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PSICOLOGIA
TÉCNICAS DE PESQUISA
PROF. MAYCON TORRES
Introdução
A constituição da psique está no topo das pesquisas psicológicas, por mais que
hajam vastas teorias sobre o constructo do aparelho psíquico é mais vasta ainda o
numero de dúvidas a respeito do mesmo. Tornando quase que como questão central da
qualidade de vida psicológica a capacidade de compreender a própria psique.
Dentre as amplas discussões sobre o tema, uma tem sido muito pertinente. A
influência do externo sobre o interno, ou seja, a influência das condições sociais, dos
contextos e dos acontecimentos da vida sobre a psique. É ainda mais vasta se nos
atrevermos a procurar entender a responsabilidade do externo no nascimento da
psicopatologia.
Com o intuito de trazer o debate de volta ao indivíduo e sua ação no mundo, como
fator operante na construção da psique através da dialética entre consciente, inconsciente
e realidade, o presente ensaio trás pensamentos do filósofo espanhol Ortega Y Gasset
em um paralelo com os conceitos teóricos de Jung, em uma busca pela amplitude de
possibilidades ao perceber o individuo como um agente na construção de sua psique, ao
mesmo tempo como um ser influenciado pela mesma.
A compreensão da construção da psique vai além de uma compreensão estrutural
do funcionamento da mente, mas sim mergulha em um universo de significados
profundos, que envolve desde a diferença da apresentação de circunstâncias quando o
fator é humano e não animal, a interação e diferenciação humana diante dessas
circunstâncias e o substrato dessa dialética que muitas vezes pode ser a possível causa
de um indivíduo psicologicamente saudável, ou não.
Desenvolvimento
O filósofo espanhol Ortega Y Gasset (1973) cunhou em suas obras a frase “eu sou
eu e minhas circunstâncias, se não salvo a elas não salvo a mim”. Esse frase cunha o
núcleo do pensamento Orteguiano e propões uma reflexão dessa relação inseparável
entre o eu e a circunstância. É possível encontrar nas definições desse termo profunda
possibilidade de uso na percepção clínica, começando essencialmente pelas suas
definições.
Circunstância para Ortega é para além dos fatos objetos que temos compreensão
é também os fatos existentes que assim como os fatores que sem apresentam no ser
desde sua existência, as circunstâncias já existem e se apresentam ao ser durante toda a
vida, desde o início dela. Para além daquilo que é apenas observado no presente, mas
também aquilo que está presente na memória e também aquilo que nem sabemos que lá
está.
Para fim didático podemos usar uma ilustração. Imagine um lápis, ao pega-lo
imediatamente você concebe a certeza que diante de ti tem um lápis, mas não consegue
ver todo o lápis, apenas parte dele. Você precisa girar o lápis, move-lo de um lado para
outro para que seus olhos percorram todo o corpo do lápis e assim pode vê-lo por
completo, mas mesmo dessa forma, não pode vê-lo todo de uma vez. Você vê apenas
parte do lápis por vez, as outras partes estão presentes na sua mente pela memória.
Assim também são nossas circunstâncias, mesmo que possamos nomea-las parte
delas apenas podem ser vistas por vez, o resto é existente essencialmente na psique, na
memória e em fatores inconscientes. Logo, o que diferencia a circunstância humana da
circunstância animal é que ao indivíduo é possível uma introspecção. Ato de ser capaz de
interiorizar-se e de dentro pra fora dar significado a eventos externos, que para os outros
animais apenas significam por si só.
Podemos para fins de conhecimento criar uma relação entre a filosofia orteguiana
sobre a relação eu-circunstâncias e a teoria junguiana do inconsciente. E a partir daí
conceber a pressuposição de que a relação circunstância/inconsciente e saúde psíquica
está completamente ligada a capacidade de compreensão dos significados dessa relação.
Ou seja, as coisas nos influenciam segundo a importância que tem, no sentido que
são determinadas pelos seus significados - assim a vida é uma interpretação de si mesma
e dos conteúdos presentes, nos aprisionando a liberdade que temos de decidir os
significados da circunstância.
Tornando imperativo uma meta posição, capaz de nos oferecer um olhar externo
das nossas circunstâncias, levando nosso pensamento ao refino de perspectivas,
detalhes e significados que anteriormente não perceberíamos. Com o fim de
prosseguirmos além de conseguir preservar e integrar a nossa relação com as
circunstâncias através da introspecção, mas de maneira nenhuma deixar de refletir o
presente. Que assim como a ilustração do lápis é um composto do momento real,
percebido apenas por parte, e o momento de memória ou construção imaginária, que nos
permite dar fundo a compreensão completa do lápis.
Considerações finais
Assim como grande parte da pesquisa psicológica o maior desafio nessa busca é o
fato de que a introspecção trás em si certa dificuldade em ser medida e acompanhada,
todavia, através de processos de implicação e indução, talvez seja possível rastrear as
habilidades desenvolvidas por aqueles indivíduos que usando o conceito Orteguiano,
foram capazes de salvar a sua circunstância, logo, salvaram a si.
Referências
MAGALHAES, Carlos Kildare; SILVA, Fernando Antônio da; CALDEIRA, Guilherme. A
circunstância em José Ortega y Gasset: aproximações ao inconsciente junguiano. Psicol.
USP, São Paulo , v. 29, n. 1, p. 58-66, Jan. 2018.