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Pedagógicos e
Aprofundamentos
Autores: Prof. José Luis Fernandes
Prof. Sérgio Baldassarre Pettorusso
Colaboradores: Profa. Vanessa Santhiago
Prof. Mario André Sigoli
Professores conteudistas: José Luis Fernandes / Sérgio Baldassarre Pettorusso
CDU 796.332
U508.64 – 20
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem
permissão escrita da Universidade Paulista.
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Deise Alcantara Carreiro – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto
Revisão:
Kleber Nascimento
Amanda Casale
Sumário
Futebol: Aspectos Pedagógicos e Aprofundamentos
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................7
Unidade I
1 BREVE HISTÓRIA DO FUTEBOL.......................................................................................................................9
1.1 Origens do futebol...................................................................................................................................9
1.2 Evolução do futebol............................................................................................................................. 12
2 BREVE HISTÓRIA DO FUTSAL....................................................................................................................... 13
3 PROCESSO PARA ENSINO E DESENVOLVIMENTO DO FUTEBOL E DO FUTSAL......................... 15
3.1 Futebol e futsal como esportes educacionais........................................................................... 15
3.2 Futebol e futsal voltados para a saúde e o lazer...................................................................... 16
3.3 Futebol e futsal como esportes de rendimento........................................................................ 17
3.3.1 Objetivos do treinamento..................................................................................................................... 18
3.3.2 Programas de treinamento.................................................................................................................. 18
3.3.3 Métodos de treinamento...................................................................................................................... 19
4 PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO.................................................................................................................. 22
Unidade II
5 PROCESSO PARA ENSINO E DESENVOLVIMENTO................................................................................ 29
5.1 Componentes do processo para o ensino e desenvolvimento do jogador.................... 30
5.1.1 Condição técnica..................................................................................................................................... 30
5.1.2 Condição física.......................................................................................................................................... 31
5.1.3 Condição tática......................................................................................................................................... 35
6 ESTÁGIOS PARA ENSINO E DESENVOLVIMENTO DO JOGADOR..................................................... 43
6.1 Estágio de iniciantes............................................................................................................................ 44
6.2 Estágio de avançados.......................................................................................................................... 48
6.3 Estágio de domínio............................................................................................................................... 53
Unidade III
7 REGRAS DO FUTEBOL..................................................................................................................................... 63
7.1 O campo.................................................................................................................................................... 64
7.2 A bola......................................................................................................................................................... 65
7.3 Os jogadores............................................................................................................................................ 66
7.4 Os árbitros................................................................................................................................................ 68
7.5 Tempo de jogo........................................................................................................................................ 71
7.6 Determinação do resultado............................................................................................................... 72
7.7 Impedimento........................................................................................................................................... 73
7.8 Faltas e incorreções.............................................................................................................................. 75
7.8.1 Tiro livre direto.......................................................................................................................................... 75
7.8.2 Tiro livre indireto...................................................................................................................................... 76
7.8.3 Medidas disciplinares............................................................................................................................. 77
7.8.4 Reinício do jogo após faltas e incorreções.................................................................................... 79
7.9 Tiro livre e penal..................................................................................................................................... 80
7.10 Arremesso lateral, tiro de canto e tiro de meta...................................................................... 82
8 REGRAS DO FUTSAL........................................................................................................................................ 83
8.1 O espaço de jogo................................................................................................................................... 84
8.2 A bola......................................................................................................................................................... 86
8.3 Número de jogadores.......................................................................................................................... 87
8.4 Duração da partida............................................................................................................................... 88
8.5 Início da partida..................................................................................................................................... 89
8.6 Faltas.......................................................................................................................................................... 92
8.7 Tiro penal.................................................................................................................................................. 96
8.8 Ação do goleiro...................................................................................................................................... 97
8.9 Retorno da bola em jogo.................................................................................................................100
8.10 A lei da vantagem.............................................................................................................................104
APRESENTAÇÃO
A disciplina Futebol tem por objetivo estudar o futebol em todos os componentes que estão
relacionados com o labor do professor de Educação Física, envolvendo o conhecimento da história
desse esporte, a metodologia de ensino e desenvolvimento, além dos elementos técnicos e táticos e das
regras básicas de competição.
• conhecer os principais fatos que deram origem e contribuíram com a evolução do futebol e do
futsal;
• aplicar o esporte nas suas três principais dimensões, que abrangem educação, saúde, lazer e
rendimento;
• entender os componentes que fazem parte de cada uma das formas de condicionamento para a
preparação do jogador em qualquer um dos níveis de atuação;
• saber como, quando, onde e por quê de todos os componentes de uma aula ou um treinamento
de futebol e futsal;
INTRODUÇÃO
Dessa forma, a disciplina Futebol busca proporcionar ao futuro professor de Educação Física
um conhecimento mais envolvente e necessário para as obrigações da profissão nas diversas áreas
de atuação.
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Para isso, os tópicos fundamentais a essa finalidade serão apresentados em três unidades, que irão
tratar das bases do conhecimento teórico e da aplicação prática dessa modalidade esportiva, usada
como ferramenta educacional nas escolas, recreação e lazer, pela sociedade em geral, e as bases para
futura especialização em esporte de rendimento ou alto nível.
Para iniciarmos o estudo do futebol e do futsal, partiremos de uma apresentação desses esportes
através de uma visão geral resumida da história de ambos, a fim de informar os acontecimentos
mais relevantes ocorridos ao longo dos tempos que mostram como eles surgiram e evoluíram,
tomando a forma do jogo que conhecemos hoje, ao mesmo tempo que essas informações se
revestem de importância para entendermos que, como todas as coisas conhecidas pela humanidade,
sempre se transformam e se atualizam na busca incessante da perfeição e, no caso dos esportes, as
surpresas que se materializam em vitórias e conquistas de títulos, levando os protagonistas a serem
reconhecidos pela própria história.
A evolução foi tão marcante, que tornou o futebol um esporte universal e o mais praticado no
mundo. De tão envolvente, o jogo deixou de ser privilégio de poucos, dando acesso à participação de
praticantes em todos os níveis de domínio, tornando-se ferramenta educacional nas escolas, além de ser
executado como forma de lazer e manutenção de estado de saúde e finalmente aquele praticado por
indivíduos que conseguiram desenvolver o máximo de suas potencialidades e talento para chegarem a
um grupo especial, que envolve o futebol e o futsal profissionais.
Além de responder a essa pergunta, será apresentada uma breve história mostrando as caraterísticas
envolvidas em cada forma prática desse tipo de jogo, para que o futuro professor possa ser preparado
adequadamente ao desempenho da sua função.
Também serão apresentados e explicados os estágios que envolvem todo o processo de formação
de um jogador, mostrando as fases sensíveis das capacidades físicas e motoras, solicitadas no
desenvolvimento da prática dessas modalidades esportivas.
Finalmente, será feito um apanhado comentado das regras básicas de competição necessárias a um
jogador, para que ele entenda o que pode ou não ser feito durante uma partida.
Em resumo, o conteúdo deste livro-texto deverá preparar o profissional para usar o futebol e o futsal de
forma consciente, a fim de colocar em prática todos os princípios teóricos fundamentais para alguém da área.
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FUTEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS
Unidade I
1 BREVE HISTÓRIA DO FUTEBOL
Dentre os esportes conhecidos na atualidade, o futebol tem sua origem mais antiga entre todos,
uma vez que muitos pesquisadores encontraram evidências e documentos que mostram a prática de
muitos jogos com bola, em várias partes do mundo, considerados os ancestrais do esporte moderno.
O futebol é o esporte contemporâneo mais praticado no mundo, com quase 300 milhões de
adeptos, além de ser considerado o esporte nacional do Brasil.
A) B)
Figura 1 – A) e B) Desenhos de manuscritos da antiga China mostrando um dos jogos com bola praticado na época
Também na China, por volta de 2.500 a.C., durante a Dinastia Han, havia um jogo chamado Tsu Chu,
mais uma demonstração de habilidade individual, que também era praticado pelo imperador amarelo,
que gravou nas pedras de um túmulo encontrado no interior sua imagem e se considerava o primeiro
jogador de futebol da história.
Outro jogo com bola era praticado pelos nobres japoneses, por volta de 2.000 a.C. Denominado de
kemari, até hoje é realizado em algumas festas religiosas japonesas, em especial, na cidade de Quioto.
O jogo consiste em reunir um grupo de jogadores com trajes típicos especiais e tem como objetivo
9
Unidade I
controlar a bola feita de bexiga de boi ou fibras de bambu, que, sem deixar cair, vão passando de pé em
pé entre todos os participantes.
Figura 2 – Cerimônia inicial que antecede o jogo Kemari praticado no Japão há 2.500 a.C.
Mais recente que o jogo dos japoneses, a cerca de 800 a.C., na Grécia Antiga, os soldados gregos
praticavam um jogo com bola mais organizado, em equipes de 15 jogadores, distribuídos em um campo
retangular, usando uma bola de bexiga de boi recheada de areia e ar. Ele era executado também pela
população nos quartéis; a sua finalidade principal era o treinamento físico dos militares.
Quando os romanos dominaram a Grécia, entraram em contato com a cultura desse povo e
assimilaram muitas de suas atividades. Dentre elas, passaram a usar também o Epyskiros dos gregos
para treinamento de seus soldados, porém com regras mais rígidas tanto na disputa quanto no
posicionamento dos jogadores em campo. No campo, os jogadores eram distribuídos em linha de defesa
e ataque e tinham que atravessar as linhas inimigas, usando uma bola de bexiga de boi coberta por uma
capa de couro, combinando passes com os pés e as mãos, esse jogo era denominado de Harpastum.
Na Bretanha, em 50 a.C., era praticado um jogo chamado choule. Não existe uma prova com
documentos, mas os moradores dizem que foi trazido pelo imperador romano Júlio Cesar e consistia em
manter a posse de bola nas mãos durante o maior tempo possível.
Figura 3 – Desenho de gravuras antigas mostrando a prática de jogo de índios do norte do Canadá
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FUTEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS
Já na nossa Era, na Inglaterra, em 1175, havia um tipo de jogo praticado em várias cidades inglesas,
no qual os moradores chutavam uma bola de couro pelas ruas representando a cabeça de oficiais do
exército invasor na Guerra Anglo‑saxônica que tinham suas cabeças decepadas e entregues para os
soldados vitoriosos chutarem.
A popularidade desse jogo cresceu muito e se tornou violenta e desleal, com socos, pontapés e
relatos até de pauladas nos adversários, além de desviar a atenção dos jovens da prática do arco e flecha,
considerado um esporte mais útil no seu preparo para as guerras. Em função desse lado negativo, o rei
Eduardo II proibiu a prática do jogo de forma definitiva.
Apenas em 1529, surge na cidade de Florença, na Itália, uma manifestação futebolística mais
semelhante ao jogo praticado nos dias de hoje, que foi o calcio fiorentino. A partir de 1580, o jogo
chamado giogo del calcio recebeu as primeiras regras normativas, nas quais as equipes deveriam ser
formadas por 27 jogadores, distribuídos em linhas de 15 atacantes, 5 defensores avançados, 4 em uma
terceira linha e 3 defensores de meta.
Esse jogo dos italianos é considerado o que evoluiu para se transformar no futebol moderno alterado
pelos ingleses.
No século XVII, os reis britânicos permitiram a volta da prática dos jogos com bola no país, através do
retorno de refugiados ingleses que viviam na Itália e foram contaminados pelo calcio italiano. Em 1681,
foi disputado o primeiro jogo entre os servos do rei Carlos II e do conde D’Albemarie. Começava assim
o futebol dos tempos modernos.
O jogo se popularizou de forma muito rápida em toda a Inglaterra, chegando às escolas públicas,
principalmente à Escola Harrow, em 1830, que fez algumas mudanças para evitar a violência, eliminando
as corridas com a bola nas mãos e permitindo apenas o uso dos pés.
A nova regra começou a confundir os praticantes, que quando entravam nas universidades
encontravam a prática do jogo tradicional. Ao chegar na Universidade de Cambridge, aconteceu uma
reunião para unificação das regras.
11
Unidade I
Mais tarde, em 1857, é fundado o primeiro clube de futebol fora do ambiente escolar, o tradicional
Shefield F.C., e, em 1861, o Wanderers, que praticavam um jogo igual ao da Escola Harrow, dando início
à popularização do jogo com os pés.
Dois tipos de jogos eram, então, praticados, mas na tentativa de definir o mais popular e torná‑lo
único foi realizada uma reunião entre todos os dirigentes para determinar o destino desse jogo com
bola. O encontro aconteceu em 1862, em uma taberna de Londres, e, como não houve consenso para a
escolha, foi feita uma votação entre os participantes; o jogo com os pés da Escola Harrow foi o escolhido,
dando origem ao futebol, enquanto o que usava a corrida com a bola nas mãos se tornou o Rugby.
Definido o jogo a ser oficializado, ele passou a ser chamado de futebol para se diferenciar dos
demais. Nessa mesma reunião, foram escritas as primeiras regras e fundada a primeira confederação de
futebol, a Football Association (FA). Começa assim, a história do esporte das multidões.
Na década de 1870, o esporte começou a ser conhecido e jogado em todo o mundo, através de
operários e imigrantes ingleses; também ocorreu o primeiro jogo entre seleções de dois países, Inglaterra
e Escócia, que terminou em 0 x 0, em 1872.
O futebol chegou à América do Sul em 1862, através dos ingleses, que vieram para a construção da
estrada de ferro de Buenos Aires e jogavam aos finais de semana, logo, eles criaram o primeiro time no
colégio inglês dessa cidade, o Alumini.
A equipe de futebol Alumini também foi a primeira a fazer um jogo internacional no continente
sul‑americano e saiu vitoriosa contra um combinado de ingleses da África do Sul, em 1906.
Nessa mesma época, o futebol chegou ao Uruguai quando ingleses se estabeleceram na capital,
Montevidéu, para a construção da estrada de ferro daquele país. Fundaram o Colégio Britânico, no
qual os seus filhos estudariam e aprenderiam a jogar futebol, através do diretor da escola que lhes
ensinava o jogo.
Foi também fundado o Clube de Críquete, que mais tarde se tornaria o tradicional Penãrol, uma das
grandes equipes do futebol sul‑americano.
Embora no Brasil esse jogo já fosse praticado desde 1874 por marinheiros ingleses quando aportavam
no Brasil, oficialmente o esporte apenas chegou em 1894, através de um filho de ingleses aqui residentes,
que ao voltar da Inglaterra, onde completou seus estudos, aprendeu a jogar e trouxe bolas de futebol,
pensando em ensinar o jogo em alguns clubes paulistas, como Paulistano, Internacional, São Paulo
Athletic Club (Spac) e Mackenzie, equipes essas que jogaram o primeiro campeonato de futebol no
Brasil, a partir de 1900.
Esse jovem, brasileiro, filho de ingleses, se chamava Charles William Miller, que se tornou o patrono
do futebol brasileiro.
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FUTEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS
Existem muitos relatos de outros locais onde se jogava o futebol em nosso País, porém essa breve
introdução já é suficiente para dar uma pequena dimensão da chegada do esporte. O futebol já era uma
realidade na Europa e na América do Sul e começaram a ser realizados jogos entre seleções nos dois
continentes, nos jogos olímpicos, o futebol já era a maior atração.
O sucesso do esporte nos jogos olímpicos originou a ideia através do então presidente da Fédération
Internationale de Football Association (Fifa), o francês, Jules Rimet, de se realizar uma Copa do Mundo
só com equipes de futebol, que seria disputada em 1930.
A sede escolhida foi o Uruguai, e 13 países participaram dessa primeira Copa do Mundo de futebol,
na qual aconteceu uma final sul‑americana entre Uruguai e Argentina, vencida pelos donos da casa, que
se tornaram os primeiros campões mundiais do esporte.
Saiba mais
A vitória do Uruguai na primeira Copa do Mundo de futebol, em 1930, causou uma motivação
ainda maior pela prática do esporte no país. Embarcando nessa realidade vigente do futebol em alta, a
Associação Cristã de Moços (ACM) de Montevidéu introduziu um novo jogo derivado do futebol, a ser
jogado em quadras de esportes, denominado inicialmente de Indoor Football, com as regras adaptadas
e menor número de jogadores, de cinco a sete.
Esse novo jogo passou a ser praticado em todas as ACMs espalhadas por outros países. No Brasil,
foi introduzido por dois professores secretários e diretores de Educação Física da ACM, e passou a ser
chamado de futebol de salão.
Apenas em 1933 foram escritas pelo professor Juan Carlos Ceriani, da ACM de Montevidéu, as
primeiras regras desse novo jogo com bola, baseadas em futebol, polo aquático, handebol e basquetebol.
No início, o número de atletas variava muito, com cinco, seis e sete jogadores por equipe, até ficar
definitivamente estabelecido o total de cinco jogadores, como é atualmente.
13
Unidade I
A bola passou por uma série de transformações que, para serem mais pesadas, eram recheadas de
serragem, crina vegetal, cortiça granulada para diminuir o tamanho e aumentar o peso, até atingirem o
ideal regulamentado usado pelas regras atuais.
A partir das ACMs de São Paulo e Rio de Janeiro, o esporte passou a ser mais divulgado e assim
chegou aos clubes e às escolas que começaram a massificar a prática do jogo, tornando‑o cada vez
mais popular.
O primeiro torneio aberto da modalidade, para homens entre 10 e 15 anos, se deu no Rio
de Janeiro, em 1949, e no ano seguinte, aconteceu em São Paulo o grande campeonato aberto
da cidade, que estimulou a formação de várias entidades oficiais e também autônomas para
organizar torneios.
Em 1958, a então Confederação Brasileira de Desportos (CBD), oficializou o jogo nas entidades
filiadas, por todo o Brasil, e passaram a ser realizados, os campeonatos estaduais e nacionais de
clubes e seleções.
Nas décadas de 1960 e 1970, com a modalidade como desporto organizado e regulamentado começa
a se espalhar pelo continente, é fundada a Confederação Sul‑americana de Futebol de Salão (CSFS) e
tem início os primeiros campeonatos de clubes e seleções.
A Federação Internacional de Futebol de Salão (Fifusa) foi fundada no Rio de Janeiro, e com a
extinção da então CBD foram criadas várias confederações desportivas, dentre elas, a Confederação
Brasileira de Futebol de Salão (CBFS) com sede no Rio de Janeiro. No ano de 1982, foi disputado o
primeiro Campeonato Mundial de Futebol de Salão em São Paulo, no qual o Brasil se sagrou campeão,
vencendo o Paraguai na final.
Na mesma década de 1980, em uma fusão com o futebol de cinco, que era uma prática já
reconhecida pela Fifa, surge o Futsal e com essa nova denominação se torna, oficialmente, um
esporte internacional, dando o primeiro passo para transformar-se num esporte olímpico, com a
inclusão nos Jogos Olímpicos de Sidney, na Austrália, em 2000, e nos Jogos Pan‑americanos de
2007, no Rio de Janeiro.
Embora a origem desse esporte tenha sido o Uruguai, a sua evolução ocorreu no Brasil, daí a ser
reconhecido como um esporte genuinamente do nosso País.
Os fatos históricos são de grande relevância para a evolução de todas as coisas. Da mesma forma,
o conhecimento da história do futebol e do futsal contribuíram para dar a forma final ao jogo que
conhecemos hoje e são a base para novas descobertas.
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FUTEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS
Dentre muitos outros fatores, é uma atividade esportiva de fácil acesso, pois qualquer espaço é o
suficiente para se ter o primeiro contato com a bola, que também é o primeiro presente que os pais
costumam dar aos seus filhos, logo no princípio de suas vidas.
Toda a iniciação a esse esporte é feita em locais às vezes inimagináveis, como no interior da própria
casa, quintais, ruas com os mais variados tipos de piso, terrenos baldios, recreio escolar, praias etc., e a
partir daí se desenvolve em diversos níveis, dentro de um processo em longo prazo.
Conforme os objetivos de cada pessoa, o jogo pode ser praticado como esporte escolar, usado como
ferramenta educacional, e aí temos uma primeira modalidade desse jogo, identificado como futebol escolar.
Outra forma de uso envolve a prática da atividade em busca de uma vida mais saudável,
usando‑a de modo motivacional, no formato de jogo, com isso, o indivíduo mantém o corpo em
atividade física e mental, ao mesmo tempo sustentando ou desenvolvendo a sua vida social, através
da convivência em grupo, que se une em torno da prática do esporte.
Finalmente, o futebol foi jogado como competição de alto nível; atividade essa voltada para o
rendimento de profissionais.
Na atual conjuntura da educação como um todo, e da educação física, em especial, o Brasil passa por
momentos de interrogações e incertezas sobre a eficiência do sistema educacional, visto que os índices
de avaliação da eficiência do nosso ensino não é motivo de entusiasmo para os responsáveis.
Muitos são os problemas que estão influenciando negativamente esses resultados, e para os
professores de Educação Física a análise da realidade deve ser voltada à eficiência da aplicação da
matéria como contribuição no processo educacional em sua totalidade.
Diante do problema, muito se tem discutido na área da educação física, em particular, com
relação ao uso do esporte como uma ferramenta da educação integral das crianças e jovens em
sua formação.
Entre os educadores, técnicos, pais e atletas existe unanimidade em afirmar que o esporte é de
grande importância dentro do processo educacional e social.
Muitas reflexões, debates e pesquisas têm mostrado o quanto o esporte é benéfico para a educação
em diversas circunstâncias e de forma incontestável e prazerosa.
15
Unidade I
O futebol como tal, além de entusiasmar as pessoas a praticá‑lo, por ser um esporte muito
popular e de fácil aplicação, no sentido educacional, é composto de muitas peças indispensáveis
à formação das crianças.
Evidentemente, existem pontos negativos que podem ser evitados quando a sua aplicação com essa
finalidade educativa é feita com critérios e objetivos definidos.
Ferraz apud De Rose Junior (2002, p. 25‑38), lembra que a competição deve ser considerada sob o
ponto de vista da criança e, não, do adulto.
• formação do caráter;
• desenvolvimento da personalidade;
• elaboração de um estilo de vida;
• aquisição dos valores do fair play;
• evolução pessoal;
• socialização;
• aceitação de regras;
• submissão à hierarquia e as autoridades, como professores, técnicos, árbitros e dirigentes.
A inclinação educativa ou não do esporte depende apenas da maneira como ele é conduzido, da
forma como é elaborado o projeto pedagógico da escola, de quais objetivos se visam com a sua prática
e qual é a sua orientação.
Assim, para que o esporte através do futebol possa contribuir no processo educacional, ele deverá
ser utilizado como um meio e, não, um fim.
A consciência da necessidade de se ter uma qualidade de vida, no mínimo boa, tem levado a
população a considerar a prática de atividades físicas como elemento fundamental na busca de uma
vida saudável, que vêm contribuindo, dentre outros fatores, com o aumento da expectativa de vida,
tornando os índices de avaliação dessa conquista cada vez mais altos.
Um dos fatores que vêm favorecendo para isso é a prática de atividades físicas não apenas na idade
adulta, mas principalmente na terceira idade.
16
FUTEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS
A execução do futebol e do futsal está entre as atividades mais utilizadas com finalidades de lazer
e, ao mesmo tempo, como forma de atividade física voltada para se manter um estado de saúde
importante, para enfrentar as dificuldades da vida cotidiana e minimizar os problemas físicos naturais
das idades avançadas.
Exemplo de aplicação
O futebol e o futsal, como esportes universais, são adorados e praticados em todos os níveis da
sociedade e fazem parte do currículo escolar, para serem utilizados de ferramenta educacional ou nas
atividades físicas da população, em geral, como lazer e saúde, além da prática profissional.
Reflita sobre as formas de utilização dessas modalidades esportivas, procurando entender claramente
de que maneira podem ser pedagogicamente utilizados para atender aos verdadeiros objetivos de suas
diferentes formas de aplicação.
Agora, trataremos do lado mais complexo do esporte, o esporte de rendimento, resultados, cobranças
e alta complexidade, aquele para profissionais e atletas de alto‑nível.
Quando se pensa no futebol ou futsal nesse patamar, tanto o praticante (atleta) quanto o professor
(técnico) são indivíduos selecionados para esse fim, que envolve um alto preparo físico, técnico, tático
e psicológico da parte do jogador e do professor, um elevado nível de conhecimento específico em
metodologia do treinamento esportivo e ciências do esporte, sem se esquecer de que a vivência prática
anterior é uma ajuda muito importante.
Portanto, o professor precisa estar preparado nesse alto grau de conhecimento, para que possa
explorar em seu jogador a capacidade de desempenho esportivo que o conduza no caminho para atingir
o desempenho ou rendimento esperado.
Lembrete
17
Unidade I
Capacidades Sociabilidade
psiquicas
Condição
Para Weineck (2003), o planejamento da capacidade de desempenho esportivo envolve uma série
de componentes que devem ser constantemente revistos e aperfeiçoados, tais como: objetivos do
treinamento, programas de treinamento, meios de treinamento e métodos de treinamento.
• objetivos afetivos, representados pela força de vontade, autoconfiança e autocontrole, que estão
relacionados com os fatores de desempenho físico.
Aqui está o âmago do treinamento esportivo, é a parte concreta na qual será colocado em prática
tudo o que foi planejado para se atingir o desempenho desejado. O tempo e a velocidade para se
conseguir a boa performance estão diretamente ligados com a escolha dos exercícios adequados, ao
fim que se persegue, a economia e a eficácia desses exercícios.
18
FUTEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS
Uma terminologia muito adequada e fácil de ser entendida, identifica esses exercícios de forma
diretamente ligada aos propósitos e às utilidades de cada um, assim denominados:
• exercícios formativos: visam ao condicionamento físico, podendo ser classificados de acordo com
sua abrangência, geral ou especial;
• exercícios formativos gerais: utilizados no condicionamento físico geral, dirigidos, por exemplo,
para os músculos ou grupos musculares considerados pilares que sustentarão a base geral do
condicionamento;
• exercícios educativos: dirigidos para movimentos ou ações técnicas solicitadas na prática do jogo.
São os movimentos particulares de cada um dos fundamentos técnicos requeridos para se jogar
futebol ou futsal.
Dependendo da finalidade, do nível ou do estágio em que o treinamento vai ser aplicado, existe
uma metodologia mais apropriada para se atingir os objetivos. De forma geral, de acordo com o
objetivo, a escolha da metodologia se torna opcional entre os muitos métodos existentes, método
analítico, método global, método do jogo, método dos exercícios complexos e a metodologia do
treinamento esportivo.
É muito eficiente para o ensino da técnica esportiva, porém adequado quando feito em partes,
passo a passo, até que todas as ações sejam aprendidas para se tornarem uma unidade, e, assim, cada
fundamento técnico é construído separadamente envolvendo um trabalho em longo prazo.
Como virtude, esse processo é o mais eficiente para um aprendizado sem erros, por possibilitar um
trabalho conduzido e o desenvolvimento da coordenação bilateral, que proporciona a aprendizagem da
técnica executada com pé direito e esquerdo, com a mesma eficiência.
19
Unidade I
Por outro lado, a aprendizagem é mais demorada e, por isso, dependendo da atuação do professor,
pode não motivar o aprendiz. Ela também torna a prática muito mecanizada, sem desenvolver a
naturalidade e a criatividade do aluno.
Ele é caracterizado pela utilização do jogo em si, no qual se aprende jogando futebol ou futsal
com as regras normais ou adaptando algumas delas, caso seja necessário, por exemplo, eliminando
impedimento ou cobrando lateral com o pé, como no futsal etc.
Esse método é aquele que mais motiva os praticantes, principalmente a criança, porque ela
quer jogar, porém a partida deve ser conduzida com cuidados, pois se não houver a interferência
do professor quando ocorrerem erros, a aprendizagem pode acarretar problemas de execução
técnica, que podem prejudicar o desempenho futuro. Além disso, por ser a forma mais natural de
aprender a jogar, cada praticante usará o pé que ele tem mais facilidade e, com isso, atrapalhará a
aprendizagem completa ou o desenvolvimento bilateral da coordenação motora. Essa deficiência
em utilizar ambos os pés para jogar se tornará um problema, praticamente sem possibilidades de
correção adequada no futuro.
Em contrapartida, é o modo mais adequado para desenvolver a criatividade, em função de que cada
jogador precisará encontrar as soluções adequadas para as dificuldades que surgem a todo momento,
são as denominadas tomadas de decisões.
Não deve ser confundido com o método global. Ele usa formas de jogos adaptados não só
para a aprendizagem, mas também para praticantes em estágio avançado; é muito utilizado no
estágio de alto nível por jogadores profissionais, visto que é uma tendência no treinamento do
futebol moderno.
Apresentaremos um exemplo para que a ideia desse método seja entendida a partir de um jogo
adaptado de 1x1, no qual é treinada a base da partida, que é o confronto direto.
20
FUTEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS
Como a própria denominação sugere, esse processo é aplicado através da utilização de exercícios
educativos de elevado grau de habilidade técnica, o que os torna de grande complexidade e, por isso, é
usado apenas para aperfeiçoamento e domínio dos fundamentos técnicos.
Observação
Através dele, se consegue aperfeiçoar e lapidar as ações técnicas, preparando o jogador para executar,
com segurança, todos os fundamentos técnicos que compõem o jogo.
Figura 7
21
Unidade I
Figura 8
Em duplas, cada um com uma bola, de frente para o outro, controlando‑a. Ao sinal dado pelo
professor, eles trocam de bolas, fazendo um passe pelo alto e retomando o controle da bola sem que ela
caia no chão.
Observação
4 PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO
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FUTEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS
• Princípio da proporcionalidade:
• Elaboração do treinamento.
E finalmente, a parte de escrever seu plano de treinamento, que envolve local, material, sessão de
treinamento (parte inicial: aquecimento, parte principal – aplicação do conteúdo programado – e a
parte final – recuperação.
Todas as considerações feitas até o momento estão direcionadas para a visão geral, necessária como
base para entender todo o processo ao ensino e desenvolvimento do futebol e do futsal, conforme o
nível de atuação de um profissional da área.
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Unidade I
Esse aspecto está representado a seguir e sintetiza as preocupações básicas como ponto de partida
para a compreensão de todo o processo de atuação dos responsáveis pelo desenvolvimento de um
programa com suas diferentes finalidades.
Lembrete
Futebol/futsal alto Performance ou alto Aplicação dos princípios do Preparação física, técnica e
rendimento (profissional) nível treinamento esportivo tática
Saiba mais
Resumo
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FUTEBOL: ASPECTOS PEDAGÓGICOS E APROFUNDAMENTOS
Essa nova forma ganhou a simpatia de todos até que sua popularidade
levou dirigentes da época a adotarem-no oficialmente e chamá‑lo de
futebol. Escreveram suas regras e fundaram a primeira associação do
jogo, a FA, em 1862.
Exercícios
Questão 1. Diversas atividades com bola foram registradas na história antiga, muitas delas jogadas
com os pés e com características organizadas de ataque e defesa. No entanto, o futebol contemporâneo
organizado como modalidade esportiva regulamentada, institucionalizada, foi desenvolvido na
Inglaterra, no século XIX. Qual alternativa explica melhor como ocorreu o processo de formação do
futebol moderno?
B) Os marinheiros ingleses, influenciados por um jogo com bola denominado choule desenvolvido
nas ilhas escocesas, praticavam a modalidade bastante violenta em quaisquer praias e portos que
se instalavam, por todo mundo, ajudando a criar unidades de prática e clubes por todo o planeta.
E) O futebol se desenvolveu na China, a partir de uma modalidade muito antiga chamada Tsu Chu,
por volta de 2.500 a.C., durante a dinastia Han. O próprio imperador chinês praticava a modalidade
que serviu de base para as regras do futebol moderno.
A) Alternativa incorreta.
B) Alternativa incorreta.
C) Alternativa correta.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: o futebol e o rugby têm a mesma origem, o jogo popular praticado na Inglaterra;
ambas as modalidades foram regulamentadas visando definir os padrões de jogos e evitar a violência.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: o jogo com bola praticado na China é apenas uma ilustração de como em vários lugares
do mundo e em diversas épocas distintas os povos tinham jogos praticados com bolas. No entanto, a
modalidade chinesa antiga não tem qualquer relação cronológica com o futebol moderno.
Questão 2. “O futebol já era uma modalidade bastante popular na Europa e na América do Sul
no início do século XX, quando começam a ser realizados jogos entre equipes e seleções dos dois
continentes; nos Jogos Olímpicos, o futebol era uma grande atração. Os selecionados sul-americanos
eram referências nos Jogos e o Uruguai se tornou o primeiro bicampeão olímpico, em 1924 e 1928.
O sucesso da modalidade, nos Jogos Olímpicos, fez surgir o projeto do então presidente da Fifa, o
francês Jules Rimet, de se realizar uma Copa do Mundo só com equipes de futebol, que seria disputada
no ano de 1930. O país sede para a primeira Copa do Mundo de Futebol foi o Uruguai e treze países
participaram dessa edição, que teve uma final sul-americana entre Uruguai e Argentina, vencida pelo
Uruguai, o primeiro campeão mundial de futebol” (Santos Neto, 2002).
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Unidade I
III – O futebol já era uma grande atração no início do século XX por ocasião da realização dos Jogos
Olímpicos.
IV – A seleção da Argentina foi bicampeão olímpica de futebol nos anos de 1924 e 1928.
A) I, II e III.
B) I, III e IV.
C) I, II e IV.
D) I, III e V.
E) I, IV e V.
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