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IMPLANTAÇÃO DE PROJETOS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS DA REDE

PÚBLICA DA REGIÃO DE SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Lidia Maria de Almeida PLICAS,


Iêda Aparecida Pastre FERTONANI1

Resumo: A educação ambiental já é uma demanda da sociedade e vem se tornando uma


realidade institucional. Isso se reflete no cotidiano escolar do ensino médio, em que
professores de diferentes áreas de atuação têm tratado do tema relacionando-o aos
conteúdos das próprias disciplinas que ministram. Revela-se, entretanto a existência
de uma fragilidade das práticas pedagógicas, reforçando a proposta educacional
conservadora. A educação ambiental só apresentará resultados coerentes se
incorporar em seu fazer cotidiano a completa contextualização da complexidade
ambiental. É importante principalmente na escola, a busca de soluções, criativas e
cientificamente fundamentadas, na abordagem do tema. Não basta tornar os alunos
“ecologicamante alfabetizados”, é preciso fazê-los portadores de um sentimento
inseparável do compromisso com a preservação da vida em todas as suas formas.
Este trabalho relata a implantação de um projeto em educação ambiental que incentiva
ações didático-pedagógicas e ações educativas de caráter popular e inclusivo, não
limitado apenas ao ambientalismo, mas que se ocupa das relações homem/natureza e
indivíduo/sociedade.

Palavras-chave: educação ambiental; problemática ambiental; projeto em educação ambiental.

INTRODUÇÃO

A grande relevância do tema educação ambiental nos meios educacionais, hoje, é


uma conseqüência das políticas de impacto estimuladas no mundo todo e da sucessão de
medidas ambientais em âmbito internacional.

No Brasil, a educação ambiental não apresenta objetivos e metodologias de ação


estabelecidas nem nas escolas nem nas universidades. Os problemas ambientais são debatidos
em várias áreas ligadas à comunicação e à educação. As organizações ambientalistas, políticas e
outros grupos, levam ao público um conjunto de informações por demais genéricas, o que impede
a educação ambiental ser vista como prática efetiva de comportamentos para o meio ambiente.

O conceito de educação ambiental varia de interpretações, de acordo com cada


contexto, conforme a influência e vivência de cada um.

Para muitos, a educação ambiental restringe-se em trabalhar assuntos relacionados


à natureza: lixo, preservação, paisagens naturais, animais, etc. Dentro deste enfoque, a educação
ambiental assume um caráter basicamente naturalista.

1
Departamento de Química – Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas – UNESP – São José do Rio Preto. Projeto
subvencionado pela PROGRAD/Reitoria/Fundunesp

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Atualmente, a educação ambiental assume um caráter mais realista, embasado na
busca de um equilíbrio entre o homem e o ambiente, com vista à construção de um futuro pensado
e vivido numa lógica de desenvolvimento e progresso. Neste contexto, a educação ambiental é
ferramenta de educação para o desenvolvimento sustentável (apesar de polêmico o conceito de
desenvolvimento sustentável, tendo em vista ser o próprio "desenvolvimento" o causador de tantos
danos sócio-ambientais).

A educação ambiental, como ferramenta da educação, tem que ser desenvolvida


como uma “prática”, para a qual todas as pessoas que lidam em uma escola precisam estar
preparadas. Não basta que seja acrescentada como mais uma disciplina dentro da estrutura
curricular, se assim o for, é bastante provável que fique restrita à biologia ou à geografia. A prática
da educação ambiental precisa estar interligada com todas as disciplinas regulares, como previsto
nos Parâmetros Curriculares Nacionais.

Diversos documentos governamentais têm regulamentado a implementação dessa


prática educacional no Brasil. O Parecer N° 226/87, de 11 de março de 1987 (MEC, 1987), indica o
caráter interdisciplinar da educação ambiental e recomenda sua realização em todos os níveis de
ensino. O Governo Federal implementou a Lei N° 9795, de 28 de abril de 1999, que dispõe sobre a
educação ambiental, instituindo a Política Nacional de Educação Ambiental. Como se pode
perceber, no que se refere à implantação de educação ambiental, as leis são abundantes. O que
ainda nos falta, porém é conhecer mais profundamente em que consiste a sua prática dentro das
instituições escolares.

Para que seja eficaz, um programa de educação para o meio ambiente deve
desenvolver, de maneira simultânea, os conhecimentos, as atividades e as habilidades
necessárias, para que a comunidade possa compreender o seu ambiente e desenvolver atitudes
que alterem os comportamentos das pessoas envolvidas no processo.

Para isso é necessário que haja um projeto pedagógico coerente, de modo que
qualquer programa que tenha como objetivo o desenvolvimento de uma educação ambiental se
torne operacional. Pressupomos que a escola é o local onde há condições propícias para o
desenvolvimento dessa vertente educacional.

Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (itens sobre ciências naturais), em “Vida e


Ambiente”, lê-se que:

Nas últimas décadas divulgam-se e debatem-se problemas ambientais nos meios


de comunicação, o que sem dúvida tem contribuído para que as pessoas estejam
alerta, mas não asseguram aquisição de informações e conceitos referendados
pelas ciências. Ao contrário, é freqüente a banalização do conhecimento

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científico – o emprego fé ecologia como sinônimo de meio ambiente e a difusão
de visões distorcidas sobre a questão ambiental são exemplos. É papel da escola
provocar a revisão dos conhecimentos, valorizando-os sempre buscando
enriquece-los com informações científicas (p. 175).

O tema transversal “meio ambiente” trata das relações entre as questões ligadas ao
ambiente e aos fatores políticos, econômicos, históricos e sociais. Tais questões criam campos de
discussão sobre as responsabilidades humanas dirigidas ao bem-estar social e ao
desenvolvimento sustentado, sob o ponto de vista da reversão da crise social em assuntos
ambientais, que são de interesse de todos os cidadãos.

Entretanto, a despeito dessa orientação específica, tais princípios não vêm sendo
observados pela escola. Muito pelo contrário: o conceito de educação ambiental parece não ter
sido bem assimilado ainda, quando se observa como prática nas escolas ações individuais de
alguns professores ou projetos abordando temas específicos.

Segundo Colesanti (1996, p.35), a escola é a principal articuladora da uma nova


filosofia:

A educação ambiental é um dos eixos fundamentais para impulsionar os


processos de prevenção da deterioração ambiental, do aproveitamento dos
direitos dos cidadãos a um ambiente sustentável. Ela implica uma nova
concepção do papel da própria escola. A articulação de seus conceitos, métodos,
estratégias e objetivos é complexa e ambiciosa: dimensões ecológicas,
históricas, culturais, sociais, políticas e econômicas da realidade e a construção
de uma sociedade baseada em princípios éticos e de solidariedade.

Mas o papel da escola não se reduz simplesmente a incentivar a coleta seletiva de


lixo, em seu território ou em locais públicos, para que seja reciclado posteriormente. Os valores
consumistas da população tornam a sociedade uma produtora cada vez maior de lixo. A
necessidade que existe é, na verdade, de mudanças de valores.

Na tentativa de atender às necessidades da mudança, foi colocado no capítulo VI, §


1°, inciso VI, da Constituição Brasileira que se refere ao meio ambiente, a inclusão da educação
ambiental em todos dos níveis de ensino. Essa disposição constitucional por si só, contudo, não
garante a mudança: é necessário que haja um trabalho, em longo prazo, em cima das
representações da comunidade em relação ao seu ambiente.

Não se trata, de a educação ambiental ser incluída como disciplina específica da


estrutura curricular. As deliberações do governo mostram claramente a importância da estrutura
para o meio ambiente como maneira de estimular a necessária integração do indivíduo com o meio
em que ele vive.

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Uma relação harmoniosa, em todos os campos, deve ser alcançada por intermédio
de novos conhecimentos, valores e atitudes, sendo que essa integração do educador com o
educando – como cidadãos – no processo de transformação da atual situação ambiental, é um
objetivo que estará sendo atingido quando a visão de educação para o meio ambiente refletir seu
sentido mais profundo.

Como existem várias idéias, oriundas de conhecimentos específicos na área


científica e na área social, é importante, também, que seja estabelecida uma conceituação para
“meio ambiente”. Na definição do que é meio ambiente, sob o ponto de vista científico, estão
envolvidos elementos semânticos como: ecossistema, biomassa, nicho ecológico, cadeia
alimentar. Sob a ótica do senso comum, estes elementos estão relacionados com a área das
ciências biológicas e o conhecimento das pessoas que nelas atuam.

No que se refere ao meio ambiente, a conceituação não está bem clara tanto para a
comunidade científica quanto para a não científica. Sendo assim, uma vez que a prática da
educação ambiental depende da concepção de meio ambiente que se tem, é necessário que
sejam conhecidas as representações de meio ambiente dos sujeitos envolvidos no processo
pedagógico.

Pode-se trabalhar com a questão ambiental a partir dos conteúdos curriculares


tradicionais e das práticas pedagógicas cotidianas. No entanto, professores têm desenvolvido a
educação para o meio ambiente utilizando apenas um conteúdo reproduzido da sua antiga
formação acadêmica. Esses conteúdos abordam apenas os elementos naturais e omitem os
aspectos sociais. Quanto a este aspecto, temos desenvolvido Cursos de Capacitação que visam
promover o aprimoramento dos professores da Rede Pública, utilizando-se de temas e
ferramentas atuais importantes, visando a melhoria do domínio dos conteúdos curriculares, a
conscientização do professor para a importância da qualidade do ensino, aliada à qualidade de
vida e à preservação do meio ambiente a partir de suas próprias percepções e dos significados
que atribuem ao meio ambiente, levando em conta o importante papel que exercem as
representações humanas, na construção de um conceito atualizado de educação ambiental.

De posse de um significado comum para os professores e alunos de meio ambiente,


a educação para o meio ambiente leva à sensibilização que estimula os membros da comunidade
a encararem o meio em que vivem como parte integrante de suas vidas, sob forma de
comprometimento com a participação social.

Deve-se ainda abordar a relação entre ciência e ética, o meio ambiente é


considerado um bem de interesse difuso, isto é, que une pessoas de identidades muito diferentes,
como, por exemplo, os usuários da água de um rio, os usuários de um transporte coletivo em uma

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cidade, etc. E todas essas pessoas têm o direito a receber educação sobre questões ambientais.
Esse sentimento de ecologia globalizada começou no momento em que o meio ambiente deixou
de ser assunto exclusivo dos “amantes da natureza” e se tornou um assunto para a sociedade civil
mais ampla.

A defesa do meio ambiente passou a ser responsabilidade de quem trabalha


praticamente em todas as esferas da administração, seja em áreas de saúde, em obras públicas,
na limpeza urbana, em outras e, na educação. Para que seja tratada, principalmente no universo
escolar, é necessário que haja envolvimento não só dos integrantes da comunidade escolar, mas
também dos membros da sociedade. O meio onde todas essas pessoas vivem deve ser entendido
como o meio ambiente delas.

Entendendo que também os alunos devem ser capacitados para conhecerem seu
meio, visto que os afeta ou é afetado por eles, e agirem em defesa dele, tivemos como objetivo
geral, proporcionar ao aluno uma reflexão, em relação a seus hábitos diários e suas implicações, a
melhoria da qualidade de vida aliada à preservação do meio ambiente.

Neste sentido desenvolvemos ações que buscassem interagir informações e


conceitos teóricos com os conceitos já existentes da estrutura cognitiva do aluno. Incentivar a
utilização de exemplos de fatos e fenômenos vividos pelos alunos no dia-a-dia, para explicar o
assunto em desenvolvimento na aula, em conformidade com os avanços produzidos na área de
química interagindo informações e conceitos teóricos com os fatos e fenômenos ambientais
observados na atualidade.

Associar exemplos significativos com os princípios teóricos de maneira lógica e


agradável para o entendimento da química como uma ciência articulada que muito pode contribuir
para melhorar nossa saúde, nossa qualidade de vida, a nós mesmos como seres humanos e com
o ambiente em que vivemos.

Pretende-se contribuir para o projeto de formação de cidadãos que possam atuar de


forma consciente na sociedade e com relação ao meio ambiente.

Integrar o aluno à realidade do meio em que vive é tarefa que a escola deve primar
no que tange ao ensino e à aprendizagem, visto que a escola é o local propício para semear a
educação ambiental visando formar multiplicadores e conseqüentemente cidadãos conscientes em
busca de um pensamento crítico e de estratégias para uma melhor qualidade de vida aliada à
remediação, preservação e manutenção do meio ambiente.

Logo, cabe ao professor um papel importante no programa de educação para o


meio ambiente: ele será o facilitador das explorações realizadas pelos seus alunos nas

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investigações tanto das alterações urbanas como dos processos que acontecem dentro do próprio
ambiente em que vivem.

Nas escolas, as atividades de educação ambiental devem ser o principal núcleo do


programa, permitindo, assim, que os alunos tenham oportunidade de desenvolverem sua
sensibilidade a respeito das questões ambientais, para buscarem soluções alternativas para tais
situações.

O acesso à informação é uma condição fundamental para a educação ambiental,


mas é preciso que haja uma tradução explicativa e correta das informações sobre o meio
ambiente, por ser esse um tema que envolve diversas áreas do conhecimento e cujas informações
técnicas costumam ser de difícil compreensão para aqueles que não são especialistas no assunto.
Essas informações devem ser usadas para educar os cidadãos, preparando-os para o pensar, o
criticar, o propor e o agir em prol do seu meio.

Considerando a importância da implementação nas escolas de ensino médio de


projetos de relacionados a educação ambiental e do subsídio dado pela Universidade aos
professores que não encontram meios de efetivar ações com relação à educação ambiental e, por
serem veículos formadores de opiniões junto a sua comunidade, implementamos um projeto de
educação ambiental na Escola Estadual “Genaro Domarco”, que é bastante receptiva a projetos
que incentivem seus alunos ao exercício pleno de sua cidadania, sempre inovando, procurando
desenvolver suas competências e habilidades, reúne condições para que o projeto desenvolva-se
com total apoio daquela comunidade escolar, e da comunidade em geral, sempre muito presente
nas atividades da escola.

A região de São José do Rio Preto é uma área pressionada pelo processo de
modernização caracterizada pela expansão urbano-industrial com impactos de sua racionalidade,
que traz agregada a degradação ambiental que ainda sofre as conseqüências da agressão ao
meio ambiente com as constantes queimadas, desmatamento e a intensa utilização dos
agrotóxicos poluindo o ambiente (água, ar, solo).

Durante o percurso através dos diversos níveis ou graus de ensino, é natural que se
alterem as estratégias para acompanhar a crescente capacidade de abstração dos estudantes. O
uso de observações cotidianas das transformações que ocorrem no ambiente e a realização de
experiências, para introduzir e ilustrar os diversos tópicos do programa das disciplinas
relacionadas às ciências conduz quando bem orientadas, a uma formação de conceitos e
estabelecimento de princípios, levando o aluno a um preparo autêntico. Porém, a minuciosidade
na observação e o planejamento cuidadoso das atividades de experimentação e de estudo devem
ser levados em consideração. Em todos eles deverão estar presentes o espírito de indagação e o

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esforço para explicar e concluir, embora guardando as limitações e direcionamentos ditados pelas
diferenças nos conhecimentos teóricos e pela capacidade de abstração do aluno.

Percebe-se no ensino da química aliada à educação ambiental, uma forma própria


de ensinar e conscientizar, motivando os nossos jovens à busca de um pensamento crítico e de
estratégias para decidir e atuar na realidade socioambiental de um modo comprometido com a
vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade.

DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

Participaram deste projeto 30 alunos do Ensino Médio, chamados de forma


voluntária como critério de escolha. Os alunos foram reunidos em uma sala onde foram
apresentados os objetivos do projeto e a metodologia que estava sendo utilizada para desenvolvê-
lo.

Obtivemos uma boa aceitação, e os alunos responderam às questões com


seriedade e interesse, todos os alunos entenderam o que estava sendo proposto.

Foi apresentado aos alunos os conteúdos de química a serem abordados dentro


dos seguintes tópicos relacionados a poluição ambiental:

POLUIÇÃO DO AR. Tipos de poluentes e suas origens. Emissões provenientes de


veículos e seu controle. Emissões industriais. Efeitos dos poluentes do ar. Controle da poluição do
ar.

POLUIÇÃO DAS ÁGUAS. Detergentes: tensoativos, aditivos. Os esgotos e seu


tratamento: O sistema de águas servidas. Componentes do esgoto doméstico. Processo de
tratamento dos esgotos. Efluentes industriais. Efeito da poluição em águas naturais.

POLUIÇÃO DO SOLO. Lixo doméstico: Composição dos resíduos. Possibilidades


de recuperação, reutilização e métodos de destinação do lixo doméstico. Aterros sanitários.
Tratamento biológico. Incineração. Contaminação por metais pesados.

PESTICIDAS E POLUIÇÃO: Inseticidas, herbicidas, fungicidas e acaricidas.


Toxidez. O uso controlado e formas de substituição. Os poluentes orgânicos persistentes.

METAIS. Contaminação do solo e das águas por metais pesados. O impacto


ambiental.

Alguns alunos ficaram preocupados com a abordagem de alguns tópicos em vista


de estarem ainda cursando a 1ª série do Ensino Médio, foram esclarecidos de que suas dúvidas
seriam sanadas a qualquer momento que se fizesse necessário e que, portanto, eles poderiam
ficar à vontade para interromper as atividades para maiores explicações.

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As estratégias a serem adotadas no desenvolvimento do projeto apresentadas
foram:

1- Abordagem dos conceitos fundamentais pertinentes aos tópicos acima,


necessários ao bom desenvolvimento do projeto quer seja na questão do
reaproveitamento, reciclagem ou redução dos resíduos gerados.
2- Trabalhar a motivação da comunidade escolar no tocante a implementação de
estratégias de desenvolvimento sustentável dentro da escola, considerando as
habilidades de cada sujeito e fazendo com que no âmbito do ensino de química
o professor passe a correlacionar a química com fatos do panorama histórico
atual. Este trabalho evidenciaria as ligações bastante íntimas entre ciência,
desenvolvimento da sociedade e meio ambiente.
3- Com o conhecimento da problemática ambiental, dar subsídios à comunidade
escolar para a destinação adequada dos resíduos sólidos e atitudes para
minimização dos causadores da poluição ambiental.
4- Que cada aluno envolvido e posteriormente comprometido, fosse um agente
multiplicador das ações ambientalmente corretas na sua comunidade.

Para o desenvolvimento do projeto foram utilizados os seguintes recursos didáticos:

– Apresentação de vídeos educacionais, seguido de discussões;


– Realização de experimentos que auxiliam a compreensão dos aspectos da
química nas questões ambientais;
– Apresentação de seminários e palestras pelos estagiários;
– Trabalho de campo: visitas a aterros sanitários, estação de tratamento de água e
esgoto, rios, áreas de preservação e etc;
– Discussão de textos que abordam a problemática ambiental;
– Trabalho de conscientização da comunidade escolar e vizinha a esta, usando de
recursos disponíveis.

Após a reunião inicial onde os tópicos acima relacionados foram apresentados, o


projeto teve início com a apresentação de uma palestra sobre aos problemas da poluição
atmosférica, após esta, seguiram-se encontros onde foram desenvolvidos experimentos relativos
aos gases e à poluição atmosférica. O projeto desenvolveu-se nessa seqüência de palestra e/ou
vídeos sobre um determinado problema ambiental seguido de experimentos relacionados ao tema
abordado e trabalho de campo, quando pertinentes.

As palestras e/ou exibição de vídeos aparecem como proposta de conscientização,


mas que passam na escola como um momento apenas, não havendo necessariamente uma
continuidade na prática, para tanto os trabalhos em campo – onde os alunos e professores visitam
locais que possuem algum tipo de projeto de recuperação e/ou preservação ambiental -, têm como
objetivo: contribuir para a formação de cidadãos conscientes; buscar a transformação dos
conceitos, a explicação de valores e a inclusão de procedimentos, vinculados à realidade;

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perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural; observar e analisar fatos e situações do ponto
de vista ambiental, de modo crítico, reconhecendo a necessidade e as oportunidades de atuar de
modo a propor ações positivas, para garantir um meio ambiente saudável e a boa qualidade de
vida; compreender que os problemas sociais interferem na qualidade de vida das pessoas, tanto
local quanto globalmente. Teve-se o cuidado de dar seqüência a partir do trabalho de campo, com
os experimentos em laboratório e ações desenvolvidas pelos próprios alunos, tais como:
confecção de cartazes, confecção de folheto e a criação de uma página na internet para dar
prosseguimento ao projeto visando levar à comunidade escolar a continuidade da prática da
educação para o meio ambiente.

A visita a uma área de preservação ecológica tal como uma caminhada ecológica
acontece em trilhas definidas onde professores de outras áreas que convidados a participar dão
uma conotação interdisciplinar, o que nem sempre corresponde à realidade, pois tais atividades
podem se transformar em apenas momentos de lazer, para que isso não ocorra é necessário que
se elabore um instrumento didático – articulador do trabalho educativo em Educação Ambiental -,
como a “Trilha interpretativa”, que contribui para ir além do enfoque disciplinar/científico para a
compreensão da problemática da educação ambiental: a contradição entre a conservação e
preservação da natureza.

A apresentação de textos que abordem problemas ambientais trabalha a relação


entre a teoria e prática na perspectiva da mediação dialética, é um caminho importante, pois
desperta a consciência ambiental a partir do fortalecimento e da defesa da participação em comum
das crenças, interesses e idéias, da ética e da solidariedade, que deve ser seguida de suporte
conceitual e metodológico para se tornarem consistentes.

Todo esse trabalho desenvolvido gerou ações que levaram à conscientização de


toda a comunidade escolar bem como a comunidade vizinha e deram suporte para a sua
continuidade como um elemento articulador do trabalho educativo em Educação Ambiental,
desenvolvido pelos conteúdos disciplinares de química.

É preciso, portanto, dar continuidade ao projeto procurando uma abertura em todas


as disciplinas que estudam o ambiente natural e social, com o objetivo de desenvolver uma
metodologia através da qual professores e alunos possam construir o conhecimento voltado para
uma educação ambiental que permita transformar a escola em um local onde se exerça a
cidadania.

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CONCLUSÕES

Apesar da difusão crescente da educação ambiental pelo processo educacional,


essa ação educativa geralmente se apresenta fragilizada em suas práticas pedagógicas, na
medida em que tais práticas não se inserem em processos que gerem transformações
significativas da realidade vivenciada. A abordagem interdisciplinar, principalmente nas escolas, e
até mesmo encampada pelas políticas públicas, se consolidou como um princípio para a educação
ambiental, porém, sofre muitas resistências no cotidiano escolar, originada no predomínio da visão
fragmentária no ambiente escolar, potencializando uma forte tendência ao desenvolvimento, nas
escolas, de ações isoladas, voltadas para o comportamento de cada indivíduo,
descontextualizadas da realidade socioambiental em que a escola está inserida e do seu próprio
projeto político-pedagógico.

A educação ambiental é uma prática pedagógica. Essa prática não se realiza


sozinha, mas nas relações do ambiente escolar, na interação entre diferentes atores, conduzida
por um sujeito, os educadores.

Todo o comportamento aprendido que tenha sido socialmente adquirido faz parte de
um sistema cultural – isto é, nossos hábitos, valores, idéias, costumes – que garante a satisfação e
continuidade de uma sociedade.

A cultura, a despeito de sua natureza conservadora, muda com o tempo e de lugar


para lugar. Essas transformações são realizadas por meio de mudanças no comportamento
individual e social, de algumas formas-padrão. Inovamos, isto é, variamos a moda, inventamos,
descobrimos coisas “ao acaso”, tecnologicamente avançamos, fazemos imitações etc.

Aceitamos inovações culturais, fazemos, também, uma eliminação seletiva, hábitos


quando não eficientes, são abandonados por outros mais adequados à época.

Por fim, integramos tudo, quando os hábitos tendem a uma coerência geral, um
influenciando o outro. A despeito de tudo, continuamos progredindo e inevitavelmente isso
perdurará enquanto houver vida.

Nosso conjunto de crenças acompanha nossa cultura e é por isso que quando
damos importância só para isso podemos ter um comportamento inadequado. Há normas que
mantêm o bom andamento social e ambiental e temos que cumpri-las, não por imposição, mas
porque sabemos serem úteis para todos. Outras, porém, não têm o mínimo sentido, mas
continuamos cumprindo e não sabemos por quê, é premente romper essa inércia.

Tanto o ambiente como os indivíduos são reais e estão em interação, mas é


necessário que tomemos consciência do que realmente é importante para nós como pessoas e o

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que é imprescindível para o ambiente e manter entre esses parâmetros um equilíbrio para o bem
de ambos.

Dentro desta perspectiva, professores e alunos devem buscar uma reflexão crítica
que busque transformar o cotidiano escolar, o mundo, a sociedade e seus indivíduos, para que
possam, de fato, em sua atuação, contribuir na construção de uma nova sociedade
ambientalmente sustentável.

É importante que a educação ambiental seja enfocada numa dimensão que leve em
consideração os aspectos biológicos, psíquicos e socioculturais nos quais se constroem as
concepções de homem, do mundo e de sociedade, dando conta da relação indivíduo/sociedade e
natureza/cultura, de modo a alcançar uma forma de pensar global.

Projetos como este devem persistir para dar continuidade ao processo iniciado de
perceber a abrangência e o significado da educação ambiental, vindo ao encontro do que apregoa
a Lei Federal nº 9.795 em sua definição para a educação ambiental.

“o processo por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores


sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do
meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade” (art.1º, Lei Federal nº 9.795, de 27/4/99).

É importante o contínuo incentivo às pesquisas de caráter disciplinar ou


interdisciplinar e projetos sobre intervenções na realidade das escolas no tocante à educação
ambiental para que possamos consolidar uma prática educativa que desenvolva novos valores em
relação à forma como vemos, sentimos e vivemos; onde a cidadania, a inclusão, o respeito, a
alteridade, a convivência harmônica e a tolerância sejam uma constante na prática educacional.

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