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Introdução
As provas ainda são vistas como formas conservadoras de avaliar a aprendizagem dos alunos. Por outro lado,
são consideradas instrumentos confiáveis para apresentar resultados para os interessados, sejam eles pais, os
próprios alunos, professores e o sistema que determina em algumas instituições o uso da prova como
instrumento relevante do processo avaliativo.
O que devemos examinar é o intuito da aplicação de provas. Enquanto elas forem empregadas como exigência
do sistema como forma de quantificar os mais “aptos” para o mercado de trabalho, continuaremos com um
ensino tecnicista. Os professores
aplicam essas provas controlando o ambiente: não procedem a explicações, não realizam leituras, não permitem
qualquer movimentação. Posteriormente, corrigem as provas atribuindo notas e devolvem as provas e “orientam” os
alunos com rendimento insuficiente para “estudarem mais”. Na verdade, ao assim procederem, os professores
restringem sua ação à realização de uma avaliação unicamente classificatória (Moraes, 2008, p. 51).
Diante desse contexto, o objetivo deste artigo é discutir o uso da prova como instrumento avaliativo, mas com
um novo significado; considerando que ela ainda é um recurso muito utilizado no meio educacional e até fora
dele – em concursos e seleções –, torna-se necessário um olhar diferente para esse instrumento no que tange
aos objetivos que se pretende avaliar. Torna-se necessário deixar os termos exclusão, classificação e reprovação
de lado e passar a vê-la como recurso mediador do saber, tanto para professores como para alunos. Para
professores no sentido de que levem em consideração o replanejar sua prática, de uma autoavaliação do seu
método de ensino, de ver o que podem melhorar para que o aluno saia como protagonista. Para o aluno, uma
forma que perceba seus avanços, suas dificuldades, e busque formas de melhorar sua aprendizagem. Assim,
pode-se observar que,
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dependendo de como são elaboradas as provas ou testes, de como são aplicadas, do ambiente, do estado emocional
dos alunos ou do professor, de como os alunos são solicitados a participar, do julgamento do professor, se constituirão
numa arma nociva. Quando aplicadas de forma contínua, com feedbacks permanentes, com caráter incentivador de
etapas vencidas e indicador de novos horizontes ou de novas portas abertas, se revestem de um estímulo para
concretização do conhecimento e autorrealização dos envolvidos no processo (Sant’Anna, 1995, p. 10).
Pretende-se, com este estudo, possibilitar reflexões a partir de uma pesquisa bibliográfica e de prática
profissional e de discussões acerca do tema para ressignificar um processo avaliativo vislumbrando os sujeitos
na relação que estabelecem com o saber (Charlot, 2000). Para tanto, foi necessário um estudo da Taxionomia de
Bloom, seguindo os aspectos de classificação dos níveis de complexidade das operações mentais. Ao realizar
provas com os diferentes níveis de abordagem, podemos valorar e compreender onde estão as dificuldades dos
alunos e o que eles vêm construindo; dessa forma pode-se elaborar melhor a metodologia, o planejamento e o
acompanhamento dos alunos, de modo a fazer da prova um instrumento de análise do desenvolvimento
educacional.
Alguns autores são bem taxativos com relação ao emprego da prova (Hoffmann, 2001; Luckesi, 2002; Perrenoud,
1999); relatam que esse instrumento tem caráter elitizado, visando uma promoção dos que conseguem atingir
um bom resultado, o que não quer dizer que tenham realmente aprendido de forma significativa.
Avaliar exige critérios para que se possa determinar que instrumentos são mais adequados para uma
aprendizagem de fato significativa. Dessa forma, a prática da avaliação não pode reter-se no quantitativo, mas
principalmente ao que de fato ficou após todo o processo de ensino-aprendizagem. Precisa estar atrelada a uma
relação de sujeito, sociedade e ação, em prol de mudanças do meio no qual o sujeito está inserido. Segundo
Moretto (2003, p. 9), “não é acabando com a prova escrita ou oral que melhoraremos o processo de avaliação da
aprendizagem, mas ressignificando o instrumento e elaborando-o dentro de uma nova perspectiva pedagógica”.
Salinas (2004, p. 96) menciona que a prova é uma atividade que tira o aluno da rotina. Talvez aí esteja um dos
fatores que a tornam tão assustadora. Pensar nesse objeto como fator que permeia a aprendizagem é saber
que, por ser contínua, não quer dizer que em todo o processo avaliativo deva existir prova, mas começar a
trabalhá-la com outro enfoque, com intento de torná-la uma atividade que mostre ao aluno o quanto ele pode
aprender. Para isso, os objetivos devem estar bem claros e as questões bem coerentes com esses
pressupostos. Estas são características da aplicação de prova e o que a torna única:
A forma isolada como esse recurso vem sendo trabalhado muda o cotidiano da sala de aula. Então, por que não
ressignificá-lo como justifica Moretto? Quais as dificuldades em torná-lo um meio de avaliação eficiente e eficaz,
com aspecto formativo e não excludente? Em seu livro Prova: um momento privilegiado de estudo e não acerto de
contas , Moretto (2005, p. 123) escreve sobre a Taxionomia de Bloom (ou Taxionomia de Objetivos
Educacionais), na qual são utilizados critérios de categorização, levando a classificar as questões de uma prova
nos níveis de complexidade de operações mentais. Os níveis vão dos menos complexos aos mais complexos
[(re)conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese, julgamento (avaliação)].
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Na avaliação deve existir o dialogar entre as partes do processo avaliativo; ela deve basear-se nos três domínios:
afetivo, cognitivo e psicomotor, estabelecendo uma relação, como afirma Charlot (2000, p. 46): “Toda relação de
saber se dá a partir da interação do sujeito com os objetos de conhecimento, da relação com os outros e da
relação consigo próprio”. Nesse sentido, a aprendizagem é condição básica para a sobrevivência humana e é
necessária uma inserção no meio social para que o indivíduo seja um ser atuante e produtivo. Para Gadotti
(2005, p. 47), “Educar é também aproximar o ser humano do que a humanidade já produziu”. Para ele, tal fato é
de suma importância, na medida em que o conhecimento torna-se cada vez mais decisivo na sociedade atual.
Avaliar, na visão de alguns professores, é cumprir o que o sistema propõe; este até pode usar outros
instrumentos de avaliação, já que é um processo contínuo, mas no final vem a atribuição de valores
quantitativos (notas), e o sistema educacional impõe realizar provas. Aí começa o dilema, pois o erro não está
em aplicar prova como instrumento de avaliação, mas a forma como ela é empregada. No entanto, se for vista
numa concepção construtivista, pode-se ter um meio de acompanhamento e de reformulação do processo
avaliativo.
A investigação contínua sobre os percursos e os processos vividos durante a aprendizagem exige esse rigor
metodológico por intermédio da elaboração de registros significativos, capazes de apontar todas as possibilidades de
intervenção, de provocação e desafio intelectual necessários ao avanço e à construção de conhecimento (Loch, 2000, p.
31).
A necessidade de recriar, reformular algo já feito, permeia um processo de colaboração para uma formação de
fato significativa, em que o sujeito estabelece sua subjetividade, em que o indivíduo acolhe o que é de interesse
para ele e a forma como age diante de um problema. De acordo com Charlot (2000, p. 39), “a experiência escolar
produz subjetividade; experiências escolares diferentes geram formas diferentes de subjetividade; assim, a
escola “fabrica”, ou contribui para fabricar, atores e sujeitos de natureza diferente”.
Oliveira e Silva (2010, p. 6) dizem que avaliar não está centrado apenas em valorar ou qualificar um objeto de
avaliação, mas em diagnosticar se este é passível de aceitação ou de mudança. Portanto, cabe ressaltar que,
quando um instrumento não está de acordo com os objetivos propostos ou se ele não é capaz de mobilizar o
sujeito aprendente, faz-se importante um estudo das possíveis mudanças na práxis educativa do processo de
avaliação.
Segundo Salinas (2004, p. 97), a prova apresenta dois valores para avaliar o aluno: o intrínseco e o externo. O
valor intrínseco está ligado ao que se pretende que aprenda. Assim surgem, nas questões, a clareza e os
objetivos para cada questão da prova. Um enunciado deve ser claro a ponto de que qualquer pessoa que o leia
entenda, mesmo que não compreenda o assunto ao qual se refere, mas consegue relatar o que está sendo
pedido na questão. Quanto aos critérios de correção, deve-se deixar também claro o que realmente será
considerado como resposta. O valor externo está ligado ao quanto a prova é importante no processo de
avaliação. Logo, uma ressignificação desse instrumento passa a ser vista como aliada do processo de ensino-
aprendizagem.
Metodologia
Por se tratar de uma pesquisa que visa à relação entre docentes, discentes e os instrumentos de avaliação,
necessita-se de uma pesquisa quantitativa e qualitativa com o intuito de rever os meios usados no processo
avaliativo, reformulando o instrumento em foco, auxiliando professores e alunos em uma nova perspectiva de
prova. Seguindo o pensamento de Goode e Halt (1975), citado por Pereira e Queirós (2012, p. 68), “a pesquisa
moderna deve rejeitar a falsa dicotomia entre os tipos de pesquisa pelo ponto de vista estatístico e o não
estatístico, e que, independente do tipo de pesquisa, o que é medido continua a ser uma qualidade”.
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A coleta de dados se dará por meio de aplicação de uma prova com dez questões de Química abordando os
compostos orgânicos oxigenados (álcool, cetona, ácido carboxílico, aldeído, éter, éster) e Termoquímica. As
questões foram elaboradas nos diferentes níveis da Taxonomia de Bloom, apresentando variáveis distintas de
caráter revelador da pesquisa, sendo categorizados cada questão e gráficos elaborados a partir dos resultados
obtidos. O objetivo não foi medir erros ou acertos, apesar da quantificação, mas saber como os alunos veem
cada questão, o que eles conseguem de fato demonstrar mediante o que foi aprendido, o que não quer dizer que
o aluno não aprendeu, mas que talvez ele não tenha conseguido expressar o que está explícito na questão.
Então pode-se observar que a pesquisa também está ligada ao aspecto qualitativo, mas que precisou ser
quantificado para essa análise.
a integração da pesquisa quantitativa e da qualitativa permite que o pesquisador faça um cruzamento de suas
conclusões de modo a ter maior confiança de que seus dados não são produto de um procedimento específico ou de
alguma situação particular. Ele não se limita ao que pode ser coletado.
A busca pela desmistificação desse instrumento (prova), para que seja visto como fator de mudança tanto no
planejamento do professor como no desenvolvimento do aluno, produz não apenas uma mera repetição de
resultados como também um aprendizado de caráter construtivista; mostra que é indiscutível o mobilizar-se. De
acordo com Charlot (2000, p. 55), “a mobilização implica mobilizar-se (“de dentro”), enquanto a motivação
enfatiza o fato de que se é motivado por alguém ou por algo (“de fora”)”. Há relação entre ambas. Não há
mobilização sem motivação. Deve haver estímulo, mesmo que involuntário, para que o outro se mobilize.
A pesquisa foi realizada com uma turma de 3º ano da Escola de Referência em Ensino Médio Deolinda Amaral. A
turma é composta por 34 alunos; todos realizaram a prova proposta. Todos os conteúdos presentes na prova
foram trabalhados de 27 de abril a 5 de julho. A prova era composta por dez questões, categorizadas na
Taxionomia de Bloom; delas, quatro foram de (re)conhecimento, duas de compreensão, uma de análise, uma de
síntese, uma de aplicação e uma de julgamento. Os alunos tiveram 100 minutos para a resolução. Após o
término, as provas foram corrigidas, obtendo os dados para estudo.
Resultados e discussões
O levantamento bibliográfico, bem como o estudo de caso, trazem uma concepção mais ampla da relação que
se estabelece com o fazer avaliativo. Tem-se discutido muito a respeito dessa problemática, mas pouco se tem
feito para uma mudança de atitude. Como ainda está atrelada ao sistema, não se pode abdicar totalmente do
uso de prova e talvez nem se deva, já que o processo para adentrar níveis superiores ou mesmo no mercado de
trabalho, em muitos casos, se dá por meio desse tipo de avaliação.
Para Cronbach (apud Stufflebeam; Shinkfiel, 1999, p. 140), “avaliar é um processo planejado e multifacetado de
coleta de informações para compreensão e tomada de decisões que visem a melhorar a qualidade do que se
avalia e instruir os sujeitos envolvidos nessa dinâmica” (apud Silva, 2012, p. 5).
O que precisa mudar é a forma como esse instrumento é utilizado, colaborando com o processo de ensino-
aprendizagem, numa perspectiva mais humanista e de cunho construtivista. Para tal, o levantamento
demonstrou os resultados discriminados a seguir após a aplicação da avaliação com questões categorizadas na
Taxionomia de Bloom, observando que já haviam sido estudados os conteúdos designados no período em que
foi aplicada a prova.
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O objetivo dessa questão é identificar a nomenclatura da estrutura. Vale lembrar o que foi visto nas regras,
segundo a Iupac (União Internacional de Química Pura e Aplicada).
O gráfico a seguir mostra que 38% dos discentes reconhecem a nomenclatura da estrutura proposta.
Fonte: Pesquisa
Essa é uma questão de nível mais simples, em que não requer do aluno muito esforço cognitivo; seria uma
questão mais de memorização.
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A segunda questão traz como objetivo reconhecer as funções químicas dos compostos orgânicos oxigenados.
Essa questão obteve maior número de acertos.
O gráfico a seguir mostra que 85% dos alunos responderam corretamente, identificando os tipos de funções
presentes na estrutura química.
Fonte: Pesquisa
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O aluno pode não ter percebido a quantidade de carbono da primeira parte da cadeia do éster; dessa maneira,
equivocou-se na resposta assinalada.
Fonte: Pesquisa
O que podemos perceber é que, nesse tipo de questão de (re)conhecimento, é bem claro o percentual de
acertos, o que não quer dizer que o aluno que não acertou não tenha compreendido o conteúdo; muitas vezes
esse tipo de questão leva o aluno a errar coisas simples, como posição de instauração, posição de grupo
funcional, às vezes até uma simples falta de atenção na contagem da cadeia principal ou ainda a observação
dos grupos funcionais, por estarem juntos em uma mesma estrutura (funções mistas), como no caso da
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Questão 2.
Na questão apresentada, o aluno só precisaria observar a variação da entalpia (∆H), sendo ∆H > 0 reação
endotérmica e ∆H< 0 reação exotérmica.
Fonte: Pesquisa
As questões de compreensão são questões que dão significado ao objeto de conhecimento. Os dois exemplos
de questão de conhecimentos são mostrados a seguir.
Na alternativa (a), o aluno tinha que observar as ligações estabelecidas pelos átomos para formar a estrutura,
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bem como demonstrar sua compreensão, esboçando a estrutura e nomeando-a. A alternativa (b) também pede
para esboçar o desenho da estrutura, salientando que é uma cadeia aromática. Todos tentaram responder, mas,
dos 34, apenas 2 conseguiram responder corretamente às duas alternativas e 3 apenas uma delas; os demais
colocaram respostas incorretas.
O aluno C, apesar de ter um raciocínio dentro do esperado para a questão, não prestou atenção nos pormenores
das alternativas. O gráfico abaixo mostra os resultados gerais da questão.
Fonte: Pesquisa
Diante dos resultados obtidos na Questão 5, observa-se que, em um nível que exige um pouco mais de
raciocínio, os alunos tendem a errar mais. A questão estava bem clara quanto à sua estrutura e que deve avaliar
de acordo com o parâmetro estabelecido no enunciado. Os acertos parciais emergiram na alternativa (b); na
alternativa (a), os alunos não conseguiram montar a estrutura para dar a nomeação correta ou montaram a
estrutura de forma errada. A Figura 11 traz outro exemplo de questão de compreensão.
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Fonte: Pesquisa
A questão foi classificada nesse nível por necessitar das operações de reconhecimento e de compreensão; além
de identificar os radicais pertinentes ao problema, é necessário compreender como irá chegar à estrutura e
finalmente à fórmula molecular. Nesse caso, o aluno chegou à estrutura correta, mas não assinalou a resposta.
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Fonte: Pesquisa
Os resultados do gráfico demonstram que a quantidade de erros e acertos foi bem próxima.
A Questão 8 é uma questão de análise, por partir do todo e desmembrar, ou seja, enuncia-se o objeto do
conhecimento e são estabelecidos parâmetros para análise.
O ‘todo’ seriam os aldeídos cinamaldeído e o citral. Os parâmetros para análise são: estruturas dos compostos
mencionados e as afirmações enumeradas. Os parâmetros para a correção estão em: “Após examinar as
afirmações acima, explique o(s) erro(s) nela(s) contida(s), de acordo com a nomenclatura Iupac e as estruturas
estudadas na Química Orgânica”.
As respostas dadas para corrigir as afirmações não foram condizentes. Algumas afirmações estavam corretas e
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mesmo assim os alunos fizeram correções; por exemplo, a afirmativa 2 estava correta e um dos alunos afirmou
estar errada, corrigindo-a assim: “Segundo a Iupac, o citral denomina-se 2,6-dimetil- octa-3,7 dienal”. Na
afirmativa 3, a correção seria: O aldeído cinâmico possui cadeia aromática, insaturada e homogênea. O aluno D
corrigiu assim: “O aldeído cinâmico possui cadeia aromática, insaturada e heterogênea”, como é mostrado na
Figura 16. Nota-se que, em questões desse tipo, alguns estudantes consideram erros das afirmativas, pois não
analisam as partes, as informações contidas tanto na estrutura como na própria nomenclatura.
Fonte: Pesquisa
Como vemos no gráfico, apenas 35% responderam parcialmente à questão, colocando um erro e explicando-o,
porém a questão apresenta duas afirmações incorretas, a 3 e a 4. Na afirmativa 4 se encontram mais de duas
ligações pi (π). Os que responderam 50% da questão colocaram como erro e explicaram apenas a afirmação 4.
Nos enunciados das questões de síntese, vemos que é o contrário da análise. Correlacionam-se as partes para
se chegar ao todo. Para isso, observa-se a Questão 9, analisando as partes: “a mistura de resina de pinheiro,
destilado de vinho e óleo de lavanda”, “as estruturas dessas substâncias”, “o que há em comum por serem
utilizados na composição do verniz?”. O objetivo da resposta é fazer uma síntese ressaltando qual estrutura é o
destilado de vinho, o óleo de lavanda e a resina de pinheiro.
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Observa-se que o aluno D respondeu com coerência, pois, ao analisar as partes, fez uma junção delas,
escrevendo sua resposta.
Fonte: Pesquisa
Dos 34 alunos, apenas 18% responderam corretamente. Os demais não responderam ou apenas conseguiram
identificar as funções químicas presentes.
Esta é uma questão mais elaborada, que tem diferentes níveis de complexidade, mas o que foi mais considerado
nela foi a análise, quando se pede “com base nas informações” e para justificar a resposta com base na reação
de decomposição, considerando as condições padrão.
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Dos participantes, 18% argumentaram com coerência, dentro dos parâmetros estabelecidos.
Fonte: Pesquisa.
Vale salientar que os resultados obtidos não têm o objetivo de quantificar erros ou acertos, apesar de expressar
em gráficos, mas de mostrar as dificuldades para resolver questões em diferentes níveis de complexidade. É
importante observar que, se o aluno não acertou determinada questão em um nível de complexidade, ele pode
acertar em um nível mais ou menos complexo. O mesmo aluno pode errar questões simples de
(re)conhecimento e acertar questões mais complexas, como as de aplicação, e também o contrário. O foco
desta pesquisa é detectar uma forma de tornar a prova um instrumento de concepção construtivista, denotando
que é possível trabalhar com esse instrumento sem gerar impasses expressando características qualitativas,
transparecendo o perfil do sujeito, mostrando os avanços, as dificuldades e aquilo em que se pode melhorar,
tanto professor em sua prática pedagógica quanto o próprio aluno. Por empregar questões em diferentes níveis,
pode-se notar quais são as questões em que os alunos apresentam maior dificuldade e trabalhá-las mais em
exercícios ou atividades diferenciadas.
Não erramos em aplicar prova; erramos em sua formulação, em que muitas vezes a falta de clareza e de
objetivos leva a prova a se tornar obsoleta.
Considerações finais
O que se tencionou aqui não foi determinar argumentos prontos, mas levantar reflexões a respeito do tema
abordado e contribuir com estudos posteriores que investiguem de forma mais profunda a temática em foco.
Vale salientar que a proposta foi ressaltar a importância da prova no fazer avaliativo, mas com uma concepção
diferente da taxada por alguns profissionais e estudiosos em avaliação, de que é excludente e classificatória. O
objetivo é retratar a prova com um caráter diagnóstico-formativo, contribuindo para a formação discente e para a
reconstrução da prática pedagógica do docente. A concepção
formativa tem como função informar o aluno e o professor sobre os resultados que estão sendo alcançados
durante o desenvolvimento das atividades; melhorar o ensino e a aprendizagem; localizar, apontar, discriminar
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Numa concepção formativa, o aprendente (aluno) e o mediador (professor) podem notar os avanços e
dificuldades e colaborar para uma mudança de atitude, tratando a prova como uma auxiliar na construção
significativa do conhecimento e não uma mera classificadora. Com isso, a forma como o instrumento é
elaborado é de grande valia, pois, tendo os critérios estabelecidos e a linguagem dos enunciados de fácil
interpretação, os resultados obtidos servirão de subsídio para o progresso do aluno e do professor.
Avaliar está além de um olhar momentâneo; avaliar necessita estudo minucioso, emprego de diferentes
instrumentos para chegar às habilidades dos diferentes sujeitos; nesse contexto, a prova entra como um desses
meios, como afirma Moretto (2005, p. 95-96):
Avaliar a aprendizagem tem um sentido amplo. A avaliação é feita de formas diversas, com instrumentos
variados, sendo o mais comum deles, em nossa cultura, a prova escrita. Por esse motivo, em lugar de
apregoarmos os malefícios da prova e levantarmos a bandeira de uma avaliação sem provas, procuramos seguir
o princípio: se tivermos que elaborar provas, que sejam bem-feitas, atingindo seu real objetivo, que é verificar se
houve aprendizagem significativa de conteúdos relevantes (grifo do autor).
Não são os instrumentos que precisam ser mudados, mas a forma como eles são trabalhados; a prova pode ser
eficiente e eficaz no processo de ensino-aprendizagem, desde que assuma um aspecto qualitativo em que se
observe o que ainda não foi desenvolvido pelo aprendente e que mudanças devem acontecer para que se dê a
aprendizagem de forma significativa, obedecendo ao tempo de desenvolvimento de cada aluno; não é
quantificando (aprovando ou reprovando), mas reorientando, buscando alternativas dentro dos instrumentos já
existentes, como é o caso da prova.
A pesquisa demonstrou que a prova pode ser vista como um recurso de informações a respeito da trajetória do
aluno e do fazer docente, ressaltando que a formulação desse instrumento deve considerar parâmetros que
viabilizem a interpretação, almejando as respostas coerentes com critérios de correção e as possíveis reflexões
sobre os erros cometidos para elaborar estratégias que sanem as dificuldades apresentadas. Nesse contexto,
Libâneo aponta que
a avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a
passo o processo de ensino-aprendizagem. Através dela os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do
trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados com os objetivos propostos, a fim de constatar
progressos e dificuldades e reorientar o trabalho para as correções necessárias (Libâneo, 1994, p. 195).
A realização desta pesquisa mostrou como a implementação de uma prova abordando diferentes níveis de
complexidade pode interferir no processo educacional e como ainda é necessário maior enfoque dentro dessa
perspectiva construtivista, já que ainda é vista no sentido tradicionalista de obtenção de notas.
Referências
CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria . Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
LIBANEO, José Carlos. Didática . São Paulo: Cortez, 1994. Coleção Magistério 2° Grau, Série Formando Professor.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar: Estudos e Proposições . 2ª ed. São Paulo: Cortez,
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Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2008.
MORETTO, Vasco Pedro. Prova: um momento privilegiado de estudos e não um acerto de contas . Rio de Janeiro:
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princípios teóricos e a prática educativa. Revista e-curriculum , São Paulo, v. 5, nº 2, jul. 2010. Disponível em:
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Acesso em 10 jul. 2016.
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