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JACOBINA
2023
SUMÁRIO
RESUMO ………………………………………………………………………………. 3
1. INTRODUÇÃO ……………………………………………………………… … 5
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA……………………………………………… 7
3. MATERIAL E MÉTODOS……………………...……………………………..
13
REFERÊNCIAS ……………………...…………………………………………….. 18
2
Cruz, Emerson Souza. Contribuições da prática do parkour para o desenvolvimento da
aptidão física relacionada à saúde na adolescência. Nº fls. Trabalho de Conclusão de Curso
(Curso de Licenciatura em Educação Física). Faculdade AGES. Jacobina, BA, 2023.
Resumo
1
Estudante de graduação do curso de Educação Física da Faculdade AGES de Jacobina -
emerson.souza.cruz.2000@gmail.com.
2
Professor da Faculdade AGES de Jacobina. Especialista em Metodologia em Educação Física e Esporte –
igor.pinho@ages.edu.br.
3
Professor da Faculdade AGES de Jacobina: Doutor em Biotecnologia industrial –
anderson.s.barbosa@ages.edu.br
4
Professora da Faculdade AGES de Jacobina: Licenciada e bacharel em Educação física, Especialista em
treinamento de força e em educação física escolar. Mestre em aspectos socioculturais da educação física, Univasf,
campus Petrolina – Andresiele@hotmail.com
3
Objetivo Geral
Objetivo Específico
• Falar sobre o le parkour, fazendo uma apresentação de seu conceito e de sua história,
sua relação com o treinamento físico;
• Apresentar definições acerca do termo Adolescência com base na literatura científica,
em documentos e leis;
• Trazer discussões acerca da importância dos estudos da aptidão física e suas devidas
contribuições para a saúde;
• Discutir acerca de aspectos relacionados à aptidão física durante o período da
Adolescência;
• Relacionar os aspectos citados sobre a Aptidão Física e Adolescência com a prática do
le parkour e suas possibilidades de contribuir com a saúde dos praticantes
4
1. INTRODUÇÃO
5
É o mesmo que exercícios físicos, conceito apresentado por Guedes e Guedes (1995) como toda atividade física
planejada e estruturada, com a finalidade de melhorar um, ou mais componentes da aptidão física.
6
Refere-se ao nível de atividade funcional diminuído pela ausência de movimento corporal (GUEDES; GUEDES,
2002).
5
prática. Na sequência, destacam-se diferentes abordagens conceituais sobre os termos
adolescência e aptidão física. Por fim, analisam-se as características do parkour, enquanto
atividade física sistemática, considerando as contribuições de sua prática para o
desenvolvimento da aptidão física relacionados à saúde de indivíduos na fase da adolescência.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
[...] uma prática contemporânea com valor significativo no modo como o ser humano
se relaciona com a natureza, a cidade e as pessoas. Isto se dá pela filosofia que o
produziu, sendo uma atividade de domínio do corpo e de suas potencialidades para
desafiar o ambiente de forma eficiente, transgressora, emocionante e estética (p. 135).
7
Na ordem cronológica: O 13º Distrito (2004, 2009 e 2014); 007 – Cassino Royale (2006); Velozes & Furiosos 5
e 7 (2011 e 2015 ); Projeto Gemini (2019); Esquadrão 6 (2019), etc.
8
Malhação.
9
O Salto – Um curta, que aborda as dificuldades e prazeres de um grupo de jovens, da periferia de São Paulo-SP,
que aprendeu e prática do parkour, de forma autodidata.
10
Em dezembro de 2016, o programa Esporte Espetacular exibiu o quadro “Desafio Urbano”, onde também
evidenciou a prática do parkour, elencando suas principais características e as implicações positivas de sua prática
nas capacidades físicas dos indivíduos praticantes, destacando desde crianças a idosos, mencionando, inclusive,
que um dos seus benefícios é promover a autonomia e a qualidade de vida de quem o pratica.
11
Numa ordem de relevância: Duddu Rocha; Diego Guerra; 3Sskaters; Ninja Flow; Stunts Amazing, etc.
6
A literatura aponta que o parkour foi criado pelo ator e esportista francês, David Belle
(BRITO; DE SOUSA-CRUZ; DOS SANTOS, 2021). Como prática corporal, foi desenvolvido
na França, nos idos de 1980, tendo como premissa o Parcours du Combattant, uma conhecida
prática de treinamento militar francesa, conforme mencionou Pereira e Matos (2021). Segundo
o próprio Belle12, o parkour que se conhece hoje procurou preservar seus valores morais, como
o incentivo à coragem e ao altruísmo, mediante a prática de exercícios corporais, inspirada no
Método Natural (Méthode Naturelle), que foi a base para o Parcours du Combattant. Com isso,
o objetivo do seu praticante, segundo o francês, é transpor obstáculos, quer sejam no meio
natural, ou no meio urbano. O parkour exige que o indivíduo utilize os recursos do seu próprio
corpo, como fundamento para resolver problemas do espaço onde vive. Assim, Belle (2009)
advertiu sobre a necessidade do praticante exercitar o seu corpo continuamente e colocar em
prática os diversos recursos de movimentos físicos, para que ele obtenha o pleno êxito na
conquista de seus feitos.
A partir dos estudos empreendidos por Marques (2010) e Stramandinoli, Remonte e
Marchetti (2012), entende-se que, por ter sido inspirado num método de treinamento físico
militar, o parkour é uma prática corporal que envolve diversas ações motoras e uma série de
combinação de habilidades naturais, que são sistematizadas a partir de movimentos espontâneos
do próprio corpo, como os atos de correr, saltar e escalar, por exemplo. Essa sistematização das
ações motoras espontâneas, com base nos estudos empreendidos por Gallahue, Ozmun e
Godway (2013), quando trabalhada desde a idade mais tenra do indivíduo, ou seja, na infância,
poderá contribuir para o aprimoramento de movimentos mais refinados e complexos,
possibilitando que o indivíduo faça usufruto da proficiência dessas habilidades nas etapas
futuras de seu desenvolvimento.
No tocante a essas questões, o praticante do parkour explora todas as suas possibilidades
corporais, ao levar o seu corpo a todos os limites, movimentando-se e equilibrando-se de forma
rápida, precisa, fluente e eficaz, superando todos os obstáculos do ambiente que o cerca, como
assim definiram Pereira, Honorato e Auricchio (2020). Desse modo, entende-se que a prática
do parkour exige uma gama de ações motoras possíveis, que estão presentes na corrida e nos
saltos contínuos, mediante as impulsões verticais e horizontais e nas escaladas, cujas
combinações de movimentos, de acordo com alguns teóricos, como Guedes e Guedes (1997;
12
Em 2009, em seu canal no Youtube, Duddu Rocha divulgou um vídeo em que David Belle fala sobre a história
do parkour e a sua relação com a referida prática corporal. O título do vídeo é: "David Belle - Eu Salto de Telhado
em Telhado", disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=myuX_qQATa8.
7
2002), contemplam diversos componentes da aptidão física do praticante, principalmente a
força e a explosão.
Levando-se em consideração o fato de que o parkour tem a influência do método
natural, que “é definido como uma ação metódica, progressiva e contínua, da infância à idade
adulta, tendo por objetivo assegurar o desenvolvimento físico e integral; aumentar as
resistências orgânicas e as aptidões em todas as espécies de exercícios naturais e utilitários
indispensáveis” (GODTSFRIEDT, 2010 apud STRAMANDINOLI; REMONTE;
MARCHETTI, 2012, p. 17), e entendendo que a sua prática contempla diversos componentes
da aptidão física do seu praticante, é possível inferir que, se trabalhado de forma
sistematizada13, pode ser sugerido como uma interessante alternativa para o professor de
Educação Física trabalhar com adolescentes.
No tocante às questões supracitadas, o parkour insurge como possibilidade de se
trabalhar uma prática corporal diferente, ao substituir os pragmáticos conteúdos esportivos e os
monótonos exercícios convencionais de ginástica, além dos limitados espaços das quadras
poliesportivas escolares, considerando o fato de ser uma prática urbana que acontece em
diversos espaços como a rua, praças, além dos espaços da própria escola, possibilitando, dessa
forma, a construção singular do corpo nos espaços da cidade ou em espaços adaptados,
conforme mencionou Mariano et al (2022). Decerto, a prática do parkour, dada a sua
complexidade de movimentos, poderá contribuir de forma significativa com a melhoria da
aptidão física de adolescentes, nessa etapa de seu desenvolvimento. Nesse contexto, emerge a
necessidade de tecer algumas considerações sobre os termos “adolescência” e “aptidão física”,
respectivamente, levando em consideração o desenvolvimento físico na adolescência e as
contribuições da prática sistemática do parkour, evidenciando o que afirma a literatura
especializada acerca disso.
Está claro que não existe um consenso quanto à definição do termo adolescência, ao que
tudo indica, em razão da variação no tempo de seu início e término. No Brasil, a lei federal, as
entidades de governo e a própria literatura evidenciam diferentes concepções sobre o período e
a faixa etária que compreendem ao seu início e fim. O Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) considera a adolescência como um período que compreende a fase do indivíduo entre
os 12 e 18 anos de idade (BRASIL, 1990). Diferente do que define a Lei 8.069/90, o Ministério
da Saúde (BRASIL, 2010), corroborando com o que afirmou a Organização Mundial da Saúde
13
Mediante um planejamento prévio, com a intenção de contribuir com o aprimoramento das capacidades físicas
do praticante.
8
(OMS, 1965), define que a adolescência é um período biopsicossocial, que compreende a
segunda década da vida do sujeito, a partir dos 10 anos de idade, encerrando-se aos 20 anos
incompletos. De acordo com as entidades de governo, Lourenço e Queiroz (2010) afirmam que
a adolescência compreende uma faixa etária situada entre os 10 e 20 anos incompletos e
acrescentam que esta etapa se constitui como uma fase crítica do processo de crescimento e
desenvolvimento humano, marcada por numerosas transformações relacionadas aos aspectos
físicos, psíquicos e sociais do indivíduo.
Grandes referências na área, Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) não definem a faixa
etária correspondente ao início e fim da adolescência, pois entendem que se trata de uma fase
de transição entre infância e idade adulta e acrescenta ser uma passagem do processo de
desenvolvimento, que pode durar até dez anos, dependendo do indivíduo, de seu ambiente
social, escolar e familiar. Não menos importantes e renomadas teóricas no assunto, Papalia,
Olds e Feldman (2013), corroborando com Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), entendem que
não há uma exatidão para determinar uma idade específica para o início e fim desse período, o
que, de acordo com as referidas teóricas, é certo que o período da adolescência, “nas sociedades
industriais modernas, é a transição da infância para a vida adulta. Vai dos 10 aos 11 anos até os
18 ou 19, chegando mesmo até os 20-21 anos” (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2013, p. 432).
No tocante às questões supracitadas, considera-se a adolescência como uma fase
intermediária entre a infância e a idade adulta, podendo-se destacar o surgimento das
transformações orgânicas da puberdade, que finalizam através do amadurecimento psicossocial
do indivíduo e que, segundo Lourenço e Queiroz (2010, p. 70):
Partindo-se dessa premissa, genericamente entende-se que o corpo humano passa por
importantes transformações nesse período da vida humana, cujas mudanças não cessam
imediatamente; elas acontecem gradativamente e em etapas diferentes, até o momento em que
o indivíduo chega à idade adulta. Dentre essas mudanças, ressaltam-se as transformações
físicas, que emergem dos níveis aumentados de secreções hormonais, decorrentes da
puberdade, e que ocorrem de forma progressiva, estimulando órgãos, como os ovários e
testículos, provocando alterações físicas, dentre elas o crescimento da massa óssea e muscular,
9
o aumento da força e da capacidade das funções cardíacas e pulmonares, tal como evidenciados
por Haywood e Getchell (2004), que são inerentes ao processo de desenvolvimento físico do
adolescente e, em diferentes aspectos, relacionam-se com os componentes da aptidão física
(BÖHME, 2003; GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013).
Tendo em vista a importância dada aos estudos da aptidão física nessa fase da vida,
alguns renomados teóricos da Educação Física, como Gaya e Gaya (2016), por exemplo, já
destacavam a importância de se trabalhar os elementos da aptidão física de crianças e
adolescentes, com o intuito de lhes garantir o desenvolvimento de habilidades psicomotoras e
intelectuais, podendo também favorecer seu rendimento nas tarefas escolares e no dia-a-dia e
um melhor convívio social. Assim, os referidos teóricos entendem que a aptidão física deve ser
considerada como um marcador de saúde na infância e na adolescência e reforçam a
importância dos professores de Educação Física incluírem os testes de aptidão física e sistemas
de monitoramento da saúde em suas aulas, pensando-os como ferramentas eficientes para tornar
as crianças e adolescentes mais saudáveis (2018).
O conceito de aptidão física já era abordado pela Organização Mundial da Saúde (WHO,
1978) como sendo a capacidade que o indivíduo possui de realizar o trabalho muscular de forma
satisfatória e sem muito esforço físico. Do ponto de vista teórico, Caspersen et al (1985) e o
Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM, 1996) definiram a aptidão física como o
conjunto de características possuídas ou adquiridas por um indivíduo, estando relacionadas com
a capacidade de realizar atividades físicas. Por outro lado, Guedes e Guedes (1997), em seus
estudos, julgavam não haver uma unanimidade universalmente aceita sobre sua definição, pois
entendiam haver duas perspectivas: voltadas para a saúde – envolvendo capacidades físicas,
como resistência cardiorrespiratória, força/resistência muscular e flexibilidade – e para o
desempenho motor (performance esportiva) – envolvendo habilidades, como a potência, a
velocidade, a agilidade, a coordenação e o equilíbrio (NAHAS, 2001; GUEDES; GUEDES,
2002; 2007).
A literatura evidencia que as atenções para a questão da aptidão física, relacionada à
saúde e ao desempenho motor, durante os períodos da infância e da adolescência, têm ganhado
notoriedade na atualidade, tanto que Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) afirmaram que a
aptidão física e a atividade motora estão inter-relacionadas, ressaltando a sua importância
durante as etapas do processo de desenvolvimento da criança e do adolescente. No entanto,
percebe-se que essa temática adquiriu maior notoriedade nesta última década; assim, do ponto
de vista da saúde, que é a perspectiva de interesse deste estudo, entendem-se como principal
preocupação o aumento da prevalência de riscos à saúde, tomando como referência os
10
parâmetros de saúde cardiovascular e musculoesquelética, conforme constam no Relatório
Nacional de Desenvolvimento Humano do Brasil (BRASIL, 2016), nos dados do IBGE (2017)
e evidenciados nos estudos de Gaya et al (2019; 2020).
No tocante a essas questões, em seus estudos, Malina e Bouchard (2002) já
demonstraram essa preocupação e sinalizavam que níveis satisfatórios de aptidão física
relacionada à saúde podem contribuir, de forma significativa, não somente com a prevenção de
diversas disfunções de caráter crônico-degenerativas (obesidade, diabetes, doenças
cardiovasculares, hipertensão), como com a manutenção e a melhoria da capacidade funcional
dos indivíduos, possibilitando-lhes melhores condições de saúde e qualidade de vida. Assim,
Malina e Bouchard (2002) destacaram a prática regular de atividades físicas sistematizadas 14,
como uma importante medida a contribuir para a melhoria dos diversos componentes da aptidão
física relacionada à saúde, a saber: força, resistência muscular, resistência cardiorrespiratória,
flexibilidade e composição corporal.
Nessa perspectiva, reitera-se que a prática do parkour torna-se uma viável possibilidade
para o profissional de Educação Física trabalhar o desenvolvimento da aptidão física
relacionada à saúde, uma vez que ele é constituído por um conjunto de movimentos corporais,
cuja intensidade pode produzir efeitos consideráveis sobre o metabolismo e sobre a aptidão
física do seu praticante, já que o próprio Nahas (2001; 2003) afirmou que a finalidade da
atividade física sistematizada, estruturada e repetitiva é o desenvolvimento da aptidão física,
das habilidades motoras e a reabilitação orgânico-funcional. Assim, ao considerar a aptidão
física relacionada à saúde, Nahas (2001) disse o seguinte:
a aptidão física relacionada à saúde é, pois, a própria aptidão para vida, pois possui
elementos considerados fundamentais para uma vida ativa com menos riscos de
doenças hipocinéticas (obesidade, problemas articulares e musculares, doenças
cardiovasculares, etc.) e perspectiva de vida mais longa e autônoma (p.34).
14
Aqui, o termo “atividade física sistematizada” apresenta-se diferente do termo “atividade física”, entendido
como qualquer movimento corporal produzido pela musculatura esquelética e que resulta em um maior dispêndio
de energia, não se preocupando com a magnitude desse gasto energético (CASPERSEN et al, 1985; NAHAS,
2001; 2003; McARDLE; KATCH; KATCH, 2016). Ao contrário, o termo “atividade física sistematizada” está
associado ao que se entende por exercício físico, dada a intenção do movimento, considerando os seus propósitos
como “atividade física planejada”, destinada para o desenvolvimento da aptidão física.
11
também, para o desempenho dos indivíduos em diversas tarefas do cotidiano, garantindo-lhes
melhores condições de saúde e qualidade de vida.
3. MATERIAL E MÉTODOS
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir das etapas de investigação, observou-se que poucos estudos relacionados com
tema preocuparam-se em trazer à luz questões no âmbito da aptidão física. Notou-se que a
maioria dos artigos encontrados se debruçou mais nos aspectos sociais e antropológicos da
prática do parkour, elementos destacados pelos autores como relevantes para a sua inserção na
educação escolar. No entanto, em todos os estudos produzidos foi unânime o destaque da
relação do parkour com os veículos de comunicação de massa, como a televisão e,
principalmente, a internet. Embora isso não seja o objetivo deste estudo, importa ressaltar que
a sua notoriedade e consequente popularização na sociedade se devem, sobretudo, pela
influência dessas mídias populares. Nos estudos desenvolvidos por Marques (2010),
Stramandinoli, Remonte e Marchetti (2012) e Pereira, Honorato e Auricchio (2020), os
referidos autores ratificam essa questão, ao considerarem o parkour um fenômeno cultural, que
vem ganhando adeptos no mundo todo e esse feito se deve, em grande parte, ao advento dos
sites de armazenamento de vídeos na internet, considerada mídia informal, além de sua
vertiginosa exposição nos jornais, na televisão e no rádio, as consideradas mídias formais, sendo
o ator francês David Belle seu principal expoente.
Por ser um fenômeno que integra o universo das práticas corporais, tal como mencionou
Pereira, Honorato e Auricchio (2020), entende-se que o parkour tenha se tornado um importante
objeto de estudo da Educação Física, notadamente em investigações no campo da licenciatura,
sobretudo no que preze a importância de sua inserção na educação escolar, levando-se em
consideração as etapas de desenvolvimento de crianças e adolescentes e as contribuições de sua
prática no processo de aprendizagem dos educandos.
Acerca disso, num estudo desenvolvido por Leite et al (2011), para avaliar os níveis de
aptidão física de praticantes do parkour, na cidade de Curitiba-PR, foram realizadas medidas
antropométricas e testes de aptidão física. A pesquisa envolveu treze jovens, com
aproximadamente dezenove anos de idade, sendo praticantes de parkour há mais de seis meses.
Segundo os estudiosos, embora o estudo tenha apresentado algumas limitações, evidenciou-se
que não houve resultados significativamente positivos, considerando-se os valores acima da
média populacional, diga-se de passagem, sendo que a maior parte das variáveis ficou abaixo
dos níveis de aptidão física dos praticantes, no geral, com exceção para o maior
13
desenvolvimento de força dos membros inferiores e superiores, o que, para os referidos autores
da pesquisa, isso pode ser atribuído à predominância de saltos e atividades utilizadas para
transpor obstáculos urbanos e/ou naturais, com ampla utilização das pernas e dos braços,
durante a sua prática.
Noutro estudo, com mesma amostragem, perfil dos voluntários e procedimentos
utilizados, porém com a finalidade de comparar os níveis de aptidão física de jovens praticantes
de parkour, residentes na Bahia e no Paraná, Dos Santos, Santos e Dos Santos (2015)
concluíram que a prática do parkour pode contribuir positivamente nos níveis de aptidão
musculoesquelética de seus praticantes. No entanto, para chegarem a essa conclusão, os
referidos estudiosos realizaram diversos testes de aptidão física (TAF) e mediram a composição
corporal, os níveis de flexibilidade, força e resistência dos praticantes.
Embora alguns resultados tenham sofrido variações e alguns tenham sido abaixo dos
valores de referência, os referidos teóricos levaram em consideração algumas questões, como
o não conhecimento acerca da rotina de treinamento dos voluntários da pesquisa, assim como
o estilo adotado na prática de treinamento do parkour, que pode influenciar na variação dos
resultados, tendo em vista as características da localidade. No entanto, entenderam que a prática
do parkour, se praticada por um maior período de tempo, poderá influenciar positivamente nos
níveis de aptidão musculoesquelética do praticante. Em ambos os estudos, seus autores
afirmaram que o parkour, embora se destaque pela complexidade de seus movimentos, que
pode exigir bastante coordenação motora de quem o pratica, ao que tudo indica, parece não
demandar grande aptidão física, podendo ser praticado por qualquer pessoa, respeitando suas
condições físicas e limitações (LEITE et al, 2011; DOS SANTOS; SANTOS; DOS SANTOS,
2015).
Vaghetti et al (2019) já haviam mencionado que o parkour poderia ser utilizado por
profissionais da Educação Física para se trabalhar o condicionamento físico de seus praticantes,
ou como uma interessante ferramenta pedagógica, considerando sua complexidade e suas
desafiadoras formas de movimentar-se, o que o torna bastante apreciado por indivíduos mais
jovens. Além disso, dadas as suas características, que o diferencia de outras práticas corporais,
sobretudo por não precisar de muitos recursos físicos e materiais, já que é possível explorar os
próprios espaços urbanos e/ou da escola, segundo Vaghetti et al (2019), do ponto de vista
pedagógico, o parkour pode ser utilizado para enriquecer as aulas de Educação Física, ao
mesmo tempo em que contribuirá com o desenvolvimento e aprimoramento das capacidades
motoras dos alunos no ambiente escolar, já que, dentre suas capacidades físicas, destacam-se
os saltos e os deslocamentos verticais e horizontais, que podem beneficiar seus praticante na
14
aquisição de força e potência muscular dos membros inferiores e superiores, importantes
componentes da aptidão física.
É notório que os estudos no campo da aptidão física relacionada à saúde têm sido um
grande aliado na atuação do profissional de Educação Física, sobretudo quando a preocupação
é o desenvolvimento de ações efetivas nos cuidados e orientações para a saúde dos indivíduos
(GUEDES; GUEDES, 1997; 2002). Partindo-se dessa premissa, a presente investigação dá
indicativos que a prática do parkour é fruto da preocupação do homem com o corpo e com a
saúde e essa perspectiva se reforça na análise do título de uma matéria do Globo Esporte,
publicada na internet, que dizia o seguinte: “De forma lúdica, o parkour se torna opção para
tirar adolescentes do sedentarismo” 15
. O texto da matéria, que tratou o parkour como uma
prática esportiva, ressaltou a sua procura por adolescentes e adultos e destacou as contribuições
do seu treinamento para contemplar diferentes valências musculares, o desenvolvimento da
consciência corporal dos praticantes e o apontou como uma excelente opção para livrar jovens
e adultos do sedentarismo. Isto reforça a ênfase dos meios de comunicação de massa à referida
prática corporal, bem como os seus benefícios para a saúde do praticante.
Assim, a partir das análises e reflexões, do ponto de vista teórico, sobre a prática do
parkour, é possível inferir que as habilidades motoras inerentes a cada um dos seus
movimentos, utilizando-se do próprio corpo como um princípio de sobrecarga, de acordo com
Nahas (2001; 2003), pode possibilitar o desenvolvimento de qualidades físicas importantes para
indivíduos que estão na fase da adolescência, a saber: força e flexibilidade, velocidade e
agilidade, além do equilíbrio e propriocepção, presentes na maioria dos movimentos,
principalmente nos saltos e nas escaladas. Reforçando esse ponto de vista, pelo fato de se tratar
de movimentos dinâmicos, que exigem maior precisão na sua execução, tomando como
referência as contribuições de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), entende-se que o parkour
também é importante para o desenvolvimento da consciência corporal, tornando-o uma
excelente atividade para contribuir com a melhora da aptidão física relacionada à saúde do seu
praticante.
15
Ver site do Globo Esporte.com, disponível em: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/treinos/noticia/de-
forma-ludica-parkour-se-torna-opcao-para-tirar-adolescentes-do-sedentarismo.ghtml.
15
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A natureza do presente estudo foi, num primeiro momento, apresentar o parkour como
um fenômeno que integra o universo das práticas corporais e que, assim como a dança, as lutas
e as modalidades esportivas, a sua prática também envolve uma série de habilidades básicas do
indivíduo e que são inerentes ao próprio movimento humano. À luz da literatura, cuidou-se de
apresentar a sua história e evidenciar as características funcionais e utilitaristas da sua prática,
bem como as implicações/benefícios para quem o pratica. Considerando a sua história, também
evidenciou-se que a prática do parkour é uma inspiração do treinamento militar, como um
exercício físico que envolve diversas ações motoras e que é trabalhado desde a infância à idade
adulta, cuja finalidade tem sido assegurar o desenvolvimento físico e integral dos sujeitos e
aumentar a aptidão física do seu praticante, sobretudo em relação à saúde.
A própria ciência tem cuidado de ressaltar as implicações positivas e os benefícios
inerentes à prática de atividades físicas nas diferentes etapas do desenvolvimento humano,
sobretudo na adolescência. Com base nessas constatações, dentre seus principais benefícios,
destacam-se: contribuições no crescimento físico, estímulo no desenvolvimento motor e na
coordenação motora, o que inclui agilidade, equilíbrio e flexibilidade; melhora das funções
cardiovasculares, efeito positivo no perfil lipídico e a redução do risco de diversas disfunções
de caráter crônico-degenerativas; o incremento da massa óssea e massa muscular e,
consequentemente, o aumento da força, possibilitando, de acordo com Nahas (2001), a melhoria
das capacidades funcionais dos indivíduos, estes considerados importantes componentes da
aptidão física relacionada à saúde.
Tendo em vista as questões supracitadas e considerando a notoriedade que o parkour
tem adquirido na sociedade brasileira e no mundo, entende-se que não é possível deixá-lo passar
despercebido. Logo, é de suma importância que os profissionais da Educação Física
reconheçam os benefícios de sua prática e o percebam como uma alternativa possível de se
trabalhar o desenvolvimento da aptidão física relacionada à saúde dos seus praticantes, com
especial destaque para o público adolescente. Também é importante ressaltar que este estudo é
fruto de uma investigação preliminar e, por isso, julgam-se necessárias análises mais
aprofundadas sobre a temática, cujas reflexões também forneçam subsídios para pesquisas
futuras.
16
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