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SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SP - OUTUBRO DE 2006

Revista comemorativa da ASD - Distribuição gratuita - Proibida a venda


De Welson
por Lucas

REVISTA DA ASD
SISTEMAS DE DEFESA

Ministério da Defesa
Comando da Aeronáutica
Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial
Instituto de Aeronáutica e Espaço
Divisão de Sistemas de Defesa
CTA - IAE - ASD
Pça Mal. Eduardo Gomes nº 50
CEP 12228-904 - Vila das Acácias
São José dos Campos - SP
www.iae.cta.br
Redação e Distribuição: ASD
Editoração,
Arte e Diagramação: Lucas e Renato
Fotos: Dimas, Angelo, Thales e João Batista
Revisão: Elias P. Toledo - ACS-CTA
Impressão e Fotolito: JAC-Gráfica e Editora

Tiragem: 2.000 exemplares


Circulação dirigida
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

REVISTA DA ASD SISTEMAS DE DEFESA


ASD

EDITORIAL 3

C ompletar trinta anos significa atingir uma fase de


maturidade responsável sem, entretanto, abandonar a
inquietude investigativa da juventude. Significa acrescentar
doses de experiência aos fatos presentes, porém com uma
grande perspectiva de futuro. ................................
A Divisão de Sistemas de Defesa (ASD), do Instituto de
Aeronáutica e Espaço - IAE tem uma história rica, marcada
por desafios técnicos e uma interminável vontade de
proporcionar à Força Aérea Brasileira (FAB) os melhores
serviços e produtos de Defesa...........................................
Criada com a finalidade de nacionalizar armamentos de
aviação, que em sua maior parte eram importados, a então
Divisão de Sistemas Bélicos cumpre um papel importante na
afirmação da soberania nacional.....................................
Pesquisar e desenvolver projetos de sistemas de Defesa,
compartilhando desenvolvimento e fabricação com a
Indústria Brasileira é uma forma de fomento e incentivo ao
progresso tecnológico brasileiro.................................. As dificuldades e as conquistas durante o projeto de
Ao longo destas páginas, esses trinta anos de história são construção do primeiro míssil brasileiro são relacionadas
retratados, de maneira a resgatar os projetos e atividades em um interessante artigo, enquanto que pesquisas e
desenvolvidos pela Divisão. ........................................ desenvolvimentos de novos explosivos também são
Assim, eventos importantes que marcaram a história do descritos nesta edição........................................................
desenvolvimento de armamentos nacionais na FAB são Em uma edição histórica, não poderiam faltar
relatados a seguir, com artigos, comentários e fotos, de comentários sobre campanhas de ensaios dos
maneira a registrar esses profícuos anos................................ armamentos desenvolvidos, realizadas principalmente no
Esta edição conta com relatos do Comandante-Geral de Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, em Natal, e
Tecnologia Aeroespacial e do Diretor do Instituto de no Campo de Provas Brigadeiro Velloso, na Serra do
Aeronáutica e Espaço, bem como do Reitor do Instituto Cachimbo no sul do Pará..................................................
Tecnológico de Aeronáutica, que descrevem os aspectos Além dos projetos criados ao longo dos últimos trinta
fundamentais para a capacitação e formação em temas de anos, esta edição traz um artigo no qual as tendências
Defesa. ....................................................................... futuras em projetos bélicos são apontadas e,
Em relação à formação de especialistas de Armamento conseqüentemente, as capacitações essenciais que
Aéreo, há um artigo sobre o Curso de Extensão em deverão ser trilhadas, de modo que a ASD continue a
Engenharia de Armamento Aéreo, especialização lato sensu, responder à altura das necessidades da FAB.
que desde 1977 vem contribuindo para o aperfeiçoamento de Enfim, trinta anos é um intervalo de tempo suficiente
profissionais que labutam na área de desenvolvimento de para se obter experiência em projetos complexos, porém
sistemas bélicos para o Comando da Aeronáutica. com a consciência de que muito há por fazer, com
conhecimentos e tecnologias novas.....................................
Parabéns a todos os servidores civis e militares, que
com sua dedicação contribuíram para essa significante
fase da história da Divisão de Sistemas de Defesa................

Boa leitura a todos!

Marcelo Franchitto Maj Av


é Chefe da ASD

REVISTA DA ASD SISTEMAS DE DEFESA


ASD

ÍNDICE

SISTEMAS DE DEFESA

5 História de soberania
“ Com a criação do então Ministério da Aeronaútica, em 1941, ...”

8 Defesa um ato soberano


“ A soberania pressupõe o desenvolvimento econômico e social ...”

9 O que diz o Diretor do IAE


...Criada há 30 anos com o intuito de nacionalizar armamentos (itens estratégicos), a ASD ...

10 Minhas impressões da ASD


“ Ao retornar ao CTA, em junho de 1977, após ter concluído meu doutoramento ...”

11 A Saga do MAA-1 - Tecnologia pura


“ O míssil MAA-1 é um míssil ar-ar de curto alcance, projetado para armar ...”

12 Desenvolvimento - Ciência em explosivos


“ A pesquisa e o desenvolvimento de explosivos no CTA tiveram início na década ...”

13 Forças e momentos - Aerodinâmica


“ O projeto aerodinâmico de artefatos bélicos na ASD é desenvolvido baseado em ...”

16 Cachimbo - “SELVA” - Missões


“ O Campo de Provas Brigadeiro Velloso (CPBV), localizado na Serra do Cachimbo, ...”

18 CLBI - Barreira do Inferno - Operações em Natal


“ ... Dependendo do tipo de engenho a ser testado, existem no Comando da Aeronáutica ...”

20 Curso de Extensão em Engenharia de Armamento Aéreo


“ O CEEAA vem adquirindo prestígio crescente no Brasil e exterior, com a participação ...”

21 Minha experiência na ASD


“ Fevereiro de 1982. Cruzo o portão do CTA em direção ao então Instituto de Atividades ...”

23 Galeria dos ex-chefes


Fotos dos oficiais que chefiaram a ASD

24 Carta a um Amigo
“ Há tempo que não conversamos. Espero que tudo esteja bem contigo. Contaram-me ...”

26 RH
Fotos de servidores e ex-servidores que ajudaram a fazer a história da ASD

REVISTA DA ASD SISTEMAS DE DEFESA


HISTÓRIA DE SOBERANIA 5

SISTEMAS DE DEFESA
Soluções Simples para Problemas Simples

C om a criação do então Ministério da Aeronáutica,


em.1941, acentuou-se a necessidade de armamentos para
.Em pouco tempo, ficou claro que as atividades na
Divisão não poderiam se restringir à cópia de
armamentos: o cenário operacional se modificou. O
emprego no ataque ao solo. Assim como quase todo o surgimento dos radares diretores de tiro trouxe mudanças
material empregado pela jovem FAB, os armamentos de significativas no emprego de armamentos de ataque ao
ataque ao solo eram importados. Estas importações solo. Técnicas como “balsing” e bombardeios à baixa
dependiam das políticas dos países fornecedores. Esta altura passaram a ser essenciais, e armamentos com
situação começou a mudar, em 1976, com a criação da características diferentes eram necessários......................
Divisão de Sistemas de Defesa (antiga ESB), quando se Nessa época, os repetidos sucessos da Divisão de
iniciou o processo de nacionalização de itens bélicos. A Sistemas de Defesa nos projetos de nacionalização de
decisão resultou significantes benefícios, destacando-se a armamentos já tinham lhe valido posição de destaque no
geração de novos empregos, aumento da capacitação da cenário nacional. A confiança na capacitação
indústria nacional e autonomia para pesquisar, possibilitou que toda uma geração de armamentos fosse
desenvolver, ensaiar e avaliar produtos de defesa, de especificada e desenvolvida para atender as
acordo com as políticas brasileiras..................................... necessidades brasileiras. Foram então desenvolvidas
A Divisão de Sistemas de Defesa foi concebida, bombas de alto arrasto, lança-granadas e antipista. Com
inicialmente, para atingir um objetivo simples e bastante tecnologia inteiramente nacional e fabricadas no país,
claro: reduzir a dependência nacional do armamento esses produtos garantiram a independência do Brasil em
aéreo importado. Dois projetos foram criados de armamentos de ataque ao solo por toda uma geração
imediato: nacionalização das bombas de fins gerais e tecnológica.
desenvolvimento de um míssil similar ao AIM9-B, em
uso pelo COMAER..........................................................
Esta diretriz clara foi a base para uma era de frenética
atividade, iniciando-se pela nacionalização das bombas
de fins gerais, foguetes de 70 mm de diâmetro e bombas
incendiárias. Simultaneamente, foram realizados os
primeiros estudos para o futuro míssil nacional MAA-1,
então conhecido como Piranha.........................................
.. Os tempos dos pioneiros foram árduos, e a
nacionalização não pôde ser resumida à simples cópia: os
processos de fabricação utilizados no exterior não eram
adequados para uma produção em pequena escala no
Brasil. ...................................................... ...........
Novas tecnologias tiveram que ser desenvolvidas, e
ficou patente a necessidade de capacitação de recursos
humanos, quando então criou-se, em 1977, no Instituto Ensaio de impacto contra alvo fixo em bitrilho da bomba antipista (BAPI)
Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o Curso de Extensão
em Engenharia de Armamento Aéreo (CEEAA). Infelizmente, o cenário político e econômico nem
Ministrado junto com a Divisão de Sistemas de Defesa, o sempre foi favorável. Como todas as instituições de
CEEAA resultou em uma parceria ideal para ensino e pesquisa e desenvolvimento do país, a Divisão de
pesquisa, já tendo formado em seus quase 30 anos de Sistemas de Defesa passou por uma fase muito difícil,
existência, 100 especialistas no projeto, desenvolvimento entre o final da década de 1980 e o mesmo período da
e ensaios de itens bélicos, de acordo com os interesses do década de 1990. A escassez de recursos financeiros, os
Comando. Muitos destes especialistas foram enviados entraves administrativos e a incapacidade de atrair
para missões de aperfeiçoamento em centros de pesquisa recursos humanos em número suficiente deixaram
de ponta, como a Naval Postgraduate School nos EUA. conseqüências graves. Entre as mais graves, pode-se
mencionar a paralisação do projeto MAA-1 e o
alongamento do prazo de outros projetos, como a bomba
antipista (BAPI). Otimizando os recursos existentes, a
Divisão de Sistemas de Defesa transferiu tecnologias para
a indústria nacional, trabalhando para manter ativos os
projetos prioritários e a capacitação do seu quadro técnico.
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ASD

A Encruzilhada: Definindo o Futuro

Olhando para o passado da Divisão de Sistemas de


Defesa, é possível identificar quatro fases distintas:
Nacionalização de itens bélicos...................
Desenvolvimento de armamentos voltados
para as necessidades nacionais...............................
Capacitação em mísseis e transferência para
indústria privada.................................................
Retração de investimentos e desmobilização da
capacitação técnica.................................................

Simultaneamente, pode-se verificar que os teatros


operacionais também passaram por fases distintas: Ensaio de separação do míssil anti-radiação em túnel de vento
Lançamento a grande e média altura. Esta
técnica era predominante quando não .Esta evolução não é percebida somente do ponto de
havia grande risco de interceptação. vista operacional. Há diversas tecnologias empregadas em
Lançamento à baixa altura, motivado pelo módulos de guiamento para bombas antes restritas apenas a
aumento do risco de interceptação, e mísseis:................................................................................
utilização de radares diretores de tiro. Imageamento infra-vermelho........................................
Lançamento de precisão, inaugurado com o Guiamento por laser......................................................
aparecimento das bombas guiadas e Sistemas óticos de alta precisão.....................................
consagrado na Guerra do Golfo (1991). Atuadores elétricos e pneumáticos................................
Lançamento de precisão de médio alcance. A Aerodinâmica de altos ângulos de ataque......................
redução no custo dos mísseis de ombro Fusão de sensores..........................................................
(MANPADs) e dos mísseis de defesa de Sistemas inerciais..........................................................
ponto levou à necessidade de aumentar a Microeletrônica.............................................................
distância de lançamento, dando origem às Software de tempo real..................................................
bombas guiadas por GPS (JDAM), Guiamento por GPS/INS...............................................
amplamente utilizadas nos conflitos deste
milênio. A evolução dos teatros operacionais e dos armamentos
ar-solo exigem uma capacitação nova, tanto no COMAER
quanto na indústria nacional. O estudo de novas tecnologias
é fundamental para o desenvolvimento de produtos no País e
para a avaliação de armamentos importados. Fica claro,
portanto, que os paradigmas utilizados até o
desenvolvimento da BAPI não seriam adequados para o
projeto de novos armamentos inteligentes.
.. Novas capacitações seriam necessárias, mas não
suficientes. A complexidade dos novos armamentos exigiu
também uma nova filosofia, um novo modelo de
desenvolvimento. Era necessário encontrar um novo
modelo que reduzisse o risco de fracasso no
desenvolvimento, os custos e, sobretudo, os prazos.

Inspeção em míssil sidewinder


Skua - Alvo aéreo manobrável em vôo de decolagem
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HISTÓRIA DE SOBERANIA 7

Futuro

Novas técnicas de gestão de projetos, parcerias com


o setor privado e excelência técnica formam as bases
necessárias para o desenvolvimento dos novos projetos
de armamentos inteligentes. A estrutura organizacional
foi modificada, com a criação de assessorias, agilizando
e melhor distribuindo competências. Os projetos foram
agrupados em escritórios de projetos, melhorando a
sinergia entre os servidores e otimizando o uso de
recursos humanos e materiais. Parcerias com o setor
privado, tais como os contratos com a empresa sul-
africana Denel Aerospace para o desenvolvimento de
Míssil Python III em bancada de testes
míssil de quinta geração como o A-Darter, têm
aumentado a motivação dos que almejam trabalhar em
Renascimento tecnologia de ponta em armamento aéreo. A excelência
A Divisão de Sistemas de Defesa respondeu às técnica tem sido mantida, através de cursos internos e de
necessidades do COMAER, através de um novo cursos de pós-graduação no Instituto Tecnológico de
modelo de desenvolvimento. Este modelo Aeronáutica (ITA), em nível de mestrado e doutorado,
precisava tornar a Divisão flexível, ágil e realizados em tempo parcial e devidamente alinhados
tecnicamente capacitada. Isto foi possível através com os projetos em desenvolvimento na Divisão de
um conjunto de medidas:.................................... Sistemas de Defesa.........................................................
Capacitação técnica prévia............................. Visando atender os desafios tecnológicos sempre
Competência administrativa.......................... crescentes na área de defesa, foi criado o Programa de
Gestão do escopo dos projetos.................. Pós-Graduação em Aplicações Operacionais (PPGAO),
Emprego de ferramentas modernas de projeto no ITA, com quatro áreas de concentração, destacando-
Reutilização de produtos já desenvolvidos... se a de Armamento Aéreo. O PPGAO veio
Desenvolvimento em conjunto com a indústria complementar a capacitação já obtida no CEEAA. .........
n acional ............................................. Agregados a isto, não podemos deixar de mencionar
Essas diretrizes têm sido empregadas em todos os os esforços que vêm sendo empreendidos na aquisição
projetos, com excelentes resultados na manutenção de modernos softwares e na capacitação técnica, tais
dosprazos e dos riscos. Entre os projetos em como o software Inventor, MATLAB, Simulink, Visual
desenvolvimento, atualmente, pela Divisão, Basic, entre outros. Tais ferramentas reduzem a
encontram-se: ............................................... probabilidade de erros de projeto, auxiliam na análise de
Bomba de Penetração (BPEN).................... resultados intermediários e permitem comparar
Trocano............................................................ alternativas, auxiliando na especificação de itens,
Sistema de Guiamento por GPS.............. maximizando resultados positivos, reduzindo o tempo
..Esses projetos mostram claras mudanças em de desenvolvimento de modelos matemáticos e, ainda,
relação aos anteriormente desenvolvidos na permitindo a transferência padronizada de dados para a
Divisão. Os dois primeiros são armamentos que já indústria.........................................................................
foram concebidos para receber modernização na Christian Giorgio Roberto Taranti Cap Eng 
forma de módulos de guiamento, permitindo o é doutor em ciência e gerente de projeto
aumento do alcance e precisão. Esses módulos de Diogo Câmara Pereira Cap Eng
guiamento empregarão a tecnologia desenvolvida é mestre em ciência e coordenador do CEEAA no IAE

no projeto Estudo de Guiamento por GPS,


e possibilitarão alcance maior que 20 km e precisão
melhor que 30 m.

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ASD
DEFESA: UM ATO SOBERANO 8

Há trinta anos, um grupo de pioneiros, engenheiros


e técnicos, iniciou uma brilhante história de
desenvolvimento de armamento aéreo com tecnologia
nacional. Entenda-se aqui, o aprendizado da
engenharia reversa, ou seja, o entendimento de
sistemas complexos, a sua reprodução e o seu
aprimoramento. Assim, a Divisão de Sistemas de
Defesa - ASD (então Divisão de Sistemas Bélicos)
colaborou com o braço operacional da Aeronáutica,
através de projetos de bombas de fins gerais (série
BA-FG, similares à família americana MK) e mísseis
ar-ar (MAA-1A, cujo benchmarking foi o Sidewinder
AIM-9B)......................................
Segundo a Política de Defesa Nacional, os avanços
da tecnologia da informação, a utilização de satélites e
inúmeros outros aperfeiçoamentos tecnológicos
trouxeram maior eficiência aos sistemas
Arr R
Brig A RO LLA
OLLA
administrativos e militares, sobretudo nos países que
TTeen Brig

dedicam maiores recursos financeiros à Defesa. Em


conseqüência, criaram-se vulnerabilidades que
poderão ser exploradas, com o objetivo de inviabilizar
o uso de sistemas ou facilitar a interferência à
distância.........................................................................
.. A criatividade do ser humano é instigada por
desafios. Portanto, a inovação incremental,
compassada e determinada é vital para o ciclo de
A soberania pressupõe o desenvolvimento
econômico e social e, por isso mesmo, implica
desenvolvimento e produtividade do país.
Dessa forma, produtos desenvolvidos e
atenção prioritária à educação e à busca do homologados são contratados junto às empresas
conhecimento. Parece claro inexistir qualquer brasileiras do setor de Defesa, fomentando a atividade
possibilidade de implementação de uma política industrial, gerando empregos e capacitação em
de proteção e defesa eficaz sem uma forte base em empresas privadas. Completa-se, assim, o ciclo
ciência e tecnologia. A produção e a difusão do virtuoso, ou seja, a demanda por produtos de Defesa, o
conhecimento constituem, cada vez mais, fonte de desenvolvimento e a produção, beneficiando o setor
poder e, por conseqüência, fator-chave na empresarial com tecnologias duais, que, portanto,
hierarquia das nações.................... podem ser aplicadas também em produtos de uso civil.
A Defesa Nacional pode ser definida como o Nesta primeira década do século XXI, a Força
conjunto de ações e medidas do Estado, com Aérea Brasileira (FAB) encontra-se em processo de
ênfase na expressão militar, para a defesa do reaparelhamento, dessa forma, a demanda por
território, da soberania e dos interesses nacionais serviços especializados dos profissionais
contra ameaças preponderantemente externas, competentes da Divisão de Sistemas de Defesa tende a
potenciais ou manifestas. aumentar........................................................................
. Assim, parabenizo os servidores civis e
militares da ASD - os atuais e aqueles que passaram
pela Divisão - pelo excelente trabalho desenvolvido
em benefício da FAB.

Ten Brig Ar Carlos Alberto Pires Rolla


é Comandante-Geral de Tecnologia Aeroespacial

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O QUE DIZ O DIRETOR DO IAE 9

O Instituto de Aeronáutica e Espaço - IAE tem


como missão ampliar o conhecimento e desenvolver
soluções científico-tecnológicas para fortalecer o
Poder Aeroespacial, por meio da pesquisa,
desenvolvimento, inovação, operações de
lançamento de veículos aeroespaciais, operações de
testes de novos sistemas de defesa e serviços
tecnológicos especializados no setor aeroespacial.
Nos últimos anos, o instituto tem passado por
mudanças significativas. Com a transferência do
DEPED (Departamento de Pesquisas e
Desenvolvimento) para São José dos Campos e a sua
absorção pelo Comando-Geral de Tecnologia
Aeroespacial CTA, o IAE se tornou uma Unidade
Gestora Responsável ou seja, uma organização
independente.
Paralelamente, várias iniciativas foram efetivadas Criada há 30 anos com o intuito de nacionalizar
para aprimorar o sistema de gestão, entre elas, a armamentos (itens estratégicos), a ASD tem
implantação da Norma 15100 (Sistema da Qualidade colaborado na luta incessante da independência
Aeroespacial), a elaboração do Plano Diretor de tecnológica e soberania nacional em artefatos de
Gestão do Instituto e a ativação do Escritório de Defesa.
Projetos. Possuidora de uma história de sucessos, a ASD
Nesse sentido, a Divisão de Sistemas de Defesa tem suplantado inúmeros desafios para atender a
ASD tem desempenhado um papel fundamental, pois demanda cada vez maior do setor operacional da
é o setor do Instituto responsável pelo atendimento FAB, com condições de contorno nem sempre
das necessidades operacionais da Força Aérea adequadas em relação aos recursos humanos e
Brasileira (FAB), no que tange ao desenvolvimento, financeiros.
avaliação e ensaio de armamento aéreo. Com habilidade, criatividade e capacidade
técnica, a Divisão de Sistemas de Defesa tem mantido
vivo o ideal dos seus pioneiros, pesquisando,
desenvolvendo, ensaiando e avaliando itens bélicos
de interesse do Estado-Maior da Aeronáutica
(EMAER).
IAE Dessa forma, parabenizo os servidores civis e
militares da ASD por esses 30 anos de glória!

Wander Almodovar Golfetto Cel Av


é diretor do IAE

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ASD
MINHAS IMPRESSÕES DA ASD 10

A Divisão de Sistemas Bélicos, que, após algumas


transformações, tem hoje a designação da Divisão de
Sistemas de Defesa (ASD), completa 30 anos de
existência. Por lá passaram chefes como o Ten Brig
Velloso e o Maj Brig Ribeiro, que fizeram parte da 1ª
turma do CEEAA. ..................................................
Projetos de grande relevância para a Força Aérea
e importantes para o nascimento e consolidação da
indústria nacional de armamento, como as bombas BA-
FG e BLG, os foguetes SBAT, o míssil MAR-1, Piranha,
e tantos outros, são testemunhos da contribuição da

A o retornar ao CTA, em junho de 1977, após ter


concluído meu doutoramento na “Purdue University”, nos
Divisão de Sistemas Defesa................................................
A visão do Brig Marconi e o esforço e a
competência dos pioneiros que passaram pela Divisão de
EUA, encontrei, no antigo Instituto de Atividades
Sistemas Bélicos (ESB), hoje Divisão de Sistemas de
Espaciais, duas Divisões recém-criadas e dividindo o
Defesa (ASD), são inquestionáveis e a indústria de material
mesmo espaço físico: a Divisão de Estudos Avançados, para
aeronáutico de defesa do País é atualmente uma realidade.
a qual fui designado, e a Divisão de Sistemas Bélicos, criada
De qualquer forma, saúdo a todos que
em 28 de outubro de 1976, sob a liderança do então Maj Av
contribuíram e contribuem para a realização do sonho
José Marconi de Almeida Santos, seu primeiro Chefe.
dos pioneiros, liderados pelo, hoje, Ten Brig Ar R1 José
O Maj Marconi, engenheiro mecânico e de armamento
Marconi de Almeida Santos, de tornar a Força Aérea, e
formado pelo Instituto Militar de Engenharia (IME),
por que não dizer o País, dono de seu próprio destino no
defensor intransigente do envolvimento da Aeronáutica em
que concerne a armamento aéreo.
projeto e desenvolvimento dos sistemas de armas utilizados
pela Força Aérea, foi o mentor, no ano seguinte ao da criação
Reginaldo dos Santos Dr
da Divisão que chefiava, do Curso de Extensão em é Reitor do ITA e Ten Brig Ar R1

Engenharia de Armamento Aéreo (CEEAA), que teve como

ITA
objetivo principal, além de especializar seus próprios
engenheiros, criar e difundir na Força Aérea a mentalidade
de independência do exterior no que diz respeito a
armamento aéreo.

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TECNOLOGIA PURA 11

“A SAGA DO MAA-1”
O Míssil MAA-1 é um míssil ar-ar de curto alcance,
projetado para armar as aeronaves de combate da Força Aérea LAU
RON
EY
97

Brasileira (FAB). Assim como o projeto do mais famoso míssil


americano, o Sidewinder, retratado com impressionante
fidelidade no livro “Creative Missile Development at China
Lake” por Ron Westrum, o míssil MAA-1 passou por muitas
dificuldades e só teve sucesso devido à persistência e
competência de brasileiros do CTA e da indústria de São José
dos Campos, também criada por engenheiros formados no ITA.
O projeto, assim como a ASD, começou há 30 anos, em julho .. Os “Projetos Paralelos” (“GFE-GFF”), com a
de 1976, inicialmente em conjunto com o Exército e a Marinha. coordenação da ASD e usando recursos de todo o IAE,
Até 1982, apenas o CTA trabalhou no projeto. Durante esse forneceram os meios que nenhuma empresa no país
primeiro período, somente em 1979 houve alocação de recursos poderia proporcionar tais como, aeronave
financeiros, muito bem aproveitados num convênio de portadora/lançadora, aeronave paquera, Centro de
cooperação com a British Aerospace para definição do nosso Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI) e CATRE,
míssil: engenheiros do CTA foram à Inglaterra e engenheiros ensaios em vôo, centrífuga, câmara climática,
ingleses vieram ao Brasil. É dessa época a escolha do detector laboratórios hidrostático e de ensaios estruturais, dentre
infravermelho do autodiretor do míssil, a definição das outros.......................................................................................
dimensões do míssil, da posição da espoleta e da cabeça-de- Em 1986, o projeto passou para a empresa Engemíssil
guerra, etc. Essas e muitas outras soluções estão presentes no (criada por parceria entre a Embraer e a Engesa) e, em
míssil até hoje Em 1981 e 1982, como conseqüência da pujança 1987, para a empresa Órbita, uma continuação da Engemíssil.
das nossas indústrias locais e com o baixo salário do funcionalismo Os recursos financeiros solicitados pela empresa para
público, o CTA perdeu muitos engenheiros do projeto. a conclusão do projeto eram muito elevados, e a FAB
A saída escolhida para manter vivo o projeto era única: passar decidiu interromper as negociações. O projeto ficou
trabalho, ainda inacabado, para a indústria, a qual contrataria esses parado entre outubro de 1987 a dezembro de 1993. Em
engenheiros recém-saídos do CTA. Desse modo, em dezembro de dezembro de 1993, foi assinado um contrato com a
1982, o projeto passou para a indústria, tendo sido escolhida a Mectron, por um sexto do custo anteriormente oferecido,
e m p r e s a D F Vas c o n c e l o s , d e S ã o P a u l o . . . . . . . . . . . . . . . . em 1987. Após um ano e meio de retomada do projeto,
A DFV, como era conhecida, criou a DFV-Míssil, em São José começaram os ensaios em vôo, em julho de 1995. Num
dos Campos. As responsabilidades técnicas do CTA/IAE/ASD período de um ano e onze meses, foram realizadas seis
continuaram em duas grandes áreas: no GAC-MAA-1 e nos operações de lançamento, culminando com a homologação do
“Projetos Paralelos”. O GAC-MAA-1, Grupo de míssil...............................................................................
acompanhamento do Projeto MAA-1 na indústria, manteve uma ...A ASD foi a grande guardiã do projeto. Com o
equipe de cerca de 10 funcionários da ASD, profissionais das GAC - MAA-1 e os “Projetos Paralelos”, os profissionais da
várias áreas de engenharia, fiscalizando diariamente a indústria, ASD deram o apoio à indústria, desde o planejamento e a fiel
com a finalidade de manter os requisitos do projeto, execução dos Planos de Operação, em Natal, com todas
estabelecidos pelo EMAER. as suas dificuldades previstas e imprevistas, até os ensaios
noturnos, enfrentando madrugadas geladas em São José dos
Campos.....................................................................................
O míssil MAA-1, nos dias de hoje, está em produção e
já foi lançado de AT-26, F-5, F-103, A-1 e AL-X, e a sua
versão B está a caminho. Assim como o Sidewinder, que
evoluiu passo a passo em suas versões (o AIM-9M teve
nove versões e hoje encontra-se na versão X), o nosso
míssil, que carrega um pedaço da história gloriosa da
ASD, também seguirá seu caminho de sucesso e nos
encherá de orgulho. Eu só tenho a agradecer a
oportunidade de ter trabalhado nesse projeto, pelo
significado que tem para a FAB e para o país e pelas
amizades cultivadas durante 17 anos de convivência com
profissionais competentes e de inusitado espírito de
equipe.

Paulo Roberto de Souza


Foi chefe da ASD, no período de1992 a 1998, e atualmente é gerente do
programa MAA-1 na Mectron

F5 Armado com o míssil MAA-1


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ASD

CIÊNCIA EM EXPLOSIVOS 12

DESENVOLVIMENTO
A pesquisa e o desenvolvimento de explosivos no CTA
tiveram início na década de 80, motivados pela necessidade da
nacionalização de explosivos de alto desempenho e baixa
vulnerabilidade. Para este propósito, foram implementados um
Laboratório Químico e uma Usina de Explosivos para
processos em escala piloto. No laboratório, são realizadas a b c d
análises de controle de matéria-prima e ensaios de
caracterização dos explosivos desenvolvidos.................
O explosivo HMX, também conhecido como octogênio, foi
inicialmente desenvolvido em escala laboratorial e depois
transferido para escala piloto. A obtenção do HMX envolve
dois processos distintos: a síntese, na qual é obtido α-HMX,
que é muito sensível ao choque e ao atrito; e a recristalização
para obtenção de β-HMX, forma menos sensível, em e f g h
tamanhos e formatos adequados à sua aplicação final.
Equipamentos da Subdivisão de Explosivos e Pirotécnicos:

a) Cromatógrafo líquido de alta pressão b) Bomba calorimétrica c) Balança termogravimétrica


d) Calorímetro DSC e) Blocos de estabilidade térmica a vácuo f) Equipamento para avaliação
da sensibilidade ao atrito g) Equipamento para avaliação da sensibilidade ao impacto h) Rea-
tor Microprocessado para síntese de explosivos

O explosivo prensado tem como vantagem o alto teor de


carga, mas só é adequado para configurações simples em
tamanhos pequenos, sendo mais utilizado para obtenção de
“boosters”. O processo de moldagem permite a conformação
em qualquer geometria e tamanho; por isso, é o aplicado no
carregamento de cabeças-de-guerra de bombas e mísseis.
A figura acima mostra alguns dos equipamentos utilizados
na pesquisa e desenvolvimento de explosivos e pirotécnicos.
Atualmente, a linha de pesquisa está orientada para o
desenvolvimento do processo de obtenção do explosivo HNS
para ser utilizado em iniciadores, pois, devido a sua alta
temperatura de decomposição, proporciona melhores
condições de segurança. ..............................................
O s desenvolvimentos futuros est ão vinculado s
Cristais de HMX ampliados em microscópio à pesquisa de novos explosivos, de baixa sensibilidade e alto
desempenho, para serem utilizados em munições insensíveis,
que são definidas como aquelas que cumprem os requisitos
O HMX pode ser utilizado puro em detonadores e estopins operacionais e de desempenho exigidos, com reduzida
detonantes ou como carga principal de cabeças-de-guerra de probabilidade de uma iniciação não-intencional.
bombas e mísseis na forma de composições, que podem ser à Na área acadêmica, alguns trabalhos foram realizados,
base de TNT (trinitrotolueno) fundido ou à base de ligantes contribuindo para uma atividade bastante restrita no cenário
poliméricos, conhecidos como explosivos plásticos ou nacional, quais sejam: .........................................
explosivos compósitos...............................
A composição de HMX e TNT é conhecida como octol, que,  Caracterização de compósitos altamente energéticos
embora sendo uma composição bastante energética, devido a por análise térmica Unicamp 1999....................................
defeitos inerentes ao processo e à baixa temperatura de fusão do  Síntese de HMX e avaliação da aplicabilidade de
TNT, vem sendo mundialmente substituída por composições técnica FTIR na sua caracterização e quantificação
explosivas de alto desempenho, com melhores condições de I TA 2 0 0 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
segurança e maior integridade estrutural.......................................
 Avaliação do efeito da granulometria sobre a transição
Acompanhando a tendência mundial, paralelamente aos
cristalina de β-HMX por calorimetria exploratória
desenvolvimentos dos processos de síntese e de recristalização
diferencial e microscopia eletrônica de varredura ITA 2002
do HMX, foi realizada a pesquisa e o desenvolvimento de
explosivos plásticos. Os explosivos plásticos consistem de  Decomposição térmica de explosivos ITA 2003.....................
explosivos cristalinos dispersos em ligantes poliméricos, cuja  Avaliação da energia de ativação e sensibilidade de
função é aglutinar e diminuir a sensibilidade do explosivo, e materiais altamente energéticos ITA 2004.
podem ser obtidos por meio de processos de moldagem ou
prensagem, dependendo do teor de explosivo.
Glaci Ferreira Martins Pinheiro
é doutora e coordenadora de processos químicos
REVISTA DA ASD SISTEMAS DE DEFESA
AERODINÂMICA 13

FORÇAS E MOMENTOS
O
..... ... projeto aerodinâmico de artefatos bélicos na
Divisão de Sistemas de Defesa (ASD), é desenvolvido
baseado em simulações numéricas e ensaios em túnel de
vento. O objetivo é obter as configurações geométricas que
condizem com os requisitos operacionais pre -
especificados. Desta forma, é possível estimar-se o
comportamento aerodinâmico do artefato em diversas
situações de vôo....................................... .........................
Atualmente, a ASD dispõe de ferramentas matemáticas
(Computational Fluid Dynamic - CFD), e de softwares
(MSC.NASTRAN® MSC.DYTRAN®) que permitem o
anteprojeto de um artefato bélico com toda a
complexidade inerente à sua geometria e condições de
escoamento. Obviamente que os experimentos não foram
descartados. Entretanto, a complexa interação entre o
campo de escoamento e o corpo do artefato, a
determinação teórica das cargas aerodinâmicas (forças e Fixação de bomba no mastro do túnel de vento
momentos), ainda hoje, é muitas vezes imprecisa. Apesar
do desenvolvimento da aerodinâmica computacional,
certas configurações exigem o uso do túnel de vento para a Após estudos do Comando da Aeronáutica (COMAER),
medição das cargas em condições próximas àquelas em tornou-se público que o Brasil e África do Sul
que o corpo será utilizado................................................ estavam envidando esforços no sentido de se estabelecer
Durante os anos de existência, a ASD nacionalizou uma colaboração no desenvolvimento de um míssil
armamentos e desenvolveu projetos, ar-ar, denominado A-Darter. Esse, míssil de 5a geração e de
em cooperação com o Instituto Tecnológico de guiagem infravermelha, está . sendo . desenvolvido . pela
Aeronáutica (ITA), através do Curso de Extensão em Denel Aerospace, empresa de defesa.estatal sul-africana em
Engenharia de Armamento Aéreo (CEEAA), cuja contratos governamentais de compra e desenvolvimento de
finalidade é capacitar engenheiros e formar um corpo de itens de defesa, a África do Sul gerencia através do órgão
especialistas em projetos de artefatos bélicos. Armaments Corporation of South África (ARMSCOR).
.. Nas últimas décadas, os artefatos projetados
passaram a ser homologados. No que se refere às
prioridades a alcançar, pode-se afirmar que, hoje, a
qualidade do serviço prestado, em termos de know-how e
de capacitação em recursos humanos, tem condições de
suprir satisfatoriamente as necessidades do setor aeroespacial
brasileiro.

Entre as equipes que participam deste desenvolvimento,


destaca-se o grupo de engenheiros da ASD, alocado nas
áreas : Aerodinâmica, Propulsão, Controle e Computação.
O resultado final que a Força Aérea Brasileira (FAB)
espera alcançar é a obtenção da total independência nacional,
no ciclo do desenvolvimento e da produção de mísseis ar-ar.

Maurício Guimarães da Silva


é doutor em engenharia mecânica e especialista
em aerodinâmica e propulsão
Túnel de Vento do IAE

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ASD
16

CACHIMBO - “SELVA”
O Campo de Provas Brigadeiro Velloso
(CPBV), localizado na Serra do
CPBV

Cachimbo, no sul do estado do Pará,


tem sua história tão antiga quanta a da FAB.
O CPBV tem como atribuições o
planejamento, a coordenação e o
controle das atividades técnico-
operacionais necessárias ao apoio e à
execução de ensaios, testes, experimentos
e exercícios táticos de interesse do
Comando da Aeronáutica. ..................
É aí que entra a participação da Divisão
de Sistemas de Defesa (ASD), como uma
das pioneiras na utilização tática do local,
através da realização de ensaios dos
armamentos que foram projetados e dos
atuais em desenvolvimento na ASD...........
Por ser um local de difícil acesso e estar
Efetivo do CPBV sob asa do C-130
isolado num canto da floresta amazônica,
Cachimbo “como o campo de testes é Guardadas as devidas proporções, de apoio, que facilitam o trabalho; uma
conhecido” tem uma esfera mística que boa rede de comunicação e, inclusive,
envolve e integra as equipes que pra lá se
uma manobra em Cachimbo equipara-
se a um treinamento de uma pequena acesso à internet; rancho; alojamentos
deslocam nas operações. Sempre
contando com o espírito de cooperação e operação de guerra. Devido ao novos, etc. Durante as manobras,
boa vontade dos companheiros isolamento do local e as dificuldades apesar de não sobrar muito tempo
destacados para servir no local, as equipes de comunicação, hoje muito melhor para descanso e lazer, como passeios
visitantes se esforçam para cumprir a do que nos idos de 1990, quando à cachoeira do Rio Braço Norte,
missão e superar dificuldades que existia somente o fone path*, a visitas ao Olho D´Água e pescarias,
eventualmente aparecem durante as interação e o relacionamento entre as as dificuldades narradas, entre
missões . ....................................... equipes proporcionam um ambiente outras tantas que não foram citadas, não
Para se ter uma idéia, uma operação de são suficientes para tirar o entusiasmo
de integração e cooperação. Todo
ensaios em vôo de desenvolvimento de e a vibração daqueles que acreditam na
armamento chega a contar com a
esforço daqueles que estão envolvidos materialização dos sonhos e ideais
participação de mais de 150 militares e fica voltado para o cumprimento da do Brig Ar Haroldo Coimbra Velloso.
de servidores civis, de diversos setores missão..............................
* Fone path: permite que um rádio seja ligado a
do CTA, como IAE, GEEV e GIA, além Atualmente, o Campo conta com uma central telefonica.
de outras unidades da FAB, como uma infra-estrutura “excelente”,
esquadrões de aviação de caça, asas comparada aos duros tempos de
rotativas, transporte aéreo, SAR, escassez de recursos de material,
bombeiros, BINFA, DIRMAB e o alimentação e viaturas, da década de
efetivo local. 1980 até os meados de 1990, quando
praticamente apenas o CTA utilizava a
área, uma ou duas vezes ao ano, para
operações táticas, o que dificultava
aos responsáveis justificar e captar
recursos para melhorar a infra-
estrutura local. Hoje, são várias as
unidades da FAB que operam em
Cachimbo. Além de uma unidade do
SIVAM instalada no local, a infra-
estrutura está muito melhor; o estande
tem casamata; o transporte de pessoal
é feito em ônibus ou caminhão com a
carroceria coberta; existem caminhonetes
Vista aérea do CPBV Bombas lança-granadas preparadas no hangar
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CACHIMBO 17

“CAUSOS”: Algumas experiências Não podemos deixar de citar o


vivenciadas durante as missões, que famoso Pium, mosquito muito
ficaram gravadas na memória e que parecido com o “borrachudo”, mas
gostaríamos de compartilhar com o com um “poder de fogo” muito
leitor. Certa vez, durante uma superior, que parece ter uma paixão
manobra, faltava mistura para as insaciável por sangue de visitantes.
refeições. Então, o comandante do Um fato curioso aconteceu, em 1989,
campo mandou matar um búfalo para quando fomos alertados que existia
servir carne nos almoços e jantares, uma criação doméstica de búfalos que
que, juntamente com os peixes ficava solta pelo Campo e que
locais, como traíras, pacus, costumava mastigar roupas,
de transformar Cachimbo numa área matrinxãs e curimbatás, pescados no principalmente cuecas, que o pessoal
de desenvolvimento de tecnologia; rio Braço Norte, proporciou ótimos lavava e pendurava no varal. Um ex-
prestar apoio ao sistema de cardápios.......................... companheiro nosso, Eng. Ribamar,
aeronavegação civil e militar; garantir O transporte do pessoal para os deixou seu par de tênis, com aquele
a segurança do espaço aéreo nacional; estandes também reservava algumas tradicional “chulé”, pra fora do
e apoiar outras organizações no surpresas, como oportunamente alojamento, durante a noite; e; no dia
combate ao contrabando aéreo e observar a travessia da estrada por seguinte; havia sumido um pé, que foi
terrestre, como o de madeira, dentre animais silvestres como, porcos-do- encontrado posteriormente todo
outras missões. ............................... mato, veados, cobras e onças. A retorcido e “babado”.
Para finalizar, gostaríamos de citar a limitação de combustível fazia com
frase que caracteriza o CPBV, a razão que as equipes ficassem horas Milton Ferreira Baruel
da sua existência e suas esperando uma “perna” para o é engenheiro eletrônico e chefe da
retorno ao alojamento. Terra Subdivisão de Sistemas da ASD
peculiaridades, e o sentimento que
está no âmago daqueles que abençoada pela “chuva nossa de
trabalham para termos uma Força quase toda tarde”, também
Aérea pronta para defender os encharcou, inúmeras vezes, o pessoal
interesses do nosso país, quando se nos estandes, onde não havia como se
ARQUIVO ASD
fizer necessário:.............................. abrigar, ou durante o transporte em
“Você luta como treinou...SELVA”. cima da boléia dos caminhões.

Site: Visite o site “www.cpbv.aer.mil.br”,


no qual poderá ter acesso a fotos da fauna,
flora, além de algumas curiosidades sobre
Cachimbo.

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ASD
18

BANT - CLBI
O momento em que o pesquisador sente as batidas do
coração disparar, a adrenalina subir e a boca secar é quando o
seu engenho está sendo ensaiado para verificar se o
funcionamento está dentro das especificações exigidas. Essa
explosão de sensações, na verdade, impulsiona o trabalho de
pesquisa e desenvolvimento de sistemas na área Aeroespacial.
Surgem nos ensaios em solo ou nos ensaios em vôo os Entre o final da década de trinta e início da Segunda Guerra
frutos do trabalho árduo de dias, meses ou até mesmo de anos. Mundial, os Estados Unidos identificaram a região de Natal como
Dependendo do tipo de engenho a ser testado, existem no um ponto estratégico para o controle do Atlântico Sul. Assim, no
Comando da Aeronáutica (COMAER) locais mais adequados início da década de quarenta, o governo americano começou a
para a realização dos ensaios. O Campo de Provas Brigadeiro construção de uma base aérea em Natal. Com o ataque japonês à
Velloso (CPBV), localizado na Serra do Cachimbo - PA, em base americana de Pearl Harbor, em 7 de dezembro de 1941, os
virtude da sua vasta área e da grande distância até locais Estados Unidos saíram da condição de neutralidade, declarando
habitados, é o local ideal para a realização de ensaios de bombas guerra às forças do Eixo. Dessa forma, a presença militar
e de foguetes com cargas explosivas reais. No Centro de americana em Natal foi intensificada com esquadrões das forças
Lançamento de Alcântara (CLA), localizado no município de armadas americanas. ............................................................
Alcântara - MA, são realizados os ensaios dos projetos de Oficialmente, a Base Aérea de Natal (BANT) foi criada, em 2
Veículos de Sondagem e do Veículo Lançador de Satélites de março de 1942, e os primeiros aviões em operação pilotados
(VLS). Localizado em Natal RN, o Centro de Lançamento da por brasileiros foram o P-36, B-25D e P-40E. Essas aeronaves
Barreira do Inferno (CLBI), além de atender às necessidades do foram muito importantes na formação de pilotos brasileiros de
Programa Espacial Brasileiro, detém os meios necessários para caça, que recebiam treinamento de oficiais americanos com
a realização de operações de ensaios de mísseis ar-ar. experiência de combate. Após a Segunda Guerra, os americanos
As operações com mísseis ar-ar, em Natal, demandam não só entregaram à FAB a totalidade das instalações militares em Natal.
os equipamentos instalados e o pessoal capacitado do CLBI, Atualmente, ali operam na o 1º/4º GAv, equipado com aeronaves
como também as instalações e o pessoal de apoio da Base Aérea AT-26, e o 2º/5º GAv, equipado com aeronaves A-29.
de Natal (BANT). Um breve histórico facilitará o entendimento Em 1963, foi criado um grupo, que, em 1966, foi nomeado
da importância e vocação dessas unidades no desenvolvimento como GETEPE - Grupo Executivo e de Trabalhos e Estudos de
de novas tecnologias e na capacitação de equipes Projetos Espaciais, vinculado ao Estado Maior da Aeronáutica
especializadas......................................................................... (EMAER), para iniciar os primeiros passos das pesquisas
Em 1924, o piloto francês Paul Vachet escolheu a espaciais brasileiras. Um dos trabalhos iniciais desse grupo foi o
vila de Parnamirim para a construção um campo de aviação. planejamento de implantação do então Centro de Lançamento de
Em 1927, um avião francês da Latécoère marcou o início dos Foguetes da Barreira do Inferno (CLFBI), hoje denominado
vôos entre Paris e Buenos Aires com escala na vila. Nos dias 12 e Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), sediado
13 de maio de 1930, o hidroavião Late 28-3, batizado “Comte próximo à cidade de Natal. A localização do Centro obedeceu
de La Vaulx”, cuja tripulação era composta pelo Sr. Jean a requisitos, tais como proximidade com a linha do equador,
Mermoz, Sr. Jean Dabry e Léopold Gimie, realizou a primeira suporte logístico já existente e proximidade de uma grande área de
travessia postal sem escala do Atlântico Sul entre São Luiz do impacto (oceano). A área é denominada Barreira do Inferno em
Senegal, na África, e Natal. virtude das falésias vermelhas, que, iluminadas pelo reflexo na
água dos primeiros raios solares da manhã, assemelham-se a
labaredas de fogo, conforme observado por antigos pescadores.
Oficialmente, o CLBI foi criado, em 12 de outubro de 1965, e,
no final do mesmo ano, cerca de um ano após o início da sua
construção, o centro iniciou as suas atividades operacionais com o
lançamento do foguete americano Nike-Apache. Em paralelo, as
equipes nucleadas pelo GETEPE começaram a especificar e
projetar foguetes de sondagem, que foram fabricados pela
indústria nacional sob a assessoria técnica do grupo. Assim, o
primeiro protótipo do foguete Sonda I foi lançado, a partir do
CLBI, em 1967. O Sonda I, composto por um sistema de
propulsão com dois estágios, foi o primeiro passo para substituir
os foguetes americanos de sondagens meteorológicas.
Atualmente, o número de lançamentos de foguetes, realizados
a partir do CLBI, ultrapassa dois mil. A missão atual do CLBI é
lançar e rastrear foguetes, coletar e processar os dados das cargas
Preparação do MAA-1 para ensaio de qualificação da espoleta de proximidade úteis e realizar testes e experimentos de interesse da Aeronáutica
relacionados com a Política Nacional de Desenvolvimento
Aeroespacial .
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OPERAÇÕES EM NATAL 19

Enquanto a aeronave patrulha executa o seu vôo, as equipes de


montagem estão concluindo as instalações dos mísseis nas
aeronaves e os testes de detecção do autodiretor. Durante esse
período, os radares e a telemetria do CLBI estão sendo
guarnecidos pelas equipes do GEEV e da Mectron, e os resultados
dos testes dos mísseis na BANT são recebidos e analisados no
CLBI, a fim de liberar a decolagem da aeronave prova.
Após a liberação do ensaio pela equipe da telemetria,
equipagem de ensaio, equipagem do patrulha, equipe do alvo
aéreo e pelo Barreira (oficial responsável pela coordenação do
ensaio a partir do radar Bearn), a decolagem do prova é
autorizada. Durante os circuitos para o lançamento, o radar Adour
permanece acoplado no alvo e o radar Bearn no prova. Dessa
forma, é possível em tempo real conhecer a posição relativa entre
a aeronave lançadora e o alvo. Nessa fase, a estação de telemetria
do CLBI monitora todos os dados de desempenho do míssil, a fim
de avaliar o seu funcionamento e a probabilidade de ocorrer um
Lançamento do Skua, alvo aéreo manobrável sul africano na Barreira do Inferno
lançamento com sucesso. O lançamento do míssil é autorizado
quando os parâmetros previstos para o ensaio são atingidos e a
telemetria aprova os sinais enviados pelo artefato.
A BANT e o CLBI, atendendo aos interesses do COMAER, Durante o vôo do míssil, os sinais de telemetria são recebidos
disponibilizam as suas equipes técnicas especializadas e as e analisados, a fim de avaliar o desempenho do artefato. Os dados
suas instalações para as atividades de ensaios em vôo de de telemetria permitem verificar se o míssil navegou para o alvo,
mísseis ar-ar. Assim sendo, o Instituto de Aeronáutica e Espaço se o desempenho do motor-foguete foi adequado, se houve
e o Grupo Especial de Ensaios em Vôo, aproveitando as alinhamento da “SAU" (dispositivo de segurança e armação) e se
facilidades existentes em Natal, planejam e executam as a espoleta de proximidade detectou o alvo.
operações de ensaios de mísseis em conjunto com outras
unidades do COMAER. Uma operação desse tipo chega a
contar com a participação de mais de 100 servidores civis e
militares de diversos setores do CTA e de outras organizações,
como as divisões AVA, ASD, AIE, ESAR do IAE, GEEV,
IFI/CPA, DIRMAB, PAMA-SP, PAMB, DARJ, 3º/1º GCC,
esquadrões de Aviação de Caça, esquadrões de Aviação de
Patrulha, esquadrões de Aviação de Asas Rotativas, esquadrões
de Aviação de Transporte, empresa Mectron, INPE e a Polícia
Militar - RN........................................................................................
A jornada diária, durante a operação, é bastante longa, e as
atividades começam logo cedo. Nos primeiros dias da
campanha, as equipes responsáveis preparam todo o cenário
para os testes e executam os treinamentos necessários. Nesta
fase, o sistema de comunicação de solo é instalado, as
instrumentações das aeronaves são checadas, as salas de
integração do míssil e de redução de dados são preparadas, os
radares Adour e Bearn e a estação de telemetria do CLBI são
configurados bem como os mísseis para o treinamento.
Os procedimentos para a execução do ensaio iniciam-se, no Mapa do teatro de operações
dia anterior, com a preparação dos mísseis, alvos aéreos,
lançadores e aeronaves pelas equipes da ASD, GEEV e Reunindo as informações da instrumentação da aeronave
Mectron. Durante esses procedimentos, todos os sistemas e prova, dos radares do CLBI e da telemetria, é possível avaliar o
subsistemas utilizados no ensaio são montados, checados e resultado de todo o ensaio. Esses resultados são discutidos e
preparados para o dia do ensaio. Em um dia normal de analisados durante a reunião do Pôr-do-Sol com todos os chefes
lançamento de míssil, os “briefings” são iniciados às 7h:30, e a de equipes, realizada diariamente, por volta das 17h:00, para o
primeira decolagem, da aeronave patrulha, ocorre por volta das planejamento das ações do dia seguinte....................................
8h:30. A responsabilidade da tripulação do avião patrulha é Em mais de uma década, já foram lançadas dezenas de
muito grande, pois a segurança do ensaio depende da avaliação mísseis MAA-1A em ensaios de separação com manobras pré-
criteriosa da área de ensaio. Durante o vôo de programadas, contra alvos aéreos manobráveis e não-
aproximadamente 1,5 hora, toda a área, onde a probabilidade manobráveis, a partir de diversas plataformas, tais como AT-26,
de impacto é diferente de zero, é varrida à procura de embarcações A-1, F-103, F-5 e A-29.
que possam ser atingidas pelo míssil após o lançamento.
Caso a probabilidade do míssil colidir com uma
embarcação seja maior que 10-5, o ensaio é cancelado por motivos Antonio Henrique Blanco Ribeiro Cap Eng
de segurança. ex-chefe da Subdivisão de Ensaios da ASD

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ASD
CURSO DE ARMAMENTO 20

CEEAA-CAPACITAÇÃO
O 1200

ALTURA ( m )
ALCANCE MÁXIMO ( m) : 975m
Curso de Extensão em Engenharia de Condições de lançamento
V = 480 kt
h = 150 ft 1000
ALTURA MÁXIMA(m) : 811m,em7,8s
MASSA DO FRAGMENTO : 110g
Armamento Aéreo (CEEAA), ministrado no VELOCIDADE DO FRAGMENTO: 2.071m/s
INTERVALO ENTRE MARCAS : 1,0s
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em 800

parceria com o Instituto de Aeronáutica e Espaço Ponto de lançamento


Posição da aeronave quando
a bomba atinge o alvo
600
(IAE), destina-se a proporcionar base teórica e
conhecimentos práticos acerca de projetos, 400

desenvolvimento, ensaio e instalação de engenhos


200
bélicos, a militares, subalternos e intermediários, da
ativa, possuidores do diploma de engenheiro. 0

Militares estrangeiros e civis também poderão ser -1200 -1000 -800 -600 -400 -200 0 200 400 600 800 1000
ALCANCE ( m )
1200

Gráfico de envelope de fragmentação


admitidos, a critério do Comando da Aeronáutica..
O CEEAA obedece ao calendário acadêmico
do ITA, tendo duração de dois semestres. No Conteúdo programátic o
segundo semestre, o aluno deverá elaborar um
trabalho individual, que versará sobre tema PRIMEIRO SEMESTRE:
relevante para a área de defesa. O corpo docente é -Explosivos militares, propelentes e pirotécnicos
composto por professores do ITA e pesquisadores -Armamento e munições aéreas
do IAE..................................................................... -Simulações balísticas
O CEEAA vem adquirindo prestígio -Aerodinâmica de artefatos bélicos
crescente no Brasil e Exterior, com a participação, -Confiabilidade de sistemas eletrônicos
como alunos, de pesquisadores civis e militares dos -Motor-foguete
vários Institutos do Comando-Geral de Tecnologia
Aeroespacial (CTA). Neste ano, o curso conta com SEGUNDO SEMESTRE:
um oficial aluno da F orça A érea P eruana. -Letalidade
Uma parcela significativa dos 100 alunos -Seminários
-Desenvolvimento de software embarcado de tempo real
que concluíram o CEEAA, desde a sua criação, em
-Projeto individual
1977, tem sido classificada ao término do curso, na
Divisão de Sistemas de Defesa do I AE http://www.ita.br/ceeaa/ceeaa1.html
e vem buscando a almejada capacitação contínua
através de cursos de mestrado e doutorado no ITA
e na Naval PostGraduate School,
na Califórnia, EUA...................................................
Como bons motivos para se realizar o CEEAA,
destacam -se : possibilidade de trabalhar em
tecnologia de ponta em área de suma importância
para a segurança e soberania do país; colaborar
decisivamente para a substituição de armamentos
importados, o que, além de assegurar a soberania
brasileira, economiza divisas e gera empregos.
As instruções para a realização do CEEAA
o
foram aprovadas pela Portaria n 1.066/GM3, de 14
o
de outubro de 1977, alterada pela Portaria n
814/GM3, de 09 de julho de 1981, e, posteriormente,
pelas Portarias no 056/GM3, de 10 de janeiro
o
de 1983, e n 779/GM3, de 17 de outubro de
1985.
Diogo Câmara Pereira Cap Eng
é coordenador do CEEAA no IAE
Ensaio de fragmentação no Campo de Provas Brigadeiro Velloso - CPBV
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MINHA EXPERIÊNCIA NA ASD 21

F evereiro de 1982. Cruzo o portão do CTA em direção ao então


Instituto de Atividades Espaciais. Era o meu primeiro dia de estágio
.Na ESB-E, passei a ter contato bem próximo com os
projetos da ESB, além de ser o representante da Divisão na
na antiga Divisão de Sistemas Bélicos (ESB). Começara o 4o ano do implantação do laboratório de vibrações do IAE, que
curso de engenharia industrial mecânica da Escola de Engenharia definitivamente saíra do papel. No final desse ano, fui
Industrial (EEI) de São José dos Campos. A oportunidade de indicado pelo então Ten Cel Av Ribeiro para fazer parte da
realizar o estágio havia surgido por intermédio do Maj Av Antônio equipe que iria à França e a Inglaterra para receber e realizar os
Carlos de Souza Serapião, na ocasião chefe da Subdivisão de cursos sobre os equipamentos...............................................
ARQUIVO ASD
Ensaios (ESB-E), que havia sido meu professor de Normalização Em fevereiro de 1985, imediatamente antes da missão de
no 6 semestre da faculdade................................................................................................................................
o
recebimento, fiz um curso sobre vibrações e acústica na
Inicialmente, fui indicado para trabalhar junto com o Eng. Universidade Federal de Santa Catarina. A equipe que fez o
Ferreira, no atuador pneumático do míssil MAA-1. Mas foi por curso era composta por 8 pessoas. Entre elas estavam, o Ten
muito pouco tempo, pois à época já se falava no projeto da bomba Pantoja (hoje coronel), o Eng Padilha e o Téc. Domingos. Em
o
antipista (BAPI), sendo um dos responsáveis pelo projeto o então 1 15 de março, Padilha, Domingos, Ten Cel Ribeiro e eu
Ten Eng Julian Jaime Cervantes. Naquele tempo, a idéia era dotar a partimos rumo a Paris, para uma missão de 45 dias.
BAPI de um giroscópio para medir o ângulo ideal de impacto e .Após o retorno, além de minhas atividades na ESB-E,
comandar a ignição do motor-foguete. Com uma nova tarefa, mãos passei a dedicar-me também ao estudo de cabeças-de-guerra.
a obra. Passei então a estudar o tal giroscópio. Estudei-o durante Em 1986, o Cap Julian e eu saímos da ESB-E e fomos para
quase todo o ano de 1982. Aproximava-se o final do ano e era a ESB-T onde iniciaríamos o planejamento do projeto da
necessário apresentar uma proposta do Trabalho Final de bomba antipista (BAPI). Fizemos toda a rede PERT na mão,
Graduação (TFG). A aplicação do giroscópio na BAPI parecia um pois naquele tempo não havia a facilidade oferecida hoje em
tanto complexa, como o próprio tempo confirmaria, e a idéia acabou dia pelo MS Project. ............................................
por não vingar............................................................................................................................................................................. .Em 1987, a coordenação da BAPI foi passada ao Cap
Em novembro daquele ano, cruzei com o Maj Serapião no Tsustsui que acabava de concluir o Curso de Extensão em
corredor e ele me falou que iria ligar para a EEI solicitando a Engenharia de Armamento Aéreo (CEEAA). Minha
indicação de um estagiário para realizar um estudo de implantação experiência com o Cap Tsustsui foi a melhor possível, pois
de um laboratório de ensaios de vibração. Perguntei a ele se eu aprendi a trabalhar com o computador e com programação de
poderia me inteirar melhor do assunto, no que ele concordou.
forma mais intensa. Íamos freqüentemente ao ITA, para
Passou-me então uma cópia da norma MIL-STD-810C. Estudei
realizar as simulações de penetração da BAPI.
durante dois dias e, ao final, disse a ele que eu havia gostado da idéia
e que pretendia desenvolver o trabalho. Assim, o nosso problema foi Não poderia deixar de dizer que, durante os meus
resolvido: o dele, em ter alguém que estudasse a implantação do primeiros anos na ESB, testemunhei um período ímpar em
laboratório, o meu, em ter um tema para o TFG................................................................... toda a história da Divisão. Eram muitos projetos em
Assim, correu o ano de 1983, tendo como responsável pelo desenvolvimento, atividades de ensaios e recebimento e
acompanhamento do estágio o Ten Julian. Ao final do ano, ampla disponibilidade de recursos de toda ordem (humanos,
apresentei o TFG e, para minha felicidade, o trabalho foi escolhido materiais e financeiros). A ESB chegou a contar com quatro
entre os três melhores dentre os vinte e seis da turma, tendo recebido (quatro!) tenentes-coronéis em seus quadros. Ora, isso
menção honrosa. Antes do final do ano, para ser mais preciso em permitia que os majores e capitães nela lotados exercessem
agosto, foi solicitada a minha contratação como auxiliar de atividades puramente técnicas. Outro fato de que me recordo é
engenheiro (naquele tempo havia esse cargo) pelo então Maj Av que o CEEAA estava em pleno funcionamento, desde a sua
Antonio Hugo Pereira Chaves......................................................................................................................... primeira edição, em 1977. Assim, até 1990, o Curso formou
Logo no início de 1984, foi solicitada a minha reclassificação especialistas em armamento todos os anos.
para engenheiro, que se consumou em abril daquele ano. A partir daí
e nos dois anos seguintes, fiquei lotado na Subdivisão de Ensaios,
sendo meu chefe imediato o Cap Julian.
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ASD
MINHA EXPERIÊNCIA NA ASD

Arthur Zhakis ( in memorian )


E E E E E E E
ASD ASD ASD ASD ASD ASD ASD
ASB ASB ASB ASB ASB ASB ASB
D D D D D D D

.Somados a disponibilidade de recursos humanos, recursos A partir de 1986, o pais passou a enfrentar um ambiente marcado por
financeiros e um ambiente político propício, a Divisão teve o um quadro de agudas dificuldades econômicas , que implicavam em cortes
combustível de que precisava para decolar. Quanto ao ambiente orçamentários e na redução de investimentos....................................
político, é importante lembrar que, em 1977, o Governo Geisel Em virtude dessas dificuldades, de 1991 a 1994 o CEEAA não foi
rompeu o acordo militar Brasil-EUA que vigorava desde o fim da realizado. Assim, o ingresso de novos funcionários na divisão,
II Guerra, através do qual o país tinha acesso a armamentos em principalmente de tenentes engenheiros recém-formados, foi
condições facilitadas de aquisição, porém geralmente obsoletos e interrompido. O ingresso de funcionários civis já havia sido quase que
de baixo conteúdo tecnológico. Havia também uma preocupação barrado, pois a partir de 1988, com advento da nova Constituição, as
do governo em implantar uma indústria de material bélico no país, contratações passaram a ser feitas via concurso público. Pouco tempo
depois, passaria a entrar em vigor o Regime Jurídico Único (RJU).
sendo que, nessa época, a Engesa e a Avibras experimentaram o
Antes, a quase totalidade dos funcionários do CTA eram “celetistas”.
auge de suas atividades..................................................................... Já em 1990, a ESB, cuja sigla havia mudado para ASB, após a fusão do
Até a primeira metade da década de 80, a ESB esteve IAE com o IPD, passou a ser chefiada por um major ou capitão.
envolvida com a nacionalização de armamentos já empregados Conseqüentemente, os níveis de chefia de subdivisões foram para
pela FAB. Foi o tempo dos projetos das bombas de fins gerais de capitão. Assim, aqueles que poderiam ter um maior envolvimento
120 e 230 kg e suas espoletas, do foguete SBAT-70, da BINC-300, técnico com projetos tiveram, por força de suas novas atribuições, suas
entre outros. A partir de 1983, têm início os projetos da BFA-230/1 atenções voltadas para o expediente burocrático. Para agravar a situação,
(tipo guarda-chuva) e da BLG-252 (espalhamento por em 1992, a direção do CTA resolveu dar total prioridade ao
centrifugação). Foi um grande salto tecnológico, considerando-se desenvolvimento do VLS, e a ASB foi obrigada a ceder um bom número
que não seriam obras de engenharia reversa como foram os outros, de funcionários capacitados ao projeto, que jamais retornaram. A
pois a Divisão não dispunha de exemplares desses artefatos. escassez de recursos humanos tornou-se crítica. Em 1994, cheguei a
Seriam os primeiros artefatos apresentando uma seqüência de acumular a gerência de cinco projetos (BA-FG-920, BFA-230/1 e BFA-
eventos em suas trajetórias, sem falar da complexidade de seus 230/2, BLG-120 e BLG-204). ......................................................
Na segunda metade da década de 90, tivemos a oportuníssima
sistemas componentes, principalmente da bomba lança-granadas.
reativação do CEEAA, que funcionou por quatro anos seguidos, sendo
Outro fato considerável na história da Divisão foi o projeto do novamente interrompido em 1999 e só reativado em 2003.
míssil MAA-1 Piranha, cujos primórdios datam de 1977/78. Até Oportuníssima porque a entrada de novos funcionários, por meio de
1983, o projeto foi desenvolvido na ESB. No final de 1983, foi concurso público, era menor que a saída dos antigos. Os tenentes que
assinado um contrato com a empresa DF Vasconcelos, que já havia conheci quando cheguei já eram majores, quase tenentes-coronéis, sendo
participado dos projetos das espoletas EOM e ECM-BFG. Essa um bom número deles transferidos para outros setores do CTA ou mesmo
experiência foi até 1986, quando o contrato foi, salvo engano, para a reserva........................................................................................................
rescindido. Então, em 1987, foi assinado um contrato-tampão com No limiar do novo século, a BA-FG-920, BFA-230/1 e BFA-230/2,
a Órbita, empresa formada com as participações da Embraer e BFA-460, BLG-120, BLG-204 e BAPI vieram aumentar o portfólio de
Engemíssil. Ao final desse contrato, a empresa apresentou uma projetos desenvolvidos e homologados pela atual Divisão de Sistema de
nova proposta de desenvolvimento, mas devido à escassez de Defesa-ASD. Críticos poderão dizer que alguns desses projetos
recursos que já se fazia presente, o contrato não foi assinado, e o consumiram tanto tempo que perderam a janela de oportunidade, isto é,
projeto do MAA-1 ficou paralisado até dezembro de 1993, quando perderam a sua importância operacional. Não podemos eximir-nos de
parte da responsabilidade por tais atrasos, mas devemos lembrar os
foi firmado o contrato de desenvolvimento do MAA-1 com a
tantos óbices que fomos obrigados a enfrentar, como a já mencionada
Mectron............................................. inconstância de recursos financeiros e a escassez de recursos humanos.
Durante a paralisação do MAA-1, teve início na Divisão o Essa tem sido a minha experiência na ASD. Em 3 de novembro
projeto do MSA-1 (depois denominado VTT-1), um míssil próximo, espero, no Senhor Deus, completar 23 anos de Divisão de
superfície-ar que incorporava o mesmo motor-foguete do MAA-1 Sistemas Bélicos, isto é, Divisão de Sistemas de Defesa. Posso dizer que
e tinha como tecnologia de guiamento o telecomando. Mais que me sinto plenamente realizado profissionalmente. Mais honrado e
um desenvolvimento, o objetivo do projeto era manter e gratificado me sinto ainda em participar como instrutor do CEEAA, e
prosseguir com a capacitação da Divisão em projetos de engenhos poder colaborar com a formação do pessoal que conduzirá o destino da
guiados obtida com o MAA-1. Pode-se dizer que o projeto foi “ESB” no porvir................................................................................................
bem-sucedido até a sua interrupção, em 1994, quando na Ao Senhor Deus agradeço a oportunidade que Ele me tem dado de
Operação Tetra, realizada no CLBI, foram lançados os últimos poder servir ao meu país dessa forma..............................................
protótipos. Na ocasião, o contrato para o desenvolvimento do À Divisão de Sistemas Bélicos (Ih! esqueci de novo), Divisão de
MAA-1 já havia sido assinado, e as limitações orçamentárias e de Sistemas de Defesa, parabéns pelos seus trinta anos. Certamente um
futuro de novos sucessos nos aguarda.
recursos humanos não permitiriam o desenvolvimento simultâneo
de dois projetos de grande porte.
Paulo César Miscow Ferreira
é engenheiro mecânico e gerente de projetos da ASD

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GALERIA DOS EX-CHEFES 23

GALERIA
28 Fev 77 a 18 Mar 83
Cel Av
José Marconi de Almeida Santos

18 Mar 83 a 17 Fev 84 17 Fev 84 a 06 Fev 87 06 Fev 87 a 25 Fev 88 25 Fev 88 a 17 Maio 90


Ten Cel Av Ten Cel Av Ten Cel Av Ten Cel Av
Antonio Carlos de Freitas Pedrosa Carlos Augusto Leal Velloso Tiago da Silva Ribeiro Antonio Hugo Pereira Chaves

17 Mai 90 a 19 Out 90 19 Out 90 a 22 Jan 92 22 Jan 92 a 13 Jul 98 13 Jul 98 a 14 Mar 00


Maj Av Maj Eng Maj Eng Maj Eng
Roberto Gonçalves Pereira Kleber Grasso Rodrigues Paulo Roberto de Souza Eduardo Hiroico Iwashita

14 mar 00 a 26 Abr 02 26 Abr 02 a 15 Jul 02 15 Jul 02 a 18 Dez 02 14 Jun 04 a 11 Fev 05


Ten Cel Eng 18 Dez 02 a 14 Jun 04 Ten Cel Esp Com Maj Eng
Roberto Tsustsui Ten Cel Eng Luís Antonio Dias Augusto Luiz de Castro Otero
Everton Guilhão de Paula

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ASD
CARTA A UM AMIGO 24

Campo Montenegro, 24 de Julho de 2006.

H á tempo que não conversamos. Espero que


tudo esteja bem contigo. Contaram-me da tua nova
Missão. Desejo-te sucesso, não que duvide da tua
capacidade. Sei que você sempre gostou de arriscar
o desconhecido, de testar os limites, mas um pouco
de sorte não faz mal a ninguém............................
Minha memória anda um pouco falha. Estava
recordando-me do meu último semestre no ITA,
provavelmente em setembro de 1978. Lembro-me
de ter assistido a duas palestras interessantes: uma
da antiga PEV, a respeito do Curso de Ensaios em
Vôo (CEV), e outra da ex-ESB, versando sobre o
Curso de Extensão em Engenharia de Armamento
A é r e o ( C E E A A ) . Q u e r i a p e r m a n e c e r n o C TA ,
como futuro engenheiro, e a atividade de P&D que
se desenvolvia no Centro me atraía. Os dois cursos
poderiam possibilitar a concretização dessa
a s p i r a ç ã o , m a s q u a l e s c o l h e r ?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O CEV me possibilitaria o prazer do vôo, de
testar nas aeronaves o que se criava no CTA para a
Força, mas o CEEAA acenava com o desafio de
criar, de testar ao limite o que tinha aprendido no
ITA e nos corredores do H-8, de ter de continuar
sempre com o compromisso de aprender, de nunca
julgar que já sabia o suficiente para me acomodar;
Ten Cel Velloso (dir.) com Brigadeiro Ferolla em um laboratório da ASD 1985
de que cada passo dado avante somente serviria para
me fazer subir um pouco na montanha e vislumbrar Acabei reencontrando aquele Maj Av e, pouco a
com mais clareza o horizonte do quanto ainda tinha pouco, o fui conhecendo melhor, descobrindo que ele
de aprender (ainda continuo minha jornada não era louco, mas somente alguém que amava a
montanha acima, e como esse horizonte do Força, e que se tornou meu “pai profissional” , e, que a
desconhecido e dos desafios se amplia, isso é exemplo do meu pai, repassou-me lições de vida que
animador!). ............................................................... guardo e me guiam até hoje! ...........................
. Mas, voltando à questão, o que me fez decidir Com ele aprendi que a lealdade é algo que se pode
pelo CEEAA? Pois essa foi a minha decisão na comprar, mas que somente existe uma moeda para a
época, e da qual não me arrependo. Não sei se já te mesma: a própria lealdade! Sim, a lealdade só pode
contei alguma vez, mas foi o discurso de um Maj Av existir quando é mútua, não existe lealdade unilateral;
(sim um Av que tinha se formado no ITA, acho que q u e u m a “ e n q u a d r a d a” m e r e c i d a é a m e l h o r
da Turma de 76! Quem diria ...). Com que paixão e recompensa que podemos receber por um erro; que um
convicção ele falava da nossa capacidade de bom trabalho é uma obrigação, sendo que um
desenvolver projetos de Sistemas Bélicos, de excelente trabalho deve ser a meta; que um chefe que te
criarmos a competência necessária para atender as cobra além do seu limite é aquele que realmente
futuras necessidades da Força, de não dependermos acredita e gosta de você. Mas tudo isso se torna
dos outros. Não sei se ele era louco ou visionário; na gratificante e não um ônus, quando existe a lealdade e
ocasião, nem do nome dele tinha certeza, só me quando o chefe não se furta ao trabalho, muito menos a
lembro de que me convenceu e, arrego, fumava mais compartilhar da responsabilidade pelos fracassos, que
do que eu! Pode acreditar nisso? .......................... é obvio que ocorreram!..................................
Sim, acabei ficando no CTA e na ESB. Que Na época vestia a farda, mas não a vivia. Mas, ao
loucura era aquela Divisão, um verdadeiro ninho de longo do tempo, aprendi, por meio do exemplo dado,
loucos, com todos acreditando no que faziam, que o azul baratéia desbota quando se sua a camisa
vivendo os sucessos e fracassos, e comecei a com convicção, com fé, e que essa cor permeia o peito
aprender. Sim, a aprender não o conhecimento e a alma até que se transforma numa segunda pele e na
teórico, mas a transformar sonhos em realidade, a verdadeira farda que devemos usar. Hoje, não visto
encontrar fracassos e tirar lições dos mesmos, e que mais a farda, mas ela me veste, não me deixando
Mestres são os fracassos, como ensinam bem! despido nunca. Agradeço mais essa lição.

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CARTA A UM AMIGO 25

. Aprendi o sabor amargo de ter de cumprir a Soube que você, obedecendo a ordens superiores,
ordem de desmantelar parte do que tinha ajudado a teve de desmantelar novamente parte do que tinha
construir, e sob o mesmo comando hierárquico construído, chefiando a mudança de rumos da
desse Maj Av, agora já Cel Av, pois os tempos e as Organização que ajudou a construir, e, no pessoal,
necessidades tinham mudado, e, por vezes, era aceitou combater um inimigo invencível, sem nunca
necessário recomeçar. O que importa é a Instituição, reclamar, mesmo sabendo que a derrota era inevitável,
como um ideal e conceito, não como um mero mas que cumpriu ambas as determinações com a
organograma para enfeitar paredes ou documentos. subordinação hierárquica que sempre demonstrou e nos
Sim, tivemos de encerrar vários projetos, pois a hora cobrou, . sem .. nunca .. se .. tornar .. submisso. ...................
era de reagrupar as forças remanescentes e atacar, C ontaram-me como você desempenhou a mudança de
com maior probabilidade de sucesso, aqueles rumos da Organização; e como, apesar da derrota
projetos mais prioritários...................................... i minente para o inimigo pessoal, passou o comando do
Meu amigo, a história não deve te ser estranha, CTA para o teu sucessor; e a história que você contou de
nossos caminhos se separaram nesse ponto, mas o um garoto que começou a se apaixonar pela Força já aos
Dino pode confirmar que aquele Maj Av continuou o treze anos, e que nunca fraquejou nessa paixão, ao longo
mesmo até quando Ten Brig, sim, o nome dele te é de mais de quarenta e sete anos. Você fez isso do mesmo
conhecido, pois ele é você: Carlos Augusto Leal modo que encarou todos os desafios: de pé e encarando a
Ve l l o s o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . todos nos olhos! E hoje em dia está cada vez mais difícil
.Ontem à noite, depois de muitos anos - acho que a encontrar quem possa falar sem desviar o olhar.
última vez foi no batizado do Cássio - participei da Também sei que não te deixaram partir para esta tua
missa na Capela Nossa Senhora de Loreto, no CTA. nova Missão envergando a velha farda, que você tanto
Queria desejar-te pessoalmente sorte nesta tua nova honrou e ama. Mas a verdadeira farda sempre esteve
Missão. Saí para fumar um cigarro, um pouco antes contigo, na alma e no coração; essa ninguém conseguirá te
do fim da missa. Acredito que devia estar com o retirar, . está .. contigo .. e .. sempre .. estará . .......................
pensamento longe, pois uma mão amiga me segurou .Nestes últimos cinco anos, acompanhei a tua partida
o braço e perguntou: “Tudo bem, meu amigo?”. do CTA, por duas vezes; na primeira, lembro-me de ter
Que poderia eu responder, a não ser que “Sim”. ouvido o hino do Fluminense . N inguém é perfeito .
Como não estar tudo bem, quando o que temos a Hoje, nesta segunda-feira, Toque de Silêncio - em minha
recordar é uma história repleta de fé e coragem, opinião, teria sido mais justo se tivessem executado
durante a qual nenhuma das derrotas sofridas abalou “My Way”, de Frank Sinatra; com certeza, a tua Voz não
a convicção ou arranhou a amizade. Amizade esta irá silenciar no CTA . Afinal, você deixou inúmeros
para se guardar debaixo de sete chaves, dentro do amigos. Não sei quando poderemos nos ver. Novamente,
coração, como diria Milton Nascimento. desejo-te sucesso..............................................

Julian Jaime Cervantes


é Cel Eng R1 foi gerente de projetos e chefe de sub-divisão da ASD

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