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Uma contribuição ao debate sobre


as relações saúde e trabalho

Contributions for a debate on the health


and work relationships

Ada Ávila Assunção 1

Abstract This study aims to present theoret- Resumo O objetivo é apresentar os pressu-
ical and methodological principles of research postos teórico-metodológicos das investigações
about health problems that are marked by mu- sobre problemas de saúde atuais marcados
tations in work processes. In order to reach its pelas mutações nos processos de trabalho em
goal, this article present results of recent re- curso. Para isso, o artigo apresenta os resulta-
searches about the health and work relation- dos de algumas pesquisas recentes realizadas
ship that observed the effects of work muta- no campo de estudo das relações saúde e tra-
tions from the perspective of workers’ com- balho que observam os efeitos das mutações do
plaints and the will to face daily life. The re- trabalho, a partir das queixas que os traba-
sults from these studies reveals an illness process lhadores vêm apresentando no que diz respeito
among workers with unspecific complaints and à sua saúde e disposição para o enfrentamen-
bring about the interest in the ethnographic to cotidiano. Os resultados dos estudos descritos
approach and in the work ergonomic analysis. permitem visualizar um quadro de adoeci-
Traditional approaches to the theme are criti- mento dos trabalhadores em que as queixas são
cized and the author envisages the possibility inespecíficas e suscitam o interesse pela abor-
of articulating disciplines in order to solve im- dagem da etnografia e pela metodologia da
passes posed by classic approaches análise ergonômica do trabalho. As aborda-
Key words Health, Work, Ergonomics, Pro- gens tradicionais são criticadas e o autor vis-
ductive reorganization lumbra a possibilidade de articular as disci-
plinas, a fim de resolver impasses colocados
pelas abordagens clássicas.
Palavras-chave Saúde, Trabalho, Ergonomia,
Reestruturação produtiva

1 Departamento
de Medicina Preventiva
e Social da Universidade
Federal de Minas Gerais.
Av. Alfredo Balena
190/8.009, Bairro Santa
Efigênia, 30130-100,
Belo Horizonte MG.
adavila@medicina.ufmg.br
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Introdução O contexto dos problemas


de saúde dos trabalhadores
Na tentativa de abranger os fenômenos comple-
xos que envolvem as dimensões humanas im- A realidade atual vem exigindo dos pesquisa-
plicadas no trabalho, o ponto de vista que orien- dores envolvidos com a temática da saúde maio-
ta a análise dos resultados empíricos apresenta- res esforços para compreender as mudanças re-
dos neste artigo entende a saúde para além da centes, pois o modo de as pessoas fazerem uso
concepção de ausência de doenças, expandindo de suas capacidades físicas, cognitivas e afetivas
para os aspectos econômicos, sociais e psicoló- para produzir foi transformado.
gicos. A organização do trabalho, ao atingir o indi-
O artigo descreve os cenários contemporâ- víduo, modifica a sua maneira de enfrentar os
neos dos sintomas mórbidos dos trabalhado- riscos e traz efeitos sobre a saúde ainda não per-
res investigados. São apresentados resultados feitamente conhecidos ou dimensionados.
de pesquisas de campo que têm a atividade de Enfrentam-se teoricamente e na prática as
trabalho como noção orientadora. Para a esco- manifestações de saúde que é alterada no seio
la de ergonomia francesa, atividade de trabalho da sociedade devido aos efeitos da desigualda-
designa a maneira do ser humano mobilizar as de da distribuição dos bens produzidos, à aqui-
suas capacidades para atingir os objetivos da sição de uma multiplicidade de conhecimen-
produção. Tem-se como pressuposto que o tra- tos e de erros, às possibilidades de domínio dos
balho convoca o corpo inteiro e a inteligência territórios e comportamentos e ao choque con-
para enfrentar o que não é dado pela estrutura tínuo dos conflitos.
técnico-organizacional, configurando-se como A saúde dos trabalhadores é alterada no
um dos espaços de vida determinantes na cons- contexto da reestruturação produtiva que de-
trução e na desconstrução da saúde (Assunção, riva de um ambiente social, político e econô-
1998). mico marcado pelas crises dos anos 60 e 70. As
Não é demais afirmar que a proposição de empresas começam a se reestruturar não so-
desenvolver os conceitos e métodos da ergo- mente pelo acirramento da concorrência, mas
nomia no campo da saúde do trabalhador es- também por conflitos sociais relacionados às
barra em suas carências epistemológicas acer- formas tradicionais de organização do trabalho
ca dos fundamentos metodológicos que sus- e da produção. A maior integração e flexibili-
tentam as suas pesquisas ao tempo que contri- dade das empresas surge como uma forma de
bui para contorná-las, pois fornecem elemen- reagir à crise social e de aumentar a produtivi-
tos sobre o trabalho, os trabalhadores e a saú- dade num mercado instável (Antunes, 2001).
de. Criar novas abordagens é parte de um pro- A horizontalização das empresas, ou seja,
cesso que pretende contribuir para as práticas a pulverização das etapas da produção no es-
preventivas dos danos à saúde relacionados ao paço, resulta da nova forma de estruturação
trabalho e abre as vias para formulações futu- do capital. Romper com os muros de cada em-
ras mais complexas. presa e de cada nação ensejou o movimento da
Os processos investigatórios em curso for- globalização, que não significa repartição ho-
necem, entre outros, os resultados apresenta- mogênea dos ganhos e nem proteção da saú-
dos ao longo deste artigo que permitiram ava- de. Trata-se da “extensão do domínio de um
liar criticamente diferentes estratégias para se pequeno número de nações dominantes sobre
estudar as relações saúde e trabalho. A princi- o conjunto das praças financeiras nacionais”
pal crítica se dirige à insistência dos autores em (Bourdieu, 1998). Essa globalização marca a vi-
tentar encontrar no perfil dos diagnósticos mé- da de cada um e, para os trabalhadores, marca,
dicos guiados pela Classificação Internacional sob a forma de dramas pessoais. Os resultados
das Doenças (CID-10), associações claras com das pesquisas colocam em evidência o parado-
as condições de trabalho. Ora, os sintomas nem xo contemporâneo que alimenta esses dramas:
sempre são específicos, ademais se referem à exigência de trabalhadores polivalentes, ins-
complexidade psicofisiológica dos seres hu- truídos, com iniciativa, mas sem margens pa-
manos e à dinamicidade das situações de tra- ra decidir sobre os meios e os fins. Por esse mo-
balho (Teiger & Laville, 1989); inútil, portanto, tivo, o sociólogo francês citado re-batiza o fe-
procurar associações óbvias entre os diagnósti- nômeno como flexploração que aparece na or-
cos prevalentes da CID-10 e o trabalho. ganização do trabalho das empresas como ne-
cessária às novas formas de produção coman-
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dadas pelo mercado. Ao contrário do modelo tuações mais rudimentares de trabalho. Cate-
fordista de produção em série, voltada para o gorias profissionais que se pensavam estáveis
consumo de massa, demandando grandes esto- e permanentes até há bem pouco tempo vêem-
ques, o momento atual supõe formas mais fle- se ameaçadas de extinção à medida que o em-
xíveis de organização e de gestão do trabalho. prego de novas tecnologias no processo produ-
A rígida divisão das tarefas, característica tivo tem substituído a força de trabalho huma-
marcante do fordismo, vem cedendo lugar, mas na por máquinas e que a terceirização tem per-
sem desaparecer completamente, a formas ho- mitido outras formas de contratação que subs-
rizontais e aparentemente mais autônomas de tituem o emprego formal, regulamentado e re-
organização do trabalho que, no entanto, possi- lativamente estável (Antunes, 2003).
bilitam a intensificação da exploração do traba- No plano social, as mutações nos processos
lho (Castels, 1999). produtivos forjam uma nova realidade para a
Os trabalhadores do setor de serviços, da organização dos trabalhadores: desenham-se
indústria ou inseridos na ponta da geração das formas veladas de resistência e/ou submissão,
tecnologias da informação e comunicação, se muitas vezes isoladas e individualizadas, dos
ressentem dos prazos indevidos para entregar trabalhadores às condições de trabalho impos-
os produtos planejados (Abrahão, 2000). Dessa tas (Bernardo, 1991; Oliveira, 1992). A organi-
forma, cria-se um ambiente em que as pessoas zação sindical, incluindo as Organizações por
só se encontram para resolver conflitos entre o Local de Trabalho (OLT), está fraturada e divi-
sistema e as necessidades do cliente, entre o sis- dida pelos próprios antagonismos que provo-
tema e a máquina, porque não há espaço para cam a precarização (Castel, 1997).
o diálogo e as vivências humanas... Assim sen- O processo de reestruturação capitalista mo-
do, a divisão do trabalho termina por engen- difica as condições de trabalho no que diz res-
drar formas sofisticadas de competição entre peito às suas formas de organização e controle,
as pessoas. implicando novos ritmos, muitas vezes deter-
Além da flexibilização da produção e da sua minados pela demanda externa do comprador
gestão, as relações de emprego também são fle- e exigências com relação à formação dos traba-
xibilizadas à medida que passam a ser entendi- lhadores e sua disciplina no local de trabalho.
das como a possibilidade de se contratar traba- No plano econômico, a empresa não é mais
lhadores sem os ônus advindos da legislação do organizada no interior dos limites políticos do
trabalho, a qual consolidou ao longo das últi- Estado onde se encontra a sua sede, pois os sis-
mas quatro décadas, direitos e garantias mí- temas de informação "permitiram o controle
nimas, como 13o salário, férias, FGTS, entre do processo a partir de um ponto central e pra-
outros. ticamente em tempo real" (Hobsbawm, 2000).
Na atualidade, criou-se um movimento con- Os mercados ficaram diversificados e o ritmo
siderado processo de precarização do trabalho, de transformação tecnológica tornou obsole-
por implicar mudanças nas relações de traba- tos os equipamentos de produção com apenas
lho, incluindo as condições de realização, e nas uma função.
relações de emprego que apontam para maior Nota-se também uma mudança no perfil
instabilidade e insegurança para os trabalha- da força de trabalho. Como assinala Oliveira
dores. O processo em curso pode estar ocor- (2000), as tecnologias de gestão e organização
rendo pela constatação de que, hoje, mais que do trabalho emergentes têm exigido trabalha-
em qualquer momento do passado, é possível dores polivalentes, o que implica novos desafios
o crescimento econômico sem a ampliação do para os mesmos pois não contam com o supor-
número de empregos. Para alguns autores co- te social, como será exemplificado adiante.
mo Castel (1997) tal evidência contribuiu para As queixas de saúde são pouco apreendi-
o acirramento das desigualdades sociais no fi- das pelos serviços médicos das empresas, por-
nal do século 20, com importantes conseqüên- que, muitas vezes, dizem respeito aos efeitos da
cias nos ambientes de trabalho. corrida tecnológica e à falta de tempo para dar
O referido processo de precarização do tra- conta das metas e dos prazos. De acordo com
balho caracteriza-se, ainda, por uma forte seg- Sennett (2001), flexibilidade é a capacidade de
mentação do mercado produtivo, implicando ceder e recuperar-se de uma árvore, principal-
um fracionamento da oferta de empregos e mente dos seus galhos. Mas as práticas de flexi-
suas condições de realização, que variam desde bilidade na produção parecem tentar flexibili-
os cenários fortemente “tecnologizados” às si- zar as capacidades dos trabalhadores até o pon-
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to máximo, dobrando as pessoas, sem, no en- de hipersolicitação dos corpos e da iniciativa


tanto, oferecer-lhes as chances para recupera- são pouco valorizadas.
ção ao estado inicial. As noções de exposição aos fatores de ris-
co fundam-se sobre a idéia do trabalho prescri-
to e terminam por realizar um análise crua dos
Os limites das abordagens riscos ao invés de considerar a variabilidade
clássicas para identificar industrial e dos serviços prestados, a qual pode
e compreender os sintomas ser determinante da penosidade da situação de
trabalho e do adoecimento.
As abordagens no campo da saúde e trabalho O interesse exclusivo pela morbidade pode
trouxeram contribuições sobre a distribuição impedir a identificação das competências dos
das doenças nas populações como reveladora trabalhadores construídas ao longo da experi-
das desigualdades sociais. No século 19, Viller- ência que, por vezes, tem o objetivo de evitar os
mé, na França, analisou as taxas de mortalida- riscos do sistema técnico-organizacional (Cru
de mostrando relações entre as condições de & Volkoff, 1996; Dejours et al. 1994).
vida das classes sociais em diferentes bairros As insuficiências das abordagens pratica-
de Paris e o perfil de adoecimento desses ex- das não ajudam a evitar o campo fértil para as
tratos sociais. Engels, também no século 19, hipóteses preconceituosas sobre o ser humano:
faz uma descrição detalhada das condições de o problema seria a falta de motivação ou exces-
vida da classe operária na Inglaterra, associan- so de submissão para o trabalho que podem ter
do o perfil de morbi-mortalidade da popula- relação com a mais remota infância do sujeito
ção aos efeitos da industrialização naquele (sem mencionar o peso do trabalho no desen-
país. Esses dois estudos marcam o nascimento cadeamento dos sintomas), ou, então, aquele
da epidemiologia social, embora os antigos já não seria o ser humano apropriado à situação
tivessem elaborado modelos clínicos que frisa- de trabalho em questão.
vam a importância da investigação, entre ou- Os resultados das pesquisas em epidemio-
tros, dos modos de vida dos seus pacientes, a logia ocupacional orientam a elaboração dos
fim de compreender as suas queixas (Gorny, índices para os limites de exposição a partir de
1991). uma média. Mas os sintomas são diferentes de
As abordagens tradicionais da saúde ocu- um indivíduo a outro, e além disto a exposição
pacional já foram objeto de críticas oriundas vai depender também da maneira como o in-
de várias disciplinas que ressaltam a insuficiên- divíduo pode realizar o seu trabalho. Por exem-
cia de sua prática e dos modelos teóricos diante plo, o risco de câncer de pulmão é ligado à ex-
das determinações sociais do processo saúde- posição acumulada às fibras de amianto, mas é
doença (Breilh, 1991; Laurell & Noriega, 1989; também verdade que certos trabalhadores ex-
Tambellini, 1978). Retomar as críticas nesse ní- postos não apresentarão o efeito provável (As-
vel geral fugiria aos propósitos do artigo. No sunção & Lima, 2003).
entanto, cabe suscitar o debate, explicitado por Criticando os modelos anteriores que co-
Assunção & Lima (2003), sobre as insuficiên- locam no mesmo plano o agente, o hospedeiro
cias dos modelos tradicionais na forma como e ambiente (quando ele é considerado), duas
se entende a relação trabalhador-fator de risco vias aparecem com força no cenário científico:
e como essa relação é apreendida nas técnicas a epidemiologia social e o espaço geográfico.
de análise empregadas. Essas vias surgem para “tentar integrar o bioló-
Os profissionais se deparam, freqüente- gico ao não biológico” (Paim, 1997, apud Silva,
mente, com as suas tentativas frustradas em es- 1985), esboçando recentemente a operacionali-
tabelecer um perfil de morbidade coerente com zação da categoria espaço nos estudos de con-
as queixas dos trabalhadores relacionadas, por dições de vida e saúde.
exemplo, ao desconforto do posto de trabalho, Ainda, na tentativa de dar visibilidade aos
à sensação de esgotamento, ou às perturbações fenômenos de saúde relacionados ao traba-
na vida familiar. Ou seja, o estudo da relação lho, o modelo operário italiano e o seu instru-
risco-doença é frutífero quando se trata de fa- mento Mapa de Riscos foram criados no seio
tores específicos, mas grande parte dos proble- do movimento sindical na Itália, na década de
mas de saúde ligados ao trabalho não é especí- 1980, como um dos elementos que fazem par-
fica. Não sendo claramente associadas aos fa- te de um conjunto de instrumentos de contro-
tores de risco, as queixas geradas nas situações le social da exposição a riscos ocupacionais.
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No Brasil, ainda na década de 1980 e início Resultados


dos anos 90, o movimento sindical organizado
em torno da Central Única dos Trabalhadores A procura de medicamentos psicotrópicos nas
adotou o Mapa de Risco nas discussões sobre a empresas de processamento de dados permite
saúde do trabalhador. Desse ponto de vista, o discutir o valor das queixas consideradas ines-
modelo prestou importante contribuição à dis- pecíficas, não apreendidas pelas abordagens tra-
cussão sobre saúde do trabalhador brasileiro. dicionais, na investigação das condições de tra-
Contudo, como ressalta Lima (2001), mostrou- balho, tendo como hipótese a sua relação com
se insuficiente e inadequado para uma aborda- o adoecimento dos trabalhadores.
gem das relações saúde e trabalho que contem- No caso descrito a seguir, a organização
plasse não só as determinações sociais do tra- sindical indaga sobre uma possível associação
balho, mas também as estratégias construídas entre a prevalência de uso dos medicamentos
pelos trabalhadores no interior do processo de citados com o desemprego tecnológico ou de-
trabalho (Abrahão et al., 2003). semprego interno em uma grande empresa na-
Da forma como vem sendo utilizado, o mo- cional de processamento de dados, referindo-
delo operário italiano é reduzido ao seu ins- se aos trabalhadores que permanecem na em-
trumento, negando toda a metodologia para a presa sem terem o que fazer. Na investigação, o
qual foi previsto, é hoje o símbolo maior do fe- gerente de produção verbaliza: o nosso call-cen-
tiche da consciência do risco, como se a regula- ter possui 50 trabalhadores, mas em breve fun-
ção do comportamento decorresse direta e uni- cionará com cinco... isso ainda não foi feito só
camente da consciência dos indivíduos. As- porque falta recurso para implantar a nova tec-
sim, o Mapa de Risco no Brasil acabou se tor- nologia... você vê, às vezes, a falta de recursos até
nando um instrumento burocrático e um sim- ajuda. O gerente queria dizer que o trabalho
ples meio de comunicação que enfeita paredes ainda sobrevive porque não houve recursos su-
de escritórios e galpões industriais, aos quais ficientes para dizimá-lo. O seu discurso expres-
ninguém mais presta atenção e nem poderia sava o problema que atinge a saúde dos traba-
prestar, tão atarefados estão com a produção. lhadores da informática derivado da inserção
Mais ainda, o Mapa de Risco reflete um prin- da tecnologia em um ambiente de fortes desi-
cípio cartesiano-racionalista extremado: to- gualdades sociais, que ameaça constantemente
dos os riscos podem ser identificados, quantifi- o emprego, fragiliza e deteriora o trabalho, ge-
cados, classificados e localizados fisicamente rando fontes de angústia (Assunção & Souza,
no ambiente de trabalho. Não se consideram, 2001).
como ilustram as pesquisas de De la Garza & Na entrevista de explicitação, a trabalhado-
Weill-Fassina (1995) e Almeida (2003), as inte- ra da empresa responde à questão como o seu
rações entre os riscos, que podem potencializar corpo sente o trabalho, mostrando os efeitos
as condições acidentogênicas. que implicam tanto a dimensão física quanto a
No geral, as abordagens dos fenômenos de dimensão psíquica. Ela verbaliza: dores horrí-
saúde relacionados ao trabalho citadas conti- veis, inchaço nas mãos e pernas, sensação de
nuam freqüentemente assentadas sobre a idéia agulhas enfiadas nos ombros e coluna, conflito
de uma passividade dos trabalhadores face às interior em superar as dores para executar o tra-
condições de trabalho adversas. Os problemas balho (Fenadados, 2003). O conteúdo do de-
de saúde ocupacional podem, todavia, ser ana- poimento retorna ao registro de prevalência
lisados sob um novo ângulo, se consideramos, aumentada de demandas por psicotrópicos no
como sugerem Assunção & Lima (2003), que, serviço médico da empresa, a qual pretende
em uma situação de trabalho, a nocividade está enxugar o efetivo. Os resultados da investiga-
presente quando a organização do trabalho di- ção colocam em xeque a abordagem da medi-
minui as possibilidades do trabalhador evitar a cina do trabalho que procurava explicar os
exposição ao fator de risco (formalmente reco- sintomas depressivos e os distúrbios de ansie-
nhecido ou não), por exemplo, ao impor um dade exclusivamente pela história de vida dos
quadro temporal rígido para a realização das sujeitos.
tarefas ou negligenciar o investimento dos tra- As lesões por esforços repetitivos represen-
balhadores para compensar os desequilíbrios tam de 80 a 90 % dos diagnósticos de doenças
das situações. profissionais da Previdência Social. A aborda-
gem que prepondera em estudos sobre o tema,
que derivam em práticas reducionistas, con-
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funde trabalho repetitivo com trabalho auto- trabalhadores, seus objetivos e impositivos do
matizado e reforça o mito do trabalho essenci- objeto trabalhado, no caso, de proporções pe-
almente manual. quenas, caro e bonito.
O caso das posturas estáticas dos trabalha- No setor de teleatendimento, a análise que
dores de uma indústria de jóias resultantes da considera o trabalho repetitivo desvestido de
tarefa de fabricar anéis, brincos e alianças que sentido não apreende os fatores que estão na
exige movimentos precisos e controlados das origem das queixas de esgotamento, pois uti-
extremidades dos membros superiores, permi- lizando-se de uma abordagem biomecânica di-
te discutir a postura de trabalho não como ob- rige-se unicamente aos efeitos musculo-esque-
jeto de idiossincrasias pessoais, nos termos léticos, que nem sempre estão presentes e, nem
propostos por Lima (2001), mas como resulta- por isso, a situação deixa de ser penosa. Assun-
do do planejamento da ação que opera em ní- ção & Vilela (2002) descrevem o controle ga-
veis cognitivos. Alves e Assunção (2002) mos- rantido por mecanismos eletrônicos que cal-
traram que é o tamanho da peça que explica a culam em situação real o tempo de atendimen-
maneira como os indivíduos vão organizar os to ao cliente, que servirá para outro cálculo o
seus segmentos corporais. Por exemplo, em fle- Tempo Médio de Atendimento (TMA), utiliza-
xão cervical permanente para enxergar deta- do para a avaliação individual do teleatenden-
lhes da peça (em sua maioria, muito pequenas) te. No setor de auxílio à lista, o TMA é de 25 se-
ao mesmo tempo em que é lapidada, o traba- gundos, de acordo com o prescrito pela empre-
lhador aproxima sua cabeça para garantir me- sa. Se o operador não encontrar a informação,
lhor foco (visível), intensificando a flexão. Os deve dizer ao cliente que “Não consta”. Se exis-
cinco componentes da atividade, movimentos tem várias informações possíveis, o operador
precisos dos membros superiores, responsabi- investiga, dialogando, qual seria a melhor para
lidade, atenção, medo de errar e pressão tem- o cliente, mas sob economia de tempo.
poral, aumentam a atividade muscular, fragili- Na empresa estudada, vê-se, pela figura 1,
zando o pressuposto clássico de que a organi- que apenas no mês de janeiro o conjunto de te-
zação dos segmentos corporais depende so- leoperadores não conseguiu, pela média esta-
mente da vontade dos indivíduos, na maioria belecida, atingir a meta de 25 segundos para o
das vezes “mal-educados” ou “ignorantes” quan- trato de uma ligação no setor de auxílio à lista.
to à postura correta. As medidas para o confor- A performance obtida tem um custo físico e
to nos postos de trabalho analisados devem ser cognitivo, considerando que as demandas são
elaboradas levando-se em conta as ações dos variadas e as condições materiais de trabalho

Figura 1
Média do TMA (em segundos) de todos os operadores do setor auxílio à lista por mês.
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inadequadas (ruído, mobiliário, espaço físico). mo em que os movimentos são realizados. É


Alcançar a meta quase impossível significa res- nessas situações que o trabalhador, ao efetuar
ponder às exigências de qualidade em um qua- rapidamente, por exemplo, a retirada do in-
dro temporal incompatível. O dado indica o es- vólucro da pipeta, surpreende-se com o jato de
forço empreendido pelos trabalhadores para ga- sangue ou urina contido no recipiente, poden-
rantir as metas e pode estar associado às quei- do atingir a sua pele e/ou mucosas.
xas de cansaço relatadas pois, apesar da exigüi- Os resultados que explicam a origem da
dade dos tempos, o operador consegue mobili- exposição aos riscos biológicos, desconhecida
zar os conhecimentos estocados em sua memó- da organização formal do trabalho, só foram
ria e tratar aquelas informações trazidas pelo possíveis porque oriundos de uma investigação
cliente afobado e descontente. que tem como centro um modelo de ser huma-
O estudo concluiu que as situações são vi- no pluridimensional que responde às variabili-
venciadas com ansiedade e podem se associar dades da produção, contrariamente ao que pre-
a um comportamento hiperacelerado que in- tende a noção de homem da organização for-
vade a vida extratrabalho, conforme eviden- mal do trabalho.
ciado por Le Guillant (1984). Da análise dos O estudo das tarefas das auxiliares de enfer-
resultados das entrevistas praticadas no sin- magem em um banco de leite humano (BLH)
dicato apreende-se que vem o “medo”, dizem tentando compreender as queixas de cansaço
os trabalhadores, de não ter competência para físico geral e localizado nos membros superio-
resolver aquele problema inédito (a maioria res dá visibilidade a um outro tipo de compo-
dos problemas são inusitados); surge a dificul- nente da atividade: o afeto. O objetivo do se-
dade em não demonstrar a sua irritabilidade tor é estimular as mães para que não utilizem
face à grosseria do demandante; vem a revolta alternativas da amamentação. As tarefas prin-
por não ter sido selecionado para aquele curso cipais das funcionárias do BLH são ordenha,
que teria lhe fornecido meios para aprimorar orientação e tratamento das mães, atenção aos
as suas habilidades; nasce a raiva, pois sabe que bebês, pasteurização e distribuição do leite aos
todo o seu investimento não será reconhecido bebês internados e registro dos dados e infor-
pela hierarquia. mações pertinentes ao funcionamento do setor
Assunção (2001) estudou o trabalho em um e do hospital (Assunção & Luz, 2001).
laboratório de análises clínicas e descreveu os Viu-se, ao contrário da hipótese do serviço
ciclos repetitivos de trabalho, as exigências bio- de medicina do trabalho que gerou a demanda
mecânicas impostas pelo mobiliário e equipa- do estudo ergonômico, que a ordenha manual
mentos e a variabilidade da produção que in- não era a atividade principal. Na maior parte
terfere no ciclo básico (repetitivo), provocan- do tempo, 30% da jornada, as funcionárias pro-
do nele uma instabilidade. No interior do ciclo, curam orientar e acalmar as mães para que elas
as operações exigem atenção para não come- possam melhorar a relação com o bebê e com o
ter erros na identificação das pipetas, em casos aleitamento em si e conseguir o sucesso na lac-
de envio de amostras idênticas para pacientes tação. As dificuldades externas em torno da vi-
homônimos e, em outros casos, em que vários da da mãe repercutem sobre a quantidade e
exames são solicitados de uma única amostra, qualidade do aleitamento, bem como a saúde
exigindo fracionamento do material com todo o das mamas. As auxiliares, nesses casos, tranqüi-
cuidado necessário para evitar contato com as lizam e reduzem a ansiedade materna, a fim de
substâncias biológicas. Resumidamente, além contribuir no sucesso da lactação, e acalmam o
das exigências de movimentos repetitivos, as lactente, para que colabore. Quando o bebê
tarefas caracterizam-se pelas suas exigências não reage ou reage mal, verifica se está sedado,
posturais estáticas, principalmente envolven- se foi alimentado com mamadeira ou lhe foi
do a musculatura cervical e dorsal, e exigências dado água ou se está agitado devido à fome.
de atenção e concentração, pois, sendo o pro- Mostrou-se que, na maior parte da jorna-
duto final uma amostra biológica identificada, da, as funcionárias estão orientando, acalman-
qualquer erro acarreta prejuízos importantes. do e educando a mãe para a lactação. O esforço
Notaram-se várias situações de contato com das funcionárias para responder às necessida-
fluido corpóreo em que o risco originou-se da des das mães em condições inadequadas de tra-
pressão temporal, pois o volume de amostras a balho pode explicar a queixa de cansaço. Num
serem tratadas e o tempo adequado para per- ciclo vicioso, cansaço gera absenteísmo, que ge-
manência fora da geladeira determinam o rit- ra fragilização do trabalho coletivo, adoecimen-
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to de outras enfermeiras ou auxiliares, o que para que os alunos as completem. Viu-se que
provoca mais absenteísmo... e sobrecarga para ela evita fazer competição vocal com os alunos,
as funcionárias que comparecem ao trabalho. e raramente se dirige somente a um grupo de
Reduzir o trabalho das auxiliares de enfer- alunos ou um aluno individualmente e preser-
magem estudadas ao seu componente biome- va o hábito de levar uma garrafinha com água
cânico seria injusto para o investimento de ca- para sala e bebê-la durante a aula e aproveita
da uma delas em responder às necessidades dos os freqüentes “exercícios” durante as aulas de
usuários do serviço e não explicaria as queixas matemática, momentos em que alunos traba-
de esgotamento. lham sozinhos, para realizar o necessário re-
Os exemplos citados permitem afirmar que, pouso vocal. Ou seja, quando é possível, os tra-
freqüentemente, é no imprevisto das situações balhadores elaboram estratégias de preserva-
de trabalho (pouco conhecidas dos organiza- ção da saúde.
dores da produção) que se situa a explicação Os resultados desse estudo permitem supor
dos problemas de saúde. É essa a tese geral que que nem todas as professoras conseguiram ela-
orienta as investigações em curso, partindo da borar e obter sucesso com as suas estratégias,
crítica de certos aspectos das abordagens tradi- pois se observou outra professora com quei-
cionais, a fim de estabelecer outros princípios xa de problemas vocais apresentar poucos re-
de análise da relação saúde-trabalho, inspira- cursos de autoproteção vocal. No entanto, nas
dos na experiência dos diferentes profissionais duas situações descritas, é possível localizar os
envolvidos presentes na II Conferência de Saú- elementos da organização do trabalho que são
de Ocupacional e Ambiental em Salvador, em determinantes da hipersolicitação vocal, como
2002. as normas rígidas para vencer o conteúdo pre-
Ainda voltado para a compreensão das quei- visto.
xas de cansaço e esgotamento em algumas ca- O estudo de Diniz (1993) também focaliza
tegorias profissionais, o estudo de Noronha as estratégias implementadas pelos trabalha-
(2002) buscou, por meio da análise do traba- dores para fazer face aos constrangimentos ori-
lho de um grupo de professoras do ensino fun- undos da organização do trabalho e seus obje-
damental, em sala de aula, situar as práticas lo- tivos de tempo e qualidade. No caso, são os de-
calizadas no contexto mais amplo da atual or- terminantes externos que explicam os riscos
ganização do ensino, tentando identificar a ori- que os motociclistas profissionais enfrentam
gem das queixas. Os resultados apresentados no trânsito e desmontam as crenças de que os
permitem afirmar que grande parte do tempo profissionais das motocicletas agiriam pela im-
da professora em sala de aula é ocupado com o prudência ou irresponsabilidade. Salientam-
controle, visando diminuir a indisciplina na se na rede global pelo menos dois fatores que
sala, gerando insatisfação para a professora in- sustentam o crescimento do número de moto-
vestigada (Noronha, op. cit.). A hipótese da au- ciclistas profissionais: as novas tecnologias de
tora discute a regulamentação expressa na Lei comunicação (telefonia fixa/móvel e internet),
de Diretrizes e Bases (LDB) sobre o trabalho dos aproximando consumidores, clientes e presta-
professores e as reformas educacionais que não dores de serviços; e a possibilidade de financia-
são acompanhadas de uma efetiva adequação mento da motocicleta em prestações de baixo
das condições de trabalho ao perfil do aluno valor. A articulação entre produção de bens,
nas escolas públicas da periferia, cada vez mais serviços e consumo passa a exigir um meio ca-
carente e violento. paz de interconectar os extremos fornecedor-
Outro problema de saúde atual que atrai cliente de modo rápido, pontual e confiável.
cada vez mais pesquisadores é a disfonia pre- Com efeito, expandiu-se o serviço prestado
valente em algumas categorias profissionais. pela categoria não apenas como alternativa de
Gonçalves (2003) interessado em compreen- emprego, mas, sobretudo, como resposta a uma
der a alta prevalência de disfonia entre as pro- necessidade estabelecida na sociedade contem-
fessoras, analisa o uso da voz em sala de aula e porânea. Cada toque no mouse que fecha um
a sua relação com aspectos da organização do negócio via internet e cada telefonema do cli-
trabalho e da gestão escolar pública. As estraté- ente que demanda um produto ao fornecedor
gias das professoras para economizar a solicita- acionam a ignição de um exército de motoci-
ção das cordas vocais são descritas. O caso da cletas que transportam uma infinidade de ma-
uma professora é ilustrativo, pois ela mobiliza teriais e produtos: remédios, passagens, alimen-
um recurso freqüente de não terminar as frases tos, materiais de escritório, fotocópias, cilindros
1013

de gás de cozinha, garrafões de água mineral, As relações saúde e trabalho não são anali-
talões de cheques, malotes de empresas, etc. sadas baseando-se exclusivamente nos regis-
Eles realizam também serviços de cunho buro- tros médicos, ou no perfil de adoecimento ou
crático, como: efetuam pagamentos e depósi- nas taxas de absenteísmo originadas pelas esta-
tos; obtêm certidões negativas e “nada-consta” tísticas oficiais. Embora os indicadores dêem
em repartições públicas e privadas. uma idéia do problema, há o risco de tornar te-
Os resultados apontam que o modo opera- ma médico uma questão social que deriva das
tório de risco implementado no trânsito pelos condições de trabalho, e não das características
motociclistas profissionais constitui o último estritamente biológicas dos indivíduos. O so-
recurso da categoria, não como um procedi- frimento dos trabalhadores nem sempre é visí-
mento de rotina, mas como forma de ação di- vel ou objetivo como insistem algumas aborda-
ante de circunstâncias especiais relacionadas à gens (Dejours et al., 1994). O efeito do trabalho
organização do trabalho. A adoção de procedi- sobre a saúde é muitas vezes silencioso e não
mentos que potencializam os riscos de aciden- apreendido pelo saber estritamente médico.
tes é reconhecida pela categoria como efeito da A abordagem proposta visa compreender o
organização do trabalho, e não uma necessida- que se passa no trabalho, sem se deixar captu-
de particular na busca de fortes emoções. Se as rar pela idéia de que o responsável é a tecnolo-
margens da organização do trabalho permitem, gia ou o progresso.
os motociclistas profissionais tentam cumprir A noção de condições de trabalho está no
os objetivos estabelecidos pelo setor sustentan- eixo da análise dos problemas de saúde rela-
do-se, como permitiu descrever a pesquisa rea- tados; ela designa as circunstâncias em que o
lizada, centrada na noção de atividade de tra- trabalhador mobiliza as suas capacidades pa-
balho, nas redes sociais solidárias, no planeja- ra obter os resultados almejados. Embora ain-
mento das rotas, no controle temporal das ta- da exista o mito do trabalho essencialmente in-
refas, nas negociações das demandas de serviço telectual, trabalhar nos ambientes fortemente
com chefias e clientes. tecnologizados sob restrição temporal só é pos-
sível congelando o corpo, inibindo alguns dos
seus movimentos e hipersolicitando a repeti-
Os pressupostos para futuras ções de outros (Sznelwar & Massetti, 2000). So-
investigações bre a individualização no trabalho automati-
zado, Carvalho (2002) sustenta que a atividade
As categorias – saúde e trabalho – se referem a realizada por meio das novas técnicas e sob as
fenômenos que, por sua natureza, são cambi- regras capitalistas de produção engendra efei-
antes. O uso do corpo no trabalho está associa- tos nos trabalhadores que são inéditos em sua
do a uma série de fenômenos de saúde, para os forma e na freqüência de sua ocorrência, tra-
quais ainda temos dado pouca visibilidade e zendo mudanças no modo pelo qual as pessoas
mínimas vias de transformação. Nos contornos se individualizam, isto é, se constituem como
da reestruturação produtiva, a desigualdade no alguém perante os outros.
interior dos processos de trabalho, imanente ao Os exemplos acima sobre a natureza do tra-
sistema capitalista, assume efeitos ainda não balho repetitivo permitem contestar a idéia
bem traduzidos, do seu modelo de flexibiliza- dominante no senso comum e, infelizmente,
ção, conforme discutido anteriormente. para as práticas em saúde e segurança ocupa-
Se as condições de trabalho hoje são sensi- cional, de que o trabalho repetitivo é aquele
velmente melhores que antigamente, numero- que mobiliza os membros do corpo humano,
sos problemas se colocam e, muitas vezes, de dispensando qualquer atividade mental. Nes-
maneira aguda. Muitas das questões levanta- sa concepção, trabalho repetitivo é sinônimo
das pertencem ao campo da ação preventiva, de trabalho automatizado, onde as tarefas são
outros da pesquisa, se quisermos, em um esfor- realizadas sem qualquer mobilização da inteli-
ço de análise, dissociá-las. Mas o campo da saú- gência.
de do trabalhador se distancia da postura que O problema deste engano teórico, por as-
favorece o acúmulo de conhecimentos já ad- sim dizer, é que dele derivam ações preventi-
quiridos sem avançar nas ações práticas. A ini- vas e práticas que desconsideram o esforço hu-
ciativa é de investigar objetos inexplorados ou mano para driblar o paradoxo oriundo da con-
aqueles que permanecem em suspenso, como cepção de tarefas repetitivas (Teiger & Laville,
são exemplos os casos apresentados acima. 1972). A hipótese de nossas pesquisas é a de que
1014

todo trabalho, mesmo o que solicita gestos re- poucos, constroem a sua história e a identidade
petitivos, só é possível graças à capacidade dos social (Assunção, 1998).
trabalhadores de constituir problemas, anteci- Em suma, para os trabalhadores, a constru-
pá-los e tomar decisões em tempo real, inclusi- ção da saúde é a mobilização consciente ou não
ve durante a realização de tarefas de curta du- das potencialidades de adaptação do ser hu-
ração que se repetem na unidade temporal. mano, permitindo-lhe interagir com o meio de
Em suma, os resultados das pesquisas ao trabalho, lutando contra o sofrimento, contra a
identificarem o paradoxo entre gesto repetiti- morte, as deficiências, as doenças e a tristeza.
vo e exigência de atenção no interior de um O homem se distingue nitidamente do fun-
curto ciclo de trabalho podem contribuir para cionamento dos sistemas técnicos com os quais
a compreensão das queixas de saúde entre os ele se defronta, pois é um organismo vivo, per-
grupos expostos (Assunção, 2002). petuamente em desenvolvimento. Isso quer di-
Procura-se construir uma abordagem ca- zer que ele varia constantemente no tempo, que
paz, como sugere Morin (1995): “de reconhe- aprende e é marcado permanentemente pelas
cer o singular, o individual, o concreto”, pois, situações vivenciadas, que ajusta sua atividade
na contemporaneidade, o desafio para a ação a situações diferentes, dentro de certos limites,
visando à melhoria das condições de traba- ligadas às próprias regras de funcionamento
lho pressupõe questionar a evolução do siste- biológico, fisiológico, perceptivo e mental.
ma produtivo, tentando compreender as lógi- Toda atividade predominantemente física
cas que originam a precarização do trabalho, a ou predominantemente mental exercida pelo
fim de desvelar as implicações profundas para homem tem repercussões sobre o seu estado
aqueles que sofrem as conseqüências dessas ló- funcional, o que implica um custo psicofisio-
gicas (Doniol-Shaw, 1993-94). lógico do trabalho, que pode se manifestar de
No espaço de trabalho, as exigências são maneiras diversas a curto e a médio prazo: mu-
contraditórias, mas os trabalhadores constro- danças do modo operatório, fadiga, doenças,
em uma prática para contorná-las, que só é efi- acidentes (Daniellou et al., 1989; Abrahão,
caz, porque é rica em conhecimentos. São os 2002).
conhecimentos que permitem responder aos Por outro lado, a variabilidade interindivi-
imprevistos no desenvolvimento, implantação dual é grande: o custo psicofisiológico, as mo-
e manutenção dos sistemas, e ainda gerir os ris- dalidades de execução deste trabalho são dife-
cos para a saúde. rentes de um trabalhador para outro, e um mes-
Os gestores do capital são cônscios da im- mo indivíduo não as cumpre sempre da mes-
portância do saber, mas não o valorizam; ao ma maneira. Alguns encontram saídas para evi-
contrário, adotam técnicas que infantilizam os tar o sofrimento e o adoecimento e protegem o
funcionários, não reconhecem o investimento seu tempo extralaboral, não levando para casa
pessoal para compensar a ausência da ferra- as marcas do trabalho, como foi citado no caso
menta adequada e os tempos exíguos para tra- das professoras do ensino fundamental. Os fa-
tar as necessidades dos clientes, como visto no tores constitucionais, como sexo, idade, origem
caso dos teleatendentes. geográfica; os fatores ambientais, como forma-
A relação saúde e trabalho não diz respeito ção, aprendizagem, nutrição, tradições socio-
apenas ao adoecimento, aos acidentes e ao so- culturais; e os fatores limitantes, por exemplo,
frimento. Para os trabalhadores, a saúde é cons- a senescência, deficiências e hábitos alimenta-
truída no trabalho. Em primeiro lugar, porque res irregulares, interferem na maneira de fazer
ao conseguir os resultados desejados pela hie- o trabalho e de reagir aos agentes agressores. O
rarquia, sem contar com as condições ideais, e indivíduo-padrão não existe e, tampouco, a ta-
ao dar conta das demandas complexas, inusita- refa-padrão da organização científica do traba-
das e não previstas, os trabalhadores reafirmam lho (Wisner & Marcelin, 1971).
a sua auto-estima, desenvolvem as suas habili- Um dos aspectos que ajudam a explicar a
dades, expressam as suas emoções, como no ca- variabilidade da exposição aos fatores de ris-
so estudado do banco de leite humano. co conhecidos é a diferença entre o trabalho
Em segundo lugar, o trabalho é uma via pa- prescrito e o trabalho real, e o fato de a ativida-
ra desenvolver a personalidade. Relacionan- de se realizar sempre em contextos específicos.
do-se com o outro por meio do material a ser Apesar da tentativa de se controlar todos os fa-
transformado, torna-se possível constituir os tores intervenientes na produção, sempre ocor-
coletivos de trabalho, e os trabalhadores, aos rem incidentes e variações que mudam a situa-
1015

ção de trabalho: a matéria-prima não é forne- As condições em que a atividade de traba-


cida a tempo ou na qualidade desejada; as fer- lho é desenvolvida constituem a unidade de
ramentas se desgastam, as máquinas se desre- análise da abordagem proposta, pois exprimem
gulam ou quebram; colegas faltam ou entram de modo determinado a sociedade de que faz
novatos na equipe; os modelos de produtos se parte, ou seja, é uma expressão histórica de uma
modificam; etc. sociedade determinada, pois os seus atores di-
Mesmo se todos esses parâmetros fossem retos são inseridos no ambiente de trabalho de
controlados e mantidos dentro de margens de forma desigual: desigualdade de acesso às in-
segurança aceitáveis, ainda assim haveria algo formações, impossibilidade de escolher a boa
que sempre muda, o próprio trabalhador: hoje ferramenta, limitações na mobilização do cole-
está mais cansado do que ontem, não dormiu ga quando precisar, participação negada na di-
direito, está preocupado com a falta de dinhei- visão dos ganhos.
ro, neste ano está mais velho do que no ano an- A maneira de se organizar um trabalho é
terior, mas também mais experiente, aprendeu um fator social determinado e determinante
como fazer essa montagem que era considera- de uma lógica social. As condições de trabalho
da difícil, desenvolveu mais uma habilidade etc. portam, então, as marcas de uma relação de
(Lima, 2001). Como afirma o autor, longe de forças e dos valores da sociedade em que elas
ser um conjunto de regras conhecidas de ante- são geradas. Na atualidade, as relações de tra-
mão, a atividade é um conjunto de regulações balho são realizadas como relação entre um su-
contextualizadas, no qual tomam parte tanto a perior que naturalmente manda, e um inferior,
variabilidade do ambiente quanto a variabili- que por ser trabalhador e depender de um sa-
dade própria ao trabalhador. Por isso, para se lário, naturalmente obedece. No espaço de tra-
entender o que é o trabalho de uma pessoa, é balho as diferenças biológicas, afetivas, cogniti-
necessário observar e analisar o desenrolar de vas, culturais e as assimetrias delas resultantes
sua atividade em situações reais, em seu con- são transformadas em desigualdades que refor-
texto, procurando identificar tudo o que muda çam a relação mando-obediência. Nesse espa-
e faz o trabalhador tomar micro-decisões a fim ço, o outro jamais é reconhecido como sujeito
de resolver os pequenos mas recorrentes pro- nem como sujeito de direitos, jamais é reconhe-
blemas do cotidiano da produção. cido como subjetividade nem como alteridade
Nos ambientes de trabalho, as circunstân- (Chauí, 2001).
cias em que o trabalhador se encontra para ope- As condições de trabalho revelam essa ló-
rar são incoerentes com os objetivos de qua- gica social, pois são incompatíveis com as ne-
lidade da produção e incompatíveis com suas cessidades e as diferenças entre os indivíduos.
características e necessidades humanas para re- No exemplo das empresas de teleatendimento,
alizar tarefas. a hierarquia despreza a necessidade humana de
Existe uma idéia corrente de que as condi- umidificar as cordas vocais num ambiente on-
ções de trabalho tal como elas se encontram são de a voz é meio (Vilela & Assunção, 2002).
inevitáveis. É a mesma ideologia neoliberal da
inevitabilidade dos problemas sociais, vistos
como “os custos do progresso”. Os empregado- Os futuros desenhos investigatórios
res se sentem “feridos” quando as pesquisas ou
os relatórios dos agentes de inspeção do Mi- Tradicionalmente os efeitos sobre a saúde são
nistério do Trabalho ou os inquéritos do Mi- estudados isoladamente pelas disciplinas que
nistério Público evidenciam a origem do sofri- conformam o campo saúde e trabalho. Contudo
mento dos trabalhadores, suas doenças e suas a compreensão de vários dos fenômenos iden-
frustrações por não poderem desenvolver o seu tificados necessita de abordagens construídas à
trabalho e a sua inteligência como desejariam luz da interseção teórica entre as áreas do co-
(Silva, 2003). nhecimento que tratam da saúde e do trabalho.
É forte a ideologia da inevitabilidade das O limite tênue entre certas áreas do conhe-
condições reais de trabalho. Ela se expressa pe- cimento deve ser considerado, levando em con-
lo comportamento que considera a tecnologia ta a possibilidade de permitir abordagens mais
imutável e, portanto, acaba caindo numa prá- complexas que, por isso mesmo, podem me-
tica que encara como inevitáveis as más condi- lhor responder às exigências da realidade ime-
ções de trabalho, pois elas são derivadas de uma diata. A tentativa de se desenvolver uma abor-
tecnologia inexorável. dagem interdisciplinar para estudar um assun-
1016

to de significativa relevância social sempre es- trata de profissionais já impregnados de pre-


teve presente na história da ciência ocidental, conceitos ideológicos, com formações e experi-
sobretudo no que se refere à busca de compre- ências que tendem a afastá-los do mundo do
ensão de fenômenos sociais que atingem gran- trabalho e a contrapô-los socialmente aos tra-
des contingentes populacionais. A confluên- balhadores, como é o caso de alguns engenhei-
cia entre a medicina, a sociologia, a psicologia, ros de segurança e os médicos do trabalho. A
a economia, entre outras, tem sido vital para a mudança de perspectiva deve ser construída,
melhoria das condições de manutenção e re- segundo o autor, superando obstáculos arrai-
produção da vida. gados no senso comum e nas visões de mundo
O movimento social carece de fôlego para hegemônicas.
o enfrentamento ideológico necessário e solici- A etnografia moderna nasce também dessa
ta peças científicas que viabilizem um debate mudança de perspectiva, quando deixa de en-
sobre a saúde no trabalho, o qual se contrapo- quadrar outros povos e culturas nos padrões
nha ao modelo do homem-padrão inesgotável eurocêntricos.
para dar conta das condições inevitáveis fruto Trata-se de compreender a atividade por
de uma tecnologia imutável. O campo saúde e dentro, reconstituir a sua lógica em seu curso
trabalho se propõe a construir um conhecimen- próprio de ação. A ergonomia, ao buscar o sen-
to que respeite os seres humanos e as realida- tido do comportamento dos trabalhadores, per-
des com as quais eles se vêem confrontados, cri- mite o descentramento de perspectiva: colocar-
ticando o conhecimento mutilado. Coloca-se o se no lugar do outro, não mais como um princí-
desafio de, ao se contrapor ao ideário que justi- pio moral, mas baseado em observações objetivas
fica a desigualdade nos espaços de trabalho, ex- do sentido subjetivo e de explicitação de razões
plicitar os conhecimentos desenvolvidos pelos razoáveis e intercomunicáveis”(Lima, 2001).
trabalhadores que viabilizem uma alternativa À luz das demandas atuais, dos objetos ca-
de humanização do trabalho. da vez mais complexos de nossas pesquisas cu-
Os próximos anos exigirão a formulação au- jos resultados foram apresentados e da perti-
tônoma de um saber e de uma estratégia coleti- nência da elaboração de argumentos sofistica-
va para transformar a percepção dos riscos, hi- dos para gerar medidas preventivas, vislumbra-
persolicitação da voz, por exemplo, em ações se ultrapassar a árdua tarefa de propor um mo-
preventivas (Gonçalves, 2003; Guedes, 2003). delo de investigação para as relações saúde-tra-
As ações preventivas visam incorporar os pon- balho, convocando um debate sobre a aborda-
tos de vista dos trabalhadores no planejamento gem multidisciplinar ou, quem sabe, transdisci-
da prevenção, como seria o caso dos motociclis- plinar em nossa linha de pesquisa.
tas profissionais a fim de fazer valer os critérios É possível tratar o complexo objeto saúde e
das pessoas na identificação das situações noci- trabalho por meio de uma abordagem trans-
vas e na construção das pistas de transforma- disciplinar? Responder a essa pergunta afir-
ção (Diniz, 2002). mativamente seria precoce, pois ainda não foi
Na investigação das relações saúde-traba- estabelecido um terreno comum de conceitos
lho em situações reais de trabalho, propõe-se fundamentais compartilhados entre as disci-
evidenciar os sentidos latentes e a pluralidade plinas e seria pouco maduro requerer delas a li-
de sentidos: ver o mundo dos trabalhadores berdade, a coragem e o risco de se trabalhar sem
por seus próprios olhos, parafraseando o lema objetivos predeterminados, como é o caso de
fundamental da moderna etnografia. Lima um estudo transdisciplinar. No entanto, os re-
(2001) enfatiza que aprender a ver o mundo do sultados já obtidos abrem a perspectiva de sair
trabalho pelos olhos dos trabalhadores não é do campo tradicional dos estudos das relações
uma atitude espontânea, sobretudo quando de saúde e trabalho.
1017

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