Você está na página 1de 48

1

A CONSTITUIÇÃO DE ASSISTENTE

I – LEGITIMIDADE

- Quem pode constituir-se assistente?

Artº 68º C.P.P. :

- Os ofendidos, considerando-se como tal os titulares dos


interesses que a lei quis especialmente proteger com a
incriminação, desde que maiores de 16 anos 1 (artº 68º, nº1, al. C) )2;

- As pessoas de cuja queixa ou acusação particular depender o


procedimento (artº 68º, nº1, al.b) ) ;

- No caso do ofendido morrer sem ter renunciado à queixa, o


cônjuge sobrevivo não separado judicialmente de pessoas e bens
e os descendentes ou, na falta deles, os ascendentes, os irmãos e
seus descendentes, o adoptante, o adoptado e a pessoa que com
o ofendido vivesse em condições análogas às dos cônjuges, salvo
se algumas dessas pessoas houver comparticipado no crime
(artº 68º, nº1, al.c) );

- No caso de o ofendido ser menor de 16 anos ou por outro motivo


incapaz, o seu representante legal, o cônjuge não separado
judicialmente de pessoas e bens e os descendentes, ou, na falta
deles, os ascendentes 3, os irmãos e seus descendentes, o
adoptante, o adoptado e a pessoa que com o ofendido vivesse em
condições análogas às dos cônjuges, salvo se alguma destas
pessoas houver comparticipado no crime (artº 68º, nº1, al. d) );

- Qualquer pessoa nos (artº 69º, nº1, al. e) ) :

- Crimes contra a paz e a humanidade;


- Crime de tráfico de influência;
- Crime de favorecimento pessoal praticado por funcionário;
- Crime de denegação de justiça;
- Crime de prevaricação;
- Crime de corrupção;
- Crime de peculato;

1
Existe um requisito de CAPACIDADE - em função da idade - para a constituição de
assistente: nos termos do artº 68º,nº1, al. a) “in fine”, só poderão constituir-se assistentes
os maiores de 16 anos.
2
NOTA: Apenas se podem constituir assistentes os ofendidos imediata ou directamente
afectados com a infracção e não aqueles que só mediata ou indirectamente o sejam.
3
Qualquer dos pais, desde que detenha o poder paternal, pode, como representante legal
do menor, requerer a constituição de assistente – Ac. R.L. de 15 de Julho de 1981.

1
2

- Crime de participação económica em negócio;


- Crime de abuso de poder;
- Crime de fraude na obtenção ou desvio de subsídio ou
subvenção.

- O corpo do nº 1 do artº 68º do C.P.P. refere todas as pessoas a


quem seja conferida legitimidade, por legislação especial.
Vejamos quem são essas pessoas e quais as leis que lhes
conferem a referida legitimidade:

- Lei nº 20/96, de 06 de Julho: confere legitimidade:

- à Sociedade Portuguesa de Autores, relativamente a


crimes contra direitos de autor;
- ao D.A.F.S.E. relativamente a crimes de fraude na
obtenção de subsídios;
- às Comunidades de Emigrantes e demais
Associações de defesa dos interesses em causa,
relativamente a crimes de índole racista ou xenófoba 4 ; 5.

- Lei nº 61/91, de 03 de Agosto:

- as Associações de mulheres que prossigam fins de


defesa e protecção das mulheres vítimas de crimes
podem constituir-se assistentes em representação da
vítima no processo penal, mediante apresentação de
declaração escrita subscrita por aquela nesse sentido,
relativamente a crimes sexuais e maus tratos a
cônjuges, crimes de rapto, sequestro e ofensas corporais
(artº 12º do referido diploma) ; estas Associações
podem ainda, em representação da vítima, deduzir
pedido de indemnização civil e requerer o adiantamento
pelo Estado da indemnização, nos termos da legislação
aplicável, bem como requerer a fixação de quaisquer
pensões provisórias a pagar pelo arguido até à fixação
definitiva da indemnização.

- Decreto Lei nº 24/84, de 20 de Janeiro:

- qualquer pessoa, singular ou colectiva, pode intervir


como assistente em processos instaurados por crimes aí
previstos, desde que tenham sido lesados pelo facto
(artº 43º do referido diploma);

- Lei nº 83/95, de 31 de Agosto:

- qualquer cidadão no gozo dos seus civis e políticos


é titular do direito procedimental de participação popular
e do direito de acção popular, sendo-lhe por isso
reconhecido o direito de denúncia, queixa ou
participação e o de se constituir assistente relativamente
4
Designadamente nos crimes previstos nos artºs 132º,nº2 al.d) ; 146º ; 239º e 240º do C.
P.
5
Salvo expressa oposição do ofendido, quer este requeira ou não a sua constituição como
assistente.

2
3

a crimes cujos interesses sejam os previstos no nº3 do


artº 52º da Constituição da República Portuguesa ,
nomeadamente, a saúde pública, o ambiente, a
qualidade de vida, a protecção do consumo de bens e
serviços, o património cultural e o domínio público; 6

II – TEMPESTIVIDADE E FORMA

A) Nos crimes particulares7:

Momento:

- Com a denúncia - artº 246º,nº4, “2ª parte” C.P.P.


( v., ainda, artº 50º,nº1 C.P.P.).

Forma:

- Por declaração na queixa;


- Por requerimento na própria queixa;
- Por requerimento dirigido ao Juiz de Instrução, a
acompanhar a própria queixa;
- Por requerimento dirigido ao Juiz de Instrução, no
prazo de 8 dias a contar da apresentação da
queixa8.

O assistente é sempre representado por advogado - artº 70º C.P.P. .


Isto significa que , com a apresentação da queixa ou do requerimento,
deverá ser junta a respectiva procuração forense.
Se houver vários assistentes, todos são representados pelo mesmo
advogado, excepto se houver divergências na escolha. Neste caso, cabe ao
Juiz decidir - artº 70º, nº1 C.P.P. .
Se os interesses dos assistentes forem incompatíveis ou forem diferentes os
crimes imputados ao arguido, então cada um pode constituir o seu próprio
advogado - artº 70º, nº2 C.P.P. .

TAXA DE JUSTIÇA:

6
v., ainda: Lei nº 10/87, de 04 de Abril – Lei das Associações de Defesa do Ambiente; Lei
nº 11/87, de 07 de Abril – Lei de Bases do Ambiente; Lei nº 24/96, de 31 de Julho – Lei de
Defesa do Consumidor; Lei nº 13/85, de 06 de Julho – Lei do Património Cultural; Lei nº
95/88, de 17 de Agosto – Direito de Acção Popular das Mulheres.
7
Nos crimes particulares, a constituição de assistente é OBRIGATÓRIA ( v. artº 246º,nº4,
“2ª parte” C.P.P.).
8
V. artº 68º, nº2 C.P.P. + artº 246º, nº4 C.P.P. (v., ainda, artº 50º, nº1) .

3
4

- O pagamento da taxa de justiça deve ser efectuado no prazo de 10


dias a contar da apresentação da queixa ou requerimento 9.

B - Nos crimes públicos e semi-públicos 10 :

Momento:
- Com a denúncia - artº 246º,nº4, “1ª parte” C.P.P. .
- Até 5 dias antes do debate instrutório - artº 68º,nº2
C.P.P.
- Até 5 dias antes da audiência do julgamento - artº
68º,nº2 C.P.P.11
- Até 10 dias após a notificação da acusação do M.P.,
no caso de crime semi-público ou de concurso de crimes
– artº 284º C.P.P.12
- Com o requerimento para abertura da instrução, até 20
dias após a notificação da acusação ou do
arquivamento – artº 287º, nº1, al. b) C.P.P.13

Forma14:

- Por declaração na queixa;


- Por requerimento na própria queixa;
- Por requerimento dirigido ao Juiz de Instrução, a
acompanhar a própria queixa;
- Por requerimento dirigido ao Juiz de Instrução, em
qualquer fase do Inquérito;
9
Como nos crimes particulares a constituição de assistente é sempre feita na fase de
inquérito, antes da classificação do processo, a taxa de justiça a pagar é sempre de 1 U.C.
( sujeita a complemento, se for caso disso). V. artº 519º C.P.P. + artºs 80º e 85º C.C.J. .
10
Aqui, ao contrário do que acontece nos crimes particulares, a constituição de assistente é
facultativa.
11
“A expressão «até cinco dias antes» constante do artº 68º, nº2 ,do C.P.P. deve ser
interpretada no sentido do início da prova, na medida em que se a audiência...” (ou o debate
instrutório) “... se iniciar apenas com os actos instrutórios, sendo adiada, sem se Ter
realizado qualquer acto provatório, não tem relevância para os efeitos da expressão usada
no preceito, porque quanto a nós, a audiência só se inicie com o início da produção da
prova” – António Domingos Pires Robalo in “Noções Elementares da Tramitação do
Processo Penal”, Almedina 1997, pag. 27.
12
Nota: Se num crime semi-público, ou num concurso de crimes, o ofendido pretender
deduzir acusação independente da do M.P., terá necessariamente de se constituir assistente
– v. artº 69º,nº2, al. b) C.P.P. – pelo que, neste caso, o prazo para a sua constituição já não
até 5 dias antes da audiência de julgamento, mas sim até 10 dias após a notificação da
acusação do M.P. .
13
Se o ofendido pretender requerer a abertura da instrução, terá de se constituir assistente –
v. artº 287º, nº1, b) C.P.P. – pelo que, neste caso, o prazo para a sua constituição já não é
até 5 dias antes do debate instrutório, mas sim até 20 dias após a notificação do despacho
de acusação ou de arquivamento (o que significa que o ofendido só poderá constituir-se
assistente até 5 dias antes do debate instrutório caso a abertura da instrução não tenha sido
requerida por ele) (?).
14
Nota: não esquecer a junção da procuração forense com o pedido de constituição de
assistente, se não o houver ainda sido. - v. artº 70º C.P.P.

4
5

- Por requerimento dirigido ao Juiz de Instrução, durante à


fase da Instrução (até 5 dias antes do debate instrutório);
- No requerimento de abertura de Instrução, dirigido ao
Juiz de Instrução (até 20 dias após a notificação do despacho de
acusação ou de arquivamento proferido pelo M.P.).
- Com a dedução de acusação, dirigida ao Juiz de
Julgamento, nos crimes semi-públicos ou no concurso de
crimes (até 10 dias após a notificação da acusação do M.P.) .
- Por requerimento dirigido ao Juiz de Julgamento,
durante a fase do Julgamento (até 5 dias antes da audiência
de julgamento).

TAXA DE JUSTIÇA:

- Em todos os casos, o pagamento da taxa de justiça deverá ser feito nos


10 dias subsequentes ao requerimento de constituição de assistente - v.
artº 519º C.P.P. + artºs 80º e 85º C.C.J.

As respectivas guias deverão ser levantadas onde o processo se encontrar.

O pagamento pode ser feito em qualquer balcão da C.G.D. ( ou, quando isso
for possível, através de pagamento automático - vulgo “multibanco” ).

MONTANTE DA TAXA DE JUSTIÇA :

- Antes da classificação do processo:

- 1 U.C., na fase de Inquérito e Instrução, sujeita a


complemento, se o processo for classificado para
Tribunal do Júri ou Tribunal Colectivo.

- Depois de classificado o processo 15:

- 1 U.C., nos processos com intervenção do Tribunal


Singular;
- 2 U.C., nos processos com intervenção do Tribunal
Colectivo;
- 2 U.C., nos processos com intervenção do Tribunal do Júri.

- Complemento da Taxa de Justiça 16:

15
Ou seja, na fase de Julgamento, após o trânsito em julgado do despacho de saneamento-
artº 311º C.P.P. .
16
Nos casos de constituição de assistente na fase de Inquérito ou na fase da Instrução.

5
6

- 1 U.C., nos processos com intervenção do Tribunal


Colectivo;
- 1 U.C., nos processos com intervenção do Tribunal do
Júri.

- Prazo para pagamento do complemento:

- 5 dias após a notificação do Tribunal do Julgamento, para


esse efeito. artº 519º,nº2 C.P.P.
- A falta de pagamento do complemento é considerada
como desistência do assistente, com perda de todos os
direitos inerentes.

A TRAMITAÇÃO PROCESSUSAL

Formas do processo

Comum Especial

Sumário Sumaríssimo Abreviado


artº 392º e
artº 381º e segs. C.P.P. Artº 391º- A e
segs. C.P.P. segs. C.P.P.

6
7

Natureza do Crime

Público Semi-público Particular


( artº 48º C.P.P. ) ( artº 49º C.P.P. ) ( artº 50º C.P.P.)

FASES DO PROCESSO

1- Fase Preliminar 17:

 Notícia do crime ( M.P.) ( artº 241º C.P.P ):


 por conhecimento próprio ( artº 241º C.P.P. );
 por intermédio de órgãos de polícia criminal (artº 248º C.P.P.);
 por denúncia obrigatória ( artº 242º C.P.P. );
 por denúncia facultativa (artº 244º C.P.P. ).

 Aspectos gerais da Fase Preliminar ( Investigação);

 A abertura do inquérito dá-se pela notícia do crime, isto é, pela


informação suficiente para alicerçar uma suspeita sobre um facto
criminoso.

17
- Queixa - artº 49º C.P.P. + artº 111º C.P. e normas da Parte Especial.
- Auto de Notícia - artº 243º C.P.P.
- Medidas Cautelares de Polícia - artº 248º e segs. C.P.P. ( «pré-provas» artº 249º
C.P.P.)
- Detenção - artº 254º e segs. C.P.P.

7
8

 O objecto do suspeito não equivale necessariamente a imputação


do facto.

 A imputação a um arguido só é indispensável para a acusação.

 O conhecimento ou a notícia do crime equivale à suspeita de crime.

 O conhecimento do crime pode ser trazido ao M.P. quer pelos


órgãos de polícia criminal, quer por particulares, através de
denúncia, que pode ser obrigatória ou facultativa.

8
9

A Denúncia
 A denúncia constitui o modo formal como o M.P. toma conhecimento do facto
suspeito.

 Há entidades que estão obrigadas a comunicar ao M.P. a informação que


possuem - denúncia obrigatória - artº 242º C.P.P.

 Outras tem a faculdade de o fazer, não recaindo sobre estas Qualquer


obrigatoriedade de o fazer - denúncia facultativa – artº 244º C.P.P.

Denúncia obrigatória Denúncia facultativa

 A obrigatoriedade da denúncia, nos casos  Qualquer pessoa ( ou seja, os particulares


previstos no artº 242º, tem por finalidade ou os funcionários públicos, na acepção
facilitar o conhecimento dos factos do art 386º do C.P., quanto a crimes de
suspeitos pelo M.P. que não tomem conhecimento no exercício
das suas funções ou por causa delas )
 A denúncia é obrigatória para os órgãos pode denunciar um crime público.
de polícia criminal, quanto a todos os
crimes de que tenham conhecimento  O mesmo já não acontece quanto aos
( quer directamente, quer por intermédio crimes semi-públicos ou particulares – v.
de terceiros ) - artº 242º, nº1, al.a) C.P.P. artº 244º C.P.P.

 A denúncia é obrigatória para os


funcionários, na acepção do artº 386º do
C.P., quanto a todos os crimes de que
tomem conhecimento no exercício das
suas funções e por causa delas ( o que
significa que se só tiverem conhecimento
de um crime por intermédio de terceiro, já
não são obrigados a denunciar ) - artº
242º, nº 1, al.b) C.P.P.

 Se forem várias as pessoas obrigadas à


denúncia do mesmo crime, a
apresentação por uma delas dispensa as
outras – artº 242º, nº2 C.P.P.

9
10

Forma e conteúdo da denúncia

 A denúncia tanto pode ser feita verbalmente como por escrito e não está sujeita a quaisquer
formalidades - artº 246º, nº1 C.P.P.

 A denúncia verbal será reduzida a escrito e assinada tanto pela entidade que a recebe como pelo
denunciante – artº 246º, nº2 C.P.P.

 Se o denunciante não souber assinar ou se recusar a fazê-lo, a entidade que recebe a denúncia
fará constar no auto essa impossibilidade ou recusa, bem como os motivos que para ela tenham
sido dados - artº 95º, nº3, ex vi artº 246º, nº2, “2ª parte”, C.P.P.

 A denúncia deverá conter, na medida do possível :

a) os factos que constituem o crime;


b) o dia, a hora, o local e as circunstâncias em que o crime foi cometido;
c) toda a informação sobre a identificação dos agentes e dos ofendidos, assim como os
meios de prova conhecidos, nomeadamente testemunhas que puderem depor sobre os
factos.

 O M.P. procede ou manda proceder ao registo de todas as denúncias que lhe forem feitas - artº
247º C.P.P.

 A denúncia feita por órgão de polícia criminal ou qualquer outra entidade policial que presenciarem
qualquer crime de denúncia obrigatória, toma a forma de auto de notícia - artº 243º C.P.P.

 O auto de notícia deve mencionar:

a) os factos que constituem o crime;


b) o dia, a hora, o local e as circunstâncias em que o crime foi cometido;
c) toda a informação sobre a identificação dos agentes e dos ofendidos, assim como os
meios de prova conhecidos, nomeadamente testemunhas que puderem depor sobre os
factos;
d) tudo quanto o autuante puder averiguar acerca do(s) infractor(es);
e) o agente que presenciou o crime ( se for caso disso);
f) o nome das testemunhas que presenciaram o crime ( se as houver ).

 O auto de notícia é assinado pela entidade que o levantou, bem como pela entidade que o mandou
levantar.

 As averiguações e os meios de prova acima mencionados são obtidos antes mesmo de qualquer
ordem da autoridade judiciária competente e enquadram-se no âmbito das medidas cautelares- artº
249º C.P.P.

 Das medidas cautelares levadas a cabo – artºs 248º e segs. C.P.P. lavra-se um relatório - artº 253º
C.P.P.

 Com a notícia do crime inicia-se, em princípio, a fase do Inquérito. A direcção deste cabe ao M.P.,
assistido pelos órgãos de polícia criminal, actuando estes sob a orientação directa daquele - artº
262º, nº2 C.P.P.

10
11

A Fase de Inquérito

 Provas : - artºs 262º; 124º e segs C.P.P.

- artº 32º, nº 6 C.R.P.

- artºs 191º e segs C.P.P.


 Medidas de coacção :
( M.P. + J.I.C.) - artºs 27º; 28º e 31º C.R.P.

- artºs 58º e 59º C.P.P.


 Constituição de arguido :
- artº 32º C.R.P.

- Acusação ( artº 283º C.P.P.)


 Fecho:
- Arquivamento ( artº 277º C.P.P.)

- Arquivamento por
dispensa de pena ( artº 280º C.P.P.)

- Suspensão provisória ( artº 281º C.P.P.)

- Processo sumaríssimo ( artº 392º C.P.P.)

 Aspectos Gerais:

 A direcção do Inquérito cabe ao M.P. ( artº 262º e segs


C.P.P.)
 É competente para a realização do Inquérito o M.P. que
exercer funções no local onde o crime tiver sido
praticado.
 Se esse local for desconhecido, então será competente o
M.P. que primeiro tiver a notícia do crime.
 Se o crime tiver sido cometido no estrangeiro, é competente
o M.P. que exerça funções junto do Tribunal competente
para o julgamento.

- Competências:

Durante o Inquérito, há actos que são praticados pelo M.P. e outros que
terão de ser praticados pelo Juiz de Instrução Criminal, por ele ordenados
ou autorizados - v. artºs 267º; 268º e 269º C.P.P.

- Assim:

Actos a praticar pelo Juiz de Instrução Actos a ordenar ou a autorizar pelo Juiz de

11
12

(artº 268º) Instrução

 Proceder ao 1º interrogatório de arguido detido18.  Buscas domiciliárias, nos termos e limites do artº 177º 22 .
 Proceder à aplicação de uma medida de coacção ou de  Apreensões de correspondência, nos termos do artº 179º,
garantia patrimonial, excepto a prevista no artº 196º 19. nº123.
 Proceder a buscas e apreensões em escritório de advogado,
consultório médico ou estabelecimento bancário, ns termos  Intercepção, gravação ou registo de conversações ou
dos artos 177º, nº320; 180º, nº1 e 181º. comunicações, nos termos dos artos 187º 24 e 190º.
 Tomar conhecimento, em primeiro lugar, do conteúdo da
correspondência apreendida, nos termos do artº 179º, nº3.
 Prática de quaisquer outros actos que a lei expressamente
 Declarar a perda, a favor do Estado, de bens apreendidos, fizer depender de ordem ou autorização do Juiz de Instrução.
quando o M.P. proceder ao arquivamento do inquérito, nos
termos dos artos 277º; 280º e 282º.
 Praticar quaisquer outros actos que a lei expressamente lhe
reservar21.

- Fora dos actos que têm de ser praticados, ordenados ou autorizados pelo
Juiz de Instrução Criminal, podem, os restantes ser praticados pelo M.P. ou
pelos órgãos de polícia criminal em quem ele delegar.

18
v. artº 141º, nº1 C.P.P. .
19
O artº 196º C.P.P. prevê o termo de identidade e residência. Esta é a única medida de
coacção cuja aplicação não da competência exclusiva do Juiz de Instrução, podendo
igualmente ser aplicada pelo M.P. .
20
v. artº 59ºdo E.O.A. . Este artigo estabelece algumas garantias nas buscas em escritórios
de advogados, as quais, a não serem respeitadas, determinam a nulidade do acto (v . artº
201º, nº1 do C.P.C. e artº 119º, alínea c) do C.P.P.). Assim, o Juiz de instrução deverá
convocar para o acto, o advogado a ele sujeito, bem como o Presidente do Conselho
Distrital , Presidente da Delegação ou Delegado da O.A., conforme os casos (os quais
poderão delegar em qualquer outro Advogado). (v. nº2). Quando não seja possível a
comparência dos representantes da O.A., o Juiz de Instrução deverá, ainda assim, nomear
qualquer Advogado que possa comparecer imediatamente (de preferência, um que tenha
pertencido aos órgãos da O.A., ou, em caso de impossibilidade, aquele que for indicado
pelo Advogado visado pelo acto (v. nº3). Ao acto poderão assistir ao acto, os familiares ou
empregados do Advocado visado (v. nº4). Finalmente, o auto de diligência referirá
expressamente todos os presentes e, bem assim, mencionará quaisquer ocorrências que
tenham lugar no decurso do acto (v. nº6) .
21
Designadamente, a decisão sobre admissibilidade da constituição de assistente (v. artº
68º, nº 4); condenação em caso de falta injustificada, e consequente detenção (v. artº 116º);
proceder à inquirição de testemunha em caso de doença grave ou de deslocação para o
estrangeiro que previsivelmente a impeça de ser ouvida posteriormente em julgamento (v.
artº 271º - declarações para memória futura); proceder à inquirição de vítimas sexuais (v.
artº 271º - declarações para memória futura); concordância nos casos de suspensão
provisória do processo (v. artº 281º, nº1); concordância nos casos de arquivamento em
situações de dispensa de pena (v. artº 280º) .
22
A busca em casa habitada ou numa sua dependência fechada só pode ser ordenada ou
autorizada pelo Juiz e efectuada entre as 07h00m e as 21h00m, sob pena de nulidade. Nos
casos de terrorismo, criminalidade violenta ou altamente organizada, quando existam
fundados indícios da prática iminente de crime que ponha em grave risco a vida ou a
integridade física de qualquer pessoa ou ainda quando os visados o consintam, desde que
tal consentimento fique, por qualquer forma documentado (v. artº 174º, nº4, als. a) e b) ), as
buscas domiciliárias também podem ser ordenadas pelo M.P. ou ser efectuadas por órgãos
de polícia criminal.
23
É proibida, sob pena de nulidade, a apreensão e qualquer outra forma de controlo da
correspondência entre o arguido e o seu defensor, salvo se o Juiz tiver fundadas razões
para crer que aquela constitui objecto ou elemento de um crime.
24
É proibida a intercepção e a gravação de conversações ou comunicações entre o arguido
e o seu defensor, salvo se o Juiz tiver fundadas razões para crer que aquela constitui
objecto ou elemento de um crime.

12
13

- Há, porém, actos que o M.P. não pode delegar, a saber:

 Os actos que são da exclusiva competência do Juiz de Instrução


Criminal, nos termos do artº 268º C.P.P. (v. artº 270º,nº2 C.P.P.);
 Os actos que dependam de autorização ou que tenham de ser
ordenados pelo Juiz de Instrução Criminal, nos termos do artº
269º C.P.P. ;
 Receber depoimentos ajuramentados, nos termos do artº 138º, nº3
“2ª parte”, C.P.P. (v. artº 270º,nº2, al a) C.P.P.);
 Ordenar a efectivação de perícia, nos termos do artº 154º C.P.P. (v.
artº 270º,nº2, al. b) C.P.P.);
 Assistir a exames susceptíveis de ofender o pudor da pessoa nos
termos do artº 172º, nº2, “2ª parte”, C.P.P. (v. artº 270º,nº2, al. c)
C.P.P.);
 Ordenar ou autorizar revistas e buscas, nos termos do artº 174º,
nºs 3 e 4 C.P.P. (v. artº 270º,nº2, al. d) C.P.P.);
 Quaisquer outros actos que a lei expressamente determinar que
sejam presididos ou praticados pelo M.P. (v. artº 270º,nº2, al. d)
C.P.P.).

- A delegação em matéria de diligências e investigações pode ser efectuada


por despacho de natureza genérica que indique os tipos de crime ou os
limites das penas aplicáveis aos crimes em investigação (v. artº 270º, nº4).

- As diligências de provas são reduzidas a auto, excepto a documentação


que o M.P. entenda desnecessária.

- Contudo, a denúncia, quando feita oralmente, tem obrigatoriamente de ser


reduzida a escrito- v. artº 275º C.P.P. .

- Prazos para a realização do Inquérito 25

- O C.P.P. estabelece prazos dentro dos quais o Inquérito tem de ser


realizado:

a) Prazo máximo de 6 meses se houver arguidos presos ou sob


prisão domiciliária;

b) Prazo máximo de 8 meses se não houver arguidos presos ou


sob prisão domiciliária;

25
Nota: Os prazos contam-se a partir do momento em que o Inquérito tiver passado a correr
contra pessoa determinada ou em que se tiver verificado a constituição de arguido ( v. artº
58º C.P.P. - da constituição de arguido).

13
14

c) O prazo máximo de 6 meses previsto na al. a) passa para 8


meses quando o inquérito tiver por objecto um dos crimes previstos
no artº 215º, nº2 ;

d) O prazo máximo de 6 meses previsto na al. a) passa para


10 meses, quando, independentemente do tipo de crime, o
procedimento se revelar de excepcional complexidade, nos termos
do artº 215º, nº3, “parte final” C.P.P. ( designadamente, devido ao
número de arguidos ou de ofendidos ou ao carácter altamente
organizado do crime).

e) O prazo máximo de 6 meses previsto na al. a) passa para 12


meses nos casos previstos no artº 215º, nº3 C.P.P.

- Concluído o inquérito, o M.P. toma uma de três atitudes possíveis :

1- Deduz acusação;

2- Arquiva o processo;

3- Suspende provisoriamente o processo.

1- Dedução de acusação:

- V. artº 283º C.P.P. .

- Se o M.P. tiver recolhido, durante o Inquérito, indícios suficientes


da verificação do crime e de quem o praticou, deduz acusação
contra este, desde que tenha legitimidade para o fazer ( nos crimes
particulares, como sabemos, não tem. Aqui, apenas poderá deduzir
acusação se houver acusação particular e apenas pelos mesmos
factos, parte deles ou outros que não importem uma alteração
substancial).

- Consideram-se suficientes os indícios sempre que deles resultar


uma possibilidade razoável de ao arguido vir a ser aplicada , por
força deles, em julgamento, uma pena ou uma medida de
segurança.

( v. infra.)

2- Arquivamento do Inquérito:

- V. artºs 271º a 281º C.P.P.

- O M.P. profere despacho de arquivamento nos seguintes casos:

14
15

a) Logo que recolha prova bastante da não


verificação do crime;

b) Logo que recolha prova bastante de o arguido não


ter praticado o crime, a qualquer título;

c) Ser legalmente inadmissível o procedimento


criminal;

d) Não obtiver indícios suficientes da verificação do


crime ou de quem foram os seus agentes;

- O despacho de arquivamento é comunicado 26:

a) ao arguido;

b) ao assistente;

c) ao denunciante com a faculdade de se constituir


assistente;

d) às partes civis.

- O assistente pode, no prazo de 20 dias a contar da notificação do


arquivamento, requerer a abertura da Instrução, se o procedimento não
depender de acusação e relativamente ao factos pelos quais o M.P. não tiver
deduzido acusação- artº 287º,nº1 al.b) C.P.P. ;

- No caso de não ter sido requerida a Instrução, o imediato superior


hierárquico do M.P. pode, no prazo de 30 dias a contar da data do despacho
de arquivamento ou da notificação deste ao assistente ou ao denunciante
com a faculdade deste se constituir assistente, determinar que seja
formulada acusação ou que as investigações prossigam, indicando, neste
caso, as diligências a efectuar e o respectivo prazo de cumprimento- v. artº
278º C.P.P. ;

- O assistente pode requerer a reabertura do Inquérito, com base em novos


elementos de prova ;

- Se o fizer depois dos 30 dias a que alude o artº 278º C.P.P. e o M.P.
indeferir o requerimento de reabertura, então o assistente pode reclamar
hierarquicamente - artº 279º C.P.P.;

- Do despacho de reabertura do Inquérito também pode-se reclamar


hierarquicamente- artº 279º, nº2 C.P.P. .

26
Nota: a comunicação ao arguido e ao assistente é feita por notificação, nos termos do artº
113º, nº1 C.P.P.

15
16

3- Arquivamento no caso de dispensa ou isenção de pena- artº 280º


C.P.P.27 :

- Se estiver em causa um crime para o qual a lei preveja a possibilidade de


dispensa de pena, o M.P., com a concordância do Juiz de Instrução, pode
decidir-se pelo arquivamento do processo, desde que estejam reunidos os
pressupostos da dispensa de pena.

- Não havendo acusação, o despacho de arquivamento é proferido pelo


M.P., após concordância do Juiz de Instrução;

- Havendo acusação, o despacho de arquivamento é proferido pelo Juiz de


Instrução, após a concordância do M.P. e do arguido.

4- Suspensão provisória do processo:

- v. artºs 281º e 282º C.P.P.:

- Requisitos para a suspensão provisória do processo:

a) quando o crime for punível com pena de prisão não superior a


5 anos ou com sanção diferente da de prisão e o M.P. com a
concordância do Juiz de Instrução, decida suspendê-lo
provisoriamente, mediante a imposição ao arguido de uma ou
várias das seguintes injunções e regras:

 indemnização ao lesado;
 entregar ao Estado ou a instituições privadas de
solidariedade social certa quantia;
 não exercer determinadas profissões;
 não frequentar certos meios ou lugares;
 não residir em certos lugares ou regiões;
 não acompanhar, alojar ou receber certas pessoas;
 não ter em seu poder determinados objectos capazes
de facilitar a prática de outro crime;
 qualquer outro comportamento exigido para o caso.

- Pressupostos para a suspensão provisória do processo:

a) concordância do arguido e do assistente;

b) ausência de antecedentes criminais do arguido;

c) não haver lugar a medida de segurança ou de internamento;

27
Nota: Este despacho é insusceptível de impugnação.

16
17

d) carácter diminuto da culpa;

e) ser de prever que o cumprimento das injunções e regras de


conduta responda suficientemente às exigências de prevenção que
no caso se façam sentir.

- Não poderão ser aplicadas injunções ou regras de conduta


susceptíveis de ofender a dignidade do arguido;

- A decisão de suspensão não é impugnável, desde que obedeça aos


pressupostos exigidos;

- O limite temporal da suspensão é de 2 anos;

- O prazo de prescrição não corre durante o período de suspensão do


processo;

- O processo não é reaberto se o arguido cumprir as injunções ou regras


de conduta impostas ;

- Se as injunções ou regras de conduta impostas não forem cumpridas, o


processo prossegue e as prestações feitas não podem ser repetidas -
artº 282ª C.P.P.

5- Processo sumaríssimo
( V. infra )

A Acusação

 A acusação vem regulada nos artºs 283º a 286º do C.P.P. .

 O M.P. deve deduzir acusação, nos casos em quem tenha legitimidade


para o efeito 28, quando, durante a fase do inquérito recolher indícios
suficientes sobre a existência de um crime e de quem foi o seu agente.
Nesse caso, deverá fazê-lo no prazo de 10 dias.

 Consideram-se suficientes os indícios sempre que deles resulte uma


possibilidade razoável de o arguido vir condenado, em julgamento, pelo
crime de que vai acusado.

- A acusação deve conter:

28
Ou seja, nos crimes públicos e semi-públicos, porque nos particulares, deverá notificar o
assistente para que este a deduza no prazo de 10 dias, nos termos do artº 285º C.P.P. .

17
18

a) As indicações tendentes à identificação do arguido;


b) A narração dos factos imputados ao arguido, incluindo,
se possível, o lugar, o tempo e a motivação da sua prática, o
grau de participação do agente e quaisquer outras
circunstâncias que possam ser relevantes para a
determinação da sanção a aplicar;
c) A indicação das normas aplicáveis;
d) O rol de testemunhas, com a respectiva identificação,
indicando quais é que apenas devem depor sobre factos
relativos à personalidade e ao carácter do Arguido, bem
como às suas condições pessoais e à sua conduta anterior
(v. artº 128º, nº2), as quais não poderão exceder o número
de 5;
e) A indicação e identificação dos peritos e consultores
técnicos a serem ouvidos em julgamento;
f) A indicação de outras provas a produzir ou a requerer;
g) a data e a assinatura.

- O despacho de acusação é comunicado:


( v. artºs 283º,nº5 e 277º,nº3, C.P.P.)

1-
Ao arguido;
2-
Ao assistente;
3-
Ao denunciante com a faculdade de se constituir
assistente;
4- Às partes civis (v.infra).
A comunicação ao arguido e ao assistente é feita por notificação, mediante
contacto pessoal ou via postal registada - v. artº 283º, nº6.

- Atitudes que pode tomar o Assistente:

Crimes Particulares Crimes públicos e semi-públicos


( dependentes de acusação particular - artº 50º ) ( não dependentes de acusação particular - artos 48º e 49º )

 Deduzir acusação particular, no prazo de 10  Deduzir acusação, no prazo de 10 dias a


dias a contar da notificação para o efeito - v. contar da notificação da acusação do M.P.,
artº 285º, nº1 C.P.P..29 pelos mesmos factos, por parte deles ou por
outros que não importem uma alteração
substancial daqueles - v. artº 284º, nº1 C.P.P..

 Requerer a abertura da Instrução, no prazo


_________________________ de 20 dias a contar da notificação da
acusação ou do arquivamento, relativamente a

29
Nota: O M.P. pode, nos 5 dias posteriores à dedução de acusação de acusação
particular por parte do assistente, acusar pelos mesmos factos, por parte deles ou por outros
que não importem uma alteração substancial dos mesmos - v. artº 285º, nº3 C.P.P. .
Nota: Se o particular não deduzir acusação, o M.P. não tem legitimidade para o
fazer, limitando-se a arquivar os autos. (por força do artº 50º C.P.P.).

18
19

factos pelos quais o M.P. não tiver deduzido


acusação - v. artº 287º, nº1, al. b) .

NOTA: Nos processos de crime de abuso de imprensa o prazo para o assistente deduzir
acusação é de 3 dias. ( Este prazo mantém-se, ainda que no mandado de notificação ao advogado do assistente
tenha sido indicado um prazo diferente - Assento S.T.J. de 11/11/92 ).

(v. se não houve qualquer alteração).

- Atitudes que pode tomar o Arguido:

 Requerer a abertura da Instrução, no prazo  Nada fazer (ou seja, não requerer a abertura
de 20 dias a contar da notificação da da instrução), caso em que o processo segue
acusação, relativamente a factos pelos quais o para o Tribunal de Julgamento.
M.P. (ou o Assistente, nos crimes particulares)
tiverem deduzido acusação - v. artº 287º, nº1,
al. a).

O Pedido de Indemnização Civil

-Princípio da adesão - artº 71º C.P.P.

 O pedido de indemnização civil resulta dos danos e perdas sofridos


em resultado da prática de um crime.
 Fundando-se na prática de um crime, o pedido de indemnização
civil deve ser deduzido no processo penal respectivo, salvo
quando a lei permitir que o seja, em separado, perante o Tribunal
Civil - v. artº 72º C.P.P. e, ainda, artº 2º, nº2, al. 14) da Lei 43/86,
de 26/09 (Lei de Autorização Legislativa).
 Só pode haver condenação do civilmente responsável por perdas e
danos quando o ofendido formule ao Tribunal um pedido nesse
sentido - v. artº 2º, nº2, al. 15) da Lei 43/86, de 26/09. (Lei de
Autorização Legislativa).

- Pedido em separado- v. artº 72º, nº1, C.P.P.

 Casos em que o pedido de indemnização civil pode ser deduzido


em separado:

 Se o processo penal não tiver conduzido à acusação dentro


de 8 meses a contar da notícia do crime;

19
20

 Se o processo penal estiver sem andamento durante 8


meses;
 Se o processo penal tiver sido arquivado;
 Se o processo penal tiver sido suspenso provisoriamente;
 Se o processo penal se extinguir antes da sentença transitar
em julgado;
 Se o procedimento depender de queixa ou acusação
particular;
 Se não houver ainda danos ao tempo da acusação;
 Se os danos não forem conhecidos, no todo ou em parte, ao
tempo da acusação;
 Se a sentença penal não se tiver pronunciado sobre o
pedido de indemnização civil, nos termos do artº 82º, nº 3
C.P.P. (arbitramento de quantia a título de reparação).;
 Se for deduzido contra o arguido e outras pessoas com
responsabilidade meramente civil;
 Se for deduzido contra pessoas com responsabilidade
meramente civil e for provocada a intervenção principal do
Arguido;;
 Se o valor do pedido permitir a intervenção civil do Tribunal
colectivo, devendo o processo penal correr perante o
Tribunal Singular; ( ou seja, se o pedido de indemnização civil
exceder a alçada do Tribunal de 1ª instância- 750.000$00- v. artº 79º, al.
b) + artº 20º,nº1 L.O.T.J.)
 Se o processo penal correr sob a forma sumária ou
sumaríssima.
 Se o lesado não tiver sido informado da possibilidade de
deduzir o pedido civil no processo penal ou notificado para o
fazer, nos termos dos artos 75º, nº1 e 77º, nº2 C.P.P. .

- Legitimidade para deduzir o pedido civil30:

O Ministério O Assistente O lesado32


Público31 (não constituído Assistente)
(v. artº 77º, nº2, C.P.P.)

 Com a acusação ou no  Também com a acusação ou no Tendo o lesado manifestado o propósito de deduzir o
prazo em que esta deva ser pedido de indemnização civil, nos termos do artº 75º, nº2
prazo em que esta deva
deduzida- v. artº 77º, nº1 C.P.P., C.P.P.:
ser formulada- v. artº
77º,nº1 C.P.P. ou seja:
 No prazo de 20 dias a contar da notificação ao
 10 dias a contar da arguido do despacho de pronúncia - artº 77º, nº2
notificação da acusação do C.P.P. .
M.P., nos crimes públicos ou

30
Nota: Sugere-se que se apresente o pedido cível logo após a comunicação da acusação e
não antes, dadas as dificuldades de consulta do processo, antes da acusação, na fase do
Inquérito - v. artº 89º, nº 2 C.P.P.
31
Nota: O M.P. formula o pedido de indemnização civil relativamente ao lesado que lho
requeira, quando este não tiver condições económicas que não lhe permitam constituir
advogado - v. artº 76º C.P.P. ; artº 2º, nº2, al. 15 Lei 43/86, de 26 de Setembro ( Lei de
Autorização Legislativa) e artºs 1º e 19º D.L. 387-B/ 87, de 29 de Dezembro (Regime Geral
do Apoio Judiciário).
32
Nota: Quando a lei - artº 74º C.P.P. - fala em lesado, pretende significar a pessoa que
sofreu danos em consequência do crime, ainda que não se tenha ou nem sequer possa
constituir assistente.

20
21

semi-públicos-v. artº 284º,  No prazo de dias a contar da notificação ao arguido


nº1 C.P.P. . do despacho que designa dia para audiência de
julgamento (no caso de não haver despacho de
 10 dias a contar da pronúncia).
notificação do M.P. ao
assistente para este deduzir Não tendo o lesado manifestado o propósito de deduzir o
acusação particular, pedido de indemnização civil, nos termos do artº 75º, nº2
querendo, nos crimes C.P.P.:
particulares - v. artº 285º,
nº1 C.P.P. .  No prazo de 10 dias a contar da data da notificação
ao Arguido do despacho de acusação ou de pronúncia
(conforme o caso) - artº 77º, nº3 C.P.P.33 .

a) No caso de o lesado ser assistente :

 A acusação e o pedido de indemnização podem ser feitos:

 Nos crimes públicos e semi-públicos, sendo a constituição de


Assistente anterior à acusação deduzida pelo M.P., a acusação e o
pedido de indemnização civil podem ser apresentados na mesma
peça processual, ou em duas peças separadas. O pedido deverá,
contudo, ser sempre apresentado dentro do prazo de 10 dias, para
a acusação do Assistente - artos 77º, nº1 e 284º, nº1 C.P.P. .
 Nos crimes públicos e semi-públicos, não tendo ainda sido
requerida a constituição de Assistente: o requerimento para
constituição de Assistente, a acusação e o pedido de indemnização
civil podem ser apresentados na mesma peça processual, no prazo
de 10 dias referido no artº 284º C.P.P..
 Nos crimes públicos e semi-públicos, não tendo ainda sido
requerida a constituição de Assistente, dentro do prazo
estabelecido pelo artº 284º: aí, já não será possível a formulação
do pedido, por já não ser aplicável o artº 77º, nº2 C.P.P. .
 Nos crimes particulares, o pedido é apresentado juntamente com
a acusação particular, no prazo de 10 dias a contar da notificação
feita pelo M.P. para que o Assistente deduza, querendo, acusação
particular - v. artos 77º, nº1 e 285º, nº1 C.P.P. .
 A entrega quer da acusação quer do pedido civil é sempre feita
nos serviços do M.P. onde o Inquérito se encontrar.
 Tanto a acusação como o pedido civil são dirigidos ao Juiz de
Julgamento ( na dúvida, podemos usar a fórmula “ Exma Senhor Juiz de
Direito”).
 O pedido deve ser articulado - v. artº 77º, nº2 “in fine”.
 O pedido é acompanhado de duplicados para o(s) demandado(s)
(um duplicado por cada demandado) e a secretaria- v. artº 77º, nº5
C.P.P.
 As provas, quer da acusação, quer do pedido devem ser desde
logo indicadas no(s) articulado(s) - v. artº 79º, nº1, C.P.P.

33
Quando, em razão do pedido, se pedido em separado, não fosse obrigatória a constituição
de Advogado, o lesado, no prazo de 10 dias previsto no artº 77º, nº3 C.P.P., pode requerer
que lhe seja arbitrada a indemnização civil. Este requerimento não está sujeito a
formalidades especiais e pode consistir em declaração em auto, com indicação do prejuízo
sofrido e das provas - v. artº 77º, nº4, C.P.P.

21
22

 Em relação ao pedido de indemnização civil, poderão ser


arroladas até 5 testemunhas, se o valor do pedido não exceder a
alçada do Tribunal da Relação (Esc.: 750 000$00.), ou até 10
testemunhas, caso o valor do pedido civil exceda aquela alçada- v.
artº 79º, nº2 C.P.P.
 Em relação à acusação, não há limite de testemunhas- v. artº
315º, nº1 C.P.P. (excepto quanto a factos relativos à personalidade
e ao carácter do Arguido, bem como às suas condições pessoais e
à sua conduta anterior, pois nesse caso o número de
testemunhas não poderá ser superior a 5 - v. art os283º, nº3, al.
d) e 128º, nº2 C.P.P.).

b) No caso do lesado não ser assistente:

 O pedido de indemnização é articulado como uma petição inicial


num processo cível;
 As provas devem ser logo indicadas - v. artº 79º, nº1 C.P.P. ;
 Poderão ser arroladas até 5 testemunhas - v. artº 79º, nº2 C.P.P. ;
 O pedido é acompanhado de duplicados para o(s) demandado(s)
( um duplicado por demandado) e a secretaria- v. artº 77º, nº3
C.P.P. ;
 O pedido é dirigido ao Juiz de Julgamento ( na dúvida, podemos usar
a fórmula “ Exma Senhor Juiz de Direito”) ;
 O pedido pode ser apresentado: v. quadro supra.
 O pedido entrega-se onde o processo estiver, consoante a fase em
que se encontra, ou seja:

 Inquérito: Serviços do M.P. ;


 Instrução: T.I.C. ou Trib.da Comarca (se não houver T.I.C );
 Julgamento: Trib. de Julgamento.

- Contra quem pode ser deduzido o pedido de indemnização civil ?

 O pedido de indemnização civil pode ser deduzido não só contra o


arguido, mas também contra pessoas com responsabilidade
meramente civil, ou somente contra estas, podendo elas intervir
voluntariamente no processo penal - v. artº 73º, nº1 C.P.P.
 Contudo, as pessoas com responsabilidade meramente civil que
intervenham voluntariamente no processo penal não poderão
praticar actos que o arguido tenha perdido o direito de praticar - v.
artº 73º, nº2 C.P.P.

- Tramitação do pedido civil :

 Prazos para formulação do pedido: v. supra.


 Uma vez deduzido o pedido, serão notificadas, para contestar, as
pessoas contra quem o mesmo foi formulado- v. artº 78º, nº1 C.P.P.
 O prazo para contestar é de 20 dias, a contar da data da
notificação -v.artº 78º, nº1 C.P.P.
 A contestação deve ser deduzida sob a forma articulada - v. artº
78º, nº2 C.P.P.

22
23

 A falta de contestação não implica a confissão dos factos- v.


artº 78º, nº3 C.P.P.
 Da prova: v. supra.
 Os lesados, os demandados e os intervenientes só são
obrigados a comparecer no julgamento quando tiverem de prestar
declarações a que não possam recusar-se - v. artº 80º C.P.P.
 Em qualquer altura do processo, o lesado pode :

 desistir do pedido formulado;


 requerer que o objecto da prestação indemnizaria seja
convertido em diferente atribuição patrimonial, desde que a
lei o preveja - v. artº 81º C.P.P.

 Se o Tribunal de Julgamento não dispuser de elementos bastantes para


fixar o montante da indemnização, então, condena os demandados no
que for liquidado em execução de sentença.
 A execução de sentença corre perante o Tribunal civil, servindo a
sentença penal de título executivo- v. artº 82º, nº1 C.P.P. Mas se o
Tribunal de Julgamento ( tribunal criminal, portanto) condenar em
quantia certa, então será este (o Tribunal de Julgamento) o competente
para a execução - v. Ac. R.L. 24/11/93.
 O Tribunal de Julgamento pode, oficiosamente ou a requerimento,
remeter as partes para os Tribunais Civis- v. artº 82º, nº3 C.P.P. :

 Quando as questões suscitadas no pedido de indemnização civil


inviabilizarem uma decisão rigorosa;
 Quando forem susceptíveis de gerar incidentes que retardem
intoleravelmente o processo penal.
 O Tribunal de Julgamento pode fixar uma indemnização
provisória, por conta da indemnização a fixar em execução de
sentença, se dispuser de elementos suficientes para o efeito- v.
artº 82º, nº2 C.P.P.
 A requerimento do lesado, o Tribunal de Julgamento pode
declarar a condenação em indemnização civil provisoriamente
executiva, no todo ou em parte, nomeadamente sob a forma de
pensão- v. artº 83º C.P.P.
 A decisão penal que conhecer do pedido de indemnização civil,
ainda que absolutória, constitui caso julgado nos termos em
que a lei civil atribui eficácia de caso julgado às sentenças civis
- v. artºs 84º e 377º C.P.P.

 Quando se coloquem particulares exigências de protecção da vítima, e


não houver sido deduzido pedido de indemnização civil , ainda assim o
Tribunal poderá arbitrar oficiosamente uma quantia a título de
reparação pelos prejuízos sofridos - v. artº 82º-A C.P.P. .

23
24

A Instrução

 A Instrução vem regulada nos artºs 286º a 310º C.P.P.


 É uma fase processual facultativa- v. artº 286º, nº2 C.P.P.
 Só tem lugar em processo comum ou no processo abreviado- v. artº
286º, nº3 C.P.P.
 A Instrução tem por finalidade averiguar e comprovar os factos
investigados durante a fase anterior - o Inquérito. Por outro lado, visa
comprovar judicialmente a decisão do M.P. de acusar ou não acusar.

- Quem pode requerer a abertura da Instrução ?

a) O Arguido, se tiver sido deduzida acusação pelo M.P., ou, nos


crimes particulares, pelo assistente - v. artº 287º, nº1, al. a) C.P.P. ;
b) O Assistente, excepto nos crimes particulares, se o processo
for arquivado, ou então relativamente a factos pelos quais o M.P.
não tiver deduzido acusação - v. artºs 277º e 287º, nº1, al. b) C.P.P.

______________ Pedido de abertura de Pedido de abertura de


Instrução deduzido pelo Instrução deduzido pelo
Arguido Assistente
 Má apreciação dos factos no  Má valoração da prova
Inquérito indiciaria, no Inquérito;
Fundamentos  Insuficiência do Inquérito,  Insuficiência do Inquérito,
sugerindo diligências. sugerindo diligências;
 Dedução de acusação em caso
de arquivamento;
 Dedução de acusação em
relação a factos que o M.P.
não acusou.

 Dirigido ao Juiz de Instrução.  Dirigido ao Juiz de Instrução.


Requerimento  Sem formalidades especiais.  Sem formalidades especiais.

 Nos Serviços do M.P., onde o  Nos Serviços do M.P., onde o


Entrega processo se encontrar. (em processo se encontrar. (em
Lisboa, no D.I.A.P.) Lisboa, no D.I.A.P.)

 20 dias, a contar da notificação  20 dias, a contar da notificação


Prazo da acusação. da acusação ou do
arquivamento.

24
25

- Pagamento da Taxa de Justiça:

- Inicial:

 de 1 U.C. - v. artº 83º, nº 1 C.C.J.


 Deve ser paga no prazo de 10 dias, a contar da
apresentação do requerimento ( tanto em relação ao assistente
como em relação ao arguido) - v. artº 80º, nº1 C.C.J.
 Se o requerente não efectuar o pagamento dentro do prazo
acima referido, poderá ainda fazê-lo, em dobro, no prazo de
5 dias a contar da notificação pela secretaria para o efeito -
v. artº 80º, nº2 C.J.J.
 Se, ainda assim, não o fizer, o requerimento será
considerado sem efeito - v. artº 80º, nº3 C.C.J.

- Devida a final :

 1 a 10 U.Cs., a fixar pelo Juiz, quando o assistente decair


na acusação, quer a Instrução tenha sido requerida pelo
Assistente quer pelo Arguido. ( ou seja, o assistente é o único
que poderá dever a taxa final) - v. artº 83º, nº2 C.C.J.

- Os efeitos da Instrução requerida apenas por um ou por vários


arguidos estendem-se aos restantes que por ela possam ser afectados,
pois tem-se entendido que a decisão instrutória abrange-os a todos - v. Ac.
S.T.J., de 19/10/95, confirmado pelo Ac. T.C. nº 226/97 de 12/3/97.

- Casos em que o requerimento a pedir a abertura da Instrução pode


ser recusado- v. artº 287º, nº2 C.P.P. :

a) Se for extemporâneo ( ou seja, se for apresentado depois de


decorridos 20 dias da notificação da acusação ou do arquivamento);
b) Se o Juiz for incompetente ( v., ainda, artº 17º C.P.P.);
c) Se a Instrução for legalmente inadmissível.

- Embora o requerimento a pedir a abertura da Instrução não esteja


sujeito a formalidades especiais, deverá, no entanto, conter- v. artº 287º, nº3
C.P.P. :

 em súmula, as razões de facto e de direito, de discordância


relativamente à acusação ou não acusação;
 a indicação dos actos de investigação que o requerente
desejaria que o Juiz levasse a cabo, se for caso disso. ( Nota:
o Juiz não é obrigado a levar a cabo esses actos de investigação; só o
fará se assim o entender, bem como poderá levar a cabo outros que não
hajam sido requeridos. Do indeferimento de actos ou meios de prova
requeridos, não cabe recurso - v. artº 289º, “ 1ª parte”, C.P.P. ) ;
 os meios de prova que não tenham sido considerados no
inquérito;

25
26

 os factos que, através de destes meios de prova e daqueles


actos de investigação, espera provar.
 No caso da abertura da Instrução ser requerida pelo
Assistente, este deve este, ainda, de forma sintética, os
factos que fundamentam a aplicação ao Arguido de uma
pena ou de uma medida de segurança, incluindo, se
possível, o lugar, o tempo e a motivação da sua prática, o
grau de participação que o agente neles teve, bem como
quaisquer circunstâncias relevantes para a determinação da
sanção aplicável. Deverá, ainda, indicar as disposições
legais aplicáveis - v. artº 283º, nº3, als. b) e c), “ex vi” artº
287º, nº 2, “in fine”.

- A direcção e a participação na Instrução:

 A direcção da Instrução compete ao Juiz de Instrução, nos termos


do artº 17º C.P.P. .
 A Instrução é formada por um conjunto de actos que o Juiz entenda
dever levar a cabo - v. artº 289º C.P.P.
 A Instrução compreende, também, obrigatoriamente, um debate
instrutório, oral e contraditório, no qual podem participar o M.P.,
o arguido, o defensor, o assistente e o seu advogado - v. artº 289º
C.P.P.
 No debate instrutório não podem participar as partes civis - v.
artº 289º C.P.P.

- Os actos de Instrução:

 O Juiz de Instrução pratica todos os actos necessários à


comprovação judicial de deduzir acusação ou de arquivar o
Inquérito em ordem a submeter ou não a causa a Julgamento - v.
artº 290º C.P.P.
 O Juiz pode, no entanto, delegar nos órgãos de polícia criminal,
competência para a prática de todos aqueles actos que, por lei, não
sejam da sua competência exclusiva (nomeadamente os referidos no artº
268º, nº1 e no artº 270º, nº2 C.P.P:) - v. artº 290º, nº2 C.P.P.
 Na Instrução são admitidas todas as provas que a lei não proibir -
v. artº 292º, nº1 C.P.P.
 O Juiz indefere, por despacho irrecorrível, todos os actos
requeridos que não interessem à Instrução ou que tenham uma
finalidade unicamente dilatória - v. 291º, nº1 C.P.P.
 Em contrapartida, o Juiz pode ordenar oficiosamente os actos que
considere úteis à Instrução - v. artº 291º, nºs 1 e 2 C.P.P.
 Tal como na fase de Inquérito, na fase de Instrução o Juiz pode
proceder à inquirição de testemunhas - v. artº 292º, nº1 C.P.P.
 Contudo, não são inquiridas as testemunhas que devam depor
sobre factos relativos à personalidade e ao carácter do Arguido,
bem como às suas condições pessoais e à sua conduta anterior - v.
artº 128º, nº2 “ex vi” artº 291º, nº3 C.P.P. .
 O Juiz pode interrogar o arguido quando o julgar necessário e
sempre que este lho solicitar - v. artº 292º, nº2 C.P.P.

26
27

 O Juiz pode, ainda, oficiosamente ou a requerimento, proceder à


tomada de declarações do assistente, do arguido, das partes civis,
de peritos e de consultores técnicos, bem como a acareações, para
memória futura, no caso de algum destes intervenientes se
encontrar gravemente doente ou se desloque para o estrangeiro,
sendo previsível a impossibilidade de serem ouvidas em
Julgamento - v. artºs 294º e 271º C.P.P.
 Todas as diligências de prova realizadas no decurso da Instrução
são reduzidas a auto -v. artº 296º C.P.P.
 São juntas aos autos certidões e certificados de registo,
requerimentos apresentados pela acusação e pela defesa nesta
fase, bem como quaisquer documentos relevantes para a
apreciação da causa - v. artºs 295º e 296º C.P.P.

- O Debate Instrutório:

artº 298º C.P.P. :


“O debate instrutório visa permitir uma discussão perante o
Juiz, por forma oral e contraditória, sobre se, no decurso do
inquérito e da instrução, resultaram indícios de facto e
elementos de direito suficientes para justificar a submissão do
arguido a julgamento.” ( sombreado nosso).

 Se o Juiz considerar que não há lugar à prática de actos de


instrução, ou em 5 dias a partir da prática do último acto, designa
dia, hora e local para o debate instrutório- v. artº 297º, nº1 C.P.P.
 A notificação ao M.P., ao arguido e ao assistente tem de ser feita
com uma antecedência mínima de 5 dias - v. artº 297º, nº3 C.P.P.
 Devem ainda ser notificados, no mesmo prazo de 5 dias, os
Arguidos que não tenham requerido a abertura da Instrução, em
caso de conexão de processos, nos termos do artº 24º, nº1, als. c),
d) e e), do C.P.P. .
 A notificação da data do debate a quaisquer testemunhas,
peritos e consultores técnicos cuja presença se considerar
indispensável, será feita com uma antecedência mínima de 3 dias -
v. artº 297º, nº4 C.P.P.
 Independentemente da designação de data para o debate
instrutório, o Juiz pode, antes ou durante o mesmo, levar a cabo
actos de instrução que, entretanto, se tenham revelado de
interesse para a descoberta da verdade - v. artº 299º C.P.P. .
 O debate só pode ser adiado uma vez, por impossibilidade de ter
lugar, nomeadamente por grave e legítimo impedimento de o
arguido estar presente - v. artº 300º, nº1 C.P.P. .
 Em caso de adiamento, será logo designada nova data que não
poderá exceder em 10 dias a que fora inicialmente designada - v.
artº 300º, nº2 C.P.P. .
 Se o arguido faltar na nova data, será representado pelo seu
defensor, constituído ou nomeado, já que o debate não pode ser
adiado novamente com fundamento na sua falta - v. artº 300º, nº3
C.P.P.
 A disciplina, direcção e organização do debate competem ao Juiz
de Instrução- v. artº 301º, nº1 C.P.P.

27
28

 O Juiz abre o debate com uma exposição sucinta dos actos de


instrução e prova relevantes para a decisão instrutória e que, na
sua opinião, apresentem carácter controverso - v. artº 302º, nº1
C.P.P.
 De seguida, o Juiz concede a palavra ao M.P., ao advogado do
assistente e ao defensor do arguido, para que estes requeiram,
querendo, a produção de provas indiciárias suplementares sobre
questões concretas controversas e que se proponham apresentar
durante o debate - v. artº 302º, nº2 C.P.P.
 Segue-se a produção da prova.
 Antes de encerrar o debate, o Juiz volta a conceder a palavra ao
M.P., ao advogado do assistente e ao defensor, para que estes
formulem, em síntese, as suas conclusões sobre a suficiência ou
insuficiência dos indícios recolhidos e sobre as questões de direito
de que dependa o sentido da decisão instrutória - v. artº 302º, nº4
C.P.P.
 O debate instrutório é contínuo, sendo interrompido sempre que, no
seu decurso, o Juiz se aperceber que é indispensável a prática de
novos actos de instrução que não possam ser levados a cabo no
próprio debate - v. artº 304º C.P.P.
 O debate instrutório é lavrado em acta, devendo ser assinada pelo
Juiz e pelo funcionário que a lavrar - v. artº 305 C.P.P.

- Se dos actos de instrução ou do debate instrutório resultar alteração dos


factos descritos na acusação do M.P., do assistente, ou do requerimento
para abertura da Instrução, o Juiz, oficiosamente ou a requerimento,
comunica tal alteração ao defensor e interroga o arguido sobre esses factos,
se possível, ou concede-lhe, a requerimento, um prazo não superior a 8 dias
para preparar a defesa, adiando o debate, se necessário 34.

- Se a alteração verificada for substancial, então, o M.P. abre


obrigatoriamente inquérito quanto a eles - v. artº 303º, nº3 C.P.P. .

- A alteração substancial é aquela que tiver por efeito:

 a imputação ao arguido de um crime diverso daquele de que vinha


acusado. ( neste caso diz-se que os factos são autonomizáveis
como crime. Estes fazem sempre sentido, mesmo considerados
isoladamente).
 a agravação dos limites dos limites máximos das sanções
aplicáveis.( neste caso, diz-se que os factos não são
autonomizáveis como crimes. Estes só farão sentido na medida em
que se relacionarem com os factos objecto do processo ).

34
Este regime não se aplica se da alteração verificada resultar a incompetência do Juiz de
Instrução - v. artº 30º, nº2 C.P.P. . Neste caso, o Juiz de Instrução não pode prosseguir a
realização desta, devendo o processo ser remetido para o Tribunal competente - v. artº 33º
C.P.P. . A incompetência do Juiz de Instrução é por este conhecida e declarada
oficiosamente e pode ser deduzida pelo M.P., pelo Arguido e pelo Assistente, até ao trânsito
em julgado da decisão final - v. artº 32º, nº1 C.P.P. . Tratando-se de incompetência
territorial, só pode ser deduzida e declarada até ao início do debate instrutório - v. artº 32º,
nº2, al. a).

28
29

- Encerramento da Instrução:

 Encerrado o debate instrutório, o Juiz profere despacho de


pronúncia ou de não pronúncia - v. artº 307º, nº1 C.P.P.
 O despacho é imediatamente lido , valendo a leitura como
notificação - v. artº 307º, nº1 C.P.P.
 O Juiz de Instrução pode, ainda, com a concordância do M.P.,
decidir pela suspensão provisória do processo, nos termos do artº
281º do C.P.P. - v. artº 307º, nº2 C.P.P. .
 O despacho pode igualmente ser ditado para a acta, considerando-
se notificados os presentes - v. artº 307º, nº3 C.P.P.
 Se a causa for complexa, o despacho é proferido no prazo máximo
de 10 dias - v. artº 307º, nº4 C.P.P..
 Ainda que tenha sido requerida apenas por um dos Arguidos, o Juiz
deverá retirar da Instrução as consequências legalmente impostas
a todos os Arguidos.
 Deverá ainda ser notificado o lesado que tiver manifestado o
propósito de deduzir pedido de indemnização civil, quando não for
Assistente, bem como às pessoas não presentes, no caso do artº
307º, nº4 C.P.P.. A notificação ao primeiro será feita por via postal
simples, e por contacto pessoal ou via postal registada, caso as
pessoas a notificar sejam o Arguido ou o Assistente. Os respectivos
Advogados e Defensor serão igualmente notificados - v. artos 307º,
nº5; 283º, nº5; 277º, nº3 e nº4. .
 O despacho começa por decidir todas as questões prévias ou
incidentais
 No despacho deve indicar-se - v. artº 308º, nº 2 C.P.P. :

 identificação do arguido;
 narração dos factos imputados ao arguido e grau de
participação;
 indicação das normas aplicáveis;
 indicação das provas a produzir e a requerer;
 a data e a assinatura.

 O despacho é nulo na parte em que pronunciar o arguido por factos


que constituam uma alteração substancial dos factos descritos na
acusação do M.P., ou do assistente, ou no requerimento para
abertura da instrução - v. artº 309º, nº1 C.P.P.
 A nulidade do despacho deve ser arguida no prazo de 8 dias a
contar da notificação - v. artº 309º, nº2 C.P.P. . Se não for arguida,
esta nulidade sana-se ( v. artº 120º C.P.P. ).
 A decisão instrutória que pronunciar o Arguido pelos factos
constantes da acusação é irrecorrível e determina a remessa dos
autos para o Tribunal de Julgamento - v. artº 310º, nº1 C.P.P. .
 O despacho que indeferir a arguição da nulidade do despacho, na
parte em que pronunciar por factos que constituam alteração
substancial dos descritos na acusação é recorrível, tal como todos
os outros despachos proferidos durante a instrução e que não
sejam de mero expediente - v. artºs 310º, nº2 ; 399º e 400º C.P.P.

29
30

 São ainda admitidos os seguintes recursos:

 Do despacho de não pronúncia - v. artos 427º; 407º, nº1, al


i); 406º, nº1 e 408º, “a contrario”;
 Do despacho de pronúncia, que pronunciem o Arguido por
factos de que não foi acusado pelo M.P. e que o Assistente
incluiu no requerimento de abertura da Instrução (tratando-
se de crimes públicos ou semi-públicos), ou na sua
acusação particular (tratando-se de crime particular) - v. artos
427º; 407º, nº1, al i); 406º, nº2 e 408º, nº1, al. b);
 Da parte rejeitada, quando a acusação (ou o requerimento
de abertura da Instrução) incluir múltiplos factos e crimes e a
decisão instrutória vier a pronunciar quanto a uns, mas
rejeitar a acusação ou o requerimento, quanto a outros.
Neste caso, o recurso está dependente da possibilidade de a
parte recorrida poder ser separada da não recorrida, por
falta de conexão, e dentro da al. b) do nº2 do artº 403º
C.P.P., nos termos da qual é admissível a limitação do
recurso a uma parte da decisão quando a parte recorrida
puder ser separada da não recorrida, por forma a tornar
possível uma apreciação e uma decisão autónomas. - v.
artos 427º; 407º, nº1, al i); 406º, nº2 e 408º, nº1, al. b);

- Prazos máximos para a realização da Instrução 35 :

 2 meses, se houver arguidos presos ou sob prisão domiciliária - v.


artº 306º, nº1 C.P.P.

 4 meses, se não houver arguidos presos ou sob prisão


domiciliária - v. artº 306º, nº1 C.P.P.

 3 meses, se houver arguidos presos ou sob prisão domiciliária e o


Inquérito tiver por objecto um dos crimes referidos no artº 209º
C.P.P. - v. artº 309º, nº2 C.P.P.

35
O prazo conta-se a partir da data de recebimento d requerimento para abertura da
Instrução - v. artº 306º, nº3.

30
31

O Julgamento

- Dos actos preliminares:

 Esta matéria vem regulada nos artºs 311º a 321º C.P.P.


 Após a dedução de acusação ou da dedução de despacho de
pronúncia, os autos são remetidos ao Tribunal do Julgamento.
 O posicionamento do Juiz de Julgamento difere, consoante tenha
ou não havido Instrução.

PROCESSO REMETIDO PROCESSO REMETIDO


SEM INSTRUÇÃO. COM INSTRUÇÃO.

31
32

 O Juiz de Julgamento pronuncia-se sobre as  O Juiz limita-se a proferir despacho a designar


nulidades e questões prévias ou incidentais dia para a audiência de Julgamento, sendo-lhe
susceptíveis de obstar à apreciação do mérito aplicável o disposto nos artos 312º e 313º C.P.P.
da causa, de que possa conhecer, através do .
despacho de saneamento - v. art 311º C.P.P.

 O despacho do Juiz pode ir no sentido de :

a) rejeitar a acusação, se a considerar


manifestamente infundada 36 - v. artº
311º, nº2, al. a) C.P.P.;
b) não aceitar a acusação do Assistente
ou do M.P., na parte em que represente
uma alteração substancial dos factos,
nos termos dos artos 284º, nº1 e 285º,
nº3 C.P.P. - v. artº 311º, nº2, al. b)
C.P.P.;
c) designar dia para a audiência de
julgamento - v. artº 312º, nº1 C.P.P. 37

 O despacho que designe dia para a audiência deverá indicar, sob pena de
nulidade38 - v. artº 313º, nº1 C.P.P. :

a) os factos e disposições legais aplicáveis ( o que poderá ser feito


por remissão para a acusação ou para a pronúncia, se a houver );
b) indicação do lugar, dia e hora da comparência;
c) nomeação do defensor ao arguido, se ainda não estiver
constituído no processo;
d) data e assinatura do presidente.

 Deste despacho são notificados, acompanhado de cópia da acusação ou


da pronúncia, se a houver :

a) O M.P. ;
b) O arguido e o seu defensor ;
c) O assistente ;
d) As partes civis e os seus representantes.

 A notificação deverá ser feita com pelo menos 30 dias de antecedência


da audiência - v. artº 313º, nº2 C.P.P.

36
A acusação considera-se manifestamente infundada quando: não contenha a identificação
do arguido; não contenha a narração dos factos; não indicar as disposições legais aplicáveis
ou as provas que a fundamentam; ou se os factos não constituírem crime - v. artº311º, nº3
C.P.P.
37
A data deve ser marcada de modo a que entre o recebimento dos autos e a realização da
audiência não decorram mais de 2 meses (!!!) Neste mesmo despacho é logo designada
segunda data para realização da audiência de julgamento em caso de adiamento, nos
termos do artº 333º, nº1 C.P.P. . No caso de existir Arguido em prisão preventiva ou com
obrigação de permanência na habitação a data é fixada com precedência sobre qualquer
outro julgamento - v. artº 312º, nos 2 e 3 C.P.P. .
38
Trata-se de uma nulidade sanável, dependente, portanto, de arguição - v. artº 120º C.P.P..

32
33

 A notificação ao Arguido e do Assistente é feita pessoalmente ou por via


postal registada - v. artos 313º, nº2 e 113º, nº1, als. a) e b) C.P.P.39 .

 Do despacho que designe dia para a audiência, não há recurso - v. artos


313º, nº3 e 400º, nº1 al. e) C.P.P. .

 O despacho será comunicado, por cópia, aos restantes juizes que fazem
parte do Tribunal - v. artº 314º C.P.P.

__________//__________

 Uma vez notificado, o arguido pode, no prazo de 20 dias (a contar da data


da notificação, bem entendido), apresentar a sua contestação,
acompanhada do rol de testemunhas e dos peritos e consultores
técnicos - v. artº 315º C.P.P.

 A contestação não está sujeita a formalidades especiais - v. artº 315º, nº2


C.P.P.

 Ao contrário do que acontece no pedido de indemnização civil, aqui, não


há limite de testemunhas (excepto quanto a factos relativos à
personalidade e ao carácter do Arguido, bem como às suas condições
pessoais e à sua conduta anterior, pois nesse caso o número de
testemunhas não poderá ser superior a 5 - v. art os283º, nº3, al. d) e
128º, nº2 C.P.P.).

 O rol de testemunhas pode ser alterado ou adicionado, desde que a


alteração ou adicionamento possam ser comunicados a quem não o
requereu até 3 dias antes da data da audiência - v. artº 316º, nº 1 C.P.P.

 Depois de apresentado o rol de testemunhas, só se poderão oferecer


testemunhas de fora da Comarca se quem as oferecer se prontificar a
apresentá-las na audiência, o mesmo sucedendo em relação à indicação
de peritos e consultores técnicos - v. artº 316º, nºs 2 e 3 C.P.P.

 As testemunhas, os peritos e os consultores técnicos são notificados para


comparecerem, salvo se quem os indicou se tiver comprometido
apresentá-los - v. artº 317º, nº1 C.P.P.

 Se residirem fora do Círculo Judicial, podem ser ouvidas por deprecada,


nos seguintes casos - v. artº 318º C.P.P. :

a) não haver razões para crer que a sua presença na audiência


seja essencial à descoberta da verdade;

39
Se não for possível notificar o Arguido sujeito a TIR do despacho que designa dia para a
audiência, o Arguido é notificado por editais, com a cominação de que será julgado na
ausência caso não esteja presente. Os editais contêm as indicações tendentes à
identificação do Arguido, do crime que lhe é imputado e das disposições legais que o punem
e a comunicação de que, não se apresentando no prazo assinado, será declarado contumaz
- v. artos 334º, nº3 e 335º, nº2 .

33
34

b) forem previsíveis graves dificuldades ou inconvenientes,


funcionais ou pessoais, na sua deslocação.

 Quem requerer a tomada de declarações informa, no mesmo acto, quais


os factos ou as circunstâncias sobre que aquelas devem versar - v. artº
318º, nº3.

 A tomada de declarações por deprecada processa-se com observância


das formalidades estabelecidas para a audiência - v. artº 318º, nº4
C.P.P.

 Sempre que seja tecnicamente possível ,através do recurso a meios de


telecomunicação, a tomada de declarações é feita em simultâneo com
a audiência de Julgamento, em tempo real. Neste caso, são aplicáveis
as disposições relativas à tomada de declarações em audiência de
julgamento. Contudo, alguns poderes de disciplina e direcção da
audiência permanecem da competência do Juiz do Tribunal deprecado 40 -
v. artº 318º, nos 5 e 6 e C.P.P. .

 Na falta dos recursos técnicos supra referidos, conteúdo das declarações


é reduzido a auto, integralmente ou por súmula, tendo em conta os
meios disponíveis de registo e transcrição, nos termos do artº 101º - v.
artº 318º, nº5 C.P.P.

 Se houver fundadas razões para crer que o assistente, uma parte civil,
uma testemunha, um perito ou um consultor técnico se encontre
impossibilitado de comparecer na audiência, podem ser-lhe tomadas as
suas declarações no domicílio, com observância das formalidades
estabelecidas para a audiência e redução a auto - v. artº 319º C.P.P.

 O tribunal também pode proceder à realização de actos urgentes, ou cuja


demora possa acarretar perigo para a realização ou conservação da
prova, ou para a descoberta da verdade, podendo, nomeadamente,
proceder à tomada de declarações para memória futura - v. artºs 320º ;
294º e 271º C.P.P.

- A Audiência :

 A Audiência encontra-se regulada nos artºs 321º a 365º C.P.P.

 A Audiência tem carácter público, podendo a ela assistir qualquer


pessoa, salvo se o Presidente, oficiosamente ou a requerimento do M.P.

40
A saber: ordenar, pelos meios adequados, a comparência de quaisquer pessoas - v. artº
323º, nº1, al. b) “primeira parte” ; receber os juramentos e os compromissos - v. artº 323º,
nº1, al. d); tomar todas as medidas preventivas, disciplinares e coativas, legalmente
admissíveis, que se mostrarem necessárias ou adequadas a fazer cessar os actos de
perturbação da audiência e a garantir a segurança de todos os participantes processuais - v.
artº 323º, nº1, al. e); advertir o arguido de que lhe retira a palavra, se, no decurso das suas
declarações, este persistir em reportar-se a matéria irrelevante para a boa decisão da
causa, afastando-se do objecto do processo - v. artº 343º, nº3.

34
35

ou de das partes ( ou de uma delas) , decidir pela exclusão ou restrição


da publicidade - v. artº 321º C.P.P.

 A disciplina da audiência e a direcção dos trabalhos são da competência


do Presidente - v. artºs 322º e 323º C.P.P.

 Nenhum Juiz pode intervir no julgamento do processo a cujo o debate


instrutório haja presidido ou em que, no Inquérito ou na Instrução, tiver
aplicado e posteriormente mantido a prisão preventiva do Arguido - v. artº
40º C.P.P.

 As pessoas que intervenham na audiência ou a ela assistam devem


comportar-se de modo a não prejudicar a ordem e a regularidade dos
trabalhos - v. artºs 324º a 326º C.P.P.

 A Audiência é contínua, prevendo a lei a possibilidade de da sua


interrupção por um período não superior a 8 dias e o seu adiamento por
um período não superior a 30 dias - v. artº 328º C.P.P. .

 O adiamento só será admissível, sem prejuízo dos casos expressamente


previstos no C.P.P. , quando - v. artº 328º, nº3 C.P.P:

a) faltar ou ficar impossibilitada de participar pessoa cuja


presença seja indispensável e que não possa ser de imediato
substituída;
b) for absolutamente necessário proceder à produção de qualquer
meio de prova superveniente e indisponível no momento em que
a audiência estiver a decorrer;
c) Surgir qualquer questão prejudicial, prévia ou incidental,
essencial para a boa decisão da causa e que torne altamente
inconveniente a continuação da Audiência.
d) For necessário proceder à elaboração de relatório social ou de
informação dos serviços de reinserção social, nos termos do artº
370º, nº1.

 Ainda que nos casos em que é admitido, o adiamento só deverá ter lugar
se a simples interrupção não for suficiente para remover o obstáculo - v.
artº 328º, nº3 C.P.P.

 Se a Audiência for adiada por um período superior a 30 dias, a produção


de prova já realizada perde a sua eficácia -v. artº 328º, nº6 C.P.P.

- Actos Introdutórios :

 À hora designada para a Audiência, o funcionário de justiça, após


identificar o processo, procede à chamada das pessoas que nele devam
intervir - v. artº 329º, nº1 C.P.P.

 Se faltar alguma das pessoas, o funcionário fará nova chamada


( passados 10 a 15 minutos ), após o que comunica verbalmente ao
Presidente o rol dos presentes e dos faltosos - v. artº 329º, nº2 C.P.P.

35
36

 Seguidamente, o Presidente declara aberta a Audiência - v. artº 329º, nº3


C.P.P.

 Se houver faltosos, em princípio, a Audiência será adiada. (v. quadro da


página seguinte).

36
37

Testemunha de O assistente (havendo-o), O defensor e o


QUEM O M.P. O arguido ou arguidos (ou um deles, no caso de acusação ou de defesa. os peritos, as partes civis ( representante do assistente
FALTA - v. artº 330º C.P.P. serem vários ) v. artº 331º C.P.P. havendo-as) ou os ou das partes civis.
-v. artºs 332º a 337º C.P.P. consultores técnicos. - v. artº 330º C.P.P.
- v. artº 331º C.P.P.
 Defensor- não dá lugar a qualquer
 Não dá origem ao  Em princípio, a comparência pessoal do arguido é obrigatória,  Em princípio, não dá lugar ao  Em princípio, não dá lugar ao adiamento. Este é substituído por
adiamento da excepto nos casos em que a lei prescindir a sua presença, a saber: adiamento da Audiência, adiamento da Audiência, pessoa idónea, nos termos do artº 330º,
Audiência. - artº 334º, nº1 C.P.P. excepto se o Presidente, a excepto se o Presidente, a nº1 C.P.P. ( na prática, nomeiam-se
 O Presidente - artº 334º, nº2 C.P.P. requerimento ou requerimento ou oficiosamente, advogados estagiários).
procede à - artº 335º, nºs5 e 6 C.P.P. oficiosamente, decidir que a decidir que a sua presença é  Representante do assistente - não dá
substituição do  Nestes casos, o arguido é representado para todos os efeitos, pelo sua presença é indispensável para a boa lugar a qualquer adiamento. A Audiência
M.P. pelo seu seu defensor. indispensável para a boa decisão da causa e a sua prossegue e aquele será admitido a
substituto legal.  Se o arguido regularmente notificado faltar e não for possível a sua decisão da causa e a sua presença não puder ser intervir logo que compareça. Mas se o
presença não puder ser garantida pela simples ilícito em causa depender de acusação
comparência imediata, a audiência é adiada para a 2ª data já fixada
garantida pela simples interrupção - v. artº 331º C.P.P. particular, a Audiência é adiada por
aquando do despacho referido no artº 313º C.P.P., cabendo ao
interrupção - v. artº 331º  Com base na sua falta, não uma só vez e a falta não justificada ou
Presidente tomar as medidas necessárias e legalmente admissíveis
C.P.P. ( na prática a falta de pode haver mais do que um a Segunda falta valem como
para garantir a sua presença - v. artº 331º, nº1 C.P.P..
qualquer testemunha dá adiamento - v. artº 331º, nº3 desistência da acusação, salvo se o
 Se o arguido sujeito a T.I.R. não estiver presente na nova data e não lugar ao adiamento, a menos C.P.P. arguido se opuser - v. artº 330º, nº2
sendo possível obter a sua comparência imediata, a audiência é de que a parte que a apresenta C.P.P.
CONSEQ. novo adiada e o Presidente notifica o Arguido da nova data, com a prescindir da mesma ).  Representante das partes civis - não
(PARA A cominação de que, voltando a faltar, a audiência se realiza na sua
ausência - v. 333º, nº2 C.P.P. .
dá lugar ao adiamento da Audiência,
prosseguindo esta, sendo aquele
AUDIÊNCIA)  Mas, se não for possível notificar o arguido nos termos do artº 333º, admitido a intervir logo que compareça -
nº2 C.P.P., então o Arguido é notificado por editais. Nesse caso, se a v. artº 330º, nº2 C.P.P.
audiência se realizar, será-o sempre em Tribunal Singular, ainda
que seja da competência do Tribunal Colectivo ou do Júri - v. artº
334º, nos 3 e 5 C.P.P..
 Se o arguido não sujeito a T.I.R. não estiver presente na nova data e
não for possível a notificação da nova data ou a detenção, procede-
se sua à notif. edital para que se apresente em juízo no prazo de 30
dias sob pena de ser declarado contumaz - v. artº 335º, nº1 - ou
seja: a contumácia já só se aplica ao Arguido não sujeito a T.I.R. .
 Em caso de conexão de processos, a declaração de contumácia
implica a separação daqueles em que tiver sido proferida - v. artºs
335º, nº4 e 30º, nº1, al. d) C.P.P.
- Não dá lugar a sanção,  arguido notificado :  Se não justificar a falta, até  Se não justificar a falta, até 5  Defensor - não é sancionada com
mas apenas a  Se não justificar a falta, até 5 dias depois de ter faltado, nos 5 dias depois de ter faltado, dias depois de ter faltado, nos multa nem carece de ser justificada - v.
comunicação ao termos do artº 117º C.P.P., é condenado a pagar uma soma entre 2 e nos Termos do artº 117º Termos do artº 117º C.P.P., é artº 1º D.L. 330/91, de 5 de Setembro -
superior hierárquico - v. 10 UCs. - v. artº 116º, nº1 C.P.P. C.P.P., é condenado a pagar condenado a pagar uma soma “ a falta de advogado a um acto
artº 116º, nº3 C.P.P.  Para além disso, o Tribunal pode, a requerimento ou oficiosamente, uma soma entre 2 e 10 UCs. entre 2 e 10 UCs. - v. artº 116º, judicial não carece de ser justificada
SANÇÃO ordenar a detenção do arguido faltoso para garantir a sua  - v. artº 116º, nº1 C.P.P. nº1 C.P.P. nem pode dar lugar à sua condenação
( PARA O comparência, nos termos dos artº 333º, nº2 e 116º, nº2 C.P.P., e  Para além disso, o Tribunal  Para além disso, o Tribunal em custas”. Porém, se o defensor for
condená-lo no pagamento das despesas ocasionadas pela não pode, a requerimento ou pode, a requerimento ou advogado ou advogado estagiário, a sua
FALTOSO) comparência ou ainda aplicar-lhe a medida de prisão preventiva, se oficiosamente, ordenar a oficiosamente, ordenar a falta será comunicada à Ordem dos
esta for legalmente admissível. detenção da testemunha detenção da testemunha Advogados - v. artº 116º, nº3 C.P.P.
 Se não for possível a sua detenção, o arguido é notificado por edital faltosa, para garantir a sua faltosa, para garantir a sua
para se apresentar em juízo num prazo até 30 dias, seguindo-se os comparência, nos termos comparência, nos termos dos
trâmites da contumácia. dos artº 331º e 116º, nº2 artº 331º e 116º, nº2 C.P.P., e
 arguido não notificado : C.P.P., e condená-lo no condená-lo no pagamento das
 v. regras da contumácia. pagamento das despesas despesas ocasionadas pela
ocasionadas pela não não comparência.
comparência

37
38

- A Produção da Prova :

 Aspectos Gerais :

 Antes de iniciar a produção da prova, o Tribunal conhece e


decide de nulidades e quaisquer outras questões prévias ou
incidentais, em relação às quais não tenha já havido
decisão, que possam obstar à apreciação do mérito da
causa - v. artº 338º C.P.P.
 De seguida, o Presidente ordenará a retirada da sala de
audiência as testemunhas, bem como de outras pessoas que
devam ser ouvidas e faz uma exposição sucinta sobre o
objecto do processo (na prática, reproduz o que consta no despacho
de acusação ou pronúncia).
 Seguidamente, o Presidente dá a palavra ao M.P., aos
advogados dos assistentes, do lesado, do responsável civil e
ao defensor, para que cada um indique, querendo,
sumariamente (em cerca de 10 minutos), os factos que se
propõem provar - v. artº 339º C.P.P. (na prática, a exposição
introdutória é pouco usada).

 O Tribunal pode ordenar, a requerimento ou oficiosamente, a produção


de todos os meios de prova cujo conhecimento se lhe afigure necessário
à descoberta da verdade e à boa decisão da causa - v. artº 340º C.P.P.
 O Tribunal pode indeferir os requerimentos de prova, por despacho,
quando41 :

 os meios de prova requeridos forem legalmente inadmissíveis;


 for notório que as provas requeridas são irrelevantes ou supérfluas;
 o meio de prova for inadequado, de obtenção impossível ou muito
duvidosa;
 o requerimento tiver uma finalidade meramente dilatória.

 Regra quanto à ordem de produção de prova - v. artº 341º C.P.P. :

a) Declarações do arguido;
b) Apresentação dos meios de prova indicados pelo M.P.,
assistente e lesado ;
c) Apresentação dos meios de prova indicados pelo arguido e
pelo responsável civil.

 Excepções à regra :

a) Realização de actos urgentes - v. artº 320º, nº1 C.P.P. ;

41
Nota : na prática, o Tribunal relega o conhecimento do requerimento de prova para depois
da audição da restante prova.

38
39

b) Alteração da ordem, no âmbito dos poderes de disciplina e


direcção do Presidente - v. artº 323º, al. a) C.P.P. ;
c) Alteração da ordem, a requerimento ou oficiosamente, de
modo a evitar a interrupção ou o adiamento da Audiência - v. artº
331º, nº4 C.P.P.

- Declarações do arguido :

 O Presidente começa por perguntar ao arguido o seu nome,


filiação, naturalidade, data de nascimento, estado civil, residência e
profissão e local de trabalho e, se assim o entender, pede-lhe um
documento oficial de identificação - v. artº 342º, nº1 C.P.P.
 O arguido é advertido de que a falta ou falsidade da resposta às
perguntas feitas é passível de procedimento criminal - v. artº 342º,
nº2 C.P.P.
 O arguido deve estar livre na sua pessoa (isto é, não pode estar
algemado ou amarrado) - v. artº 140º, nº1 C.P.P.
 O arguido não presta juramento em caso algum - v. artº 140º,
nº3 C.P.P.
 O arguido pode prestar declarações quando quiser e o seu silêncio
em nada o prejudica - v. artºs 343º, nº1 ; 61º C.P.P.
 Na Audiência de Julgamento, arguido não é obrigado a
responder sobre os seus antecedentes criminais - v., neste
sentido Ac. T.C. de 5/12/95 - que declarou inconstitucional, por
violação do artº 32º C.R.P. a antiga redacção do art 342º, nº2
C.P.P., que dispunha no sentido de o arguido ter de responder
acerca dos seus antecedentes criminais - e Ac. S.T.J. de 7/3/96 -
“... o conhecimento do passado criminal do arguido deve advir das
suas declarações sobre a matéria prestadas no inquérito ou na
instrução - artº 114º, nº3 C.P.P. - e do que constar do certificado do
seu registo criminal, mesmo que, eventualmente, desactualizado, e
sempre com prejuízo de uma rápida efectivação do cúmulo de
penas a que possa haver lugar “.

 O arguido poderá, então, tomar uma das seguintes atitudes :

1- Referir não querer prestar declarações - v. artos 343º, nº1


345º, nº1, “in fine” C.P.P.;
2- Negar pura e simplesmente os factos ;
3- Prestar declarações - v. artos 343º, nos 2 a 5 e 345º,
C.P.P.; ou
4- Confessar - v. artº 344º C.P.P. .

 Nos primeiro e segundo casos, a Audiência segue com a audição


da restante prova.
 Na terceira hipótese, o Tribunal ouve o arguido sem, contudo,
manifestar qualquer opinião ou comentário donde possa inferir-se
um juízo sobre a culpabilidade - v. artº 343º, nº5 C.P.P..
 Na quarta hipótese, ou seja, se o arguido confessar os factos, o
Presidente deve, sob pena de nulidade , perguntar-lhe se o faz de
livre vontade e fora de qualquer coacção, bem como se pretende

39
40

fazer uma confissão integral e sem reservas - v. artº 344º, nº1


C.P.P..
 A confissão integral e sem reservas implica:

 Renúncia à produção da prova relativa aos factos imputados


dando-se estes como provados (na prática, faz-se inscrever em
acta que o arguido confessou os factos que lhe são imputados
integralmente, sem reservas, de forma livre e sem coacção, dando-se,
assim como provados os factos constantes da acusação).
 Passagem, de imediato, às alegações orais e, se o arguido
não dever ser absolvido, à determinação da sanção
aplicada; e
 Redução do imposto de justiça a metade.

 Se, porém :

 houver co-arguidos e se não se verificar a confissão integral


e sem reservas de forma coerente entre eles ;
 o Tribunal suspeitar do carácter da livre confissão,
nomeadamente por dúvidas sobre a imputabilidade plena do
arguido ou da veracidade dos factos confessados; ou
 o crime imputado for punível com pena de prisão superior a 5
anos;

 Apesar da confissão integral e sem reservas, o Tribunal decidirá,


em sua livre vontade, se deve ter lugar e em que medida, e a que
factos confessados, a produção da prova - v. artº 334º, nº4 C.P.P.

- Declarações do assistente, das partes civis e do lesado :

 Em princípio, a seguir à audição do arguido, serão ouvidas as


testemunhas indicadas pelo M.P..
 Porém, o Tribunal pode, oficiosamente ou a solicitação do M.P., do
defensor, dos advogados das partes civis ou do assistente, ouvir o
assistente, o responsável civil ou o lesado - v. artºs 145º, nº1 ;
346º e 347º C.P.P..
 A estas poderão ser mostradas quaisquer pessoas, documentos ou
objectos relacionados com o tema da prova, bem como peças
anteriores do processo - v. artº 345º, nº3 C.P.P., ex vi artº 347º, nº2
..
 A sua audição não é precedida de juramento - v. artº 145º, nº4
C.P.P..
- Declarações das testemunhas :

 As testemunhas são ouvidas uma após outra, por quem foram


indicadas, salvo se, por motivo fundado, o Presidente dispuser de
outra maneira- v. artº 348º, nº1 C.P.P.
 O Presidente pergunta à testemunha pela sua identificação,
relações pessoais, familiares e profissionais com os participantes e
pelo seu interesse na causa - v. artº 348º, nº3 C.P.P.
 As testemunhas prestam juramento - v. artº 132º, nº2 C.P.P.

40
41

 De tudo isto se fará menção na acta ( na prática, se a testemunha se


identificar devidamente, disser qual a sua relação com os participantes, afirmar
que isso não a impede de responder com verdade e prestar juramento, lavra-se
na acta a fórmula “prestou juramento e aos costumes disse nada”. - v. artº
348º, nº4 C.P.P.
 A testemunha é inquirida, em primeiro lugar, pela parte que a
ofereceu - v. artº 348º, nº4 C.P.P.
 Findo o interrogatório, a testemunha é oferecida à parte contrária
para contra-interrogatório ( quando nos for oferecida uma testemunha, é
praxe dizer, antes de começarmos o contra-interrogatório “com a devida vénia “ )
- v. artº 348º, nº4 C.P.P.
 O contra-interrogatório é, pois, a inquirição de uma testemunha da
parte contrária. Se, durante o contra-interrogatório forem
suscitadas questões não levantadas na inquirição, a parte que a
tiver indicado pode reinquiri-la, seguindo-se um novo contra-
interrogatório, com o mesmo âmbito- v. artº 348º, nº4 C.P.P.
 Testemunhas menores de 16 anos - A sua inquirição é feita
apenas pelo Presidente. Os restantes juizes, os jurados, o M.P., o
defensor e os advogados do assistente e das partes civis, poderão
pedir ao Presidente que formule à testemunha perguntas adicionais
- v. artº 349º C.P.P.
 Os órgãos de polícia criminal que tiverem recebido declarações
cuja leitura não for permitida, não podem ser inquiridos como
testemunhas - v. artº 356º, nº7 C.P.P.
 Segredo profissional, segredo de Estado, imunidades e
prerrogativas podem ser motivos de escusa a respostas - v. artºs
135º ; 136º ; 137º e 139º C.P.P.
 As testemunhas só podem abandonar o local da audiência por
ordem ou com autorização do Presidente - v. artº 353º C.P.P.
 O Tribunal pode ordenar o afastamento do arguido da sala de
audiência, sempre que se lhe afigure que a presença do mesmo
iniba o depoente de dizer a verdade, ou no caso deste ser menor
de 16 anos, e houver razões para crer que a presença daquele o
possa prejudicar gravemente - v. artº 352º C.P.P.

- Declarações de peritos e de consultores técnicos :

 Estes, após prestarem compromisso - v. artº 156º C.P.P., prestam


declarações tomadas pelo Presidente.
 Os restantes juizes, os jurados, o M.P., o defensor e os advogados
do assistente e das partes civis, poderão sugerir pedidos de
esclarecimento ou perguntas úteis para a boa decisão da causa ( na
prática, essas perguntas são feitas directamente).
 Durante o depoimento, os peritos e consultores podem consultar
notas, documentos ou outros elementos, com autorização do
Presidente - v. artº 350º C.P.P.
 Os peritos e os consultores só poderão abandonar o local da
audiência por ordem ou com autorização do Presidente - v. artº
353º C.P.P.
 O Tribunal pode ordenar o afastamento do arguido da sala de
audiência, sempre que se lhe afigure que a sua presença possa

41
42

prejudicar gravemente a integridade física ou psíquica do perito ou


consultor depoente - v. artº 352º C.P.P

- Leitura das declarações prestadas nos autos, fora da audiência :

 O artº 355º C.P.P. estabelece o princípio de que não valem em


julgamento, nomeadamente para efeito da formação da convicção
do Tribunal, quaisquer provas que não tenham sido produzidas
ou examinadas em Audiência - Proibição de valoração de
provas.
 Mas há casos em que é possível a leitura de declarações já
prestadas ( nomeadamente, pelo arguido ) - v. artºs 356º e 357º
C.P.P.

- Factos novos que surjam no decurso da Audiência :

 O surgimento de factos novos em Audiência pode levar a uma de


duas situações :

ALTERAÇÃO SUBSTANCIAL DOS FACTOS ALTERAÇÃO NÃO SUBSTANCIAL DOS FACTOS


(DESCRITOS NA ACUSAÇÃO OU PRONÚNCIA, SE A (DESCRITOS NA ACUSAÇÃO OU PRONÚNCIA, SE A
HOUVER) HOUVER)

- Não pode ser tomada em conta para o efeito da - Se tiver relevo para a decisão da causa, o Presidente,
condenação no processo em curso. oficiosamente ou a requerimento, comunica a alteração ao
arguido e concede-lhe, se ele o requerer, o tempo
estritamente necessário para a preparação da defesa,
- Deverá ser comunicada ao M.P., valendo como denúncia, excepto se os factos que originaram essa alteração
para que este proceda pelos factos novos. derivarem dos alegados pela defesa - v. artº 358º C.P.P.

- Só não será assim se o M.P., o arguido e o assistente


estiverem de acordo com a continuação do Julgamento pelos
factos novos e se estes não determinarem a incompetência
do Tribunal.

- Neste caso, o arguido requer prazo para preparar a


defesa, que não será superior a 10 dias, adiando-se a
Audiência se for caso disso - v. artº 359º C.P.P.

- Registo da prova:

 Se a audiência for perante o Tribunal Singular, as declarações


oralmente prestadas são documentadas na acta sempre que, até
ao início das declarações do arguido, previstas no artº 343º
C.P.P., o M.P., o defensor ou o advogado do assistente
declararem que não prescindem da documentação - v. artº 364º
C.P.P.
 Quando a audiência se realizar na ausência do Arguido, nos termos
do artº 334º, nº3, as declarações prestadas oralmente são
sempre documentadas - v. artº 364º, nº3 C.P.P. .
 Nos termos do artº 363º C.P.P., o mesmo acontece quando a
audiência for perante um Tribunal Colegial. Se o Tribunal dispuser
dos meios previstos neste artigo, a reprodução será integral.

42
43

 Nos casos dos artºs 364º e 389º, nº4 C.P.P. é expressamente


imposta a documentação dos autos de Audiência.

- Alegações :

 Finda a prova, procede-se às alegações orais, pela seguinte ordem :

1- M.P. ;
2- Advogado do assistente;
3- Advogado da parte civil;
4- Defensor ( este é sempre o último a falar).

 As alegações não podem exceder, para cada um dos intervenientes, 1


hora - v. artº 360º, nº3 C.P.P.
 As réplicas, por seu turno, não podem exceder 20 minutos - v. artº 360º,
nº3 C.P.P.
 Esse tempo poderá ser excedido se assim for requerido ao Presidente,
com base na complexidade da causa - v. artº 360º, nº3 C.P.P.
 Findas as alegações, o arguido presta as suas últimas declarações - v.
artº 361º C.P.P.
 Depois das últimas declarações do arguido, o Tribunal designa dia para a
leitura da sentença.

- Decisão :

- Requisitos da sentença - v. artº 374º C.P.P. :

- Relatório :
 identificação do arguido;
 identificação do assistente e das partes civis;
 indicação do crime ou dos crimes imputados ao
arguido, segundo a acusação, ou pronúncia, se a tiver
havido;
 indicação sumária das conclusões contidas na
contestação, se tiver sido apresentada.

- Fundamentação :

 enumeração dos factos provados e não provados;


 exposição concisa, mas completa, dos motivos de
facto e de direito;
 indicação do exame crítico das provas que serviram
para formar a sua convicção.

- A sentença termina com :

 as disposições legais aplicáveis;


 decisão ( condenatória ou absolutória) ;
 destino a dar às coisas ou objectos relacionados com
o crime;

43
44

 remessa do boletim ao registo criminal;


 assinaturas dos membros do Tribunal.

 Após a leitura da sentença, o Presidente pode dirigir uma breve alocução


ao arguido, exortando-o a corrigir-se - v. artº 375º, nº2 C.P.P.
 A sentença, ainda que absolutória, condena o arguido em
indemnização civil sempre que o pedido respectivo vier a revelar-se
fundado, podendo, no entanto, a determinação do respectivo montante
ser relegada para execução de sentença - v. artºs 377º e 82º C.P.P.

 A sentença é nula sempre que :

 falte algum dos requisitos obrigatórios ;


 condenar por factos diversos dos descritos na acusação ou na
pronúncia, se a tiver havido, excepto nos casos de alteração
substancial ou não substancial dos factos ( v. supra ).
 A sentença pode ser corrigida, oficiosamente ou a requerimento,
quando - v. artº 380º, C.P.P. :

 não estiver ferida de nulidade, ainda que lhe falte algum dos
requisitos do artº 374º C.P.P. ;
 se contiver erro, lapso, obscuridade ou ambiguidade cuja
eliminação não importe modificação essencial.

Processo Abreviado

 Âmbito de aplicação:

 Crime aplicável com pena de multa; ou


 Crime punível com pena de prisão não superior a 5 anos - v. artº
391º-A, nº1 C.P.P. ;
 Possibilidade de recurso à faculdade prevista no artº 16º, nº342
C.P.P., em caso de concurso de crimes, em caso de concurso de
crimes - v. artº 391º-A, nº2 C.P.P.;
 Crimes públicos, semi-públicos ou particulares;

42
Ou seja, serem julgados por Tribunal Singular processos por crimes cuja pena máxima,
abstractamente aplicável, seja superior a 5 anos de prisão, mesmo em caso de concurso de
infracções, quando o M.P., na acusação ou em requerimento, quando seja superveniente o
conhecimento do concurso, entender que a pena de prisão aplicável, no caso concreto, não
deva ser superior a 5 anos.

44
45

 Existam provas simples e evidentes de que resultam indícios


suficientes43 de se ter verificado o crime e de quem foi o seu
agente;
 Não tiverem decorrido mais de 90 dias desde a data em que o
crime foi cometido - v. artº 391º-A, nº1 - sendo certo que, no caso
de concurso de crimes, o prazo contar-se-á desde a data em que o
primeiro deles tiver sido cometido.

 Vê-se, pois, como, nesta forma processual, a lei estabelece particulares


exigências ao nível dos pressupostos, maxime no que se refere ao juízo
sobre a existência de prova evidente do crime e quanto à frescura da
prova.

- Tramitação processual:

 Face ao auto de notícia ou realizado inquérito sumário, o M.P. pode


deduzir acusação para julgamento em processo abreviado, desde que se
verifiquem os pressupostos supra referidos.
 Com o objectivo de simplificação, permite-se que o M.P. formule o
requerimento de acusação com remissão para o auto de notícia ou para a
denúncia, no que concerne a identificação do Arguido e à narração dos
factos.
 Se o procedimento depender de acusação particular, o requerimento
do M.P. tem lugar depois de deduzida a acusação pelo Assistente, nos
termos do artº 285º C.P.P. - v. artº 391º-B, nº2 C.P.P. .
 A acusação é comunicada ao Arguido, ao Assistente; ao denunciante com
a faculdade de se constituir Assistente e a quem tenha manifestado o
propósito de deduzir pedido de indemnização civil, nos termos do artº 75º
C.P.P. .
 Não obstante tratar-se de uma forma processual que se pretende
expedita, o legislador, em homenagem ao direito de defesa e ao princípio
de igualdade de armas, prevê a possibilidade da realização de debate
instrutório.

- Debate Instrutório:

 O debate instrutório só pode ser requerido pelo Arguido - v. artº 391º-C,


nº1 C.P.P. ;
 O Arguido deve requerer o debate instrutório no prazo de 10 dias a contar
da notificação da acusação- v. artº 391º-C, nº1 C.P.P. ;
 A finalidade do debate instrutório é, aqui, a mesma que no processo
comum - v. artº 298º C.P.P. - ou seja, a discussão oral e contraditória,
perante o Juiz de Instrução, sobre a existência de indícios de facto e
elementos de direito suficientes para justificar a submissão do arguido a
julgamento, o que parece ser contraditório com um dos requisitos
essenciais para esta forma de processo - que é precisamente a existência
de indícios evidentes da prática do crime...
43
Consideram-se suficientes os indícios sempre que deles resultar uma possibilidade
razoável de ao Arguido vir a ser aplicada, por força deles, em julgamento, uma pena ou
uma medida de segurança - v. artº 283º, nº2 C.P.P. .

45
46

 O requerimento não está sujeito a formalidades especiais, mas deve


conter, em súmula, as razões de facto e de direito, de discordância
relativamente à acusação, bem como, sempre que disso for caso, a
indicação dos actos de instrução que o requerente pretende que o Juiz
leve a cabo, dos meios de prova que não tenham sido considerados no
inquérito e dos factos que, através de uns e de outros, se espera provar.
 Não podem ser indicadas mais de 20 testemunhas - v. artº 287º, nº2, “ex
vi” do artº 391º-C, nº4 C.P.P. .
 O requerimento só pode ser rejeitado: por extemporâneo; por
incompetência do Juiz; ou por inadmissibilidade legal da instrução - v. artº
287º, nº3 “ex vi” artº 391º-C, nº4 C.P.P. .
 O despacho que designa a data para o debate instrutório é notificado ao
M.P., ao Arguido e ao Assistente, com pelo menos 5 dias antes de aquele
ter lugar - v. artº 297º, nº3 “ex vi” artº 391º-C, nº4 C.P.P. , bem como a
quaisquer testemunhas, peritos e consultores técnicos, com uma
antecedência de pelo menos 3 dias - v. artº 297º, nº4 “ex vi” artº 391º-C,
nº4 C.P.P..
 Em caso de conexão de processos, a designação da data para o debate
instrutório é ainda notificada aos Arguidos que não tenham o debate
instrutório - v. artº 297º, nº3 “ex vi” artº 391º-C, nº4 C.P.P..
 O Juiz deve encerrar o debate instrutório no prazo máximo de 30 dias a
contar do requerimento apresentado pelo Arguido - artº 391º-C, nº2 C.P.P.
.
 O debate só pode ser adiado por absoluta impossibilidade de ter lugar,
nomeadamente por grave e legítimo impedimento do Arguido estar
presente - v. artº 300º, nº1 “ex vi” artº 391º-C, nº4 C.P.P. .
 Em caso de adiamento, o Juiz designa nova data, a qual não pode
exceder em 10 dias a anteriormente fixada e tendo em preocupação os 30
dias da data limite.
 O debate só pode ser adiado uma vez. Se o arguido faltar na segunda
data marcada, é representado pelo defensor oficioso - v. artº 300º, nº4
“ex vi” artº 391º-C, nº4 C.P.P. .
 No decurso do debate instrutório, o Arguido pode requerer a prática dos
actos que entender necessários - artº 391º-C, nº4 C.P.P. .
 A direcção e disciplina do debate compete ao Juiz de Instrução - artº 301º,
nº1, “ex vi” artº 391º-C, nº4 C.P.P. .
 O debate instrutório é contínuo, decorrendo sem qualquer interrupção ou
adiamento até ao seu encerramento. São, contudo, admissíveis as
interrupções estritamente necessárias (intervalos). Se o debate não puder
ser concluído no dia em que tiver sido iniciado, é interrompido, para
continuar no dia útil imediatamente posterior - artº 328º, nos 2 e 3 “ex vi”
artº 304º, nº1 C.P.P. - v. artº 391º-C, nº4 C.P.P. .
 Do debate é lavrada acta, que é redigida por súmula em tudo o que se
referir a declarações orais, devendo ser assinada pelo Juiz e pelo
funcionário judicial que a tiver lavrado - v. artº 305º,nº2 “ex vi” artº 391º-
C, nº4 C.P.P. .
 Se dos actos de instrução ou do debate resultar alteração dos factos
descritos na acusação (do M.P. ou do Assistente), o Juiz, oficiosamente ou
a requerimento, comunica a alteração ao Defensor, interroga o Arguido
sobre ela sempre que possível e concede-lhe, a requerimento, um prazo
para preparação da defesa, não superior a 8 dias, com consequente
adiamento do debate, se necessário - v. artº 303º, nº1 “ex vi” artº 391º-C,

46
47

nº4 C.P.P. , salvo se da alteração resultar incompetência do Juiz de


Instrução - v. artº 303º, nº3 “ex vi” artº 391º-C, nº4 C.P.P.
 Se do debate resultar uma alteração substancial dos factos constantes da
acusação, o M.P. abre obrigatoriamente inquérito quanto a eles - v. artº
303º, nº3 “ex vi” artº 391º-C, nº4 C.P.P.
 Se até ao encerramento do debate forem recolhidos indícios suficientes
para a aplicação de uma pena ou medida de segurança ao Arguido, o Juiz
profere despacho de pronúncia; caso contrário, profere despacho de não
pronúncia - v. artº 308º, nº1 “ex vi” artº 391º-C, nº4 C.P.P.
 O despacho de pronúncia pode ser efectuado por remissão para a
acusação - v. artº 391º, nº3 C.P.P. .

 A decisão instrutória que pronunciar o Arguido pelos factos constantes da


acusação do M.P. é irrecorrível e determina a remessa imediata dos
autos para o Tribunal de Julgamento - v. artº 310º, nº1, “ex vi” artº 391º-
C, nº4 C.P.P. .

 É recorrível a decisão que indeferir a arguição de nulidade derivada de


pronúncia por factos que constituam alteração substancial dos descritos
na acusação do M.P. ou Assistente - v. artº 309º e artº 310º, nº2 “ex vi”
artº 391º-C, nº4 C.P.P. .

- Saneamento do processo:

PROCESSO REMETIDO PROCESSO REMETIDO


SEM INSTRUÇÃO. COM INSTRUÇÃO.

 O Juiz de Julgamento pronuncia-se sobre as  O Juiz limita-se a proferir despacho irrecorrível


nulidades e questões prévias ou incidentais sobre nulidades e outras questões prévias ou
susceptíveis de obstar à apreciação do mérito incidentais que obstem à apreciação do mérito
da causa, de que possa conhecer, através do da causa e designa dia para a audiência de
despacho de saneamento - v. art 311º C.P.P. Julgamento - v. artº 311º, nº1 “ex vi” artº 391º-
D, nº1 e nº2.

 O despacho do Juiz pode ir no sentido de :

a) rejeitar a acusação, se a considerar


manifestamente infundada - v. artº 311º,
nº2, al. a) C.P.P.;
b) não aceitar a acusação do Assistente
ou do M.P., na parte em que represente
uma alteração substancial dos factos,
nos termos dos artos 284º, nº1 e 285º,
nº3 C.P.P. - v. artº 311º, nº2, al. b)
C.P.P.;
c) designar dia para a audiência de
julgamento - v. artº 312º, nº1 C.P.P.

47
48

- Julgamento:

 O Julgamento regula-se pelas regras do processo comum, com as


alterações previstas no artº 391º-E (v. nº1).
 No início da audiência, o Tribunal avisa, sob pena de nulidade, quem tiver
legitimidade para recorrer, da faculdade de requerer a documentação
dos actos da audiência - v. artº 391º-E, nº2 C.P.P. . (no processo comum
a regra é a inversa - v. artº 364º C.P.P. ).
 Os tempos para alegações e réplicas passam, respectivamente, para 30
m. e 10 m. - v. artº 391º-E, nº3 C.P.P. .
 A sentença pode ser proferida verbalmente e ditada para a acta - v. artº
391º-E, nº4 C.P.P. .

48

Você também pode gostar