo dito isso, pode surgir a seguinte pergunta: "por que lê uma monograa se posso

consultar o livro?"A resposta está justamente em um dos meus objetivos: apresentar o tema

desta monograa de maneira a expandir todos as demonstrações que na visão do autor do

livro, são imediatas e ainda solucionar os exercícios do Capítulo de Topologia de modo que

possa auxíliar futuros graduandos em matemática. Vale ressaltar que no corpo deste trabalho

existe um Capítulo de resutados preliminares que pode ajudar na compreensão de certos

conceitos, mas eu proponho que o leitor já tenha certa familiaridade com análise, equivalente

no curso de matemática da FAFIDAM à disciplina Fundamentos da Matemática do sétimo

semestre, ou já tenha estudado os Capítulos um à cinco da referência [1].


Conteúdo

Agradecimentos 4

Resumo 6

Introdução 11

1 Resultados Preliminares 12
1.1 Conjunto Finitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

1.2 Conjuntos Enumeráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

1.3 Sequências de Números Reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

1.4 Séries Numéricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

2 Conjuntos Abertos 18
2.1 Ponto Interior e Interior de um Conjunto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2.2 União e Interseção de Conjutos Abertos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

3 Conjuntos Fechados 23
3.1 Ponto Aderente e Fecho de um Conjunto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

3.2 União e Interseção de Conjuntos Fechados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

4 Ponto de Acumulação 30
4.1 Derivado de um Conjunto e Conjunto Discreto . . . . . . . . . . . . . . . . . 30

4.2 Teorema de Bolzano-Weierstass . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32


5 Conjuntos Compactos. 34
5.1 Princípio dos Intervalos Encaixados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

5.2 Cobertura e Teorema de Borel-Lebesgue . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

6 O Conjunto de Cantor 39
6.1 Construção do Conjunto de Cantor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

6.2 Representação de K na Base 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

7 Exercícios 44
7.1 Conjuntos Abertos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

7.2 Conjuntos Fechados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

7.3 Ponto de Acumulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

7.4 Conjuntos Compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

7.5 Conjunto de Cantor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

Conclusão 58

Bibliograa 61
Introdução

O presente trabalho, traz algumas noções topológicas essenciais, para um primeiro

curso de análise. A escrita e a ordem de apresentação dos conteúdos, foram baseadas no

Capítulo cinco da referência [1] e nas anotações de aula do professor e orientador Flávio

Alexandre Falcão Nascimento.


A
Todo o TCC foi digitado no software L TEX e apresenta uma linguagem mais didática

do que a do livro, já que as demonstrações aqui desenvolvidas, têm como objetivo, elucidar

certas passagens que o autor omitiu, devido, o mesmo livro ser uma versão compacta de

uma outra publicação do mesmo autor: Curso de Análise Volume 1. Este último, também

utilizado na pesquisa e construção desta monograa.

A matemática desenvolvida no decorrer do trabalho, encontra-se dividida em sete

Capítulos, sendo o primeiro de resultados preliminares, cinco de Topologia, e o último de

exercícios, que também se encontram na referência [1].

Nos resultados preliminares, são relembrados conceitos indispensáveis de conjuntos

nitos, innitos, enumeráveis , não-enumeráveis, além das denições vinculadas à sequências

e séries. Os cinco Capítulos posteriores retratam o tema principal deste TCC, em que vale

citar os tópicos de conjuntos fechados e abertos, ponto de acumulação e os Teoremas de Borel-

Lebesgue e Bolzano-Weierstrass. Por m, a parte dedicada aos exercícios, traz questões de

todos os cinco Capítulos anteriores, divididas em vários níveis de diculdade, mas, em sua

maioria são medianas e difíceis.

Feito o lado matemático, vem em seguida a conclusão e considerações nais. Nesse

momento, são citadas as diculdades que enfrentei e tive que superar no decorrer da pesquisa,

a inspiração, as possibilidades de trabalhos futuros, o auxílio que tive do orientador e não

menos importante, a visão desta monograa como a continuação de um projeto do professor

Flávio, que teve inicio com os ex-alunos Antônio Eclésio Martins Gomes e Patrícia Renata

Pereira Regis.

11
Capı́tulo 1
Resultados Preliminares

Antes de começar o conteúdo de Topologia, irei introduzir alguns Teoremas, denições e

exemplos dos Capítulos 1, 3 e 4 do livro Análise Real volume 1 do Elon. Esses resultados, bem

como a assimilação dos mesmos, são essenciais para provar e compreender partes importantes

da Topologia abordada no decorrer desse trabalho, além de serem úteis na resolução dos

exercícios no Capítulo 7. Cabe, ressaltar que o assunto aqui apresentado não necessariamente

irá seguir uma sequência didática, isto é, nem sempre, haverá uma ligação lógica entre a

transição de um assunto para outro, além de dispensar algumas demonstrações. Tal decisão

se dá pelo tamanho que este Capítulo poderia atingir e para não abandonar o verdadeiro

tema deste T.C.C.

1.1 Conjunto Finitos

Denição 1.1. Um conjunto X diz-se nito quando é vazio ou então existem n∈N e uma

função bijetora f : In → X

O conjunto In citado na Denição acima, nada mais é que {p ∈ N; p ≤ n}.

1.2 Conjuntos Enumeráveis

Denição 1.1. Diz-se que X é enumerável quando é nito, ou quando existe uma bijeção

f : N → X.

As demonstração do Teorema e dos Corolários a seguir cam a cargo do leitor, ou podem

ser consultadas no livro Análise Real.

Teorema 1.2.1. Todo subconjunto dos naturais é enumerável.

Corolário 1.2.1. Todo subconjunto de um conjunto enumerável é enumerável.


1 Resultados Preliminares 1.2 Conjuntos Enumeráveis

Corolário 1.2.2. Seja f :X→Y sobrejetiva. Se X é enumerável, então Y é enumerável.

Corolário 1.2.3. O produto cartesiano de conjuntos enumeráveis é um conjunto enumerável.


Corolário 1.2.4. A reunião de uma família enumerável de conjuntos enumeráveis é enume-

rável.

Exemplo 1.2. O conjunto dos números inteiros é enumerável.

n−1
Demonstração. Com efeito, a função f :N→Z que associa f (n) = para n ímpar e
2
n
f (n) = − para n par é uma bijeção (verique). Assim, por Denição Z é enumerável.
2

Exemplo 1.3. O conjunto dos números racionais é enumerável.

m
Demonstração. Armamos que a função f : Z × Z∗ → Q tal que f (m, n) = é sobrejetora.
nm o n
De fato, Q é denido como ; m, n ∈ Z, n 6= 0 . Logo, se k ∈ Q então existem p, q ∈
n
p p
Z, q 6= 0 tais que = k. Daí, segue que f (p, q) = = k, provando o desejado. Por outro
q q

lado, temos pelo corolário 1.2.3 que Z × Z é enumerável e portanto pelo corolário 1.2.2 Q é

enumerável.

Por m, exibiremos um importante exemplo de conjunto não-enumerável.

Exemplo 1.4. O conjunto S de todas sequências innitas formadas com 0 e 1 não é enu-

merável.

Demonstração. Em outras palavras, S é o conjunto de todos as funções s : N −→ {0, 1},


para cada n ∈ N, o valor de s(n), igual a 1 ou 0, é o n-ésimo termo da sequência s. Por

exemplo,

s1 : N −→ {0, 1}; s1 = (0, 0, 0, 0, . . . , 0, . . .)

n 7−→ s(n) = 0

s2 : N −→ {0, 1}; s2 = (1, 1, 1, 1, . . . , 1, . . .)

n 7−→ s(n) = 1

s3 : N −→ {0, 1}; s3 = (1, 0, 1, 0, 1, 0, . . .)



0, se n é par
n 7−→
1, se n é ímpar

13
1 Resultados Preliminares 1.3 Sequências de Números Reais

s4 : N −→ {0, 1}; s4 = (1, 1, 0, 1, 1, 0, . . .)



0, se n = 3q ; q ∈ N
n 7−→
1, caso contrário

É imediato que S é innito. Para provar que S não é enumerável, mostremos que não existe

qualquer subconjunto enumerável de S, igual a S . Seja X = {s1 , s2 , s3 , . . .} ⊂ S , qualquer.


Devemos concluir que existe um elemento de S que não pertence a X . Com efeito, dado
sm ∈ X , indiquemos por

sm (n) = snm

o n-ésimo termo da sequência sm . Para ilustrar note que

s12 = s2 (1), s34 = s4 (3), . . . , sn6 = s6 (n), . . . , smn = sn (m), smm = sm (m)

A partir disso, denamos a sequência s∗ : N −→ {0, 1} da seguinte forma:


∗ 0, se snn = 1
s (n) =
1, se snn = 0

Ou seja,

s11 s21 s31 . . . sn1

s12 s22 s32 . . . sn2

s13 s23 s33 . . . sn3


. . .. .
. . . .
. . .

s1n s2n s3n . . . snn

Note que por Denição s∗ ∈


/ X s∗ ∈ S . De fato, s∗ é uma função de domínio
e ainda

igual a N e contradomínio igual a {0, 1}, isto é suciente para provar que s ∈ S. Por

outro lado, suponhamos, por absurdo que s ∈ X . Então existe algum n ∈ N tal que

s∗ = sn , ou seja, s∗ (n) = sn (n), para todo n ∈ N, em particular, digamos que s∗ (m) =


0 e daí, pela Denição de s∗ , temos que sm (m) = 1, logo:

0 = s∗ (m) = sm (m) = 1 ⇒ 0 = 1.

O que é uma contradição. Isto prova que X ( S, ou seja, sendo X um subconjunto enume-

rável qualquer de S, este jamais será o próprio S.

14
1 Resultados Preliminares 1.3 Sequências de Números Reais

1.3 Sequências de Números Reais

Denição 1.1. Uma sequência de números reais é uma função x : N → R, que associa a

cada número natural n um número real xn , que chamaremos de n-ésimo termo da sequência

(xn ).

Denição 1.2. Dada uma sequência x = (xn ). Uma subsequência de x é a restrição da

função x a um subconjunto innito N0 = {n1 < n2 < · · · < nk < · · · }.

Para denotar a subsequência de (xn ), escrevemos x0 = (xn )n∈N0 ou (xnk )k∈N . Note que esta

última notação mostra que toda subsequência também é uma sequência.

Denição 1.3. Diremos que (xn ) é limitada superiormente, (inferiormente) se existe c ∈ R


tal que xn < c (xn > c) para todo n natural. Se (xn ) é limitada superiormente e inferiormente,

diremos simplesmente que (xn ) é limitada.

Denição 1.4. Diz-se que o número real a é limite da sequência (xn )n∈N quando, para todo

ε > 0, dado arbitrariamente, pode-se obter um índice n0 ∈ N tal que os termos xn com índice

n > n0 cumprem a condição |xn − a| < ε.

Em símbolos, pode-se reescrever a Denição acima da seguinte maneira:

lim(xn ) = a ⇔ ∀ε > 0 ⇒ ∃n0 ∈ N; n > n0 ⇒ |xn − a| < ε.

Qunado existe a = lim(xn ) dizemos que (xn ) converge para a, ou simplesmente (xn ) é

convergente. Caso o limite não existe, diz-se que (xn ) diverge.

Teorema 1.3.1. Se uma sequência converge para a, então todas as suas subsequências tam-

bém convergem para a.

Demonstração. Seja (xn1 , xn2 , · · · , xnk , · · · ) uma subsequência de (xn ). Dado qualquer inter-
valo aberto I de centro a, existe n0 ∈ N tal que todos os termos xn , n > n0 , pertencem a I.

Em particular, todos os termos de xnk , nk > n0 , também pertencem a I. Logo lim(xnk ) = a

A recíproca do Teorema anterior também é válida, já que (xn ) é uma subsequência de sí

própria. Portanto, se toda subsequência de (xn ) converge, segue que (xn ) converge.

Teorema 1.3.2. Toda sequência convergente é limitada.

15
1 Resultados Preliminares 1.3 Sequências de Números Reais

Demonstração. Digamos que lim(xn ) = a. Logo, para ε = 1, existe n0 ∈ N tal que xn ∈


(a − ε, a + ε) para todo n > n0 . Daí, concluimos que o seguinte conjunto é nito:

A = {x1 , · · · , xn , a − 1, a + 1}.

Portanto, existem d, respectivamente o menor e o maior elemento de A. Assim A ⊂ [c, d]


c e

onde todos termos de (xn ) estão em A. Isso prova que (xn ) é limitado inferiormente por c e

superiormente por d.

Denição 1.5. Uma sequência (xn ) chama-se monótona quando xn+1 ≤ xn ou xn+1 ≥ xn
para todo n ∈ N. No primeiro caso, chamamos (xn ) de monótona não-crescente, enquanto que
o outro caso, chamamos de monótona não-decrescente. Se tivermos xn+1 > xn ou xn+1 < xn ,

a sequência (xn ) também é monótona, contudo diremos que (xn ) é monótona crescente, ou

monótona decrescente.

O próximo Teorema e Corolário tiveram suas demonstrações omitidas, mas novamente

podem ser consultadas no livro Análise Real do Elon.

Teorema 1.3.3. Toda sequência monótona limitada é convergente.

Corolário 1.3.1 (Teorema de Bolzano-Weierstrass). Toda sequência limitada de núme-

ros reais, possui uma subsequência de convergente.

O fato de dizermos que o resultado acima é um Corolário, se deve ao argumento usado para

prova-lo, pois toda a demonstração é construída na armação de que toda sequência possui

uma subsequência monótona. Daí sendo esta subsequência monótona e limitada, pois é

subsequência de uma sequência limitada, segue do Teorema 1.3.3 que a mesma é

convergente.

Teorema 1.3.4 (Teorema do Sanduíche.). lim(xn ) = lim(zn ) = a


Se e xn ≤ yn ≤ zn para

todo n sucientemente grande, então lim(zn ) = a.


Demonstração. Sabemos que para qualquer ε>0 existem n1 , n2 > 0 pertencentes aos natu-

rais, tais que

n > n1 ⇒ |xn − a| < ε ⇔ a − ε < xn < a + ε e n > n2 ⇒ |zn − a| < ε ⇔ a − ε < zn < a + ε.

Por outro lado, existe n3 ∈ N em que n > n3 ⇒ xn ≤ yn ≤ zn . Feito isso, tomando

n0 = max{n1 , n2 , n3 }, vem que para n > n0 . a seguinte relação é válida:

a − ε < xn ≤ yn ≤ zn < a + ε ⇒ a − ε < yn < a + ε ⇒ |yn − a| < ε.

Assim, ca provado que lim yn = a.

16
1 Resultados Preliminares 1.4 Séries Numéricas

Alguns autores também chamam o Teorema enunciado e provado agora de Teorema do

confronto.

Denição 1.6. Um número a chama-se valor de aderência de uma sequência (xn ) quando é

limite de uma subsequência de (xn ).

O próximo resultado, apresentado como Proposição e sem demostraçã, é um exercício

proposto do Capítulo 3 do livro Análise Real, enunciamos aqui porque utilizaremos ela

somente pra auxiliar na solução de um problema do Capítulo 7.

Proposição 1.7. A m de que um real b não seja valor de aderência da sequência (xn ) é

necessário e suciente que existam n0 ∈ N e ε > 0 tais que n > n0 ⇒ |xn − b| ≥ ε.

1.4 Séries Numéricas

Denição 1.1.
P
Uma série é uma soma an = a1 + a2 + · · · + an + · · · com um número

innito de parcelas.

Para a Denição fazer sentido, iremos por lim (a1 + a2 + · · · + an ). Como todo limite, este
n→∞
pode existir ou não e daí surgem as séries convergentes e divergentes.

Denição 1.2. Denimos que os seguintes números são as reduzidas ou somas parciais da
P
série an .
s1 = a1 , s2 = a1 + a2 , · · · , sn = a1 + a2 + · · · + an .

E a parcela an é o n-ésimo termo, ou termo geral da série. Se existir o limite s = lim sn ,


P P n→∞P
diremos que a série an é convergente e s= an . Se lim sn não existir, diremos que an
n→∞
diverge.

Exemplo 1.3. an
P
Quando |a| < 1 a série geométrica é convergente com soma igual a
1
.
1−a

17
Capı́tulo 2
Conjuntos Abertos

Neste Capítulo são apresentadas as denições iniciais de Topologia na reta, baseando-se no

Capítulo 5 do livro Análise Real volume 1, do autor Elon Lages Lima. Conceitos importantes,

aqui são denidos, como o de conjunto aberto, vizinhança e interior de um conjunto, além

de enunciar e demonstrar um Teorema muito importante, da união e interseção de conjuntos

abertos.

2.1 Ponto Interior e Interior de um Conjunto

Denição 2.1. Diremos que um ponto a é interior ao conjunto X ⊂ R se existir pelo menos

um ε > 0, tal que o intervalo (a − ε, a + ε) está contido em X.

Observação 2.2. Pode-se ainda dizer que a ∈ X ⊂ R é interior a X se, e somente se,

existir uma bola aberta centrada em a, contida em X.

Neste momento cabe lembrar que a bola aberta de centro a e raio r é denida
da seguinte maneira:
B(a; r) = {x ∈ R, |x − a| < r} = (a − r, a + r).

Denição 2.3. O conjunto dos pontos interiores a X⊂R chama-se o interior do conjunto

X e pode ser denotado por intX.

Denição 2.4. Diz-se que X⊂R é vizinhança de um ponto a, se a ∈ intX

Denição 2.5 (Conjunto Aberto). Um conjunto A ⊂ R chama-se aberto quando A = intA,


ou seja, quando todos os pontos de A são interiores a A.

Note, que para provar que um conjunto A é aberto, é suciente concluir A ⊂ intA, já que a

partir da Denição 2.1 pode-se armar intA ⊂ A.

18
2 Conjuntos Abertos 2.1 Ponto Interior e Interior de um Conjunto

Proposição 2.6. Todo intervalo aberto limitado, é um conjunto aberto.

Demonstração. Seja (a, b) ⊂ R com a 6= b. Devemos mostrar, que int(a, b) ⊃ (a, b), ou seja,

que para todo c ∈ (a, b) existe ε > 0 tal que (c − ε, c + ε) ⊂ (a, b).

Para isto, tomemos ε = min{b − c, c − a}.

Se ε = b − c então

(c − ε, c + ε) = (c − b + c, c + b − c) = (2c − b, b).

Onde, b − c < c − a ⇒ b − 2c < −a ⇒ 2c − b > a.


Portanto,

a < 2c − b < b ⇒ (2c − b, b) ⊂ (a, b).

Se ε = c − a, tem-se

(c − ε, c + ε) = (c − c + a, c + c − a) = (a, 2c − a).

Em que c − a < b − c ⇒ 2c − a < b, ou seja, (a, 2c − a) ⊂ (a, b). Isto, conclui a demonstração.

Proposição 2.7. Os pontos a, b do intervalo [a, b] não são interiores a [a, b].

Demonstração. Mostremos para b e ,de modo análogo, concluimos o mesmo para a.


Suponhamos que b seja interior a [a, b], logo, existe ε > 0 tal que (b − ε, b + ε) ⊂ [a, b]. Assim,

a ≤ b − ε < b + ε ≤ b ⇒ b + ε ≤ b ⇒ ε ≤ 0.

Contradição, pois, ε > 0.

Proposição 2.8. O interior do conjunto dos números racionais é vazio.

Demonstração. Supondo que intQ 6= ∅, temos que existe um racional a, de modo que pode-
mos denir um bola aberta de centro a e raio r, donde B(a; r) ⊂ Q. Mas B(a; r) = (a−r, a+r)

e como todo intervalo não degenerado contém racionais e irracionais, segue que, (a − r, a + r)

não pode está contido nos racionais. Assim intQ = ∅

Proposição 2.9. int[a, b] = (a, b)

Demonstração. Seja c ∈ (a, b), logo a < c < b.


Pondo ε =min{b − c, c − a}, temos (c − ε, c + ε) ⊂ [a, b].

Resta-nos provar que a, b ∈


/ int[a, b]. Com efeito, para todo ε > 0 temos que (a − ε, a + ε) e

19
2 Conjuntos Abertos 2.2 União e Interseção de Conjutos Abertos

(b − ε, b + ε) não estão contidos em [a, b].


Os casos em que os pontos são maiores que b e menores que a são imediatos.

Portanto, int[a, b] = (a, b).

Proposição 2.10. O intervalo fechado [a, b] não é uma vizinhança de a nem de b.

Demonstração. Suponhamos que [a, b] é uma vizinhança de a, isto é, a ∈int[a, b].


Pela Proposição 2.9 , vem que int[a, b] = (a, b), logo

a ∈ (a, b) ⇒ a < a < b ⇒ a < a.

Absurdo. Analogamente, concluimos o mesmo resultado para b.

Proposição 2.11. O conjunto vazio é aberto.

Demonstração. Por vacuidade.

Proposição 2.12. Todo intervalo aberto, limitado ou não, é um conjunto aberto.

Demonstração. Com base na Proposição 2.6, é suciente mostrar que (a, +∞), (−∞, b) e

(−∞, +∞) são abertos.


o caso (−∞, +∞) = R é imediato.

Por outro lado, tomemos c ∈ (a, +∞). Disto, segue que c > a.
Fazendo ε = c − a, temos:

(c − ε, c + ε) = (a, 2c − a) ⊂ (a, +∞).

Da arbitrariedade de c concluimos que (a, +∞) é aberto.

O caso (−∞, b) é análogo.

Proposição 2.13. Com base na Denição de conjuntos abertos, podemos reformular o con-

ceito de sequência da seguinte forma:

Diz-se que a é limite de uma sequência (xn ) em reais se, e somente se, para todo conjunto

aberto A contendo a, existe n0 ∈ N tal que

n > n0 ⇒ xn ∈ A.

A demonstração desta Proposição é imedita, uma vez que o conjunto aberto A nada

mais é que um intervalo aberto que contém a e portanto teremos denições equivalentes se

tomarmos A = (a − ε, a + ε).

20
2 Conjuntos Abertos 2.2 União e Interseção de Conjutos Abertos

2.2 União e Interseção de Conjutos Abertos

Teorema 2.2.1.
(a) Se A1 e A2 são conjuntos abertos, então a interseção A1 ∩ A2 é um conjunto aberto.
[
(b) Se (Aλ )λ∈L é uma família qualquer de conjuntos abertos, então a reunião A= Aλ é
λ∈L
um conjunto aberto.

Demonstração. (a) Se x ∈ A1 ∩ A2 , então x ∈ A1 e x ∈ A2 . Como A1 e A2 são conjuntos


abertos, segue que existem ε1 > 0 e ε2 > 0 tais que (x−ε1 , x+ε1 ) ⊂ A1 e (x−ε2 , x+ε2 ) ⊂ A2 .

Tomando ε = min{ε1 , ε2 }, temos que (x − ε, x + ε) ⊂ A1 e (x − ε, x + ε) ⊂ A2 .

Assim, (x − ε, x + ε) ⊂ A1 ∩ A2 . Isso mostra que A1 ∩ A2 é aberto.

(b) Se x ∈ A, temos que existe um λ ∈ L tal que x ∈ Aλ . Como Aλ é aberto, segue que existe

ε > 0 tal que (x − ε, x + ε) ⊂ Aλ ⊂ A.


Portanto, A é aberto.

É possível notar no item (b), do fato de (Aλ )λ∈L ser uma família qualquer, que tal

conjunto possui uma innidade de conjuntos abertos, isto é, a reunião innita de conjuntos

abertos é aberto. No entanto no item (a) o resultado só é válido para uma quantidade nita

de conjuntos abertos.

De fato, se A1 , A2 , ..., An são conjuntos abertos com x ∈ A1 ∩A2 ∩...∩An , então x ∈ A1 , ..., An .
Disto vem que existem ε1 , ..., εn com εi > 0; i = 1, .., n tais que:

(x − ε1 , x + ε1 ) ⊂ A1 , ..., (x − εn , x + εn ) ⊂ An .

Tomando ε = min{ε1 , ..., εn } temos:

(x − ε, x + ε) ⊂ (x − ε1 , x + ε1 ), ..., (x − ε, x + ε) ⊂ (x − εn , x + εn ).

Logo (x − ε, x + ε) ⊂ A1 ∩ ... ∩ An , ou seja, existe uma bola aberta centrada em x contida


no conjunto A1 ∩ ... ∩ An . Assim, provamos que a interseção nita de conjuntos abertos é um

conjunto aberto.

Por outro lado utilizemos um exemplo para mostrar que o resultado de (a) não é válido para

innitos conjuntos abertos.


  ∞
1 1
Exemplo 2.1.
\
Se An = − , ; ∀n ∈ N, então An = {0}.
n n n=1
 
1 1 \
Demonstração. Evidentemente 0 ∈ − , = An ; ∀n ∈ N. Logo 0 ∈ An .
n n n∈N
Por outro lado, se x 6= 0 então |x| > 0.

21
2 Conjuntos Abertos 2.2 União e Interseção de Conjutos Abertos

1
Assim, existe k∈N tal que 0< < |x|.
k 

1 1 1 1
Portanto x < − ou x > , isto é, x ∈
/ − , .
k k k k
\∞ ∞
\
Logo x ∈
/ An , o que nos leva a concluir An = {0}.
n=1 n=1

\
Como, 0 não é interior a {0}, segue portanto que An não é aberto.
n=1

22
Capı́tulo 3
Conjuntos Fechados

Dando continuidade, aqui são denidos fecho de um conjunto e conjunto fechado, além da re-

lação entre tais conceitos. Um Teorema que podemos dizer ser uma consequência do Teorema

2.2.1 também é enunciado e provado.

3.1 Ponto Aderente e Fecho de um Conjunto

Denição 3.1. Diz-se que o ponto a é aderente ao conjunto X ⊂R quando a é limite de

alguma sequência de pontos xn ∈ X.

Proposição 3.2. Todos os pontos de X⊂R são aderentes a X.

Demonstração. Seja a ∈ X. Denindo (xn ) como a sequência constante (a), isto é, xn = a


para todo n natural, temos de imediato que lim xn = a, provando, por Denição, que a é

aderente a X.

Denição 3.3. Denominamos fecho do conjunto X⊂R ao conjunto X formado por todos

os pontos aderentes a X.

Proposição 3.4. X ⊂ X.
Demonstração. Decorre imediatamente da Proposição anterior.

Proposição 3.5. Se X⊂Y então X ⊂Y.

Demonstração. Seja a ∈ X. Sea ∈ X, então a ∈ Y. Logo pela Proposição 3.4 da primeira

seção, temos a ∈ Y , ou seja, X ⊂Y.


Por outro lado, se a ∈
/ X, segue que existe uma sequência xn ∈ X que converge para a. Como

23
3 Conjuntos Fechados 3.1 Ponto Aderente e Fecho de um Conjunto

xn ∈ X para todo n xn ∈ Y. Ou seja, exibimos uma sequência (xn ) de


natural temos que

termos pertencentes a Y que converge para a. Portanto a é aderente a Y, ou equivalentemente

a ∈ Y . Assim, X ⊂ Y .

Denição 3.6. Um conjunto X diz-se fechado quando X = X, ou seja, quando todo ponto

aderente a X pertence a X.

Denição 3.7. Dados X, Y com X ⊂ Y. Diz-se que X é denso em Y quando Y ⊂ X, isto

é, quando todos pontos de Y são aderentes a X.

Teorema 3.1.1. Um ponto aé aderente ao conjunto X se, e somente se, toda vizinhança

de a contém algum ponto de X.

Demonstração. Se a é aderente a X, então existe uma sequência (xn ) com xn ∈ X tal que
lim xn = a. Da Denição de limite de uma sequência, temos que para ε > 0 existe n0 ∈ N tal

que:

n > n0 ⇒ |xn − a| < ε ⇒ xn ∈ (a − ε, a + ε).

Logo se V é uma vizinhança qualquer de a, então a ∈ intV, ou seja, existe ε1 > 0 tal que
(a − ε1 , a + ε1 ) ⊂ V. Assim, tomando ε = ε1 resulta que para n sucientemente grande
xn ∈ (a − ε1 , a + ε1 ) e (a − ε1 , a + ε1 ) ⊂ V. Como xn ∈ X, obtemos V ∩ X 6= ∅.
Recíprocamente, se toda vizinhança V de a contém pontos de X, podemos escolher em cada
1 1
intervalo (a − , a + ), n ∈ N um ponto xn ∈ X. Disso, concluimos que:
n n
1 1 1 1
a− < xn < a + ⇒ − < xn − a < .
n n n n
   
1 1
Onde lim − = lim = 0. Portanto, pelo Teorema do confronto
n n

lim(xn − a) = 0 ⇒ lim xn = a ⇒ a ∈ X.

A negação do Teorema acima é bastante utilizada para mostrar que um ponto a não
X , isto é, se existe uma vizinhança V de a tal que V ∩X = ∅, então
é aderente a um conjunto

a∈
/ X. Pode-se melhorar tal armação percebendo que V pode ser um conjunto aberto, uma
vez que as menores vizinhanças de um ponto são conjuntos abertos.

Corolário 3.1.1. O fecho de qualquer conjunto é um conjunto fechado. Ou seja, X =X


para todo X ⊂ R.

24
3 Conjuntos Fechados 3.2 União e Interseção de Conjuntos Fechados

Demonstração. Pela Proposição 3.4 da seção 3.1, segue que X ⊂ X. Por outro lado, se a ∈ X,
então toda vizinhança de a X. Seja V um conjunto aberto que contém
contém pontos de

a. Note que V é uma vizinhança de a, pois intV = V e a ∈ V, logo a ∈ intV. Portanto


V ∩ X 6= ∅. Se b ∈ V ∩ X, então b ∈ V = intV, logo V é vizinhança de b. Como b é aderente a
X, segue da Denição que V contém pontos de X. Da arbitrariedade de V, temos que a ∈ X,
ou seja, X ⊂ X. Portanto, pela dupla inclusão X = X.

É importante salientar que a partir do Corolário acima, o fecho do fecho de um

conjunto é o próprio fecho.

Teorema 3.1.2. Um conjunto F ⊂ R é fechado se, e somente se, o seu complementar

A=R−F é aberto.

Demonstração. Sejam F um conjunto fechado e a ∈ A, isto é, a ∈


/ F. Note que F = F , logo
a∈/ F e portanto existe ε > 0, tal que (a−ε, a+ε)∩F = ∅. Disso, vem que (a−ε, a+ε) ⊂ A,
provando que A é aberto.

Recíprocamente, sejam A aberto e a ∈ F , isto é, toda vizinhança de a contém pontos de F.

Assim a ∈/ intA = A, portanto a ∈ F, ou seja, F ⊂ F. Como pelaProposição 3.4 da seção


de ponto aderente e fecho de um conjunto, F ⊂ F segue pela dupla inclusão que F = F , ou

equivalentemente, F é fechado

3.2 União e Interseção de Conjuntos Fechados

Teorema 3.2.1.
(a) Se F1 e F2 são conjuntos fechados, então F1 ∪ F2 é um conjunto fechado.

(b) Se (Fλ )λ∈L é uma família qualquer de conjuntos fechados,então a interseção


\
F = Fλ é um conjunto fechado.
λ∈L

Demonstração. (a) A = R − F1 e B = R − F2 são abertos. Pelo


Da hipótese, segue que

Teorema 2.2.1 item (a), temos que A∩B = R−(F1 ∪F2 ) é aberto e portanto, seu complementar

F1 ∪ F2 é fechado.
(b) Para cada λ ∈ L, Aλ = R − Fλ é aberto. Portanto, pelo Teorema 2.2.1 item (b), segue-se
[
que A = Aλ é aberto. Assim:
λ∈L
\ \ [
F = Fλ = (R − Aλ ) = R − Aλ .
λ∈L λ∈L λ∈L

Ou seja, F é complementar de um conjunto aberto, provando assim que F é fechado.

25
3 Conjuntos Fechados 3.2 União e Interseção de Conjuntos Fechados

Vimos no Capítulo anterior que os pontos a, b não são interiores a [a, b]. O próximo

exemplo nos diz que a, b ∈ [a, b].

Exemplo 3.1. Seja X⊂R limitado não vazio. Então a= infX e b= supX são aderentes

a X.

Demonstração. Temos por Denição de ínmo que para todo ε > 0 existe x ∈ X tal que

a < x < a + ε. Como (a, a + ε) ⊂ (a − ε, a + ε), segue que a ∈ X.


De modo análogo, se b = supX, então para todo δ > 0, existe y ∈ X, de modo que

b − δ < y < b, donde (b − δ, b) ⊂ (b − δ, b + δ) e assim b ∈ X.

Existe ainda uma outra demonstração para tal resultado. Como um dos objetivos

deste trabalho é proporcionar a melhor maneira de apresentar o Capítulo sobre Topologia,

segue abaixo a outra demonstração e a maneira mais fácil, ou mais didática ca a critério do

leitor.

1
Demonstração. Para cada n∈N xn ∈ X, onde a ≤ xn < a + , logo, pelo
podemos escolher
  n
1
teorema do confronto lim xn = a, pois lim a = lim a + = a. De modo análogo podemos
n
ver que b = lim yn ; yn ∈ X. Portanto, a e b são aderentes a X.

Proposição 3.2. O fecho dos intervalos (a, b), [a, b) e (a, b] é o intervalo [a, b].

Demonstração. Mostremos somente o primeiro caso, já que as outras armações são análogas.

Veriquemos, inicialmente que [a, b] ⊂ (a, b).


Seja c ∈ [a, b], isto é a ≤ c ≤ b. Note que os casos a serem analisados são c = a e c = b, uma
vez que (a, b) ⊂ [a, b] e pela Proposição 3.4 da seção 3.1, (a, b) ⊂ (a, b). Como a = inf(a, b) e

b = sup(a, b), segue do exemplo anterior que a, b ∈ (a, b), provando o desejado.
Por outro lado seja d ∈ (a, b), ou seja, (d − ε, d + ε) ∩ (a, b) 6= ∅ para todo ε > 0. Suponhamos

d∈/ [a, b] isto é, d < a, ou d > b. Para d < a façamos ε = a−d e para d > b tomemos ε = d−b,
em ambos os casos (d − ε, d + ε) ∩ (a, b) = ∅, contradição. Portanto, d ∈ [a, b] ⇒ (a, b) ⊂ [a, b]

e daí, pela dupla inclusão, (a, b) = [a, b].

Proposição 3.3. Para todo intervalo I, Q ∩ I é denso em I

Proposição 3.4. Uma reunião innita de conjuntos fechados pode não ser um conjunto

fechado.

26
3 Conjuntos Fechados 3.2 União e Interseção de Conjuntos Fechados

Demonstração. Para concluir tal armação é suciente um contra-exemplo. Da Proposição

3.2 da seção 3.2, podemos armar que os conjuntos unitários são fechados, já que esses

conjuntos nada mais são do que intervalos do tipo [a, a]; a ∈ R. Portanto, se tomarmos o

conjunto aberto (b, c); b, c ∈ R e b 6= c, temos que este conjunto é a reunião innita dos

conjuntos unitários formados por seus pontos, que por sua vez são todos fechados.

Denição 3.5. Uma cisão de um conjunto X⊂R é uma decomposição X =A∪B tal que

A∩B =∅ e A ∩ B = ∅, isto é, nenhum ponto de A é aderente a B e nenhum ponto de B


é aderente a A. A decomposição X = X ∪ ∅ chama-se cisão trivial.

Proposição 3.6. Se A∪B é uma cisão de X, então A ∩ B = ∅.

Demonstração. Com efeito, se A ∩ B 6= ∅, então existe a ∈ A ∩ B, isto é, a ∈ A e a ∈ B.


Como B ⊂ B, segue que a ∈ B e portanto A ∩ B 6= ∅, o que contradiz a Denição de cisão.
Assim, A ∩ B = ∅.

Proposição 3.7. Se X = R − {0}, então X = R+ ∪ R− é uma cisão.

Demonstração. Sabendo que R+ = {x ∈ R; x > 0} e R− = {x ∈ R; x < 0}, vem de imediato


que R− ∩ R+ = ∅. Supondo R+ ∩ R− 6= ∅, concluimos que existe a ∈ R+ e a ∈ R− , isto é,

a > 0 e para todo ε > 0, (a − ε, a + ε) ∩ R− 6= ∅. Mostremos que a segunda opção não pode
ocorrer. De fato, seja ε = a, logo (a − ε, a + ε) = (0, 2a) ⊂ R+ e portanto (0, 2a) não contém

pontos de R− .

Assim, R+ ∩ R− = ∅. Com um processo similar, conclui-se que R− ∩ R+ = ∅.

Proposição 3.8. Dado um número irracional α, sejam A = {x ∈ Q; x < α} e

B = {x ∈ Q; x > α}. A decomposição Q=A∪B é uma cisão dos racionais

Demonstração. Seja a ∈ A, isto é, a < α. Mostremos que a ∈ / B.


Com efeito, tomando ε = α − a, segue que (a − ε, a + ε) = (2a − α, α) e como B é o conjunto

dos racionais maiores que α, temos que (2a − α, α) ∩ B = ∅. Logo a ∈/ B e assim A ∩ B = ∅.


Por outro lado, seja b ∈ B e comprovemos que b ∈ / A. Sabe-se que b > α, ou seja, b − α > 0.
Sendo ε = b − α, vem que (b − ε, b + ε) = (α, 2b − α), e assim:

(α, 2b − α) ∩ A = ∅ ⇒ b ∈
/ A ⇒ B ∩ A = ∅.

Isso nos leva a concluir que a decomposição Q=A∪B é uma cisão dos racionais.

27
3 Conjuntos Fechados 3.2 União e Interseção de Conjuntos Fechados

Exemplo 3.9. Se a < c < b, então [a, b] = [a, c] ∪ (c, b] não é uma cisão.

Demonstração. Para demonstrar o que se pede é suciente que [a, c] ∩ (c, b] 6= ∅, ou

[a, b] ∩ (c, b] 6= ∅.
De fato, pela Proposição 3.2 da seção de união e interseção de conjuntos fechados, temos

(c, b] = [c, b] e [c, b] ∩ [a, c] = {c} =


6 ∅.

Teorema 3.2.2. Um intervalo da reta só admite a cisão trivial.

Demonstração. Suponhamos que o intervalo I admita a cisão não trivial I = A ∪ B, isto é,

A 6= I e B 6= ∅ em vice-versa. Tomemos a ∈ A e b ∈ B, com a < b e seja c o ponto médio

de [a, b]. Note que:

[a, b] ⊂ A ∪ B ⇒ [a, b] ⊂ I ⇒ c ∈ A, ou c ∈ B.

Se c ∈ A, tomemos c = a1 e c ∈ B, tomemos a = a1 e c = b1 . Em ambos os


b = b1 . Se
b−a
casos teremos [a1 , b1 ] ⊂ [a, b], b1 − a1 = , a1 ∈ A e b1 ∈ B. Repetindo o processo, vem
2
que o ponto médio de [a1 , b1 ] divide tal intervalo em dois outros intervalos justapostos de
b−a
comprimento . Um desses intervalos que chamaremos de [a2 , b2 ] tem a2 ∈ A e b2 ∈ B.
4
Assim, se progredirmos da mesma forma, iremos obter a seguinte sequência de intervalos

encaixados:

[a, b] ⊃ [a1 , b1 ] ⊃ · · · ⊃ [an , bn ] ⊃ · · ·

com an ∈ A e bn ∈ B para todo n ∈ N. Assim, pelo Teorema dos intervalos encaixados segue

que existe d pertencente a todos intervalos, ou seja:

an < d < bn , ∀n ∈ N.

Como d ∈ I
lim an = d = lim bn , pois (bn ) é monótona decrescente de inf= d e (an ) é
e

monótona crescente de sup= d, temos que d ∈ / A, pois d ∈ B e d ∈


/ B, pois d ∈ A. Assim,
geramos uma contradição o que nos leva a concluir que I só admite a cisão trivial.

Corolário 3.2.1. Os únicos subconjuntos de R que são simultâneamente abertos e fechados

são ∅ e R.

Demonstração. Mostremos que se A⊂R R = A ∪ (R − A) é uma


é aberto e fechado, então

cisão. Como A = intA, vem que para todo a ∈ A, existe ε > 0 tal que (a − ε, a + ε) ⊂ A, isto

é, para tal ε, pode-se concluir (a − ε, a + ε) ∩ (R − A) = ∅, ou equivalentemente a ∈


/ (R − A).
Por outro lado, seja b ∈ (R−A). Note que, do fato de A também ser fechado, podemos concluir

28
3 Conjuntos Fechados 3.2 União e Interseção de Conjuntos Fechados

pelo Teorema 3.1.2 que R − A é aberto. Assim, existe δ > 0 tal que (b − δ, b + δ) ⊂ (R − A),
donde (b − δ, b + δ) ∩ A = ∅ uma vez que (R − a) ∩ A = ∅. Portanto b ∈ / A, ou ainda,
R = A ∪ (R − A) é uma cisão.
Do resultado acima e como R é um intervalo da reta, (R = (−∞, +∞)) segue do Teorema

3.2.2 que R = A ∪ (R − A) admite somente a cisão trivial, isto é, A = R, e R − A =

∅, ou R − A = R e A = ∅.

29
Capı́tulo 4
Ponto de Acumulação

O assunto aqui tratado, é um dos mais importantes deste trabalho, já que, o conceito de

ponto de acumulação é essencial, para Denição de limite de funções, que normalmente o

discente tem seu primeiro encontro nas disciplinas de Cálculo e se aprofunda no nal do curso

com as disciplinas de Análise.

4.1 Derivado de um Conjunto e Conjunto Discreto

Denição 4.1. Diz-se que a ∈ R é um ponto de acumulação do conjunto X ⊂ R quando toda


vizinhança de a contém algum ponto de X diferente do próprio a. Isto é,V ∩ (X − {a}) 6= ∅.
Equivalentemente, a ∈ R é ponto de acumulação de X⊂R quando para todo ε > 0, tem-se

(a − ε, a + ε) ∩ (X − {a}) 6= ∅

Chama-se derivado de X ao conjunto X0 dos pontos de acumulação de X.

Proposição 4.2. a ∈ X 0 ⇔ a ∈ X − {a}.


Demonstração. Podemos concluir esta Proposição imediatamente das denições de fecho e

derivado de um conjunto.

É consequência da Proposição 4.2 que X 0 ⊂ X.

Denição 4.3. Diz-se que a ∈ X é um ponto isolado de X se a não é ponto de acumulação


de X, ou ainda, se existe ε > 0 tal que a é o único ponto de X no intervalo (a − ε, a + ε)

Denição 4.4. Diz-se que X⊂R é um conjunto discreto quando X 0 = ∅, ou ainda, quando

os pontos de X são isolados..

Teorema 4.1.1. Dados X⊂R e a ∈ R, as seguintes armações são equivalentes.

30
4 Ponto de Acumulação 4.1 Derivado de um Conjunto e Conjunto Discreto

(1) a é um ponto de acumulação de X.

(2) a é limite de uma sequência de pontos de xn ∈ X − {a}.

(3) Todo intervalo aberto de centro a contém uma innidade de pontos de X.


Demonstração.

0
• Suponhamos
 (1) e mostremos (2): De fato, se a ∈ X , então
 para cada intervalo
1 1
a − ,a + escolhamos xn ∈ X − {a} deste intervalo, isto é,
n n
1 1 1 1
< x < a + ⇒ − < xn − a < .
a−
n n n n
   
1 1
Note que lim − = 0 = lim , portanto, pelo Teorema do sanduíche
n n
lim(xn − a) = 0 ⇒ lim(xn ) = a.

• Suponhamos (2) e mostremos (3): Se lim(xn ) = a, então para todo ε > 0 existe n0 ∈ N
tal que:

n > n0 ⇒ |xn − a| < ε ⇒ a − ε < xn < a + ε ⇒ xn ∈ (a − ε, a + ε).

Note que o conjunto {xn ; n > n0 } é innito, pois do contrário existiria um termo xn
que se repetiria innitas vezes, onde xn 6= a, pois xn ∈ X − {a}, logo a sequência seria

constante e lim(xn ) 6= a, o que é uma contradição.

• Por m, a implicação (3) ⇒ (1) é imediata, já que se todo intervalo aberto de centro a
0
contém innitos pontos de X, obviamente existe pontos diferentes de a. Logo a ∈ X .

Proposição 4.5. Se X é nito, então X 0 = ∅.


Demonstração. Suponhamos por absurdo que X 0 6= ∅, logo existe a ∈ X 0 , donde pelo Te-
orema 4.1.1, podemos concluir que para todo ε > 0, (a − ε, a + ε) tem uma innidade de

pontos de pontos de X. Contradição, uma vez que X é nito.

Um adendo importante e que pode auxiliar em algumas demonstrações é se X⊂R


é aberto, entãoX é innito, ou de maneira mais especíca, se existir pelo menos um ponto
a ∈ intX, então X é innito. Com efeito, como a é interior a X, segue que existe um ε > 0
tal que (a−ε, a+ε) ⊂ X. Como (a−ε, a+ε) tem innitos pontos, então X também é innito.

A próxima Proposição, mostra que a condição de um conjunto ser innito é neces-

sária, porém não suciente para que este não seja discreto.

31
4 Ponto de Acumulação 4.2 Teorema de Bolzano-Weierstass

Proposição 4.6. Z é innito, mas Z é discreto.


Demonstração. Seja a ∈ Z. Devemos concluir que a é isolado. De fato, basta tomar ε = 1,
pois (a − 1, , a + 1) ∩ (Z − {a}) = ∅.

Proposição 4.7. Q0 = R.
Demonstração. De imdeiato, temos Q0 ⊂ R. Por outro lado, sejam a ∈ R e ε um valor
qualquer maior que zero. Note que (a−ε, a+ε)∩(Q−{a}) 6= ∅, pois (a, a+ε) ⊂ (a−ε, a+ε),
0
onde (a, a + ε) possui racionais e por sua vez, são todos diferentes de a. Assim, a ∈ Q , isto
0 0
é, R ⊂ Q . Portanto, pela dupla inclusão resulta Q = R.

Proposição 4.8. Se X = (a, b), então X 0 = [a, b].

Demonstração. Da Proposição 3.2, da seção 3.2 vem que X = (a, b) = [a, b] e da Proposição
0 0
4.2 que X ⊂ X. Por outro lado, seja c ∈ [a, b]. Se c ∈ (a, b), tem-se de imediato que c ∈ X .

Se c = b = sup(a, b), então para todo ε > 0, segue que existe pelo menos um d ∈ (a, b) tal

que b − ε < d < b, isto é:

(b − ε, b + ε) ∩ [(a, b) − {b}] 6= ∅ ⇒ (c − ε, c + ε) ∩ [(a, b) − {c}] 6= ∅ ⇒ c ∈ X 0 .

De maneira análoga, conclui-se que c = a = inf(a, b) ∈ X 0 . Assim [a, b] ⊂ X 0 , provando pela


0
dupla inclusão que [a, b] = X .

4.2 Teorema de Bolzano-Weierstass

O Teorema enunciado e provado a seguir é uma reformulação do importante Teorema 1.3.1

que normalmente é apresentado no Capítulo de sequências e aqui relembrado no Capítulo 1.

Tal reformulação usa a Denição de ponto de acumulação.

Teorema 4.2.1. Todo conjunto innito limitado de números reais admite pelo menos um

ponto de acumulação.

Demonstração. Seja X ⊂ R um conjunto innito e limitado. Devido a isso, vem que X


possui um subconjunto enumerável {x1 , x2 , · · · , xn , · · · } com termos distintos dois a dois.
Assim, pode-se denir a sequência (xn ), donde xn ∈ X para todo n natural, isto é, (xn ) é

uma sequência limitada, uma vez que X é limitado. Portanto pelo Teorema de Bolzano-

Weierstrass, (xn ) possui uma subsequência convergente. Seja (xnk ) tal subsequência e a =

32
4 Ponto de Acumulação 4.2 Teorema de Bolzano-Weierstass

lim(xnk ). Como (xn ) é uma sequência de termos distintos, segue que (xnk ) também é, com

no máximo um termo igual a a. Se não existe este termo, então de imediato, conclui-se que

existe uma sequência convergente em a, cujos termos são de X − {a}.


Por outro lado, se existir xni = a com i ∈ N, denamos (xnk+i ) que é um
rabo da sequência

(xnk ), ou seja, lim(xnk+i ) = a e novamente obtemos uma sequência que converge para a e de
termos pertencentes a X − {a}. Assim, para ambos os casos, pelo Teorema 4.1.1, a é ponto

de acumulação de X.

 
1 1
Exemplo 4.1. Se X = 1, , · · · , , · · · , então X 0 = {0}, isto é, 0 é o único ponto de
2 n
acumulação de X.

Demonstração. Como X é limitado superiormente por 1 e inferiormente por 0, temos pelo

Teorema anterior
 que X tem pelo menos um ponto de acumulação.
1
Note que lim = 0 e 0 ∈
/ X, então 0 ∈ X 0. Como 0 é limite da sequência de todos os
n  
1
termos de X, segue do Teorema 1.3.1, que toda subsequência de converge para 0. Para
n
provar a unicidade de X 0 , suponhamos que existe uma outra
 sequência de termos de X − {a},
1
que converge para a 6= 0 e que não seja subsequência de . Seja (yn ) tal sequência. Sabe-
n
mos que existe uma sua subsequência monótona. Sendo (ynk ) essa subsequência, mostremos

que esta não pode ser crescente ou não decrescente. De fato, se (ynk ) for crescente então
1
existe um natural p para o qual = yn1 e assim a subsequência teria no máximo p termos,
p
que é um número nito, contrariando a Denição de sequência. O caso em que (ynk ) é não

decrescente, o absurdo é análogo, basta notar que cada termo se repete um número nito de

vezes, ou do contrário se um termo yni se repetisse innitas vezes, então teríamos a = yni e

assim a não seria ponto de acumulação de X. Assim, ca provado que (ynk ) é decrescente,

ou não crescente.
  Se for decrescente, é evidente que esta subsequêcia também é uma sub-
1
sequência de , logo lim(ynk ) = 0 ⇒ lim(yn ) = 0 ⇒ a = 0. Contradição. Se (ynk ) for não
n
crescente,
  tomemos a sua subsequência decrescente que mais uma vez é uma subsequência de
1
e portanto também converge para 0, isto é, a = 0, que novamente é uma contradição.
n
Daí resulta que não existe outro ponto de acumulação de X, provando a unicidade de X 0.

33
Capı́tulo 5
Conjuntos Compactos.

Neste ponto do T.C.C. será exposta a Denição de conjunto compacto. Tal conteúdo é

importante, já que serve de base para generalização do princípio dos intervalos encaixados e

para formulação do Teorema de Borel-Lebesgue que por sua vez, é indispensável no estudo

de integral de Riemann.

5.1 Princípio dos Intervalos Encaixados

Denição 5.1. Diz-se que X⊂R é compacto quando X é limitado e fechado.

Proposição 5.2. Todo conjunto nito é compacto.

Demonstração. Seja X = {x1 , x2 , · · · , xn } com X ⊂ R. Diretamente conclui-se que X é


limitado. Por outro lado, como X é uma reunião nita dos conjuntos fechados {xi }; i =
1, · · · , n, temos pelo Teorema 3.2.1 que X é fechado.

Proposição 5.3. Um intervalo do tipo [a, b] é um conjunto compacto.

Demonstração. Com efeito, [a, b] é limitado e como R − [a, b] = (−∞, a) ∪ (b, +∞) é aberto,

segue do Teorema 3.1.2 que [a, b] é fechado.

A custo de exemplo de um conjunto que não é compacto, temos (a, b), já que por

mais que seja limitado, (a, b) não é fechado. A seguir, mostro um exemplo que não é tão

óbvio e que é exatamente o contrário deste: fechado, contudo não limitado.

Proposição 5.4. O conjunto Z dos inteiros não é compacto.

34
5 Conjuntos Compactos. 5.1 Princípio dos Intervalos Encaixados

Demonstração. Com efeito, o complementar de Z é a reunião de conjuntos abertos


[
(n, n + 1), isto é, seu complementar é aberto e assim pelo Teorema 3.1.2, Z é fechado.
n∈Z
O fato de Z ser ilimitado, pode ser deduzido facilmente pela propriedade arquimediana nos

naturais, ou seja, N⊂Z e N não é limitado superiormente, portanto Z não é limitado.

Teorema 5.1.1. Um conjunto X ⊂ R é compacto se, e somente se, toda sequência de pontos
em X possui uma subsequência que converge para um ponto de X.
Demonstração. Se X ⊂ R é compacto, temos diretamente da Denição que X é limitado

e fechado. Portanto, toda sequência (xn ) de X é limitada e por Bolzano-Weierstrass cada

sequência possui uma subsequência que converge para um ponto de X, pois X é fechado.

Recíprocamente, seja X ⊂ R tal que toda sequência (xn ) de X possui uma subsequência

que converge para um ponto de X. Note que, X é limitado. De fato, digamos que X não é

limitado, isto é, para todo k>0 existe xn ∈ X com |xn | > k. Assim, nenhuma subsequência

de (xn ) é limitada e portanto todas divergem. Absurdo, pois tal fato contraria a hipótese, ou
seja, X é limitado. Por outro lado, armamos que X é fechado, pois do contrário existiria

a ∈ X e a ∈ / X, isto é, pode-se denir uma sequência (xn ); xn ∈ X tal que lim(xn ) = a


e portanto toda subsequência de (xn ) também converge para a, contrariando novamente a

hipótese. Logo, X é compacto.

Proposição 5.5. Se X ⊂ R é compacto, então existem a = infX e b = supX tais que

a, b ∈ X.
Demonstração. Decorre imediatamente do Exemplo 3.1 que a= infX e b= supX são ade-

rentes a X. Como X = X, concluimos a, b ∈ X.

O seguinte Teorema é uma generalização do princípio dos intervalos encaixados:

Teorema 5.1.2. Dada uma sequência decrescente X1 ⊃ X2 ⊃ · · · ⊃ Xn ⊃ · · · de conjuntos

compactos não-vazios, existe pelo menos um número real que pertence a todos os Xn .
Demonstração. Seja (xn ) uma sequência, onde xn ∈ Xn . Como X1 ⊃ Xn para todo n natural,
segue que (xn ) é uma sequência de pontos de X1 , donde sendo X1 compacto, temos pelo

Teorema 5.1.1, que (xn ) possui uma subsequência (xnk ) convergindo para a ∈ X1 . Mostremos

por m que a ∈ Xn para todo n natural. De fato, para nk sucientemente grande, (xnk ) é

uma sequência de Xn . Com efeito, basta tomar nk > n, ou seja, (xnk +n ) é uma sequência de

termos pertencentes a Xn e sendo (xnk +n ) um rabo da sequência (xnk ), concluimos o seguinte:

lim(xnk +n ) = lim(xnk ) = a ⇒ a ∈ Xn = Xn .

35
5 Conjuntos Compactos. 5.2 Cobertura e Teorema de Borel-Lebesgue

5.2 Cobertura e Teorema de Borel-Lebesgue

Denição 5.1. Chama-se cobertura de um conjunto X a uma família C de conjuntos C λ


cuja reunião contém X.

Observação 5.2. A condição X⊂


[
C λ signica que para cada x ∈ X, existe pelo menos

C.
λ∈L
um λ∈L tal que x∈ λ

Denição 5.3. Se C λ é aberto para todo λ ∈ L, diz-se que C é uma cobertura aberta de

X.

Denição 5.4. Quando L = {λ1 , · · · , λn } é um conjunto nito tal que C =


[
C λ ⊃ X,

C
λ∈L
dizemos que é uma cobertura nita de X.

Denição 5.5. Se L0 ⊂ L é tal que ainda se tem X⊂


[
C λ0 , diz-se que

C C C
λ0 ∈L0
' =( λ0 )λ0 ∈L0 é uma subcobertura de .

Todas essas denições consecutivas são indispensáveis para o último assunto e último

Teorema deste Capítulo de conjuntos compactos.

Teorema 5.2.1 (Borel-Lebesgue) . Toda cobertura aberta de um conjunto compacto possui

uma subcobertura nita.

Demonstração. Seja
[
C = (A ) λ λ∈L uma cobertura aberta do intervalo [a, b], isto é,

[a, b] ⊂ Aλ . Suponhamos por absurdo que [a, b] não admita subcobertura nita. Note que,
λ∈L    
a+b a+b
o intervalo a, , ou , b também não admite cobertura nita de conjuntos Aλ .
2 2
b−a
Tal intervalo, digamos [a1 , b1 ] de comprimento , também tem um subintervalo [a2 , b2 ]
2
b−a
de comprimento , que não admite cobertura nita de conjuntos Aλ . Prosseguindo de
22
maneira semelhante, obtem-se a seguinte sequência de intervalos:

[a, b] ⊃ [a1 , b1 ] ⊃ · · · ⊃ [an , bn ] ⊃ · · · .

b−a
Tais que bn − an = e nenhum [an , bn ] está contido numa reunião nita de Aλ . Pelo Te-
2n
orema dos intervalos encaixados, segue que existe c ∈ [an , bn ] para todo n ∈ N, em particular
c ∈ [a, b] e da Denição de cobertura, existe λ ∈ L tal que c ∈ Aλ , em que Aλ é aberto e

36
5 Conjuntos Compactos. 5.2 Cobertura e Teorema de Borel-Lebesgue

portanto, existe ε>0 (c − ε, c+ ε)⊂ Aλ .


tal que
 
n 1 b − a
Como lim(2 ) = +∞, temos que lim = 0 ⇒ lim = 0. Assim, para o ε>0
2n 2n
b−a
acima, existe n ∈ N tal que −ε < < ε. Do fato de c ∈ [an , bn ], vem que:
2n
b−a
bn − c ≤ < ε = c + ε − c ⇒ bn − c < c + ε − c ⇒ bn < c + ε.
2n
Analogamente, concluimos que c − ε < an , ou seja, [an , bn ] ⊂ (c − ε, c + ε) que por sua vez
está contido em Aλ . Logo, [an , bn ] pode ser coberto por um único conjunto Aλ . Contradição.
[
Agora mostremos o caso de um compacto qualquer. Seja X ⊂ Aλ uma cobertura aberta
λ∈L
X. Por outro lado, tomemos um compacto [a, b] que contenha X. Note que, pelo
C
do compacto

Teorema 3.1.2, Aλ0 = R − X é aberto e portanto = (Aλ )λ∈(L∪{λ0 }) é uma cobertura aberta
de [a, b]. Pelo já provado, podemos extrair uma subcobertura nita

[a, b] ⊂ Aλ0 ∪ Aλ1 ∪ Aλ2 ∪ · · · ∪ Aλn .

Como nenhum ponto de X pertence a Aλ0 = R − X e X ⊂ [a, b], temos

X ⊂ Aλ1 ∪ Aλ2 ∪ · · · ∪ Aλn . Isto encerra a demonstração.

 
1
Exemplo 5.6. Os intervalos An = , 2 , n ∈ N, constituem uma subcobertura aberta do
n
conjunto X = (0, 1].
[
Demonstração. Suponhamos que X não está contido em An , isto é, existe x ∈ X com
n∈N  
[ 1
x∈
/ An . Logo x∈
/ An para todo n natural. Note que, 0<x≤1 e como lim =0
n∈N
n
temos que para ε=x existe n0 ∈ N tal que:

1 1
n > n0 ⇒ − 0 < ε ⇒ < x.
n n
Ou seja, existem uma innidade de naturais, particularmente para n0 + 1, tal que:

1 [
< x ≤ 1 < 2 ⇒ x ∈ An0 +1 ⊂ An .
n0 + 1 n∈N
[
Absurdo e assim X⊂ An .
n∈N

 
1
Como provado, a reunião dos intervalos ,2 é uma cobertura de (0, 1], contudo
n
[ 1 
não podemos garantir que existe uma subcobertura nita de ,2 uma vez que (0, 1]
n∈N
n

37
5 Conjuntos Compactos. 5.2 Cobertura e Teorema de Borel-Lebesgue

não é compacto. De fato, não existe, pois A1 ⊃ A2 ⊃ · · · ⊃ An ⊃ · · · segue que toda reunião

nita de conjuntos é igual a A1 = (1, 2) ou um subconjunto de A1 e portanto não contém

(0, 1].

38
Capı́tulo 6
O Conjunto de Cantor

Este é o último Capítulo que aborda a apresentação do conteúdo de Topologia, portanto

utilizando a gama de resultados obtidos até agora, aqui é denido o conjunto de Cantor, bem

como é apresentada a sua construção, além da representação dos seus pontos na base 3.

6.1 Construção do Conjunto de Cantor

Denição 6.1. O conjunto de Cantor, que descreveremos agora, tem as seguintes caracte-

rísticas:

1. É compacto.

2. Tem interior vazio. (Não contém intervalos)

3. Todos os seus pontos são de acumulação.

4. É não-enuumerável.

Denotado por K, o conjunto de Cantor é um subconjunto fechado do intervalo [0, 1].


Obtemos K a partir da reunião do complementar
  de intervalos abertos, isto é, retira-se
  do 
1 2 1 2
intervalo [0, 1] o seu terço médio aberto , . Dos intervalos restantes 0, e ,1
3  3    3 3
1 2 7 8
também retira-se seus terços médios abertos , e , respectivamente, sobrando
        9 9 9 9
1 2 1 2 7 8
0, , , , , e ,1 . Repetimos o processo para esses quatro intervalos e obte-
9 9 3 3 9 9
mos mais oito e assim sucessivamente. O conjunto K dos pontos não retirados é o conjunto

de Cantor.

Mostremos que de fato K é o conjunto de 


Cantor. K é limitado
 De imediato
  já que é sub-
1 2 1 2 7 8
conjunto de [0, 1]. Por outro lado, se I1 = , , I2 = , , I3 = , , ou seja, In
3 3 9 9 9 9

39
6 O Conjunto de Cantor 6.1 Construção do Conjunto de Cantor


[
são os terços médios retirados de cada intervalo obtido de [0, 1]. Temos que In é aberto e
n=1

[
portanto, F =R− In é fechado. Como K = [0, 1] ∩ F e [0, 1], F são fechados, segue que
n=1
K é fechado. Daí, resulta que K é compacto.

Para mostrarmos que K tem interior vazio, observemos que o comprimento de


   [0,
 1] é igual
1 1 2
a . Analogamente, obtemos que os comprimentos dos intervalos 0, e , 1 são:
30 3 3
1 2 1 1
− 0 = 1 − = = 1.
3 3 3 3
1
Portanto, os comprimentos dos intervalos restantes após a n-ésima etapa são de . Como
  3n
1
lim = 0, segue que para todo ε > 0, existe n0 ∈ N tal que:
3n
1
n > n0 ⇒ < ε.
3n
Assim, se J ⊂ [0, 1] c > 0, façamos ε = c e daí existe
é um intervalo qualquer de tamanho
1
n0 ∈ N que satisfaz n > n0 ⇒ n < c, ou seja, J estará multilado a partir da etapa n0 e
3
portanto não poderá está contido em K, assim garantindo que intK = ∅.
0
Para provar que K = K, devemos inicialmente garantir que o conjunto E dos pontos extremos

dos intervalos omitidos nas diversas etapas da construção de K, é enumarável e sem pontos

isolados. Imediatamente tem-se E ⊂ K. De fato, em cada etapa são retirados apenas pontos

interiores aos intervalos que restaram da etapa anterior. Assim sendo, seja c ∈ K extremidade

de algum intervalo, digamos (c, b), omitido de [0, 1] para formar K. Quando (c, b) foi retirado,

sobrou uma terça parte do tipo [a, c]. Nas seguintes etapas, restarão sempre terços nais de

intervalo, do tipo [an , c], com an ∈ E. Como já mostrado, os comprimentos da n-ésima etapa
 
1 1
são
n
, donde lim n = 0, isto é, a medida que n aumenta, c − an tende para zero, logo
3 3
an tende para c, que é ponto de acumulação de E e portanto de K. A enumerabilidade de E
decorre imediatamente do fato de E ⊂ Q. Com efeito, denamos f : E → Q com f (x) = x,

ou seja, f é injetiva e da enumerabilidade de Q, ca provado o desejado. Por outro lado,

suponhamos agora que c ∈ K não é extremo de um intervalo retirado de [0, 1] durante a

construção de K. Provemos que c não é isolado em K. De fato, para n ∈ N, c pertence ao

interior de um intervalo [xn , yn ] que restou depois da n-ésima etapa, logo xn < c < yn , com
1
xn , yn ∈ K e yn − xn = n , ou seja, lim(yn − xn ) = 0. Como (xn ) é uma sequência monótona
3
crescente, (yn ) é decrescente e ambas limitadas, segue que (xn ) e (yn ) convergem e assim:

lim(xn − yn ) = lim(xn ) − lim(yn ) = 0 ⇒ lim(xn ) = lim(yn ).

40
6 O Conjunto de Cantor 6.2 Representação de K na Base 3

Ou seja, lim(xn ) = lim(yn ) = c. Assim, exibimos não só uma, mas duas sequências de termos
pertencentes a K − {c} que convergem para c, que novamente pelo Teorema 4.1.1, c é ponto

de acumulação de K. Fica então constatado que K não possui pontos isolados.

Por m, porém não mais simples, provaremos que K é não-enumerável. Dado qualquer

subconjunto enumerável {x1 , x2 , · · · , xn } ⊂ K, obteremos um ponto c ∈ K tal que c 6= xn

para todo n ∈ N, ou seja, nenhum subconjunto enumerável de K pode ser K. Para isso, com

centro em um ponto de K, tomamos um intervalo compacto não degenerado I1 , tal que x1 ∈ /


I1 . Note que K ∩I1 é compacto sem pontos isolados de imediato e innito pelo Teorema 4.1.1,
item 3. Em seguida, com centro em algum ponto de K e interior a I1 , tomamos um intervalo

compacto não degenerado I2 ⊂ I1 tal que x2 ∈ / I2 . Prosseguindo de maneira semelhante,


obtemos uma sequência decrescente de intervalos compactos I1 ⊃ I2 ⊃ · · · ⊃ In ⊃ · · · tais

que xn ∈/ In e In ∩K 6= ∅. Sem perca de generalidade podemos supor que In tem comprimento


1
menor, ou igual que . Então o ponto c pertencente a todos In , cuja existência é garantida
n ∞
\
pelo Teorema dos intervalos encaixados, é único, logo In = {c}. Escolhendo para cada n,
i=1
um ponto yn ∈ In ∩ K, teremos que:

1 1 1
|yn − c| < ⇒ c − ≤ yn ≤ c + .
n n n
   
1 1
Onde lim c− = lim c + = c, ou seja, pelo Teorema do sanduíche lim(yn ) = c.
n n
Como K é fechado, segue-se que c pertence a K . Por outro lado, para todo n natural, temos

c ∈ In , logo c 6= xn , concluindo a demonstração, isto é, K é não enumerável. Como os 4


itens da última Denição foram comprovados, ca, portanto, garantido que K é o conjunto

de Cantor.

6.2 Representação de K na Base 3


Os pontos do conjunto K têm uma caracterização interessante e útil em termos de sua

representação na base 3. Dado x ∈ [0, 1], representar x na base 3 signica escrever

x = 0, x1 x2 x3 · · · , onde cada um dos dígitos xn é igual a 0, 1 ou 2, de tal modo que:

x1 x2 xn
x= + 2 + ··· + n + ···
3 3 3
Exemplo 6.1. Escreva 0, 5 na base 3.

Demonstração. Um procedimento, digamos, mais didático, consiste em pegar a parte fraci-

onária, no caso o próprio 0, 5 e multiplicar pela base que se quer passar, no caso o 3. Deste

produto, toma-se novamente a parte fracionária e repete-se o processo até que o produto

41
6 O Conjunto de Cantor 6.2 Representação de K na Base 3

seja um inteiro. O número na nova basse será os algarismos inteiros de cada multiplicação

tomando-os na ordem em que foram obtidos.

Vejamos com o próprio exemplo:

3 × 0, 5 = 1, 5 3 × 0, 5 = 1, 5 3 × 0, 5 = 1, 5 ···

Note que a parte fracionária do 1, 5 na primeira conta é 0, 5, logo a segunda conta é 3 × 0, 5,


cujo resultado novamente é 1, 5. Repetindo o processo, não é difícil perceber que nunca
teremos um resultado inteiro e portanto as contas não terão m, contudo as partes inteiras

de cada conta sempre é o 1, logo 0, 53 = 0, 1111 · · ·


De fato:
1 1
1 1 1 1 3 1
+ 2 + 3 + ··· + n + ··· = = 3 = = 0, 5
3 3 3 3 1 2 2
1−
3 3

A m de que se tenhax = x1 x2 · · · xn 0000 · · · é necessário e suciente que x seja um


m n
número da forma com m, n ∈ Z e m ≤ 3 .
3n
17
Por exemplo = 0, 12200000 · · · .
273
p
Quando o denominador da fração irredutível não é uma potência de 3, então a representação
q
p 1 1
de na base 3 é períodica, como = 0, 11111 · · · e = 0, 020202 · · · .
q 23 43
Os números irracionais têm representação não-períodica.  
1 2
Na primeira etapa da formação de K, ao retirar-se o intervalo , , cam excluidos os
3 3
1
números x ∈ [0, 1] cuja representação na base 3 tem x1 = 1 com excessão de = 0, 1.
   3 3
1 2 7 8
Na segunda etapa, foram excluidos os números dos intervalos , e , , ou seja,
9 9 9 9
1 7
aqueles da forma 0, 01x3 x4 · · · e 0, 21x3 x4 · · · com as excessões de = 0, 01 e de = 0, 21.
93 93
De um modo geral, podemos armar que os elementos do conjunto de Cantor são os números

do intervalo [0, 1], cuja representação x = 0, x1 x2 x3 · · · na base3 contém somente algarismos


0 e 2, com excessão daqueles que contém um único algarismo 1 como algarismo signicativo
nal, como x3 = 0, 20221 por exemplo.
Sabemos que o x3 , acima é escrito na base 10 da seguinte forma:

2 0 2 2 1
x= + 2 + 3 + 4 + 5.
3 3 3 3 3
2
1 36 2 2 2
No entanto, = = + 7 + 8 + ··· .
35 1 36 3 3
1−
3

42
6 O Conjunto de Cantor 6.2 Representação de K na Base 3

Isto é, podemos reescrever x como a soma innita a seguir:

2 0 2 2 0 2 2 2
+ 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8 + ··· .
3 3 3 3 3 3 3 3
Portanto x também tem a seguinte representação na base 3, com somente algarismos 0 e 2:

0, 202202222...

De um modo geral, para os elementos do conjunto de Cantor 0, x1 x2 x3 · · · xn 1, pode-se

reescreve-los como 0, x1 x2 x3 · · · xn 02222 · · · com xn ∈ {0, 2}, uma vez que:

x1 x2 xn 1 x1 x2 xn 0 2 2
+ 2 + · · · + n + n+1 = + 2 + · · · + n + n+1 + n+2 + n+3 + · · · .
3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
Com esta convenção, pode-se armar, sem excessões, que os elementos do conjunto de Cantor

são os elementos do intervalo [0, 1] cuja representação na base 3, só contém os algarismos 0 e 2.


Daí resulta facilmente do Exemplo 1.4 que o conjunto de Cantor não é enumerável. De fato,

basta substituir o 1 pelo 2.

43
Capı́tulo 7
Exercícios

Finalmente, o útimo Capítulo é dedicado à solução dos exercícios do livro que é referência

principal deste trabalho. Todas as demonstrações apresentadas a seguir, foram feitas por

mim, com auxílio do orientador e do livro. Minha meta neste Capítulo, é fornecer uma fonte

de ajuda para os alunos que não obtiveram êxito na solução, ao se deparararem com algumas

das questões a seguir.

7.1 Conjuntos Abertos

1. Prove que, para todo X ⊂ R tem-se int(intX) = intX e conclua que intX é um conjunto

aberto.

Demonstração. Seja Y = int(intX). Mostremos pela dupla inclusão que intX = Y. Se


x ∈ Y, então existe ε > 0 tal que (x − ε, x + ε) ⊂ intX, logo x ∈ intX e assim Y ⊂ intX.
Por outro lado, se x ∈ intX então existe ε > 0 tal que (x−ε, x+ε) ⊂ X. Armamos que

(x−ε, x+ε) ⊂ intX. De fato, se y ∈ (x−ε, x+ε), tomamos δ = min{y−(x−ε), x+ε−y}


e daí (y − δ, y + δ) ⊂ (x − ε, x + ε) isto é, y ∈ intX, provando o armado, que equivale a

x ∈ Y ou ainda intX ⊂ Y. Concluimos intX = Y e pela Denição de conjunto aberto,


intX é um conjunto aberto.

2. Seja A ⊂ R um conjunto com a seguinte propriedade: "toda sequência (xn ) que converge
para um ponto a ∈ A tem seus termos xn pertencentes a A para todo n sucientemente

grande."Prove que A é aberto.

Demonstração. Suponhamos por absurdo queA não é aberto.


 Logo existe a ∈ A, onde
1 1
a∈
/ intA. Portanto, para todo n ∈ N, temos a− ,a + que não está contido em
n n

44
7 Exercícios 7.1 Conjuntos Abertos

 
1 1
A, isto é, existe xn ∈ a − , a + , com xn ∈
/ A. Assim, denimos a sequência (xn )
n n    
1 1 1 1
com a − < xn < a + e xn ∈ / A, onde lim a − = lim a + = a e portanto,
n n n n
pelo Teorema do sanduíche lim(xn ) = a. Tal sequência contraria a propriedade, o que

nos leva a concluir que A é aberto.

3. Prove que int(A ∪ B) ⊃ intA ∪ intB e int(A ∩ B) = intA ∩ intB quaisquer que sejam

A, B ⊂ R. Se (0, 1] e B[1, 2), mostre que int(A ∪ B) 6= intA ∪ intB.

Demonstração. Seja a ∈ intA ∪ intB. Logo a ∈ intA ou a ∈ intB. Se a ∈ intA, então


existe ε > 0 tal que (a − ε, a + ε) ⊂ A. Armamos que (a − ε, a + ε) ⊂ int(A ∪ B). Com

efeito, para b ∈ (a − ε, a + ε), tomemos δ = min{b − (a − ε), a + ε − b} e assim:

(b − δ, b + δ) ⊂ (a − ε, a + ε) ⊂ A ⊂ A ∪ B ⇒ b ∈ int(A ∪ B).

Concluindo a prova do armado, obtemos que a ∈ int(A ∪ B), ou seja,

int(A ∪ B)⊃ intA ∪ intB. De modo análogo provamos o mesmo se a ∈ intB. Mostremos
agora X = int(A ∩ B) e Y = intA ∩ intB são iguais. De fato, se x ∈ X, então existe

um ε > 0 tal que:

(x−ε, x+ε) ⊂ A∩B ⇒ (x−ε, x+ε) ⊂ A e (x−ε, x+ε) ⊂ B ⇒ x ∈ intA e x ∈ intB ⇒ x ∈ Y.

Da arbitrariedade x, temos X ⊂ Y. Por outro lado, seja y ∈ Y, logo y ∈ intA e y ∈ intB,


isto é, existem ε1 , ε2 > 0, tais que (y − ε1 , y + ε1 ) ⊂ A e (y − ε2 , y + ε2 ) ⊂ B. Tomando

ε = min{ε1 , ε2 }, temos que (y − ε, y + ε) está contido em A e B e portanto:

(y − ε, y + ε) ⊂ A ∩ B ⇒ y ∈ X.

Assim, Y ⊂ X e pela dupla inclusão Y = X. Por m, se A = (0, 1] e B = [1, 2), temos
intA = (0, 1), intB = (1, 2) e int(A ∪ B) = (0, 2). Assim, intA ∪ intB = (0, 1) ∪ (1, 2)

que não está contido em (0, 2) = int(A ∪ B).

4. Para todo X ⊂ R, R = intX ∪ int(R − X) ∪ F onde


prove que vale a reunião disjunta

F é formado pelo pontos x ∈ R tais que toda vizinhança de x contém ponto de X e de


R − X. O conjunto F = frX chama-se a fronteira de X. Prove que A ⊂ R é aberto se,
e somente se, A ∩ frX = ∅.

45
7 Exercícios 7.1 Conjuntos Abertos

Demonstração. De imediato, sabemos que [intX ∪ int(R − X) ∪ F ] ⊂ R. Resta-nos


mostrar a inclusão oposta. Para isso, tomemos a ∈ R e provemos que a ∈ intX, ou a ∈

int(R−X) ou a ∈ F. Suponhamos a ∈ / intX e a ∈/ (R−X), ou seja, existe ε1 > 0 tal que


(a−ε1 , a+ε1 ) contém somente pontos de X ou de R−X e para todo ε > 0, (a−ε, a+ε)
não está contido em X. Deste último fato, temos (a − ε1 , a + ε1 ) ⊂ R − X, portanto

a ∈ int(R − X). O caso a ∈ / int(R − X) e a ∈ / F é semelhante, cujo resultado é


a ∈ intX. Por m, se a ∈ / intX e a ∈/ int(R − X), então para todo ε > 0, (a − ε, a + ε)
não está contido em X e também não está contido em seu complementar, ou seja,

existem elementos de (a − ε, a + ε) que não estão em X, logo estão em R − X, e existem

elementos de (a − ε, a + ε) que não estão em R − X e portanto estão X. Assim a ∈ F.

Da demonstração das três situações, resulta R = intX ∪ int(R − X) ∪ F.

Por outro lado, se A é aberto, então para algum x ∈ A, existe r > 0 tal que (x −

r, x + r) ⊂ A. Mostremos que x ∈ / frA. De fato, se x ∈ frA, segue que (x − ε, x + ε)


contém pontos de A e de R − A para todo ε > 0, ou seja, particularmente para ε = r.

Contradição, pois (x−r, x+r) ⊂ A, logo possui somente pontos de A. Assim x ∈ / frA que
equivale a A ∩ frA = ∅. Recíprocamente, suponhamos que A não é aberto e mostremos

que A ∩ frA 6= ∅. Com efeito, como A não é aberto, segue que existe pelo menos um

y ∈ A tal que (y − ε, y + ε) não esta contido em A para todo ε > 0, isto é, (y − ε, y + ε)


possui pontos de R − A. Do fato y ∈ A e y ∈ (y − ε, y + ε), vem que (y − ε, y + ε)

sempre irá conter um ponto de A, assim:

y ∈ frA ⇒ A ∩ frA ⊃ {y} =


6 ∅.

5. Para cada um dos conjuntos seguintes, determine sua fronteira: X = [0, 1], Y = (0, 1) ∪
(1, 2), Z = Q, W = Z

Demonstração. Note que 0, 1 ∈ frX. 1 e um resultado análogo


Provemos somente para

pode ser deduzido para 0. Suponhamos que 1 ∈/ frX, logo existe r > 0 tal que (1−r, 1+r)
não contém pontos de [0, 1] ou de R − [0, 1] = (−∞, 0) ∪ (1, +∞). Absurdo, pois se

1 − r < 0, então:

(1 − r, 1 + r) = (1 − r, 0) ∪ [0, 1] ∪ (1, 1 + r).

Onde (1 − r, 0) ⊂ (−∞, 0), (1, 1 + r) ⊂ (1, +∞) e [0, 1] = X. Já se 1 − r ≥ 0, então:

(1 − r, 1 + r) = (1 − r, 1] ∪ (1, 1 + r).

46
7 Exercícios 7.1 Conjuntos Abertos

Em que (1 − r, 1] ⊂ X e (1, 1 + r) ⊂ (1, +∞). Assim, pela tricotomia, temos que


(1 − r, 1 + r) contém pontos de X e de R − X. Por outro lado, se a < 0, a > 1 ou 0 <
a < 1, tomemos ε = −a, ε = a e ε = min{1 − a, a}, respectivamente. Em todo caso
exibimos uma vizinhança (a − ε, a + ε) de a que contém somente pontos de X ou de

seu complementar e portanto a ∈ / frX. Daí resulta frX = {0, 1}.


Encontremos agora frY. Como Y é a união de conjuntos abertos, temos que o próprio

é aberto, isto é, Y = intY. Da questão anterior, podemos concluir o seguinte:

frY ∩ Y = frY ∩ intY = ∅ ⇒ frY ⊂ R − Y.


Novamente para os casos a > 2 e a < 0, toma-se ε = a e ε = −a, respectivamente.
Nas duas situações, temos (a − ε, a + ε) ⊂ R − Y, logo a ∈ / frY. Assim, restam somente
os pontos 0, 2 e 1. De maneira semelhante à demonstração para 0, 1 do conjunto X,

prova-se que 0, 2 ∈ frY. Já para 1, vem que 1 ∈ (1 − ε, 1 + ε) para todo ε > 0, em

que 1 ∈ R − Y, ou seja, toda vizinhança de 1 possui pontos do complementar de Y.

Resta-nos mostrar que (1 − ε, 1 + ε) também contém pontos de Y, para todo ε > 0.

Suponhamos que existe ε1 > 0 tal que (1 − ε1 , 1 + ε1 ) ∩ Y = ∅. Absurdo, pois se

0 < ε1 ≤ 1, então (1 − ε1 , 1 + ε1 ) = (1 − ε1 , 1 + ε1 ) − {1} 6= ∅. Se ε1 > 1, então


(1 − ε1 , 1 + ε1 ) ∩ Y = Y − {1} 6= ∅. Assim, 1 ∈ frY e portanto frY = {0, 1, 2}. Por
outro lado, para Z = Q armamos que frZ = R. De fato, tomando todo a ∈ R, temos

por um Teorema que (a − ε, a + ε) contém pontos racionais e irracioanais, logo a ∈ frZ,

isto é, frZ = R. Por m, para W = Z armamos que frW = W. Com efeito, para b ∈ Z

temos novamente que (b − ε, b + ε) contém pontos racionais, irracionais além do próprio

b, logo b ∈ frW e portanto Z ⊂ frW. Já para c ∈ frW, tem-se para todo ε > 0 que
(c − ε, c + ε) contém pontos de Z e de R − Z. Devemos provar que c ∈ Z. Note que
se c ∈/ Z, então c ∈ R − Z e daí concluimos que c ∈ (d, d + 1) com d ∈ Z. Tomando
ε = min{d + 1 − c, c − d}, vem que (c − ε, c + ε) ⊂ (d, d + 1) que contém somente pontos
irracionais, racionais e nenhum inteiro, o que nos leva ao resultado c ∈ / frW. Absurdo,
logo:

c ∈ Z ⇒ frW ⊂ Z.
Da dupla inclusão comprovamos o armado.

6. Sejam I1 ⊃ I2 ⊃ · · · ⊃ In ⊃ · · · intervalos limitados dois a dois distintos, cuja interseção



\
I= In 6= ∅. Prove que I, é um intervalo o qual nunca é aberto.
i=1

Demonstração. Sejam an , bn com an < bn as extremidades dos intervalos In , ou seja:

a1 ≤ a2 ≤ · · · ≤ an < bn ≤ · · · ≤ b2 ≤ b1 .

47
7 Exercícios 7.2 Conjuntos Fechados

Note que an < b1 e bn > a1 para todo n ∈ N. Como R é um corpo completo, segue

\
que existem α = sup(an ) e β = inf(bn ). Se α = β, então I = In = {α}, já que
i=1
an ≤ α ≤ b n I=6 ∅, donde {α}, de imediato não é aberto. Por outro lado, se α < β,
e

então para todo α < x < β, segue que an < x < bn , ou seja, (α, β) ⊂ I. Por outro lado,

para c < α temos que existe p ∈ N, onde c < ap ⇒ c ∈ / Ip ⇒ c ∈ / I. Analogamente,


para c > β concluimos que existe q ∈ N tal que:

c∈
/ Iq ⇒ c ∈
/ I.

Assim, (α, β) ⊂ I ⊂ [α, β], o que garante que os extremos de I são α e β. Como

os intervalos In são distintos dois a dois, segue que (an ) ou (bn ) têm uma innidade

de elementos distintos. De fato, se (an ) e (bn ) tivessem só elementos iguais, então

I1 = I2 = · · · = In = · · · o que contraria a hipótese da questão. Digamos que (an ) tem

os elementos diferentes, istoé, existe n∈N tal que:

an < an+n ≤ α < β < bn ⇒ an < α < bn ⇒ α ∈ (an , bn ) ⊂ In ⇒ α ∈ I.

Assim provamos que um dos extremos de I pertence a I. Note ainda que a ∈ frI e

portanto frI ∩ I = {α} =


6 ∅ e pela questão 4, I não é aberto.

7.2 Conjuntos Fechados

1. Sejam I um intervalo não degenerado e k > 1 um número natural. Prove que o conjunto
m
dos números racionais pertencentes a I, cujos denominadores são potências de k com
kn
expoente n ∈ N, é denso em I

n m o
Demonstração. Seja A = x ∈ I; x = /m, n, k ∈ Z e k > 1 . Devemos mostrar que
kn
I ⊂ A. Como A ⊂ I é possível notar pelo Teorema 3.1.1 que A é denso em I se, e
somente se, para todo ε > 0, tem-se que (x − ε, x + ε) contém pontos de A com x ∈ A.
n
Portanto, sabendo que lim(k ) = +∞, temos para n sucientemente grande que:

1 1
kn > ⇒ n < ε.
ε k
 
m m+1 m+1
Assim, para , , onde m+1 é o menor inteiro tal que x+ε ≤ ,
kn kn kn
m m m+1
certamente ∈ (x − ε, x + ε). De fato, pelo armado <x+ε< e como o
kn k n kn

48
7 Exercícios 7.2 Conjuntos Fechados

 
m m+1 1
comprimento do intervalo
n
, n
é igual a que por sua vez é menor que ε e o
k k kn
m
comprimento de (x − ε, x + ε) é 2ε, segue que x − ε < , ou seja:
kn
m m+1 m
x − ε, < x + ε ≤ ⇒ ∈ (x − ε, x + ε).
kn kn kn
m
Assim, sendo ∈ A, ca provado o desejado.
kn

2. Prove que, para todo X ⊂ R vale X = X ∪ frX. Conclua que X é fechado se, e somente

se, X ⊃ frX.

Demonstração. Seja x ∈ X, (x − ε, x + ε) ∩ X 6= ∅ para todo ε > 0. Se x ∈


isto é, / X,
então x ∈ R − X e daí concluimos que (x − ε, x + ε) contém pontos de X e do seu

complementar para todo ε > 0, ou seja x ∈ frX. Por outro lado, se x ∈ / frX, segue que
existe um εi > 0 tal que (x − εi , x + εi ) não contém pontos de R − X, logo:

(x − εi , x + εi ) ⊂ X ⇒ x ∈ X.

Portanto x ∈ frX ∪ X e da arbitrariedade de x, temos X ⊂ frX ∪ X. Por outro lado, se


y ∈ frX ∪X, então y ∈ X ou y ∈ frX. Caso y ∈ X, do fato de X ⊂ X, temos que y ∈ X.
Já se y ∈ frX, temos por Denição que (y−ε, y+ε)∩X 6= ∅ e (y−ε, y+ε)∩R−X 6= ∅,

isto é, o segundo caso arma que y ∈ X. Assim, concluimos X ∪ frX ⊂ X e pela dupla

inclusão X ∪ frX = X. Resta-nos concluir que X é fechado se, e somente se, frX ⊂ X.

Com efeito, se X é fechado, então X = X e pelo provado temos X = frX ∪ X ⇒ frX ⊂

X. Recíprocamente, se frX ⊂ X então X = frX ∪ X = X ⇒ X = X

3. Para todo X ⊂ R, prove que R − intX = R − X e R − X = int(R − X).

Demonstração. Seja x∈
/ x ∈ R − intX. Note que para todo ε > 0 vem
intX, ou seja,

que (x − ε, x + ε) não está contido em X, ou seja toda vizinhança de x, possui pontos

de R − X. Logo, x ∈ R − X, ou ainda R − intX ⊂ R − X. Por outro lado, perceba

por conta de intX ser aberto que R − intX é fechado, portanto R − intX = R − intX.

Como intX ⊂ X, segue que R − X ⊂ R − intX e pela Observação 3.5 da seção 3.1,

temos:

R − X ⊂ R − intX = R − intX ⇒ R − X ⊂ R − intX.

49
7 Exercícios 7.2 Conjuntos Fechados

Assim, R − X = R − intX. Comprovemos agora que R − X = int(R − X). Seja y ∈ / X,


isto é, y ∈ R − X. Da existência de ε1 > 0 tal que (y − ε1 , y + ε1 ) ∩ X = ∅ temos que:

(y − ε1 , y + ε1 ) ⊂ R − X ⇒ y ∈ int(R − Y ).

Assim R−X ⊂ int(R−X). A inclusão oposta é facilmente obtida utilizando o resultado


já provado e notando que intX ⊂ X, uma vez que intX ⊂ X ⊂ X :

int(R − X) ⊂ R − X = R − intX ⊂ R − X.

Portanto, int(R − X) = R − X, provando o desejado.

4. SeX ⊂ R é aberto (respectivamente fechado) e X = A ∪ B é uma cisão. Prove que

A e B são abertos (respectivamente fechados.).

Demonstração. Para X aberto, seja a ∈ A. Como A ⊂ X temos que a ∈ X e portanto


existe ε1 > 0 tal que (a − ε1 , a + ε1 ) ⊂ X. Armamos que existe 0 < ε2 < ε1 onde

(a − ε2 , a + ε2 ) ⊂ X. Com efeito, do contrário (a − ε, a + ε) conteria pontos de B


para todo 0 < ε < ε1 , ou seja, (a − ε, a + ε) ∩ B 6= ∅, donde para todo δ ≥ ε

temos (a − ε, a + ε) ⊂ (a − δ, a + δ). Logo, toda vizinhança de a contém pontos de

B, isto é, a ∈ B, contrariando a Denição de cisão. Assim A é aberto, uma vez que


denimos a bola aberta (a − ε2 , a + ε2 ) contida em A. O caso para B é análogo. Por

outro lado, digmos que X é fechado. Devemos provar que A e B são fechados, isto é,

A ⊂ A e B ⊂ B. Mostremos novamente para A e um resultado semelhante pode ser


obtido para B. Seja a ∈ A. Note que a ∈ X, pois (a − ε, a + ε) ∩ A 6= ∅ onde A ⊂ X,

ou seja, a ∈ X e como X é fechado, segue que X ⊂ X. Daí resulta que a ∈ / B, pois


A ∩ B = ∅. Assim, a ∈ A ⇒ A ⊂ A.

5. Prove que se X⊂R tem fronteira vazia, então X=∅ ou X = R.

Demonstração. Como frX = ∅, X ∩ frX = ∅, ou seja, pela questão 4 de


vem que

conjuntos abertos, X é aberto. Por outro lado X ⊃ ∅ = frX e portanto, pela questão

2, resulta que X é fechado. Assim, pelo Corolário 3.2.1 temos que X = ∅ ou X = R.

X, Y ⊂ R. Prove
6. Seja que X ∪Y = X ∪Y e que X ∩Y ⊂ X ∩Y. Dê exemplo em que

X ∩ Y ⊂ X 6= Y .

50
7 Exercícios 7.3 Ponto de Acumulação

Demonstração. Seja a ∈ X ∪ Y . Se a ∈ X, então (a − ε, a + ε) ∩ X 6= ∅ para todo


ε > 0. Como X ⊂ X ∪ Y, concluimos que (a − ε, a + ε) ∩ X ∪ Y 6= ∅ e assim a ∈ X ∪ Y .
Para a ∈ Y a demonstração é análoga. Veja agora que X ⊂ X e Y ⊂ Y , ou seja,

(X ∪ Y ) ⊂ (X ∪ Y ) e pela Observação 3.5, temos X ∪ Y ⊂ X ∪ Y . Do fato de X e Y


serem fechados, vem que X ∪ Y é fechado, isto é, X ∪ Y = X ∪ Y e assim concluimos

X ∪ Y ⊂ X ∪Y . Portanto, pela dupla inclusão X ∪ Y = X ∪Y . Finalmente, mostremos


que X ∩ Y ⊂ X ∩ Y . Com efeito:

(X ∩ Y ) ⊂ (X ∩ Y ) ⇒ (X ∩ Y ) ⊂ (X ∩ Y ).

Como já provado para a união, podemos então admitir X ∩ Y = X ∩Y e daí (X ∩ Y ) ⊂


(X ∩ Y ), donde novamente pela dupla inclusão, provamos o desejado. Resta-nos exibir

um exemplo em que X ∩ Y 6= X ∩ Y . Para isso, tomemos X = [0, 1) e Y = (1, 2], já

que X = [0, 1], Y = [1, 2] e X ∩ Y = ∅, ou seja:

X ∩ Y = {1} =
6 ∅=X ∩Y.

7. Dada uma sequência (xn ), prove que o fecho do conjunto X = {xn ; n ∈ N} é X = X ∪A,
onde A é o conjunto dos valores de aderência de (xn ).

Demonstração. Evidentemente X ∪ A ⊂ X, já que X ⊂ X e A é o conjunto dos pontos


para os quais, alguma subsequência de (xn ) converge, ou seja, A ⊂ X. Por outro lado,

seja a ∈ X. Se a ∈ X, obtemos de imediato que a ∈ X ∪ A. No entanto, se a ∈ / X, então


toda vizinhança de a contém pontos xn 6= a. Portanto (a − 1, a + 1) contém pelo menos

um termo da sequência (xn ). Seja n1 o menor natural n para o qual xn ∈ (a−1, a+1). De
 
1 1
modo análogo obtemos que a − ,a + contém pelo menos um termo de (xn ). Seja
2 2  
1 1
n2 6= n1 o menor natural n para o qual xn ∈ a − , a + . Note que n1 < n2 , pois se
2 2
n1 > n2 então n2 seria o menor n natural para o qual xn ∈ (a − 1, a + 1), contrariando
a minimalidade de n1 . Prosseguindo desta maneira, denimos a subsequência (xnk )
 
1 1 1 1
de (xn ) com xnk ∈ a − ,a + , ou seja, a − < xnk < a + , donde pelo
k k k k
Teorema do sanduíche lim(xnk ) = a e da Denição de valor de aderência, concluimos

que a ∈ A ⊂ X ∪ A. Desta forma ca provado que X ⊂ X ∪ A e pela dupla inclusão,

temos X = X ∪ A.

51
7 Exercícios 7.3 Ponto de Acumulação

7.3 Ponto de Acumulação

1. Prove que, para todo X ⊂ R, tem-se X = X ∪ X 0. Conclua que X é fechado se, e

somente se, contém todos os seus pontos de acumulação.

Demonstração. Como X 0 ⊂ X e X ⊂ X, imediatamente concluimos que X 0 ∪ X ⊂ X.


Por outro lado, seja x ∈ X. Se x ∈ / X, então do fato de x ∈ X, segue que toda
vizinhança de x contém pontos de X que por sua vez são diferentes de x. Assim, por
0
Denição x ∈ X . Agora se x ∈/ X 0 , então para algum ε > 0 temos (x − ε, x + ε) ∩ X =
{x} ⇒ x ∈ X. Assim, da arbitrariedade de x, temos X ⊂ X ∪ X 0 , ou seja, pela dupla
0
inclusão X = X ∪ X . Por m, provemos o seguinte:

X = X 0 ⇔ X 0 ⊂ X.

Com efeito, se X 0 ⊂ X, então X = X ∪X 0 = X ⇒ X = X. Recíprocamente, se X = X,


então X ∪ X 0 = X = X ⇒ X 0 ⊂ X.

2. Prove que toda coleção de intervalos não-degenerados dois a dois disjuntos é enumerável.

Demonstração. Em cada intervalo I da coleção, xemos um racional ri ∈ I. Armamos


que a função f : X → Y, tal que X é a coleção de intervalos, Y é o conjuntos dos
racionais xados e f (I) = ri com I ∈ X e ri ∈ Y, é injetiva. Com efeito sejam

A, B ∈ X com A 6= B. Sendo f (A) = ra e f (b) = rb , temos de imediato que ra 6= rb ,


já que ra ∈ A, rb ∈ B e A ∩ B = ∅. Como Y ⊂ Q e Q é enumerável, segue que Y é

enumerável e da injetividade de f, X também é enumerável.

3. Prove que se todos os pontos do conjunto X⊂R são isolados então pode-se escolher,

para cada x ∈ X, um intervalo aberto Ix , de centro x, tal que x 6= y ⇒ Ix ∩ Iy = ∅.

Demonstração. Sabemos que existem ε1 , ε2 >  0 tais quue (x − ε1 , x + ε1 ) ∩ X = 


ε1 ε1 ε2 ε2
{x} e (y−ε2 , y+ε2 )∩X = {y}. Digamos que Ix = x − , x + , Iy = x − , x +
2 2 2 2
e suponhamos ainda por absurdo que Ix ∩ Iy 6= ∅, isto é, existe z ∈ Ix ∩ Iy . Se ε2 ≤ ε1 ,
ε1 ε2
temos (z − x) < e |z − y| = |y − z| < . Assim, pela desigualdade triangular
2 2
segue-se:

ε1 ε2 ε1 ε1
|y−x| ≤ |y−z|+|z −x| < + < + = ε1 ⇒ |y−x| < ε1 ⇒ y ∈ (x − ε1 , x + ε1 ) .
2 2 2 2

52
7 Exercícios 7.3 Ponto de Acumulação

Por outro lado, se ε1 < ε2 temos de modo análogo, o seguinte:

ε1 ε2 ε1 ε2 ε2 ε2
|z −x| = |x−z| < e |z −y| < ⇒ |x−y| ≤ |x−z|+|z −y| < + < + = ε2 .
2 2 2 2 2 2
Como |x−y| < ε2 , então x ∈ (y−ε2 , y+ε2 ), donde novamente obtemos uma contradição.
Portanto Ix ∩ Iy = ∅.

4. Prove que todo conjunto não-enumerável X ⊂R possui algum ponto de acumulação

a ∈ X.

Demonstração. Suponhamos que X ⊂ R é discreto, logo para todo x, y ∈ X com x 6= y,


temos que existem intervalos Ix e Iy disjuntos centrados em x e y, respectivamente.

Assim, pela questão 2 vem que a coleção desses intervalos é enumerável. Sendo P tal

coleção, é imediato que a composição g ◦ f : N → X é injetiva, onde g : N → P é

injetiva e f : P → X que associa Ix a x é uma bijeção. Portanto, por Denição de

conjuntos enumeráveis, X é enumerável, contrariando a hipótese da questão.

5. Prove que para todo X ⊂ R, X 0 é um conjunto fechado.

Demonstração. Seja a∈/ X 0 , isto é, a ∈ R − X 0 . Como a não é ponto de acumulação de


X, segue que (a − ε1 , a + ε1 ) ∩ X = {a}. Armamos que nenhum ponto de (a − ε1 , a + ε1 )
0
é ponto de acumulação de X. Com efeito, se b ∈ (a − ε1 , a + ε1 ) é tal que a 6= b e b ∈ X ,

então para todo ε > 0, segue que (b − ε, b + ε) ∩ X − {b} = 6 ∅. Absurdo, pois b > a então
tomamos ε2 = min{b − a, a + ε1 − b} e se b < a tomamos ε2 = min{a − b, b − (a − ε1 )}.
0
Nos dois casos (b − ε2 , b + ε2 ) ∩ X − {b} = ∅. Assim (a − ε1 , a + ε1 ) ⊂ R − X e da
0 0
arbitrariedade de a resulta que R − X é aberto e portanto seu complementar X é

fechado.

6. Seja a um ponto de acumulação do conjunto X. Prove que existe uma sequência cres-

cente ou uma sequência decrescente de pontos xn ∈ X com lim(xn ) =a

Demonstração. É imediato do Teorema 4.1.1 que a é limite de uma sequência (xn ) com xn ∈
X − {a}. Como X − {a} ⊂ X. Fica evidente que (xn ) é uma sequência de termos de

X. Sabendo que toda sequência possui uma subsequência monótona e que toda sub-
sequência de (xn ) converge para a, segue que existe (xnk ) monótona com lim(xnk ) = a.

53
7 Exercícios 7.4 Conjuntos Compactos

Se (xnk ) for crescente ou decrescente, nada temos a provar. Por outro lado, se (xnk )
for não-crescente ou não-decrescente, basta tomar a subsequência de (xnk ) que é res-

pectivamente decrescente ou crescente. Essa subsequência além de convergir para a,


também é uma sequência de termos de X. Perceba que a construção da subsequência

de (xnk ) crescente ou decrescente não é possível, se (xnk ) for constante, ou se para nk


sucientemente grande (xnk ) passa a ser constante, contudo do fato de ser convergente
para a, teríamos (xnk ) = (a) ou para nk sucientemente grande a sequência (xnk ) só
teria termos a, contrariando o fato de xn ∈ X − {a}.

7.4 Conjuntos Compactos

1. Prove que o conjunto A dos valores de aderência de uma sequência (xn ) é fechado. Se

a sequência for limitada, A é compacto, logo existem l e L, respectivamente o menor


e o maior valor de aderência da sequência limitada (xn ). Costuma-se escrever l =
lim infxn e L = lim supxn .

Demonstração. De imediato, temos A ⊂ A. Por outro lado seja, a ∈ A, ou seja, (a −


ε, a + ε) ∩ A 6= ∅ para todo ε > 0. Se a ∈
/ A, então pela Observação 1.7, segue que

existem ε0 > 0 e n0 ∈ N tal que:

n > n0 ⇒ |xn − a| ≥ ε0 ⇒ xn ∈
/ (a − ε0 , a + ε0 ).

Armamos que nenhum ponto de (a − ε0 , a + ε0 ) pertence a A. Com efeito, para b ∈


(a−ε0 , a+ε0 ), tomemos ε1 = min{a+ε0 −b, b−(a−ε0 )} e daí resulta que (b−ε1 , b+ε1 ) ⊂
(a − ε0 , a + ε0 ) e assim b ∈
/ A, provando o armado. Tal armação gera a contradição
uma vez que (a − ε, a + ε) ∩ A 6= ∅; ∀ε > 0. Logo a ∈ A e pela dupla inclusão A = A.

Por m, se |xn | ≤ k; k > 0, então toda subsequência de (xn ) é limitada por k, incluindo

as que convergem. Como A é o conjuntos desses limites, que por sua vez são menores

ou iguais a k, segue que A é limitado por k. Isso é suciente para mostrar que A é

compacto.

2. Prove que uma reunião nita e uma interseção arbitrária de conjuntos compactos é um

conjunto compacto.

n
[
Demonstração. Provemos inicialmente que A= An é compacto, em que A1 , · · · , An
i=1
são conjuntos compactos. Pelo Teorema 3.2.1, é imediato que A é fechado. Por outro

54
7 Exercícios 7.4 Conjuntos Compactos

lado, se A1 , · · · , An são limitados, então existem k1 , · · · , kn > 0 |x| ≤ xn ; ∀x ∈


tais que

An , n ∈ {1, · · · , n}.
Tomando k = k1 + · · · + kn , armamos que A é limitado por k. De

fato, suponhamos por absurdo que existe a ∈ A tal que |a| > k, isto é, a > k ou a < −k.

Note que existe i ∈ {1, · · · , n} onde a ∈ Ai e portanto |a| ≤ ki < k, logo −k < a < k.

Contradição. Daí resulta que A é limitado e como é fechado, segue que A é compacto.
+∞
\
Mostremos agora que B = é compacto com B1 , · · · , Bn , · · · conjuntos compactos.
i=1
Novamente pelo Teorema 3.2.1, B é fechado. Sendo p1 , p2 , · · · , pn , · · · maiores que zero,
tais que |x| ≤ pn ; ∀x ∈ Bn , temos para p = min{p1 , p2 , · · · , pn , · · · } que |x| ≤ p; ∀x ∈ B.

Com efeito, se existe b ∈ B com |b| > p, onde p = pi e b ∈ Bi , então |b| ≤ pi . Absurdo,

logo B é limitado e portanto compacto.

3. Dê exemplos de um sequência decrescente de conjuntos fechados não-vazios F1 ⊃ F2 ⊃


· · · ⊃ Fn ⊃ · · · e uma sequência decrescente de conjuntos limitados não-vazios L1 ⊃
T T
L2 ⊃ · · · ⊃ Ln ⊃ · · · tais que Fn = ∅ e Ln = ∅.

Demonstração. Tomemos F1 = [1, +∞), [2, +∞), · · · , ou seja, Fn = [n, +∞). Arma-
T T
mos que Fn = ∅, ou então existiria f ∈ Fn para todo n natural e daí n ≤ f.
Contradição,
 pois o conjunto N não é limitado superiormente. Por outro lado, tome-
1 T T
mos Ln = 0, e daí resulta Ln = ∅. Com efeito, do contrário existiria l ∈ Ln ,
n
ou seja:
1 1
0<l< ⇒ n < ; ∀n ∈ N.
n l
Novamente, obtemos uma contradição, provando o armado.

4. Um conjunto, cujos pontos são todos isolados é nito. Dê exemplo de um conjunto

fechado ilimitado X e um conjunto limitado não-fechado Y, cujos pontos são todos

isolados.

Demonstração. Seja X um conjunto compacto, cujos todos os pontos são isolados. Se

X = ∅ temos por Denição que X é nito. Se X 6= ∅, suponhamos por absurdo


0
que X é innito, daí pelo Teorema 4.2.1, segue que X 6= ∅, isto é, existe x no qual

para todo ε > 0, tem-se (x − ε, x + ε) ∩ X − {x} 6= ∅. Como X é fechado, temos

que x ∈ X, contrariando a hipótese da questão. Assim X é nito. Mostremos agora

um exemplo de conjunto fechado ilimitado X de pontos isolados. Que N é ilimitado


0 0
e fechado é imediato. Para concluir N = ∅ digamos que existe n ∈ N , ou seja,

55
7 Exercícios 7.5 Conjunto de Cantor

(n − ε, n + ε)N − {n} 6= ∅. Portanto, se tomarmos ε = 1, temos (n − ε, n + ε) ∩ N =


{n}. Contradição,
 logo todos os pontos de N são isolados. Resta exibir o conjunto Y.

1 1 1
Seja Y = 1, , , · · · , , · · · . Note que Y ⊂ (0, 1], ou seja, Y é limitado e como
2 3 n
frY = {0, 1} e 0 ∈
/ Y, temos pela questão 2 da seção de conjuntos fechados que Y não é
0
fechado. Por outro lado, pelo exemplo 4.1, sabemos que Y = {0}. Assim, Y é discreto.

5. Prove que se X é compacto então o conjunto S = {x+y; x, y ∈ X} também é compacto.

Demonstração. Sabendo que existe k > 0 em que |a| ≤ k a ∈ X, segue


para todo

que |x| ≤ k e |y| ≤ k. Somando membro a membro, temos |x| + |y| ≤ 2k donde pela

desigualdade triangular |x + y| ≤ |x| + |y|. Assim, por transitividade |x + y| ≤ 2k para

todo x, y ∈ X, provando que S é limitado. Mostremos agora que S é compacto. Se S

for nito, temos de imediato que S é fechado e pelo provado anteriormente, vem que

o mesmo é compacto. Se S for innito, então consideremos uma sequência (xn + yn )

qualquer. Note que, por Bolzano-Weierstrass existe uma subsequência (xnk + ynk )

convergente em z. Como (xnk ) é uma sequência de termos do compacto X, segue do


0
Teorema 5.1.1 que existe N innito tal que lim(xnk )k∈N0 = x0 e x0 ∈ X. Do fato de

(xnk + ynk )k∈N0 ser subsequência de (xnk + ynk ), tem-se:

lim(ynk )k∈N0 = lim[xnk +ynk −xnk ]k∈N0 = lim(xnk +ynk )k∈N0 − lim(xnk )k∈N0 = z −x0 = y0 .

Armamos que y0 ∈ X. De fato, (ynk )k∈N0 é uma sequência de termos pertencentes

a X e novamente pelo Teorema 5.1.1, uma subsequência de (ynk )k∈N0 converge para
um ponto de X, donde toda subsequência de (ynk )k∈N0 converge para y0 . Isso prova o

armado. Logo:

x0 + y0 = lim(xnk )k∈N0 + lim(ynk )k∈N0 = lim(xnk + ynk )k∈N0 = z.

Como x0 , y0 ∈ X, então z∈X e daí pela arbitrariedade de (xn + yn ) e pelo Teorema

5.1.1, resulta que S é compacto, já que (xnk + ynk )k∈N0 também é subsequência de

(xn + yn ).

7.5 Conjunto de Cantor


1
1. Determine quais dentre os números , 2 ≤ m ≤ 10, pertencem ao conjunto de Cantor.
m

56
7 Exercícios 7.5 Conjunto de Cantor

1 1
Demonstração. Sabemos do Capítulo 5, que , ∈ K.
  3 9
1
Note ainda que = 0, 253 = 0, 02020202...
  4 3
1 1 1
Ou seja, tem somente algarismos 0 e 2, logo, ∈ K. Por m, ∈ K, já que
4 3 4 10
1
= 0, 13 = 0, 0022002200...
10
1
Armamos que, para m ∈ {2, 5, 6, 7, 8} temos ∈
/ K.
m
De fato:

 
1
= 0, 1111....
2
 3
1
= 0, 121212...
5
 3
1
= 0, 01111...
6
 3
1
= 0, 010212010212...
7
 3
1
= 0, 010101...
8 3

Onde todo os números acima têm o algarismo 1 na sua representação na base 3.

2. Prove que a soma da série cujos termos são os comprimentos dos intervalos omitidos

para formar o conjunto de Cantor é igual a 1.


 
1 2
Demonstração. O primeiro intervalo retirado de [0, 1] foi , de comprimento
    3 3
2 1 1 1 2 7 8
− = . Em seguida, são retirados , e , de comprimentos iguais a
3 3 3 9 9 9 9
1
. Prosseguindo desta maneira é possível perceber que a série dos comprimentos dos
9
intervalos omitidos é:

X 1 1 1 1 1 1 1 1 1
an = + 2 + 2 + 3 + 3 + 3 + 3 + ··· + n + ··· n +··· .
3 3 3 3 3 3 3 |3 {z 3 }
2n−1 vezes
n−1
1 2 2
= + 2 + ··· + n + ··· .
3 3 3

57
7 Exercícios 7.5 Conjunto de Cantor

 n−1  n−1
P P 2n−1 P 1 2 1P 2
Ou seja, an = = · = .
3n 3 3 3 3
P 2 n−1
 
2
Considerando somente a série , façamos = a e como a < 1, segue que tal
3 3
1
série é geométrica e converge para , isto é:
1−a
1 1 1
limsn = = = = 3.
1−a 2 1
1−
3 3
P 1
Assim, a série an converge para · 3 = 1.
3

3. Mostre que os extremos dos intervalos removidos formam um subconjunto enumerável

denso no conjunto de Cantor.

Demonstração. Sabemos que os extremos dos intervalos retirados são frações cujos

denominadores são potências de base 3. Note ainda que esses mesmos denominadores

são maiores ou iguas que seus respectivos numeradores, ou do contrário teríamos frações
p
do tipo com p>q e daí, este quociente seria maior que 1 que vai de encontro com
q
p m
o fato de ∈ [0, 1]. Feito isso, podemos armar que os extremos são do tipo n com
q 3
m, n ∈ Z e m ≤ 3n , portanto têm suas representações na base 3, uma quantidade
nita de algarismos iguais a 0 e 2, uma vez que já foi observado no Capítulo 6 que

esses extremos pertencem a K. Se A é o conjunto desses extremos, armamos que A

é enumerável. Com efeito, A é o conjunto formado por todas sequências nitas de

algarismos 0 e 2, ou seja, A é o conjunto de todas funções s : In → {0, 2} em que s(n),

igual a 0 ou 2, é o n-ésimo termo da sequência nita s. Sendo An o conjunto das funções

de domínio In e contradomínio igual a {0, 2}, podemos estabelecer uma função injetiva

f : N → {A1 , A2 , · · · , An , · · · } tal que f (n) = An . De fato, dados m, n ∈ N com m 6= n,


temos f (m) = Am e f (n) = An que de imadiato são diferentes, já que os domínios das

funções de Am são diferentes de An . Concluimos que {A1 , A2 , · · · , An , · · · } é enumerável


i
S
em que Ai são conjuntos nitos, pois possuem 2 funções. Portanto, A = An é uma
reunião enumerável de conjuntos enumeráveis, provando o desejado. Resta-nos mostrar

que K ⊂ A. Com efeito, se k ∈ K, então k = 0, k1 k2 k3 · · · kn · · · com ki ∈ {0, 2},


logo k = lim(xn ) com x1 = 0, k1 ; x2 = 0, k1 k2 ; · · · ; xn = 0, k1 k2 · · · kn , isto é, (xn ) uma

sequência de termos pertencentes a A, portanto, por Denição de ponto aderente k ∈ A

e disso resulta que A é denso em K.

58
Conclusão
Num primeiro momento, enquanto cursava a disciplina optativa, de Topologia, em

2018.2, pude notar, que em mim surgiu o interesse por fazer a monograa naquele assunto.

Sabia que era um conteúdo extenso e que tinha aplicações em diversas áreas da matemática,

ainda mais que até certo ponto do período letivo, as aulas eram sobre Topologia Geral, logo,

surgiu um impasse já na escolha do tema. Quando, o professor Flávio, assumiu a cadeira,

este que já era meu orientador em uma bolsa de monitoria, fui ao seu encontro buscando

auxílio na escolha do tema e este me sugeriu pesquisar sobre a Topologia na reta, assunto

esse, raramente visto na matéria de análise da FAFIDAM, dado o curto tempo dedicado à

disciplina. O professor aceitou me orientar e se dispôs a me ceder as suas anotações do livro

Análise Real, além dos trabalhos feitos por outros discentes.

Após, redemonstrar todos Teoremas, Corolários e observações do Capítulo cinco, tive


A
uma outra barreira, que era digitar todos esses resultados no software L TEX. Tinha pouca

experiência com o programa, mas a ajuda do orientador e de alguns arquivos em PDF que ele

me indicou, deram um suporte inestimável. Procurei sempre utilizar uma linguagem didática,

que pudesse propocionar uma maior assimilação por parte do leitor e ainda referenciar cada

passagem lógica no decorrer das provas, que muitas vezes eram omitidas pelo autor do livro.

Óbviamente há pontos a serem melhorados, principalmente no Capítulo de exercícios, visto

que para cada questão, existem variadas soluções que não foram exibidas aqui, e cabe a cada

um escolher a maneira que acha ser mais simples ou didática.

Com relação aos TCC's que o professor Flávio me mostrou, destaco o de Antonio

Eclésio Martins Gomes e Patrícia Renata Pereira Regis, visto que, um dos meus objetivos

principais é o mesmo que eles tiveram em seus respectivos trabalhos: proporcionar uma fonte

de pesquisa, conhecimento e ajuda para as futuras gerações do curso de matemática da FAFI-

DAM. Vejo ainda meu TCC como uma continuação do que eles zeram, já que desenvolvemos

todas nossas pesquisas no mesmo livro, com as mesmas intenções, mas em Capítulos dife-

rentes. Posso armar ainda que minha dedicação e considerações aqui depositadas, fazem

parte de um projeto muito grande que o docente Flávio vem desenvolvendo no decorrer de

sua carreira: criar um material extenso e bem explicado na área de análise para aqueles que

se interessarem a aprofundar seus estudos e também para despertar o interesse pela pesquisa

em matemática pura. Tenho convicção que ele continuará com o que vem fazendo e espero

59
7 Exercícios 7.5 Conjunto de Cantor

que o meu objetivo a longo prazo possa ser atingido: ajudar na inspiração de futuros temas

de monograas, assim, como o Antonio Eclésio e Patrícia Renata ajudaram a inspirar o meu.

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Bibliograa

[1] LIMA. Elon Lages, Análise Real - Vol. 1 - Funções de Uma Variável, Coleção

Matemática Universitária. 1
a ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2014.

[2] , Curso de Análise - Vol. 1. Coleção Projeto Euclides. 14a ed. Rio de Janeiro:
Associação Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada, 2013.

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