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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO


CENTRO DE TECNOLOGIA- CT

IMPÉRIO BIZANTINO
HISTÓRIA, ARTE E ARQUITETURA

ALICE DE OLIVEIRA MENDES


ANA CATARINA GOMES DE LIMA
LUAN VIEIRA CRUZ

JOÃO PESSOA - PB
2019
ANA CATARINA GOMES DE LIMA
ALICE DE OLIVEIRA MENDES
LUAN VIERA CRUZ

IMPÉRIO BIZANTINO
HISTÓRIA, ARTE E ARQUITETURA

Trabalho sobre História e Arquitetura do Império


Bizantino apresentado à disciplina de
HISTÓRIA DA ARQUITETURA E
URBANISMO I, ministrada pelo professor Ivan
Cavalcanti Filho , como requisito para obtenção
da nota parcial da 1º unidade da referida
disciplina.

JOÃO PESSOA- PB
2019

Sumário

1. Introdução ............................................................................................................................. 1
2. Contexto Histórico ................................................................................................................ 1
2.1 Cisão do Império ............................................................................................................... 4
2.2 A Era do Ouro ................................................................................................................... 5
2.3 Declínio do Império Bizantino ......................................................................................... 6
3. Arte Cristã Primitiva............................................................................................................ 8
3.1. Pintura .............................................................................................................................. 8
3.2. Mosaicos .......................................................................................................................... 9
3.3 Esculturas ........................................................................................................................ 10
4 Arte bizantina ...................................................................................................................... 10
4.1 Mosaicos ......................................................................................................................... 11
4.2 Pintura e esculturas ......................................................................................................... 11
5 Arquitetura Paleocristã e Bizantina .................................................................................. 12
5.1. Basílicas ..................................................................................................................... 14
5.2 Mausoléu ..................................................................................................................... 24
5.3 Palácio ............................................................................................................................. 26
5.4 Muralhas, e fortalezas ..................................................................................................... 27
6 Destrinchando a basílica de Santa Sofia ............................................................................ 28
7 Conclusão ............................................................................................................................. 33
Referências .............................................................................................................................. 34
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1. Introdução

O objeto de estudo deste trabalho é a Arquitetura Bizantina, que teve seu início com a
formação e consolidação do Império Bizantino por Constantino quando este resolveu mudar a
capital de Roma no Ocidente para Bizâncio no Oriente. Dessa mudança surgiu a cidade de
Constantinopla, que devido a esse deslocamento territorial do povo romano para o oriente a
arquitetura acabou por absorver características de todas as culturas que ali se implantaram. Este
trabalho tem como objetivo estudar, analisar e compreender o estilo arquitetônico proposto,
suas tipologias construtivas, e suas características estruturais e plásticas.
Assim, por meio desses estudos é possível notar a importância para formação acadêmica
de arquitetos ou até mesmo para formação de um cidadão entender o processo de evolução da
sociedade, perceber o quanto a arquitetura está presente no dia a dia e o quanto ela é importante
independentemente do período histórico. Em Bizâncio as construções refletiam o povo e a
cultura do local, suas muralhas são um exemplo, pois como a cidade se encontrava em constante
ritmo de guerra construir formas de proteção eram sempre necessárias. A arquitetura bizantina
foi o primórdio que serviu de modelo para outros estilos arquitetônicos como gótico e românico
e mostra sua importância até os dias atuais.
Para a realização desse trabalho foram utilizados diversos meios, porém com os livros,
artigos e documentários sendo os principais alicerces de pesquisa, ademais houveram
orientações com a Mestranda Jessica que nos guiou no desenvolvimento do texto.

2. Contexto Histórico

O contexto que abarca o início do império bizantino se dá através do cristianismo primitivo.


O cristianismo surgiu como uma reforma do judaísmo e estes possuíam Jesus Cristo como o
Messias. Mesmo após 3 séculos da morte de Jesus o cristianismo continuou a se desenvolver
como religião, assim formando sua própria liturgia e hierarquia. Durante a dinastia do império
romano o cristianismo foi imensamente perseguido e inúmeros cristãos foram caçados e mortos
pelos romanos por não reconhecerem e adorarem os seus ídolos pagãos.
Em virtude dessa perseguição da fé os cristãos começaram a se reunir em catacumbas e em
cômodos domésticos comuns- os triclinium- para celebrar a missa, rezar e realizar seus rituais
litúrgicos, sendo o principal rito a comunhão eucarística (era um ato de repartir e comer do pão
e do vinho, símbolo de cristo). Enquanto o tempo passava mais o cristianismo se espalhava com
o seu número de seguidores aumentando. Com esse desenvolvimento os romanos começaram
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a ter dificuldades em conter a população e em junção a isso o império começou a enfrentar


crises políticas e territoriais que forçaram Constantino a migrar da capital de Roma para
Bizâncio. (FAZIO, 2011).
Bizâncio foi inicialmente uma colônia grega fundada em meados do século VII a. c. na qual
um grupo de famílias originárias de Mégara, situado ao Oeste de Atenas, liderado por um
homem de nome Bizas ou Bizante, se estabeleceu na margem poente do estreito do Bósforo,
dando origem a uma nova cidade, que acabou por se chamar Bizâncio em homenagem ao seu
fundador.
A história do império Bizantino começa quando o imperador Constantino, em 330 d. C.
transfere a capital romana para Bizâncio transformando-a em sua nova capital na qual ele
denominou de Nova Roma que depois passou a ser Constantinopla que significava “Cidade de
Constantino” ,um império que existiu por quase mil anos, até o momento em que o império do
oriente foi derrotado pelos turcos otomanos e se tornou o que hoje conhecemos como a cidade
de Istambul, capital da Turquia (MONTEIRO, 2016).

Imagem 01: Localização De Constantinopla (Bizâncio)

Fonte: BOLTSHAUSER, 1968

Constantino decidiu utilizar bizâncio como território para sua capital em virtude das várias
condições de ordem estratégica, econômica e política favoráveis. A escolha referente a
localização estratégica se justifica pela posição geográfica da renomeada Constantinopla,
ligando o Ocidente e o Oriente, no estreito de Bósforo (Mar de Mármara, Corno de Ouro)
proporcionava uma defesa natural à cidade. Além disso, possuía grandes rotas comerciais
terrestres e marítimas que favoreciam as trocas e a interação mercantil entre várias regiões
fazendo de Constantinopla uma capital com economia bastante rica, sendo algumas das rotas
comerciais o norte-sul, da Rússia ao Mediterrâneo, dessa rota saindo dos portos da Rússia
meridional e do Danúbio, e atravessando o Mar Negro, os navios transportavam trigo, peles,
sal, mel, ouro, cera, escravos e se tratando das rotas terrestres de Constantinopla, elas ligavam
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a Ásia à Europa Oriental transportando produtos como marfim, âmbar, porcelana, pedras
preciosas, sedas, canela, açúcar, gengibre outras especiarias e medicamentos passavam em
Constantinopla advindos da Índia, Ceilão e China. Na perspectiva estratégica militar, a região
de Constantinopla era uma área geograficamente bem estruturada que assegurava uma
facilidade para proteger as províncias romanas do Egito, a Terra Santa, Síria e os Balcãs de
poderosos inimigos do império. Na imagem 01 abaixo mostra a localização geográfica de
Bizâncio (MONTEIRO, 2016).
Com a proclamação de tolerância religiosa ,feita por Constantino ,no Édito de Milão,
em 313, os cristãos tiveram liberdade para construir suas edificações e realizar suas cerimonias
em público. Essa mudança foi feita por Constantino após a Batalha da Ponte Mílvia, em 312,
onde ele derrotou seu inimigo, Maxêncio, depois de uma visão da Cruz de Cristo no céu, ele
acreditava que Deus o levou à vitória. Em 313, reconhecendo a assistência divina que tinha
recebido, fez do cristianismo uma religião legal no Império Romano. A partir do momento que
a igreja católica a ser o poder supremo no reino, todo seu envolvimento com a arte teve que
mudar, pois com princípios e funções diferentes os antigos templos não podiam ser utilizados
para a realização das missas e eventos religiosos, desse modo surgiram os basílicas. Já na
dinastia de Teodósio I, resolveu-se de início seguir pela linha do catolicismo ortodoxo, após
uma batalha que Teodósio vencera ,Ambrósio, Bispo de Milão, recusou a dar a comunhão ao
imperador alegando que ele devia expiar de todo o sangue em suas mãos, esse gesto foi uma
demonstração do poder e autoridade da igreja na qual até o imperador não estava impune
(ANGOLD,2002). Com isso ficou evidente,“A relação entre autoridade imperial e espiritual ia
ser sempre intratável.” (ANGOLD,2002, pg.24).
Essa estreita relação entre o imperador e a igreja só aumentava e assim ia se
consolidando Constantinopla. A vida da cidade concentrava-se em torno de três grandes obras
arquitetônicas: o Hipódromo, o Sagrado Palácio Imperial e a Igreja de Santa Sofia que
representavam os três componentes do mundo bizantino, o povo e a religião, a disposição
geográfica dos três locais está sendo mostrada na imagem 02. Na igreja o imperador e o
patriarca exerciam funções mútuas, no hipódromo o imperador se reunia ao povo para celebrar
conquistas, o palácio imperial de Constantinopla recebeu marca religiosa especial sobre o
domínio de Teodósio II. “Os cidadãos de Constantinopla orgulhavam-se da magnificência do
palácio imperial, que era um sinal do favor divino. Isto se achava no âmago da identificação
entre o império e a capital que era um aspecto tão importante da ideologia bizantina.”
(ANGOLD,2002, pg.26).
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Imagem 02: Cidade de Constantinopla

Fonte: ANGOLD, 2002

2.1 Cisão do Império

A criação de Constantinopla como capital do império do Oriente e seu grande


desenvolvimento causaram um desequilíbrio entre as duas partes do império romano, o Oriente
passou a ter todas as atenções e poder deixando a parte do Ocidente fraca e susceptível a ataques
bárbaros.
Por volta do século IV, ano 335, após a morte de Teodósio I o império romano foi
dividido por seus filhos em duas partes: Império do Ocidente, com sede em Roma e liderado
por seu filho Honório, e Império do Oriente, com Constantinopla como capital liderado por seu
filho Arcádio. A divisão entre os dois impérios era mais do que uma separação geográfica entre
o Leste e o Oeste do império romano, foi uma separação entre as regiões Gregas ,ao Leste, e as
Latinas, no Oeste, onde cada dessas culturas era mais influente, embora o latim fosse o idioma
oficial do império romano ele não era homogêneo, ao contrário de muitas regiões do império
a língua cotidiana era o grego. Na imagem 03 a seguir apresenta a divisão geográfica do império
(MONTEIRO, 2016).
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Imagem 03: Delimitação do Império Bizantino em Leste e Oeste

Fonte: <https://filosofandoehistoriando.blogspot.com>

No âmbito religioso havia uma divisão ainda mais forte, na parte Oeste a principal
instituição cristã era a igreja católica baseada em Roma, que utiliza o latim como idioma, já no
leste o domínio era da igreja ortodoxa ,ela conta com 14 jurisdições cada uma com um patriarca
diferente, o patriarca de Constantinopla até hoje é considerado o principal líder religioso
ortodoxo. Por questões teológicas e politicas incluindo disputa de igrejas latinas em territórios
gregos ocorreu o chamado Grande Cisma, em 1054, quando ambas as igrejas Ortodoxa e
Católica excomungaram a outra, essa cisma dura até hoje e é um grande divisor entre as culturas
da Europa ocidental e da Europa oriental.

2.2 A Era do Ouro

O imperador Justiniano I foi o maior e mais importante líder do império Bizantino, (527-
565), foi durante o seu reinado que o império bizantino teve sua máxima extensão
reconquistando inclusive a cidade de Roma, foi sob o comando do general Belisário que o
exército de Justiniano conquistou o Reino dos Vândalos. Sua mulher, Teodora, exerceu decisiva
influência sobre a administração do Império, determinando muitas decisões tomadas por
Justiniano. Durante seu governo Justiniano tentou organizar leis do império sendo que o maior
legado desse período foi o Corpus Juris Civili, base, ainda hoje, da maioria dos códigos
legislativos do mundo, sendo também complementada pelo Digesto, um pequeno livro de
jurisprudência, e pelas Institutas, um manual de Direito, mesmo tendo o código romano antigo
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como base Justiniano remodelou pessoalmente a lei para firmar uma monarquia cristã
(ANGOLD,2002) (MONTEIRO, 2016).
No início do império de Justiniano haviam poucas obras arquitetônicas religiosas de pé,
nesse sentido, o imperador possuía o intuito de construir mais obras ,porém ,em 532,
começaram a ocorrer revoltas pela cidade, a chamada revolta de Nika, causadas por um
ambiente de fortes tensões sociais e religiosas, exacerbado por um crescimento demográfico
explosivo, por grandes dificuldades económicas e pelo aumento da pressão fiscal, o povo da
capital, a partir das fações do Hipódromo, revoltou-se violentamente e durante dez dias
provocou saques e incêndios terríveis na cidade (na qual a Igreja de Santa Sofia sua área norte
e até a igreja de Santa Irene foram queimadas) a situação estava se agravando o que levou
Justiniano, incitado por sua esposa Teodora, a ordenar que Belisário fosse com os guardas até
o hipódromo e massacrasse todos que lá estavam, cerca de 30 mil pessoas, mandou matar
também seus adversários políticos que tinham tomado proveito da situação e se viraram contra
ele. Em decorrência desses acasos Justiniano obteve controle total sobre a capital e começou a
construir. Ele ordenou também a construção da Basílica de Santa Sofia, com estilo arquitetônico
próprio, o qual convencionou-se chamar de estilo bizantino. A Basílica de São Vital de Ravenna
também foi concluída durante este reinado, em 547, assim como o Mosteiro de Santo
Apolinário. (ANGOLD,2002) (MONTEIRO, 2016).
Durante o primeiro período de seu reinado Justiniano obteve várias conquistas, seus
exércitos entraram vitoriosos em Cartago, Roma e Ravena, ele organizou conferências
teológicas em busca de propostas para resolver as divisões doutrinais dentro da Igreja.
“Articulou uma ideologia de império que abrangia ao mesmo tempo lei e teologia”
(ANGOLD,2002, pg.34), ele buscou a criação do império cristão ideal.

2.3 Declínio do Império Bizantino

Os últimos anos do reinado de Justiniano foram duros, Constantinopla foi alvo da peste
bubônica que teve consequências devastadoras a todos os níveis: quebra do comércio, colapso
das infraestruturas, alterações no padrão de povoamento, dificuldades de recrutamento militar.
Constantinopla ainda entrou em guerra com os povos godos que estavam se rebelando na Itália,
esses fatores mexeram com a economia e a demografia da cidade. Apesar de muitas dificuldades
durante seu reinado, Justiniano superou bem as adversidades postas em seu caminho se
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revelando ainda mais um bom imperador, porém já perto dos seus últimos dias ele já não
possuía mais nada a oferecer a cidade, sua morte ocorreu em 565 (ANGOLD,2002).
Após a morte de Justiniano surgiram novos inimigos ao longo da fronteira do Danúbio,
boa parte do território bizantino foi tomado, porém Constantinopla não pretendia abrir mão de
sua grandeza tão facilmente. Os territórios ocidentais foram distribuídos para governadores
militares que exerciam poder sobre aquelas terras fazendo com que Bizâncio se mantivesse por
mais tempo como uma ponte no ocidente. Os sucessores de Justiniano sofreram pressões
externas e internas, reveladas por disputas religiosas. Por sua posição estratégica
Constantinopla sofreu diversas tentativas de invasão e por isso tem algumas das maiores
fortificações já construídas (ANGOLD, 2002).
Durante o reinado de Justiniano II pairou sobre Constantinopla uma falsa sensação de
paz causada pela vitória do imperador sobre o islamismo, em 678. Bizâncio parecia não ter mais
esperanças no final do século VIII, em 715, diante de uma nova revolta o imperador daquele
tempo abandonou a cidade e saiu para se proteger na Tessalonica. Os mulçumanos conseguiram
cercar a cidade de Niceia, em 726, que ficava a 160km de Constantinopla. O império bizantino
passou também por um período Iconoclasta no qual o imperador Leão III (717 à 741), em 730,
foi o propulsor do movimento iconoclasta, afirmando que os indivíduos deviam adorar somente
Deus, desprezando assim as imagens. Além dele, seu filho Constantino V, em 754, propagou
a destruição de imagens no Império Bizantino, instigando a causa iconoclasta que acabou
durante o Concílio de Niceia II, no século IX (ANGOLD, 2002).
A guerra com os cruzados, entretanto, enfraqueceu o império bizantino que nunca
conseguiu se recuperar e retomar sua riqueza, o território progressivamente diminuía. Era no
leste, principalmente, desde o século VIII onde estavam os principais inimigos de bizâncio , os
califados mulçumanos, a falta de apoio dos reinos cristãos latinos possibilitou que após séculos
de guerra os exércitos do império otomano liderados pelo sultão Mehmet II conquistassem
Constantinopla, a cidade foi novamente saqueada por 3 dias, a maior parte da população foi
massacrada e ela tornou-se capital do império otomano. Esse conflito marca o fim do império
bizantino e o começo de uma nova era.
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3. Arte Cristã Primitiva


“Antes de Constantino, Roma ainda não era o centro oficial da fé; comunidades cristãs
maiores e mais antigas existiam nas grandes cidades do norte da África e do Oriente Próximo.”
(JASON, A., 1996, p. 88).
Dentre estas cidades, identifica-se Alexandria e Antióquia, que provavelmente tinham
suas próprias tradições artísticas. Na verdade, nosso conhecimento a respeito dessa arte é
escasso e quase nada é encontrado para se basear, além de descobertas nas paredes das
catacumbas e galerias subterrâneas onde os cristãos romanos enterravam seus mortos (JASON,
1996).
“Estritamente falando, "primitivo cristão" não define um estilo; refere-se, pelo contrário,
a qualquer obra de arte produzida pelos ou para os cristãos no período anterior à separação da
Igreja Ortodoxa - aproximadamente os primeiros cinco séculos de nossa era” (JASON, 1996,
p.89).
Conhecida também como arte paleocristã, a arte cristã primitiva mesmo com certa
carência de informações, foi possível identificar e analisar sua pintura, seus mosaicos,
manuscritos ilustrados e escultura.

3.1. Pintura
A pintura diz muito sobre suas comunidades, os rituais fúnebres e a proteção dos
túmulos era de suma importância para os primitivos cristãos, pois sua fé é baseada na esperança
uma
vida eterna no paraíso, para tanto as imagens das catacumbas remetem essa perspectiva,
como pode ser observado na imagem 00.
Entretanto o pintor das catacumbas se utilizou da tradicionalidade para transmitir o seu
Imagem 04 – Teto pintado, Catacumba de São Pedro e São Marceli, Roma.

Fonte: <https://khristianos.blogspot.com/>

simbolismo. A estrutura geométrica possui uma tarefa, o grande círculo sugere a cúpula do céu
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e o óculo ao centro ligado aos círculos das extremidades, formando uma cruz, principal símbolo
da fé. No medalhão central há um pastor com uma ovelha nos ombros e nos demais
compartimentos semicirculares, são exibidos episódios do milagre da lenda de Jonas presente
no Velho Testamento e um dos temas favoritos da arte cristã primitiva (JASON, A., 1996, p.89).
“Assim, identificamos as divisões em compartimentos como um eco tardio e
extremamente simplificado dos esquemas arquitetônicos ilusionistas das pinturas de Pompéia;
embora limitadas pelas mãos de um artista muito pouco hábil, as formas das figuras também
revelam sua descendência da mesma linguagem romana.” (JASON, A., 1996, p.89)
Muito comum também são as pinturas a fresco, feitas sobre a argamassa úmida, muito
presente nas basílicas, inclusive havia uma série de pinturas que carregavam significados
ocultos, principalmente nas lápides. BOLTSHASER, (1968).

3.2. Mosaicos

Os enormes mosaicos de parede das igrejas cristãs primitivas, realmente não tem
precedentes, seja por seu tamanho ou técnica utilizada, que por sinal já não se utilizavam mais
pedras, como foi mencionado por Jason (1986). Assim a tecelagem era feita por cubos de vidro
com cores brilhantes, que eram pobres quanto a gradação de tons. Pelo contrário, cada um dos
pedaços de vidros unidos geravam um efeito luminoso e fascinante aos olhos de quem via.
A utilização dos mosaicos não era apenas para a contemplação de sua beleza, pois como
eles ilustravam cenas do Velho e do Novo testamento, serviam como bíblias ilustradas para
quem não sabia ler. Na imagem (00000) abaixo, Abraão e seu clã (o grupo à esquerda) estão
prestes a ir por um lado, o caminho da retidão. Enquanto Lot e sua família, que começam a sair
pela direita, estão partindo para Sodoma, rumo à depravação e à ruína (JASON, 1996). Portanto
Imagem 05- A Partida de Lot e Abraão, Santa Maria Maggiore, Roma.

Fonte: <www.olharcristao.blogspot.com>
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o mosaicista cristão primitivo não sentia necessidade de fazer com que tal evento parecesse
real, pois tais cenas já eram historicamente conhecidas por seus fiéis, assim, as ilustrações
tinham tanto caráter simbólico quanto objetivo didático.

3.3 Esculturas

Em comparação a pintura e a arquitetura, a escultura teve um papel secundário no


período cristão primitivo. Pois considerava-se a proibição contida no Velho Testamento às
"imagens esculpidas" se aplicasse particularmente às grandes estátuas utilizadas nos cultos, os
ídolos adorados nos templos pagãos. Para evitar este estigma, a escultura religiosa teve que
seguir um caminho antimonumental. Para cumprir os requisitos, as esculturas contavam com
muito pouco relevo, formas em menor escala e uma decoração de superfícies semelhante à
renda, estas eram suas características (JASON, 1996).
Imagem 07- Sarcófago de Junius Bassus, Grutas do Vaticano, Roma.

Fonte: <www.semináriosmedieval2017.com>

“As primeiras obras esculpidas que podem ser chamadas de "cristãs" são os sarcófagos
construídos para os membros mais ricos da congregação, tendo seu início em meados do século
III.” (JASON, A., 1996, p.94)
Inicialmente, as obras possuíam um repertório tanto limitado, já o sarcófago de Junius Bassus
(imagem 07), mostra um repertório de temas muito mais diversificados, extraídos tanto do
Antigo quanto do Novo Testamentos e refletindo a nova e pública posição do cristianismo, que
agora era a religião oficial do estado.

4 Arte bizantina

O Império Bizantino, alcançou seu apogeu político e cultural durante o império de


Justiniano, que reinou de 527 a 565. E como destacou Proença (1998), a arte cristã produzida
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depois da oficialização do cristianismo, assume um caráter majestoso, que exprime poder e


riqueza, diferentemente da arte cristã primitiva, que era popular e simples. Porém o preço dessa
beleza era pago pelos artistas, censurados pelos sacerdotes. Já que, “A arte bizantina tinha um
objetivo: expressar a autoridade absoluta do imperador, considerado sagrado, representante de
Deus e com poderes temporais e espirituais”. (PROENÇA, 1998, p.49)

4.1 Mosaicos

“Aqui encontramos um novo ideal de beleza humana: figuras extraordinariamente altas


e esguias, com minúsculos pés, pequenos rostos em forma de amêndoa, dominados por grandes
olhos, e corpos que só parecem capazes de gestos cerimoniais, além da exibição de trajes
magníficos.” (JASON, A., 1996, p.99).
Na imagem 08, que foi feita durante o reinado de Justiniano, e é um retrato do próprio
imperador cercado por seus cortesãos é possível ver o uso do dourado nas imagens e como
pareciam aludir a uma corte celestial, em vez de secular. Abaixo, na imagem 09, está Teodora,
imperatriz e esposa de Justiniano. Mulher de origem humilde, que foi atriz, dançarina e estrela
no hipódromo e prostituta. Por esse motivo houve um impasse em sua relação com Justiniano,
já que era legalmente proibido um funcionário do governo se casar com uma atriz, em função
disso Justiniano mudou a lei e se casou com a jovem para juntos governarem o império.

Imagem 09: Mosaico de Teodora em San Vitale de Ravenna

Fonte: <https://artrianon.com/>

4.2 Pintura e esculturas

“Além dos trabalhos em mosaicos, os artistas bizantinos criaram os ícones, uma nova
forma de expressão artística na pintura.” (PROENÇA, 1998, p.52).
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A palavra ícone é derivada do grego e significa imagem. Os ícones eram quadros que
representam figuras sagradas. Costumam ser luxuosos, em função dos orientais possuírem uma
ornamentação mais suntuosa. As pinturas eram feitas através da técnica da têmpera, com
revestimento de madeira ou placas de metal e uma camada dourada, sobre a qual a pintura era
feita. Segundo Proença (1998), os ícones costumavam ser venerados nas igrejas, mais também
poderiam ser encontrados em oratórios de algumas residências familiares (JASON, 1996).
A Madona Entronizada é uma obra, com dobras. O trono, que mais parece um Coliseu
em miniatura, perdeu qualquer vestígio de uma sólida tridimensionalidade, bem como os
corpos. Por outro lado, temos a escultura tende a desparecer, pois como destacado por
Gombrich (2011), as esculturas se assemelhavam demais com as imagens esculpidas dos ídolos
pagãos que os ensinamentos bíblicos condenavam

Imagem 10: Madona Entronizada. Têmpera sobre painel. Galena Nacional de Arte, Washington.

Fonte: JASON, 1996

5 Arquitetura Paleocristã e Bizantina

Segundo o historiador Robert Ducher, no seu livro Características dos Estilos, a arte e
arquitetura bizantina, perdurou entre 325, com a adoção do cristianismo como religião oficial
do Império Romano, até a tomada de Constantinopla pelos Turcos no século XV. Essa
manifestação difundiu-se em boa parte do mundo oriental, compreendendo à territórios que
hoje correspondem a Ásia menor, Síria, Itália, Grécia, Bálcãs e Rússia.
Entretanto, antes do início do estudo da arquitetura bizantina, é imprescindível se falar-
se também da arquitetura cristã primitiva. Para o historiador João Boltshauser, esta arquitetura
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apesar de não constituir um estilo com características autênticas e bem definidas, ela é relevante
na história da arquitetura uma vez que se trata de um período de transição entre as formas e
convenções clássicas, que posteriormente culminaria no surgimento da arquitetura românica e
a gótica.
Esta arquitetura primitiva desenvolveu-se desde o século I na Itália, quando os cristãos,
ainda perseguidos pelo império romano, tinham que recorrer à escuridão das catacumbas para
que pudessem celebrar sua fé e seus sepultamentos (BOLTSHAUSER, 1968). Posteriormente,
com o reconhecimento e conversão ao cristianismo do imperador Constantino I em 313, e o
estabelecimento do cristianismo como religião oficial do império por este mesmo imperador
em 326, os cristãos puderam, enfim, sair do subterrâneo para então começar a construir a
arquitetura propriamente dita (COLE, 2011).
Por esta arquitetura ter se desenvolvido, a princípio, no território Ocidental do antigo
Império Romano, com ênfase na cidade de Ravena, na Itália, acabou ela por receber forte
influência da arquitetura dele. Por outro lado, deve-se também pontuar que apesar desta clara
influência romana, e do fato de que a arquitetura cristã primitiva não possuir traços bem
definidos, não significou que a tradição romana se sobrepôs à esta que ainda engatinhava. A
arquitetura paleocristã se apoderou de vários dos elementos romanos, mas sempre os adaptando
ao novo contexto religioso que estava sendo traçado. (BOLTSHAUSER, 1968)
Isso se manifesta, por exemplo, na adoção da planta basilical, e nos saques e desmontes
de alguns monumentos clássicos. Os construtores e arquitetos desse tempo justificavam esse
desmanche por se tratarem de templos que cultuavam o paganismo (que não era mais vigente)
e que por isso deveriam abrir espaço para a construção de templos cristãos, uma vez que o
cristianismo havia sido adotado como religião oficial do império em 326.
A respeito do abandono e desmanche dos monumentos pagãos do império romano, João
Boltshauser cita o seguinte:

Este processo sumário de demolição das edificações antigas, testemunhas da grandeza do extinto império
pagão, não deixaria de traduzir também a política da igreja, no sentido de destruir tudo quanto não
contribuísse para a sua própria gloria. Quando não era possível reaproveitar os elementos antigos em
novas construções, ou quando não era possível a retirada de tais elementos, as edificações romanas eram
sistematicamente abandonadas, o que explica as ruinas existentes (Coliseu, basílica de Constantino,
termas romanas, etc. (...)

Por tratar-se esse período de uma época onde o caos havia se generalizado, com disputas
pelo poder, ameaças constantes de invasões bárbaras, ploriferação de doenças, acentuação da
fome e decréscimo da população, o esfacelamento do império romano aumentava a cada dia.
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Configurando-se assim, um cenário que inviabiliza a criação novas formas e elementos na


arquitetura.
Nesse contexto, houve a transferência da capital do império para a cidade de Bizâncio,
em 330. Lá, as tradições romanas puderam se difundir amplamente, e a cidade de Bizâncio
conseguiu, junto com a influência do Oriente médio proporcionada pela sua posição estratégica
de cruzamento de rotas comerciais e culturais, fazer surgir uma arquitetura como elementos
arquitetônicos mais originais e um estilo mais definido.
Posteriormente, o resultado desse intercâmbio retornou para a cidade de Ravena, cidade com
repertório bizantino mais expressivo, para que então que as novas tradições arquitetônicas
pudessem se espalhar ao logo de todo o ocidente (BOLSTSHAUSER, 1968).
Nesta seção discorre-se sobre as tipologias arquitetônicas do cristianismo primitivo e
também sobre as tipologias referentes ao império bizantino, uma vez que essas duas
arquiteturas estão tão intrinsecamente ligadas. Paralelamente a isso, disserta-se também
acerca das características plásticas e funcionais das edificações desse período, conforme os
exemplos destas vão sendo citados.
Quanto à vocação das edificações bizantinas, a sua produção era majoritariamente
religiosa, visando abranger todo o percurso da vida do cristão na terra. Contemplava desde o
seu nascimento como cristão, que era consumado através do batismo ocorrido no batistério, se
prolongando ao longo de todo o seu percurso na terra, onde esse fiel iria praticar a sua
religiosidade nas cerimonias religiosas ocorridas na igreja, até a sua morte, momento que este
fiel era comtemplado com o mausoléu, completando o ciclo da vida.
É interessante observar que uma característica muito marcante na arquitetura bizantina
é um grande contraste entre o interior e o exterior das edificações. Nos seus interiores faz-se o
uso de revestimentos internos bastante suntuosos e opulentos, por meio dos mármores e
mosaicos. Todo esse esplendor e requinte do interior das edificações bizantinas destoa com o
seu exterior, geralmente feito de material aparente, fosse ele tijolo ou pedra, sem nenhum
recobrimento ou pintura. Tratava-se de um exterior pobre e rústico.
A explicação simbólica para esse dualismo presente na arquitetura bizantina traduzia
um aspecto da própria filosofia cristã, que prezava pela valorização da alma, interior, em
detrimento do corpo, exterior.

5.1. Basílicas
15

Quando houve a conversão de Constantino e a adoção da religião cristã como oficial, os


fiéis deixaram de ser perseguidos pelos romanos, e puderam, finalmente, sair da escuridão das
catacumbas subterrâneas e professar sua fé acima da terra. Surgiu assim a necessidade de que
se construíssem templos para que eles pudessem participar do culto. A este fim, adotou-se e
adaptou-se a planta basilical, anteriormente usada pelos romanos para fins comerciais e
jurídicos, uma vez que ela se adequava apropriadamente à recepção da grande massa de fiéis,
que aumentava cada vez mais nessa época (CARVALHO, 1968).
Nesta adaptação das basílicas romanas manteve-se o seu formato retangular, com três
ou quatro naves no interior, delimitadas por duas ou quatro filas de colunas, e a abside
semicircular se projetando de forma saliente na fachada posterior. Para que as necessidades
específicas dos cultos cristãos fossem suprimidas, uma vez que a antiga basílica romana ainda
não se adequava completamente ao novo propósito, incrementou-se alguns outros elementos.
São estes, o átrio: um recinto na entrada do prédio rodeado por pórticos com colunas; o nártex:
um pórtico contíguo à basílica que destinava-se aos catacúmenos (cristãos não batizados), uma
vez que estes não tinham permissão para entrar nas igrejas, mas podiam assistir a missa fora da
nave; Bema ou transepto: destinado aos celebrantes, trata-se de um braço transversal na
extremidade da basílica, antes da abside, que corta as naves e dá à planta da basílica formato de
cruz latina, com os braços de tamanho desigual. Trata-se aqui do local de maior importância
dentro de uma basílica, onde situava-se o celebrante e encontra-se o altar, que continha as
relíquias do mártir cuja a igreja dedicava-se (FAZIO, 2011).
A planta baixa da Antiga Basílica de São Pedro é bastante completa nesse sentido,
apresentando todos os elementos citados anteriormente.
16

Imagem 00: Planta da Antiga Basílica


de São Pedro.
Imagem 00: Desenho da Antiga Basílica de São Pedro

Fonte: BOLTSHAUSER, 1968 Fonte: <www.teggelaar.com>

Quanto a orientação da basílica, esta deveria, a princípio, ficar com sua fachada principal
voltada para o leste enquanto sua abside ficava na direção oeste, uma vez que o celebrante
também deveria ficar voltado ao leste quando realizasse a missa, direcionado para Jerusalém.
Com os homens a direita do celebrante e as mulheres a esquerda
Depois do século V, a orientação das basílicas inverteu-se. A fim de que os fiéis também
ficassem voltados para o leste, a fachada principal da basílica ficou voltada na direção oeste e
o celebrante passou a realizar a missa de costas para os fiéis, (BOLTSHAUSER, 1968).
Um exemplo de basílica paleocristã que bastante popular é a Igreja de Santo Apolinário
Novo, situada na cidade de Ravena, na Itália. Esta basílica, construída por volta do ano 500
destinada a ser a igreja do palácio do rei Teodorico, é isenta de um transepto e de um átrio,
possuindo apenas um nártex destinado a recepção dos pagãos.
17

No seu interior, existem três naves com as paredes superiores, acima da nave central
estando revestidas por três faixas de mosaicos. Também está aqui presente um clerestório,
conjunto de janelas na parte superior da nave central bastante recorrentes nas basílicas
bizantinas que aproveitam o diminuto pé direito das naves laterais comparado à nave central
para possibilitar a iluminação do seu interior (FAZIO, 2011).
Imagem 00: Fachada de Santo Apolinário
Novo Imagem 00: Interior de Santo Apolinário Novo

.Fonte: FAZIO, 2011. Fonte: FAZIO, 2011.

Quanto aos elementos decorativos empregados nas antigas basílicas e batistérios, é


importante frisar, novamente, que eles eram os mesmos empregados pelos romanos, também
fazendo-se o reemprego dos elementos reciclados das edificações antigas. Ainda assim, quando
não havia o reemprego propriamente dito, os construtores e arquitetos modelavam suas
molduras e capiteis de forma a se assemelharem, ainda que de forma um pouco mais rústica,
em comparação aos romanos.

Imagem 00: Planta de Santo Apolinário Novo. Imagem 00: Capitel em Santo Apolinário.

Fonte: FAZIO, 2011. Fonte: depositphotos.com


18

Essa característica está presente no detalhe do capitel coríntio, imagem 00 presente nas
arcadas da Igreja de Santo Apolinário. Esse tipo de capitel, assim como o capitel compósito, foi
amplamente usado e difundido ao longo do desenvolvimento de toda a arquitetura bizantina.
Também no detalhe da imagem 00, apresenta-se a imposta, coxim ou pulvinar, que se
situava entre o capitel e o início das arcadas que delimitavam as naves bizantinas. O seu uso
era necessário uma vez que parte das colunas usadas nas igrejas bizantinas, que proviam de
ruínas romanas, não eram altas o bastante. Então fazia-se o uso deste coxim como uma forma
de nivelar as colunas a uma altura desejada (DUCHER, 2000).
Outro exemplo de basílica bizantina emblemática, esta construída durante o reinado de
Justiniano em meados do século VI, é a Basílica de Santo Apolinário em Classe. Localizada em
Ravena, trata-se esta de uma basílica com três naves separadas por duas arcadas, e uma abside
central cercada por duas absidíolas laterais, voltadas para as naves laterais. Também está isenta,
assim como a Igreja Santo Apolinário Novo, de um transepto.
Na imagem 00, percebe-se o telhado aparente de madeira, outra característica recorrente
nas basílicas desse período, uma vez nesse estágio de desenvolvimento da arquitetura cristã não
se tinha a disposição uma mão de obra capacitada para realizar coberturas mais sofisticadas), a
abside central, numa semicúpula decorada com mosaicos religiosos, e o clerestório.
Nesta mesma Basílica, há a presença do capitel compósito, bastante recorrente nessa
arquitetura, Imagem 00, que se caracteriza pela junção das duas volutas do capitel jônico com
as folhas de acanto características do capitel coríntio.
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Imagem 00: Fachada da igreja de Santo Apolinário em


Imagem 00: Interior de Santo Apolinário em Classe
Classe.

Fonte: FAZIO, 2011, p. 59. Fonte: JONES, 2014

Imagem 00: Capitel Compósito em


Imagem 00: Planta baixa de Santo Apolinário em Classe. Santo Apolinário em Classe

Fonte: BOLTSHAUSER, 1968.

Fonte: JONES, 2014

5.2. Igrejas
Usualmente, a distinção entre período paleocristão e bizantino, se dá no Império de
Justiniano, que durante o seu reinado empreendeu a construção de diversos monumentos,
principalmente igrejas, que caracterizaram a arquitetura hoje conhecida como bizantina
(FAZIO, 2011).
No decorrer do desenvolvimento desta, passou-se a fazer um extensa aplicação das
cúpulas, vistas pelos bizantinos como um símbolo do entrosamento entre o mundo celestial e o
mundo terrestre. Também fez-se abundante uso da planta centralizada nas igrejas,
diversificando-se entre plantas com formato octogonal, em cruz grega e quadrangular. Recorre-
se aqui mais uma vez a influência do antigo império romano, que já havia feito o uso da planta
centralizada em monumentos como o Panteão.
20

Foi também neste período, que surgiu a cúpula sobre pendentes, considerada a maior
contribuição da arquitetura bizantina ao repertório arquitetônico mundial. Esta cúpula se
caracteriza pela presença de uma calota esférica, apoiada sobre quatro triângulos esféricos,
chamados de pendentes ou perchinas, que permitiam que a cúpula cobrisse uma área
quadrangular (ALBERNAZ, 1998), feito nunca realizado antes. Daí em diante as cúpulas foram
aplicadas ostensivamente na arquitetura bizantina, se espalhando ao longo de todo o império e
sofrendo a cúpula sobre pendentes variações e aperfeiçoamentos, fazendo surgir a cúpula sobre
pendentes com tambor, com cobertura cônica, com formato de bulbosa, etc...

Imagem 00: cúpula sobre pendentes genérica Imagem 00: Cúpula sobre pendentes em Santa Sofia

Fonte: ALBERNAZ, 1998 Fonte: FAZIO, 2011

Serve como exemplo de igreja que faz uso da planta octogonal a Igreja de São Vital, na
cidade de Ravena. Construída entre 538 e 548 esta caracteriza-se pela sua planta octogonal,
possuindo na sua extremidade leste uma abside central situada entre duas abisídolas e a nave
principal centralizada na planta sob uma cúpula. Apoiando essa cúpula, situa-se um tambor com
formato octogonal (prática comum aplicada com o intuito de ampliar o seu pé direito, e pôr a
cúpula em evidência quando vista de fora), onde a partir de cada uma de suas faces abre-se um
clerestório, responsável por iluminar toda a nave central e os pilares do octógono, que por sua
vez formam nichos semicirculares por onde se abrem naves e galerias (imagem 00).
Além disso, a cúpula desta igreja é uma das poucas que é formada a partir de uma espiral.
Utilizando-se de manilhas ou potes esmaltados de cerâmica, eles eram encaixados de forma a
constituir uma espiral contínua que se estendia até o ponto mais alto da cúpula
(BOLTSHAUSER, 1968).
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Imagem 00: Vista externa de São Vital, Ravena Imagem 00: Planta baixa de São Vital, em Ravena

Fonte: FAZIO, 2011 Fonte: <haac1.wordpress.com>


Imagem 00: Vista interna de São Vital, Ravena

Imagem 00: Cúpula central da basílica de São Vital

Fonte: FAZIO, 2011 Fonte: <www.alamy.es>

Imagem 00: Capitel e imposta em São Vital

Fonte: <www.glosarioarquitectonico.com>

Nos capiteis das colunas dessa igreja, faz-se uso do capitel-cesto, que deixava de lado
as folhas de acanto coríntias e as volutas jônicas para dar espaço a uma escultura no capitel que
muito se assemelha a um bordado ou renda. Esse capitel surgiu na cultura bizantina com o
intuito de dispensar o uso da imposta, alargando a sua parte superior. Ainda assim, algumas
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construções, como essa a que nos referimos, continuavam a fazer o uso da imposta (COLE,
2011).
O exemplo mais consagrado de igreja com a planta em cruz grega é a Basílica de São
Marcos, na cidade de Veneza. Construída no século IX, esta configura-se junto com a basílica
de Santa Sofia, como uma das maiores edificações bizantinas.
Vista superiormente, pode-se vizaualizar um total de cinco cupulas: quatro responsáveis
por cobrir cada extremidade do braço da planta em cruz, e uma outra centralizada maior que as
demais que cobre o cruzeiro. Todas estas cúpulas estão sobre pendentes, que recorrem as
abóbadas de berço no seu entorno para contrabalancear o empuxo laterais das cúpulas. Além
destas, existem outras seis cúpulas secundárias no seu interior e no seu pórtico, construído
posteriormente no século XII, existem outras 8 cúpulas menores (BOLTSHAUSER, 1968)
Imagem 00: Fachada da basílica de São Marcos Imagem 00: Vista superior de São Marcos, em Veneza

Fonte: FAZIO, 2011 Fonte: <www.tudosobreveneza.com>

Apesar do projeto desta basílica provir da cidade de Bizâncio, esta igreja apresenta um
misto de outras influências arquitetônicas. Elas estão manifestadas por exemplo, no tímpano
presente na sua fachada e nos revestimentos externos das cúpulas, que eram apoiados em uma
estrutura de madeira sobre alvenaria, que lhe conferia um aspecto alteado, típico das cúpulas
orientais (FAZIO, 2011).
Também encontra-se aqui o já citado clerestório, desta vez não mais situado ao longo
das naves da igreja, como nas basílicas, mas sim posto diretamente sobre a cúpula, que lhe
proporcionava, com o auxílio da incidência dos raios solares, um aspecto de flutuação quando
vista do seu interior.
23

Imagem 00: Vista interna da cúpula de São


Marcos

Fonte: < romaitalia.com.br>

Como exemplo de Igreja com planta no formato quadrangular pode-se citar a basílica de Santa
Como ,mn,m
5.2.1 Batistérios
Para que os cristãos conferissem o sacramento do batismo, havia uma edificação
específica para isso, apropriadamente chamado de Batistério, com cada cidade possuindo ao
menos um batistério. A sua disposição era a seguinte: a pia batismal, possuía um formato
circular ou poligonal, era rodeada no seu perímetro por várias colunas que sustentavam uma
cúpula. Em torno disso, desenvolvia-se uma galeria, também circular ou poligonal, sendo esta,
por sua vez, mais baixa, gerando um desnível entre os dois pés direitos da edificação. Desta
forma, abriam-se vãos, que serviam para iluminar a parte interna do batistério.
Quanto à cerimônia do batismo costumavam-se realizar nas festas religiosas
importantes, como a pascoa e o natal, batizando-se apenas as pessoas adultas com no mínimo
18 anos (quando se pressupunha que a pessoa já tinha direito à escolha) por imersão na pia
batismal, em analogia ao batismo de Cristo. E nesses tempos, como era grande o afluxo de
pessoas para estas locações, também fazia-se necessário que este espaço fosse amplo e capaz
de comportá-las.
Com o passar do tempo, o número de pessoas a se batizar caiu vigorosamente, uma vez que boa
parte da população já havia se convertido ao cristianismo, e o sacramento do batismo passou a
se realizar nas basílicas, que passaram a conter uma pia batismal no seu interior.
(BOLTSHAUSER, 1968)
Dentre os exemplos de batistérios paleocristãos, pode-se citar o Batistério dos
Ortodoxos, situado na cidade de Ravena. Esse batistério possui uma planta octogonal com uma
cúpula situada no seu centro, acima da pia batismal, onde é representado Cristo, junto com seus
24

12 apóstolos, sendo batizado no Rio Jordão. Na figura 00 tem-se a sua fachada, naturalmente
sóbria, contrastando mais uma vez o seu interior. (FAZIO, 2011).
Imagem 00: Fachada do Batistério dos Imagem 00: Mosaico do teto do Batistério dos
Ortodoxos, em Ravena. Ortodoxos.

.Fonte: FAZIO, 2011. Fonte: FAZIO, 2011.

Quanto à igreja com planta em formato quadrangular, pode-se citar como exemplo não
só de maior destaque deste tipo de planta, mas também como exemplo mais emblemático de
todas as edificações da arquitetura bizantina a Igreja de Santa Sofia em Constantinopla, que
será analisada detalhadamente no capítulo seguinte.

5.2 Mausoléu

Os romanos tinham a cultura de enterrar seus mortos em covas profundas, com isso
surgiram os túmulos e as catacumbas, que eram locais onde eram enterrados os corpos dos
cidadãos, existiam também os mausoléus que eram edificações feitas para guardar o túmulo de
pessoas importantes, sendo utilizados apenas para pessoas abastadas de poder aquisitivo e
social. Os cristãos primitivos utilizaram das catacumbas, que eram galerias subterrâneas em
cujas paredes se faziam túmulos, como refúgio para seus encontros pois por se tratar de um
local onde eram colocados apenas os mortos ninguém iria incomoda-los, inicialmente eles se
aproveitavam de galerias já abertas nos arredores de Roma, na medida de suas necessidades
foram abrindo novas galerias que seriam sua base durante boa parte do século IV. Uma vez que
o final do império se aproximava os romanos criaram o costume de incinerar os mortos, porém
os cristãos abominavam essa prática e continuaram a utilizar as catacumbas para pôr os mortos
(BOLTSHAUSER, 1968).
A arte nas catacumbas foi de extrema importância para aquele período pois as pinturas
feitas refletem as primeiras manifestações da arte cristã, exaltando o poder e a misericórdia de
25

Deus. Essas pinturas possuíam função didática e os temas eram das narrativas bíblicas. Na
Figura é mostrado um exemplo dessa arte (BOLTSHAUSER, 1968).

Imagem: Catacumba de Commodilla, Roma, Itália.

Fonte: <slideshare.net/SandroBottene>

Na maioria das vezes as catacumbas eram feitas com pés direitos pequenos e iam sendo
escavados para baixo do piso à medida que a necessidade de espaço aumentava, os cruzamentos
entre as galerias eram muitas vezes usados como espaço de oração. Normalmente na entrada
das catacumbas havia uma pequena capela e seguiam corredores de 10 a 15 m de comprimento
que davam nas galerias horizontais que possuíam de 3 a 4 m de altura. A Figura e a Figura
mostram respectivamente a planta baixa, um corte e uma imagem de como era o interior das
catacumbas. (BOLTSHAUSER, 1968)

Figura: Croqui exemplo das catacumbas


Imagem 00: Catacumba de São Calixto, Roma, Itália

Fonte: <www.romapravoce.com/>
Fonte: BOLTSHAUSER, 1968
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Os mausoléus seguiam as práticas romanas e possuíam uma planta baixa centralizada e


serviam de modelos para as futuras igrejas com cúpulas. O Mausoléu de S. Constança, filha de
Constantino, foi construído em 330 a.c. e transformado em igreja no séc. XIII, o edifício possui
uma planta circular, tendo a parte central um diâmetro de 12m, é coberta por uma cúpula
externamente protegida por um telhado cônico acima do piso e se sustentava por meio de
colunas coríntias geminadas. Para melhor exemplificar a Figura mostra a fachada e a planta do
Mausoléu de S. Constança, Roma (BOLTSHAUSER, 1968).

5.3 Palácio

Como o império bizantino em sua época de ouro seus palácios também exibiam plena
exuberância com muito luxo e grandiosidade. O palácio imperial de Constantinopla se
localizava próximo a Igreja de Sta. Sofia e ao Hipódromo, entendendo- se pelos jardins até o
mar de Mármara. Em sua disposição haviam vários ambientes como 7 vestíbulos, 8 patios,2
pórticos, 4 igrejas, 1 batistério, galerias de recepção, salões de banquete, bibliotecas,
apartamentos privados do imperador e de sua família, banhos e etc. O palácio era dividido em
três setores principais: O Calcê, era como um vestíbulo no qual o público tinha acesso e se
encontra na entrada do Augústeo. A Dafnê, se estendia pela parte lateral e traseira do
Augústeo e englobava os salões de recepções e os serviços administrativos do palácio. O
terceiro setor compreendia o Crisotriclínio e os aposentos do imperador, esse espaço se
estendia ate a encosta com o mar (BOLTSHAUSER, 1968).

O grande salão Magnaura apresentava dispositivo basilical, com três naves,


ao fundo das quais, na ábside, ficava o trono do imperador. O grande salão
do Crisotriclínio, ao contrário, era tipicamente bizantino, octogonal, com oito
absides sobre as quais- se apoiava a cúpula, é uma galeria perimetral onde
ficavam os convidados (BOLTSHAUSER, 1968,pg.1211).
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Imagem 00: Palácio Imperial de Constantinopla

Fonte: BOLTSHAUSER, 1968


Outra importante construção de Constantinopla foi o Hipódromo, era parecido com o
Circo Máximo de Roma, possui as laterais retangulares onde ficavam as arquibancadas para os
espectadores e um semicírculo em uma das pontas unido as arquibancadas e entre eles estava a
arena que era dividida no meio por uma “spina’,segundo pesquisas o hipódromo possuía
medidas de meio quilometro de comprimento por 120 de largura. O local servia para
comemoração de festas cívicas e corridas de carros (BOLTSHAUSER, 1968).

5.4 Muralhas, e fortalezas

“O primeiro exemplo de muralha defensiva, construída no Império romano do Oriente,


é justamente a muralha em torno em Bizâncio, que Constantino mandou levantar a fim de
proteger a “nova Roma” de qualquer ataque, século IV.” (BOLTSHAUSER, 1968, p.1416).
Por isso, as muralhas de Constantinopla, em seus trechos mais importantes,
compreendiam três elementos sucessivos de defesa, como pode ser observado na imagem 00.
Imagem 00: Croqui da muralha de Constantinopla Imagem 00: Esquema construtivo da muralha

Fonte: BOLTSHAUSER, 1968 Fonte: BOLTSHAUSER, 1968


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A primeira linha de defesa da muralha era um fosso contínuo, que podia ser inundado
criando o primeiro obstáculo. A segunda que corresponde a faixa mediana, ao longo das quais
possuía uma série contínua de cubículos onde ficavam os soldados, as armas, as munições. A
terceira estava do lado interno de Constantinopla e era ainda mais alta ainda. Devido aos
constantes ataques muitas das cidades bizantinas possuíam muralhas em seu perímetro e são
verdadeiras fortalezas, construídas com alvenaria de pedra, a parte externa contava com blocos
lavrados e a interna com blocos mal aparelhados, o recheio entre as duas paredes era feito de
argamassa. No alto da muralha estava o caminho da ronda..

6 Destrinchando a basílica de Santa Sofia

Erguida em Constantinopla, atual (Istambul, Turquia), a igreja chamada de Aya Sofya


em turco, Hagia Sophia em grego e basílica de Santa Sofia em português, significa divina
sabedoria segundo Boltshauser (1968). Ela foi dedicada a Logos, a segunda pessoa da
Santíssima Trindade, com a festa de dedicação realizada em 25 de dezembro. Data em que se
comemora o Nascimento de Jesus, e a encarnação do Logos em Cristo.
Santa Sofia foi erguida durante o império de Justiniano, que convocou segundo Fazio
(2011), dois matemáticos e cientistas, com habilidades e conhecimentos na área da mecânica,
engenharia e geometria conhecidos como Antêmio de Trales e Isidoro de Mileto, eles foram os
encarregados de desenvolver a basílica. “Santa Sofia foi construída em um tempo incrivelmente
curto: em cinco anos, 532 a 537.” (PEVSNER, 2015, p.23). Tal agilidade construtiva só foi
possível porque Antêmio e Isidoro contaram com cerca de dez mil operários durante a obra,
que foi construída para servir tanto como igreja como símbolo do poder imperial. Sendo
construída após a queda de duas igrejas anteriormente situadas no local.

A primeira igreja (com sua inauguração no ano de 360), era conhecida como “Megale
Ekklesia”, que significa “Grande Igreja”. A segunda foi uma reformulação encomendada por
Teodósio II, inaugurada no ano de 415, esta teve grande parte de sua estrutura destruída após
um incêndio durante a Revolta de Nica, em 532. Como consequência da Sediação de Nica,
Justiniano obteve a esplêndida oportunidade de construir e assim, nasceu Hagia Sophia.
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Com medidas próximas de 100 m por 70 m, o grande destaque da basílica são suas
exuberantes cúpulas. Estas vistas de baixo mostra os arcos gigantescos que sustentam a cúpula
principal, feita de tijolo, o que explica sua espessura relativamente pequena. E os pendentes
transformam o vão quadrado definido pelos pilares em um círculo de onde nasce a cúpulas
(PEVSNER, 2015).
Imagem 00- Basílica de Santa Sofia.

Fonte: <www.infoescola.com>
.

A basílica de Santa Sofia foi por nove séculos o centro que comandou o mundo ortodoxo
cristão, e perdurou assim até a tomada de Constantinopla pelos Turcos em 1153. Após a tomada
transformaram-na em uma mesquita. Um local de orações foi construído no lugar do altar
cristão, voltado para leste, rumo a Meca, cidade sagrada da religião islâmica, os ícones cristãos
foram substituídos por símbolos e textos islâmicos, e devido ao fato de no islamismo
representações visuais de seres vivos serem consideradas uma blasfêmia, os mosaicos foram
cobertos. Sob esta função a mesma permaneceu por 500 anos, até quando o sultão reinante
ordenou a restauração da mesquita, onde foram descobertas as imagens cristãs perdidas, e o
mesmo mandou que as cobrissem novamente pois infelizmente eram proibidas. Foi então em
1935, quando o sultão Kemal Ataturk, ordenou devido a sua importância tanto para os
muçulmanos, quanto para os cristãos, que a basílica se tornasse museu, e hoje, meados de 2019,
ainda funciona como museu sendo destaque como um dos pontos turísticos mais visitados de
Istambul.
Planta baixa e estrutura: Sua planta tem formato de cruz grega, coberta por uma cúpula
central, complementada por pares de semi-cúpulas na frente e nos fundos. Como apontou Fazio
(2011), a sua configuração e centralizada, com a cúpula central de 32,6 metros de diâmetro,
apoiada sobre pendentes, elevada a 54,9 metros de altura e cercada por duas semi-cúpulas
menores, com um grande vão sem apoios intermediários de quase 76,2 metros (FAZIO, 2011).
30

Figura- Planta baixa da basílica de Santa


Sofia

Fonte: FAZIO, 2011

.
Por ser um projeto extremamente audacioso, problemas estruturais foram inevitáveis.
Embora o tijolo utilizado seja de um material relativamente leve e as abóbodas sejam finas,
para diminuir tanto o empuxo como o peso.

As 40 janelas na base da cúpula estão distribuídas entre contrafortes que estabilizam


a junção da cúpula com os pendentes. Deste ponto, a carga é transferida para quatro
grandes pilares de pedra, os quais, por sua vez, são travados pelas abóbodas das
galerias que se unem às grandes abóbodas de berço ao longo das laterais da igreja.
(FAZIO, 2011, p.163).

A estrutura geral em si possui 107 colunas, possui 16 colunas maiores e 28 menores que
limitam o espaço interno, e mais 63 na parte interna do edifício, que fica inteiramente livre com
aproximadamente 70 m de comprimento e 32 m de largura (BOLTSHAUSER, 1968)

Imagem 00- Croqui da basílica de Santa Sofia

Fonte: BOLTSHAUSER, 1968

De modo geral tal ousadia construtiva teve seu preço, e a primeira cúpula central ruiu
em 558. Anos depois em 563, de acordo com Fazio (2011), ela foi reconstruída com nervuras e
uma maior inclinação, mas a metade da cúpula do lado oeste caiu em 989 e a metade do lado
31

leste desmoronou também em 1346. Entretanto, após uma série de reparos e substituições tem-
se as cúpulas que vemos hoje na edificação (FAZIO, 2011).
Parte externa e interna da edificação: Externamente, destacam-se os minaretes são um
produto da invasão turca e as portas de entrada para Santa Sofia que não são decoradas. A
entrada principal conduz-nos ao nártex exterior, que mede 60,9 metros de comprimento por
6,03 metros de largura. Na era bizantina o nártex exterior estava reservado para aqueles que
ainda não tinham sido batizados. Internamente, o seu interior é surpreendentemente rico em
ornamentado, com partes inferiores das paredes recobertas com mármores raros, e as
superiores com mosaicos vitrificados e em ouro. O brilho e efeito produzidos por estes
mosaicos traduzem-se um caráter de infinitude.

Imagem 00: Interior da basílica de Hagia Sophia.

Fonte: <www.terrasantaviagens.com.br/basilica-de-santa-sofia/>

Cúpula capitéis e colunas: A cúpula é construída com tijolos e o seu interior é coberto
com mosaicos decorativos brilhantes, desde o topo até a sua base. As quarenta janelas na base
da cúpula são decoradas com mosaicos multicolor. As 107 colunas não foram todas produzidas
exclusivamente para a edificação, principalmente pela necessidade de construção rápida, por
isso algumas delas foram trazidas de templos ainda mais antigos e de diferentes regiões do
império, como do Templo de Artêmis. Quanto aos capitéis, estes eram adornados assim como
Imagem 00: Cúpula central da basílica. Imagem 00- Capitel da basílica de Hagia Sophia

Fonte: <www.depositphotos.com> Fonte: em <www.elpasodelhombre.com/>


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Imagem 00- Colunas interiores da basílica de Santa Sofia.

Imagem 00- Parede interna da basílica revestida de mármore

Fonte: <www.arquiteturasecular.com>

Fonte: <apaixonadaporarquitetura.wordpress.com>

os arcos que os ligam. Eles são elementos importantes da beleza arquitetônica o que implica na
delicadeza e riqueza de detalhes em suas composições (BOLTSHAUSER, 1968).
.
Paredes interiores: Com a maioria das paredes cobertas por mármore, valiosos e
coloridos, estes foram trazidos de diferentes regiões do império, cortado de maneira a que
ficassem simétricos para criar padrões decorativos para adornar as paredes. Imagem (0000).
Mosaicos: Um dos pontos principais da basílica são os belíssimos mosaicos.
Originalmente, todas as áreas da igreja eram cobertas por mosaicos em ouro. Atualmente resta
apenas partes desses mosaicos que através de suas imagens contam verdadeiras histórias.

Figura 00: Mosaico de Cristo Pantocrator na basílica de Santa Sofia

Fonte: <www.elpasodelhombre.com>

No mosaico acima, está Cristo pantocrator, que em grego pantocrator significa “Todo
Poderoso”. Acima da imagem se coloca o nome do representado, (IC XC), com um til em cima,
símbolo da abreviação tradicional de Jesus Cristo. Logo a posição da mão direita de Cristo
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representa a benção, e os dedos estão formando a sigla IC XC. O dedo chamado indicador e o
médio formam o nome IC: com efeito, o indicador forma o I; o dedo médio curvado, forma o
C; o polegar e o anular que se unem obliquamente e o mínimo que está ao lado, formam o nome
XC.

7 Conclusão

O Império Bizantino foi um dos períodos que mais se estendeu durante a história tendo
uma duração de aproximadamente mil anos, porém se levarmos em consideração suas
inovações e conquistas no quesito da arquitetura não foram muitas suas contribuições, mas as
que existiram foram muito importantes dando destaque a criação da cúpula sobre pendentes e
na arte podemos citar como inovação os ícones, é indispensável ter em vista que a maior parte
da arquitetura desse período são de cunho religioso. Os principais pontos históricos que são
importantes ressaltar sobre Constantinopla são sua localização privilegiada que influenciou nas
trocas comerciais que impulsionavam a economia local, seu poderio militar que apesar de
enfrentar diversas batalhas continuou firme o mais importante seria sua relação entre política e
religião. Apesar de toda grandiosidade que esse império alcançou em sua era de ouro durante o
decorrer do tempo e com a mudança de seus lideres o seu poder foi caindo e a cidade foi sendo
subjugada por outros povos até desaparecer.
Com isso entende-se que até mesmo o mais notável império não dura para sempre,
porém vestígios de suas obras arquitetônicas ainda vivem e mostram para todos o poder da
arquitetura e que por meio dessas obras ainda é possível ver, conhecer e sentir um pouco daquele
período histórico e de como vivia aquele povo.
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