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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

ELVIRA LUCHINI GOUVÊA DE SOUZA

MEMÓRIAS E MUDANÇAS

CAMPINAS
2006
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

ELVIRA LUCHINI GOUVÊA DE SOUZA

MEMÓRIAS E MUDANÇAS

Memorial apresentado ao Curso de


Pedagogia - Programa Especial de
Formação de Professores em
Exercícios nos Municípios da Região
Metropolitana de Campinas, como
um dos pré-requisitos para
conclusão da Licenciatura em
Pedagogia.

CAMPINAS
2006
© by Elvira Luchini Gouvêa de Souza, 2006.

2
Ficha catalográfica elaborada pela biblioteca
da Faculdade de Educação/UNICAMP

Souza, Elvira Luchini Gouvêa de


So89m Memórias e mudanças : memorial de formação / Elvira Luchini Gouvêa de
Souza. -- Campinas, SP: [s.n.], 2006.

Trabalho de conclusão de curso (graduação) – Universidade Estadual


de Campinas, Faculdade de Educação, Programa Especial de Formação de
Professores em Exercício da Região Metropolitana de Campinas (PROESF).

1. Trabalho de conclusão de curso. 2. Memorial. 3. Experiência de vida.


4. Prática docente. 5. Formação de professores. I. Universidade Estadual de
Campinas. Faculdade de Educação. III. Título.

06-619

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ÍNDICE

APRESENTAÇÃO......................................................................................... 01
CAPITULO-1 MINHA VIDA ESCOLAR. ................................................... 02
CAPITULO-2 MINHA PRÁTICA COMO DOCENTE............................... 07
CAPITULO-3 A NOVA VISÃO COM O PROESF. .................................... 11
CAPITULO-3.1 APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA. ............................. 13
CAPITULO-3.2VALIAÇÃO. ........................................................................ 16
CONSIDERAÇÕES FINAIS. ........................................................................ 19
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. .......................................................... 20

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Com todo amor e carinho
dedico este memorial ao meu
filho Caio.

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Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho...

Porque cada pessoa é única para nós,

e nenhuma substitui a outra.

Cada um que passa em nossa vida

passa sozinho, mas não vai só...

levam um pouco de nós mesmos

e nos deixam um pouco de si mesmo.

Há os que levam muito,

mas não há os que não levam nada.

Há os que deixam muito,

mas não há os que não deixam nada.

Esta é a mais bela realidade da vida...

A prova tremenda de que cada um é importante.

E que ninguém se aproxima do outro por acaso.

(Saint Exupéry)

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por ter permitido a realização de um antigo sonho, o de concluir o curso

de Pedagogia;

A minha mãe Ruth pelo incentivo na escolha da profissão


Ao meu filho Caio, por suportar minha ausência.

Ao meu marido Sandro pela colaboração, dedicação e incentivo.

As amigas Dulcy Helena, Ana Cristina e Eliana por me ajudarem nessa minha

caminhada.

As colegas e professores que tive o prazer de conviver no curso do PROESF.

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APRESENTAÇÃO

Nesse Memorial pretendo discorrer sobre um breve histórico da minha vida


escolar, meu cotidiano em sala de aula e as contribuições que o curso do PROESF-
(Programa Especial para Formação de Professores em Exercício da RMC) trouxe para
minha prática como educadora.

Os temas que pretendo abordar são aqueles que mais contribuíram para reflexões
e mudanças no meu cotidiano na sala de aula. Aprendizagem Significativa e Avaliação.

Acredito que estes dois temas sempre me causaram inquietude, devido ao tipo de
aprendizagem que tive acesso no ensino fundamental e médio, onde o professor era o
dono do saber e seu ensino algo pronto e acabado, não dando oportunidades aos alunos
de se expressarem, e onde suas avaliações através de prova ou testes tinham como
finalidade a classificação.

Infelizmente nós docentes, principalmente quando começamos a lecionar


acabamos muitas vezes por imitar nossos antigos professores e não damos conta que os
mesmo mal causados a nós se darão aos nossos alunos.

Foi por esse motivo que fui em busca de novos conhecimentos, e pretendo aqui
estar relatando um pouco dessa vivência e as contribuições que o PROESF teve junto a
essa minha busca.

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Capitulo 1-Minha vida escolar

“As imprecisões se salvam quando o


professor se vê diante delas, com o
programa e o manual em mãos. Ali, ele
encontra as respostas prontas. Ao repeti-las,
no entanto, perde o direito de ser chamado
educador”.

Nidelcoff, 1978

Minha vida escolar iniciou-se aos 7 anos de idade, lembro muito bem do meu
primeiro dia na escola, várias crianças correndo pelo pátio, alegres, outras como eu, só
observando. O cheiro de uniformes novos, bolsas novas, tudo era mágico! Deu o sinal e
fomos todos para fila. Lá estava ela, dona Mariazinha, a figura mais encantadora que já
tinha visto na vida, minha professora, minha primeira professora. Entramos na sala de
aula e eu não conseguia tirar os olhos dela, pensava que aquela pessoa que ali estava era
a dona de todo o saber do mundo. Quando ela me olhava meus olhos brilhavam e a
vontade que tinha era de abraçá-la e dizer o quanto a admirava. HILAL (1985, p.19) cita
que:

"O primeiro professor de uma criança tem muito grande


importância na atitude futura desse educando, não só durante a
sua fase de aprendizagem, mas na sua relação com os
sucessivos professores”.

Outro momento que me foi muito especial foi quando recebi minha cartilha
“Caminho Suave” novinha, cheia de figura e letras. Dona Mariazinha disse que aquela
cartilha que nos ensinaria a ler e escrever e que tínhamos que cuidar dela com carinho.

Todo o dia lia a cartilha com suas famílias silábicas e a lição de casa era ler
“decorar” as palavras que ficavam na página ao lado do texto. Chegava em casa e minha
mãe me ajudava a decorar aquelas palavras e meu maior orgulho era quando dona
Mariazinha me pedia para ler e no final me dava os parabéns.
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O método utilizado pela minha professora da 1ª série retratava os fundamentos
de um modelo tradicional de educação, onde o papel do professor é dominante, um
transmissor de conhecimentos e informações e também onde a aprendizagem se dá
através da memorização de modelos fornecidos.

A alfabetização era desvinculada de seus usos sociais. Os aspectos centrais do


processo eram entendidos como a decifração e domínio de códigos (processo
mecânico), dando ênfase na preocupação com erros ortográficos e a descontextualização
da própria atividade de leitura e escrita.

Não havia uma aprendizagem significativa, na qual há um relacionamento entre


o conteúdo a ser aprendido e aquilo que o aluno já sabe, especificamente com alguns
aspectos essenciais de sua estrutura cognitiva, como por exemplo, uma imagem, um
conceito, uma proposição. Nesse sentido, David Ausubel argumenta que:

“Se eu tivesse que reduzir toda a Psicologia da Educação a um


único principio, eu formularia este:de todos os fatores que
influenciam a aprendizagem, o mais importante consiste no que
o aluno já sabe. Investigue e ensine-se ao aluno de uma forma
conseqüente”.(David Ausubel, 1968)

Realmente a aprendizagem não era significativa, parecia tudo muito mecânico. Não me
lembro de nenhuma vez a, minha professora perguntar-me sobre algo que estava
ensinando ou pedir que expressasse minha opinião. Ao contrário, todas as vezes que
algum aluno erguia a mão para dizer algo ou dar algum exemplo que estivesse
relacionado com o que estava sendo ensinado, a professora dizia: “Agora não é hora
para conversa, eu estou explicando, peço que façam silêncio ou atrapalharão a minha
aula”.

Apesar de suas aulas sempre iguais, Dona Mariazinha era muito boazinha, nos
tratava com muito carinho, seu tom de voz era calmo e suave.

Não acredito que ela não se preocupava em nos ensinar de maneira diferente,
mas talvez esse fosse o único método que os professores conhecessem.

Na segunda série minha professora era Dona Áurea, uma pessoa muito nervosa
da qual não trago nenhuma recordação boa. Gritava muito, exigia que sempre

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estivéssemos em silêncio e deixava bem claro a sua preferência por alunos que
possuíam um poder aquisitivo maior.

O seu método de ensino era igual ao de Dona Mariazinha, porém não havia
aquele carinho que se faz tão necessário nos nossos primeiros anos escolares. A
afetividade entre professor e aluno era vista como ato secundário, o importante era
transmitir o conhecimento. (SAVIANI, 1991, p.18), referindo-se á essa relação
professor-aluno na escola tradicional, mostra-nos que o professor: “Transmite, segundo
uma gradação lógica, o acervo cultural aos alunos. A estes cabe assimilar os
conhecimentos que lhes são transmitidos”.

Na terceira série estudei com Dona Natalina, ela assumiu a sala em março, pois a
professora da sala, Dona Ane, se aposentou. Dona Natalina era nova na profissão, mas
era muito competente, seguia o mesmo método da outras professoras, porém usando um
pouco do cognitivo (conteúdo total de idéias de um indivíduo e sua organização). Pedia
que escrevêssemos sobre nossas vidas e fizéssemos associação sobre o que estava sendo
dado. Ao lembrar-me hoje de suas aulas, acredito que às vezes ficava um pouco
insegura, mas não mudava sua postura, fazia trabalhos diversificados, nos dava bastante
atenção, perguntava nossas opiniões, era realmente uma pessoa fascinante.

Segundo Ausubel (1978, p.41), “A essência do processo de


aprendizagem significativa é que idéias simbolicamente
expressas sejam relacionadas de maneira substantiva ( não
literal) e não arbitrária ao que o aprendiz já sabe, ou seja, a
algum aspecto de sua estrutura cognitiva especificamente
relevante para a aprendizagem dessas idéias”.

Tive a felicidade de trabalhar com ela mais tarde como professora, e sempre que tinha
uma oportunidade lhe falava o quanto ela fora importante na minha vida. Até hoje
quando vou visitar minha mãe na cidade onde morava e a encontro fico muito feliz.

A professora da quarta série não gosto nem de lembrar, Dona Dulce, separava a
classe entre “fortes e “fracos”. Os fortes sentavam na frente e os fracos atrás. Naquela
época comecei a ir muito mal as aulas, copiava tudo errado da lousa e todos os dias ela
me humilhava, enchia meu caderno de vermelho, falava que eu não sabia nem copiar,
pedia para uma aluna da frente sentar em meu lugar e falar se enxergava daquele lugar

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ou não. As respostas eram sempre as mesmas: ”enxergo muito bem professora”. Isso
servia para que ela me humilhasse ainda mais. No meio do ano, teve um teste de visão
na escola e foi constatado que eu necessitava de óculos. Lembro até hoje quando entrei
na sala de óculos, ela me olhou deu um sorrisinho e disse: _ “Queridinha seu problema
era de visão, né”? Tive vontade de pular no pescoço dela, mas me controlei, dei-lhe
também um sorrisinho e respondi: _ “Pois é, vai ver não sou tão ruim assim”.

Da 5ª a 8ª série, foi tudo igual, cópias de livros, questionários e perguntas


decoradas para as provas. Não lembro de nenhuma pergunta ou resposta que estudei
naquela época, em matemática aprendia o que o professor ensinava, pois sempre gostei
dessa matéria, apesar de nunca entender a função dos exercícios dados.

Paulo Freire, maior educador brasileiro, criticou intensamente esse modelo


educacional. Ele dizia: a educação autêntica não se faz de A para B ou de A sobre B,
mas de A com B. Ensinar não é apenas transmitir conhecimento, mas criar as
possibilidades para sua própria produção ou construção.

Em Português era muito boa em redação, principalmente quando o professor


deixava que escrevêssemos nossas idéias, mas em gramática era uma negação. Como
dizia os professores daquela época, tirava um “c” magro, nas provas, para passar.

Segundo Perrenoud (1999), a avaliação da aprendizagem, no novo paradigma, é


um processo mediador na construção do currículo e se encontra intimamente
relacionada à gestão da aprendizagem dos alunos. Na avaliação da aprendizagem, o
professor não deve permitir que os resultados das provas periódicas, geralmente de
caráter classificatório, sejam supervalorizados em detrimento de suas observações
diárias, de caráter diagnóstico. O professor, que trabalha numa dinâmica interativa, tem
noção, ao longo de todo o ano, da participação e produtividade de cada aluno. É preciso
deixar claro que a prova é somente uma formalidade do sistema escolar. Como, em
geral, a avaliação formal é datada e obrigatória, devem-se ter inúmeros cuidados em sua
elaboração e aplicação.

No 1º colegial não houve nenhuma mudança, as aulas eram as mesmas, o ensino


o mesmo e avaliações continuavam de caráter classificatório.

Em 1987 ingressei no Magistério, não por vontade própria, mas por sugestão de
minha mãe, que era secretária de escola e achava que ser professora era a melhor

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profissão que uma mulher poderia exercer. Minha vontade era fazer contabilidade, pois
sempre gostei de matemática, mas para agradar minha mãe e por achar que conseguiria
um emprego nessa área mais facilmente acabei por optar pelo magistério.

Após três anos de estudo, ainda não me agradava à idéia de lecionar, porém com
o diploma nas mãos e sem outra opção, pois a cidade em que eu morava era muito
pequena e a oferta de emprego menor ainda, comecei a lecionar como substituta
eventual.

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Capitulo 2-Minha prática como docente

“A mente que se abre a uma


nova idéia jamais volta ao se
tamanho original”

Einstein

Minha primeira experiência como professora não foi nada agradável, fui dar aula
em uma fazenda e ao chegar em frente a sala de aula me deparei com uma vaca bem na
porta. Eu e os alunos pulamos a janela, pois a bendita na arredava o pé. No final da aula
me entra pela janela um urubu, que ficou sobrevoando a sala até o final da aula. Quase
morri do coração, voltei chorando para casa e falei a minha mãe que nunca mais iria dar
aula na minha vida.

Bem, não foi assim que aconteceu, dali alguns dias lá estava eu trabalhando.
Logo consegui uma vaga de estagiária por dois anos e comecei a pegar amor pela minha
profissão. Ao término do estágio passei em um concurso da prefeitura e comecei a
lecionar na Educação Infantil e concomitantemente como substituta no Estado.

Durante oito anos trabalhei na Educação Infantil, mas nunca me efetivei, fiz três
concursos e passei em todos, porém minha classificação nunca era suficiente para me
efetivar, pois eu não tinha QI ( quem indique), coisas de cidade pequena onde só passa
no concurso e tem uma boa classificação quem tem amigos que são ligados a
política.Isso me revoltava muito, mas tinha que trabalhar e acabava aceitando assumir a
sala de algum coordenador, desde que mantivesse meu emprego e pudesse estar junto
das crianças, que a essa altura já faziam parte da minha vida, proporcionando-me uma
enorme satisfação em fazer parte do aprendizado delas.

No Estado trabalhava como substituta eventual, cada dia em uma sala e às vezes
pegava a licença de alguma professora por alguns meses. Era muito ruim, quando estava
conhecendo bem os alunos e suas dificuldades a professora voltava e lá ia eu de novo
assumir outra sala.

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Em 1998, me casei e vim para Americana e já no começo do ano peguei aula na
Delegacia de Ensino pelo Estado. Fiquei lecionando como substituta eventual por mais
dois anos, até que assumi uma sala na Prefeitura de Santa Bárbara D’ Oeste de um
concurso que eu havia realizado em 1999.

Sempre sonhei em estar cursando uma faculdade e, em julho de 2003 graças ao


um convenio firmado pela prefeitura junto a Unicamp este sonho começou a ser
concretizado através do curso do PROESF.

Quando comecei a lecionar em 1990, sempre tive em mente que, como


professora, não gostaria de seguir o método em que fui ensinada, queria algo novo, que
realmente fizesse com que os alunos sentissem prazer em aprender. Porém, não foi bem
assim que aconteceu. A escola em que lecionava já tinha um planejamento a ser seguido
e logo vi minhas aulas sendo uma reprodução de meus antigos professores.

Pegava um livro didático qualquer da série que estava trabalhando, dava cópias,
exercício dos livros e no final do bimestre aplicava provas para verificar se os alunos
tinham assimilado os conteúdos dados.

Segundo BORGES (1995),muitas vezes o professor não recebe todo o resguardo


necessário para aumentar seu conhecimento e conseqüentemente favorece a utilização
de livros didáticos com respostas prontas, dispensando assim a ato de refletir e a
produção do saber da produção do saber.

Quando os alunos iam mal às provas, preferia acreditar que era por não terem
estudado o bastante, mas no fundo sabia que o erro estava no método de ensino que eu
estava utilizando.

É comum que os currículos escolares sejam organizados em torno de um


conjunto de disciplinas nitidamente diferenciadas, dominadas por uma ritualização de
procedimentos escolares muitas vezes obsoletos, cujos conteúdos se apóiam numa
organização rigidamente estabelecida, desconectada das experiências dos próprios
aprendizes e na qual uma etapa é preparação para a seguinte. A despeito de todo avanço
das pesquisas em educação, da ciência e da tecnologia, as aulas mais se assemelham a
modelos do início do século, tendo como perspectiva metodológica dominante a
exposição, a exercitação e a comprovação.

Esse fato sempre me causou uma grande angústia, até que um dia ouvi na minha
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escola uma diretora dizendo “temos que formar alunos críticos”.

Para tanto, é necessário que o processo educativo seja desenvolvido visando


colaborar com o desenvolvimento da consciência critica do educando.

A conscientização deveria ser “o primeiro objetivo da


educação”: somente o amadurecimento da consciência
possibilita ao individuo passar do nível de consciência ingênua
ao de consciência critica, para que possa se reconhecer como

um ser atuante na construção da própria história e da realidade


social que faz parte. (Freire 1980, p.40)

Essa foi à deixa que faltava para que eu questionasse os conteúdos “prontos” e
“acabados” que nos eram impostos.

Segundo Perón (2001), podemos perceber a “Necessidade da atuação de


profissionais reflexivos no contexto escolar, buscando, constantemente, a construção
coletiva e a efetivação cotidiana do projeto político-pedagógico da escola, a partir das
condições institucionais concretas que possibilitem a participação coletiva e o contínuo
exercício da atividade reflexiva” p.354.

Começamos a avaliar nossas posturas, mas sempre apareciam mudanças vindas


da Delegacia de Ensino, que deveriam ser acatadas e colocadas em prática.

Muitas vezes não sabia como fazê-lo, pois na época eu era substituta eventual e
os cursos de capacitação eram oferecidos para professores efetivos, que depois
passariam para nós o que aprenderam, o que também não acontecia.

Lembro bem das falas dos meus colegas: “Ah! É o tal de construtivismo, não
deu para entender muito bem, acho que o aluno tem que construir sua aprendizagem”.

Decidi então mudar por conta própria, seguia o currículo escolar, mas como
estes conteúdos eram passados eu mesma tratei de torná-los mais interessantes.

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CAPITULO 3-A NOVA VISÃO COM O PROESF

“Ninguém liberta ninguém.


Ninguém se liberta sozinho. As
pessoas se libertam em
comunhão” – Paulo Freire

Ingressei no curso do PROESF em julho de 2003. Vi então um sonho a se


concretizar, o Ensino Superior, que tanto almejava.

Sempre tive a necessidade de um conhecimento mais amplo para que através da


teoria compreendesse os acontecimentos da sala de aula.

Como citei anteriormente nunca aceitei os métodos de ensino utilizados em sala


de aula, que apesar de todo o discurso feito em cima dos “novos métodos”, a maioria
das professoras só os conhecia, quando conhecia, na teoria, na prática mesmo
continuava utilizando cadernos pilotos dos anos anteriores.

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Lembro-me de uma professora da primeira série na época que eu era estagiária,
o caderno que ela utilizava já estava com as folhas amareladas, porém ela nunca aceitou
trabalhar de outra maneira a não ser aquela que dizia acreditar que era a certa. Quando a
diretora a questionava, dizia que sempre ensinou daquele jeito e deu certo, não via razão
para mudar.

Eu nunca aceitei o fato de não estar aberta as mudanças e vivia em um constante


conflito, tentava dar minhas aulas de uma maneira diferente e, muitas vezes agüentei
colegas me torcendo o nariz, dizendo que eu queria aparecer e que minha aula era uma
bagunça, que eu só enrolava.

Todas as matérias o PROESF foram de grande ajuda para que eu pudesse estar
mudando meu olhar diante do meu cotidiano em sala de aula, porém aqui pretendo
discorrer sobre duas que serviram de abertura para uma nova visão e uma reflexão mais
profunda da minha prática.

A Aprendizagem Significativa que tanto buscava estar trabalhando com meus


alunos e que muitas vezes não sabia como fazê-lo e a Avaliação que por insegurança e
falta de conhecimentos mais aprofundados acabava sendo feita através de provas com
um ato de examinar classificatório e seletivo.

CAPITULO 3.1 -APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

“O método é letra morta; a ele o professor deve acrescentar a


cor, o movimento, à vida. Para um professor existem dois
sujeitos a serem estudados: as crianças e ele mesmo. Duas
coisas para sua realização: a educação delas e a sua própria” ·
MARIE CARPENTIER

Como já deixei claro nos relatos anteriores, uma das minhas maiores
preocupações como educadora era meus alunos aprendessem significativamente fazendo
uma ponte entre o que ele já sabiam e o que precisavam saber. Para Leite e Tassoni,
“planejar o ensino a partir do que o aluno já sabe sobre o objeto em questão, aumenta as
possibilidades de se desenvolver uma aprendizagem significativa, marcada pelo sucesso
do aluno em apropriar-se daquele conhecimento” (2002, p.133).
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Atualmente para que uma aprendizagem ocorra, ela deve ser significativa, o que
exige que seja vista como a compreensão de significados, relacionando-se às
experiências anteriores e vivências pessoais dos alunos, permitindo a formulação de
problemas de algum modo desafiantes que incentivem o aprender mais, o
estabelecimento de diferentes tipos de relações entre fatos, objetos, acontecimentos,
noções e conceitos, desencadeando modificações de comportamentos e contribuindo
para a utilização do que é aprendido em diferentes situações.

Falar em aprendizagem significativa é assumir que aprender possui um caráter


dinâmico que exige ações de ensino direcionadas para que os alunos aprofundem e
ampliem os significados elaborados mediante suas participações nas atividades de
ensino e aprendizagem. Nessa concepção o ensino é um conjunto de atividades
sistemáticas, cuidadosamente planejadas, em torno das quais, conteúdo e forma
articulam-se inevitavelmente A atuação de um professor em sala de aula deve estar
voltada primordialmente para a utilização daquelas estratégias que facilitem, nos seus
alunos, a aquisição de uma estrutura cognitiva adequada, no qual os conceitos mais
amplos das diversas disciplinas estejam claramente estabelecidos. Se a estrutura
cognitiva de um aluno for clara e organizada adequadamente, a aprendizagem e a
retenção de um assunto novo são sensivelmente facilitadas. Se for instável, ambígua,
desorganizada, a aprendizagem fica prejudicada.

Uma aprendizagem significativa está relacionada à possibilidade dos alunos


aprenderem por múltiplos caminhos e formas de inteligência, permitindo aos estudantes
usar diversos meios e modos de expressão. De fato, se analisarmos os princípios da
aprendizagem significativa já não parece ter lugar a concepção dominante de
inteligência única, que possa ser quantificada e que sirva como padrão de comparação
entre pessoas diferentes, para apontar suas desigualdades.

Uma visão pluralista da mente reconhece muitas facetas diversas da cognição,


reconhece também que as pessoas têm forças cognitivas diferenciadas e estilos de
aprendizagens contrastantes.

Hoje percebo a necessidade do aluno e do professor interagir, como sujeitos na


dinâmica do processo ensino-aprendizagem na qual acontece o desenvolvimento de
competências, preparando, assim, o aluno para a solução de problemas, em que os
conhecimentos significativos são mobilizados, enfrentando o presente, com vistas à
preparação do futuro. No cotidiano escolar, o professor pode estar entrando na sala de

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aula, como se esta fosse um laboratório vivo, um espaço de relações, questionamentos,
descobertas, construções e experiências individuais e coletivas. E pode vivenciar o
contexto, logo quando inicia a sua ação docente, utilizando atividades que facilitem um
situar-se diante da bagagem cultural, das experiências do aluno e dos acontecimentos,
dos fatos históricos e sociais da humanidade que afetam o processo ensino-
aprendizagem.

E com essa a leitura da realidade, o professor num processo interativo,


desenvolve atividades que envolvem o sentir, o saborear internamente, o ter motivação.
Estas atividades caracterizam a experiência que cria espaço para que o conhecimento
intelectual se conecte com o afetivo, com os movimentos psicomotores, projetando
situações que exercitam a criatividade, a imaginação, os sentimentos, a expressão dos
sentidos.

Com esse novo olhar mudei minha prática em sala de aula e hoje colho o fruto
dessas mudanças, vendo meus alunos mais participativos, minhas aulas mais
interessantes e os elogios de minha coordenadora e pais quanto ao interesse de seus
filhos pelos estudos.

“Por aprendizagem significativa entendo uma


aprendizagem que é mais do que uma acumulação de fatos. É
uma aprendizagem que provoca uma modificação, quer seja no
comportamento do individuo, na orientação futura que escolhe
ou nas suas atitudes e personalidades. É uma aprendizagem
penetrante, que não se limita ao aumento de conhecimento, mas
que penetra profundamente todas as parcelas de sua
existência”. (Rogers, 1988, p.271)

CAPITULO 3.2-AVALIAÇÃO
“Conceber e nomear o fazer testes, o dar notas, por avaliação é

uma atitude simplista e ingênua, significa reduzir o processo


avaliativo, de acompanhamento e ação com base na reflexão, a
pacos instrumentos auxiliares desse processo, como se
nomeássemos por bisturi um procedimento cirúrgico”

Jussara Hoffmam

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Quanto a Avaliação não acreditava que uma prova com perguntas decoradas
viesse acrescentar muito na aprendizagem de meus alunos, existe todo um
desenvolvimento durante o ano e este deveria ser levado em conta, como diagnóstico
dos avanços e dificuldades.

Porém sempre existiram aquelas inseguranças, “o que mostrar aos pais no dia da
reunião?”, “O que colocar nas papeletas?” e acabava por reduzir minhas avaliações a
medidas classificatórias.

A grande maioria de nós professora, pensamos utilizar a avaliação em prol da


aprendizagem dos alunos, porém usamos de seu resultado para diagnosticar os avanços
ou as dificuldades dos mesmos. Inconscientemente temos a avaliação como instrumento
de classificação, uma vez que atribuíamos notas individuais a cada aluno, que no final
do ano seriam utilizadas unicamente para definir os alunos que seriam aprovados ou
reprovados. Cagliari 1988, defendia a idéia de que na escola não deveria haver nota,
conseqüentemente também não haveria mais a necessidade de se utilizarem os
mecanismos que geram as notas, tais como as provas, os testes, os exercícios de
avaliação e outros exemplos. Desse modo, o aluno deixaria de lado a postura de que
deveria estudar para ganhar nota e passar de ano. Segundo Cagliari, “há objetivos mais
nobres que a escola deve almejar” (1988, p.2), pois os objetivos dos estudos não são as
notas ou passar de ano. O referido autor sugere ao em vez da nota, fosse usado um
acompanhamento do progresso dos alunos para que a tarefa escolar tivesse continuidade
de um ano para outro, de um professor para outro, de modo que o aluno não precisasse
justificar, em ocasiões especiais (as provas), com medo ou sem medo, os conhecimentos
cuja escola espera que ele domine.

No entanto, apesar das idéias de Cagliari, já se vão dezesseis anos e a cultura da


prova e da nota continuam muito fortes dentro da escola. A atribuição de notas e
conceitos continua vigente nos regimentos escolares. Ao final de cada bimestre,
atendendo às exigências burocráticas da escola e do sistema educacional, os professores
têm que transformar em notas suas observações sobre o desenvolvimento dos alunos.

A avaliação é parte integrante do processo ensino/aprendizagem e ganhou na


atualidade espaço muito amplo nos processos de ensino. Requer preparo técnica e
grande capacidade de observação dos profissionais envolvidos. Segundo Perrenoud
(1999), a avaliação da aprendizagem, no novo paradigma, é um processo mediador na

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construção do currículo e se encontra intimamente relacionada à gestão da
aprendizagem dos alunos. Na avaliação da aprendizagem, o professor não deve permitir
que os resultados das provas periódicas, geralmente de caráter classificatório, sejam
supervalorizados em detrimento de suas observações diárias, de caráter diagnóstico. O
professor, que trabalha numa dinâmica interativa, tem noção, ao longo de todo o ano, da
participação e produtividade de cada aluno. É preciso deixar claro que a prova é
somente uma formalidade do sistema escolar. Como, em geral, a avaliação formal é
datada e obrigatória, devem-se ter inúmeros cuidados em sua elaboração e aplicação.

Hoffman (2000) alerta que a avaliação, sendo exercida como instrumento


classificatório, persegue um princípio de descontinuidade, separando o ato de educar e a
ação de avaliar, quando ambos fazem parte de um mesmo processo. O grau, nota ou
conceito atribuído dessa forma, sem interpretação ou questionamento, tornam-se
obstáculos para a compreensão do erro construtivo. Não se atenta para o processo de
construção da criança, pois se percebe somente o erro. Apenas constatam-se resultados e
apontá-os, sem qualquer intervenção educativa a partir deles.

“O que predomina é a nota: não importa como elas foram


obtidas, nem por quais caminhos. São operadas e manipuladas
como se nada tivesse a ver com o percurso ativo da
aprendizagem.” (Luckesi, 2001, p. 18)

Depois do estudo sobre avaliação junto ao PROESF, mudei minha postura em


relação como avaliar meus alunos, já não me importa mais com o que mostrar aos pais,
quando questionada sobre provas digo que seus filhos são avaliados a todo o momento,
num processo contínuo e constante e que utilizo desse método para estar fazendo as
interferências necessárias junto à aprendizagem.

A partir de um acompanhamento constante do processo de aprendizagem dos


alunos, trabalho individualmente com cada um que apresenta dúvidas ou que formula
hipóteses diferentes das esperadas, procurando identificar as razões das dificuldades,
esclarecer as dúvidas e inteirar-me das formas particulares que muitas vezes os alunos
encontram de resolver as atividades propostas. Através dessas intervenções individuais,
com tratamento específico e dirigido aos problemas apresentados pelos alunos, e

22
acompanhamento das dificuldades de aprendizagem em determinados conteúdos, tenho
visto ser possível produzir critérios de avaliação muito mais justos.

A anotação com reflexão do que são abordados em sala, bem como sua
descrição, os momentos importantes, o que foi eficaz, adequado e o que não foi; colocar
o porquê usando a intuição e o sentimento é recurso precioso para a elaboração das
próximas estratégias da aula. O educador deve refletir diariamente em seu dia-a-dia para
que a educação e a construção do conhecimento sejam eficazes. Pensar naquilo que foi e
não foi eficaz e o que poderia ter sido feito em uma dada situação.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o término desse memorial, reflito sobre a contribuição que o PROESF


proporcionou, tanto na minha vida pessoal quanto profissional. Foram três anos de
batalhas e desafios enfrentados no decorrer dessa caminhada.

Batalhas que a todo o momento se transformaram em conhecimento e desafios


que foram encarados como apenas mais um degrau a ser subido na escada da vida.

Mudei muito a minha visão quanto à aprendizagem e quanto educadora, revi


atitudes em sala de aula, melhorei minha interação com os alunos, aprendi como
direcionar as atividades em sala de aula, e acima de tudo como estar favorecendo a
formação de cidadãos críticos. Hoje percebo a necessidade de ouvir, dialogar, conhecer,
compartilhar os conhecimentos de forma prazerosa tanto para mim educadora, como
para meus alunos.

Termino esse memorial, agradecendo primeiramente a Deus por esta


oportunidade e a todos os professores que me orientaram nesses 3 anos de caminhada
sabendo que se houverem nossos desafios a serem enfrentados em minha vida
profissional, com certeza me reportarei a esses três anos de minha vida.

“A aprendizagem é nossa vida, desde a juventude até a velhice,


de fato quase até a morte; ninguém vive durante dez horas sem
aprender.”
Paracelso

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