A noção de liberdade que será agora tida em conta corresponde ao
livre-arbítrio: a possibilidade de escolha e de autodeterminação, um ato voluntário, autónomo e independente. O livre-arbítrio só pode, então, ser associado a um agente racional, livre e responsável. Mas teremos nós livre-arbítrio? A liberdade de que dispomos não é absoluta, mas sim situada e condicionada por forças externas e internas. Essas condicionantes, as condicionantes da ação humana, são o conjunto de constrangimentos e obstáculos que impõe limites à nossa ação mas que, ao mesmo tempo, nos abrem de igual modo um horizonte de possibilidades. - Condicionantes físico-biológicas: todas as nossas ações estão dependentes da nossa constituição morfológica e fisiológica - Condicionantes psicológicas: as nossas ações também estão dependentes da nossa personalidade, temperamento e até do nosso estado psicológico do momento - Condicionantes histórico-culturais: ainda os fatores de caráter histórico, cultural, religioso, social, económico, científico e tecnológico, que nos influenciam e à nossa personalidade, constituem uma condicionante à nossa forma de agir
Ainda assim, podemos concluir que a existência de condicionantes não
implica a inexistência de livre-arbítrio, pois ao dizer que algo condiciona a liberdade, implica que esta exista. A discussão que se segue relaciona-se com a existência ou não de livre-arbítrio, sendo apresentadas duas posições incompatibilistas e uma compatibilista. Determinismo Radical Esta corrente filosófica defende que não existe livre-arbítrio. Aristóteles, o primeiro filósofo a defender esta corrente, baseou-se na lógica binária: ou é verdadeiro ou é falso; ou se faz ou não se faz. Assim, estamos determinados a uma de duas opções, não podemos mudar ou escolher o nosso futuro - fatalismo. De seguida, destaca-se Santo Agostinho. Este dizia que, sendo Deus omnisciente, já conhecia todas as nossas ações - logo, somos determinados. A Ciência Moderna é também uma defensora do determinismo, devido à relação causa-efeito. Se causas iguais têm efeitos iguais, se tudo tem uma causa e se sem causas não existem efeitos, estamos também presos a decisões que não são nossas: não temos liberdade de escolha porque não temos hipótese de escolha. Por fim, temos a filosofia de Bento Espinosa, exemplo de um sistema determinista. Este afirmava que, sendo o Homem um ser da Natureza, obedecia às suas Leis, estando as suas ações determinadas por ela. A Natureza não nos ouve nem segue o que dizemos, não temos qualquer hipótese de escolha sobre aquilo que ela nos impõe. Concluindo, o determinismo: - concebe o Universo como um sistema que obedece a leis causais invariáveis - defende que tudo está pré-estabelecido - diz que o passado controla o futuro e que não temos capacidade de controlar nem o passado, nem o presente, nem o futuro - assume o incompatibilismo entre a liberdade e o determinismo natural
As maiores críticas a esta corrente baseiam-se na experiência (de que
existem pequenas escolhas que fazemos diariamente que mostram que não somos completamente determinados), na responsabilidade (pois se não escolhemos as nossa ações, elas não são nossas, logo, não existe responsabilidade; a responsabilidade e o determinismo são incompatíveis) e o facto de o Universo não constituir um sistema determinista. Libertismo Esta corrente filosófica defende que existe livre-arbítrio. Jean-Paul Sartre, o maior defensor desta teoria, defendia que o homem é absolutamente livre, pois a existência precede a essência. É o homem que define o seu próprio caminho, que decide o que quer ser: o homem é aquilo que quer ser. Segundo Dostoiewski, se Deus não existisse, tudo era permitido. Estando o homem só, é responsável por tudo o que faz, tem responsabilidade. Ao ter responsabilidade, implica que tenha liberdade, logo, o homem é livre. O homem está condenado a ser livre: condenado porque não se criou nem escolheu viver, mas livre porque é responsável por tudo quanto fizer. O libertismo assenta então nas duas principais críticas feitas ao determinismo: - a experiência, que nos dita que somos livres porque fazemos escolhas conscientes - a responsabilidade, que implica liberdade
É importante ter em conta que o indeterminismo é diferente do
libertismo. No indeterminismo, defende-se a impossibilidade de defender fenómenos a partir de causas determinantes, inserindo noções de acaso e aleatoriedade. A crítica feita a esta corrente é a existência de condicionantes da liberdade humana, que constituem determinismos óbvios. Compatibilismo Esta corrente defende os conceitos essenciais do determinismo e do libertismo, tentando equilibrar as ideias centrais de ambas as correntes. Nesta perspetiva, aceita-se o determinismo no mundo natural, mas defende a existência de liberdade e responsabilidade na esfera humana. O determinismo moderado assenta na distinção entre ações livres e ações determinadas: - ações livres: são as que fazemos com vontade e sem que ninguém nos obrigue; podemos escolher fazê-las - ações deterministas: são as que somos obrigados a fazer; são determinadas por outrém
Podemos dizer que o corpo de um homem é determinado, por Leis da
Natureza, mas que a sua razão é livre. No entanto, se somos livres, as nossas ações dependem dos nossos desejos e da nossa própria personalidade, que não controlamos. Assim, nunca somos realmente livres.