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ABSTRACT: The current philosophical "naturalism" considers the development of cognitive process as a
result of the evolutionary nature that is also proposed as an evolutionary model for the culture. "Design"
is the study area and field of activities, whose fundamental principle motivator of action is the solution of
problems. The naturalistic perspective in Design shows their theoretical and methodological proposition
on observation and ownership of solutions of natural systems, to consider aspects of the project, whether
technological, economic, aesthetic, ergonomic and ecological. Design Studies investing their research in
Bionics, whose objects of interest are forms, materials and functions of natural systems. These studies are
applied in proposing solutions projective in several areas of design, including Ecodesign. Application of
Bionics to the methodology of Design offers simple and economical solutions based on naturalistic
conceptions, development of eco-efficient products, object of study of Ecodesign. There is therefore a
promising and fruitful interaction between design and naturalism that is mediated by analogies between
cultural systems and natural systems.
KEY-WORDS: Design Naturalist. Natural Systems. Natural solutions. Sustainability.
1 Bacharel em Comunicação Social - habilitação em Publicidade e Propaganda (PUC-PR), mestranda em Design e Expressão
Gráfica (UFSC). Professora na Univali - Unidade Florianópolis - angelacleve@uol.com.br
2 Bacharel em Artes Visuais - Habilitação em Design Gráfico (UFPel), mestranda em Design e Expressão Gráfica (UFSC) e
bolsista pelo FNDE no mesmo Programa de Mestrado - julivn@gmail.com.
3 Pedagoga Empresarial, com licenciatura em tecnologias educacionais e bacharel em treinamento empresarial (Univali),
especialista em EaD (Senac), mestranda em Design e Expressão Gráfica (UFSC) - marcia.ead.ufsc@hotmail.com
4 Doutor em Comunicação e Semiótica (PUC/SP), Professor do Pós-Design/EGR/CCE – Universidade Federal de Santa Catarina
- perassi@cce.ufsc.br
INTRODUÇÃO
No período artesanal, que antecedeu ao período histórico-industrial, não havia uma
separação clara entre as áreas de Arte e de Design. No processo artístico-artesanal, as atividades
de projeto e execução eram praticamente indissociáveis, como também se sobrepunham as
histórias de Arte e de Design. Havia um diálogo ou uma interatividade continuada entre as
instâncias do pensamento e da produção. Os resultados eram produtos particulares, praticamente
únicos, mesmo quando se buscava a produção de diversos exemplares semelhantes. Porém, o
princípio que determinou a Revolução Industrial foi de “serialização”. Primeiramente, houve a
produção manufaturada em série, como consequência da especialização dos artesãos, em que
cada um era especializado para fabricar em série uma parte do produto. Assim, cada parte seguia
o padrão de sua série, sendo compatível com quaisquer outras partes componentes do mesmo tipo
de produto. Posteriormente, os artesãos foram sendo substituídos por máquinas na fabricação das
partes dos produtos.
Como consequência da fabricação por máquinas, as formas das partes dos produtos foram
geometricamente simplificadas, para que fossem mecanicamente fabricadas. A industrialização
separou radicalmente as instâncias de planejamento dos produtos e de produção. Portanto,
separou-se o processo de projeto e o processo de produção. Os rígidos limites da mecanização
exigiram a adoção dos princípios de idealização geométrica e o desenvolvimento de uma razão
metódica, para os processos de projeto e de gestão, com base em procedimentos científico-
tecnológicos.
A sistemática de criação e de gestão de projetos fundou e caracteriza a área de Design,
como campo de estudos aplicados nas atividades de projeto, que definem a profissão de Designer.
A serialização da produção e a separação da atividade projetivo-ideal da produção
mecanizada assinalam a intervenção idealista no processo de fabricação de bens manufaturados.
Isso é mais evidente em comparação com os processos naturais, nos quais o desenvolvimento de
cada criatura é continuado e individualizado. A defesa do trabalho manual foi resgatada por
movimentos de arte aplicada, o mais proeminente foi Arts and Crafts, que propôs o trabalho
manual como fonte de recuperação da dimensão estética dos objetos, em oposição à esterilidade
dos objetos industrializados. A valorização do trabalho manual retomou a perspectiva naturalista,
porque priorizava a relação natural, entendendo o objeto como extensão do homem e como parte
da natureza.
O percurso histórico modernista, porém, confirmou o afastamento entre os campos de
Design e de Artesanato e ambos se distanciaram do campo da Arte. Isso ratificou a racionalidade
lógico-idealista como característica de Design.
A partir disso, foi amplamente desenvolvida no campo de Design uma concepção
funcionalista, de acordo com a premissa “a forma segue a função”, a qual exerce influência sobre
as atividades projetivas até os dias de hoje, mesmo que de forma menos central. Essa visão, de
uma maneira geral, prioriza fatores racionais da relação entre homem e objeto, com relação aos
aspectos de caráter sensorial.
Por outro lado, a extinção dos recursos naturais e a degradação do meio ambiente
requerem a reaproximação entre o homem e os elementos da natureza, como partes integrantes de
um mesmo ecossistema, cujo funcionamento interfere e compete a todos os seus componentes,
mesmo que de forma diversa. No campo de Design, as pesquisas relacionadas à área de Biônica
observam os sistemas naturais para a proposição de soluções em projetos de diversos produtos
como, automóveis e joias e exercendo influência também sobre a área do Ecodesign. A
consciência ecológica exige novos estilos e padrões de consumo sustentável, implicando em
projetos de Design coerentes com essa nova realidade.
Conforme Villas-Boas (2000, p.45), Design é uma palavra inglesa originária de designo
(as-are-avi-tum), que em latim significa designar, indicar, representar, marcar, ordenar. O sentido
de design lembra o mesmo que, em português, tem designo: projeto, plano, propósito (Ferreira,
1975).
Embora a etimologia do termo Design seja ampla, a atividade projetiva caracteriza o
campo de estudos e de atuação aqui configurado. O desenvolvimento de um projeto, por sua vez,
surge de uma necessidade a ser suprida, que se apresenta como um problema (MUNARI, 2008).
Entendendo o problema como a situação que motiva a elaboração de um projeto de Design,
mostra-se necessário considerar um método adequado, de acordo com a investigação do
problema, que é a primeira etapa do desenvolvimento projetual. Munari (2008) destaca que, na
maioria das vezes o problema é identificado pelo cliente. Mas, em alguns casos, o designer
detecta e apresenta o problema ao cliente, a partir das considerações propostas no processo de
brienfing.
Entre as metodologias e abordagens de pesquisa, que podem ser assumidas de acordo com
concepções e objetivos propostos, a abordagem naturalista pode e deve ser considerada, buscando
soluções que aproximem os objetos de design dos sistemas naturais, concebendo-os como uma
extensão do ser humano e parte integrante do ambiente natural (PATARRNA, 2003).
Entendemos que Design associado a Naturalismo é capaz de cumprir seu designo,
equacionando fatores ecológicos, ergonômicos, tecnológicos e econômicos, na concepção de
elementos e sistemas para atender necessidades humanas e promover o desenvolvimento. Através
de soluções conceituais e práticas Design Naturalista proporciona uma concepção de projetos e
objetos ecoeficientes, com base nos estudos de Biônica e nos princípios de Ecodesign.
NATURALISMO FILOSÓFICO
EMPIRISMO E NATURALISMO
O pensamento naturalista, que defende o conhecimento como decorrência de causas naturais, é
reforçado pela crítica dos cético-empiristas sobre a impossibilidade da razão explicar logicamente
a causalidade do conhecimento. Entre os empiristas, há os que se destacaram como
representantes da vertente naturalista. Um desses empírico-naturalistas é o filósofo e lógico
norte-americano Willard Quine (1908-2000) que, influenciado por Rudolf Carnap (1891-1970),
apresentou-se como defensor do empirismo no pensamento do século XX. No seu trabalho,
Quine questionou a diferença entre os dados sensoriais percebidos e o conhecimento proposto,
indicando a existência de um processo complexo de mediação entre a percepção e a
compreensão. Assim, desenvolveu um argumento mostrando a fragilidade dos critérios em que se
baseia a distinção entre os termos analítico e sintético, mostrando a fragilidade dos critérios em
que se baseia esta distinção, a partir da reflexão sobre as informações que entram e saem do
cérebro (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2001).
Muito antes de Quine, entretanto, o filósofo escocês David Hume (1711-1776) influenciou
cientistas e filósofos que o sucederam, com sua ideia de que Filosofia era a ciência da natureza
humana fundada no “indutivismo” e no “experimentalismo”. Para Hume, o processo cognitivo
ocorre a partir da observação da natureza, que é seguida das associações de ideias sobre o que
observamos. Essa questão envolve o “princípio do Hábito”, decorrente das crenças que
desenvolvemos a partir da repetição de observações. Esse princípio faz parte da natureza humana
e, ainda, de toda a natureza, já que os animais também apresentam essa característica. Assim, a
abordagem para avaliar e discutir o conhecimento humano deve ser semelhante a nossa
abordagem para compreender outros processos naturais. Hume apresenta em sua obra as
seguintes questões fundamentais: a) não é possível nenhuma teoria geral da realidade: o homem
não pode criar ideias, pois está inteiramente submetido aos sentidos; todos os nossos
conhecimentos vêm dos sentidos; b) a ciência só consegue atingir certezas morais: suas verdades
são da ordem da probabilidade; c) não há causalidade objetiva, pois nem sempre as mesmas
causas produzem os mesmos efeitos; d) convém que substituamos toda certeza pela probabilidade
(JAPIASSU; MARCONDES, 2001).
BIÔNICA
Hume pregava que todo conhecimento humano provem da observação do mundo a sua
volta, sendo o próprio pensamento algo natural do ser humano. O pensamento se processa por
associação de ideias, “que utilizamos em todas as nossas conclusões sobre questões de fato e,
portanto, ele é o princípio do qual dependem todas as nossas crenças factuais ou causais sobre o
mundo em que vivemos” (DUTRA, 2005, p. 87). Isso pressupõe que, em última instância, o
homem não determina seu conhecimento, porque esse é decorrente de um processo natural do
qual ele próprio é um sistema determinado. Essa consideração indica a natureza como
responsável, inclusive, pela produção cultural, que se desenvolveu pelas mentes e mãos dos
homens. Portanto, assumir os sistemas naturais como modelos para as produções culturais é
propor um processo de aproximação entre duas etapas de um mesmo processo evolutivo.
Por volta de 1960, o major americano Jack Steele definiu Biônica como “ciência dos
sistemas cujo funcionamento foi copiado de sistemas naturais, que apresentam características
específicas de sistemas naturais ou ainda que lhes sejam análogos”. Mas, ao longo da história, os
seres humanos sempre adotaram a natureza como fonte inspiradora, para a criação de ferramentas
e soluções para os problemas do seu dia a dia. Por exemplo, Leonardo da Vinci partiu das
observações de uma libélula, um inseto que paira no ar, para projetar um artefato semelhante ao
helicóptero moderno. Assim, podemos considerar que o fundamento básico da biônica é praticado
pelo homem de forma espontânea, para extrair da natureza as soluções para os problemas
cotidianos. Esse processo de observação da natureza, coletando informações para,
posteriormente, solucionar problemas práticos ou teóricos implica na complexidade do sistema
cognitivo humano. Isso configura a questão que intrigava Quine, uma vez que o ser humano é
capaz de apreender os processos naturais e adaptá-los aos projetos culturais, sendo que...
Biônica é, portanto, uma área que se organizou a partir de uma possibilidade difícil de ser
explicada, ou seja, a possibilidade experimentada pelos seres humanos de conhecer os sistemas
naturais e aplicar esse conhecimento no avanço dos processos culturais. Para Munari (2008, p.
330),
Biônica estuda os sistemas vivos, ou semelhantes aos vivos, para descobrir processos,
técnicas e novos princípios aplicáveis a tecnologia. Examina os princípios, as
características e os sistemas com transposição de matéria, com extensão de comandos,
com transferência de energia e de informação. Toma-se como ponto de partida um
fenômeno natural e, a partir daí, pode-se desenvolver uma solução de projeto.
Figura 1
Os projetos de design com metodologia Biônica vão além da simples cópia dos elementos
da natureza, porque partem da observação dos sistemas naturais, mas requerem a interpretação e
a adaptação das estruturas e das dinâmicas desses sistemas. Isso é aplicado na composição de
analogias eficientes que relacionam formas, funções ou comportamentos, visando solucionar
problemas existentes ou desenvolver artefatos inovadores. Através desses projetos, buscamos
alternativas mais econômicas, mais viáveis ou sustentáveis, já que a natureza é sábia em
desenvolver soluções simples e eficazes, para manter-se em equilíbrio.
O método de buscar analogias na natureza é o que mais aproxima a biônica da filosofia
naturalista, já que essa corrente propõe, especialmente com Hume, que o conhecimento é
construído por associação de ideias, seja por semelhança, por relação de causa e efeito ou por
contiguidade de tempo ou de lugar. O sistema “velcro”, como solução de Design, é decorrente de
uma associação de causa e efeito porque, na natureza, duas superfícies com um determinado tipo
de textura tendem a aderir uma na outra. Por outro lado, as formas naturais apresentam funções
específicas, como as formas aerodinâmicas que serviram de modelo para o carro conceito
"Biônico" da marca Mercedes-Benz, que foi projetado a partir de associações por semelhança. O
design básico de um helicóptero, com relação ao animal libélula, decorre de uma associação por
contiguidade, porque houve a adaptação direta de um sistema natural para um produto cultural,
que é percebida na analogia com as formas das asas e, mais especificamente, na reprodução de
sua capacidade de voar em espiral, devido ao funcionamento de hélices.
A metodologia de Design contextualizada na área de Biônica é relativamente recente,
todavia, diversos produtos de destaque na cultura contemporânea foram propostos a partir desta
perspectiva. Como foi citado anteriormente, o sistema velcro é um desses produtos, que foi
desenvolvido, em 1948, pelo engenheiro suíço Georges de Mestral, como um sistema de
aderência inspirado na estrutura funcional de pequenas sementes, os carrapichos, que ficavam
presos em suas roupas, durante as caminhadas no campo. Intrigado com esse fenômeno, Mestral
observou no microscópio que as superfícies das sementes eram cobertas por minúsculos ganchos
aderentes a quaisquer superfícies que fizessem laços, como fios de cabelo ou fibras de tecidos.
Em fase experimental, há um outro sistema bastante original que, também, é inspirado na
funcionalidade da natureza e aplicado na composição de uma malha para nadadores, a qual
reproduz propriedades da pele dos tubarões. Além disso, há projetos de carros, cujo design segue
a estrutura de determinado peixe e projetos de móveis ou de outros objetos que, também, são
inspirados em soluções encontradas na natureza.
Os estudos que estão sendo desenvolvidos indicam a abordagem biônica como muito
fértil, porque o número de soluções naturais e projetos potencialmente inteligentes são quase
ilimitados. Por exemplo, o biólogo Andrew Parker, da Universidade de Oxford, estudou um
besouro que vive no calor extremo do deserto. A parte das costas do besouro é recoberta por uma
película que, alternadamente, é cerosa e não-cerosa. Isso promove a formação de gotículas de
água que o besouro bebe. Diante disso, é possível considerarmos que “a produção comercial de
um material semelhante poderia ajudar a coletar água em condições áridas" (HOOPER, 2004, p.
02).
Ocorreu outro exemplo na Universidade de Penn State, onde pesquisadores desenvolvem
um projeto inspirado nos pássaros chamado "morphing airplane wings" (cuja tradução livre é
"avião com asas morfológicas"). Trata-se de uma aeronave cujas asas mudam de formato, de
acordo com a velocidade e a duração do voo. A inspiração vem da constatação de que pássaros de
diferentes espécies possuem asas de formatos diferentes, em função da velocidade com que cada
espécie voa. Mas, a proposta inicial implica em outro problema, porque se a estrutura interna da
asa pode mudar durante o voo, também, a camada externa que recobre essa estrutura deveria ter a
capacidade de se alterar. Para tanto, os pesquisadores encontraram a solução nos peixes, porque
usaram escamas para cobrir as asas de maneira que umas deslizam sobre as outras. Assim, os
estudos na área de Biônica combinam soluções encontradas em diferentes espécies ou sistemas
naturais para resolver problemas de um mesmo projeto de Design (HOOPER, 2004, p. 02).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
DUTRA, Luiz Henrique de Araújo. Oposições Filosóficas. Florianópolis: Editora da UFSC, 2005.
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro, 2001
HOOPER, Rowan. Ideas Stolen Right From Nature. Disponível em: http://www.wired.com. Acessado em:
11/06/2010.
MUNARI, Bruno. Das Coisas Nascem Coisas. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
NIEMEYER, Lucy. Design no Brasil: origens e instalação. 3 ed. Rio de Janeiro, 2AB Editora, 2002.
PATARRANA, Manuel. Design sustentável. In: BCSD. Portugal, n. 10, Março, 2007. Disponível em:
http://www.bcsdportugal.org/files/1022.pdf. Acessado em: 23/06/2010.
ROYO, Javier. Design digital. In: Fundamentos do Design. São Paulo: Edições Rosari, 2008.
SALVADOR, Roner José. Metodologia Biônica em dobradiças de móveis. Porto Alegre, RS: UFRGS,
2003 (dissertação de mestrado).
VANDEN BROECK, Fabrício. Design e biônica. Disponível em: www.carlosrighi.com.br. Acessado em:
05/06/2010.
WITTMANN, Karin et al. Conceito e histórico do Ecodesign. Disponível em:
www.gueto.com.br/ecodesign.asp?id=12. Acessado em: 03/06/2010.