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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA -UNEB

CAMPUS IV- JACOBINA-BA

DISCENTE: Vanessa Cavalcante de Alencar

DISCIPLINA: Processo Penal II

Fichamento 4

DE LIMA, R. B. (2019). Manual de processo penal. Título 5, capítulo 2. São


Paulo:

JusPodivm.

TÍTULO 5

CAPÍTULO II

( Ponto 10 ao 12)

10. BUSCA E APREENSÃO

10.1. Conceito e natureza jurídica

·0 Busca -> diligência cujo objetivo é o de encontrar objetos ou pessoas.

·1 Apreensão -> medida de constrição, colocando sob custódia determinado


objeto ou pessoa.

·2 Natureza jurídica -> meio de obtenção de prova

10.2. Iniciativa e decretação

A busca pode ser:

-> Determinada de ofício ou à requerimento (art. 242 CPP)

De natureza:

a) Domiciliar -> somente a autoridade judiciária competente poderá expedir o


respectivo mandado
b) Pessoal -> determinada pela autoridade policial ou pela autoridade judiciária.

10.3. Objeto

Proceder-se-á à busca domiciliar quando fundadas razões a autorizarem para


(art. 240 CPP):

a) prender criminosos

b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos

c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos


falsificados ou contrafeitos

d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou


destinados a fim delituoso

e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu

f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder,


quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à
elucidação do fato

g) apreender pessoas vítimas de crimes

h) colher qualquer elemento de convicção

10.4. Espécies de busca

10.4.1. Busca domiciliar

"O termo “delito”, utilizado no inciso XI do art. 5o da Constituição Federal,


merece interpretação extensiva, abrangendo também a contravenção penal. O
raciocínio é idêntico em relação ao princípio da legalidade ou da reserva legal,
segundo o qual não há crime (e nem contravenção penal) sem lei anterior que o
defina (CF, art. 5o, XXXIX). Portanto, mesmo em se tratando de contravenções
penais (v.g., jogo do bicho), é possível o ingresso em casa alheia sem
autorização judicial. Referindo-se ao ingresso em domicílio no caso de drogas,
Luiz Flávio Gomes assevera que “a captura é legítima, não há que se falar em
invasão de domicílio ou crime de abuso de autoridade. Em outras palavras: não
importa se a droga encontrada na casa do sujeito era para traficância ou para
consumo pessoal. Em ambas as hipóteses a invasão foi correta (é juridicamente
incensurável)”" (p.754)

10.4.1.1. Mandado de busca e apreensão


"A expedição de mandado de busca domiciliar está condicionada à presença de
fundadas razões, sendo indispensável a presença de elementos informativos
apontando que uma das coisas ou pessoas citadas no art. 240, § Io, do CPP,
encontra-se no interior da casa sujeita à diligência. De acordo com o art. 243 do
CPP, o mandado de busca deverá: I - indicar, o mais precisamente possível, a
casa em que será realizada a diligência e o nome do respectivo proprietário ou
morador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la
ou os sinais que a identifiquem; II - mencionar o motivo e os fins da diligência; III
- ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que o fizer expedir.
Ademais, se houver ordem de prisão, constará do próprio texto do mandado de
busca (CPP, art. 243, § Io)." (p.755)

10.4.1.2. Execução da busca domiciliar

"Segundo o art. 241 do CPP, “quando a própria autoridade policial ou judiciária


não a realizar pessoalmente, a busca domiciliar deverá ser precedida da
expedição de mandado”. Nessa hipótese, segundo o art. 245, § Io, do CPP,
devem a autoridade policial ou judiciária declarar previamente sua qualidade e o
objeto da diligência." (p.756)

10.4.1.3. Descoberta de outros elementos probatórios e teoria do encontro


fortuito de provas

"Logo, ao cumprir mandado de busca e apreensão, desde que não haja desvio
de finalidade, a polícia pode apreender qualquer objeto que contribua para as
investigações, ainda que seja de caráter pessoal e independentemente de ter
sido mencionado de forma expressa na ordem do juiz. Isso porque não há
necessidade de que a manifestação judicial que defere a cautelar de busca e
apreensão esmiúce quais documentos ou objetos devam ser coletados, até
mesmo porque tal pormenorização só poderia ser implementada após a
verificação do que foi encontrado no local. Portanto, supondo que a ordem
judicial diga respeito ao recolhimento de documentos relacionados aos fatos
investigados, é perfeitamente possível a apreensão de documento pessoal,
capaz de revelar detalhes da vida privada do indivíduo" (p. 758)

10.4.2. Busca pessoal

a) busca pessoal por razões de segurança

b) busca pessoal de natureza processual penal

"De acordo com o art. 244 do CPP, a busca pessoal independe de mandado nas
seguintes hipóteses: a) no caso de prisão; b) quando houver fundada suspeita
de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que
constituam corpo de delito: caso a busca pessoal seja executada sem que haja
fundada suspeita, como no exemplo em que a autoridade a executa tão somente
para demonstrar seu poder, a conduta do agente policial pode caracterizar o
crime de abuso de autoridade (Lei n° 4.898/65, art. 3o, “a”); c) quando a medida
for determinada no curso de busca domiciliar: no cumprimento de busca
domiciliar, as pessoas que se encontrem no interior da casa poderão ser objeto
de busca pessoal, mesmo que o mandado não o diga de maneira expressa."
(p.758)

11. INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

11.1. Sigilo da correspondência, das comunicações telegráficas, de dados


e das comunicações telefônicas

"Evidentemente, para que seja decretada a quebra do sigilo de dados, sejam


eles fiscais, bancários, telefônicos, etc., há necessidade de decisão judicial
devidamente fundamentada, sob pena do reconhecimento da ilicitude dos
elementos probatórios assim obtidos. De fato, se a regra é a inviolabilidade do
sigilo das correspondências, das comunicações telegráficas, de dados e das
comunicações telefônicas (CF, art. 5o, XII), o que visa, em última análise, a
resguardar também direito constitucional à intimidade (art. 5o, X), somente se
justifica a sua mitigação quando razões de interesse público, devidamente
fundamentadas por ordem judicial, demonstrarem a conveniência de sua
violação para fins de promover a investigação criminal ou instrução processual
penal" (p. 760)

11.2. Direito intertemporal e Lei n° 9.296/96

"Logo, se o art. 57, inciso II, alínea “e”, da Lei n° 4.117/62 foi tido como não
recepcionado pela Constituição Federal, todo e qualquer elemento probatório
colhido com base em interceptação telefônica judicialmente autorizada em
momento anterior à vigência da Lei n° 9.296/96 foi considerado como prova
ilícita, assim como as provas dele decorrentes (teoria dos frutos da árvore
envenenada), in verbis: “O art. 5o, XII, da Constituição, que prevê,
excepcionalmente, a violação do sigilo das comunicações telefônicas para fins
de investigação criminal ou instrução processual penal, não é autoaplicável:
exige lei que estabeleça as hipóteses e a forma que permitam a autorização
judicial. Precedentes, a) Enquanto a referida lei não for editada pelo Congresso
Nacional, é considerada prova ilícita a obtida mediante quebra do sigilo das
comunicações telefônicas, mesmo quando haja ordem judicial (CF, art. 5o, LVI).
b) O art. 57, II, a, do Código Brasileiro de Telecomunicações não foi
recepcionado pela atual Constituição (art. 5o, XII), a qual exige numerus clausus
para a definição das hipóteses e formas pelas quais é legítima a violação do
sigilo das comunicações telefônicas”." (p.761)

11.3. Conceito de interceptação

a) Interceptação telefônica (ou interceptação em sentido estrito): consiste na


captação da comunicação telefônica alheia por um terceiro, sem o conhecimento
de nenhum dos comunicadores.

b) Escuta telefônica: é a captação da comunicação telefônica por terceiro, com o


conhecimento de um dos comunicadores e desconhecimento do outro.

c) Gravação telefônica ou gravação clandestina: é a gravação da comunicação


telefônica por um dos comunicadores, ou seja, trata-se de uma autogravação
(ou gravação da própria comunicação).

d) Comunicação ambiental: refere-se às comunicações realizadas diretamente


no meio ambiente, sem transmissão e recepção por meios físicos, artificiais,
como fios elétricos, cabos óticos etc.

e) Interceptação ambiental: é a captação sub-reptícia de uma comunicação no


próprio ambiente dela, por um terceiro, sem conhecimento dos comunicadores.

f) Escuta ambiental: é a captação de uma comunicação, no ambiente dela, feita


por terceiro, com o consentimento de um dos comunicadores.

g) Gravação ambiental: é a captação no ambiente da comunicação feita por um


dos comunicadores

11.4. Interceptação e escuta ambiental

"Se a interceptação ambiental em locais públicos é considerada válida pela


doutrina e pela jurisprudência,312 o mesmo não se pode dizer em relação a uma
interceptação ambiental efetuada no interior de domicílio. Nessa hipótese, além
de violar o direito à intimidade, seja no tocante ao direito ao segredo, seja em
relação ao direito de reserva, haverá evidente afronta à inviolabilidade domiciliar
prevista no art. 5o, inciso XI, da Constituição Federal. Todavia, em se tratando
de procedimento investigatório relativo a crimes praticados por organizações
criminosas, havendo prévia e fundamentada autorização judicial, toda e qualquer
gravação e interceptação será considerada prova lícita, nos exatos termos do
art. 3 o, inciso II, da Lei n° 12.850/13. " (p.765)

11.5. Gravações clandestinas (telefônicas e ambientais)


"Reconhecido o direito de toda pessoa de gravar sua própria conversa,319 a
gravação clandestina deve ser considerada prova lícita, salvo se sua obtenção
violar princípios e garantias constitucionais, tais como o direito à intimidade,320
à vida privada, à honra e imagem das pessoas, à inviolabilidade do domicílio, à
vedação da tortura e tratamentos desumanos e degradantes, ao direito ao
silêncio, entre outros. Assim, a gravação clandestina será considerada ilícita
quando o conteúdo da comunicação se referir a assunto que goza de sigilo
profissional ou funcional protegido penalmente. Ainda que não haja proteção
penal, pode tratar-se de sigilo implícito, como as intimidades que um amigo
relata a outro por telefone, cuja revelação pode violar o direito fundamental à
intimidade, salvo se feita para atender direito próprio ou por quem o sigilo
protege. " (p.768)

11.6. Comunicações telefônicas de qualquer natureza

"Esclarecedora, nesse sentido, a lição de Damásio de Jesus: “Inclino-me pela


constitucio- nalidade do referido parágrafo único. A Carta Magna, quando
excepciona o princípio do sigilo na hipótese de comunicações telefônicas, não
cometeria o descuido de permitir a interceptação somente no caso de
conversação verbal por esse meio, isto é, quando usados dois aparelhos
telefônicos, proibindo-a, quando pretendida com finalidade de investigação
criminal e prova em processo penal, nas hipóteses mais modernas. A exceção,
quando menciona ‘comunicações telefônicas’, estende-se a qualquer forma de
comunicação que empregue a via telefônica como meio, ainda que haja
transferência de ‘dados’." (p. 770)

11.6.1. Gerações de provas (trilogia Olmstead-Katz-Kyllo) e (des)


necessidade de autorização judicial para a extração de dados e de
conversas registradas em aparelhos celulares apreendidos.

11.6.1.1. Direito probatório de Iageração: o caso Olmstead

"Restou cunhada, assim, a teoria proprietária (trespass theory). Na dicção de


Danilo Kni- jnik, “a proteção constitucional estender-se-ia apenas para áreas
tangíveis e demarcáveis, exigindo a entrada, o ingresso e a violação de um
espaço privado ou particular, o que, na espécie,efetivamente não havia ocorrido,
dado que nenhuma propriedade de Olmstead fora devassada pela autoridade.
Neste primeiro momento da trilogia, surge, pois, uma interpretação constitucional
protetiva de coisas, objetos e lugares”" (p.772)

11.6.1.2. Direito probatório de 2 geração: O caso Katz

"No precedente Katz v. United States (1967), a Suprema Corte norte-americana


alterou seu entendimento acerca da matéria, concluindo que a proteção
conferida à vida privada teria o condão de abranger não apenas a busca de itens
tangíveis, mas também a gravação de declarações orais." (p.772)

11.6.1.3. Direito probatório de 3a geração: o caso Kyllo

"Suprema Corte dos Estados Unidos fixou o entendimento de que o avanço da


tecnologia sobre a materialidade das coisas não pode limitar o escopo e a
abrangência da proteção constitucional outorgada à intimidade das pessoas. (...)
a ótica do case Katz, poder-se-ia concluir que a prova seria lícita, ainda que não
precedida de autorização judicial. A uma porque não teria havido a invasão do
interior da residência. A duas porque Kyllo não havia manifestado qualquer
pretensão de privacidade, já que nada fizera para impedir a emissão do calor. "
(p.772)

11.6.1.4. (Des) necessidade de autorização judicial prévia para a extração


de dados e de conversas registradas em aparelhos celulares apreendidos

"A 5a Turma do STJ tem precedente bem atual no sentido de que, por ocasião
da autuação de crime em flagrante, ainda que seja dispensável ordem judicial
para a apreensão de telefone celular, as mensagens armazenadas no aparelho
estão protegidas pelo sigilo telefônico, que compreende igualmente a
transmissão, recepção ou emissão de símbolos, caracteres, sinais, escritos,
imagens, sons ou informações de qualquer natureza, por meio de telefonia fixa
ou móvel ou, ainda, por meio de sistemas de informática e telemática. Logo, a
fim de proteger tanto o direito à intimidade quanto o direito difuso à segurança
pública, incumbe à autoridade policial, logo após a apreensão do telefone,
requerer judicialmente a quebra do sigilo dos dados nele armazenados, nos
termos da Lei n° 9.296/96. Não o fazendo, ter-se-á como ilícita a prova assim
obtida." (p.773)

11.7. Quebra do sigilo de dados telefônicos

"A interceptação das comunicações telefônicas não se confunde com a quebra


do sigilo de dados telefônicos. Enquanto a interceptação de uma comunicação
telefônica diz respeito a algo que está acontecendo, a quebra do sigilo de dados
telefônicos guarda relação com chamadas telefônicas pretéritas, já realizadas. A
quebra do sigilo de dados telefônicos está relacionada aos registros
documentados e armazenados pelas companhias telefônicas, tais como data da
chamada telefônica, horário da ligação, número do telefone chamado, duração
do uso, informações acerca das estações rádio base (ERB’s)" (p.775)

11.8. Finalidade da interceptação telefônica: obtenção de elementos


probatórios em investigação criminal ou instrução processual penal

"Como a própria Constituição Federal autoriza a interceptação das


comunicações telefônicas (CF, art. 5o, XII), não há falar em violação ao princípio
do nemo tenetur se detegere (ou da proibição da autoincriminação). A proposito,
como observa Grinover, “o sujeito não está em confronto direto com a
autoridade, não é por ela solicitado a responder, nem sofre pressões de
qualquer espécie, já que não há constrição no telefonema e o instrumento é
utilizado na mais ampla liberdade. O direito ao silêncio do réu ou do indiciado
tem como finalidade preservar sua liberdade moral frente à autoridade”" (p. 778)

11.9. Requisitos para a interceptação telefônica

"Cuidando-se de medida de natureza cautelar, deverão estar presentes o fumus


comissi delicti e o periculum in mora. De modo semelhante ao que se dá com
uma busca domiciliar, a determinação de uma interceptação telefônica está
condicionada à existência de elementos seguros da existência de um crime, que
justifique o sacrifício do direito à intimidade (fumus comissi delicti). Em relação
ao periculum in mora, há de ser levado em consideração o risco ou prejuízo que
a não realização imediata da diligência poderá acarretar para a investigação
criminal ou para a instrução processual." (p. 779)

11.9.1. Ordem fundamentada da autoridade judiciária competente (teoria do


juízo aparente

"É o que se denomina de teoria do juízo aparente: se, no momento da


decretação da medida, os elementos informativos até então obtidos apontavam
para a competência da autoridade judiciária responsável pela decretação da
interceptação telefônica, devem ser reputadas válidas as provas assim obtidas,
ainda que, posteriormente, seja reconhecida a incompetência do juiz
inicialmente competente para o feito" (p. 781)

11.9.1.1. Da fundamentação da decisão

"Para os Tribunais, não se exige fundamentação exaustiva, sendo suficiente que


a decisão, ainda que de forma sucinta, concisa, analise a presença, no caso,
dos requisitos legais ensejadores da interceptação telefônica." (p.783)

11.9.2 Indícios razoáveis de autoria ou participação

"Nessa prisma, como observa Greco Filho, o sujeito passivo da interceptação


não será, obrigatoriamente, o titular do uso da linha telefônica. Nas palavras do
autor, “o sujeito passivo da interceptação é o interlocutor e não o titular formal ou
legal do direito de uso, justificando-se a interceptação em face de alguém que se
utiliza da linha ainda que não seja o seu titular. Daí a possibilidade de
interceptação telefônica em linha pública, aberta ao público ou de entidade
pública”" (p. 784)

11.9.3. Quando a prova não puder ser feita por outros meios disponíveis

"Nesse prisma, dispõe o art. 2o, inciso II, da Lei n° 9.296/96, que a interceptação
das comunicações telefônicas não será admitida quando a prova puder ser feita
por outros meios disponíveis. Dentre as medidas restritivas de direitos
fundamentais, deve o Poder Público escolher a menos gravosa, sobretudo
quando diante de insidiosa ingerência na intimidade não só do suspeito, mas
também de terceiros que com ele se comunicaram. Por isso, a interceptação
telefônica deve ser utilizada como medida de ultima ratio" (p. 784)

11.9.4. Infração penal punida com pena de reclusão (crime de catálogo)

"Nessa linha, em relação aos crimes materiais contra a ordem tributária, o


Superior Tribunal de Justiça tem concluído que, antes de encerrado o
procedimento administrativo fiscal, condição objetiva de punibilidade desses
delitos, não é cabível a autorização de interceptação telefônica. Para o STJ, a
existência do crédito tributário é condição absolutamente indispensável para que
se possa dar início à persecução penal pela prática de delito dessa natureza,
sendo que o lançamento definitivo do tributo é condição objetiva de punibilidade
dos crimes definidos no artigo Io, da Lei 8.137/90. Logo, a autorização judicial
para quebra do sigilo das comunicações telefônicas e telemáticas, para o efeito
de investigação de crime de sonegação de tributo, é ilegal se deferida antes de
configurada a condição objetiva de punibilidade de delito" (p.785)

11.9.5. Delimitação da situação objeto da investigação e do sujeito passivo


da interceptação

"Portanto, além dos requisitos dos incisos I, II e III do art. 2o, a decisão judicial
que decreta a interceptação telefônica também deve fazer menção à situação
objeto da investigação, com a delimitação fática (objetiva) do fato que se quer
comprovar. Assim, a título de exemplo, tratando-se de um delito de homicídio
(CP, art. 121), deve o magistrado descrever de maneira objetiva o local onde a
vítima fora morta, quem teria supostamente praticado o delito, quais indícios já
existem acerca do crime e da autoria e/ou participação, modus operandi do
agente, etc. " (p.787)

11.10. Sigilo profissional do advogado

"Como se percebe pela própria redação do art. 7o, II, da Lei n° 8.906/94, caso
haja indícios de envolvimento do advogado com o crime objeto da investigação,
não há falar em proteção ao sigilo profissional, sendo plenamente válida a
interceptação de sua comunicação telefônica. Não se trata, pois, de imunidade
absoluta, mas sim de legítima prerrogativa, a ser preservada quando relacionada
ao exercício da função. Logo, não merece acolhida eventual alegação relativa à
violação da liberdade de exercício profissional, se sobressai que a medida foi
tomada devido à possível participação do advogado em ilícitos criminais. Ainda
que atuasse como advogado, as prerrogativas conferidas aos defensores não
podem acobertar delitos, sendo certo que o sigilo profissional não tem natureza
absoluta." (p.788)

11.11. Encontro fortuito de elementos probatórios em relação a outros


fatos delituosos (serendipidade)

"Assim, de acordo com parte da doutrina, no caso de interceptação telefônica


regularmente autorizada pela autoridade judiciária competente, o encontro
fortuito de provas em relação a outros delitos (ainda que punidos com pena de
detenção) praticados pelo mesmo agente vale como legítimo meio probatório,
desde que haja conexão entre as infrações penais" (p.789)

11.11.1. Encontro fortuito de diálogos mantidos com autoridade dotada de


foro por prerrogativa de função e momento adequado para a remessa dos
autos ao Tribunal competente

"Enfim, se se admite a descoberta fortuita do envolvimento de autoridades


dotadas de foro por prerrogativa de função a partir de interceptação telefônica
autorizada por magistrados de Ia instância à luz da teoria do juízo aparente, daí,
todavia, não se pode concluir que tais investigações possam se perpetuar
indefinidamente perante um juízo manifestamente incompetente. É dizer,
surgindo indícios inequívocos, por exemplo, do envolvimento de um parlamentar
federal, incumbe à autoridade judiciária de primeira instância, sob cuja
supervisão tramitar o procedimento investigatório, reconhecer, de imediato, sua
falta de competência e determinar a remessa dos autos ao seu juiz natural, in
casu, ao Supremo Tribunal Federal, sob pena de manifesta ilicitude das provas
obtidas por meio de tais interceptações." (p.791)

11.12. Procedimento

"Diz o art. 3o da Lei n° 9.296/96 que a interceptação das comunicações


telefônicas poderá ser determinada pelo juiz, de ofício ou a requerimento: I - da
autoridade policial, na investigação criminal; II - do representante do Ministério
Público, na investigação criminal e na instrução processual penal. Em relação à
autoridade policial, seu pedido só é pertinente durante as investigações
criminais. Apesar de a lei não se referir expressamente à necessidade de oitiva
do Ministério Público quando a solicitação tenha partido da autoridade policial,
queremos crer que a concordância do Parquet é obrigatória, nos mesmos
moldes do que ocorre nos casos de prisão temporária (Lei n° 7.960/89, art. 2o, §
Io) e de prisão preventiva, haja vista ser ele o titular da ação penal pública (CF,
art. 129,1), e, portanto, destinatário final das investigações policiais.387 O órgão
do Ministério Público pode requerer a interceptação telefônica na fase investiga-
tória e durante o curso da instrução processual." (p.792)

11.13. Decretação da interceptação telefônica de ofício pelo juiz

"Destoa das funções do magistrado exercer qualquer atividade de ofício na fase


investigatória, sob pena de auxiliar a acusação na colheita de elementos de
informação que irão servir ao titular da ação penal para provocar a jurisdição. A
iniciativa da interceptação pelo juiz também representa usurpação à atribuição
investigatória do Ministério Público e da Polícia Judiciária. Graves prejuízos
seriam causados à imparcialidade do magistrado, caso se admitisse que
pudesse decretar a medida de ofício ainda na fase investigatória. O que lhe
compete é - e desde que seja provocado - analisar a necessidade da medida,
concedendo-a caso presentes os requisitos acima analisados." (p. 793)

11.14. Segredo de justiça

"Prevê o art. Io da Lei n° 9.296/96 que a interceptação telefônica dependerá de


ordem do juiz competente da ação principal, sob segredo de justiça. Isso
significa dizer que a pessoa investigada não pode ter conhecimento da
realização das diligências, pois, do contrário, seria totalmente frustrada a
possível eficácia desse meio de investigação. Não importa se a medida cautelar
venha a ser autorizada durante as investigações ou durante a instrução
processual penal: a diligência deve ser levada a efeito sob segredo de justiça,
única forma de se garantir sua utilidade. Trata-se, portanto, de medida cautelar
inaudita altera parte, cuja decretação prescinde de prévia oitiva do investigado.
De modo a se preservar a própria eficácia da diligência, o investigado (ou
acusado) e seu defensor não podem tomar conhecimento da circunstância de
estar em curso uma interceptação telefônica." (p.794)

11.15. Duração da interceptação

"Diz o art. 5o da Lei n° 9.296/96 que a interceptação telefônica não poderá


exceder o prazo de 15 (quinze) dias, renovável por igual tempo uma vez
comprovada a indispensabilidade do meio de prova. Como se vê, a execução da
diligência não pode ultrapassar o limite de 15 (quinze) dias. Evidentemente, esse
prazo de 15 (quinze) dias não se inicia da decisão judicial que autoriza a
interceptação telefônica, mas sim do dia em que a medida é efetivada" (p. 794)

11.16. Execução da interceptação telefônica

"De acordo com a jurisprudência, não é obrigatória a transcrição total das


gravações, desde que assegurado às partes o acesso à integralidade das
gravações. Em caso concreto em que houve gravações diárias e ininterruptas de
diversos terminais durante período de 7 (sete) meses, com mais de quinhentos
mil arquivos, concluiu o Supremo ser suficiente a transcrição literal e integral das
gravações em que se apoiou a denúncia, desde que garantido à defesa o
acesso ao meio magnético em que gravadas as conversas. " (p.797)

11.17. Incidente de inutilização da gravação que não interessar à prova

"De acordo com o art. 9o, caput, da Lei n° 9.296/96, a gravação que não
interessar à prova será inutilizada por decisão judicial, durante o inquérito, a
instrução processual ou após esta, em virtude de requerimento do Ministério
Público ou da parte interessada. Ainda segundo a Lei n° 9.296/96 (art. 9o,
parágrafo único), o incidente de inutilização será assistido pelo Ministério
Público, sendo facultada a presença do acusado ou de seu representante legal."
(p.800)

11.18. Resolução n° 59 do Conselho Nacional de Justiça

"Como resultado da CPI dos “grampos telefônicos”, e considerando a


necessidade de aperfeiçoar e uniformizar o sistema de medidas cautelares
sigilosas referentes às interceptações telefônicas, de informática ou telemática,
bem como a imprescindibilidade de preservar o sigilo das investigações
realizadas, das informações colhidas e a eficácia da instrução processual, o
Conselho Nacional de Justiça, com fundamento no art. 103-B, § 4o, da
Constituição Federal, editou a Resolução n° 59, disciplinando e uniformizando as
rotinas pertinentes à decretação de interceptação de comunicações telefônicas.
A matéria também é objeto da Resolução n. 36/09 do Conselho Nacional do
Ministério Público, cuja constitucionalidade foi reconhecida pelo STF no
julgamento da ADI 4.263/DF.41" (p.800)

11.19. Caso Escher e outros (Corte Interamericana de Direitos Humanos)

"O caso foi levado à Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que
concluiu ter havido violação do direito à vida privada, à honra e à reputação das
vítimas, reconhecidos nos arts. 11.1 e 11.2, combinados com os arts. 1.1, 8o e
25 do Pacto de São José da Costa Rica, porquanto não teria havido o
consentimento dos interlocutores no tocante à divulgação do material gravado, a
qual foi imputada ao Estado. A Corte também concluiu ter havido violação ao art.
16 da CADH porque as escutas telefônicas foram realizadas em desacordo com
a legislação e com posterior e indevida divulgação. Esses dois fatos foram
suficientes para abalar a imagem e a credibilidade das entidades e,
consequentemente, o direito ao livre e normal exercício de associação pelos
membros da COANA e da ADECON, violando-se, assim, o direito à liberdade de
associação previsto no art. 16 da CADH. Dentre outras sanções, o Estado
Brasileiro foi obrigado a pagar a Arlei, Dalton, Delfino, Pedro e Cellso o valor
equivalente a US$ 20.000,00 para cada um a título de dano imaterial (vida,
honra e reputação), e mais US$ 10.000,00 às vítimas." (p.801)

12. QUEBRA DO SIGILO DE DADOS BANCÁRIOS, FINANCEIROS E FISCAIS

"O sigilo bancário e financeiro é um dever jurídico imposto às instituições


financeiras para que estas não divulguem informações acerca das
movimentações financeiras de seus clientes, tais como aplicações, depósitos,
saques etc. Pode ser compreendido, portanto, como o dever jurídico de sigilo
das entidades atuantes no sistema financeiro nacional. Tal imposição legal
deriva do art. Io, caput, da LC n° 105/2001, que assim dispõe: “As instituições
financeiras conservarão sigilo em suas operações ativas e passivas e serviços
prestados”." (p. 801)

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