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ISSN 1514-3465

Identificação dos modelos de ensino dos


esportes coletivos. Exposição de um instrumento
Identification of Teaching Models for Team Sports. Exhibition of an Instrument
Identificación de los modelos de enseñanza de los juegos deportivos. Presentación de un instrumento

Murilo Pontes Meneguela*


murilomureld@hotmail.com
Bruno Pedroso**
prof.brunopedroso@gmail.com
José Roberto Herrera Cantorani***
cantorani@yahoo.com.br
Guilherme Moreira Caetano Pinto****
guilherme-coxa@uol.com.br

**Graduado em Administração, em Licenciatura em Educação Física


e em Bacharelado em Educação Física pelas Faculdades Integradas de Itararé
Especializado em Futebol e Futsal: ciências do esporte
e metodologia do treinamento pela Universidade Gama Filho
Especializado em Psicologia do Esporte pela Uninter
Atualmente é docente do Colégio Anglo Itararé
Professor da Prefeitura Municipal de Itararé
Professor da Etec de Itararé e professor técnico
da Associação Atlética Banco do Brasil de Itararé
**Graduado em Licenciatura em Educação Física
pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)
Especializado em Treinamento Desportivo
pela Universidade Estadual de Londrina (UEL)
Especializado em Gestão Industrial: Conhecimento e Inovação
pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)
Mestre em Engenharia de Produção pela UTFPR
Doutorado em Educação Física pela UNICAMP
Pós-doutorado em Qualidade de Vida no Trabalho pela UTFPR
Pós-doutorado em Estudos Bibliométricos e Cientométricos pela UTFPR
Atualmente é professor adjunto do Departamento de Educação Física
e docente permanente do Programa de Pós-Graduação
em Ciências Sociais Aplicadas e do Programa de Pós-Graduação
em Ciências da Saúde da UEPG, e do Mestrado Profissional
em Educação Inclusiva em Rede Nacional (PROFEI)
***Graduado em Educação Física e Mestre em Ciências Sociais Aplicadas
pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)
Doutor em Educação Física pela UNICAMP (2013)
Pós-Doutorado em Ensino de Ciência e Tecnologia
pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)
Está vinculado aos grupos de pesquisa:
Esporte, Lazer e Sociedade - UEPG (pesquisador)
Avaliação da qualidade de vida e qualidade de vida no trabalho - UEPG (pesquisador)
e Gestão de recursos humanos para o ambiente produtivo - UTFPR (pesquisador)
Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP)
e docente permanente do Programa de Pós-Graduação
em Ensino de Ciência e Tecnologia (PPGECT) da UTFPR
****Professor colaborador da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)
no departamento de Educação Física
Professor da Unicesumar - campus Ponta Grossa
Dourando em Ciências Sociais Aplicadas pela UEPG
Mestre em Engenharia de Produção pela UTFPR
Graduado em Educação Física - Bacharelado e Licenciatura pela UEPG
Especialista em Educação Física Escolar pela WPÓS - Instituição de Ensino
e em Engenharia de Produção pela UTFPR
(Brasil)

Recepção: 17/07/2020 - Aceitação: 07/08/2021


1ª Revisão: 22/04/2021 - 2ª Revisão: 19/06/2021

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https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt

Citação sugerida: Meneguela, M.P., Pedroso, B., Cantorani, J.R.H., e Pinto, G.M.C. (2022). Identificação
dos modelos de ensino dos esportes coletivos. Exposição de um instrumento. Lecturas: Educación Física y
Deportes, 26(286), 180-200. https://doi.org/10.46642/efd.v26i286.2458

Resumo
O objetivo deste estudo foi propor um instrumento para identificação dos modelos de ensino utilizados
por treinadores/profissionais de Educação Física no processo ensino-aprendizagem de modalidades
esportivas coletivas. Foram identificados os seguintes modelos: Método “tradicional”, que faz uso do
mecanicismo e repetição do gesto técnico; o Modelo de Desenvolvimento dos Conteúdos dos Jogos, que é
norteado pela experiência prévia do aluno nas atividades; Modelo de Ensino dos Jogos para a sua
Compreensão, que aplica a forma de jogo progressiva e entendimento tático no aprendizado da técnica; o
Modelo de Educação Desportiva, que busca conceder caráter afetivo/social a aprendizagem; o Modelo de
Competência nos Jogos de Invasão, que permite a aprendizagem de formas modificadas dos jogos
esportivos. Pautado nestes modelos, o instrumento proposto é composto por 20 questões com cinco
alternativas de resposta em que cada qual faz alusão a um dos modelos supracitados. Adicionalmente, fora
construída uma versão de gabarito do instrumento e uma ferramenta elaborada a partir do software
Microsoft Excel para tabulação dos dados e processamento dos resultados das aplicações do instrumento.
Conclui-se que fora possível a disponibilização de um instrumento para identificação dos modelos de ensino
dos esportes coletivos de linguajar simples e rápido preenchimento, que pode contribuir com os
pesquisadores da pedagogia do esporte e Educação Física.
Unitermos: Métodos de ensino. Instrumento de avaliação. Esportes coletivos.

Abstract
This study aims to propose an instrument for identification of teaching models used by trainers/physical
education professional in the teaching of collective sports process. The following models in the literature
have been identified: the “traditional” model, used by mechanism and repetition of the technical
movement; Development of game content, used the students experience in exercises; the games for sports
understanding, model used the progressive form and tactic understanding for learned the technique;
Sports education, have as goal to confer affective/social character to learning; and competency in invasion
games methods allows learning in modified forms the sports games. Lined in these models, the proposed
instrument consists of 20 questions with five possible answers each of which refers to one of the models.
In addition, we built an answer sheet version of the instrument and an elaborated tool from the Microsoft
Excel software for data tabulation and processing of the results of instrument applications. We concluded it
was possible to provide an instrument to identify the teaching models for collective sports, with a simple
language and fast filling, which originality turns it into a real contribution for researchers of sport pedagogy
area and other branches of Physical Education.
Keywords: Teaching methods. Measurement instrument. Collective sports.

Resumen
El objetivo de este estudio fue proponer un instrumento para identificar los modelos de enseñanza
utilizados por los entrenadores/profesionales de Educación Física en el proceso de enseñanza-aprendizaje
de los deportes colectivos. Se identificaron los siguientes modelos: método “tradicional”, que hace uso de la
mecánica y la repetición del gesto técnico; el Modelo de Desarrollo de Contenidos del Juego, que se guía
por la experiencia previa del alumno en las actividades; Modelo de Enseñanza de Juegos para la
Comprensión, que aplica la forma de juego progresiva y la comprensión táctica en el aprendizaje de la
técnica; el Modelo de Educación Deportiva, que busca dar un carácter afectivo/social al aprendizaje; el
Modelo de Competencias en Juegos de Invasión, que permite el aprendizaje de formas modificadas de
juegos deportivos. En base a estos modelos, el instrumento propuesto está compuesto por 20 preguntas
con cinco alternativas de respuesta en las que cada una alude a uno de los modelos antes mencionados.
Además, se construyó una versión de plantilla del instrumento y una herramienta desarrollada a partir del
software Microsoft Excel para tabular datos y procesar los resultados de las aplicaciones del instrumento.
Se concluye que fue posible brindar un instrumento para identificar los modelos de enseñanza de los
deportes colectivos en un lenguaje sencillo y de rápida terminación, que puede contribuir a los
investigadores en la pedagogía del deporte y la Educación Física.
Palabras clave: Métodos de enseñanza. Instrumento de evaluación. Deportes colectivos.

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 26, Núm. 286, Mar. (2022)

Introdução

O esporte contemporâneo, de acordo com Noce, Simim, e Mello (2009), e Alves et al. (2012), caracteriza-se como um
fenômeno plural e multifacetado que, de certa maneira, atinge todas as camadas sociais e é estudado por diversas áreas
acadêmicas. Quanto às suas inter-relações com o campo da saúde e seu processo de ressignificação, como
preponderantes à sua legitimidade pedagógica,o estudo do esporte perpassa por avanços na compreensão de suas
características.

Neste sentido, cabe destacar que para Devide (1996) o conceito de saúde, cujo qual a área da Educação Física tem
íntima ligação, é caracterizado como multifatorial. Portanto, como define Ferreira (2001), apenas os conhecimentos de
cunho biológico não garantem uma autonomia na prática do esporte, visto que este é também de um fenômeno social,
político, econômico e cultural. Sendo assim, é necessário que o debate se amplie e envolva fatores sociais, tais como o
acesso ao lazer e a falta de espaços públicos para a prática do esporte, que podem estar ligados a inatividade física,
associada ao desenvolvimento de diversas doenças com relação ou não às suas possíveis comorbidades, prejudicando a
qualidade de vida e aumentando o risco de morte. (Devide, 2002; Malta, 2014; Polissini. e Ribeiro, 2014, Who, 2018).

Imagem 1. A prática esportiva no processo de formação é influenciada pelos


valores que os atores (crianças e jovens) trazem consigo para o contexto esportivo

Fonte: Pexels.com. Foto: Gustavo Linhares

Com isso, Tubino (2001) afirma que o esporte tem na pluralidade uma das suas principais características. Tal preceito
significa que sua prática pode acontecer em diversos ambientes, tais como escolas, clubes, praças, ruas e centros
esportivos. Já a sua disponibilidade pode ser direcionada acrianças, jovens, adultos e/ou idosos. Por fim, seus objetivos
podem ser a prática profissional, ocupação do tempo livre e atividade educacional.

Alicerçado na pluralidade acima destacada, Tubino (2001) evidencia as dimensões sociais do esporte. O Esporte
Educação deve evitar a seletividade, a segregação, e a competitividade exacerbada, oportunizando aos discentes a
vivência de diferentes modalidades que fazem parte da cultura do movimento, ensinando-os a se movimentarem melhor,
a desenvolver uma compreensão geral acerca do corpo humano, e a refletir de forma crítica ante a problemas sociais
relacionados ou não ao esporte (Tubino, 2001; Kunz, 2004; Darido, e Rangel, 2008). Já o Esporte Participação direciona-
se à busca pela garantia da diversão e do bem-estar dos praticantes. Por fim, o Esporte Rendimento está direcionado a
prática esportiva profissional. (Tubino, 2001)

Face a tais fatores, o esporte é um meio para a aquisição de valores sociais que podem ser desenvolvidos através do
exame crítico de fatores ambientais, políticos e econômicos. Neste contexto é possível que o praticante, além de executar
os movimentos, possa ser convidado a refletir sobre fatores que transcendem o gesto técnico, tais como a cooperação, o
respeito a individualidade e a construção coletiva (Ferreira, 2001; Tubino, 2001). Portanto, a luz das dimensões sociais e
da pluralidade observa-se um nítido movimento de ruptura com o paradigma que liga o esporte exclusivamente ao
contexto da aptidão física e do rendimento, visto que sua prática pode estar direcionada a diferentes públicos e
objetivos.

Até então, uma significativa parcela dos processos de ensino-aprendizagem eram atrelados apenas ao rendimento
físico oriundo do adestramento do indivíduo, sendo realizados de forma repetitiva e exaustiva (Kunz, 2004). Ademais,
havia uma grande busca e valorização do resultado esportivo. Tais fatores, por expor o indivíduo a sobrecarga física e
emocional, impulsionam a ocorrência da especialização esportiva precoce, nociva ao indivíduo por acarretar problemas
físicos e psicológicos que resultam no possível abandono da prática, em uma formação esportiva ineficiente e na
unilateralização do desenvolvimento do indivíduo. (Kunz, 2004; Nunomura, Carrara, e Tsukamoto, 2010; Milistetd et al.,
2014)

No entanto, a partir da ressignificação esportiva a corrente da “prática pela prática” foi superada, entendendo-se ser
necessária a compreensão do esporte em todas as suas dimensões e possibilidades (Rufino, e Darido, 2012;2013). As
contribuições científicas de natureza multi/interdisciplinar indicaram a necessidade de ampliar o olhar a outros modelos
no campo da Educação Física (Correia, 2012), discutindo elementos como o estímulo à criação, diversificação e inovação.
(Galatti et al., 2017; Oliveira, e Lanes, 2020)

Neste contexto surgem diversos modelos pedagógicos para o ensino-aprendizagem, tais como o Modelo de
Desenvolvimento dos Conteúdos dos Jogos, o Modelo de Ensino dos Jogos para a sua Compreensão, o Modelo de
Educação Desportiva e o Modelo de Competência nos Jogos de Invasão. Em geral, estes modelos são estudados pela
área da pedagogia do esporte, que considera que é na infância, em clubes, escolas formais e instituições esportivas, que
ocorre o primeiro contato formal do indivíduo com o esporte. Também é neste momento que surgem problemas de
ordem metodológica em relação ao seu ensino, que podem reduzir o aproveitamento da riqueza motora e cultural do
indivíduo para com o meio. (Noce, Simim. e Mello, 2009)

Para tanto, a pedagogia do esporte busca evitar equívocos que ocasionem os problemas acima mencionados,
estudando as práticas esportivas e entendendo sua natureza complexa (Oliveira, e Lanes, 2020). O esporte atingiu
tamanha dimensão sociocultural que não se pode entregá-lo às instituições e simplesmente deixá-lo acontecer. Cabe aos
professores buscar, por meio da pedagogia e dos modelos de ensino, a formação humana dos indivíduos, analisando os
aspectos pedagógicos, metodológicos, estratégicos, didáticos e os conteúdos a serem aplicados. (Santana, 2008;
Reverdito, e Scaglia, 2009)
Aqui, cabe destacar que a teoria do Coletivo de Autores (1992), ao mencionar a cultura corporal do movimento, prevê
que o ensino do esporte precisa ser norteado pelos fundamentos metodológicos ancorados na lógica dialética, sendo
sistematizado e organizado de forma a abarcar o princípio da relevância, da contemporaneidade, do ajuste às
possibilidades sociocognitivas dos alunos e da provisoriedade do conhecimento. Alicerçado nesta teoria, bem como nas
dimensões sociais do esporte de Tubino (2001), ressalta-se que o presente estudo se refere ao esporte no âmbito da
formação esportiva direcionada aos esportes coletivos, especialmente aquele vivenciado em escolas, clubes ou centros
esportivos por crianças ou jovens. Entende-se ainda que a prática esportiva no processo de formação é influenciada
pelos valores que os atores (crianças e jovens) trazem consigo para o contexto esportivo, e que o processo de ensino
aprendizagem deve considerar os modelos existentes.

É inegável que o emprego de diferentes metodologias almeje promover a máxima participação do indivíduo, evitando
longos períodos de inatividade que diminuem a sua motivação para a prática (Resende, e Lima, 2017). Logo, a detecção
da utilização do método de ensino é fundamental. Neste sentido, o presente estudo justifica-se por apresentar um
instrumento que tem potencial para ser aplicado por profissionais da Educação Física, no intuito de obter informações
que podem embasar a tomada de decisão, bem como por pesquisadores da área, a fim de impulsionar pesquisas
científicas, como será discutido na apresentação do “Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos
Esportivos”.

Face ao exposto, o presente estudo tem como objetivo propor um instrumento para identificação dos modelos de
ensino utilizados por treinadores/profissionais de Educação Física no processo ensino-aprendizagem de modalidades
esportivas coletivas.

Metodologia

Trata-se de uma pesquisa exploratória de abordagem quanti-qualitativa, alicerçada em Gil (2008), visto que foi
efetuada uma discussão ampliada do objeto de estudo e promove-se, inclusive, um diálogo entre a ressignificação de
campos inerentes às relações do esporte, da saúde e da pedagogia do esporte.

O marco teórico referencial do presente estudo foi centrado no capítulo intitulado “Modelos de ensino dos jogos
esportivos”, de autoria de Graça, e Mesquita (2006), que integra o livro Pedagogia do Desporto, organizado por Go Tani,
Jorge Olímpio Bento, e Ricardo Demétrio de Souza Petersen. O referido capítulo, ao considerar elementos que foram
expostos como responsáveis pela ressignificação esportiva e indicar que o processo de ensino-aprendizagem é uma
competência cultural na qual é necessário a interação entre os atores envolvidos, descreve os seguintes modelos de
ensino: Método “tradicional”, pautado na concepção mecanicista de ensino, descrita por Garganta em 2006; o Modelo de
Desenvolvimentos dos Conteúdos dos Jogos; Modelo de Ensino dos Jogos para a sua Compreensão; o Modelo de
Educação Desportiva; o Modelo de Competência nos Jogos de Invasão (Graça, e Mesquita, 2006). Logo, a construção do
Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos foi embasada em tais modelos.

Com relação à elaboração das questões, foram seguidos dois critérios básicos: a) A questão, obrigatoriamente, deveria
possibilitar as respostas contemplassem a teoria preconizada em todos os modelos supramencionados; b) a questão deve
representar situações pertinentes ao cotidiano de treinadores/profissionais de Educação Física no exercício de sua prática
profissional. Não obstante, optou-se por elaborar questões de múltipla escolha. Na elaboração das respostas, cada
alternativa foi construída de forma a representar um dos modelos de ensino elencados no presente trabalho.

O Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos foi construído para ser respondido com
base nas seguintes instruções e critérios de inclusão e não-inclusão.

Critérios de inclusão

• Questionário desenvolvido para ser aplicado em professores/treinadores que atuam no ensino do esporte em
escolas, clubes e centros esportivos, em que o público alvo seja pessoas com até 18 anos de idade. Acima desta

idade os objetivos para a prática tendem a ser outros (exemplo rendimento ou lazer), o que pode fragilizar os

dados levantados.

• Instrumento confeccionado para ser aplicado em professores/treinadores que atuam no ensino do esporte coletivo
de invasão, visto que a teoria apresentada por Graça, e Mesquita (2006) não se destina ao estudo de esportes

individuais ou de outra natureza.

Critérios de não-inclusão

• O respondente deve assinalar apenas uma alternativa de resposta dentre as disponíveis em cada questão.
Portanto, questões com duas respostas assinaladas devem ser desconsideradas. Este critério justifica-se em

virtude de que duas respostas a uma mesma questão podem se tornar conflitantes, impedindo a identificação do

modelo de ensino via gabarito de respostas.

• As respostas devem ser baseadas na percepção do respondente em relação à sua condução do treinamento
esportivo. Percepções externas a do respondente podem implicar em conflitos de análise, reduzindo a

confiabilidade do instrumento.

• O respondente deve tomar como referência em suas respostas um período pertinente as oito últimas semanas de
trabalho. O período estipulado busca evitar distúrbios de análise oriundo de possíveis oscilações ao se considerar

períodos muito curtos, bem como minimizar conflitos de análise e imprecisão de informações ao se considerar

períodos demasiadamente longos.

• Devem ser contabilizados na amostra apenas os respondentes que preencherem corretamente (uma alternativa
entre A e E) ao menos 80% do total de questões do instrumento (16 ou mais questões). Entende-se que

questionários com resolução inferior a 80% diminui a confiabilidade do instrumento, alicerçado em estudos

direcionados a validação de instrumentos. (Pedroso, e Pilatti, 2012)

Após sua consecução, o referido instrumento foi submetido a validação de face e conteúdo. A literatura prevê que a
validade de conteúdo de um instrumento de medida é avaliada pelo julgamento por meio dos juízes do quanto os itens
selecionados para compor o instrumento estão relacionados a temática em exame. Normalmente o referido teste ocorre
via parecer de especialistas ou através do julgamento por membros do público-alvo, conforme descrito por Pilatti,
Pedroso, e Gutierrez (2010). Para ser considerado válido, um instrumento deve ter uma taxa de concordância entre os
especialistas superior a 90% Alexandre, e Coluci, (2011). No presente estudo, a validade de conteúdo foi realizada
através do envio do instrumento para análise de dois pesquisadores doutores com vinculação a programas de pós-
graduação stricto sensu da área da Educação Física.

Já a validação de face foi realizada por um profissional da área da linguística, também com vinculação a programa de
pós-graduação stricto sensu em sua área de formação. Cabe destacar que em todos os casos, os programas eram
reconhecidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de pessoal de Nível Superior (CAPES), com conceito igual ou
superior o requerido para funcionamento. Outras formas de validação e aferição de confiabilidade não foram utilizadas
tendo em vista que a escala de respostas não numérica impossibilita a realização destas.

Além da construção da versão de aplicação do instrumento, também foi produzido um gabarito que elucida a qual
modelo de ensino dos jogos esportivos se refere cada resposta. Para facilitar a tabulação dos dados, foi desenvolvida
uma ferramenta no software Microsoft Excel que identifica e contabiliza cada modelo de acordo com a resposta do
investigado, perfazendo com que o pesquisador precise apenas tabular os dados coletados na referida planilha.

Resultados e discussão

O instrumento proposto tem por objetivo diagnosticar a percepção dos treinadores/profissionais de Educação Física
sobre o modelo de ensino dos jogos esportivos que estes utilizam em sua prática profissional. Nomeado “Questionário
para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos”, consiste em 20 questões com cinco alternativas de
resposta que representavam cada um dos modelos de ensino para os jogos esportivos.

As questões receberam numeração sequencial em sentido ordinal, sendo que 13 questões estão voltadas para
situações problemas que os treinadores vivenciam em sua prática profissional (1, 2, 3, 4, 5, 6, 12, 14, 15, 16, 17, 18,
19), e as demais sete questões estão relacionadas à opinião pessoal do respondente em relação ao esporte, as
qualidades desejáveis do atleta e do profissional (7, 8, 9, 10, 11, 13, 20).

As questões do Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos estão dispostas no
Quadro 1.

Quadro 1. Questões e respostas do Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos
Esportivos
Questão Respostas
1. Para resolver a) Apresentar aos atletas a resposta para o problema.
um problema b) Resolver a situação por meio da cooperação entre os atletas.
tático no jogo, c) Fazer com que os atletas compreendam detalhadamente a situação.
você procura: d) Desenvolver todas as atividades que envolvem o problema.
e) Possibilitar que o atleta vivencie a situação na condição de treinador.
2. Quando um a) Explicar claramente e demonstrar a tarefa para o atleta desenvolver.
atleta apresenta b) Fazer com que o atleta entenda a tarefa antes de realizar.
dificuldades ao c) Fazer com que o atleta realize a tarefa isoladamente para depois inseri-lo no
realizar uma contexto do jogo.
determinada d) Fazer com que os outros atletas ajudem-no em suas dificuldades.
tarefa, você e) Pedir para o atleta tentar ensinar a tarefa para você ou para outro colega
procura: antes dele próprio executar.
3. Para ensinar a) Apresentar atividades que todos consigam realizar, independentemente de
um determinado suas limitações, evitando a exclusão.
fundamento b) Propor atividades que façam os atletas repetir os movimentos até que o
técnico aos seus aprendam.
atletas, você c) Fazer com que o próprio atleta auxilie na decisão das atividades que serão
procura: realizadas.
d) Realizar jogos reduzidos para facilitar a compreensão dos fundamentos
táticos.
e) Desenvolver exercícios específicos para o fundamento desejado, aumentando
ou diminuindo o grau de complexidade conforme as respostas dos atletas.
4. Ao avaliar o a) Se, na condição de capitão, ou outra função de liderança, ele coordena as
desempenho dos atividades com autonomia.
seus atletas, você b) Se ele desenvolve as atividades conforme exige a situação.
analisa e valoriza: c) Se ele trabalha em equipe de forma cooperativa.
d) Se ele realiza os fundamentos técnicos e táticos corretamente.
e) Se ele compreende toda a situação que envolve o jogo.
5. Quando você a) A compreensão do atleta em relação às ações do jogo.
aplica um jogo b) A liderança dos atletas enquanto organizadores das atividades, dentro ou fora
formal durante o do jogo.
treino, você c) O desenvolvimento das ações técnicas e táticas do atleta.
analisa: d) Se o atleta conseguiu colocar dentro do contexto do jogo, todos os
fundamentos treinados isoladamente.
e) O trabalho em equipe e a cooperação entre os atletas envolvidos.
6. No processo de a) A prática na atividade tenha significados para o atleta, dentro e fora do jogo.
ensino- b) O atleta desenvolva liderança, auxiliando na organização das atividades como
aprendizagem, jogador ou como auxiliar.
você organiza seu c) A complexidade da atividade seja definida com base nas respostas que os
treino de forma atletas apresentam.
que: d) O atleta aprenda as tarefas isoladamente para posteriormente uni-las dentro
do contexto do jogo.
e) Os atletas entendam o que estão fazendo, passando a buscar ações objetivas
para a resolução de problemas.
7. Você acha mais a) O desenvolvimento das ações técnicas e táticas.
importante para b) O trabalho em grupo.
um atleta de c) A compreensão do jogo.
esportes coletivos: d) A disposição em ajudar mesmo fora do jogo (cuidando dos materiais,
auxiliando na arbitragem, etc.).
e) A capacidade de relacionar os fundamentos técnicos isoladamente com o
contexto do jogo.
8. Para você, é a) Conhecer bem os fundamentos técnicos da modalidade ensinada, para ter
fundamental para mais segurança durante o ensino.
um treinador b) Ser criativo para dosar a complexidade das tarefas.
desportivo: c) Fornecer explicações claras e precisas, com demonstrações das ações.
d) Apresentar a seus atletas não somente as ações do jogo, mas também o que
ocorre fora deste.
e) Ser um facilitador nas ações e ter um caráter afetivo e social.
9. Para você, a a) O envolvimento cognitivo.
maior contribuição b) O desenvolvimento de respeito, solidariedade, educação e significados para a
do esporte vida.
coletivo para os c) A aprendizagem de liderança, autonomia e organização.
atletas é: d) A possibilidade de aprender e memorizar as técnicas trabalhadas.
e) Proporcionar novos desafios, partindo daquilo que eles já conhecem.
10. Você a) Estimular a capacidade de organização dos atletas, bem como a
considera uma responsabilidade e a autonomia destes.
qualidade do b) Criar adaptações no jogo de forma a possibilitar a participação de todos os
treinador saber atletas.
principalmente: c) Aproveitar momentos oportunos para explicar ou contribuir com o
aprendizado.
d) Articular e diferenciar atividades de competição e atividades de inclusão.
e) Apresentar as respostas para determinados problemas do jogo.
11. Para você, as a) O gosto pela vida fisicamente ativa.
principais lições b) A aprendizagem através da insistência.
que o esporte c) A aprendizagem de forma gradativa, sem pular etapas.
pode proporcionar d) A consciência tática e a soluções dos problemas de forma objetiva.
para o atleta na e) Os conhecimentos e a habilidade para a tomada de decisão.
sua vida adulta
são:
12. Em seus a) Ensiná-lo a saber o que fazer e como fazer.
treinos, para b) Dar significados às ações e tirar lições do ocorrido.
corrigir os erros c) Proporcionar um feedback da situação com os atletas e demais envolvidos.
que seus atletas d) Fazê-los repetir os movimentos até corrigi-los.
tiveram e) Deixar com que os atletas encontrem uma solução para a situação.
anteriormente,
você organiza seu
trabalho da forma
a:
13. Na sua a) A liberdade de tomar decisões e poder participar da organização das tarefas.
opinião, o que b) O simples ato de jogar em grupo, estar com os amigos e atuar em conjunto.
leva o atleta a c) A consciência e o entendimento das ações táticas.
querer a aprender d) A evolução dos fundamentos técnicos e a relação destes com o jogo.
cada vez mais é: e) O aprendizado de forma gradativa, passo a passo para facilitar as ações.
14. Ao estruturar a) Procurar elaborar situações-problemas com respostas direcionadas para
seu treinamento facilitar a tomada de decisão.
você procura: b) Manipular o jogo em função das necessidades dos praticantes, conforme suas
particularidades.
c) Utilizar os jogos para conceder um caráter afetivo e social associado à
aprendizagem.
d) Criar momentos que permitem a reflexão na tomada de decisão ou uma
análise crítica das respostas dos atletas.
e) Utilizar pequenos jogos táticos para compreensão das capacidades técnicas.
15. Ao trabalhar a a) Criar ou adaptar para proporcionar aos atletas momentos exijam a tomada de
tática em seus decisão com base em suas experiências.
treinamentos, b) Apresentar antecipadamente as respostas que podem solucionar os
você procura: problemas propostos.
c) Fazer adaptações para priorizar uma determinada técnica requerida no
trabalho tático.
d) Formar equipes heterogêneas, procurando manter um equilíbrio entre as
equipes.
e) Desenvolver atividades que possibilite aos atletas com maior dificuldade ter o
mesmo grau de sucesso que os atletas mais habilidosos.
16. Ao trabalhar a) Fragmentar os conteúdos para o aperfeiçoamento da técnica.
com um grupo b) Apresentar as atividades planejadas com base nas experiências já vivenciadas
mais experiente, pelos atletas.
você procura: c) Criar momentos para os atletas enxergarem as situações de outras formas, se
colocando no lugar de outros atletas, possibilitando a compreensão e o respeito
das decisões de seus colegas.
d) Colocar os atletas em uma situação problemática e fazê-los resolver por meio
de uma ação objetiva e compreensão consciente da situação do jogo.
e) Dividir as tarefas extra-jogo, como cuidar e organizar dos materiais e auxiliar
na arbitragem.
17. Ao trabalhar a) Fazer com que os alunos visualizem e vivenciem as situações dentro e fora do
com atletas jogo, ajudando na organização das atividades.
iniciantes, você b) Tratar todos igualmente, contribuindo com a inclusão social e não somente
procura: aos mais habilidosos.
c) Explicar aos alunos, passo a passo, o que deve ser realizado, respeitando as
evoluções e a individualidade de cada um.
d) Trabalhar com o jogo de forma progressiva e estimular a capacidade de
entendimento tático ao mesmo tempo que da técnica.
e) Realizar atividades simples e isoladas, objetivando a repetição dos
movimentos.

18. Para trabalhar a) Buscar primeiro entender e resolver os problemas táticos.


uma situação b) Desenvolver as ações com base no grau de exigência da situação.
ofensiva em seu c) Evidenciar em primeiro lugar a importância do trabalho em equipe.
treino, você d) Deixar a situação a critério dos atletas, para que estes decidam qual o melhor
procura: caminho a ser seguido.
e) Realizar a atividade sem a presença de adversários para facilitar a execução
dos movimentos.
19. Para resolver a) Utilizem suas experiências vivenciadas no esporte para desenvolver a melhor
um problema no ação para o momento.
setor defensivo, b) Estejam conscientes da situação-problema para resolvê-la de forma direta e
você considera objetiva.
importante que os c) Repitam os movimentos exigidos para a solução do problema até se
atletas: adaptarem à situação.
d) Tomem iniciativas criativas com autonomia para resolver o problema.
e) Entendam que o trabalho coletivo será fundamental para a resolução do
problema.
20. Na sua a) Do trabalho cooperativo, da união e do respeito entre os membros da equipe.
opinião, o sucesso b) Da compreensão de todas as ações que envolvem um jogo.
de uma equipe c) Da perfeição das execuções técnicas de cada atleta.
depende d) Da capacidade dos atletas em tomar iniciativa, da liderança, confiança e
principalmente: conhecimentos de tudo o que ocorre dentro e fora do jogo.
e) Das experiências que os atletas possuem e da capacidade de adquirir novos
conhecimentos.

As alternativas de resposta em todas as questões são representadas pelas letras A, B, C, D e E, de forma que cada
letra represente um dos modelos de ensino elencados no presente trabalho, sendo que em cada questão as alternativas
de respostas correspondentes a cada modelo são alternadas, sem um padrão, o que perfaz com que não seja possível o
respondente identificar a qual modelo corresponde cada alternativa em cada uma das questões.

No intuito de reduzir eventuais equívocos e facilitar o processo de tabulação dos dados e processamento dos
resultados das aplicações do Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos, construiu-se
uma ferramenta a partir do software Microsoft Excel, pautada no gabarito do instrumento. Tal ferramenta apresenta as
seguintes características/funções:

• Cada linha representa um respondente e cada coluna representa uma questão do instrumento;

• Destaca com preenchimento em cor verde quando a questão foi respondida corretamente (valores iguais a A, B,
C, D ou E), com preenchimento em cor branca quando a resposta da questão não foi transcrita e com

preenchimento em cor vermelha quando a questão foi respondida de forma incorreta (com qualquer valor

diferente de A, B, C, D ou E);

• Identifica o número de questões sem resposta, o número de questões respondidas incorretamente e indica se há
a necessidade de exclusão do respondente caso a soma das questões sem resposta e respondidas incorretamente

seja superior a 20% do total de questões do instrumento;

• Identifica o número de respostas correspondente a cada um dos cinco modelos de ensino, expondo o somatório
de respostas correspondente a cada modelo de ensino para cada respondente da pesquisa;

• Cabe ao pesquisador apenas a tabulação dos dados, de forma que o restante é realizado de forma automatizada
pela ferramenta;

• Ao pesquisador é permitido copiar e colar dados nas células correspondente à tabulação das respostas tal qual
copiar as células que contém os resultados individuais de cada respondente, não sendo possível modificar os

resultados.

O download das versões de aplicação e gabarito do instrumento e da ferramenta para tabulação dos dados e
processamento dos resultados do instrumento pode ser realizado no url http://www.brunopedroso.com.br/modelos.html.

No teste de validade de conteúdo o Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos foi
aprovado pelos dois juízes que o avaliaram. Logo, o percentual de concordância totalizou 100%, acima do que prevê a
literatura (90%) (Pilatti, Pedroso, e Gutierrez, 2010; Alexandre, e Coluci, 2011). Face a tais resultados é possível indicar
que o referido instrumento apresenta coeficiente satisfatório no teste de validade de conteúdo.

No teste de validade de face o referido instrumento obteve parecer atestando que foi bem elaborado no tocante a
língua portuguesa. Adicionalmente, as questões e respostas foram consideradas de fácil compreensão, com linguagem
direta e sem margem para interpretações dúbias. Diante disto, há um indicativo de que o instrumento apresenta boa
coesão linguística, pressuposto da validade de face.

Dentre os modelos descritos por Graça, e Mesquita (2006) que compõe o presente instrumento, cabe destacar que o
modelo “tradicional” é baseado na concepção mecanicista. Este modelo faz uso da demonstração constante das
atividades por parte do professor articulado à explicação da tarefa, sendo necessário que o profissional delimite
constantemente as progressões a fim de que a tarefa seja concluída (Garganta, 1998). Em síntese, o método tradicional
faz uso da fragmentação das tarefas esportivas, proporcionando a constante repetição para aperfeiçoamento do gesto
motor.

Os demais modelos advêm da possibilidade de utilização do jogo integrado para a condução da prática pedagógica,
pelo potencial deste em promover a melhoria dos processos cognitivos do aluno-atleta (Galatti et al., 2017; Oliveira, e
Lanes, 2020). Os jogos esportivos são definidos como ações motoras competitivas, com regras e instituições, que podem
ser praticados com/contra um adversário sendo que o vencedor será definido pela pontuação (Canan, 2020). Estes
podem ser de três tipos: de exercício, caracterizados pela repetição de exercícios que já se conhece através de conduta
lúdica; de símbolos, onde cria-se um espaço para resolver problemas e conflitos; e de regras, que apresenta uma forma
estruturada com regras produzidas pelo próprio grupo. (Freire, 1997)

Neste contexto, o modelo de desenvolvimento do conteúdo dos jogos destina ao professor o papel fundamental na
aprendizagem do aluno, e prevê a fragmentação do conteúdo, os ajustes na técnica, e a utilização de progressões
crescentes no nível de dificuldade da tarefa aplicadas com base nas respostas dos praticantes. Deve-se ainda valorizar as
experiências de vida do aluno e fornecer, em relação à tarefa executada, um constante feedback pedagógico. (Mesquita,
1997 apud Graça, e Mesquita, 2006)

Por sua vez, o modelo de ensino dos jogos esportivos para sua compreensão parte da premissa de que a forma de
jogo progressiva e a capacidade de entendimento tático motivam o aprendizado das habilidades técnicas. Destaca-se a
perspectiva cognitiva e construtivista, na qual o praticante é exposto a uma situação problema e precisa solucioná-la
dentro do jogo. (Graça, e Mesquita, 2006)

O modelo de educação desportiva busca o desenvolvimento pessoal, motivacional e social do indivíduo, indica que o
professor deve ser um facilitador do desenvolvimento da criança, e prevê que é preciso conceder caráter afetivo e social
às aprendizagens, com o propósito de estabelecer um ambiente que propicie uma experiência esportiva autêntica,
promovendo o gosto por uma vida ativa. (Cobin, 2002 apud Graça, e Mesquita, 2006; Siedentop, 1996 apud Graça, e
Mesquita, 2006; Araújo, 2017)

Sob influência do modelo supracitado tem-se o método do Modelo de competências nos jogos de invasão,
desenvolvido por Eliane Munsch, e Benny Mertens (Munsch et al., 2002 apud Graça, e Mesquita, 2006), que consiste em
uma aprendizagem das formas modificadas dos jogos esportivos e da organização da prática esportiva. Divide-se em dois
grupos, sendo eles a competência como jogador, que se articula nas tarefas de aprendizagem de formas básicas de jogo,
formas parciais de jogo e tarefas baseadas no jogo; e competência em função de apoio e coordenação, que tem como
função desenvolver a capacidade de organização a prática de forma responsável e autônoma, desenvolvendo uma
competência de autorregulação de sua aprendizagem oportunos. (Mesquita, 1997 apud Graça, e Mesquita, 2006)

Frente o exposto, acreditamos que o Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos tem
potencial para facilitar o planejamento do treinador/profissional de Educação Física no processo de ensino-aprendizagem,
bem como para que o próprio profissional avalie seu método de ensino. Acerca do planejamento entende-se que este é
fundamental no processo de ensino aprendizagem, sendo está uma das principais ações de um professor de Educação
Física. (Feu et al., 2019)

Há de se frisar que o referido instrumento, na compreensão dos autores do presente estudo, impacta diretamente na
prática pedagógica destes profissionais. Desta forma, fazemos nossas as contribuições de Bracht (1997), ainda que
direcionadas ao contexto escolar, transcendem seus limites ao indicar que a teoria pedagógica em Educação física deve
responder a duas questões: O por que? que está relacionada ao sentido; e o Como? que está relacionada ao
instrumento. A partir destas questões de cunho geral, o autor aponta quatro itens necessários para a prática pedagógica
da Educação Física, sendo eles:

a) poder fundamentar esta prática no currículo escolar, isto é, precisa dizer a quais necessidades vem
atender e da indispensabilidade de sua função, caracterizando assim o seu objeto - ou seja, precisa se
defrontar com a pergunta do porquê Educação Física na Escola, legitimá-la (implica discutir os
fundamentos filosófico-antropológicos, o significado humano e social da ludo motricidade humana); b)
desenvolver e apoiar-se numa concepção de currículo, definindo, entre outras coisas, a função da Escola no
contexto societal, o saber ou o conteúdo de que vai tratar, bem como dos critérios para a seleção e
sistematização destes conteúdo; c) em consonância com os objetivos e as características dos conteúdos,
propor e fundamentar uma metodologia do ensino; d) explicitar uma proposta para o problema da
avaliação do ensino. (Bracht, 1997, p. 47)

Observa-se que Bracht (1997) sugere que se pense em quais necessidades busca-se atender considerando
fundamentos filosóficos e antropológicos. Adicionalmente, o autor defende que é necessária a reflexão sobre qual
conteúdo deve ser trabalhado e quais os critérios para seleção e sistematização deste conteúdo. Após estas definições,
alicerçado nestes objetivos e características, é necessário que o profissional proponha uma metodologia para o ensino e,
também, para a avaliação do processo de ensino-aprendizagem.

Neste sentido, a teoria de Bracht (1997) auxilia professores e treinadores no planejamento de suas intervenções ao
passo que momentos de aprendizagem do esporte em clubes e centros esportivos, o profissional de Educação Física
acaba por vezes tendo que delimitar as necessidades que buscará atender, estabelecer critérios para seleção dos
conteúdos e, com base nos princípios estabelecidos, propor uma metodologia de trabalho para atingir e avaliar os
objetivos estipulados. Em outras palavras, conteúdo e objetivos devem dialogar diretamente, bem como método e
avaliação.

Considerando a avaliação, que é um desafio para a área da Educação Física, é prudente mencionar que esta deve ser
formadora, com o intuito de embasar a tomada de decisão relacionada as ações futuras (Oliveira, 2009). Desta forma,
não é possível pensar em uma avaliação pontual, mas que vislumbre toda a ação pedagógica permitindo que o professor
reconheça os diferentes caminhos que podem levar o indivíduo a aprendizagem. Além disso, entende-se que as práticas
avaliativas devem estar relacionadas com objetivos pedagógicos, permitindo que o professor possa ressignificar de
maneira contínua suas ações. (Oliveira, 2009)

Tais reflexões permitem que se compreenda o processo de avaliação de forma ampliada. No entanto, em que pese a
importância do processo avaliativo evidenciada por Bracht (1997), e Oliveira (2009), destaca-se que embora existam
estudos sobre as metodologias de ensino do esporte, não há muitos instrumentos disponíveis na literatura que tenham
por objetivo identificar o método utilizado por treinadores/profissionais de Educação Física em sua prática profissional.
Como visto, esta possibilidade justifica-se por oferecer um importante diagnóstico do profissional de Educação Física de
sua ação profissional, possibilitando uma ressignificação com base na filosofia de trabalho que se pretende adotar.

A proposição do Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos Jogos Esportivos vai de encontro com o
evidenciado por Oliveira (2009), inicialmente por convidar o respondente a pensar em sua prática ao longo dos dois
últimos meses, não se caracterizando como uma avaliação pontual, que é criticada por Oliveira (2009).

Para além do supracitado, o referido instrumento permite que o profissional reflita sobre suas concepções em
determinadas situações inerentes ao cotidiano, sendo capaz de perceber como tem sido sua tomada de decisão. Além
disto, o profissional é instigado a responder questões que buscam identificar como ele tenta resolver seus problemas
ofensivos e defensivos, quais pontos ele considera crucial para o sucesso de uma equipe, como ele trabalha com a
correção dos atletas e avalia o desempenho de seus atletas, identificando seu comportamento do profissional.

Assim, o instrumento proposto facilita a identificação por parte do professor/treinador do método que ele está
aplicando com base em critérios teóricos apresentados pela literatura. Logo, ao comparar o método aplicado com os
resultados obtidos na avaliação, o profissional conseguirá discernir se o método por ele utilizado aproximou o processo
de ensino-aprendizagem de seus objetivos, ou se é necessário a seleção de outros métodos, tendo em vista que a
aplicação de outros modelos no processo de ensino-aprendizagem, ao promover a participação, evita períodos de
inatividade que reduzem a motivação do indivíduo para a prática. (Resende, e Lima, 2017)

Adicionalmente, os pesquisadores da área podem, através deste instrumento, levantar informações do campo a fim de
identificar qual tem sido o comportamento dos profissionais de Educação Física no processo de formação esportiva. Tais
informações podem subsidiar discussões entre profissionais e pesquisadores da área e impulsionar pesquisas acerca da
temática, o que permite a comparação dos resultados em relação a aprendizagem, aquisição de valores, formação
esportiva e humana dos indivíduos obtidas pelos diferentes métodos de ensino.

Conclusões

A literatura não dispõe de um elevado número de instrumentos que avaliem os modelos de ensino adotados por
treinadores de jogos esportivos coletivos. Neste sentido, o Questionário para Identificação dos Modelos de Ensino dos
Jogos Esportivos proposto por este estudo possibilita a averiguação de um acompanhamento acerca da intervenção
profissional de treinadores de modalidades esportivas, bem como da identificação de eventuais falhas no decorrer deste
processo, que podem acarretar, entre outros prejuízos, a evasão dos atletas da prática esportiva.
Para além do instrumento apresentado disponibilizou-se uma ferramenta para tabulação dos dados e processamento
dos resultados a partir do Microsoft Excel, um software com grande usabilidade e difusão no Brasil,que tende a facilitar a
análise dos dados retornados pelo questionário proposto por parte de pesquisadores ou profissionais da área.

Por oportunizar uma avaliação da intervenção profissional, permitir a identificação de informações do campo, e
fornecer informações para subsidiar a tomada de decisão no planejamento do profissional, entende-se que o questionário
proposto pode se constituir em uma contribuição efetiva para pesquisadores da área da pedagogia do esporte e outras
ramificações da Educação Física, bem como profissionais da área.

O presente estudo apresenta como limitação: 1) não ter realizado a validação externa do instrumento proposto, com
aplicação em larga escala; 2) não apresentar um módulo do instrumento para ser aplicado nos atletas, de forma a
permitir o cruzamento dos dados a partir da percepção dos atletas com a autopercepção dos treinadores. Logo, a
validação externa do referido instrumento e a construção de uma versão do instrumento direcionada aos atletas são
sugestões para estudos futuros.

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